Capítulo 4 - Um Velho Frio na Barriga
O RENASCER DE UM ANTIGO AMOR
Cap 04 - Um Velho Frio na Barriga
Fernanda havia adicionado a tatuadora e tentava decidir se era uma boa ideia mandar mensagem no mesmo dia ou não.
Assim que deu meia-noite se sentiu em paz e enviou.
“Oi”
Isabel olhou a mensagem na tela do celular, estava esperando algo do número antigo de Fernanda, mas era bem provável que Oscar tivesse destruído aquele chip.
“Quem é?” Perguntou por via das dúvidas.
“Fernanda” Respondeu e depois riu de si mesma, afinal nem havia dito seu nome para a mulher, como ela saberia quem era Fernanda?
Para sua surpresa ela respondeu “Ah, a moça bonita do evento… ”
Não me lembro de ter dito meu nome” Fernanda mandou, e depois se perguntou se a mensagem não havia soado grosseira.
Isabel do outro lado fechou os olhos e balançou a cabeça negativamente.
-- Que merd* hein Isabel… -- Disse para si mesma. -- Vou ter que me policiar melhor.
“Ouvi seu amigo dizendo... ” Tentou disfarçar.
“Hahaha então também ouviu ele dizendo pra eu não te mandar mensagem?”
-- Babaca… -- Isabel resmungou para si mesma.
“Ainda bem que você não deu ouvidos a ele” Disse e mandou um coração.
Esperou vários minutos e Fernanda não respondeu, respirou fundo, devia ter dormido, foi tentar dormir também, o que levou muito tempo, pois estava uma pilha de ansiedade.
Quando acordou no dia seguinte já havia uma mensagem.
“Bom dia, me desculpa por ontem, acabei dormindo”. Seguida de uma emoticon de risada.
Sorriu caminhando até a cozinha, estava dormindo na casa de sua mãe aquela semana porque ficava mais perto do centro onde tinha alguns eventos para participar.
-- Isa acordando com um sorriso no rosto? Que milagre é esse? -- Mariana comentou rindo.
-- É, pode se dizer que é um milagre mesmo. -- Mordeu um pedaço de pão e sentou-se ao lado da irmã.
-- Conseguindo muitos clientes na feira? -- Seu pai se aproximou da mesa pegando o café.
-- Sim papai, tá sendo um sucesso. -- Isabel respondeu distraída olhando o celular.
“Tem algum compromisso hoje ou posso te chamar pra sair?” -- Mandou sentindo um frio na barriga como se estivesse marcando o primeiro encontro de sua vida.
Fernanda arqueou as sobrancelhas. -- Bem direta, ela. -- Pensou consigo mesma, precisava pensar melhor antes de simplesmente ir aceitando o convite de uma estranha.
“Posso responder mais tarde?”
“Claro” -- Ela respondeu.
“Obrigada” Mandou um coração e saiu em direção a sala. Seu pai estava tomando café enquanto via o jornal.
-- Papai. -- Se sentou no sofá do canto. -- Posso perguntar uma coisa?
-- Diga.
-- Er… O senhor sabe se eu namorei alguém durante… Bem, o senhor sabe. -- Disse se referindo ao período do qual não conseguia se lembrar.
Oscar se remexeu no sofá desconfortável. -- Não, não que eu me lembre.
Fernanda franziu a testa. -- Porque olha… As últimas coisas que eu lembro são relacionadas ao primeiro semestre da faculdade, quando eu conheci o Caio… Mas eu tenho um diploma pendurado na parede do meu quarto… Então foram anos papai. -- Fez uma careta ao se dar conta disso. -- O senhor tem certeza que eu não tive ninguém?
-- Ah Fernanda, eu não sei dos seus namoricos, eu só não me lembro de você ter apresentado alguém. -- Mentiu descaradamente, almoçava com a família de Victória todo fim de semana.
Fernanda abaixou a cabeça conformada.
-- Porque a pergunta filha?
-- É que eu conheci uma pessoa…
Isabel entrou em seu quarto e abriu o guarda roupa, algumas lembranças invadiram sua memória.
