Desculap o atraso leitoras, estou em semana de prova da faculdade, uma corre corre só.
Boa leitura para voces, espero que gostem.
Beijos
Capítulo 17
Capitulo 17 - Caroline
- Só estou cansada de ser maltratada Fernanda. Olha como você me tratou hoje! Não quero mais isso pra minha vida. Você chorar não tira a grosseria de hoje e de todos esses dias.
- Eu não sei lidar com você. Não sei fazer você olhar pra mim. E quando você falou da sua mulher eu perdi a cabeça.
- Você quer que eu esqueça quem eu sou? Não posso. Eu não sou essa máquina que você pensa. Eu estou destruida por dentro, quebrada em mil pedaços e você sendo grossa não ajuda. - Cada frase que eu soltava vinha carregada de mais lagrimas e mais voracidade.
- Só não vai embora, não hoje, não agora.
- Esse lugar não tem nada a ver comigo. É frio, não tem recursos, não tem ninguem que eu conheço, não tem nem um bar pra sair agora e tomar um belo porre e não lembrar de nada amanha.
- Esse lugar tem tudo o que eu sempre desejei, paz, calma, frio. Até você chegar. Não você fisicamente. Seu espirito, sua esperança.
- Do que você está falando garota?
- Sempre que a Dra MArcela falava de você, eu desdenhava, mas ficava mais curiosa. “Ah, queria tanto que a Carol viesse trabalhar aqui, Queria que a Caroline conhecesse a necessidade desse lugar”, ela sempre me falava isso. Eu nunca entendi o porque. Você não estava aqui na linha de frente, você conseguia verba lá de longe.
- E o que isso tem a ver?
- Quando eu te vi lá na base, mesmo sem te conhecer eu sabia que era você. Você estava tomando café num sofazinho, esperando alguem chegar para conversar com você. Foi ali que eu sabia que não poderia abrir espaço pra você. Me encantei com seu jeito timido, mas ao mesmo tempo poderoso, firme. Seu olhar triste me chamou atenção, eu queria colocar você no meu colo. Não posso me encantar por você, não poderia. Você vai embora em um mes e eu vou continuar aqui, na vila, no frio. E mesmo nesse um mes, você é casada, eu não posso me envolver com você. Mas aí ontem você salvou aquela criança e a mae dela, de um jeito tão profissional, tão decidido. E quando você entrou na emergencia com ela, ali, exatamente nesse momento, eu percebi e entendi por que tem que ser você aqui na Vila, que tem que ser você com essa população e porque tem que ser você comigo. Eu perdi a linha tentando te beijar ontem, mais ainda dormindo com você para te acalmar.
- E tudo isso justifica como você me tratou todos esses dias? Justifica você ser bipolar?
- Claro que não Carol, nada justifica o jeito escroto que te tratei esses dias. – Ela finalmente levantou a cabeça para falar comigo, pude ver o quanto ela estava chorando, não só pela voz, mas agora pelo rosto molhado – Te tratei mal na esperança de eu me afastar de você, conseguir lidar com o que eu estou sentindo. E acho que de certo jeito para te afastar de mim. Mas não deu certo, apenas te machuquei, me machuquei.
- Vem cá Fernanda – me arrastei até mais perto dela, no chão ainda – Fer, nunca deixe nada, nem ninguém mudar quem você é. Nunca deixe nenhum sentimento te machucar. Chega, para de chorar. Vem aqui - Abracei ela e coloquei seu rosto no meu ombro. Eu estou quebrada, mas não posso deixar ninguém se quebrar por minha causa.
- Desculpa o jeito que te tratei. Eu não sou assim. Só não quero me machucar de novo.
- Chega de choro. Vamos, levanta. Vamos lavar o rosto. Seguir em frente, só por favor, mais conversa e menos grosseria. Isso é um tipo de coisa que não vou tolerar.
- Voce vai mesmo embora?
- Fer, eu tenho uma vida no Brasil. Se não for pelo meu casamento, será pela minha carreira. Não posso largar tudo.
- Já começou a falar do casamento de novo. Ah la.
- Chega Fernanda, levanta daí. Para de chorar. – Me levantei e dei a mão para ela puxar - Já sei o que vamos fazer pra tirar esse clima de bode. Vamos correr. Vai lá coloca uma roupa de esporte. Ai você para de chorar e eu me distraio.
- Já parei de chorar. Para de ser louca. Eu que não vou correr, tá um puta frio lá fora.
- E quando está frio você não corre?
- Eu não corro nem no frio, nem no calor. Para com essa idéia. Vem vou fazer a janta pra gente.
- Você sabe cozinhar?
- Claro que sei, eu moro sozinha. Tenho que saber. Solta lá o Pingo, pra ele se divertir um pouco. Raramente temos visitantes em casa.
