Capítulo 6
Depois daquele domingo, só voltei a ver Júlia após o meu retorno de Paris e, mesmo assim, meses depois. Ela foi embora na segunda-feira logo cedo com Antônio e Helena. Depois que fugi para o quintal, tratei de me isolar no meu quarto. Resolvi que o quanto antes iniciasse o processo de matar o que estava crescendo dentro de mim, mais cedo poderia estabelecer com ela uma relação de cordialidade, afinal queria acompanhar o crescimento do meu irmão, estar próxima a ele. Para isso, teria que tirá-la da minha cabeça, ou melhor, da minha alma, do meu sangue.
Na quarta-feira daquela mesma semana viajei para meu país e estava, naquele preciso momento, na manhã da sexta, passando a Claude Latour a direção do escritório de Paris. Ele ficaria encarregado de gerenciar os nossos negócios na Europa e de, a cada dois meses, enviar para mim um relatório de toda movimentação da empresa. Lisa já estava de malas prontas para ir comigo para o Brasil. Estava bastante excitada com a perspectiva de conhecer o país tropical. Já se imaginava sentindo sobre o corpo o calor do sol brasileiro, provando os mais diversos tipos de frutas e visitando tribos indígenas. Seu rosto era só sorriso. Despedia-se dos colegas, mas mesmo assim, a saudade que sentiria deles, não conseguia nublar a alegria que sentia.
Não me dei ao trabalho de avisar a minha mãe sobre a minha vinda. Quando entrei em casa ela me abraçou e deu para perceber que ficou emocionada com minha presença. Um brilho molhado atreveu a lhe saltar dos olhos, no entanto, mais que depressa, ela tratou de ofuscá-lo com algumas piscadas e desviando a cabeça.
Juntei alguns objetos pessoais, de estimação, meus lápis de cor, lápis pastel, alguns livros e discos que gostava muito e arrumei numa mala. Roupas, nem cogitei de levar devido às diferenças climáticas e, também, para não ter trabalho com muita bagagem. De qualquer forma, já havia comprado bastante roupa no Brasil.
Mesmo às voltas com o corre-corre desses dias em Paris, ela não me saia da cabeça e meu corpo já reclamava. Ela despertava em mim uma fraqueza da carne que eu não sabia que tinha. Não vou negar que gostava de sex*, mas nunca fiquei enlouquecida, subindo pelas paredes. Passava meses e meses na maior tranquilidade. E agora estava eu, em chamas, mas também aqueles seios, aqueles olhos, aquela boca, me perseguiam dia e noite. Teria que dar uma aliviada, senão iria enlouquecer. O alívio solitário não estava sendo suficiente. Previa que meu sofrimento no Brasil iria ser terrível, pois lá não conhecia ninguém com quem pudesse acalmar os clamores do meu corpo. Para amenizar um pouco o incêndio que me consumia depois de encerrada a reunião com Claude, peguei o telefone e liguei para Emanuelle. Minha doce Emanuelle!
-- Sylvia?! É você? Eu não acredito?
-- Sou eu sim! Quero lhe ver.
-- Claro! Claro! -- Ela dava risinhos entrecortados. Depois sua voz ficou suave -- Soube que teve que ir às pressas para o Brasil... Seu pai morreu, não foi? Madeleine me falou.
-- É. Ele se foi. Fiquei sozinha no mundo, Manu!
Ela ficou em silêncio. Era sempre assim. Ela não era do tipo que usava palavras à toa para consolar ou simplesmente preencher lacunas quando, na verdade, não se tem o que dizer. Após alguns segundos, ela mudou o rumo da conversa me convidando para almoçar.
-- Eu já ia lhe convidar, querida! Eu lhe pego no seu trabalho, certo?
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Duas horas mais tarde almoçávamos no Le Procope situado na rue de l'Ancienne Comédie quase na esquina do boulevard Saint Germain e da praça Odeon. Eu gostava desse restaurante por ele ser um dos mais antigos de Paris. Foi fundado em 1686, pelo italiano, Francesco Procópio. Segundo conta a história, este restaurante abriu suas portas e serviu em suas mesas, a grandes nomes, inclusive na época da revolução. De acordo com as boas ou más línguas, o imperador Napoleão Bonaparte, quando lá aparecia para comer, deixava seu chapéu como garantia e saia em busca de dinheiro para pagar a conta.
Emanuelle estava linda como sempre. Seus cabelos loiros estavam cortados a Chanel e os olhos verdes brilhavam como duas esmeraldas. Ela estava radiante com nosso encontro. Eu também estava. Quando fiz a proposta de passarmos a tarde juntas ela levantou-se da cadeira e deu uns pulinhos. Era meio maluquinha. Tinha um espírito alegre. Só andava de bem com a vida. O marido dela era comerciante do ramo de tecidos e viajava muito e, para passar o tempo, ela trabalhava meio período na revista de moda da cunhada e passeava pelas lojas fazendo compras. Comprava pelo simples prazer de gastar. Quando saíamos juntas queria sempre pagar tudo e, por conta disso, sempre travávamos uma enorme batalha. Depois de muito custo, chegávamos ao acordo de dividir as despesas.