4 anos atrás
-- Você tem certeza cd que é um encontro romântico? -- Isabel perguntou encostada na parede.
-- Tenho… Quer dizer… Tem que ser. -- Victória fez uma careta.
-- Então usa esse perfume. -- Perguntou um frasco rosa de cima de uma prateleira e entregou para a irmã. -- Não tem mulher que resista.
Victória riu. -- Me leva até lá? Eu to meio atrasada já…
-- Okay, vamos. -- Disse puxando a irmã. -- Não vai deixar a menina esperando.
Assim que pararam no local abriu a porta para Victória descer, ergueu os olhos para ver a menina, parecia uma menina comum de longe, e então ela se virou e recebeu sua irmã com um abraço e um beijo no rosto.
Isabel respirou fundo, não saberia dizer ao certo em que momento seu coração falhou ali, se foi quando ela sorriu, ou quando parou para colocar uma mecha do cabelo atrás da orelha.
Teve uma leve sensação de que gostaria de estar no lugar de sua irmã naquele momento.
Fechou a porta do carro se repreendendo quanto aquele pensamento patético.
De volta ao presente, Isabel se olhou no espelho e terminou de retocar a maquiagem discreta. Lembrou-se que naquele dia Fernanda sequer notou sua presença, e durante todos os anos que se passaram se sentiu da mesma forma, invisível para ela.
Mas agora as coisas iriam mudar.
Olhou na prateleira e viu o frasco de perfume que deu a sua irmã há pouco mais de 4 anos, ainda estava pela metade, tinha dado de presente a ela. Infelizmente Victória não teve muito tempo de usá-lo.
Apanhou-o e ficou alguns segundos analisando antes de escondê-lo no fundo de seu armário. Nunca mais usaria aquilo.
Amargou a lembrança do dia em que Victória percebeu seu interesse em Fernanda.
Era tarde de domingo e Isabel notou o olhar de Victória sobre si. Abaixou a cabeça desviando os olhos da morena que ria ao lado de Mariana e outro rapaz, mas já era tarde, sua irmã havia se levantado e colocado o óculos no rosto, ao contrário de si, Victória não enxergava um palmo a sua frente sem eles.
-- Qual o seu problema? -- Ela perguntou em tom baixo assim que chegou perto o suficiente.
-- Como assim? -- Isabel tentou se fazer de desentendida, mas pela expressão da outra sabia exatamente do que se tratava.
-- Para de ficar secando a minha namorada! Tá todo mundo comentando… -- Victória deslizou a mão pelo cabelo como quem buscava calma. -- Eu não acredito que você está me fazendo passar por isso.
Isabel virou o rosto irritada com a expressão “Minha namorada” que sua irmã soltou, odiava-se por gostar tanto de Fernanda, mas odiava-se mais ainda por não saber controlar o que sentia.
-- Desculpa Vic, eu não to afim dela… Só olhei porque…. Ela é bonita né. -- Sorriu tentando descontrair.
-- Sim, ela é linda e minha. -- Sua irmã virou as costas mas voltou para trás. -- Agora vê se para de olhar ela desse jeito porque já tá ficando estranho.
Eram 19h30, Isabel se recostou na cadeira de um barzinho local, Fernanda havia confirmado que apareceria e por mais que não quisesse alimentar esperanças, o velho frio na barriga que sentia quando pensava nela não a deixava em paz.
Em um canto estratégico havia uma moça tocando violão acústico, ainda não havia parado para reparar no que ela cantava até que chegou no refão.
“Porque eu só vivo pensando em você
E é sem querer
Você não sai da minha cabeça mais
Eu só vivo acordada a sonhar
Imaginar
Às vezes penso ser um sonho impossível, uma ilusão terrível
Será?”
A viu se aproximando e prendeu o ar, levou 3 minutos pra que ela entrasse no restaurante e se sentasse de frente para si na mesa, mas Isabel podia jurar que horas se passaram naquele intervalo.
-- Oi. -- Fernanda disse tímida. -- Adorei esse lugar, como eu nunca vim aqui antes?