- Mas os visitantes do projeto não ficam na casa de quem já está aqui?
- Pra isso serve o alojamento e a casa das outras pessoas Carol. Raramente hospedo alguem na minha casa. - Falou isso finalmente levantando do chão, mais calma, dando um sorrisinho de culpada. Ela planejou tudo para eu ficar na casa dela.
- Aqui não tem sinal de celular?
- Linda, as vezes nem luz tem. Ontem mesmo, quando você chegou não tinha luz, quem dirá sinal de celular. Se precisar ligar pra alguem, tem que ir no telefono que tem lá naquela venda que fomos hoje. Ou esperar o final de semana.
Fui andando no sentindo da parte de tras da casa para soltar o Pingo, o cachorro estava pulando mais que uma pulga de circo. - De final de semana tem sinal?
- Claro que não moça da cidade, mas posso te levar em um lugar que tem sinal. Você está mais calma?
- Acho que estou, mas tudo que eu falei é verdade. Não vou aceitar suas grosserias e esse lugar não tem recurso nenhum.
- E se eu te falar que temos a verba para construir uma sala de parto?
- Eu digo que vocês estão a um passo do nada. Não falta só a sala de parto, falta a sala de parto, um berçário, um leito para as gestantes e um montão de outras coisas. Já havia falado isso para a Marcela. - falei isso brincando com o Pingo
- Acho que a Marcela está esperando você aceitar ficar aqui.
- Mesmo que eu fique, e não estou dizendo que vou ficar, preciso de pelo menos mais um ginecologista. Não posso assumir partos graves como o de ontem, assim, sozinha.
- Você mandou muito bem ontem.
- Eu dei sorte, isso sim. Eles poderiam ter morrido na minha mão. Os dois.
- Faz um favor pra mim?
-Claro
- Lá atrás, tem uma geladeira. Eu deixei um vinho lá, ve se ele está bom. Se estiver trás.
- Neste lugar precisa de geladeira? É só sair de casa que já está gelado.
Passei a porta da cozinha, sendo seguida de perto pelo Pingo. Na parte de fora da casa, um pedaço da casa que eu ainda não havia visto, tinha um pequeno quintal, coberto por telha, uma geladeira no fundo, uma pia ao lado. Abri a geladeira, que estava praticamente vazia, ela acabou de chegar de viagem tambem. Havia só um vinho deitadinho no fundo. Quando peguei na mão estava gelado, no ponto. Eu adoro vinho.
Voltei para a cozinha, a Fer estava na beirada da pia, cortando varias coisas, distraidas. Meu coração apertou. Achei linda a cena dela de costas, cortando, calma, eu segurando um vinho, o cachorro pulando nas minhas pernas. Na minha visão de vida perfeita só estava faltando uma criança ali entre nós, brincando. Sei que sou casada, sei que não posso, mas a essa altura do campeonato, o que eu mais quero é viver, me permitir ser feliz.
Entrei em silencio na casa, a passos leves. Deixei o vinho na mesa, o mais delicado que pude. Com meus braços me aproximei da Fernanda e abracei ela por tras. Que sensação maravilhosa. Senti o susto momentaneo dela e o corpo relaxando depois. Encostei meus labios em seu pescoço e junto respirei fundo. A qualquer hora do dia o aroma adocicado está na pele dessa mulher.
- Me assustei, mas que susto gostoso. Vou hospedar estranhas mais vezes na minha casa.
- Ha ha ha, acho melhor não. Adoro o seu perfume Fer.
- E eu acho super fofo você me chamar de Fer, é diferente.
- Não te chamam de Fer? Como te chamam?
- Os mais proximos de Fernanda mesmo. Mas a maior parte me chama de Ganate, que é o meu sobrenome.
- Eu vi um medico te chamando assim lá no hospital. Verdade. Mesmo assim vou continuar te chamando de Fer.
- E eu adoro ser sua Fer.
- Vou abrir o vinho pra gente tomar. Está no ponto de gelado. - Falei isso soltando ela e tentando saindo do clima estranho que havia se instalado. Estranho não, sem graça talvez.
- Onde encontro o saca rolhas? E as taças?
- Saca rolha tem na segunda gaveta. Já taça não vai estar tendo, tem copo só.
- Tudo bem Ganate, posso tomar um vinho no copo normal. - ela me retornou mostrando a lingua. Dei um copo de vinho pra ela e me servi de um tambem. Sentei na mesa, fiquei bebendo o meu aos pouquinhos e fazendo carinho no Pingo. Que momento delicioso, há muitos anos eu não me sentia assim. Se a a Fernanda ficar calma e educada mais vezes, eu não me sentiria mal por trocar o Brasil por Portugal. Não posso e não quero me sentir culpada por aproveitar esse mes longe de casa, só preciso finalmente entender que meu casamento acabou e não é um tempo. Preciso seguir em frente, entender que Christiane não faz mais parte de mim.