Ainda no restaurante, mostrei-lhe fotos do meu irmão e da minha madrasta. Eu simplesmente não conseguia me separar daquelas fotos. A cara que ela fez quando bateu os olhos nas fotografias, foi hilária. Apaixonou-se por Antenor, afirmando que se eu não o trouxesse em Paris para que ela pudesse conhecê-lo, iria ao Brasil exclusivamente para isso. Mas o que até hoje eu não me esqueço, foi quando ela se pôs a observar a foto de Júlia. Seus olhos se perderam e ela se distanciou da mesa, do restaurante, de mim. Ficou longos minutos em silêncio, apenas observando, encantada, aquele rosto.
Depois de algum tempo, certo desagrado com a atitude dela tomou conta de mim. Senti como se ela estivesse se apropriando de algo a que só eu tinha direito. O simples fato de ela observar as fotos era como se ela tivesse invadindo, querendo tomar conta do meu território. Sem muito pensar, estendi a mão e pedi as fotografias. Ela demorou mais do que devia para me entregar. Quando viu que eu mantinha a mão estendida e expressei verbalmente o pedido, ela me entregou. Com certeza o meu semblante estava alterado porque ela arqueou as sobrancelhas, um tanto quanto assustada.
-- Sylvia? O que foi? Parece chateada!
-- Não. -- Guardando as fotos, me levantei. -- Vamos? Quero comprar algumas coisas para meu irmãozinho. Viajo na próxima semana e não sei se terei mais tempo disponível.
Ela se calou e me acompanhou. Seus olhos, porém, não deixavam de me examinar. Sentia-os sobre mim, me vasculhando. Em dado momento, nossos olhos se encontraram e, quando senti sobre mim, aquele olhar analítico, de raios-X, que ela tinha, fiquei gelada. Nunca, jamais, lhe contaria o que se passava comigo. Negaria até o fim, mesmo sabendo que, para ela, seria impossível esconder alguma coisa. Emanuelle era muito inteligente, de uma perspicácia aguda. Sua inteligência era brilhante, muito acima da média. Tinha o que se chama de mente fotográfica. Tinha uma memória enciclopédica e não se esquecia de nada. Estudou psicologia porque desde sempre, teve o dom de ler as pessoas e fazer isso, era o seu passatempo predileto. Eu era a sua cobaia preferida. Conhecia-me mais do que a palma da sua mão. Eu e outras colegas passamos maus bocados com suas experiências no colégio. Ela passava noites inteiras devorando livros de hipnose e praticava conosco. Analisava-me o tempo todo. Descobriu os meus sentimentos por Eloise antes de mim. Quando me apercebi apaixonada, ela já o sabia. Era uma pena que não clinicava, mas ajudava muito os amigos, fazendo terapia sem que os mesmos percebessem, em suas conversas nas tardes de chá.
Seguimos direto para a Rue de Rivoli a fim de fazer compras. O meu estado de ânimo momentâneo arrefeceu um pouco o desejo de levá-la para a intimidade de quatro paredes. Mas eu sabia que depois da descontração que uma boa compra proporciona, o fogo voltaria a me incendiar. Assim que nos pusemos a andar pelas arcadas dos edifícios neoclássicos e a entrar e sair das lojas carregadas de sacolas, o meu humor melhorou. Se eu senti ciúmes apenas por Emanuelle olhar a fotografia de Júlia e admirá-la, imagina se ela a visse pessoalmente?
Comprei brinquedos para Antenor, lembranças variadas para tia Cláudia, Margareth, Auguste, Antônio, Helena, Ana Clara e para ela. O presente dela eu não sabia se um dia teria coragem de entregar, mas quis experimentar a sensação de lhe comprar algo, de imaginar a expressão daquele rosto de beleza incansável, diante de uma oferta minha.
A alegria que me exalava pelos poros quando eu escolhi um colar de brilhantes numa famosa joalheria no Bairro Vendôme, acabou de vez com o mutismo de Emanuelle sobre a minha mudança de humor. Enquanto eu admirava o colar, praticamente atônita, senti que ela mantinha, plantados sobre mim, os seus olhos de lince. Tinha certeza que sua mente aguçada já desconfiava do que acontecia comigo.
-- Lindo presente, Sylvia! -- Sua boca franziu num sorriso zombeteiramente carinhoso -- Para mim sei que não é. Para você mesma, não deve ser... -- Gargalhou -- Não consigo imaginar a toupeira do Augusto desfilando com uma maravilha dessas no pescoço... É muito chique e caro para uma coleira...
