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EM BUSCA DO TAO por Solitudine

Ver comentários: 9

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Palavras: 18945
Acessos: 10402   |  Postado em: 23/01/2018

O ANO DA CRISE

 

CAPÍTULO 158 – Já Estava na Hora

 

 

 

 

 

Cátia e Jamila planejavam seu retorno a Terra de Santa Cruz. Outubro começava e a viagem estava marcada para o final do mês. Estavam nuas e abraçadas na cama, deitadas de lado, olhando uma para a outra.

 

 

 

--Menina, que loucura, né? -- achava curioso -- Um ano se passando e nós aqui nessa terra que antipatizamos, -- beijou-a -- trabalhando, -- beijou-a de novo -- estudando, -- mais um beijo -- conhecendo gente interessante... -- sorriu -- E eis que tá chegando a hora de voltar pra casa! -- beijou-a novamente -- Foi bom pra caramba, né? -- perguntou sorridente

 

 

 

--Gostei da experiência, apesar de minha birra com esse país. -- acariciava o rosto da loura -- Com o governo desse país, melhor dizendo. -- sorriu -- Mas o ponto alto da estadia foi a parte do conhecendo gente interessante... -- beijou-a -- Sem sombra dúvida, ya habibi! -- beijou-a repetidas vezes -- Jayed jedan! (Muito bom!)

 

 

 

--E o que a gente faz depois que voltar, hein? -- fez beicinho -- Você vai pra Cidade Restinga, eu pra São Sebastião... -- suspirou -- Ai, que tristeza da minha vida! -- falou um pouco mais alto

 

 

 

--Deixe de drama, viu, minha galeguinha? -- mudou as posições e sentou-se sobre ela -- A gente não tem que se separar por causa disso... -- entrelaçaram-se os dedos -- Só se você quiser...

 

 

 

--Deus me livre! -- respondeu imediatamente -- Agora que te encontrei, e já estava na hora disso acontecer, não te deixo escapar de jeito nenhum, minha borboletinha! -- brincou com ela

 

 

 

--Eu sou muhuaami (advogada), posso trabalhar em qualquer cidade. -- soltaram-se as mãos e deslizou os dedos suavemente pelos braços da geofísica -- Ainda mais que ganhei fama... -- acariciou levemente os seios da amante -- não me seria difícil mudar tudo pra São Sebastião... -- desceu as mãos para o abdômen da loura -- E eu gosto de lá...

 

 

 

--Você viria mesmo?? -- ficou feliz ao ouvir -- Jura? -- acariciava as coxas da mulher -- Minha casa tá de portas abertas pra você chegar quando quiser! -- falou empolgada

 

 

 

Achou engraçadinha a animação da outra. -- Me dê o tempo de arrumar minha vida e eu vou. -- acariciava a barriga dela -- Basta um mês, dois... no máximo três. -- sorriu para ela -- Tá bem?

 

 

 

--Claro! -- sorria abobalhada -- O tempo que quiser! -- pausou brevemente -- E aí, quando você vier... -- desviou o olhar -- será que a gente casa? -- perguntou receosa -- Aquela coisa toda formalizada, como tem que ser...?

 

 

 

Ficou uns segundos calada admirando o rosto da amante antes de responder. -- Tem uma música de Cedro, que eu acho massa, que é mais ou menos assim: -- preparou-se para cantarolar -- Am fettesha el Gharous... (Estou procurando por uma noiva...) -- estava feliz -- Kon hillowah mayaha flous... (Ela deve ser linda e rica...) -- sorria para a loura -- Wehkool andaha seeyara... (E ela deve ter um carro...) -- interrompeu o canto brevemente e perguntou: -- Você tem carro?

 

 

 

Não entendia nada mas respondeu achando graça. -- Tenho, por que? -- continuava acariciando-lhe as coxas

 

 

 

--Ótimo! -- respondeu bem humorada e voltou a cantar -- Weh ahlehl kil ma tot lobe, min muhuaamiik yehkoon hamfous... (Mas acima de tudo, ela não não deve fazer exigências a sua advogada...) -- modificou partes da letra da música -- Ou seja, eu! -- apontou para si mesma -- Am fettesha el Gharous... (Estou procurando por uma noiva...) -- cantarolou divertida

 

 

 

Sorria. -- Eu não tô entendendo nada, minha delícia! -- sentou-se e abraçou-a pela cintura -- Será que explicaria o que tá cantando pra mim?

 

 

 

Envolveu o pescoço de Cátia com os braços. -- Isso quer dizer que a resposta é sim, sim, sim!!!!!!! -- beijou-a repetidas vezes

 

 

 

--AHAHAH, não acredito! -- gritou de alegria olhando para cima -- Obrigado! Muito obrigado por isso, Deus! -- olhou novamente para a advogada -- Vou querer fazer festa, gata! E uma festa daquelas! -- beijou-a demoradamente -- Nem que as convidadas sejamos só você e eu... -- mordeu-lhe o lábio inferior

 

 

 

--Aliás, estas festas entre só você e eu são as melhores que eu já frequentei! -- deu um beijo estalado e se desvencilhou lentamente -- Sensuais, divertidas, interessantes... -- passou a mão nos cabelos -- e deliciosamente prazerosas! -- levantou-se e caminhou até o banheiro

 

 

 

--Com toda certeza! -- concordou -- Essas nossas festinhas são um arraso! -- sorriu maliciosa -- As melhores dentre todas! -- movimentou-se para se encostar na cabeceira da cama -- E olha que eu já fui em muita festa! -- contava uma curiosidade em voz mais alta para a namorada ouvir

 

 

 

--Também já! -- respondeu em voz mais alta da mesma forma -- Só fui ficando mais caseira depois que colei com Zinara. -- pausou brevemente -- Quando caí em mim depois da separação, mais caseira me tornei.

