Boa noite,
Finalmente mais um capítulo para diminuir um pouco a saudade rs...
Muito obrigada a todxs que tem lido e deixado seus carinhosos comentários.
Tenham uma excelente semana e um ótima leitura.
Xeros!
Capítulo 59 Promessas
Delphine não conseguia parar de contemplar a mulher deitada ao seu lado. Tentou lembrar-se de quando havia sido tão feliz como naquele instante e sua mente viajou há séculos atrás, quando teve o privilégio de ser amada por aquela mesma alma, mas alguma coisa tornava o momento presente ainda mais significativo. E ela tinha a clareza do que era. Exatamente todos os anos, décadas e séculos que precisou espera-la. Todos os momentos em que chegou a duvidar que o reencontro poderia ser possível, das vezes que pensou em desistir, mesmo sabendo que isso seria praticamente impossível e que não teria tal direito.
Também lembrou-se das pessoas que passaram em sua vida, algumas delas tornaram-se bastante especiais, mas não era ela. E apesar das boas estórias que vivenciou, nada se comparava ao que sentia quando estava com ela. Sua metade, aquela que preenchia cada lacuna, que despertava os desejos mais profundos e que era capaz de fazê-la uma pessoa muito melhor.
Pensou em todas as mudanças que Cosima promoveu em sua vida, da forma como ela chegou sem pedir permissão e foi ocupado todos os espaços, atordoando tudo o que Delphine considerava mais sólido, literalmente abalando suas estruturas.
A observando dormir tranquilamente em seus braços, rememorou todos os eventos desde que ela entrou em sua vida, ou melhor, retornou para ela. Pensou em como foi cega, pois estava evidente desde o primeiro momento em que se olharam, ou quando ela a segurou nos braços devido a um machucado no pé dela. A necessidade crescente de saber mais sobre ela, o que no fundo, pouco tinha a ver com as desconfianças a cerca da Ordem. Simplesmente precisava tê-la mais e mais em sua vida.
“Sempre tão ousada!” Pensou enquanto afastou um cacho impertinente que lhe caia sobre os olhos. Não temeu lhe afrontar em seu próprio território quando apresentou seu trabalho com brilhantismo singular. Provocando um verdadeiro abalo sísmico nas estruturas da sempre segura Cormier. Sentiu-se arrepiar ao lembrar-se do texto que ela escreveu diretamente para ela e de como cada palavra tinha o poder de mexer com ela. E então ela foi ocupado cada vez mais espaço, permeando fantasias, lhe tirando de sua zona de conforto.
Foi por ela que provou, pela primeira vez, o amargo gosto do ciúme. Nunca havia sentido nada parecido com aquilo. Inevitavelmente pensou em Shay. Que daquela vez representava uma ameaça real e que agora não era mais. Havia questionado a Cosima sobre a relação delas, como ficaria após o reencontro delas e a morena lhe tranquilizou dizendo que não tinha mais nada com Shay e que ela estava se relacionando com uma outra pessoa, embora Cosima tenha sido sincera ao dizer que sabia que Shay ainda a amava, mas que compreendia que a estória entre elas já havia terminado e que era melhor serem amigas. Sentiu-se uma tola por ter entrando no apartamento de Cosima e ter encontrado aquele bilhete. Era o carinho sincero externado em poucas palavras.
Mas não podia esperar outra coisa. Cosima era o tipo de pessoa que atraia o bem para si e Shay definitivamente era uma pessoa boa e se pegou feliz em saber que Cosima tinha alguém como ela como amiga. Pensou que agora poderia se permitir conhecer melhor aquela mulher que inclusive lhe ajudou quando estava machucada. Fez uma anotação mental que deveria agradecer por aquilo. Assim como precisava recompensar suas irmãs, Anne e Ingrid, pois foram elas que chegaram poucos minutos depois que ela apagou nos braços de Cosima e a ajudaram a socorrê-la e a dar um destino aquela gangue.
As lembranças daquela noite ainda incomodavam com pequenas pontadas, mas já não era nada insuportável. Estava mais interessada nas outras “dores” causadas pelas peripécias que praticamente não parava de fazer com Cosima. Estavam de volta a cama e nem mesmo a desconcertante visita de Sally Niehaus conseguiu baixar o tesão que permeava as duas. Pareciam que precisavam compensar todo o tempo perdido. Riu de maneira mais forte e percebeu que causou em leve sobressalto em Cosima.
- O que está fazendo acordada? – Cosima se remexeu sobre ela, mas não abriu os olhos.
- Como sabia que estou acordada? – Delphine questionou divertindo-se. A morena esticou a mão e apalpou o rosto dela, para constatar que os olhos estavam abertos fazendo com que ela não conseguisse segurar a gargalhada.
- Perdeu o sono? – Ergueu um pouco a cabeça e apoiou o queixo sobre as mãos que repousavam sobre o peito de Delphine.
- Não exatamente... – Afastou os cachos do rosto dela. – Na verdade... – Mexeu-se um pouco para soltar a perna que estava enrolada no lençol. – Eu não queria perder nenhum momento com você. – Havia absurda sinceridade no que ela dizia e foi inevitável para Cosima segurar o sorriso bobo que durou até que uma expressão serena tomasse conta do belíssimo rosto de cabelos bagunçados.
- As vezes eu duvido que isso aqui está acontecendo mesmo. – Lançou um olhar terno um tanto quanto perdido.
- Por quê? – Ergueu umas das sobrancelhas. – Eu estou aqui! – Abriu os braços e lançou aquele sorriso capaz de arrasar qualquer desavisado, mas que Cosima o possuía.
- Droga! Como podes ser tão linda? – Enfiou a cabeça no meio dos seios dela, levando-a a gargalhar devido as cócegas provocadas.
- Eu poderia dizer o mesmo. – Disse com dificuldade porque ainda estava tentando parar o riso. Contudo, logo seu semblante se tornou sereno e o olhar fixo quase assustou Cosima. – Não vou mais deixar você sair da minha vida Cosima Niehaus!