Eu já me dobrava de rir dela. Assustei-me quando ela me disse de chofre:
-- Sylvinha, você está apaixonada... -- Apertou os olhos e ficou me observando. Depois, balançou a cabeça ainda trazendo nos lábios o mesmo sorriso, desviou o olhar para o presente de Júlia e pôs-se a admirá-lo. Eu percebi naquele momento, que deveria tomar um cuidado enorme com o que falaria dali por diante. Ela iria me preparar mil e uma armadilhas nas próximas horas que passaríamos juntas.
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Júlia arrumava as malas. Quando se mudou para a casa de Helena, seguiu o conselho da prima e colocou sua casa à venda. Agora se mudava para a casa que havia comprado. Era menor, mas nem por isso, menos confortável. Ficava na mesma rua a apenas três quarteirões da que havia vendido. Em frente, havia uma linda pracinha onde Antenor poderia brincar e tomar sol, acompanhado da babá que Helena lhe convencera a contratar.
Uma das primeiras providências que Sylvia havia tomado depois da leitura do testamento foi providenciar junto ao setor de pagamento da empresa, a transferência de uma quantia mensal para as despesas do irmão e da mãe dele e, também um motorista. Helena havia lhe deixado a par da situação financeira de Júlia. Esta, porém, continuava dando suas aulas de violão e fazia o possível para não gastar o dinheiro do filho consigo mesma. Procurava não usá-lo, não por uma questão de orgulho, mas simplesmente porque não se achava com direito.
Com suas coisas e de Antenor já devidamente arrumadas, entrou no carro, auxiliada pelo motorista do filho, com este nos braços. Era sexta-feira e ela teria pela frente mais um sábado e um domingo de quase nada para fazer. Suas aulas de violão eram nas segundas, quartas e quintas no turno vespertino. A babá entrou em seguida e sentou-se ao seu lado. Era uma moça de 18 anos muito carinhosa com Antenor. O carro começou a deslizar pelas ruas e, como Helena morava perto, poucos minutos depois parava em frente a sua casa nova.
O motorista lhe abriu a porta e logo em seguida levou as malas. Júlia, assim que entrou em casa, abriu a porta dos fundos mostrando ao filho o grande quintal. Fizera questão de escolher uma casa que tivesse quintal com uma parte de terra para que o menino se sujasse, adquirisse anticorpos, fosse saudável e tivesse uma verdadeira infância.
Alguns pés de manga, abacate, laranja e goiaba se espalhavam pelo espaço. Entregou o filho à baba e pediu-lhe que o levasse para a terra. A moça desceu os poucos degraus e assim que chegou à parte de terra, tirou-lhe as botinhas e o sentou no chão sob a sombra de uma mangueira. Ele olhou-a sorrindo com os poucos dentinhos e começou a balbuciar no seu linguajar indecifrável, apanhando a terra com as mãozinhas.
Júlia naquele momento entrava em seu quarto. Afastou as cortinas, abriu a janela e respirou o ar ainda puro daquela rua tranquila. Ali ficou por longos minutos imaginando o que seria feito da sua vida. Como iria administrar seu coração, sua mente. Seus olhos vagavam pelas fachadas das casas e pelo espaço gracioso da pracinha do outro lado da rua, mas não percebia nem uma coisa nem outra. A única coisa que via era o verde-castanho brilhante, quente e dominador. Olhou no relógio e viu que já eram 15 horas. Ficou sabendo por Helena que ela viajara para Paris na quarta-feira. O fato de sabê-la longe, além-mar, lhe confrangia o peito. Sentia aquela saudade que apertava, que machucava. Uma saudade que trazia uma dor sem trégua. Se ela estivesse ali em São Paulo sentiria saudades, mas seria uma saudade envolvida na esperança de poder, num dia ou noutro, vê-la novamente.
Desde o momento em que ela se dirigiu ao jardim e depois desapareceu completamente das suas vistas no domingo, se viu acometida da ansiosa expectativa de quando tornaria a vê-la. Esperou-a no jantar, ela não apareceu. Sentada à mesa acompanhada dos demais, seus olhos buscavam a porta da sala de jantar o tempo todo. Fazia um esforço enorme para manter os olhos no seu prato e nas outras pessoas, mas não conseguia. Olhava o relógio no seu pulso e o da parede que, incansavelmente, soava o tic-tac. Os ponteiros faziam seu percurso ao ritmo da melodia do relógio, indiferente ao galope desesperado do seu coração. Beliscou a comida. O bolo na garganta e o frio na barriga não lhe permitiram ingerir grande coisa. O jantar terminou e todos se dirigiram a outra sala para tomar um pequeno café e conversarem. Em determinado momento, sentiu sobre si os olhos da prima. Eles estavam misteriosos. Sentiu o chão fugir-lhe de sob os pés ao encarar Helena e ler no seu olhar a desconfiança. Tinha consciência de que a prima não era boba. Dona Cláudia, respondendo a alguma pergunta que Antônio fizera, acabou de vez com a sua esperança de vê-la entrar naquela sala.
-- Sylvinha não vai descer mais hoje! Ela sofre de enxaqueca, coitada. Já se recolheu.