 

 

 

Não gostou do que ouviu, mas preferiu não comentar. -- Minha fase de infernizar pela night também já passou. -- pensava nos próprios hábitos -- Cara, -- lembrou-se de uma coisa engraçada -- a gente faz muita zoeira nessa vida! -- achava graça -- Acredita que uma vez eu tava na tua cidade, sozinha e curtindo uma fossa, quando de repente cismei de ir num buraco suuuper underground só pra fazer uma loucura e desestressar? -- riu brevemente -- Ainda tive que sair corrida de lá por causa de uns malucos que queriam me pegar. -- omitiu a parte da mulher que conheceu -- Coisa sinistra! -- riu de novo -- Távola do Rei, sei lá o nome daquela merd*... -- balançou a cabeça se divertindo

 

 

 

“Gente!!” -- Jamila levou um susto ao ouvir aquilo. Lavou as mãos e voltou para o quarto -- Oxi! -- olhava surpreendida para a loura -- Não me diga que...? -- cobriu os lábios com uma das mãos -- Não me diga que você teve que fugir porque tava aos beijos com uma morena e os cabras ficaram doidos? -- estava incrédula

 

 

 

--O que?? -- arregalou os olhos em estado de choque -- Era você??? -- não acreditava -- Cara... -- gargalhou gostosamente

 

 

 

--Escondendo a parte de que tava com mulher, né, galega? -- ajoelhou-se na cama e pegou um travesseiro -- Bint il-Homaar!! (Filha de um burro!) -- xingou bem humorada

 

 

 

--É por isso que sempre tive a sensação de que já te conhecia! -- pegou outro travesseiro para se defender -- Ainda carrega uma 55 escondida por debaixo da roupa? -- provocava dando travesseiradas

 

 

 

--Eu corria risco de vida naquela época, habibi! -- continuava na guerrinha -- Mas se me lembro bem... -- brincavam -- quando acordei você já tinha se mandado! -- reclamou dengosa -- Mahdia! (Vadia!)

 

 

 

--Eu tinha que viajar pra São Sebastião, garota! -- achava graça -- E ainda me ferrei, porque perdi o voo e morri numa grana pra comprar outra passagem. -- foi desarmada em uma travesseirada fatal -- Oh, não! -- fingiu que foi atingida e deitou-se de barriga para cima com as mãos sobre o peito

 

 

 

--Bicha sem vergonha! -- sentou-se sobre ela com o travesseiro na mão

 

 

 

Fez carinha de triste para comover. -- Não reclama, porque deixei um dinheiro pra você na mesinha! -- lembrava -- Se fosse outra, saía de fininho e sem deixar um centavo!

 

 

 

--Como seu eu fosse rapariga, né? -- deu outra travesseirada -- Cafajeste! -- jogou o travesseiro na cama

 

 

 

--Ai... -- passou a mão nos cabelos -- Mas confesso que mesmo naquele dia eu achei que já te conhecia de algum lugar... -- comentou

 

 

 

--Eu também... -- segurou-a pelos pulsos e elevou-lhe os braços por sobre a cabeça -- Será que fizemos outra loucura juntas e não sabemos? -- perguntou sedutoramente -- Hum? -- posicionou-se com o sex* exatamente sobre o da parceira -- Será?

 

 

 

--Duvido de nada... -- sentia os movimentos da amante rebol*ndo e gostava disso -- Ai... -- gem*u

 

 

 

--Você por acaso... -- continuava se movimentando -- já passou carnaval em Costa Azul há coisa de uns dois anos atrás? -- pensava em um episódio

 

 

 

Pensou antes de respondeu e riu. -- Ah, não! -- estava boba -- Não pode ser! -- libertou-se da outra e reverteu as posições rapidamente, deitando-se sobre ela -- Morena gostosa fazendo loucuras comigo num corredor escuro...? -- perguntou incrédula

 

 

 

--Cheio de casais que se amassavam sem pensar em nada num barzinho de praia? -- mordeu-lhe os lábios -- Jamila Haddad, prazer! -- respondeu provocante

 

 

 

Balançou a cabeça abobalhada. -- Você tinha que ser minha mulher de qualquer jeito! -- beijou-a com desejo -- E sim, é um prazer mesmo! -- voltou a beijá-la apaixonadamente

 

 

 

As duas perderam-se num amasso delicioso ao longo da noite.

 

 

 

***

 

 

 

--Amiga, tava lendo as notícias e não se vê uma coisa boa pra contar! -- Magali comentava ao final do almoço -- Viu que pouca vergonha aquela história de fechar escolas em Paulicéia? -- achava absurdo -- Aquele governo tá levando o estado pro fundo do poço! -- comentou desgostosa -- Faltando água, a Federal de Paulicéia na miséria e agora mais essa!

 

 

 

--Pois é, menina, e depois só a presidenta Vilma é que não presta! -- terminava de beber seu cafezinho -- Mas nosso governo estadual também não fica atrás, não!

 

 

 

--Lúcia tá super preocupada com medo de não receber o décimo terceiro. -- falou chateada -- O Mãozão disse que por causa da crise e dos problemas da nossa estatal, São Sebastião tá numa merd* de dar pena! -- repetia os argumentos do governador -- Enquanto isso, ele vai e dá ajuda financeira a empresa privada! -- achava absurdo -- Fiquei sabendo que no sul o governador não vai pagar o décimo terceiro, mas não comentei com Lúcia pra não estressar minha bombeira ainda mais!

 

 

 

--E em todo lugar só se fala em crise! -- reclamou -- Zinara disse que perdeu alunos de Maurítia por causa do desemprego no complexo portuário do estado. -- contava -- Aí as famílias não seguraram e os filhos tiveram que voltar. -- gesticulou -- E com o surto de dengue que anda por lá, ainda teve aluno que parou tudo pra poder se tratar. Parece que tem um menino que tá super mal!

 

 

 

--É muita pouca vergonha, viu? -- limpou os lábios com guardanapo -- E mais essa coisa toda de Operação Caça Rato que só tá ferrando o país e fazendo muita gente perder seus empregos! Não vejo nesse processo bem algum pra nós! -- discordava da visão dominante -- Não da forma como a coisa tá sendo conduzida! -- passou a mão nos cabelos -- Os políticos que roubaram com gosto, ladrões de longa data, ficam só negando, permanecem nos cargos e nada acontece! -- queixava-se -- Sem contar de que as investigações se limitam ao governo de um partido, como se antes ninguém roubasse nada!

 

 

 

--Isso tudo é um grande teatro, Magali! -- Clarice argumentava -- Prendem uns e outros pra fazer uma firula, mas tudo no esquema da prisão diferenciada, tornozeleira eletrônica e essas coisas... -- fez um gesto de contrariedade -- Devolve-se uma pequena parte do dinheiro roubado e fica tudo por isso mesmo! -- revirou os olhos -- Não se está com interesse real em se acabar com corrupção! O que se deseja, é acabar com o partido da presidenta e recuperar o poder de volta!

