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Linha Dubia por Nathy_milk

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Palavras: 5005
Acessos: 4165   |  Postado em: 04/03/2018

Notas iniciais:

Meninas, espero que gostem desse novo capitulo. 

Recado: vou escrevendo na visão da Carol e logo mais tera a visão da Chris, a vida dela não parou né?!

 

Boa leitura 

 

Abraços

Capítulo 16

Capitulo 16 - caroline


   - Fer,  eu não posso.  Me desculpa, não posso - fui dizendo brevemente enquanto me afastava do jeito mais delicado que eu podia - Você é linda, mas não posso.

- É claro que você não pode. Mas sempre vale tentar.

           - Desculpa, eu sou casada.

- Acha que eu não sei que voce é casada?  Claro que eu sei Caroline. Estou tentando me segurar desde que você chegou, mas o que você fez hoje, fez eu me encantar mais ainda por você.

            - Você sabe que eu sou casada? Como?

            - Ah doutora, sei muito sobre você. Sei que você não pode, mas eu não posso deixar você ir embora sem eu tentar, e depois de hoje, dessa noite, eu precisava te beijar.

           - Fer, desculpa.  - acho que mesmo sem querer devo ter feito uma carinha de cão abandonado.

- Não tem que se desculpar gineco, mas não espere desculpas minhas, pois o que eu quero mesmo é você. Mas se não dá, não dá. Vamos embora, já passou das 4 da manha.

           - Dá pra me chamar de Caroline ou Carol, por favor. Não precisa ser de gineco.

- Não gineco, eu preciso ser mala com você. Isso garante minha saúde mental.

  - Aff, sem comentarios com você. O bebe ficou bem?

- Sim, depois que você entrou com a Lorena, consegui cuidar dele. Ele está bem.

- A Lorena deu trabalho na cirurgia, mas conseguimos dar conta. Ela está estável e amanha cedo será transferida para Bragança, acho que é essa cidade se não me engano.

- Meu carro está la fora, vamos. - Ela me soltou mais um sorriso, encantador. Será que ela estava sendo mala porque estava de olho em mim? Meio sem nexo, quem quer conquistar não é gentil e educada?

- Seu carro está aqui? Não viemos de ambulância?

- Princesa, você tem ideia de que horas são? Já são mais de 4 da manhã. Deu tempo de ir pra Urros com a van, pegar o meu carro e voltar para te buscar.

- Não precisava ter vindo me buscar, eu dava um jeito de ir embora.

- Disso eu tenho certeza, mas não vou deixar você sozinha num país estranho, depois de ter operado, a noite, cansada, sem comer e num lugar cheio de sapatão e heteros babões. Vim te buscar óbvio.  - dei um sorriso, que dentro de mim era uma gargalhada. Não pude deixar de comparar com a Christiane, ela nunca faria isso. Iria me largar aqui e ainda reclamar que eu entrei em cirurgia.

- Tá pensando em que? Viajou de uma hora pra outra.  

- Nada não. Nem sabia que você tinha carro aqui.

- Gineco, eu moro aqui. Tenho casa, carro, cachorro. Fico a maior parte do tempo em Urros, vou pra Tras-os-Montes raramente. Vivo aqui normal, como se estivesse em qualquer lugar. Vem, meu carro esta ali naquele terreno.

Andei até o carro da Fernanda. Quando entrei nele, de certo modo pude me sentir mais perto dela. O carro tinha um cheiro adocicado, como o dela. Em cada cantinho, um detalhe, no vidro um adesivo da faculdade, era do interior de São Paulo, no espelho um pinheiro pendurado. Coisas bobas, que todo carro tem, mas que me mostrou um pouquinho de como ela é.

- Porque você falou que tava cheio de sapatão e homem babão no hospital? Você ficou olhando isso?

