~ POV CAMILA ~

- PQP, eu não acredito.

Tentei rodar a maçaneta e estava trancada, realmente eu estraguei tudo, não irei invadir o seu espaço, se ela optou por trancar deve ter ficado insatisfeita com a minha atitude.

Retornei para o quarto, e logo deitei na cama com meus pensamentos frustrados, pela minha atitude boba do medo de me entregar, sentia que estava perdendo algo bom, algo que realmente mexeu comigo, mas sentia que era tarde demais, iria da tempo ao tempo, se realmente for de acontecer, acontecerá.

Enquanto isso duas pessoas se falavam ao telefone.

- Sério que elas estão juntas mesmo?

- Sim, eu estou lhe afirmando, a Alicia está dormindo em sua casa a dois dias, e pelo que percebi elas estão juntas e juntas de pegação mesmo.

- Desgraçaaaaaaaaa! Isso não vai ficar assim, não vai, preciso começar a agir, já que ela não se preocupou com seu apartamentozinho arrombado, então que comecem os jogos de verdade.

- Você não acha que está indo longe demais? Melhor ter cuidado, a Camila é uma pessoa poderosa e pode acabar com sua vida em questão de segundos.

- Não tem problema, mas antes dela acabar com a minha vida eu acabarei com a dela, ninguém mandou ela colocar os dedinhos na minha garota.

- Só espero que esse problema não caia pra cima de mim,já te avisei, não quero mais me envolver nisso.

- Para, você já estava mais que envolvida, mas não se preocupe lhe prometi que você não sairá de ruim. Em falar em começar os jogos, algo me diz que quero começar com seu irmãozinho... Talvez ela se toque e veja que a Alicia é um problema para a vida dela. HAHAHAHAHA.

- Não, o garoto não. Isso eu não irei te ajudar, o Guga não tem nada a ver.

- Sim, o Guga tem a ver sim e você vai me ajudar sim, e sem delongas. Tchau.

- Não, o garoto não, por favor. – Tarde demais, a ligação já havia sido encerrada, e só restou lagrimas de desespero.

~POV ALICIA~

Senti a Camila me despertando, me sentia cansada e acabei me entregando ao sono.

- Ei, princesa, vamos descer? Esta ficando frio.

- Ai, acho que cochilei um pouquinho.

Descemos para o quarto e quando chegou na porta a Camila ficou estranha, e logo falou que tomaria um banho e iria pro meu quarto, talvez ela estivesse receosa pela minha reação ou se realmente eu queria que dormíssemos juntas, tratei de brincar e convidei para tomar um banho comigo e logo fui lhe beijando, e pro meu espanto ela recuou e tentou se desculpar, mas logo suas lagrimas começaram a rolar, eu fiquei sem ação, aquela mulher tão decidida e tão firme totalmente indefesa em minha frente, comecei a pergunta a ela o que estava acontecendo e ela apenas chorava e dizia que não conseguia, meu coração começou a aperta e logo veio em mente que ela tinha alguém, e poderia esta se arrependendo de tudo que fez essa noite, afinal, ela falou tão pouco dela que de fato eu não sabia se ela tinha alguém. Logo ela me tranqüilizou dizendo que não tinha ninguém, ai que fiquei mais confusa ainda, e notando a minha confusão ela me puxa e me abraça, dizendo que eu era maravilhosa e que a fiz sentir coisas que nenhuma mulher fez, e então qual o problema? Quer dizer que a explicação dela era porque era complicada? Ah, me economize. E pra finalizar ela termina beijando a minha TESTA, a pessoa que estava há minutos atrás beijando a minha boca estava beijando minha testa, beleza que é sinal de respeito, mais que ela vá pra puta que pariu com o respeito dela.