A morena ergueu lentamente a cabeça e se sentiu preencher por uma alegria até então desconhecida para ela. Estava recebendo tanto amor, o mais puro e verdadeiro amor e chegou a se questionar por alguns instantes se seria merecedora de tudo aquilo. Diante daquelas honestas e verdadeiras palavras todo o sofrimento que passou nos últimos meses pareceram insignificantes, pois o que estava experimentando era algo verdadeiramente especial, pois ambas sabiam que o que viviam era o mais extraordinário dos amores.
- Por favor, não me deixe... – Já estava com lágrimas nos olhos. – E se por um acaso ousar me deixar... – Ergueu-se e sentou-se sobre ela e levantou a mão, colocando o dedo em riste. – Eu irei atrás de você no inferno, se for preciso.
- É? – Delphine estava tomada pela emoção e o coração transbordando de felicidade, fazendo com que nada mais além daquele quarto importasse. E sentindo o inicio da provocação de Cosima sobre ela sorriu maliciosamente. Tentou segurá-la pela cintura, mas foi impedida e teve ambos os braços segurados por ela e pressionados contra a cama, então Cosima se debruçou sobre ela e com os rostos bem próximos, deu vazão ao que sentia.
- Eu amo você! – Os grandes e expressivos olhos de Delphine tornaram-se o espelho perfeito do que Cosima sentia e deixava transparecer o que sentia.
- Também a amo! – E selaram aquelas juras com um poderoso beijo, que logo seus corpos deram vazão ao que seus corações sentiam e mergulharam em mais uma noite onde se perderam e se acharam.
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O inicial vibrar foi substituído por uma música eletrônica que se iniciou baixa e foi aumentando de volume até tornar-se quase desagradável. As duas mulheres que dormiam tranquilamente, remexeram-se e resmungaram sons incompreensíveis, demonstrando que não estavam muito dispostas a atender aquela chamada que persistia. Quem quer que fosse não desistia e continuavam insistindo repetidas vezes.
Mesmo de olhos fechados, Delphine já havia despertado graças aquela melodia que se tornara estridente. E logo reconheceu o som, como a melodia do seu aparelho celular. Pensou em esticar a mão e desliga-lo sem nem mesmo ver do que se tratava, mas lembrou-se de que não era uma pessoa comum, e que inúmeras pessoas dependiam dela e a pequena fuga que tiveram para os EUA havia deixado muitas apreensivas. Após um suspiro que misturava raiva e frustração, esticou sua mão e alcançou o aparelho.
Cocegou os olhos e forçou sua visão até reconhecer quem estava lhe ligando. Teve um pequeno sobressalto quando viu a foto de Siobhan solicitando uma chamada de vídeo.
- O que foi? – Cosima choramingou enquanto afundava ainda mais a cabeça no travesseiro.
- Nada... Volte e dormir. – Depositou um beijo na bochecha dela e saiu da cama com cuidado. Verificou que ela retornou ao sono e se retirou do quarto.
- O que foi S? – Respondeu logo que aceitou a ligação. Estranhou de imediato a imagem que estava tremida e focava um piso de mármore. - Siobhan? Está tudo bem? – Alertou-se com aquilo, mas logo a imagem ficou escura mas a chamada não foi desconectada a imagem negra pareceu se mover. Aos poucos o foco foi se afastando e Delphine pode reconhecer bigodes felinos seguidos de patas que davam tapinhas na câmera. - Andromeda? – Ela disse para sim mesma.
- Eu mesma “tia” Del! – Uma vozinha infantil forçou um tom ainda mais agudo, simulando a voz da gata.
- Manu? – Delphine disse com um tom de voz mais alto e olhou logo para o quarto e percebeu que Cosima se remexeu na cama.
- Oi Del! – Apenas a metade do rosto da criança foi focado, indicando que ela não tinha muita destreza com aquela ligação e estava com o animal nos braços.
- Manu, aconteceu alguma coisa? Onde está a Siobhan? – Viu a menina aproximar bastante o rosto da câmera, focando só em sua boca.
– A Sra. S não sabe que eu estou ligando. Xiii! – Disse baixinho, tentou piscar um dos olhos e soltou o mais lindo e inocente dos sorrisos.
- Tudo bem... Mas sério, aconteceu algo por ai? – Delphine questionou enquanto caminhava até a cozinha para se servir de água.
- Aconteceu sim! – A menina fez uma cara emburrada, atraindo toda a atenção da mulher. – Várias coisas na verdade! – Delphine relaxou, pois percebeu que não era nada de mais sério.
- Diga-me! – Exigiu enquanto bebia água.
- Primeiro a Sra S. que não queria me deixar falar com você! Como eu faço com a minha saudade? – A menina lançou um olhar inquisidor, amolecendo ainda mais o coração da mulher. – Depois, quando fui pedir a Tia Helena, ela também não deixou. – O bico só aumentava de tamanho. – Sem contar também que ela não quis uma revanche na pista de equitação. Ficou... Emburrada porque eu a venci. – Delphine quase cuspiu a água que bebia após gargalhar imaginando a cara de Helena ao ter perdido para uma criança.
- Então... Pelo visto a mocinha “pegou” o celular da S emprestado, não foi? – Delphine recostou-se na mesa e fingiu estar séria com ela.
- Eu precisei dar meu jeito né? – Manu ergueu os ombros e sorriu de forma marota, pois ela sabia que havia feito uma coisa errada. – Mas é que eu estava muito preocupada com você. Tive um sonho... – A criança parou assim que percebeu a mudança no semblante da mulher.
- Que sonho? – Perguntou atenta.
- Calma... Calma, não foi como das outras vezes... Eu apenas sonhei que... Você não estava bem... Acordei agoniada... – A menina, que havia soltado a gata no chão, esfregou a barriga e fez uma careta. Logo Delphine percebeu que a conexão que as une, de alguma forma, fez com que aquela poderosa criança a sentisse, mesmo estando tão distantes. Ela não parava de se impressionar com o poder de Manu.