 

 

 

Balançou a cabeça concordando. -- Apesar das inúmeras trapalhadas do governo dela, sou forçada a concordar contigo. -- olhava para a amiga -- É como Cátia costuma a escrever em seus manifestos: o que se quer é se apropriar do petróleo do Prima di Sale, acabar com a política de conteúdo local e recuperar a presidência da república! Simples assim!

 

 

 

--E a nossa mídia dominante, sempre podre, é tendenciosa aos extremos e só mostra uma parte da história! -- falava com desgosto -- Isso quando não deturpa a história, o que, aliás, é quase um hábito diário!

 

 

 

--Pois é... -- respondeu pensativa -- E agora esse acordo comercial de Godwetrust com os países costeiros do oceano Raivoso... -- considerava -- Não conseguiram nos empurrar goela abaixo a área de livre comércio em nosso continente, então criaram essa história pra enfraquecer a Cina e nosso Mercado do Sul. -- pausou brevemente -- Por todo lado o que se vê é só safadeza, sacanagem ou putaria!

 

 

 

Não queria mais falar sobre coisas ruins. -- É melhor a gente mudar de assunto senão essa onda de pessimismo que tem varrido o mundo vai acabar nos contaminando! -- Clarice decidiu -- Mesmo com todos os problemas há que se ter esperança, atitude e um sorriso no rosto! -- sorriu

 

 

 

--É isso aí! -- concordou sorridente também -- Falemos de coisas boas, do tipo, festas de final de ano! -- ajeitou-se na cadeira e se debruçou na mesa -- Quer dizer que depois da morte do coroa lá, aquele clube da comunidade não vai mais sediar nenhuma festa espetaculosa como a que tive o prazer de ir? -- perguntou com interesse

 

 

 

--Pois é, uma pena... -- lamentou -- A família de Zinara então decidiu que vai fazer todas as festas no terreiro de mãe Agda. -- contou sobre os novos planos -- É um lugar muito especial, sabe? Sem luxo, sem badalação, mas cheio de energias positivas.

 

 

 

--E quanto aos planos de uma fugidinha no réveillon? -- perguntou assanhada -- Já estava na hora, né, amiga? -- piscou para ela

 

 

 

Achou graça do fogo da outra. -- Zinara tá quebrando a cabeça pra achar um hotel legal na serra do sul, porque já tá quase tudo lotado. -- cruzou as pernas -- Eu disse pra ela que aceito qualquer pousada humilde e limpa, mas ela pensa em algo especial pra nós. -- sorriu apaixonada

 

 

 

--Então já que ela tá nessa consumição toda, deixa eu te fazer uma proposta interessante! -- esperava convencer a paleoceanógrafa -- Dois casais amigos da família tinham reservado dois quartos maravilhosos prum réveillon estiloso num resort all inclusive em Maraguaó, mas tiveram um contratempo sério e não poderão ir. -- contava a história -- Eles já pagaram tudo e o hotel não devolve o dinheiro, daí nos ofereceram pra pegar as reservas e ficar pagando a eles. -- sorria -- Somente Lúcia e eu iremos, então fica sobrando um quarto... -- aguardava uma resposta

 

 

 

Adorou a possibilidade, mas se preocupou. -- Magali, mas isso deve ser tão caro! -- considerou -- Você não disse que Lúcia pode ficar sem receber o décimo terceiro, criatura? -- pensava na possibilidade -- E ainda vão se meter numa dívida?

 

 

 

--Mulher, pelo amor de Deus! -- deu-lhe um tapinha no braço -- A gente trabalha e rala o ano inteiro, aguenta ingratidão e desaforo de aluno, corte de verba e mais um monte de coisa e não se pode nem ter um pouquinho de diversão? -- protestou -- Caro é, mas, por favor, uma vez na vida, qual o mal? -- gesticulou -- Além do mais, Zinara mora em Cidade Restinga e a gente ainda pode aproveitar pra dar uma passeada por lá no retorno. -- continuava argumentando

 

 

 

Clarice ficou pensando em voz alta. -- De repente, a gente passa o natal na roça, voa pra Cidade Restinga, aluga um carro lá... -- considerava

 

 

 

--E vai pra Maraguaó passar um réveillon cheio de glamour, pra depois voltar pra Cidade Restinga e fazer mais alguns passeios na região! -- complementou a fala da outra -- Enquanto isso, dona Leda fica na roça com o Di, o que eles adoram, e aí tá todo mundo feliz! -- abriu os braços brevemente -- Se pensar bem, vai acabar gastando menos.

 

 

 

--Hum... -- balançou a cabeça pensativa -- Vou conversar com Zinara sobre isso...

 

 

 

--Maravilha! -- bateu palminhas -- Será um final de ano inesquecível! -- bateu com as pernas -- E tem outra: vi na internet que o hotel é gay friendly, ou seja, dá pra beijar na boca sem reservas!!! -- estava assanhada -- AHAH! -- gritou

 

 

 

--Eu hein! -- ficou rindo da amiga

 

 

 

***

 

 

 

Amina estava em seu quarto ouvindo o CD de Catitta. Tomava banho e lavava o cabelo.

 

 

 

--Habibi, eu num tenhu mais idade, e si quisé í simbora, vai cum vontade... -- cantava alto -- Tá fartandu umas maturidadi im ocê...

 

 

 

--Eita, qui ela tá numa aligria só! -- Raed esfregava as mãos nervosamente -- Será qui ela vai achá o quartu bunitu? -- reparava na arrumação que deu

 

 

 

O casal estava sozinho em casa e Raed aproveitou o banho da esposa para rapidamente deixar o ambiente romântico, espalhando flores do cerrado pelo quarto e forrando a cama com os melhores lençóis que tinham.