- Carol, você é um puta mulherão. Cara, aqui é um vilarejo, rural, onde geral se conhece, ai do nada chega uma emergencia. Só a emergencia já é um evento. Junto com a emergencia chega um mulherão, mandando em todo, que puxou a responsabilidade, se meteu em uma cirurgia de horas sem recurso nenhum. Até quem é hetero se apaixona.

- Hahahahha, até parece. Um, não sou assim. Dois, assumi uma responsabilidade hoje que quase deu errado, mas entre aquela menina morrer sem nada la em Urros e eu fazer o meu maximo, pode ter certeza que vou fazer o meu máximo sempre. Nem cheguei direito em Urros e já adorei esse lugar, amo emergencias. Me desafia. Sempre trabalho com o calculado, recursos, cirurgião do lado se eu precisar.

- Aqui não tem nada disso, a pediatra nem sabe montar sala de parto.

- Isso é verdade Fernanda, vou ter que te ensinar isso. Você não pode ficar sem saber esse tipo de coisa básica.

- Gineco, relaxa, em um mes você vai embora e esse lugar volta a ser o que sempre foi, morte por parto domiciliar, crianças desnutridas, falta de recursos.

- Fer, se eu não ficar, arrumo um gineco bom pra vir ajudar voces, conheço vários capacitados para isso.

- A Marcela não quer um gineco, quer você aqui. E depois do que eu vi essa noite, eu finalmente entendi o porque ela fala tanto de você.

- Dra. Marcela não tem que me querer, ela tem que querer o bem do vilarejo. Ela coordena um projeto social, não tem que escolher muito não.

- Pro bem do vilarejo tem que ser você Carol. Tenho um mes para fazer você ficar.

- Fer, eu tenho uma vida no Brasil, não posso largar tudo e vir, assim do nada.

- Algo mudou, e fez você vir conhecer a gente. Não sei o que aconteceu, mas não vou deixar você ir embora tão fácil assim. - E pela primeira vez desviou o olhar da estrada e olhou pra mim, olhar intenso, os olhos castanhos dela brilhavam. Caraca. Intenso. Fiquei sem graça, apenas sorri de volta e desviei o olhar, melhor não forçar a barra.

Um silencio sepulcral tomou conta do carro. Eu continuei olhando as montanhas ou a paisagem, na verdade fingindo que eu estava prestando atenção, no fundo eu apenas estava repassando cada momento daquela noite. A Fernanda ligou o radio que eu nem percebi, eram musicas brasileiras, rock nacional. Adoro. A anos não me dou o direito de ouvir um som. A Chris não gostava do “barulho” e eu sempre estava operando.

Cada momento daquela noite foi preenchida com músicas da Pitty, não pensei que rock fosse o tipo de música da Fernanda. Repassei cada parte do atendimento, a correria, a cirurgia depois, o jeito como me senti bem depois do limite do estresse, como do pico fui a calmaria com o abraço da Fer, com o toque dela. E o beijo? Nem sei se considero beijo, foi tao rapido, eu não deveria ter cortado ela. MAs eu não posso, sou casada. Sou mesmo é idiota, a Chris está com outra e casada, eu deveria era aproveitar esse tempo com a Fernanda. Que merd*, não deveria me sentir culpada, deveria aproveitar. Mas gente, que labios macios. O beijo dela deve ter pegada, só esse tempinho micro juntas eu já quero provar mais, mas não posso. Que merd*. Não é porque a chris é adultera que eu devo ser. Não posso.

- Tá pensando no beijo que eu tentei te dar?

- Claro que não . Porque acha isso?

- Nada não

- Agora fala Fernanda

- Está olhando pro nada, brincando com os lábios, e sorrindo igual uma boba. Não deve estar pensando em sangue.  - Gente, segunda vez que essa menina me lê. Caraca. Sorri pra ela  e mostrei a lingua. Ela deu um sorrisão de volta e voltou a olhar pra estrada.



O resto da viagem ate Úrros foi feita em silêncio, intercortada apenas por momentos da Fernanda cantando alguma das músicas. Não foi muito longo o trajeto nao, em menos de 40 minutos já estamos no centro de Úrros. Eu quero ver esse sob a luz do dia, na escuridão das 5:00 da manha chega a ser quase assustador.