- Eu passei por... Maus bocados. – Levou a mão até a testa onde ainda podia ser vista a pequena cicatriz.
- Você se machucou? – Manu berrou e derrubou o celular, mas o pegou imediatamente.
- Calma criança. Não foi nada demais. Já estou novinha! – Sorriu. Mas a menina custou um pouco em acreditar. – Sério Manu, eu juro que já estou bem. Diga-me, como estou me sentindo agora? – A menina franziu a testa e pareceu não ter compreendido o pedido que lhe fora feito.
“Então ela ainda não sabe como fazê-lo. Simplesmente sente.” Delphine pensou consigo mesma, anotando mentalmente que precisaria trabalhar bastante aquelas habilidades da criança.
- Ei... Onde você está? – A curiosidade nata dela falou mais alto quando ela observou o ambiente em que Delphine estava. – Você tá pelada? – Riu após constatar aquilo, fazendo com a loira engasgasse com a água que ainda bebia e percebeu que havia baixado o celular ao sentar-se no sofá.
- Eu... Eu... Estava indo para o banho quando você ligou. – Gaguejou enquanto buscava uma explicação para o seu estado.
- Del? Tá falando com quem?
- Cosima!? – Manu berrou ao telefone fazendo com a mulher de pé na porta do quarto se sobressaltasse e encarasse Delphine um pouco confusa.
“Manu?” Gesticulou com os lábios e Delphine anuiu com a cabeça. A morena caminhou rápido e jogou-se no sofá ao lado da loira.
- Oi Manu! Como você está? – Acenou com a mão enquanto enfiav* os óculos no rosto com a outra.
- Eu tô ótima! Você sabia que eu tenho uma gatinha! – O celular desfocou e balançou e ambas ouviram o característico som do chamado da gata. Com a imagem toda borrada, o animal esperneava no colo da criança enquanto ela insistia em mostra-la. – Essa é a Andrômeda!
- Oi Andrômeda! Ela é linda Manu. Eu tive um gatinho quando era criança. – Cosima sorriu para ela.
- Sério? Eles são maravilhosos né? Sabia que eu venci a Tia Helena na corrida com os cavalos? Você também ia entrar no banho? – A enxurrada de perguntas, característica daquela menina, as pegou de surpresa.
- Banho? – Cosima perguntou antes que Delphine pudesse interromper.
- Você tá pelada igual a Del! – Levou à mão a boca e riu. Ambas as mulheres se entreolharam e viram o rubor tomar conta de seus rostos.
- MANU! – Ouviram uma voz distante e o susto que a criança tomou, soltando novamente o celular. – Finalmente achei você. Pare de nos dar esses sustos. – Era Siobhan que repreendia a menina sem saber da ligação.
- Siobhan? – Delphine chamou duas vezes até a mulher aparecesse na tela.
- Delphine? Cosima? – Ambas acenaram para ela. – Como... ? – Mas antes de prosseguir, olhou para a menina que ria de forma culpada enquanto apertava a gata em seus braços. Bufou e arriou os ombros. – Ela só ia mesmo sossegar quando falasse com você Delphine. Nos infernizou tanto nos últimos dias.
- Deverias tê-la deixado ligar. – Delphine disse calmamente.
- Viu só!? – Manu falou ao longe, obrigando S a revirar os olhos.
- Delphine... – Olhou rapidamente para Cosima, como se não tivesse certeza do que deveria ou não dizer. A loira percebeu isso e com um aceno de cabeça, indicou que estava tudo bem. – Não quis atrapalhar... Vocês. Além do mais, essa criança tem que aprender que nem sempre pode ter o que quer. – Deu um sugestivo olhar para Delphine que compartilhou da opinião de Delphine.
- Ei! – Ela protestou e tentou baixar o celular para ser vista. Delphine novamente gesticulou para que ela deixasse.
- Manu, a Sra. S está certa. Nós adultos, sabemos o que é o melhor para você e isso significa que terás de nos obedecer. – A menina virou os olhos e bufou. – Ei mocinha... Nada de virar os olhos para mim! – Tentou ser firme e parece que conseguiu algum resultado, pois a menina engoliu em seco.
- Desculpa! – Disse baixando os ombros. Delphine indicou com um elevar de sobrancelhas que ela devia aquele pedido a outra pessoa também. – Sra S... Desculpa eu ter pego o seu celular sem permissão.
- Tudo bem Manu. Da próx...
- Mas é que eu estava precisando falar MUITO com a Del! – A enérgica menina interrompeu a mulher. – Estava morrendo de saudades. Quando você volta? A Cosima vem com você né? – Nova enxurrada de perguntas que era capaz de roubar o folego das duas que estavam tão distantes. Ambas se olharam comovidas com a sinceridade daquela pessoinha.
- Logo estaremos todas juntas Manu! – Foi Cosima que a respondeu, surpreendendo até mesmo Delphine.
- Você promete? – Os enormes e redondos olhos azuis brilhavam de forma lindamente transparecendo a expectativa que certamente iria comandar a sua vida nos próximos dias.
- Prometo sim... – Olhou para Delphine e se comunicando silenciosamente, prosseguiu. – Tem algumas coisas importantes que precisarei fazer aqui nos próximos dias, mas assim que terminar, vamos visita-la, ou... – Piscou um dos olhos e a loira sorriu embevecida. – Você pode vir nos visitar aqui em São Francisco! – Sorriu largamente e o mesmo sorriso foi estampado no rosto da menina.
- Isso vai sobrar pra mim! – Siobhan se fez ouvir, obrigando Delphine a gargalhar.
- Ou você ou a Helena podem trazê-la! – A loira recomendou.
- O que tem eu? – Uma nova pessoa juntou-se aquela verdadeira conferência a distância.