 

 

 

--Ave Maria! -- ajeitava-se em seu pijama -- Tumara qui dê certu! -- esperava por ela

 

 

 

Amina saiu do banheiro vestindo camisola e cantarolando. -- E ocê mi faiz tão bem, eu ficu toda zen... -- reparou com estranheza na mudança do quarto -- Uai? -- não entendia -- O quê qui hôvi aqui? -- olhou desconfiada para o marido

 

 

 

--Uai... -- não sabia o que fazer com as mãos -- Eu ispaiei essas flô módi dexá nossu quartu... -- olhava receoso para a esposa -- românticu, num sabi? -- sorriu envergonhado

 

 

 

“Urtimamenti Raed tem feitu uns trem diferenti meis...” -- pensou reparando no marido -- E pur que issu, homi? -- queria entendê-lo -- Nóis é casadu há tantus anu... -- considerava -- O quê qui ti deu? Ocê tá pra morrê? -- queria saber

 

 

 

--Oxi! -- deu três batidinhas na mesinha de cabeceira -- Discujuru, muié! -- negou ao se benzer -- O qui eu quiria era... -- abaixou a cabeça -- Eu quiria fazê ocê ficá filiz cumigu iguar Najla fica cum o Créu dela... -- confessou -- Nóis tivemu uma vida tão dura, tão difícir... -- pausou brevemente -- Já tava na hora di sê filiz... -- olhou emocionado para ela -- Ana behebbik, Amina! (Eu te amo, Amina!) -- declarou com muita verdade -- Perdoe-me por todas as vezes em que te tratei mal! -- falava na língua natal -- Apesar de ser um bruto, sempre te amei e sempre quis ser o homem da sua vida! -- derramou uma lágrima

 

 

 

Derramou uma lágrima também. -- Ocê é! -- olhava nos olhos -- Ana behebbak, Raed! (Eu te amo, Raed!) -- declarou com a mesma intensidade -- Fouk ma yitsawar khayalik... (Mais do que você possa imaginar...) -- afirmou quase num sussurro

 

 

 

O homem sentiu o coração acelerar e sorriu feliz, sentindo uma imensa vontade de fazer amor com sua esposa. -- Eu quero ser o homem que sempre desejou ter! -- continuava falando na língua de Cedro -- "Mais num sei nem pur ondi começá!” -- pensou envergonhado -- "Bichu fuleiru!” -- recriminava-se mentalmente

 

 

 

Nisso, Catitta começa a cantar a música preferida de Amina naquele CD.

 

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=KZBASMXZmhc

 

 

 

“Não dá mole, vem pra cá,

 

Não tem hora pra acabar,

 

O clima tá esquentando,

 

Eu só vim avisar...”

 

 

 

--Eu também queru sê filiz, homi! -- aproximava-se devagar -- Tarveiz nóis tenha pirdidu muitu tempu... -- mantinha-se firme no olhar dele -- E num tô querendu perdê mais nada, num sabi?

 

 

 

--Nem eu! -- o coração batia ainda mais forte

 

 

 

Rapidamente, a mulher segurou o marido pela blusa do pijama e o jogou contra a cama.

 

 

 

--Oxi! -- surpreendeu-se arregalando os olhos

 

 

 

--Ói, dipois qui cumeçá num si arrependi, ói! -- sentou-se sobre ele cantando -- Dipois qui mi atiçá, num adianta mais! -- olhava nos olhos -- Quandu mi atiçá num adianta mais! -- reclinou-se sobre ele -- Quandu eu me mexê a porca vai torcêêê... -- aproximou o rosto do dele

 

 

 

Seus olhos faiscavam de desejo. -- Muié, ocê é puru fogu! -- segurou-a pelo rosto e beijou-a com paixão

 

 

 

Amina e Raed se amaram apaixonadamente ao som de Catitta.

 

 

 

“Não dá mole, vem pra cá,

 

Não tem hora pra acabar,

 

O clima tá esquentando,

 

Eu só vim avisar...”

Anitta - Na Batida [a]

 

 

 

E como esquentou...

 

 

 

***

 

 

 

Zinara e Cláudia conversavam no consultório da médica.

 

 

 

--Então quer dizer que a senhora, no auge dos seus quarenta anos, toda bonitona, agora já tá finalmente se esquematizando pra casar, morar em São Sebastião...? -- sorria para a amiga -- Eu não poderia te dar alta num momento melhor do que esse!

 

 

 

--Tirando a parte do bonitona, que é pura coisa de sadik (amiga), realmente, me sinto desse jeito que você falou: no auge da vida! -- estava muito feliz -- E apesar de te adorar, não vou sentir falta de tratamento médico! Graças a Allah, fiquei livre! -- ergueu as mãos para cima -- Allahu Akbar! (Deus é Grande!) -- sorria

 

 

 

--Fique tranquila que não vou ficar pirraçada com isso. -- fez um gesto despreocupado -- Todo mundo gosta de ser saudável e eu mesma te dou essa alta com uma alegria que nem sei descrever! -- olhava para a morena -- Não tem muito tempo que te dispensei das injeções... -- lembrava -- Sua recuperação foi realmente coisa de Deus, não há como negar!

 

 

 

--Eu te devo muito, doktuur! -- afirmou emocionada -- Nunca vou esquecer disso! -- segurou uma das mãos dela -- Abadan! (Nunca!) -- pausou brevemente -- Você foi um dos maiores instrumentos de Allah na minha vida!

 

 

 

Ficou toda prosa. -- Finalmente me sinto em dia com você! -- confessou emocionada também -- Felicidade pra nós, amiga! -- desejou -- Mesmo com toda essa tal de crise que o povo insiste em lembrar todo dia!

 

 

 

Achou graça. -- Mesmo com isso! -- concordou -- Agora é só alegria! -- soltaram as mãos e se ajeitaram nas respectivas cadeiras

 

 

 

--Já tava na hora de minhas amigas tomarem tento na vida! -- provocou brincalhona -- Você casando com Clarice e a doida da Grazi se acertando com Paula, embora de quando em vez ainda suspire por Andressa. -- riu brevemente -- Já soubesse? As duas vão juntar as escovas de dente em dezembro!

 

 

 

--Aywah (Sim), tô sabendo! -- balançou a cabeça positivamente -- Estive no asilo nesse sábado e soube das novidades.

 

 

 

--Você que não vai poder ir na festinha, né? Vai pra roça...

 

 

 

--E depois vem o réveillon com Sahar em Maraguaó! -- lembrou empolgada-- Tá sendo difícil esperar dezembro chegar, viu, fi? -- desabafou -- Ô, longa espera... -- brincou

 

 

 

--Ainda tem muita coisa pela frente, caipira! -- brincou também -- Outubro ainda nem acabou!

 

 

 

--Wana amil eh? (Fazer o que?) -- abriu os braços brevemente -- Enquanto isso, é meter as fuça no trabalho, nos estudos e vida que segue!