Logo em seguida, alegando a necessidade de ver como o filho estava, se retirou. Subiu as escadas de dois em dois e quando se viu no corredor que levava aos quartos, parou e respirou fundo. Dando os primeiros passos bem devagar, pegou-se rezando para que alguma porta se abrisse e ela surgisse. Sabia qual era o quarto dela, mas, mesmo assim, observou a porta de cada um até que chegou ao seu. Ficou um minuto ou dois, parada, com a mão no trinco, ainda na esperança de que ela sentisse sede, fome ou qualquer coisa que a fizesse sair do quarto. Ouvindo passos na escada, entrou rapidamente.
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Augusto ligou para Sylvia na segunda-feira convidando-a para almoçar, ela não aceitou. Na terça repetiu o convite ela novamente recusou. Ele apareceu na empresa ela não o recebeu e também não lhe informou que viajaria para a Europa na quarta-feira. Ele só tomou conhecimento desse fato na quarta à noite, quando ligou para a chácara. No outro dia, enlouquecido de raiva, pegou um avião para Paris, mas só conseguiu se encontrar com a noiva no sábado.
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Emanuelle olhava o corpo nu da amiga estendido na cama, parcialmente coberto por um lençol. Ela dormia um sono tranquilo, relaxado. Ficou admirando-a e nos seus lábios pairava um sorriso cheio de adoração. Delicadamente aspirou o perfume dos seus cabelos e fechou os olhos. Gostou dela assim que a viu descendo do carro no colégio, acompanhada dos pais. Achou-a linda na sua timidez dos 11 anos e decidiu que seria sua amiga e que iria amá-la pelo resto da sua vida. E assim o fez e estava fazendo. Curvou-se mais, quando ela se mexeu preguiçosa e abriu aqueles olhos que tanto a encantavam.
-- Eu dormi!
-- Por que será? - Com uma voz cheia de malícia e braços aconchegantes, abraçou-a.
-- Já é tarde, não é?
-- O tempo só existe porque inventaram o relógio, meu bem. Não vamos nos submeter ao comando de dois simples ponteirinhos. -- Procurou-lhe os lábios com vontade.
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Emanuelle sempre conseguiu me dominar sobre os lençóis. E quando senti mais uma vez os seus lábios macios e quentes, me esqueci completamente de procurar saber as horas. Sentia-me deliciada nos braços daquela francesa maravilhosa, mas o meu pensamento fugia para a imagem da minha madrasta. Fiz amor com Emanuelle naquela tarde de sexta-feira, mas o meu pensamento estava em Júlia. Travei uma batalha terrível tentando refrear meus pensamentos, pois quando beijava os lábios de Emanuelle era os dela que eu sentia nos meus, quando sugava os seios da minha amiga, estava sugando os seios que vi naquela noite na chácara, quando mirava os olhos verdes da minha ex-colega de colégio, o verde se transformava naquele azul que me perseguia. Emanuelle me percebeu tensa e estranhou. Para que ela não ficasse mais desconfiada do que já estava, eu tive que abandonar meu corpo em seus braços e mergulhar minha alma nos braços de Júlia. Enlouquecida, amei o corpo de Emanuelle pensando no corpo da minha madrasta. No momento em que a coloquei no meu colo para que ela cavalgasse nos meus dedos, enquanto eu beijava seus lábios e sugava seus seios, era Júlia que eu enxergava e sentia nos meus braços. Abri os olhos e olhei para a mulher de cabelos loiros e olhos verdes, mas só conseguia visualizar no meu colo a mulher de cabelos negros e olhos azuis. Desisti de lutar comigo mesma e me entreguei àquela loucura que, deliciosamente, me atormentava. Sentindo em meus dedos toda a umidade da sua excitação, deitei-a na cama e fui direto à fonte tomar o seu inigualável néctar. Ali provei, senti e saboreei a intimidade da ex-amante do meu pai. Emanuelle, naquele momento, ausentou-se completamente daquele quarto de hotel no bairro Le Marais.
Até hoje me lembro da pergunta que ela me fez quando saímos do hotel:
-- Sylvia, com quem você estava naquele quarto esta tarde?
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No sábado eu almoçava com Augusto, no restaurante Lasserre, na Franklin Roosevelt. Ele estava com o aspecto abatido, a fisionomia visivelmente amarga. Parecia controlar uma irritação crescente. Eu simplesmente fingia não perceber nada. Não iria nunca me deixar enredar nas chantagens emocionais de Augusto. Já estava certa de que o meu sentimento por ele havia mudado. Na verdade, eu ainda insistia em me enganar, amparando-me sempre na cômoda situação de bissexual. Acreditando-me assim, me considerava capaz de me casar com um homem e, talvez, ser relativamente feliz. No fundo, eu sabia que ainda não estava, aos vinte e três anos, preparada para me assumir homossexual. Ainda vivia uma época difícil, principalmente para as mulheres. Emanuelle, por exemplo, vivia aparentemente feliz com o marido, mas suas tardes de ócio eram secretamente bem aproveitadas ao lado de algumas amigas.