      - Onde estão minhas coisas, minha mala?

      - Já estao la em casa princesa.

      - Na sua casa? Eu vou ficar com você?

      - Quer ficar comigo? Nossa… eu quero.

      - Fer, para. Não posso falar nada.

      - Já deixei claro pra você.. Tenho um mes pra fazer você ficar em Úrros e um mes pra ter você. Essas são minhas cartas. Vem, vamos entrar, deixa eu te mostrar a casa princesa.

      - Para de me chamar de princesa. Que saco.

      - Não gineco. Ta frio demais pra ficar ai fora, vem. Antes que a princesa congele.

      Mostrar a lingua pra Fernanda anda sendo um péssimo hábito que eu ando tendo. Me irrita ela me chamando de princesa todo o  tempo, mas no fundo acho até bonitinho.

      Como estava escuro, eu não consegui ver direito a casa dela. Quando entramos, ela acendeu um lampião ou algo do tipo, iluminando fracamente a casa. Tambem quero ver esse espaço com a luz do dia.

      - Não tem energia aqui?

      - As vezes tem e as vezes não tem, você deu azar de chegar na semana que não tem luz. Vem, eu deixei um quarto ajeitado pra você. É simples, mas você pode se sentir a vontade.

     - Pensei que eu iria ficar em um alojamento, ou lugar assim.

     - Em geral é isso mesmo, mas quando os profissionais vem por curto período, tentamos alocar nas casa de quem já está aqui. Usamos o alojamento como estoque tambem. Aí só ficam la se não tiver espaço na casa de ninguem.

     - E só tinha espaço na sua casa? De verdade, eu achei que você fosse ser a última pessoa a me hospedar.

     - Não força muito não gineco. Se quiser te descolo uma rede ao lado das caixas.

    - To de boa, pode ser aqui no seu cafofo mesmo.

    - Cafofo é a sua casa, a minha é super ajeitadinha.

    - Que horas é seu primeiro paciente?

    - Ai, acho que nem vou atender amanhã, ops, hoje. Nem dormi nada. Amanha cedo eu acordo e peço pra avisar que não vou atender.

     - Mas não vai atender por que? Porque não dormiu? Me poupe. O paciente perdeu o dia pra vir passar em consulta com  você e você desmarca porque não dormiu. Ele não tem nada a ver com sua vida fora do consultório. Você vai ir atender sim. E eu vou junto.

    - Que nada. Vou atender com cara de sono?

    - Toma café Fernanda, para de corpo mole.

    - Eu não tomo café. É nojento.

    - Já vi que além de sala de parto, tenho que te ajudar em um montão de coisas. Você tem duas opções ficar de pé direto reclamando comigo, ou ir dormir 2 ou 3 horinhas e depois ir atender o paciente.

    - Vem princesa, vou mostrar seus aposentos. Só vem. Nem falo mais nada.


    A casa não era muito grande, pelo que percebi tinha 2 quartos e a sala com a cozinha junto. Com o lampião, ela me levou até um dos quartos, onde no cantinho tinha uma cama de solteiro e na outra ponta um guarda-roupa pequeno, parecia bem com o quarto da base.

    - Gineco, amanha te mostro a casa, quando tiver luz do sol. Sinta-se a vontade. Amanha te mostro a vila, o hospital e tudo mais ok?! Meu quarto é aqui na frente, se precisar de alguma coisa se vira ok?!

    - Obrigada Fernanda. Por tudo hoje, ok?! Se você não tivesse me ajudado com a Lorena, teriamos perdido os 2.