 

 

 

A secretária deu uma batidinha na porta e abriu devagar. -- Doutora Cláudia, sua paciente, a senhora Cecília, acaba de chegar. -- anunciou -- Ela disse que veio sem marcar porque tá sentindo aquela coisa! Uma coisa que a senhora sabe o que é... -- pausou brevemente -- Segundo ela. -- pediu licença e fechou a porta

 

 

 

--AHHa, que coisa? -- Zinara não entendeu

 

 

 

--Ih, nem queira saber! -- revirou os olhos -- Sua cunhada é doida, mulher! A bicha vive aqui. -- contava -- Já disse a ela que vou enricar só com as consultas que ela me paga.

 

 

 

--Prevendo o pior, é melhor eu ir embora! -- levantou-se rapidamente -- Onde tem uma porta secreta por onde eu possa fugir sem ela me ver, hein? -- perguntou curiosa

 

 

 

Achou graça. -- Tem porta secreta, não... -- riu brevemente -- Olha as ideias... -- riu de novo -- Pra que isso de fugir da mulher? -- não entendia

 

 

 

--Ela tá me perseguindo não é de hoje! -- justificou-se -- De olho em al saqqa (no apartamento) porque vou casar com Sahar! -- pensava no que fazer -- E agora?

 

 

 

--De olho em que?? -- não entendeu

 

 

 

--Ahá! -- teve uma ideia e foi até a janela -- Hum... -- olhava para baixo -- "Essa marquise nem tá longe!” -- pensou -- Vai por aqui mesmo. -- passou as pernas para o lado de fora e calculou o salto -- "Ainda bem que vim com roupa de ginástica!”

 

 

 

--Zinara?! -- levantou-se apavorada -- Tamos no terceiro andar, bicha doida!

 

 

 

--Macasalaama! (Até logo!) -- deu tchauzinho -- Fui! -- pulou

 

 

 

--Que merd*! -- correu até a janela e viu a morena caindo sobre a marquise -- Mas será o Benedito? -- acompanhou os movimentos caipirescos -- Olha só... -- balançou a cabeça negativamente -- Lá vai ela simbora correndo pela rua... -- acabou achando graça -- Corre, bicha! -- brincou e riu -- Eu hein, meu destino é ser rodeada de gente doida. -- voltou para sua mesa e pegou o telefone -- Quézia, -- falava com a secretária -- pode mandar a senhora Cecília entrar. -- autorizou e desligou o telefone -- Que venha outra doida! -- falava para si mesma -- Ai, ai... -- ficou rindo sozinha

 

 

 

***

 

 

 

Aisha havia instalado o aplicativo QQOV? no celular de Amina. A mulher estreava o uso conversando com Leda. Digitava com certa dificuldade.

 

 

 

A: Esse trem de QQOV? é baum

 

A: Mais digita oos trem tudi erradu

 

L: kkkkkk

 

 

 

--Você sempre digitou errado, mulher! -- a idosa falava sozinha -- Agora fala do celular! -- riu

 

 

 

L: Eu prefiro conversar pelo LivrodasFuça

 

L: Esse teclado de toque é muito fresco pro meu gosto

 

A: E num pé?

 

A: É?

 

A: Oia ele digitando ostrem errado!

 

L: kkkkk

 

A: Eu quer contarem um trem pra senhor

 

A: AHHa!

 

L: Liga pra mim que é melhor!

 

L: E liga pelo QQOV? porque a ligação é baratinha

 

A: Faz coma?

 

A: Faze comi?

 

A: Ahhha!!

 

A: Peste1

 

 

 

--Ai, mulher... -- olhava para o celular achando graça -- Deixa eu descobrir como é que faz. -- espremia os olhinhos mirando a tela -- Ser uma velha moderna tem um preço! -- continuava falando sozinha -- Mal se enxerga a tecnologia diante das fuça da gente! -- tentava encontrar alguma dica -- Ah, deve ser aqui! -- tentou -- Oba, tá chamando! -- esperava atender

 

 

 

O celular começou a tocar e Amina se apavorou. -- Uai? E agora qui eu num sei atendê? -- olhava para o aparelho -- Najla, muié, mi acodi aqui! -- chamou e seguiu pela casa procurando pela outra -- Eu num sei atendê essi bichu! -- esperava ela aparecer -- Cadê ocê, muié??

 

 

 

--Que foi, Amina? -- encontraram-se no corredor -- Tava indo pra casa de Georgina. -- olhava para a cunhada -- Que aconteceu? -- queria saber

 

 

 

--Ah... Parô... -- lamentou -- É qui o bichu tocava e eu num mi atinei comu qui faiz pra atendê, num sabi? Queria prosiá cum ya Leda... -- explicava chateada -- Ói! -- mostrou o celular para a cunhada -- Tá tocando di novu!

 

 

 

--Ah, ela tá te ligando pelo QQOV?. -- observou -- Tem que fazer assim, olha. -- mostrava -- Esfrega o dedo nessa parte da tela. -- fez o que falava -- Olá, ya Leda, é Najla, tudo bem? -- ouvia a resposta -- Graças a Deus. -- sorria -- Vou passar pra Amina, só um momentinho. Beijo! -- devolveu o celular -- Aqui!

 

 

 

--Agradicida! -- recebeu sorrindo -- Oi, ya Leda! -- saudou a outra -- É qui nessis celulá mudernu é um tal di esfrega dedu daqui e dali qui é uma danação só, num sabi? -- comentava -- Najla mi insinô a atendê.

 

 

 

A ex fazendeira se despediu com um tchauzinho e foi para a casa de Georgina.

 

 

 

--Pois é, comeram as tecla dos celulares e deu nisso: uma esfregação dos diabos! -- Leda concordava -- Mas e então, o que você queria me contar? -- perguntou de pronto -- Fiquei curiosa!

 

 

 

--A sinhora tava certa o tempu todu! -- foi logo dizendo -- Raed num tá pra morrê, não. -- olhou para todos os lados e falou mais baixo -- Eli quiria meis era uma boa lambição! -- confessou

 

 

 

Riu gostosamente. -- E deduzo que a lambição rolou solta nessa roça! -- comentou bem humorada

 

 

 

--Avi Maria... -- continuava falando baixo -- Nunca uma curnicha piô tantu na história dessi país! -- respondeu animada

 

 

 

Riu de novo. -- Fico feliz por isso, querida. -- respondeu com sinceridade -- Não é porque um casal é maduro que tem que perder o romantismo e o fogo. -- sorria -- Se Deus quiser, de agora em diante a vida de vocês será melhor sob todos os sentidos!

