Capítulo 28
Luana despertou com o braço dormente, então se lembrou que a mulher tinha o hábito de adormecer em seus braços, coisa que não mais fizera nos últimos meses de convivência, antes da separação.
Sem abrir os olhos sorriu, agradecendo pelo encontro e pela oportunidade de recomeçarem. Abraçou-a mais ainda. A outra, também sem abrir os olhos, sorriu e procurou a boca que queria na sua e em seu corpo. Rolaram pela cama mais uma vez, e de lá só saíram bem mais tarde.
- Cam, queria te perguntar uma coisa...
- Então pergunte...
- Há anos aconteceu uma coisa, que sempre tive vontade de entender, mas não tive coragem de perguntar...
- O quê? Estranhou a revelação.
- Quando estivemos no Cairo, mais de uma vez você recebeu ligações de uma pessoa... acho que o nome era Renée...
- Ah, sim... Renée...
- Então... porque cada vez que você falava com essa pessoa, ficava tão irritada e estranha?
- Por besteira... Renée era modelo... hoje não é mais... Antes de conhecer você, mais de uma vez indiquei-a para trabalhos. Porque Renée era uma mulher muito bonita e expressiva. Mas, Renée se envolveu com drogas, esteve muito mal, passou um bom tempo sem trabalhar. Pouco antes de irmos para o Cairo a encontrei no shopping, e ela me pediu que arranjasse algo, que estava precisando muito trabalhar. Jurou-me que estava limpa, e profundamente arrependida, porque muitas portas haviam se fechado. Apiedei-me dela...
- E?
- A indiquei-a para a produção no Cairo. E naquele dia que ela me ligou, tínhamos tido uma discussão feia, porque aparecera chapada para fotografar. Arrependida e furiosa mandei-a de volta para o hotel e lhe disse que comigo não trabalhava mais... que já lhe dera uma chance e que agora não faria mais isso. Ela ligou para tentar se desculpar, e para ver se me dissuadia de excluí-la... só que eu precisava ser dura com ela, não podia nem queria voltar à traz, embora tenha ficado mal por ela ter tido a recaída....
- Ah... pensei milhares de coisas... Achei até que ela pudesse ter sido uma ex-namorada...
- Não, jamais me envolveria com alguém com quem trabalho..
- Devia ter perguntado isso antes... acho que realmente precisamos verbalizar as coisas....
– É... acho que agora nós duas aprendemos isso...
Passados alguns minutos:
- Bom, já que estamos colocando os pingos nos is, também quero perguntar uma coisa... você estava ou não olhando para aquela loira na praia? Pode confessar, não vou mais ficar chateada... Prometeu.
- Amor, eu nem tinha visto a criatura... tava olhando longe... o mar... pensando o que poderia tornar melhor o próximo livro... Mesmo porque amor, de uma vez por todas... loiras nunca me chamaram a atenção...só gosto de morenas...risos...
Tomou uns tapas no ombro, antes de Camille lhe pedir:
- Queria que fosse ver Tina.
– Então, como ela está?
– Bem, mas sente a sua falta também.
– Foi ela quem se afastou... nunca entendi porque.
– Amor, você é muito sem noção para algumas coisas.
– Como assim?
– Luana, quando nos conhecemos Tina descobriu que estava apaixonada por você.
– ??? besteira!!... Tina e eu sempre fomos amigas...
– Amor, por isso Tina se afastou no início... não suportava nos ver juntas.
– Camille, não pode ser...
– Mas foi, tenho certeza disso.
– Como pode ter certeza?
– Porque já conversamos sobre isso.
– Você e Tina?
– Sim... então ficamos amigas...
– Por que nunca me contou isso?
– Porque não sabia se você não tinha entendido, ou se fingia não ter se dado conta... então achei melhor não falar sobre isso.
– Meu Deus, não consigo acreditar numa coisa dessas.... fomos amigas durante tanto tempo...e nada...
– Pois é... mas aconteceu. E sei o quanto Tina sofreu com tudo isso. Na verdade soube desde o início, mas eu não podia abrir mão de você. Claire e Ju também sabiam.
– E como é que ninguém me disse nada?!
– Talvez porque também não soubessem como você ia reagir...
– Mas eu amava tanto a Tina, como amiga é claro. Fiquei mal quando nos afastamos, mas achei que ela estava mal porque estava sozinha e eu tinha encontrado você. Nunca me passou pela cabeça que ela pudesse ter qualquer outro sentimento com relação a mim...
– Amor, Tina está casada com uma mulher, há dois anos.
– Como é?
– Tina conheceu uma arquiteta há dois anos, e estão vivendo juntas.
– Agora sim... Não pode ser, Tina sempre foi heterossexual.
– Foi, não é mais... e Flávia é uma pessoa fantástica.
– ...tá, é muita informação para eu administrar...
– Pois administre ligeiro, porque vamos almoçar com elas.
– Hum?
– Vamos almoçar com elas. Prometi a Tina que as encontraríamos caso estivéssemos na cidade no horário de almoço.
– Meu Deus, não sei se consigo lidar com isso assim.
– Conseguirá. Tina é sua amiga, nossa amiga, e está feliz. Quer te ver, e apresentar a companheira.
– Nos encontramos na volta, ligue e explique que iremos para Paris hoje.
– Luana, não vou fazer isso. Tina a ama, agora não mais da maneira como amava quando ficamos juntas, mas sente falta da amizade que tinham. E a quero bem demais. Vamos almoçar com ela e com Flávia. E tem mais, você vai fingir que não sabe do que te contei.