- Tia Helena... Não adianta, foi a Mestra da Ordem do Labrys que MANDOU você me levar até São Fra... Franc... Até onde ela está! – Gesticulou firmemente com a cabeça.
- Wow... Calma ai Dona Emanuele! – Helena quis se impor, mas a gargalhada alta de Delphine só servia para lhe “desmoralizar”.
- Po... Poxa Delphine! – Corrigiu-se a tempo, pois recebeu um olhar de repreensão da menina. Isso só conseguiu fazer com Siobhan se juntasse a sua Mestra e gargalhasse também, assim como Cosima. – Sério gente!? – Helena fingiu indignação. – Tudo bem! Eu a levo, contanto que ela realize todos os afazeres que insiste em ignorar.
- Ah não! São perda de tempo! – Manu recostou-se no sofá e cruzou os braços.
- E mais... – Helena emendou. – Não podes usar nenhum de seus dons. – A menina bufou e revirou os olhos novamente.
- MANU! – Dessa vez Delphine mostrou seriedade. – Já conversamos sobre usar seus dons dessa maneira. – A criança encolheu-se ainda mais e Helena, Siobhan e Delphine se entreolharam, antevendo muita dor de cabeça com a criação de alguém como Manu.
- Desculpa novamente... Mas eu prometo fazer tudo o que me mandarem... Sem usar meus poderes. – Disse essa ultima parte já sussurrando, como se aquelas palavras lhe causasse algum tipo de dor.
- Tudo bem Manu. Estamos combinadas então. Semana que vem... – Delphine esperou que Cosima concordasse. - Você vem nos visitar, certo? – Manu voltou a sorrir.
- Muito bem! Já que estamos combinadas, podemos desligar agora, certo? – Siobhan tomou o celular da mão de Helena, mesmo sob os protestos de Manu.
- Del! Del? – Promete me ligar enquanto não chega a semana que vem? – Manu suplicou. – Você e a Cos!
- Claro meu amor. – Cosima novamente tomou a fala. – Se ela não ligar eu ligarei. – Despediram-se após novas promessas de ligações.
- Ela é uma criança especial não é? – Cosima questionou enquanto depositou o aparelho sobre a mesa de centro.
- Demais! – Delphine recostou-se no sofá e recebeu a morena em seus braços.
- Que “poderes” são esses que vocês se referiram? – Questionou. – Existe algo além do fato dela ser uma Pitonisa?
- Muitos mais! – A loira fechou os olhos e depois os abriu ao perceber que era encarada. – A cada dia estamos descobrindo algo mais que essa menina é capaz. – Havia pesar e preocupação pairando no ar.
- Do que você tem medo? – Cosima questionou despretensiosamente e Delphine a encarou com expressão tensa.
- Primeiro precisamos ajuda-la a compreender suas habilidades, mas... Acima de tudo, temos de protegê-la.
- Você está se referindo ao Martelo?
- Isso mesmo! – Arrepiou-se com a menção aquele nome e procurou afastar os pensamentos daquela menina caindo nas mãos de Lamartine. – E... eu fiz uma promessa a ela. Pois... – Mordeu o canto de sua boca, ainda indecisa se deveria ou não compartilhar o que precisava com ela. – Ela é alguém muito especial... Ela retornou... – A vontade que Delphine sentiu foi de dizer que a menina tinha retornado para ela, mas teve dúvidas, a reaproximação delas ainda era recente demais para que ela pudesse arriscar tudo confidenciando quem era. – Para a Ordem!
- Retornou? – A morena arregalou os olhos e pareceu compreender a ideia absurda que lhe estava sendo contada. – Você está querendo dizer que Manu é... A... Reencarnação de alguém do passado da Ordem? – Delphine anuiu positivamente com cautela. - Quem?
- Eu acredito que você saiba quem... – Lhe olhou com atenção e assistiu o cair de queixo de Cosima que gesticulou com os lábios, mas não ousou deixar que a voz saísse.
“Emanuelle Chermont!” Delphine confirmou com um novo aceno, fazendo com que Cosima se afastasse um pouco dela e apoiasse os antebraços nos joelhos e baixasse a cabeça. Parecia que ela estava tonta ou nauseada.
- A grande Mestra da Ordem? – Olhou de lado.
- A maior de todas elas! – Delphine respondeu com olhar distante e saudoso.
- Então... Chegará o dia que ela irá sucedê-la? – Cosima foi direta ao ponto. Direta até demais, pois Delphine não estava preparada para responder tal questionamento. A verdade era que ela não estava pronta para fazê-lo. Só então percebeu que jamais havia pensado em uma sucessora para ela, uma vez que vinha ocupando aquele lugar há mais de trezentos anos. Contudo, ela estava certa. Se a sua imortalidade estava prestes a chegar ao fim, significava que sua vida também. Seu estômago revirou e um enjoou a fez buscar o ar com mais dificuldade. - Delphine? – Ela insistiu.
- Como você bem sabe... O título de Mestre é passado por consanguinidade.
- Sim, de mãe para filha. – Cosima respondeu de pronto e em seguida arregalou os olhos. Delphine estava insinuando uma possível maternidade no futuro delas?
- Cos... – Como se tivesse lido a mente dela, complementou. – Eu não posso ter filhos. – Não havia pesar na fala dela, pois de fato a maternidade nunca foi algo almejado por ela, nem mesmo antes de sua imortalidade, quando essa possibilidade ainda existia.
- Del... Eu... Sinto muito. – Recostou-se e tomou a mão dela a apertando, tentando lhe transmitir carinho e alguma solidariedade.
- Tudo bem. Eu de fato nunca pensei muito sobre isso. – Pausou e ponderou um pouco. – Você... Quer ser mãe? – Perguntou timidamente e a observou ensaiar algumas respostas.
- Também nunca foi algo que eu tenha desejado de fato... Mas...
- Mas? – Delphine interessou-se ainda mais.