Isabel sorriu de canto, Fernanda realmente nunca havia estado ali, mas tinha a convidado mais de mil vezes, tendo sido recusada em todas as ocasiões.
-- Eu sempre… -- Fechou os olhos por um segundo, “Eu sempre sou que você ia gostar” Foi o que quase saiu, mas se corrigiu a tempo. -- Eu sabia que você ia achar bacana aqui.
-- Acho que eu gostaria de qualquer lugar que você me levasse. -- Fernanda disse colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.
Isabel sorriu abobada, a única Fernanda que diria isso pra ela era a Fernanda dos seus sonhos.
Mas a Fernanda dos seus sonhos estava ali.
A moça do violão continuava a tocar e o barzinho já estava mais movimentado.
“Eu faço tudo pra chamar tua atenção
De vez enquando meto os pés pelas mãos
Engulo a seco o ciúme quando outra apaixonada quer tirar de mim tua atenção.”
-- O que significa essa tatoo? -- Perguntou depois de um silêncio prolongado de Isabel.
-- Rosa dos ventos? -- Olhou para a própria mão. -- Significa a busca por um caminho… Foi uma das primeiras que eu fiz.
-- Quero uma rosa dos ventos também, só que colorida. -- Tocou a figura na mão de Isabel. -- Eu também estou buscando uma direção… Pra minha vida.
-- Só não te aconselho a fazer na mão, vai doer muito. -- Disse fazendo Fernanda sorrir.
-- Eu pensei no ombro, o que você acha?
-- Vai ficar lindo. -- Isabel encarou os olhos castanhos de Fernanda e tocou seu rosto. -- Até sexy, eu diria. Se aproximou perigosamente.
“Mas quanta coisa aconteceu e foi ditar
Qualquer mínimo detalhe era pista
Coisas que ficaram para trás
Coisas que você nem lembra mais
Mas eu guardo tudo aqui no meu peito
Tanto tempo estudando o teu jeito
Tanto tempo esperando uma chance
Eu sonhei tanto com esse romance”
Isabel sorriu com a canção, é, definitivamente tinha passado muito tempo esperando uma chance de Fernanda.
Fernanda mordeu o lábio inferior, de repente seu coração começou a bater descontrolado no peito. Quando tinha sido a última vez que havia beijado alguém? Quase riu de nervoso, mas resolveu fechar os olhos e esperar que Isabel continuasse.
Sentiu os lábios dela tocarem o canto de sua boca e o resto foi apenas instinto, o tempo pareceu parar por um segundo, até que Isabel a afastou delicadamente lembrando-se de que estavam em um local público.
Olhou nos olhos de Fernanda, amava aquela mulher, não iria se sentir culpada, Victória não estava mais ali com ela e já havia se passado muito tempo, Fernanda merecia ser feliz e ela também.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Endless
Em: 30/06/2018
Olá, autora!
Admiro a sua coragem de abordar tema tão polêmico. Sei que algumas leitoras já estão "shipando" o casal Fernanda/Isabel... Mas, como o título instiga, acho que a "Isa" pode perder nessa. Vai? Só quem sabe é você, autora. Quem sabe você não passa por cima do politicamente correto e faz com que a irmã gostosa ganhe o coração que tanto almejava, ainda que seja com o auxílio da irmã em coma e do pai, preocupado com a filha, afastando os vestígios da mulher que Fernanda ama. No amor e na guerra vale, realmente, tudo?
Aguardando ansiosa pelos próximos capítulos!
Boa sorte!
Resposta do autor:
Olá, primeiramente obrigada pelo comentário.
Haha eu adoro polêmicas, me fazem refletir profundamente.
Olha, eu digo que vai ser bem difícil não "shipar" Fernanda e Isabel, do ponto de vista politicamente correto é claro que o que ela está fazendo é um absurdo, mas quem nunca ultrapassou os limites da razão por amor/paixão? E outro pequeno grande detalhe: Não sabemos 100% (na verdade eu sei haha) como era o relacionamento entre a Victória e a Fernanda, então eu acho que talvez vá exisitir uma certa divisão de opiniões entre as leitoras.
Muito obrigada (de novo) um abraço :)
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