   - Gineco, não tem que me agradecer em nada. Você assumiu a responsabilidade toda.  - Puxou de leve a minha mão e segurou, continuou falando comigo, olhando nos meus olhos. Não deu pra ver muita coisa, só o lampião iluminava o quarto. - Poucos momentos na minha vida me senti tão bem e emocionada como foi hoje. Se alguém tem que agradecer sou eu. Hoje você me mostrou que nunca devemos desistir de um paciente e que devemos dar tudo que temos para que tentar salva-los. A maneira como você não hesitou em nada eu vou guardar comigo, tenho muito o que aprender de medicina com você.  -  Não aguentei, puxei ela e abracei. Fui retribuida ao mesmo tempo. Coloquei minha cabeça no ombro da Fernanda, senti o cheiro adocicado dela, respirei fundo e não mais fui capaz de segurar. Depois que a primeira lagrima caiu, todas as outras vieram em seguida. Quando percebi já estava soluçando, colada na Fernanda.

   - Vem, senta aqui comigo. - Ela delicadamente me puxou. Sentou na “minha cama”, a cama é dela na verdade, estou na casa dela. - Encosta aqui em mim - E com as costas apoiadas na cama, permitiu que eu encostasse em seu peito. Me abraçou de novo e com um afeto que nunca imaginei que a Fer tivesse, ficou fazendo carinho no meu cabelo - Fica calma Carol, já passou tudo. Eles estão bem. Tudo vai ficar bem - Acho que foi nesse momento o primeiro lugar que consegui exteriorizar tudo que eu estava sentindo. Sim, ali no colo de uma estranha, que duas horas atrás tentou me beijar, eu fui capaz de chorar e desabafar tudo que estava preso no meu peito. Toda a dor das últimas semanas, o medo de acabar meu casamento, o estranho de uma cidade nova, a raiva pela falta de recursos em um parto arriscado, a ambiguidade por ela ter me beijado, a frustação por eu não ter continuado, o medo por querer mais, uma bomba de sentimentos que estavam crescendo em mim sem conseguir controlar mais.


      Senti o sol batendo forte no meu rosto. Não era exatamente sol, calor, e sim a luz do sol. Acordei sem saber muito bem onde estava. Me lembro que dormi no colo da Fernanda, mas cade a Fernanada? A cama está vazia. Que horas são? Percebi que dormi  com a roupa que voltei do hospital, nem me troquei.

     Olhei rápido meu relógio de pulso, já se passava das 11h da manha. A Fernanda tinha paciente agora cedo, se bem que ela falou que iria desmarcar. Ai caraca, a última pessoa que dormi junto, abraçada, sem ser a Christiane tem mais de 12 anos eu acho. Devo me sentir mal? Estou odiando essa balança na minha consciência. A Fer foi tão fofa ontem me abraçando e dando carinho enquanto eu me matava de chorar.

      Levantei da cama, pude observar com mais detalhe o quarto que eu estava. Ele era feito de pedra por dentro, era bem simples, mas com pequenos detalhes que percebi serem da Fernanda. Dois quadrinhos de paisagem na parede, colados nas pedras. Segui para o resto da casa procurando a pediatra. O resto da casa também era bem simples, mas muito organizado, absolutamente nada fora do lugar. Na sala havia um sofá simples, de frente para uma lareira, também de pedra. Acredito que pelo frio que faz nesse lugar, todas as casa devem ter esse espaço, eu acho. Na cozinha havia uma mesa, com 4 cadeiras, em cima dela um papel branco. Peguei ele, um recado da Fernanda:

      

Bom dia Carol,

      Espero que tenha conseguido dormir. Apesar de eu querer do fundo da minha alma cancelar minhas consultas de hoje e ficar aqui com você, uma gineco muito boa me mostrou ontem que nenhum paciente pode perder consulta pois o médico está cansado.

     Sinta-se a vontade na minha casa, é simples, mas é aconchegante.

    Tem alguma coisa pra comer no armário. Hoje a noite vou providenciar comida.

     Por volta de umas 14h eu passo aqui para te buscar e te mostrar as instalações.


     Tenha um bom dia,

       Beijos,

        Pediatra mala


PS: Dormir com você no meu colo foi perfeito, pode repetir isso sempre que precisar.