- Você vai me achar uma tola, mas... Manu! – Olhou intensamente para ela e a ternura em seus olhos comoveu profundamente Delphine.
- Eu sei... Jamais a acharia tola, ainda mais por isso. Inclusive... – Segurou a mão dela entre as suas e a apertou. – Eu pretendo adotar a Manu. – Seus olhos adquiriram um brilho reluzente que quase encandeou toda a sala. Cosima abriu a boca e um sorriso começou a se desenhar em seu rosto.
- Família! – Sussurrou! E compartilharam daquele poderoso sentimento. Certas que se lembraram da mesma coisa e ao mesmo tempo. O desenho que Manu lhes entregou contendo essa palavra abaixo das três juntas.
- É tudo o que eu mais quero em minha vida. Nossa... Família. – Havia uma promessa implícita naquelas palavras, um anúncio que estava escondido e por vir. Cosima foi tomada por um crescente calor e a euforia da ansiedade já se mostrava em seu rosto e no descompassado bater de coração.
- Del... – Contudo, outras batidas sobrepuseram as que sacudiam seu peito. Sobressaltadas se olharam e perceberam que alguém estava a porta. A lembrança do flagra do dia anterior foi inevitável e quando Cosima caminhou em direção a porta, Delphine já havia retornado para o quarto. – Quem é?
- Cos, é Scott. – O rapaz se fez ouvir. – Eh... Desculpe incomodar, mas você não atendia ao telefone e a Samantha está aqui, dizendo que precisa falar com você urgentemente.
- Certo Scott. Diga a ela que já estou descendo. – Percebeu que o rapaz voltou se afastou e correu para o quarto. Encontrou Delphine deitada na cama, de olhos fechados. Na mesinha de cabeceira estava o seu celular completamente descarregado e só então se deu conta que passou os dois últimos dias enfurnada em seu apartamento, vivendo praticamente só de sex*. Riu de si mesma e correu para o banheiro. Pretendia tomar um banho rápido e descer.
- O que o Scott queria? – Delphine perguntou já de pé na porta do banheiro.
- Que susto! – Cosima se virou e forçou os olhos para encara-la e afastou uma porção de espuma que escorria de seu cabelo. – A Samantha está lá embaixo precisando falar comigo.
- É uma pena... – Delphine disse já se metendo dentro do box com ela. – Eu adoraria tomar banho com você. – A abraçou por trás, provocando arrepios nela.
- Nem pense nisso mocinha... – Afastou-se e fingiu segurá-la com uma das mãos sobre o peito dela. – Apesar de adorar a ideia de namorar aqui no chuveiro, temos de voltar a civilização, pelo menos um pouco. – Delphine cruzou os braços, mas precisou ceder. Ajudo-a a retirar o restante do shampoo e da espuma do sabonete do corpo dela.
- Vá descendo. Eu irei logo em seguida. – Mergulhou sob o chuveiro. Cosima ainda parou no meio do banheiro e pensou que jamais iria cansar de contemplar o espetáculo que era Dephine, mesmo fazendo as coisas mais triviais ela era puro charme e beleza.
- Foco Cosima. – Pensou alto e a gargalhada de Delphine a deixou constrangida como tantas vezes antes. – Droga! – Saiu do banheiro resmungando e vestiu-se rapidamente com uma saia curta e camiseta sem mangas. Calçou uma sandália rasteira e penteou os cabelos com os próprios dedos. Praticamente fugiu do quarto assim que Delphine retornou, tendo apenas uma toalha enrolada em seus cabelos. – Você também não ajuda! – Resmungou e correu para sala, mas antes de passar pela porta, a ouviu lhe chamar.
- Cos? – A morena se virou e viu apenas a cabeça dela para fora do quarto. – Estou faminta! – E lhe piscou um dos olhou, fazendo com que Cosima revirasse os seus. Bateu a porta atrás de si e desceu as escadas torcendo para que o seu cabelo secasse de maneira comportada.
- Ela vive! – Samantha soltou a gracinha assim que avistou a amiga que ainda certificava-se se estava apresentável. – Não se preocupe, você está linda como sempre. – O lado galanteador da mulher sempre dava as caras. – Aliás, você está ainda mais bonita do que de costume. – Ela parece estar falando sério.
- É o amor... – Scott alfinetou quando retornou da cozinha.
- Oi Sam! – Cumprimentou a mulher que estava sentada em um banco diante do balcão e tomava uma gigantesca caneca de café fumegante. – E você... – Dirigiu-se ao amigo. – Prepare dois desses. – Indicou opções do cardápio para ele.
- Tá vendo só como sou tratado? – Fingiu o drama e foi “escorraçado” de volta para a cozinha.
- Sério Cos, você está muito bem mesmo. Nem parece a mesma pessoa que há poucos dias estava consternada ali mesmo naquele palco.
- Eh... Bom... – Gaguejou enquanto empurrava os óculos no rosto e sacudia os cabelos.
- Ah... Está explicado! – Samantha empertigou-se e focou algo atrás de Cosima.
- Bonjour! – A suavidade e segurança da voz de Delphine arrepiaram até o ultimo pelo de Cosima e atraiu a atenção das pessoas mais próximas. Ela parou ao lado da morena e a envolveu pela cintura.
- Essa... Essa é a... – Cosima gaguejou.
- Delphine! – Ela mesma estendeu a mão para cumprimentar Samantha.
- Então essa é a famosa Professora Delphine Cormier? – A mulher lhe apertou a mão e pode sentir a firmeza de quem pouco se intimidava.
- Isso. Del... Essa é a Samantha, uma das donas da editora que está publicando meu livro.
- Ah sim! – Soltou a mão dela gentilmente.
- Uma verdadeira obra-prima! – Sam elogiou.
- Não poderia concordar mais! – Delphine sorriu e depositou um leve beijo na bochecha corada.