Agarrava-me à ilusão de que sentia atração por ambos os sex*s, mas, no meu íntimo eu sabia que estava enganada. Assim ia vivendo. Olhando para o meu noivo naquele momento, percebia que nada naquele rosto bonito, naquele corpo atlético, naquelas mãos bem-feitas e bem cuidadas me atraia. Em todas as vezes que dormimos juntos, eu nunca senti um orgasmo. Sentia um pálido lampejo de prazer quando pensava em uma mulher. Ele, com o ego sempre grande, não percebia nada do que se passava comigo. Para ele e para grande a maioria dos homens, bastava apenas, para as mulheres se sentirem satisfeitas sexualmente, terem um p*nis dentro de si. Uma visão muito simplista para o prazer de uma mulher. Olhei-o fixamente nos olhos e constatei que estava cansada dele, mas sentia piedade, porque acreditava que ele fosse uma boa pessoa e, de certa forma, ingênuo. Vivia sob o jugo do pai, que sempre o tratou com muito rigor e, como forma de se rebelar, de contrariar o pai, vivia como um playboy, farrista e irresponsável.
-- Tenho estranhado muito o seu comportamento, Sylvia! -- Segurou minha mão -- Tenho medo de que não esteja me amando mais.
Esquivei-me do seu toque e não disse nada.
-- Pretendo voltar com você para o Brasil...
-- Não! -- Falei mais alto do que devia. Ele me olhou espantado -- Acho melhor você ir para Lisboa e procurar se inteirar dos negócios da sua família, Augusto. Está mais do que na hora de você começar a trabalhar.
Ele ficou visivelmente contrariado. Suspirou profundamente e apertou os lábios.
-- Você sabe que não me interesso pelos negócios do meu pai. Não consigo ficar um dia inteiro dentro de um escritório, sentado atrás de uma mesa...
-- Eu também não consigo me imaginar casada com um homem que não gosta de trabalhar, que leva uma vida boêmia, que quer ser um eterno pândego.
Ele se remexeu todo na cadeira, tomou um gole de vinho e me olhou indignado.
-- Eu não entendo como uma mulher como você precisa ficar se matando de trabalhar. O seu dinheiro é suficiente para você viver a vida toda sem fazer nada.
-- Augusto! Vejo que não temos nada em comum. -- Com os cotovelos na mesa e as mãos sob o queixo deixei meus olhos vagarem pelo rosto dele. Não sabia até quando iria empurrar aquele noivado -- Eu não consigo viver essa vida irresponsável que você leva. Eu G O S T O de trabalhar, de produzir, de sentir que estou sendo útil, entende?
-- Bobagem! Somos ricos, temos quem trabalha quem faz o serviço pesado para nós.
Senti nojo dele. Levantei-me e sai do restaurante deixando-o com o olhar espantado, de quem não consegue perceber as bobagens que faz. Decidi, que assim que tivesse uma folga, antes de voltar para o Brasil, iria ter uma conversa séria com o senhor Rodolfo Siqueira, o pai dele.
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-- Júlia! Como vai minha querida? -- A voz de dona Cláudia estava muito entusiasmada ao telefone. -- Venha passar esse final de semana comigo. Estou com saudades de você e do meu sobrinho.
Júlia sentiu o coração disparar. Será que ela já chegou? Esse foi o pensamento que primeiro lhe ocorreu. Respirou fundo e, se esforçando para deixar a voz o mais natural possível, respondeu:
-- Não sei, dona Cláudia... Não quero dar trabalho... E...
-- Que trabalho, que nada! Vai ser um prazer tê-los aqui. Estou me sentindo só nesse casarão.
-- Só? -- Indagou tentando disfarçar o tom decepcionado da voz.
-- É minha filha! Sylvia ainda não voltou. Já faz mais de uma semana que ela viajou e, pelo que me disse, vai ficar mais de um mês por lá.
Júlia permaneceu muda. Não conseguia dizer nada e nem queria, pois tinha quase certeza que sua voz iria lhe trair.
-- Sei que tem suas aulas de violão até na quinta, não é? Então venha na sexta pela manhã.
Júlia se viu circulando naquele casarão, entrando e saindo dos cômodos sem ter a grata surpresa de vê-la surgir por alguma porta. O coração doeu, mas só o fato de estar no ambiente, com certeza iria perceber o cheiro dela, sentir a energia dela impregnada por todo o lugar.
-- Está certo, dona Cláudia. Amanhã logo cedo chego aí com o Antenor.
-- Ótimo minha querida! Não sabe como isso me deixa feliz. -- A voz da senhora, entreamada com a risada gostosa, chegou aos ouvidos de Júlia como uma carícia reconfortante. - Júlia, traga seu violão! Quero vê-la tocar!
-- Claro dona Cláudia! Levo sim! --Seriam bons aqueles dias ao lado de dona Cláudia.