Fiquei possessa de raiva dela, e ainda pediu para esperá-la, ai foi que deu esperar ela se descomplicar? Ou esperar ela voltar?  Apenas falei que tudo bem, pois nem estava a fim de entrar em debate nenhum, apenas dei as costas e comecei a me xingar internamente, porque deixei chegar aonde chegou, ai que raiva. Sabia que eu seria apenas mais uma na vida dela, mais que boba eu fui, e eu vou trancar essa porta porque se ela se ousar vim em meu quarto ainda hoje ela vai se arrepender amargamente de tudo que ela fez.

Realmente, eu não tenho sorte com amor, nem com homens muito menos com mulheres, agora sim entendo quando eles falam que somos complicadas, não da pra mim não viu, já basta a minha complicação, e agora mais essa.

Comecei a andar de um lado pra outro pelo quarto querendo sumir ali, me martirizando porque ainda permitir que ela tocasse em mim, me proporcionando o maior prazer da minha vida, e agora não terei mais isso, antes eu não tivesse conhecido o lado bom.  Resolvi tomar um banho para diminuir a tensão e a raiva que estava expelindo pelo meu corpo e decidida sair cedo antes que qualquer pessoa acordasse, queria sumir daquela casa o mais rápido possível.

Quando sair do banho, deitei sabendo que não conseguiria dormir depois da noite maravilhosa que tive e que terminou assim, e pude ouvir a maçaneta rodar, com certeza era ela, mas eu não daria o braço a torcer, não mesmo, ela que bata de cara na porta e volte pro seu mundinho, porque dele eu não quero mais fazer parte.

Horas se passaram e meus olhos estavam mais acessos que faróis de carro, e quando estava amanhecendo juntei todas as minhas coisas, tomei outro banho e me arrumei. Sai do quarto deixando apenas um bilhete, porque mal agradecida eu não serei nunca, mas é melhor cada uma em seu canto antes que as coisas venham ficar piores. Deixei aquele apartamento com o coração apertado, eu estava realmente gostando da Camila, ela é uma pessoa maravilhosa fora daquele escritório, e o seu jeito me encantou de todas as formas, mas ela vive em um mundo que parece não querer se liberta, e já temia por sua atitude quando voltássemos a conviver no local de trabalho, então para nos poupar de todas as decepções, é o melhor que tenho a fazer.

Entrei em meu carro, como ainda faltavam duas horas para a empresa abrir, fiquei sem rumo para onde ir, tentei novamente no celular do Bernardo e sem chances, e agora de fato estou começando a ficar preocupada, já deixei milhares de mensagens em seu celular, diversas tentativas de ligações frustradas, e minha última tentativa era ir ao seu apartamento vê se ele estava por lá... Segui para o apartamento do Bernardo, como eles já me conheciam, a minha subida foi logo autorizada, toquei a sirene umas cinco vezes seguidas, até que o meu amigo abre a porta com a cara toda amassada, querendo me matar, porém a única reação que tive foi em abraçá-lo e chorar.

- Hey mona, o que houve?

- Ai amigo, só me abraça.

Depois de dias achei um colo bom, um amigo de verdade que sempre esteve comigo em todos os momentos, mesmo tendo as desavenças com o Luan ele nunca desistia da minha amizade, e pelo fato do Luan ser extremamente homofônico às vezes evitava esta com o Bernardo para evitar certas brigas dentro de casa, e mesmo assim quando eu precisava tinha o meu amigo lá de braços abertos.

- Ai, senta aqui vai viada, tenta se acalma. – O Bernardo seguiu pra cozinha trazendo um copo d’água. – Agora me conta, só sumir uns dois a três dias e você me aparece aqui assim toda amarrotada e chorosa? Não da né.

- Realmente, agora que cai na real seu CANALHAAAAAA, você sumiu, tem telefone pra que peste? – Comecei a da pequenos tapas no meu amigo.

- Ai calma, eu te expliquei que estava focado no trabalho e no boy novo né, ai pra completar meu celular quebrou, estava tão sem tempo que ainda não comprei um novo, me perdoe... – Logo ele se explicou e me abraçou.