- Preciso confessar algo... – Samantha continuou. – Eu fazia uma outra imagem de... Você. – Apontou para a loira
- E essa imagem seria? – Ela interessou-se. Estava adorando o desconcerto de Cosima.
- Devido a sua reputação, confesso que imaginei que serias mais... Digamos... – Tentou encontrar palavras mais gentis.
- Velha? – Delphine sorriu.
- Experiente! Uma mulher jamais fica velha minha cara! – Delphine fitou aquela mulher de cima a baixo. Conhecia aquele estilo galanteador, mas simpatizou com ela. E precisava reconhecer que a admirava um pouco, pois não são muitas as pessoas que conseguem lhe dizer não. Ela e a sua companheira foram resistentes as suas investidas de comprar a editora delas.
- Digamos que sou uma amante do conhecimento há muito tempo. – Sorriu.
- Sam! O que você falar comigo? – Cosima as interrompeu.
- Ah sim! Vim lhe mostrar o nosso planejamento para a noite de lançamento. Tenho de confirmar tudo com a livraria ainda hoje. Afinal de contas, sábado é daqui a três dias. – Cosima olhou receosa para Delphine, mas essa estava bastante tranquila, foleando o cardápio. – Aqui está. – Samantha lhe entregou um tablet contendo as informações acerca da programação da noite de lançamento, que teria uma breve leitura de trechos do livro, depois uma breve entrevista com uma jornalista e crítica literária e por fim, uma rodada de autógrafos.
- Eu acho que está tudo bem. – Disse colocando o aparelho sobre o balcão.
- Muito bonitos os cartazes. – Delphine, que havia se inclinado um pouco, opinou sobre algo que viu.
- Lindos não é? Os símbolos da Ordem do Labrys ajudam bastante nisso. – Samantha disse orgulhosa. – Sem contar que a história dessa sociedade é tão rica, tão inspiradora. Mulheres tão fortes e tão engajadas na missão de ajudar umas as outras... – A mulher enaltecia a Ordem sem ter a menor ideia que estava diante da Mestra daquela sociedade. Muito menos que boa parte das páginas daquele livro diziam respeito a ela mesma.
- Realmente é impressionante! – Delphine disse com o peito estufado e um espetacular sorriso que fez com que Samatha esquecesse como se fala e apenas deixasse escapar um suspiro.
- Wow!
- Bem-vinda ao clube! – Scott deu um tapinha no ombro da mulher ao retornar da cozinha com o café da manhã solicitado por Cosima. Ela vestia uma blusa de botões branca e levemente transparente, deixando a mostra o sutiã da mesma cor. A calça era bege e ia até pouco abaixo de suas panturrilhas e calçava um elegante e confortável sapato branco sem salto. Os cabelos, que ainda estavam um pouco molhados, demonstravam a perfeição dos cachos e exalavam um delicioso perfume de limpeza e refrescância. Delphine fingiu que não havia percebido as referências a sua pessoa e concentrou-se nos pedidos que Cosima fez, e que julgou um deles ser para ela.
- Leu meu pensamento? – Sorriu para Cosima e tomou a liberdade de pegar um dos pratos que continha waffles com caldas e algumas frutas e sanduíches de queijos. Além de um generoso copo de vitamina de banana. A morena sorriu e lhe piscou um dos olhos. As três foram para uma mesa próxima ao balcão, para terem mais espaço para degustar de seu café da manhã. – Scott, prepara para mim um espresso também? – O rapaz sorriu e simulou uma continência.
- Cos... Tenho algo mais para lhe mostrar. – Samantha retirou de sua pasta, mais duas cópias do livro, só que essas não possuíam capas finalizadas. E assim que as outras duas mulheres leram os nomes, perceberam do que se tratava. - São os esboços das traduções para espanhol e francês. Cosima pegou ambos os volumes e os observou com bastante atenção. – Preciso da sua aprovação para rodá-los.
- Bom, não posso fazer muita coisa com o espanhol, pois o máximo que tive foram aulas na escola. Mas já o francês... – Cosima estendeu o livro para Delphine que bebericava de seu copo. A loira o recebeu e admirou a obra que possuía uma série de pequenos papéis coloridos ao longo das páginas. Muito provavelmente observações realizadas por quem fez a tradução.
- Se vocês me permitem... Eu poderia dar uma olhada nesse aqui. – A francesa se colocou, surpreendendo até mesmo Cosima. Ela sabia o quanto era delicada aquela situação, pois aquele livro tinha uma representatividade ambígua para a Mestra da Ordem. – Inclusive essa colocação nominal aqui está equivocada... – Referia-se ao subtítulo do livro.
- Isso mesmo! – Cosima percebeu após alguns instantes tentando compreender ao que ela se referia.
- Perfeito! Acredito que ninguém melhor do que a sumidade nesse assunto. – Samantha sorriu. E as duas mulheres se entreolharam com cumplicidade. Por trás dos óculos, podiam ser visto o agradecimento silencioso que Cosima emitia. Delphine fez um leve movimento de cabeça e continuou a folhear o livro
- Ainda bem que pegaram esses cretinos! – Scott disse com evidente ira na voz, assim que se aproximou da mesa delas, trazendo o espresso solicitado.
- Oi? – Samantha questionou e as três olharam para o rapaz sem compreender. Ele apenas indicou o aparelho de tv que estava sintonizado num noticiário local e, após sacar o controle remoto do bolso do avental, aumentou o volume. Todos prestaram atenção na âncora que comentava acerca da quadrilha de estupradores que sofreram uma surra, que quase os levou a morte.
- Que bom mesmo! – Samantha juntou-se a Scott e Cosima limitou-se apenas a olhar para Delphine, que não demonstrava aparente emoção alguma e estava tranquilamente sentada, com as penas cruzadas bebericando seu café fumegante. O olhar dela estava turvado pela fumaça, mas Cosima pode jurar ter visto um brilho de satisfação dançando no oceano verde. – Se eu encontrasse com quem fez isso a eles eu daria um demorado abraço e agradeceria.