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Na sexta-feira, por volta das dez horas da manhã, o carro de Antenor atravessava os portões da chácara de Sylvia. Alguns minutos depois Júlia entrava acompanhada da babá que trazia o menino nos braços. Dona Cláudia abraçou-a apertado e beijou-lhe as bochechas.
-- Estava com saudades! -- Com as duas mãos nos ombros de Júlia, olhou-a nos olhos sorrindo -- Cada dia mais linda! Como consegue ser tão bela assim, menina? -- Voltando-se para o sobrinho, tomou-o nos braços. -- E você? Puxou a beleza da sua mãe. Tenho pena das pobres mocinhas que vão olhar para esses olhos! Coitadas!-- Apertou-o nos braços e beijou-lhe a cabecinha. Depois cumprimentou a babá e se dirigiu para o interior da casa acompanhada por todos.
-- Venha, Júlia! Vou levá-la até seu quarto!-- Com um sorriso sapeca nos lábios, olhou para a moça e declarou -- Tenho uma surpresa para você. Espero que goste.
Júlia olhou-a curiosa e sorriu. Ao chegarem ao corredor dos quartos, a senhora levou Júlia para outro quarto que não o que ela havia ocupado quando esteve ali. Estremeceu quando percebeu que o quarto ficava em frente ao de Sylvia. Meu Deus! Só pode ser uma brincadeira do destino! Pensou.
Dona Cláudia abriu a porta. Júlia entrou num quarto enorme, composto por uma sala, uma enorme varanda e o quarto propriamente dito e neste, um closet que dava acesso ao banheiro. Outra porta dava acesso a outro quarto que foi destinado a Antenor. Dona Cláudia abriu esta porta e Júlia ficou encantada com o ambiente. Era um quarto menor do que o seu, mas grande para um menino da idade do seu filho. A um canto um grande berço com cortinado com motivos masculinos, esperava pelo pequeno. Por todo o ambiente, além do berço, havia um guarda-roupa, uma cômoda, uma poltrona, uma mesinha com uma cadeira, uma televisão, um toca-discos e uma estante repleta de brinquedos. As paredes pintadas em azul claro traziam desenhos com motivos infantis. A janela aberta permitia a passagem de uma brisa agradável que balançava a cortina bege de tecido fino.
Júlia estava encantada. Virou-se para dona Cláudia, e esta pode ver no seu olhar, um brilho de felicidade e agradecimento.
-- Dona Cláudia! Estou sem palavras!
-- Este será o quarto do meu sobrinho e o outro será o seu. Se quiser mudar alguma coisa na decoração, minha querida, fique à vontade!
Júlia sorriu e a abraçou.
-- Não vou mudar nada. Está ótimo!
-- Depois de ficar sabendo pela leitura do testamento, da vontade de Antenor de aproximar Sylvia do irmão, resolvi arrumar esse quarto para ele e o outro para você. - dando um suspiro, continuou - tenho esperança que vocês um dia ainda vão morar aqui.
-- A senhora é tão boa comigo! Sempre foi. -- A voz ficou embargada e dona Cláudia abraçou-a mais.
-- Meu bem! Gostei de você no momento em que a vi. Bastou olhar nos seus olhos para ver que você era uma vítima nas mãos do meu irmão e do seu pai. Nunca aprovei o que fizeram com você. Mas já passou e de todo o sofrimento, ficou uma coisa boa, minha querida: seu filho!
Júlia afastou-se um pouco secando as lágrimas.
-- Eu sei. Ele é minha vida! É só por causa dele que vivo!
Dona Cláudia, tomou-lhe as mãos.
-- Por causa dele e principalmente por você mesma. Ainda é jovem, linda, inteligente, precisa refazer sua vida.
-- Quero apenas me dedicar ao meu filho, dona Cláudia.
-- Claro! Deve se dedicar a ele, mas não deve fechar as portas do seu coração. Quem sabe não conhece um rapaz...
Júlia meneou a cabeça rapidamente. Outro homem na sua vida era o que ela menos queria. Olhou para o filho nos braços da babá ao lado da estante de brinquedos e mais uma vez reforçou a decisão de que só iria viver para ele.
*************
O resto do dia passou ao lado do filho e de dona Cláudia. Tocou violão e ela ficou encantada. Almoçaram, passearam pelo jardim, comeram fruta no pomar e montaram a cavalo. No final da tarde Júlia estava se sentindo exausta, pois só havia montado a cavalo uma vez ou duas em toda a sua vida. Antenor quando foi tomar banho estava irreconhecível, de tão sujinho de terra, mas a alegria que irradiava dele era contagiante. Depois do banho, Júlia deu-lhe de mamar e antes que enchesse a barriga como costumava fazer, dormiu. A babá o levou para o quarto e Júlia ficou conversando com dona Cláudia no alpendre nos fundos da casa. Era noite de lua cheia e elas ficaram ali por um bom tempo apreciando aquele satélite enorme a amarelado.