- Estas pensando em que gineco?
- Em como é gostoso esse vinho, ver você cozinhando, brincar com o Pingo.
- Pode me ajudar a cozinhar se quiser viu? Não vou reclamar não
- Quer que eu bote fogo na sua casa? Eu não sei nem ligar um fogão.
- Dúvido. Alguma coisa você deve saber fazer.
- Sei colocar a comida no microondas. Ah, tambem sei ligar pro delivery e passar o cartão. Sei disso tudo. Sou talentosa.
- Seus pais não te ensinaram a cozinhar, nem nada disso?
- Fer, eu sou filha de médicos. Eu ficava feliz em ver meus pais uma vez por semana. Os dois moravam no hospital praticamente. Desde sempre eu me arrumava, esquentava a comida que deixavam, dava um jeito. Cresci assim.
- Madura desde sempre?
- Claro que não, maturidade foi vindo com os anos.
- E você? Eles que te ensinaram a cozinhar?
- Apenas não falo sobre os meus pais ok?! O vinho está gostoso?
- Ok Dra. Entendi. Está uma delicia, não é bem do tipo que eu gosto, mas está divino.
- Ficamos feliz em receber bem nossos hospedes. - Falou isso e largou o fogão, veio até a cadeira onde eu estava sentada, me abraçou no pescoço, por tras, como eu havia feito agora a pouco. - Tudo para que nossos hóspedes sintam-se a vontade e gostem da estadia - completou dando um beijinho na minha orelha. Meu corpo arrepiou. Que coisa boba, um beijinho na orelha. Em um mes eu vou embora, mas estou deixando a vida me mostrar o que posso ganhar, vou deixar rolar com a Fernanda, deixar meu coração assumir as rédeas desse momento.
- Fica me dando esses beijinhos na orelha que eu perco a linha. Melhor não arriscar.
- O que eu quero mesmo é arriscar.
Logo ela voltou para o fogão onde terminou um macarrão ao molho branco e um frango grelhado para jantarmos. Era simples, mas estava maravilhoso. Ainda mais porque eu praticamente não comi nada durante o dia. Sentamos no sofa, nos duas, uma em cada ponta, com o Pingo no chão dormindo.
Nossa refeição foi realizada com golinhos de vinho e uma conversa leve. Fernanda me contou um pouco como seria meus pacientes amanha e qual a ideia de ter uma ginecologista no meio do mato, no interior de Portugal.
- Tem que ser você a ficar aqui com a gente, você sabe bem puxar um serviço, pude ver isso ontem.
- Mas Fernanda, qualquer bom médico sabe fazer isso. E outra, eu vou precisar de mais um ginecologista aqui comigo, não posso ficar sozinha.
- Não pode ser qualquer um não, você tem uma paixão linda pelo que faz, pelo seu trabalho. Seus olhos brilham quando você fala de parto e de gestante.
- Essa nem é a minha área, minha área mesmo é oncologia. Eu faço parto uma vez ou outra. E come direito mocinha, você ta toda suja de molho branco.
- É o vinho, já está subindo.
- Mas que pediatra fraca, nem bebeu nada e já está rodando.
- É que com você aqui bebi mais. Olha, tomamos quase uma garrafa toda. Nunca passo nem de um copo.
- Gostei muito desse vinho, tenha sempre dele em casa que eu até penso em não voltar pro Brasil.
- Tem essa opção, de você não voltar?
- Não Fer, eu preciso voltar, foi só um jeito de falar mesmo. Tenho uma vida lá, minha carreira, meu irmão, meu sobrinho. Tudo que eu tenho está lá.
- Você não falou da sua mulher. Ela não é importante pra você voltar pro Brasil?
- Pra que falar dela Fer? Não quero que você mude de novo e comece a ficar grossa. Deixa Christiane longe da nossa conversa. Estamos em um momento tão gostoso. Me dá aqui seu prato. Vou fazer uma sobremesa pra gente.
- Hahahaha, você vai fazer sobremesa, mas sabe cozinhar alguma coisa?
- Claro que eu sei. Vou fazer um brigadeiro pra gente. Essa é a minha especialidade.
- Caraca, quantos anos sem comer brigadeiro, é uma coisa tão brasileira. Nem sei se tem ingrediente ai.
- Sei fazer só com leite. Já dei uma olhada, tem o que eu preciso.
- Por favor, não explode minha casa.
- Vou deixar arrumadinho. Você pode me ajudar se quiser.
- A janta foi minha, a sobremesa é sua gineco. - A Fer falou isso deitando no sofá e esticando o braço para brincar com o Pingo. Uma coisa tão simples como jantar e ficar ali conversando com ela está me fazendo tão bem.