 

 

 

--Améim! -- desejava o mesmo -- Eu tô filiz qui chega dói! -- sorria -- É muito bão vê us trem da vida da genti tudu dandu certu, num sabi? -- desabafou -- Achu qui eu nunca vivi uns tempu tão bão quantu essi, meis cum o povu só falandu nessa diacha dessa crisi.

 

 

 

--É tanta crise e os cinemas, teatros, aeroportos, rodoviárias e inferninhos da cidade só vivem cheios! -- retrucou -- É o que eu vejo aqui!

 

 

 

--Aisha fala qui nu Gyn é iguar! Essi povu fala muitu e eu num intendu é nada! -- pausou brevemente

 

 

 

--Por isso que eu dou o desprezo! -- respondeu de pronto -- Quando vem me abordar falando em certas coisas, corto na hora!

 

 

 

Achou graça e lembrou-se de um fato: -- Ah, ya Leda, falandu im abordagi, deixa eu contá... -- matutava em como falar -- Dipois di um tempu da morti di ya Rafi, ya Zeferino veiu prosiá mais Raed. -- pausou brevemente -- Eli dissi qui si agrada da senhora, mais qui nunca veiu fazê a corti im respeitu ao falicidu, num sabi? -- contava

 

 

 

“Lá vem ela com alcovitice caipiresca...” -- pensou contrariada

 

 

 

--Ya Zeferino é trabaiadô, vendi cavalu, é viúvu, só tem dois fiu, três netu... Eli é nascidu im Guaiás, num sabi? É di Terra de Santa Cruz e todo nacionar iguar a senhora. -- fazia a propaganda -- E agora qui o falicidu faliceu...

 

 

 

--Nada muda! -- interrompeu-a bruscamente -- Amina, fico feliz que você e seu marido estejam se acertando, mas não é por te ver tão empolgada que vou querer ressuscitar a curnicha! -- afirmou diretamente -- Eu não quero saber de homem de Terra de Santa Cruz, de Cedro, dos infernos, eu não quero saber de macho pra nada!

 

 

 

--Eita! -- ficou sem graça

 

 

 

--Agora deixa eu ir que a vida passa e nós aqui comendo mosca! -- preparou-se para desligar -- Tchau!

 

 

 

--Avi Maria... -- percebeu que o telefone foi desligado -- Qui rata qui eu dei... -- coçou a cabeça

 

 

 

--Eu hein! -- deixou o celular na mesinha e se sentou no sofá -- Mania de mexer com quem tá quieta! -- resmungava sozinha -- Deixe minha curnicha aposentada no canto dela! -- pegou seus bordados para fazer -- Será que uma curnicha da terceira idade não tem nem direito a um descanso digno?

 

 

 

--Que foi, mamãe? -- Clarice perguntou bem humorada ao chegar em casa -- Resmungando aí sozinha? -- achou graça -- Olha, vou falar pra senhora que nosso final de ano já tá todo resolvido! -- foi até ela e beijou-lhe a cabeça -- Comprei as passagens pra Guaiás, inclusive as de ônibus, e providenciei minha ida pra Cidade Restinga. -- sorria para a idosa -- Raquel que não espere muito porque daqui a pouco os preços vão subir! -- gesticulou -- Cecília já tinha dito que nesse ano não vai pra roça, então... -- deu de ombros

 

 

 

--Isso é bom! -- olhou para a filha -- Mas vou logo deixando claro que qualquer tentativa de alcovitice comigo na roça será fatal, viu, menina? -- advertiu -- Fatal! -- gesticulou

 

 

 

--Ué? -- não entendeu -- Do que a senhora tá falando? -- estranhou

 

 

 

--E de mais a mais, até que enfim que você e Zinara tomaram vergonha e vão viajar pra outro canto no ano novo. -- decidiu se levantar e seguiu para a cozinha -- Já tava na hora de parar com isso de se esconder em mato pra acasalar! -- foi andando -- Parece até que essa roça tem um troço que a mulherada fica de curnicha doida, eu, hein! -- resmungava

 

 

 

Clarice continuava sem entender. -- Quê que deu nela?

 

 

 

***

 

 

 

Marco e Raed conversavam ao telefone.

 

 

 

--Intonci é issu, homi, quiria ti agradicê. -- falava com gratidão -- Teus cunselhu di créu funcionaru e Amina si agradô di meu romantismu. -- contava -- Ela num rodopia feitu Najla, mais tá cum sorrisu di oreia a oreia, num sabi? -- estava feliz -- E eu tô numa aligria qui chega dói! -- confessou

 

 

 

--Que maravilha, rapaz! -- sorriu satisfeito -- Isso me deixa muito feliz! -- estava sendo sincero -- Já tava na hora de vocês viverem algo mais bonito. Espero que daqui pra frente seja sempre assim e vocês não percam essa cumplicidade que tá se formando.

 

 

 

--Améim! -- desejou

 

 

 

--Nunca mais deixe a relação cair na rotina, Raed, senão esse fogo aceso logo se apaga. -- aconselhou -- A mulher tem que perceber que permanecemos interessados, daí ela também não deixa de queimar.

 

 

 

--Oxi!! -- retrucou mal humorado -- Qui negóçu é essi di falá du fogu di minha muié, seu Créu? -- reclamou -- Num mi vem di abusu, não, qui vô aí e cortu teus trem di homi fora! -- ameaçou

 

 

 

--Mas que obsessão em me capar, hein? -- reclamou -- Calma, tô só te dando um conselho, homem! -- justificou-se -- Por tudo se aborrece!

 

 

 

--Humpf! -- resmungou -- Eu já dissi o qui tinha pra dizê, módi qui agora vô mimbora disligá. -- anunciou -- E óia essas indecença aí cum minha irmã, purque ocês dois num são casadu, num sabi? Passá bem! -- desligou

 

 

 

Acabou achando graça. -- Só rindo mesmo... -- colocou o telefone no gancho -- Bem, agora deixa eu ir procurar minha dona e ver o que anda fazendo. -- falava consigo mesmo

 

 

 

Najla pesquisava na internet sobre a questão de asilo político a refugiados. Lia em voz alta para si mesma.

 

 

 

“Segundo dados do Comitê Nacional de Refugiados, CORE, órgão ligado ao Ministério da Justiça, 2015 suryenses receberam status de refugiados em Terra de Santa Cruz desde 2011 até agosto deste ano. Trata-se da nacionalidade com mais refugiados reconhecidos no país. O número é superior ao de Godwetrust (1.200) e ao de países no sul de Urubba que recebem grandes quantidades de imigrantes ilegais.