Não pude deixar de dar risada do recado bonitinho dela, acho que ela tem bem mais sentimentos do que eu pensava, mais no sentido de não ser tão grossa e mala como eu pensei.

         


Depois de me arrumar, resolvi sair da casa da Fer e conhecer um pouco do vilarejo. Quando coloquei meu pé pra fora, voltei na mesma hora, um frio absurdo esse lugar. Acho que tenho o sangue carioca da minha mãe, porque não nasci pra esse frio todo não. Voltei pra casa e fiquei no sofá mesmo, depois eu conheço o vilarejo, aqui dentro está mais quentinho e confortável.

         Tentei ligar a luz da sala e tive sorte, ela ligou, ou seja, como tem energia vou aproveitar para carregar meu computador, dúvido que esse lugar tenha internet ou algo assim, mas melhor deixar ele carregado. Enquanto ele carregava aproveitei para ler mais algumas páginas de um livro que eu levei


         - Pingo, volta aqui, vem.  - Escutei a voz da Fernanda falando enquanto um cachorro pulava em cima de mim. - Vem aqui cachorro endiabrado. Acho que ele também gostou de você.

         Essa era a Fer chegando em casa, com um cachorro marrom, meio manchado. Médio porte. Eu adoro cachorro. Não perdi a chance, larguei o livro e enchi o mocinho de carinho. Era um cachorro bem carinhoso, logo se jogou no chão e abriu as patas para ganhar cafuné na barriga.

        - Mas esse cachorro não vale nada. Nem te conhece e já está todo dado. Sai dai Pingo.  - Falou a Fernanda, sentando no sofá também, ao meu lado, tentando chamar a atenção do dog.

       - Pode deixar Fer, ele é lindo. Adoro cachorro.

       - Você tem cachorro em casa, no Brasil?

      - Não tenho não, passo o dia todo na rua. Pra ter e não cuidar nem adianta. Onde ele estava? Não estava aqui ontem né?!

      - Ele estava na casa de um psicologa do projeto. Sempre que saímos de férias, deixamos nossos bichinhos com alguém que não saiu. Criamos bem essa rede. E esse moço adora ficar lá na casa dela, ela tem mais 2 cachorros. Na sua casa não fica ninguém? Não dá pra ter nem um pequenininho?

      - Ah, até dá mas a Chris não gosta muito de cachorro. Ai eu não forço a barra.

      - Então esse é o nome dela? Chris?

      - Oi?! - fiquei perdida. Eu falei super de boa do cachorro e tals, e claro saiu sobre a Chris.

      - Sua esposa chama Chris? Chris de Cristina? - Deu pra ver uma expressão diferente na Fer, ela que estava toda fofa brincando com o Pingo, fechou o rosto, ficou séria.

      - Christiane.

      - Vamos gineco, se arruma ai e vamos almoçar. Preciso te mostrar as coisas de Urrós. Não que seja necessário, em um mês você vai embora. Acho que vou até colocar um calendário ali na parede marcando a data que você vai ir.

     - O que foi Fernanda? Fechou a cara de uma hora pra outra.

     - Não fechei não, continuo igual. Vamos logo. Suas consultas começam amanhã cedo, como havíamos programado, as gestantes do vilarejo.

     - Procura um psiquiatra, pode ser que te ajude. Não entendo como você está super de boa, brincando com o cachorro, dando risada, daqui a pouco fecha a cara e começa a ser grossa.

     - Só não me enche o saco ok?! Se arruma ai que vou só colocar o Pingo no quintal e vamos sair. E eu não vou ficar esperando você Princesa.

      Isso é uma das coisas que não gosto da Fernanda, nesses poucos dias que conheço ela, ela consegue ser amável, doce e segundos depois uma bruxa. Não entendo ela.