- Eu também! – Scott disse após sentar-se a mesa com elas, aproveitando o movimento tranquilo naquela hora da manhã. E os quatro ficaram atentos ao que era dito.
“... A polícia ainda não tem pistas de quem possa ter capturado e deixado todos os quatro homens extremamente machucados. E que dois deles ainda estavam em coma, e os outros que estavam conscientes, ficariam com sequelas físicas para o resto de suas vidas. Relatos de alguns frequentadores do parque deixaram a população e a própria polícia intrigados, pois falam de uma misteriosa mulher e que teria sido ela a responsável pela captura da gangue.”
“Richard, se existe uma ‘justiceira’ por ai eu gostaria de agradecê-la!” A apresentadora deu sua opinião sincera e logo seguiu com outra notícia que não foi mais ouvida, pois Scott abaixou o volume e outros fregueses também exaltaram a captura da gangue.
- Embora eu não concorde muito com justiça com as próprias mãos, mas alguém precisava ensinar uma lição a esses escrotos que acham que podem fazer o que bem entendem com as mulheres. – Sam emendou a fala.
- Isso mesmo! Fala-se que eles são responsáveis por mais de dez estupros! – Scott disse revoltado. Só então Delphine demonstrou alguma reação, crispando os lábios e travando seu maxilar.
- Agora... Boatos a parte, imaginem que ironia maravilhosa do destino se realmente fosse uma mulher que tivesse pego eles? – Samantha possuía um brilho nos lábios. – Uma Justiceira Vingadora! Daria uma excelente trama para um romance policial. Não acham? – Questionou as duas mulheres que não haviam emitido opinião alguma. – Isso me lembrou de uma das mulheres da Ordem! – Delphine moveu-se desconfortável em sua cadeira e trocou novo olhar com Cosima. – A Evelyne Chermont! E de como ela foi a Justiceira da Ordem do Labrys! – Dessa vez foi a vez de Cosima demonstrar algum nervosismo, mas percebeu que, de alguma maneira, sua amiga estava certa em sua comparação.
Delphine poderia muito bem ocupar o lugar que fora de Evelyne. Afinal de contas ela fora responsável por verdadeiras caçadas a homens como aqueles no passado. Tendo inclusive causado a morte de muitos. Com aquele terrível pensamento em mente, contemplou Delphine que voltou a folear o livro que repousava em seu colo. Percebeu que, se não fosse por sua intervenção, ela os teria matado com extrema facilidade. Mas aquilo não a surpreendia de fato, pois há muito havia percebido quem ela era.
“A reencarnação da própria Evelyne!” Pensou secretamente, relegando de lado toda a sua racionalidade. Ou seja, aquelas incríveis mulheres do passado, haviam se reencontrado. E se ela estava certa a respeito da pequena Manu, o encontro estava realmente completo. Arrepiou-se com um misto de felicidade e medo.
- Bom, tenho até quando para dar um retorno acerca do livro Samantha? – Delphine tentou mudar o foco da conversa.
Não temos tanta urgência assim, pois o lançamento internacional só será após uma breve turnê aqui nos EUA mesmo.
- TURNÊ? – As duas questionaram ao mesmo tempo.
- Não contei? – Samantha sorriu. – Pois bem, se tudo correr bem como estou prevendo a Srta. Niehaus aqui ficará muitíssimo famosa e precisará participar de algumas noites de autógrafos. Mas não se preocupem, estamos cuidando de tudo. Inclusive foi por isso que a Melissa não veio. – Cosima arregalou os olhos enquanto Delphine ficou pensativa, sentindo uma agonia crescente associada a uma preocupação cortante. – E já entrei em contato com amigos em Paris e Londres, para começarmos a turnê internacional.
- Cos? – Scott, que voltado para o balcão a chamou. – Sally ligou e disse que você e a Delphine estão intimadas a jantar na casa dela hoje. – Isso só aumentou exponencialmente a preocupação de Delphine.
“Merde!”
______
A noite já caia em Paris e tornava a cidade luz ainda mais encantadora e deixava a atmosfera cada vez mais acolhedora dentro daquele elegante bistrô que aquela altura estava com todas as mesas lotadas.
Num dos cantos do estabelecimento, uma pianista tocava de forma eximia músicas que remetiam aos anos 1950 e embalavam vários casais que usufruíam daquela noite linda.
Porém, no balcão uma figura taciturna, parecia querer afogar suas mágoas em numerosas doses de whisky cowboy e amaldiçoava a felicidade alheia.
- Vejo que alguém não está tendo um bom dia. – Um aveludada voz feminina chegou aos seus ouvidos levando-o a revirar os olhos assim que percebeu de quem se tratava.
- E acaba de piorar significativamente Joana! – Ele disse assim que virou-se em sua cadeira para encará-la. A voz já levemente afetada pela quantidade de álcool ingerida.
- Eu poderia dizer o mesmo Paul! – A mulher respondeu após sinalizar para o barman vir lhe atender. – Um chardonnay, por favor! – Ela solicitou e cruzou os dedos, apoiando os braços sobre o tampo de madeira. – Mas seu querido “papai” me pediu para vir atrás de você.
- Até parece que ele realmente se preocupa comigo. – Virou outra dose.
- Na verdade ele me mandou para evitar que você fizesse alguma loucura. – Ela fingiu seriedade, mas logo ambos riram em deboche do que ela acabara de dizer.
- A loucura que ele teme seria o que? Que eu saísse correndo para traí-lo e me aliar a Cormier e as malucas dela? – Joana deu de ombros, concentrando-se em sua taça. – Pensando bem, poderia ser cômico. Ver a cara dele... – Ficou pensativo e a mulher o fitou de canto de olho. Paul não sabia, mas ela estava ao lado dele para tentar descobrir que pudesse ser útil para a Ordem, pois não conseguia mais nada de Lamartine, que parecia cada vez mais psicótico e dizia não confiar em ninguém.