 

 

 

Nas últimas semanas, a crise humanitária em Suriyyah voltou a ganhar projeção na imprensa internacional, com levas de refugiados abandonando o país em direção, principalmente, à Urubba. A imagem de um menino morto em uma praia de Bizâncio virou símbolo da tragédia.”

 

 

 

--Ai, nem me lembre disso. -- emocionou-se -- Deixa eu continuar a ler sem pensar naquela cena triste!

 

 

 

“Apesar da distância ─ 10 mil quilômetros separam Terra de Santa Cruz e Suriyyah ─ , o governo nacional vem mantendo uma política diferente da de muitos países em relação a refugiados suryenses. Há cerca de dois anos, o CORE publicou uma normativa facilitando a concessão de vistos a imigrantes daquele país. Desde então, muitos suryenses vêm escolhendo Terra de Santa Cruz como destino para fugir de guerras, perseguições e pobreza. São pessoas com todos os perfis socioeconômicos. Há desde camponeses a engenheiros e advogados, muitos deles com pós-graduação. Em comum, todos estão fugindo de um país imerso em uma espiral de violência.”

 

(Nota da autora: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150904_brasil_refugiados_sirios_comparacao_internacional_lgb)

 

 

 

--Não é de hoje que nosso povo encontra abrigo no seio dessa terra! -- Najla discordou -- Cedro e Suriyyah têm filhos vivendo no país há décadas... -- lembrava-se da própria família -- Eu vivo aqui há décadas!

 

 

 

--Falando sozinha, minha dama? -- Marco deu-lhe um beijo na testa -- Que faz aí? -- olhou para a tela do computador -- Pesquisando o que?

 

 

 

Virou o rosto na direção dele e beijou-o nos lábios. -- Procurando descobrir como trazer refugiados do Oriente pra Guaiás. -- olhava para ele -- A boa notícia é que nosso Governo está empenhado em ajudar! -- sorriu -- Mas tenho que chegar nas pessoas certas, exatamente como fiz pra trazer usritii (minha família) pra cá. -- contava -- Naquela época eu tinha poder, hoje é bem diferente... -- lamentou

 

 

 

--Pois eu acho que minha dama tem um poder indescritível! -- brincou antes de beijá-la mais uma vez

 

 

 

--Ai, meu negão... -- suspirou apaixonada -- Não me desconcentra que eu tenho que trabalhar nisso aqui! -- pediu melosa

 

 

 

--Tudo bem, não vou distraí-la. -- beijou-a novamente e se afastou -- Vou aproveitar e dar uma olhada nas espigas de milho que tão cozinhando. -- caminhou para fora do quarto -- Você podia mandar Aisha falar com aquela advogada que achou Zinara perdida em Cedro. -- sugeriu falando mais alto -- A mulher conhece tanta gente, vai que ajuda?

 

 

 

--Sabe que é uma boa ideia? -- considerou -- Já que Zinara não conseguiu nada com o pessoal da ONG de Cedro, Jamila pode ser uma solução... -- considerou -- Ai, que esse negão é o máximo... -- suspirou mais uma vez -- de tirar o chapéu...

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 159 – Batendo Panelas em São Sebastião

 

 

 

Raquel estava a alguns passos do portão da casa de Leda quando sente um puxão de alguém que lhe agarrou pela cintura. Subitamente viu-se imprensada contra o muro.

 

 

 

--Que é isso?? -- levou um susto -- Você tá louco ou o que? -- reclamou de cara feia

 

 

 

--Só assim pra ter um pouco de atenção da sua parte! -- Fagundes forjava sua melhor voz de cafajeste -- Não dá pra viver sem você, Raquel! -- olhava nos olhos -- Pára de fugir de mim e me explica porque me abandonou assim do nada!

 

 

 

“Ai, meu Deus, quando ele vem com esse jeito...” -- pensou estremecida, mas se controlou -- Em primeiro lugar me solta, senão faço um escândalo! -- ameaçou

 

 

 

--Promete que não vai fugir? -- perguntou receoso

 

 

 

--Só se eu pular o muro de casa! -- respondeu irônica -- E fique sabendo que se eu der um gritinho que seja, mamãe vai fazer um fuzuê como você nem imagina! -- ameaçou de novo

 

 

 

“Ué?” -- Leda estranhou -- "É impressão minha ou escutei Raquel falando em mim?” -- ficou desconfiada

 

 

 

O policial soltou a mulher e se afastou um pouco. -- Por que fala comigo desse jeito? -- queria entender -- Por que me deixou? O que aconteceu?

 

 

 

Desencostou-se do muro e ajeitou a roupa. -- Não tenho mais interesse em ser apenas uma mulherzinha certa pra você trans*r! -- respondeu magoada

 

 

 

Ficou sem graça. -- Que é isso, gata? -- desviou o olhar por alguns momentos -- Você é muito mais que...

 

 

 

--Eu ouvi tudo! -- interrompeu-o de imediato -- Fui pro seu apartamento te fazer uma surpresa e ouvi a sua conversinha de homem com seu amigo Serra! -- usava de sarcasmo -- Fiquei encostada quieta na sua porta, ouvindo as baixarias que falavam a meu respeito!

 

 

 

“Hum...” -- Leda espreitava na janela -- "Acho que vou fazer uns telefonemas...” -- decidiu

 

 

 

“Puta que pariu!” -- pensou contrariado -- Calma, gata, eu posso te explicar. -- sorriu -- Falei aquelas coisas pra ele porque...

 

 

 

--Porque é verdade! -- interrompeu-o de novo -- Porque é o que você pensa! -- olhava nos olhos -- Mas eu gostei de saber! -- seus olhos marejaram -- Foi uma verdade que me incomodou, mas eu gostei muito de saber! -- cruzou os braços -- Porque me fez cair na real, sabe? Me fez ver o papel de burra que eu tava fazendo!

 

 

 

--Raquel, não é bem assim! Eu falei aquilo pro cara deixar de me pentelhar, mas eu tô contigo na firmeza! -- argumentou com ansiedade -- Quando a gente fica separado eu me sinto perdido, me sinto triste! -- olhava nos olhos -- Eu te amo, só que isso me assusta, gata!