-- Sabe Júlia, eu fico pensando quando vejo a lua assim: nós somos tão ínfimos nesse mundo. Imagina a imensidão desse universo! O que somos nós diante de tamanha grandeza, da tamanha inteligência da criação!
-- Eu também me pego pensando assim, dona Cláudia. -- Acomodando-se melhor na rede em que estava, ficou por alguns instantes, pensativa, olhando a enorme bola no céu. Depois confessou -- A minha lógica me diz que há inteligência em outros planetas. Para mim, é inconcebível que só haja vida na terra.
Dona Cláudia bebericou o seu vinho e deixou os olhos mergulharem mais ainda na esfera amarela. Depois se lembrou da infância.
-- Acredita que até hoje, se eu ficar olhando muito para a lua, eu vejo São Jorge lutando com o dragão? -- Soltou a sua gargalhada que contagiou Júlia.
Elas já haviam tomado bastante vinho e estavam bastante relaxadas.
-- Julinha! Quero que venha passar todos os finais de semana comigo! Será bom para todos nós. Viu como o Antenor se divertiu?
Júlia estremeceu. Todos os finais de semana significavam que mais dia menos dia iria se esbarrar com Sylvia e ela temia e ansiava por isso.
-- Não sei se devo dona Cláudia... Mas, pelo menos enquanto a senhora estiver só, não vejo problema.
Dona Cláudia olhou-a curiosa.
-- Mesmo com Sylvia aqui, você pode vir a essa casa quando quiser, Júlia! A minha sobrinha não fará objeção alguma, esteja certa disso!
-- Mas é que... Sei lá... A minha ligação com o pai dela... Ela, com certeza, deve... deve me detestar... Antenor traiu a mãe dela comigo, dona Cláudia!
Dona Cláudia ficou em silêncio, olhando-a por alguns segundos. Secou a taça de vinho e serviu mais:
-- Minha filha! Eu já lhe disse que Sylvia sabe o que aconteceu. Helena contou a ela e eu confirmei. Ela sabe que você foi uma vítima nessa história toda. -- Meneando a cabeça, esboçou um sorriso de compreensão. -- Fique tranquila, quanto a isso. Andei até pensando em lembrá-la do pedido do Antenor...
Júlia, sentindo um frio na barriga, fitou a senhora deitada na outra rede. Sabia qual era o pedido ao qual ela se referia, mas fez-se de desentendida.
-- Que pedido?
-- Não se lembra que Antenor pediu no testamento que Sylvia vivesse sob o mesmo teto com o irmão e você?
-- Mas... Mas... isso é... impossível!
As faces da moça estavam rubras, mas imperceptíveis para dona Cláudia, pois as luzes do alpendre estavam desligadas para que pudessem apreciar melhor a lua cheia.
-- Não vejo nenhuma impossibilidade. -- A senhora dando de ombros, encerrou aquele tema da conversa -- O único impedimento que pode existir, além de você mesma não querer, é Sylvia também não querer. Mas do jeito que ela está encantada com o irmão...
Júlia levou a taça de vinho à boca e secou-a. Pegou a garrafa na mesinha e tornou a encher a taça. Sentiu uma sede súbita. O medo de que fosse convidada a morar ali a invadiu, então, bebeu o vinho como se bebesse água.
-- Vá devagar... Ressaca de vinho é terrível, minha filha! Desse então...
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Quando se recolheram para dormir já era mais de meia noite. Dona Cláudia, bastante tonta e sonolenta por causa do excesso de vinho, entrou em seu quarto dando boa noite a Júlia com a voz engrolada.
-- Bo... Boa noite, queri...da! Ha! ha! Juli..nha... Estou de porr..re!