- Eu não perderia isso por nada! – Joana sussurrou e recebeu um demorado olhar do homem, que iniciou sua inspeção pelo rosto e desceu por toda a figura dela.
- Ele bem merecia algo assim! – Disse debilmente. – Devido a tudo o que ele fez... – A mulher pensou no que dizer algo, mas parou, pois ele estava começando a falar e poderia soltar algo. Gesticulou novamente para o barman e indicou que o copo dele fosse novamente preenchido.
- Peter? – Ela lançou a isca.
- Peter! – Ele anuiu com um movimento incisivo de cabeça.
- Sinceramente... Ele não foi feito para isso aqui. Ele era bom demais... – Ela pareceu extremamente verdadeira e, pela primeira vez, recebeu um olhar dele que lembrava simpatia. – Não merecia morrer... Não depois de ter sacrificado tanto pelo Martelo. – Paul apenas anuiu com cabeça.
- Eu não aguento mais! – Disse pouco antes de sorver ainda mais whisky, deixando o piscar de olhos lento e a fala mais arrastada. – Peter... Sempre foi o melhor de nós dois... E ele me tirou isso! NÃO! – Falou mais alto do que deveria, atraindo atenção para si. Peter se foi por causa daquelas vadias! – Cuspiu essas palavras misturadas com saliva em excesso. – Especial aquela cretina da Katz! – Joana esforçou-se para não demonstrar a raiva que sentiu ao ter Helena mencionada daquela forma por ele e apenas anuiu com a cabeça e virou seu vinho. – Mas os dias dela estão contados! – Foi incisivo nessa ultima frase e causou um pequeno tremo nele.
- Por que você diz isso? – Ela não conseguiu evitar aquela pergunta. Ela a olhou demoradamente e mesmo com o olhar turvo pelo álcool, Joana viu algo maligno neles.
- O fim está próximo minha cara... Escreva o que estou lhe dizendo. – Ele se levantou cambaleante e checou algo em seu celular, em seguida tentou, sem sucesso, retirar sua carteira do bolso de sua calça.
- Deixe que eu pago essa! – Joana se adiantou.
- NÃO! Jamais uma mulher pagará nada para mim. – Arrancou a carteira e catou as notas que acreditava serem suficientes para pagar o seu consumo. – A mulher revirou os olhos e voltou ao seu lugar. – O dela também! – E deu dois tapas no balcão sobre o dinheiro depositado ali. Ele se afastou um pouco, tentando manter-se de pé sem cambalear tanto. Mas parou e virando no próprio eixo, quase caiu sobre ela, mas apoiou-se a tempo e bem próxima a ela cochichou ao pé do ouvido. – Ele sabe! Alguma coisa nos EUA é capaz de por fim a tudo isso. – Joana franziu a testa, aparentemente confusa, mas extremamente atenta.
- O que tem nos EUA? – Novamente falou sem se conter.
- Ainda não sabemos exatamente... Mas se a Cormier está lá... É onde nós também deveremos estar. – E segurou o rosto dela com força e beijou-lhe os lábios a força. Ela o empurrou assim que se recuperou do susto e passou as costas da mão para tentar limpar os resquícios de saliva deixados ali.
Ele se afastou andando de costas e com o dedo indicador em riste, bem próximo aos lábios, no universal símbolo de silêncio. Joana não esboçou reação alguma, apenas o viu saindo do bistrô esbarrando em algumas pessoas. Assim que ele passou pela porta, ela se virou e sacou o seu celular do bolso da jaqueta marrom que vestia. Buscou um número que não continha o contato salvo e mandou uma mensagem.
“Precisamos nos encontrar!” Poucos instantes depois, a resposta veio.
“O que tem para mim?” O destinatário respondeu.
“Diga-me, a Cormier está nos EUA?” Questionou.
“Onde você está, estou indo ao seu encontro!” Foi a resposta obtida e então Joana disse que Paul estava falando sério.
______
Do lado de fora do bistrô, Paul caminhou até a esquina, olhando para os lados, como se estivesse procurando um taxi. De repente um carro grafite encostou e sem nem checar o interior, ele entrou no veículo que deu partida em seguida.
Dentro dele só havia o motorista que deu apenas boa noite e depois disso permaneceram em silêncio por alguns quarteirões, até que encostaram diante de elegante edifício. Antes de Paul sair ele olhou para o homem que se esticou em sua direção, mas queria mesmo alcançar o porta-luvas. De lá retirou um envelope pardo e o entregou a Paul.
- Acredito que vais gostar disso. – E destravou a porta para que ele descesse. Paul o fez e carro partiu em seguida. Diante mesmo da porta do edifício onde morava ele verificou o conteúdo do envelope e surpreendeu-se ao ver que se tratava de um livro. Leu em voz baixa o título.
- Poder e Sororidade na Ordem do Labrys: uma história. – Demorou alguns instantes para processar aquela informação, devido a quantidade de álcool em seu organismo, mas aos poucos foi compreendendo o que aquilo poderia significar.
- Preciso descobrir que é Cosima Niehaus!
Fim do capítulo
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LeticiaFed
Em: 27/08/2018
Oi! Lendo atrasada mas não posso deixar de comentar, não é? :)
Mais um capítulo fofo, com acertos entre elas e a noção cada vez mais forte de uma família se formando, com Manu. Mas claro que esse livro iria dar encrenca, Cosima realmente foi totalmente movida pelo sentimento de vingança e não percebeu todas as consequências possiveis do sucesso. Essas turnês nacionais e internacionais vao apontar o alvo pra ela, imagino o trabalho que a Ordem terá em garantir a sua segurança...e Del numa situação perigosa, vulnerável em sua imortalidade decrescente, se assim pudermos chamar.
Vambora pro próximo!
MariFeijolle
Em: 20/08/2018
Aaaaa.. To adorando cada dia mais ,gente !!
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