Capítulo 27
Menos de quatro horas depois desembarcava no Juscelino Kubitschek, com o notebook a tiracolo, uma mala, e a esperança de que conseguissem reencontrar a sintonia, que um dia existira.
Camille a esperava à saída do portão de desembarque, como prometera. Estava ainda mais linda. Arrumara-se com esmero, sabendo que esta seria a última oportunidade para salvar seu casamento.
Seis meses haviam se passado, estavam mais magras, ambas com os olhos marcados pelo período longe. Mas no momento que seus olhares se cruzaram, brilharam como há muito não acontecia, e os sorrisos denunciaram a saudade sendo abandonada.
A fotógrafa não se conteve. Avançou entre os que aguardavam o desembarque e caminhou ao encontro da mulher, que puxava a mala apressadamente. Jogou-se em seus braços, e protagonizaram o mais caliente beijo lésbico que os demais passageiros e acompanhantes já tinham presenciado, a ponto de ouvirem assovios e alguns aplausos.
Ruborizada, Luana recolheu a mala que deixara de lado e, com Camille abraçada a ela, atravessaram o aeroporto, rumo ao hotel em que passariam a noite.
– Amo você.
– Eu que amo você.
Sorriam abraçadas, atravessando o estacionamento.
– Você está de carro?
– Sim, aluguei um quando cheguei.
– Estamos hospedadas onde?
– No Meliá Brasil 21, no Setor Hoteleiro Sul.
– Se importa se não sairmos hoje a noite? Gostaria de ter um tempo sozinha com você.
– Me importaria se você quisesse sair. Brincou passando a ponta do dedo no contorno do rosto da mulher. – Vamos, minha mala já está no porta-malas.
O caminho do aeroporto ao hotel foi feito em aproximadamente vinte minutos, pois a principal via de acesso ao setor hoteleiro naquele horário estava com fluxo pequeno de veículos.
Camille reservara a suíte no complexo do Centro Empresarial Brasil, que compreende três hotéis, além de restaurantes, centro de convenções e uma série de outras soluções para quem visita a capital a passeio ou trabalho.
Assim que o carregador foi dispensado com uma boa gorjeta, a porta da suíte foi fechada e as mulheres, que há meses não se encontravam, deram vazão à falta que sentiram. As bocas se procuraram com urgência, as mãos já as livravam das roupas..., quase não chegaram ao quarto antes de invadirem o corpo uma da outra, com desejo incontrolável.
Depois de saciadas pela primeira vez, ficaram deitadas acariciando-se em muda adoração, palavras poderiam atrapalhar. Luana ainda perdia-se naqueles olhos esverdeados que agora pareciam mais claros, revelando que algumas coisas jamais mudariam.
– Estou com fome, mas não quero descer para o restaurante, e acho que a uma hora dessas já não devem mais estar atendendo serviço de quarto. Finalmente Luana disse, lembrando-se que não almoçara e não aceitara o serviço de bordo.
– O que tem vontade de comer?
– Qualquer coisa... não coloco nada no estômago desde hoje de manhã.
– Reparei que você está mais magra... também perdi uns quilos. Vou dar um jeito de arrumar algo para comermos, mesmo que tenha que buscar, mas deve ter outro jeito.
– Senti falta de você...
– Por que quis... sabia que eu voltaria tão logo você quisesse.
– Não era bem assim...
– Você sabia que era. Mas preferiu ficar nos torturando, mas tudo bem... No fundo foi bom... dei-me conta de muitas coisas importantes durante esse tempo. Acho que podemos mudar algumas coisas na nossa vida, assim tudo ficará mais ... equilibrado. Mas vamos falar sobre isso assim que arranjar algo para comermos.
Ligações foram feitas, e conseguiram ser servidas no quarto, evitando terem de se vestir e sair.
Enquanto aguardavam a refeição, Camille anunciou:
– Uma das coisas que decidi é que se ficássemos juntas novamente viajaria menos. Quero mais tempo em casa. Quem sabe possamos nos mudar, procurar uma casa mesmo. Quero mais espaço. Quero um lugar menos asfixiante, não quero mais viver enjaulada.
– Podemos pensar nisso... mas não é necessário viajar menos...
– Cansei dessa vida nômade. Quero saber aonde irei acordar todos os dias. Quero que tenhamos plantas, um cachorro, essas coisas, de gente normal.