      

     Voltei no meu quarto e peguei mais uma blusa de frio. Eu imaginava Portugal frio, mas não tanto, vou passar frio nesse mes aqui. Aqui é mais gelado que Trás-dos-Montes.

      - Você só vai colocar isso de roupa dondoca?

      - Só tenho isso de roupa. - respondi bem seca.

      - Vai congelar lá fora.

      - E você quer que eu faça o que bipolar? Não tenho mais roupa de frio. É só essa que tenho.

      - Se você não fosse tão insuportável eu até te esquentaria, mas não dá. Espera ai, vou pegar um casaco pra você. - E entrou pro quarto dela, voltando minutos depois, ainda com a cara bem fechada, com um casacão pendurado no braço.- Isso deve te aquecer. Não quero ninguém doente aqui em casa.

     - Você sabe que não precisa me hospedar na sua casa, posso ficar no alojamento se for incomodo pra você.

    - Faz o que você quiser. - E saiu andando, me esperou na porta da casa.

    - Seu desejo é uma ordem, já me mostra onde é o alojamento. Na volta pego minhas coisas, ai não te incomodo. Em um mês você não vai mesmo me ver mais. - E sai batendo o pé, andando em qualquer direção enquanto ela fechava a porta da casa.

    - Princesa, fica pra esse lado, vem. - Eu fui andando ao lado dela, todo o tempo em silêncio. A Fernanda consegue me tirar do sério. Ela tem esse poder.

   Conforme fomos andando, fui observando a beleza ímpar daquele lugar. Todas as casas eram de pedras, umas mais bem cuidadas, outras menos. Em geral eram casas dos dois lados da rua, formando pequenos trajetos, que garantiam a passagem de apenas um carro por vez, desde que carros pequenos. As casas eram térreas em sua maioria, uma ou outra tinha a parte de cima, essas tinham pequenas sacadinhas, com vasinhos e flores. A rua era feita de pedra também, e as partes que não tinham, era de terra. O vento batia forte, aumentando a sensação de frio, mas o sol ao fundo mostrava descampados verdes, amarelados, lindos. Aquele espaço tinha um ar de medieval, realmente de vila. Se alguém me falasse que tinha um castelo ali perto, não duvidaria. Estou me sentindo num feudo.

    Andamos cerca de uns 3 quarteirões, em um silêncio sepulcral, mas eu não estava mais nem lembrando da Fernanda, por mais que ela estivesse exatamente do meu lado. Aquele vilarejo, com pessoas simples, sorridentes passando de um lado pro outro, estava me encantando. Quero no meu período livre poder visitar essas montanhas que tem ao fundo, pode ser apenas um descampado, mas achei elas lindas.

   - Por aqui Dra. O hospital fica no final dessa rua. Vamos entrar por essa parte, por aqui fica mais perto do refeitório. - Apenas concordei com a cabeça, e segui a Fernanda. No final final da rua puder ver o que era o hospital, aquela estrutura estava mais para uma casa de saúde ou uma retaguarda. Para quem sempre trabalhou em grandes hospitais em São Paulo, aquela “casa” aparentava ser um pouco estranha.

   - Ganate, voltastes de férias? Aproveitou a viagem para Londres? - Ouvi essa frase e virei, era um moço chamando a Fernanda.

   - Ola Dr. Quanto tempo não o vejo. Esta é a Caroline, ginecologista que a Dra. Marcela havia prometido para nós.

   - Sejas bem vinda dra. Sinta-se a vontade em nosso pequeno hospital. -  eu agradeci com a cabeça.

   - Vou lhe apresentar o refeitório Caroline. Já voltamos aqui dr.

   - Este era o dr. Antonio, clínico aqui do projeto. Vem, ali na frente fica o balcão, você pode se servir. Depois só sentar em uma das mesas. Aqui nesses refeitório alimentam-se todas as pessoas que trabalham no projeto e os pacientes de passaram por algum tipo de atendimento hoje. Muitos vêm de cidades vizinhas, passam o dia aqui, conforme temos condições disponibilizamos alimentação para eles.