Não perdi tempo, peguei os ingredientes e comecei a preparar o brigadeiro. Não seria um brigadeiro clássico como gosto de fazer, mas seria um doce para distrair. Na minha cabeça, o pensamento de culpa não está existindo nessa noite, estou me sentindo no direito de aproveitar. Apenas não quero machucar ou magoar a Fernanda, que é uma menina aparentemente frágil, dá pra perceber isso pelo modo como ela tenta se proteger e se trancar em um mundo só dela.
- Hummm, o cheiro está bom Carol.
- Espero que o gosto também esteja. Não fica a mesma coisa que com leite condensado, mas vale a tentativa. Vou te mandar uma encomenda de leite moça do Brasil só pra você poder fazer brigadeiro de gente.
- Fica comigo aqui em Portugal que nem vou precisar - ela falou baixinho, pra dentro, mas eu pude ouvir. Não posso machucar o coração dessa menina, não mesmo. Se acontecer de termos algo, isso se eu finalmente conseguir me permitir, ela tem que saber bem dos riscos e que vou embora em um mês. Fiquei pensando nisso enquanto colocava a sobremesa em um prato único, 2 colheres e levava pro sofá. O Pingo, que não é um pingo de gente não, queria provar também, ficou pulando tentando pegar o prato. Só parou quando levou uma bronca da Fernanda.
- Vem senta aqui Carol, vamos provar desse seu brigadeiro tabajara.
- Cuidado Fer, está quente ainda - ela já estava enfiando uma colherona na boca.
- Tá quente!!
- Claro que está quente Fer, deixa aí esfriando. Vem deita aqui no meu colo. - Falei encostando na cabeceira do sofá e chamando a pediatra com a mão. Ela fez uma carinha de espanto e de medo, tudo junto, minha vontade era de dar risada, mas não posso. A Fernanda, como toda mulher, merece muito respeito.
- Deitar aí no seu colo? Mas Carol…
- Vem, só deita aqui.
- E aquele lance do não posso, sou casada.
- Fer, não estou fazendo nada de mais, apenas pedindo pra você deitar aqui. Sim, eu ainda sou casada. Em um outro momento conto melhor pra você o que aconteceu no meu casamento, mas a moral da história é que tenho este mês para pensar em tudo na minha vida.
- Vai pensar melhor na sua mulher comigo no seu colo? Me poupe Caroline. - falou se levantando do sofá.
- Para de ser boba. - segurei a mão dela, na mesma velocidade em que ela havia levantado do sofá. - Eu quero só que você deite aqui, que eu possa te fazer carinho. Você também está cansada, estressada, ansiosa. Não vou pensar em nada mais além da mulher linda que está na minha frente. Ok?! Se você não quiser, eu não posso te forçar. Mas podemos tentar? - ela fez uma carinha que quem entendeu o que eu falei, mas que ao mesmo tempo não entendeu. Acho que nem eu acreditei mesmo no que eu falei, mas repeti - Podemos tentar?
- Tentar o que Caroline?
- Nesse momento apenas tentar fazer você deitar aqui no meu colo. Deixa as pedras e as facas ai no chão. - Ela mostrou a língua pra mim. Acho que esse é o nosso jeito de dizer que sim ou de chamar a outra de bobona.
Pude perceber no olhar dela a ansiedade, mas de certo modo o medo. Ela não quer se machucar e eu não tenho direito de fazer isso com ninguém, nem com uma menina que provavelmente eu não vá mais ver na vida. A meta de deixar a vida me mostrar o que posso ganhar não é tão fácil assim.
-
Vem, encosta aqui no meu peito.
A Fernanda voltou pro sofá, sentou e depois se inclinou para encaixar no meu colo/peito. Passei meu braço direito por ela e abracei, colocando ele à frente, enlaçando ela. Com a outra mão automaticamente eu soltei o coque que estava feito no cabelo castanho dela. Logo em seguida, cravei meus dedos em seu cabelo, começando a fazer carinho nela. A Fer que estava tensa e rígida, foi soltando o corpo aos poucos, ficando mais calma.
- Não estou te machucando Carol?
- Claro que não linda. Apenas relaxa o corpo. Tudo bem se eu ficar fazendo carinho em você?
- Huhum! - fiquei um tempão sentada lá, respirando o aroma doce daquela mulher, me perdendo nos cabelos dela que se enlaçavam em meus dedos. Em um dado momento, até o pingo ficou com vontade e subiu no sofá. Ficamos nós três ali, um tempão, sem calcular tempo, sem pensar no passado ou no futuro, apenas sentindo o presente.
Fim do capítulo
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preguicella
Em: 13/03/2018
Aí gzuiss, já quero a Carol com a Fer! hahaha
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