– Não vai dar, não sei como encará-la.
– Vai saber. E vai ficar feliz por ela, que finalmente está bem. Assim como ela conseguiu ficar em saber que você me amava e que eu era e sou louca por você. Ou agora será você a entrar em crise e descobrir que também a amava.
– Para com isso. Amo você. Tina era minha amiga, temos uma história de vida juntas, e agora nem amiga mais somos, porque sequer sabia que ela estava vivendo com uma mulher. Não nos falamos há séculos.
– Pois ela sente muita falta disso, e está mais do que na hora de vocês se reaproximarem.
– Ai, ai... não sei.
– Luana, adoro a Tina, e ela foi muito boa amiga nesse tempo que estivemos separadas. Ontem, quando ligou, estava na casa delas, falávamos justamente sobre nós, você e eu. E Tina me dizia que se eu a queria de volta precisava engolir o orgulho e lhe pedir para voltar.
– Não consigo imaginar essas coisas...
– Chorei muito nos braços dela e da Flávia. Receberam-me na casa delas diversas vezes, e me aguentaram durante todo esse tempo. Não fossem elas, acho que teria enlouquecido de vez.
– Jamais imaginaria.
– Amor, há milhares de coisas que você nem sonha...
– Acho que parei de pensar...
– Não, parou de perceber.
–Também. Não pensei que estivesse sentindo a minha falta... Confessou completamente atordoada.
– Senti muito mais do que você possa sonhar. Sempre soube que era você... com quem eu queria viver, que era você quem eu queria ao meu lado ao acordar e ao ir pra cama...
– Fui uma idiota, não é?! Finalmente entendeu, colocando o rosto entre as mãos.
– Fomos... amor.
– Não, eu fui... perdi a minha melhor amiga, me afastei das outras duas e quase perdi você.
– Não perdeu ninguém, terá uma chance de fazer tudo de outra forma, agora.
– Hum, hum. Ok, liga pra Tina para combinar... Melhor me dê o número dela que eu mesma vou ligar.
– Ótimo, melhor assim. Sei o quanto a fará feliz.
Camille apanhou seu celular e discou, passando o aparelho para a mulher.
– E ai, Cam? Deu tudo certo? Vocês estão bem? Disparou a amiga, como de costume, não dando chance a cumprimentos, nem mesmo que se identificasse antes.
– Tina? Sou eu! Como você está?
– Lu?! Oiii... estou bem e você, deixou de ser idiota e voltou pra Cam?
Risos
– Sim, deixei de ser estúpida... e quero convidá-la para almoçarmos juntas.
– Um minuto, vou dar uma olhada na minha agenda...não sei se consigo encaixá-la...
– Pois trate de arranjar um tempo pra mim, pra nós, na verdade. Estaremos na cidade só até o final da tarde e não saio de Brasília sem vê-la.
– Ahh... não sei, agora sou uma pessoa muito ocupada... mas tudo bem, vou dar um jeito, mas que fique bem claro que é só para que eu possa lhe dar uns puxões de orelha.
– Que seja...
– Ok, sei onde estão hospedadas. Passamos aí para pegá-las. E apesar de esperar que você tenha sofrido bastante, não me apareça com cara de “velha decadente”. Risos.
– Tá, eu mereço.
– Merece mesmo, depois de velha fica fazendo besteiras. Fez a Cam sofrer demais.
– Dá pra deixar os puxões de orelha para outra hora?
– Não. Não dá. Você merecia é ter apanhado, pra deixar de ser idiota.
– Tá, aceito, sei que tem toda razão... mas agora me dê um crédito...
– Hum... tá, vou pensar se você merece...
– Obrigada.
– Não agradeça ainda, porque não vai se livrar de ouvir poucas e boas.
– Ok. Vou me autoflagelar até você chegar.
– Ótimo, passamos aí por volta das onze horas. Então decidimos juntas aonde almoçar.
– Estaremos esperando. Beijo.
– Beijo. Agora passa o celular para Cam e vá dar uma voltinha, quero conversar com ela.
– Era só o que me faltava...
– Não foi um pedido, foi uma ordem. Passe pra Cam e vá se autoflagelar em outro lugar.
– Tá. Beijos
– Tina quer falar com você... Anunciou estendendo o aparelho para a mulher. – Vou tomar um banho.
– Oi.
– Oi, Cam. E então? Você está bem?
– Hum hum...
– Ela está aí por perto?
– Não, foi tomar banho...
– Cam, sei o quanto você a ama, mas não lhe dê moleza... Conheço Luana o suficiente, ela precisa aprender a lição... pra não fazer merd* ali na frente, de novo.
– Acho que já aprendeu... e eu também.
– Para com isso... ela agiu como uma babaca, não pode ter você de volta assim de graça.
– Conversamos muito ontem a noite, nós duas erramos... vamos tentar agir de forma diferente agora...
– Bom, espero que sim. Tudo sempre tem dois lados, só vocês podem avaliar isso... Quero vê-las bem. Vocês sempre foram perfeitas juntas. O que vocês tinham, encontrei com a Flávia. Não saberia viver mais sem ela.
– Também não sei viver sem Luana... você sabe.
– Sei, amiga... Bom, vou ligar para Flávia e combinar de passarmos aí para buscá-las. Beijos.
– Beijos, Tina.
Camille pediu o desjejum no quarto, e foi ao encontro da mulher no banho.
Fim do capítulo
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