    - Tudo bem Fernanda. Obrigada. Não precisa se forçar a falar comigo. Pode ficar tranquila que daqui eu me viro.

    - Gineco, eu sou responsável por receber você aqui no projeto e te acomodar.

    - Vamos fazer assim, você finge que me recebeu bem e eu finjo que gostei de tudo. Como você tanto joga na minha cara, em um mês vou embora e nenhuma de nós teremos que nos ver de novo ok?! Dá licença.  -  E sai a frente, não olhei mais para trás. Senti os olhos da Fernanda me seguindo, mas não baixei a guarda. Ela deve ter os problemas dela, mas eu também tenho os meus, e não estou procurando mais nenhum.  

     Passei no balcão e peguei minha alimentação. Com o prato na mão, procurei uma mesa para me sentar, vi a Fernanda ao fundo com outra pessoas, ola me olhava. Olhei para a outra ponta do refeitório e achei uma mesa vazia. Sentei lá mesmo, não tive nenhum pouco de fome, revirei meu prato. Fui acompanhando o refeitório se esvaziando, quando a Fernanda parou na minha mesa e falou

   - Ok garota. Você está sozinha aqui, se é assim que você quer. Mas a dra Marcela me deu uma função e eu não posso deixá-la descontente. Você me segue, conhece o hospital. Te deixo a par de tudo como funciona aqui, te mostro o alojamento. Você vai pra casa, pega as suas coisas e feito. Estará recepcionada e livre.

   - Ok.

   - Só vai falar isso Caroline?

   - Ok é o suficiente pra você e sua grosseria.

   Sai do refeitório seguindo a Fernanda, não trocamos nenhuma palavra. Ela me apresentou cada pedacinho do hospital, dava pra ver na expressão dela o orgulho que ela tem desse lugar. É realmente mais uma casa de saúde que um hospital. Não tem  uma sala cirúrgica, tem apenas um espaço para pequenos procedimentos. Tem vários consultórios, uma sala de medicação, algumas tendas para emergências. Enfim, uma casa de saúde mais para acompanhamento que para atendimento. Só o que passa na minha cabeça é, para que precisam de uma ginecologista se nem tem sala de parto? Não vou ficar fazendo parto como ontem, correndo em van para ninguém morrer.

   Depois que conheci o hospital, seguimos de volta para a casa da Fernanda, ela não teria nenhum atendimento de tarde. No caminho mantivemos o silêncio, ela tentou puxar  assunto comigo algumas vezes, mas eu fui o mais seca que eu consegui. Estou me sentindo mal com essa situação, eu não sou assim. Em geral trato as pessoas bem. Acho que na vida esse é o meu erro. Sou fiel, e caso com alguém que me trai, sou educada e esbarro com gente grossa na vida, tento salvar uma mãe e um bebê com tudo que sei e esbarro em um hospital sem infraestrutura alguma. Estou tão decepcionada com tudo. Achei que Portugal fosse me abrir janelas, para ver a vida de outro jeito, fosse ao menos me dar esperança quanto ao meu casamento, mas não. Tenho vontade de sair correndo e não aparecer mais. Conversar com a Clara me acalmaria agora, mas nem sinal de celular tem nesse lugar.

    Continuei seguindo a Fernanda, mantendo minha cabeça baixa, pensando em onde me meti.  O vento frio de Urros batia no meu rosto, mas dessa vez não alegrava, me incomodava. Eu podia reparar na Fernanda me olhando de canto de olho, mas não quero conversar, estou tentando aceitar o fim do meu casamento, onde amei e amo minha esposa há 10 anos e sou maltratada sempre, não posso trocar 6 por meia dúzia.

    - Carol, vou passar aqui rapidinho, me espera? - paramos na frente de um mercadinho, venda, algo do tipo.