– Tudo bem, acho que pode ser bom, só quero que resgatemos a sintonia... nem sei bem quando as coisas começaram a sair do eixo, foram tantas coisas...
– Talvez nosso maior problema tenha sido não dizermos o que pensávamos. Ou termos começado a ver coisas aonde nada havia. Comunicação truncada... Dizia uma coisa, você entendia outra, então reagia da forma errada e eu ficava furiosa, e não explicava, então nos magoávamos muito porque você ficava mal e eu achava que isso era desculpa sua, então ficava pior.
– Amei você desde aquela primeira noite, na galeria...
– Eu também. Conhecer você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
– Não vou mentir, tenho medo, mas na vinda pra cá me dei conta que tenho mais medo de não ter você na minha vida.
– Tá vendo... coisas como essas acabam comigo.
– Como assim?
– Você levou seis meses para perceber que é pior estar longe, que tentando...
– Não é isso, amor... na minha cabeça você já tinha cansado de estar comigo... o último ano foi tão difícil...
– Amor, por mais que possa não parecer, sinto falta ainda da mamãe. Sei que não teria suportado a perda não fosse você estar comigo, mas não consegui seguir em frente depois que mamãe se foi. Lágrimas correram por sua face.Luana a colocou no braço, secando-as.
– Me perdoe... sabia que você estava sofrendo, mas não sabia como tirá-la daquele estado, então você foi se distanciando e passei a achar que não era apenas por causa da ausência de Eleonora. Você bem sabe que eu também a amava. Eleonora era a figura mais próxima de mãe que conheci, sabe que perdi a minha muito cedo.
– Promete que não vai mais me deixar, não aguento mais perder as pessoas que amo. Pediu aos soluços, completamente vulnerável.
– Prometo, amor. Também não aguento mais. Minha vida virou um inferno nos últimos meses... não consigo mais nem escrever. Menti pra você quanto perguntou sobre o livro.
– Hum?
– Pra não dizer que não escrevi nada ainda, escrevi um parágrafo. Justamente entre um telefonema e outro hoje a tarde.
– Não acredito...
– É, ficava sentada em frente ao notebook dia após dia e nada. Escrevia um parágrafo, apagava, escrevia outro, deletava também... não conseguia descobrir nada bom para dizer. Não consigo escrever quando estou deprimida.
– Quanto precisa entregar?
– Quatro meses... já prorroguei o prazo...mas não sei se conseguirei...
– Vai sim, vamos ficar bem, e você vai voltar a escrever... Amanhã podemos ir pra casa e você retoma o trabalho, depois pensamos nessa coisa de mudança, isso pode esperar.
– Não, não vamos pra casa amanhã. Amanhã a essa hora estaremos viajando.
– Para onde quer ir?
– Vamos pra Paris.
– Hum?!
– Estava lembrando da nossa primeira viagem quando resolvi te ligar hoje. E é para lá que vamos amanhã, numa segunda lua-de-mel.
– Amor!
Camille beijou-a com paixão, sendo retribuída à altura. Só não fizeram amor mais uma vez porque foram interrompidas pelo telefone, avisando que o jantar estava subindo.
Parecia, enfim, que as coisas não ditas, agora reveladas, permitiram que resgatassem parte do tempo perdido do último ano de convivência, e dos meses de separação.
– Senti a sua falta...
– Imagina eu... Mas agora, vai ter que me mostrar isso. Acrescentou, entreabrindo o robe, que vestira antes de jantar.
– Senti falta disso também... Risos
Camilla se levantou em direção ao quarto, deixando a vestimenta para trás. Luana, então, rapidamente a seguiu, alcançando-a antes que chegasse à cama. O desejo que sentia pela mulher em nada mudara com o tempo. Seu perfume, seu sex appeal deixavam-na sempre siderada.
Fizeram amor sem pressa. Explorando cada mínima parte dos corpos que bem conheciam, arrancando gemidos e desejando, cada minuto mais, fundirem-se. Prolongaram o mais que puderam a entrega total, provando de um orgasm* simultâneo demorado.
– Amo você, Luana.
– Amo você também.
– Então fica comigo...
– Ficarei, amor.
Dormiram abraçadas completamente satisfeitas.
Fim do capítulo
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