Júlia seguiu para o seu quarto com as pernas meio bambas, mas com a cabeça levemente entorpecida, porém consciente. Parou em frente ao seu quarto, abriu a porta, entrou e, quando se virou para fechá-la, viu a porta do quarto em frente. Ficou observando-a. O silêncio reinava absoluto em toda a casa. Sem conseguir se controlar, com duas passadas largas, cruzou o corredor. Parou e lentamente levou a mão ao trinco do quarto de Sylvia. Sentia o coração bater acelerado e seu sangue circular como fogo pelas veias. A alegria e a culpa por estar invadindo um espaço alheio brigavam dentro do seu peito. Girou o trinco e descobriu que a porta não estava trancada. Empurrou-a, e antes de entrar, olhou para os dois extremos do corredor. Inspirou fundo, entrou e fechou-a, tendo o cuidado de trancá-la. Ouvia o coração na garganta e uma fraqueza enorme tomou-lhe as pernas, os braços, enfim todo o corpo. Recostou-se na porta e ficou ali por alguns segundos, tentando se controlar. Dirigiu-se à porta que levava ao dormitório e aproximou-se da cama. Sentou-se vagarosamente e deslizou uma mão sobre a colcha de um tecido macio e bonito. Vagarosamente puxou um travesseiro e levou-o ao nariz. Aspirou o perfume e fechou os olhos. Abraçou-o apertado como se a abraçasse. Beijou-o repetidas vezes como se a beijasse. Não conseguia refrear o que estava fazendo e, graças ao vinho, dava vazão aos seus desejos. Depois se levantou e se dirigiu ao closet e tocou em algumas roupas penduradas nos cabides. Pegou uma blusa e cheirou-a, deslizando o tecido por todo o rosto. A necessidade de cheirar, de aspirar, absorver a energia das coisas dela, dominava-a totalmente. Tirou um blazer do cabide e vestiu-o de frente, com a abertura para traz, se abraçou com os próprios braços e fechou os olhos sentindo-se abraçada por ela. Aproximou-se das gavetas do grande armário e abriu-as. Deixou as mãos se envolverem nas sedas e lingeries e imaginou aquelas peças sobre o corpo dela. Cheirou-as como fez com as outras roupas. Em outra gaveta encontrou uma quantidade enorme de calcinhas. Quando viu as peças, sentiu o coração disparar mais ainda. Tocou-as levemente. Pegou uma e ficou observando e, querendo esconder de si mesma o que tencionava fazer, aproximou vagarosamente do rosto. Estremeceu. O perfume da peça embriagou-a e um gemido rompeu-lhe os lábios. Com os olhos fechados esfregava delicadamente o tecido sobre o próprio rosto. Encostou-se no armário, pois as pernas fraquejaram e temeu cair. À medida que mantinha a peça no rosto um calor crescente tomava-lhe o corpo e uma forte contração nascia no seu baixo ventre. Sentou-se no chão e estirou as pernas. Queria sair dali, mas também queria ficar. A respiração se fazia curta e agitada. Após alguns segundos, totalmente dominada pelo clamor do corpo e pelo vinho deixou a mão livre - uma vez que a outra mantinha a calcinha em seu rosto - deslizar pelo próprio corpo. Suavemente acariciou o abdômen, as pernas, os seios. A razão há muito a tinha abandonado. O desejo há tanto tempo reprimido, gritava se agitando por todas as fibras do seu corpo, para ser satisfeito. Lentamente foi suspendendo o vestido enquanto deslizava a mão pelas coxas. E, guiada pelo instinto, dirigiu a mão para a sua parte íntima. Mordendo os lábios, deixou a mão massagear a vagin* por cima da calcinha. Mordeu mais os lábios e gem*u. O cheiro da calcinha dela, apesar de lavada, lhe turbava o cérebro. A peça cheirava a perfume, mas o seu instinto de fêmea no cio, fazia-a perceber o cheiro de fêmea de Sylvia, levemente impregnado na peça de roupa.
Percebendo a própria umidade excitou-se ainda mais e lentamente atreveu deslizar os dedos pela lateral da sua peça íntima. Quando sentiu a própria pele quente, molhada e escorregadia, mais uma vez deixou um gemido rouco subir pela garganta. Sua respiração entrecortada dificultava-lhe a busca de ar; a boca entreaberta já havia umedecido a peça que ainda mantinha de encontro ao rosto. O dedo médio acariciava o clit*ris rígido e crescido e sua excitação crescia cada vez mais. Desejou ardentemente que fosse a mão dela que estivesse ali dentro da sua calcinha. Desejou ardentemente que os lábios dela estivessem grudados nos seus. Desejou que o castanho-verde olhar estivesse ali, naquele momento, lhe devorando por inteiro. O prazer aumentava cada vez mais e ela foi derreando o corpo, até ficar praticamente deitada no chão do closet. Seus dedos se tornaram mais ágeis aumentando o ritmo da fricção. Os gemidos aumentaram e sua boca se atreveu a sussurrar baixinho o nome que ela tanto se esforçava para calar.
"Syl... via! Aii... Sylvia! Meu... meu... amor!"
O orgasmo atingiu-a fazendo com que jogasse a cabeça para traz e apertasse as pernas, dando vazão aos múltiplos que vieram a seguir. Ali ficou por mais alguns minutos enquanto aguardava as forças voltarem. Levou ao nariz a mão cheia do seu gozo. Aspirou e descobriu-se deliciada com o cheiro. Não era aquela, a primeira vez que se satisfazia sozinha, mas a personagem da sua fantasia tornava tudo especial. Imaginou sentir o cheiro dela.
Meia hora depois, levantou-se com as pernas ainda trôpegas, fechou as gavetas do armário, pendurou as roupas que havia tirado do lugar. Quando foi devolver a calcinha, se deteve e a manteve na mão. Sem ainda perceber muito bem o que estava fazendo, fechou-a na mão e se dirigiu à saída do quarto. Antes de sair no corredor, novamente olhou para os dois extremos e cruzou o mesmo para entrar em seu quarto.
Quando se deitou e se enfiou sob as cobertas, dormiu embalada pelo misto de felicidade e culpa.
Fim do capítulo
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