    - Ok - Essa foi a única sílaba que consegui soltar. O choro já estava batendo na minha garganta  e pela segunda vez em menos de 24 horas eu não estava mais tendo forças para segurar. Enquanto a Fer, entrou no mercadinho, eu sentei em um degrau que tinha na porta. Não fui mais capaz de segurar, uma gota me caiu dos olhos, logo em seguida outra. Tentei secar e segurar, mas não estava dando, novamente minhas emoções estavam falando mais que minha força de vontade em segurá-las. Mil perguntas voltam a minha mente: Porque a Fernanda me trata tão mal? Porque a Chris está com aquela garota? Porque larguei tudo pra vir pra Portugal? O que fiz na vida para merecer esse sofrimento? Queria minha mãe aqui perto, me abraçando. Queria o Lucas, meu irmão aqui me protegendo, queria mesmo era uma garrafa de um bom vinho para eu beber até cair. As lágrimas que eu tentava segurar caiam com mais velocidade, com mais firmeza. Abaixei minha cabeça na frente do mercado e chorei, qualquer um daquele vilarejo deve ter pensado, quem é aquela estranha chorando no mercado?

    - Vamos Gineco? Me ajuda com uma sacola!

    Não fui capaz de segurar a sacola, acho que dali pra frente eu sabia o caminho até a casa da Fernanda. Abaixei a cabeça e segui andando em frente, sem olhar para trás, acelerei o passo, percebi que de certo modo ela acelerou também lá atrás. A única coisa que eu queria era me esconder e chorar até meu mundo acabar, sair correndo naquelas montanhas amareladas sem limite, sem objetivo algum.  

Cheguei na casa da Fernanda, ela estava logo atrás, esbaforida, respirando com dificuldade até. Quando ela abriu a porta, entrei rápido, corri no meu quarto, as poucas coisas que eu havia tirado da minha mala, eu embolei tudo e joguei nela novamente. Não quero mais saber de projeto, não quero saber de casamento, não quero saber de mais nada, quero sair sem rumo, andando até os meus pés cansarem. Fechei a mala, peguei uma delas no colo e a outra puxei rapidamente, rumo a porta.

- Carol, espera. Não vai.

- Sai Fernanda.

- Não vai, por favor.

- Abre a porr* da porta Fernanda, caralh*.

- Fica Carol.

- Não quero, cansei. Tudo aqui é diferente de quem eu sou, você me trata mal, o hospital não tem recursos, não quero ficar aqui, não quero voltar pro Brasil, não quero nada. Só sai da frente da merd* dessa porta.

- Por favor, fica, por mim.

- Seu medo é o que? A Marcela ficar brava com você? Me poupe. O mundo não é seu umbigo garota. Sai da frente.

A Fernanda me segurou pelos braços e me fez virar de frente pra ela, me segurou com força, olhou nos meus olhos.

-Meu medo é eu nunca mais te ver Carol, meu medo é não saber lidar com o que eu sinto por você, meu dedo é não conseguir te esquecer. Apenas não vai. Fica meu amor, fica aqui comigo. - E enquanto eu processava cada palavra daquele momento ela escorregou por mim, caindo no chão chorando, assim como eu chorava caindo no chão também.

 

Fim do capítulo


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Comentários para 16 - Capítulo 16:
rhina
rhina

Em: 17/02/2020

 

Uau

God!!!!!

Que amor intenso e e tals

Sentimento puro este da Fernanda pela carol.

Tomara que elas fiquem juntas

Rhina

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preguicella
preguicella

Em: 04/03/2018

Mas gente, que loucura é essa?! Tadinha de Carol, tão boazinha, certinha e só pega doidas pela frente! 

Confesso que não sei se torço pra Chris melhorar, na verdade acho que não, acho que a coisa já acabou e ela não tem coragem de terminar, jogando a culpa de tudo na Carol. 

Nao sei o que dizer de Fernanda, ela parece bipolar, mas já deu pra perceber que a grosseria é uma tentativa de se proteger do que sente pela Carol. Enfim, vamos esperar pra ver!

Bjãooo e até o próximo!

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