- Tudo bem. – Já estava mais calma.

- Agora me conta o que houve. O Luan fez mais alguma coisa com você? Porque se ele fez, eu juro que mato com as minhas próprias mãos de veludo naquele traste.

- Não amigo, na verdade, eu resolvi da queixa.

- Ah que bom, e ai?

- Bem... Dei a queixa por invasão a domicilio, e não do Luan. – Fiz cara de medo da reação do meu amigo.

- Mas o que, ta louca mona? Como assim invasão a domicilio? E não do Luan, não estou entendendo mais nada. – Bernardo se exaltou levantando do sofá transtornado com o que acabei de falar.

- Ei, senta, por favor. – Logo ele sentou e me olhava apreensivo. – Vou te contar tudo que houve.

Comecei a contar tudo para o Bernardo desde quando sai da sua casa na segunda-feira de manhã, até nesse exato momento, inclusive do meu romance que tinha começado e acabado em menos de 24horas, as caras e bocas do meu amigo eram as melhores, ele me alegrava mesmo diante toda a desgraça que estava acontecendo em minha vida.

- Então quer dizer que você gozou na boca da toda poderosa?

- BERNARDO, não acredito, te contei varias coisas inclusive sérias e você só se ligou nessa parte?

- Ah amiga, claro! A parte mais interessante dessa merd* de vida que tu ta levando.

- Nossa como você é legal viu... Obrigada por chamar minha vida de merd*.

- Não é pra menos né gata, eu com essa vida que tu tem já teria virado purpurina pra BUFFFF, voar. – Fez o gesto com as mãos como se estivesse voando.

- Ai, to mais ferrada do que imaginei. – Vou escorando meu corpo todo no sofá com cara de tédio.

- Agora amiga, eu com uma daquelas não dava essa alok que você deu não, a menina esta apaixonada por você, sem saber o que fazer, a vida que levava era completamente diferente do que viveu com você, e tu nem deu uma chance pra garota pensar e tentar se descomplicar... Ate chorar ela chorou, ah Alicia, sinceramente você esta desonrando a bandeira gay. Volta pro seu mundo de hétero, por favor.

- Ai amigo, tu não acha que já basta eu de complicada não? E a Camila aquele poço de mistérios, que nada. Não estou a fim de me surpreender mais. Melhor eu voltar a viver minha vida de hétero mesmo, solteira, focada no estudo, focada no trabalho. – Quando mencionei a palavra trabalho, olhei rapidamente pro relógio. – Eita merd*, estou atrasada. Preciso ir.

- Ei volta aqui, sua ingrata.

Nem fiquei pra ouvir o resto, sai em um pulo só daquele apartamento, apertando todos os botões do elevador, e na chance de chegar logo decidir ir de escada... Cheguei ao carro colocando o coração pra fora, maldito sedentarismo que nos acompanham.

Quando estava perto de chegar à empresa, adivinha, o pneu do carro estourou, claro se nada desse errado não seria a merd* da minha vida, acho que o Bernardo estava certo.

Sai do carro bufando de ódio, não fazia idéia de como trocaria esse pneu, também não poderia deixar o carro no meio da pista, nesse transito idiota de Salvador, e pra completar em horário de pico e todas essas buzinas no meu ouvido! Maldição, isso, com certeza é uma grande maldição que jogaram pra minha vida.

Depois de tentar empurrar o carro pro acostamento, sozinha, nenhum infeliz veio me ajudar, eis que vejo uma alma estacionando próximo de mim, e descendo com aquele sorriso debochado de tipo “eu sei que você esta precisando de mim”, eu não sei se eu ficava feliz ou triste.  Mais pra quem já ta na merd* um peidinho de nada não vai fazer diferença.

Tentei do meu melhor sorriso para aquela situação, sim, não estava nada me agradando, mas fazer o que né.

Fim do capítulo