 

 

 

“Queria tanto poder confiar em você...” -- pensou com tristeza -- Amor? -- riu brevemente -- E você por acaso sabe o que é amor? -- balançou a cabeça contrariada -- Você me ama tanto que evita fazer parte da minha vida, evita minha família, evita até o meu filho “pra não ficar amiguinho”! -- arremedou a voz dele

 

 

 

“Ela ouviu tudo mesmo...” -- pensou contrariado -- Cara, eu já te disse porque falei daquele jeito! -- argumentou novamente -- Mas não significa que seja o que eu penso e sinto! -- queria convencê-la

 

 

 

--Alô? -- a idosa falava ao telefone -- Dona Sônia, menina do céu, escuta uma que parece duas! -- anunciava para uma conhecida fofoqueira -- Tem um policial aqui na minha porta querendo extorquir dinheiro da minha filha em nome da segurança do bairro! Vê se pode? -- mentia -- Chama um pessoal aí, pega tua panela mais escandalosa pra se bater e vem protestar aqui na porta! -- convidou -- A coisa tá braba!

 

 

 

--Você é um mentiroso! -- acusou -- Um homem pequeno e medíocre, cheio de medo de amar porque sofreu no relacionamento anterior! -- gesticulou -- Você é do tipo que vê numa mulher apenas o sex* pra te satisfazer, porque sua covardia é tanta, que não te permite ser verdadeiro em nada! Sua vida é uma mentira, uma coisa vazia que não tem sentido e eu não quero isso pra mim! -- falou um pouco mais alto -- Não quero mais, nunca mais!

 

 

 

--Pára com isso porque você me ama e eu sei! -- segurou-a pelos braços -- Deixa de show!

 

 

 

--Eu não amo você, eu amei a ilusão que criei de você! -- respondeu ao se desvencilhar

 

 

 

--O que? -- surpreendeu-se ao ouvir

 

 

 

--Seu João, tudo bem? -- Leda continuava contatando os fofoqueiros -- Pega uma panela aí e vem pra minha porta protestar! -- convidou -- Disseram que tem um policial rondando a rua com uma conversa de cobrar imposto de segurança, então a gente tem que protestar! -- mentia -- Chama outras pessoas da redondeza e vem todo mundo!

 

 

 

Raquel se emocionou. -- Você me pareceu o mais próximo de tudo que eu sonhei num homem... -- derramou uma lágrima -- mas é exatamente o oposto! -- secou os olhos com as mãos -- Antes eu não sabia disso, não queria ver! -- olhava para ele -- Agora eu sei e não te quero mais! Nunca mais! -- afirmou com firmeza

 

 

 

Fagundes ficou nitidamente abalado com o que ouviu. -- Eu não acredito que você pense isso! Você tá é desdenhando porque ficou putinha com o que ouviu! -- retrucou com grosseria

 

 

 

--Que foi, meu bem, não gostou de ouvir umas verdades? -- perguntou desaforada

 

 

 

--Eu também vou te dizer umas verdades! -- falava com rispidez -- Você vivia casada com um marido de merd* e fui eu que te fiz sair daquela vidinha escrota que te consumia!

 

 

 

--Alô? É da SSTV nas ruas? -- um vizinho de Leda telefonava -- Eu queria fazer uma denúncia gravíssima! -- gesticulava para ninguém -- Tem um policial na minha rua, nesse exato momento, agredindo uma moça porque ele quer propina! -- ouviu uma resposta -- É porque a Prefeitura tá fazendo umas obras aqui, então já viu! Ontem mesmo veio o lobista! -- mentia -- Corre que vocês vão pegar no flagra!

 

 

 

--Getúlio é muito melhor que você! -- Raquel protestou -- Ele pode ter feito corpo mole por muitos anos, mas tem mais caráter e coragem do que você! -- afirmou desaforada -- Ele não tem necessidade de fazer tipinho de pegador! Não é um playboy fora de época como você! -- acusou

 

 

 

Riu com deboche. -- Faça-me o favor! -- gesticulava -- Você mesma falou que ele mal sabia te comer direito!

 

 

 

--Dona Helena, menina, corre pra cá com tua corneta da copa que tá rolando um protesto daqueles no meu portão! -- mentia -- E traz aquele pau pra fazer selfie! O maior que tiver! -- Leda pediu -- "É selfie mesmo? Nunca sei o nome dessas besteiras!” -- pensava

 

 

 

--Você apela pra baixaria, mas não é por causa de Getúlio que não te quero mais! -- bateu no próprio peito -- É por mim mesma! -- aproximou-se do portão da mãe -- Você é muito pouco pra mim, Fagundes! Mereço alguém que valha a pena!

 

 

 

--Deixa de palhaçada que você anda de quatro por mim! -- estava nervoso

 

 

 

--Você se acha o máximo, né? -- protestava -- Eu fantasiava em você um homem que com certeza você não é!

 

 

 

Riu brevemente. -- Não era isso que você dizia quando eu te fo... -- um golpe de água lhe acerta em cheio -- Mas que porr* é essa? -- passou as mãos no rosto e sentiu um cheiro ruim -- Puta... -- fez cara feia

 

 

 

--Ih, menino, pegou em você, é? -- Leda fez cara de inocente -- É que a fossa tá entupida e eu tô tentando resolver o problema. -- olhava para ele -- Haja titica! -- voltou para dentro com um balde de alumínio na mão -- E vem mais por aí, viu? -- advertiu

 

 

 

“Boa, mamãe!” -- pensou achando graça -- Tá esperando o que pra ir embora? -- olhou para ele de cima a baixo -- Que a coisa fique mais fedorenta do que já tá? -- perguntou com deboche

 

 

 

Deu um suspiro profundo e olhou de cara feia para Raquel. -- Eu vou embora e não volto mais pra te procurar! -- falava com o dedo em riste -- Nem que rasteje de joelhos me implorando pra voltar, eu não volto! -- estava com raiva

 

 

 

--Isso não vai acontecer! -- garantiu

 

 

 

--Olha o cocô aí, minha gente! -- Leda jogou mais um balde com água de esgoto sobre o homem -- "Esse foi ainda mais certeiro!” -- pensou satisfeita

 

 

 

--A senhora tá fazendo isso de propósito, porr*! -- reclamou gesticulando agressivamente -- Eu não tenho sangue de barata, não! -- ameaçou gesticulando -- Eu não tenho!

 

 

 

--Socorro! -- a idosa começou a gritar batendo no balde -- É ele, gente, é ele! -- gritava -- O safado que quer extorquir dinheiro dos moradores da rua! -- falava aos berros -- Socorro!

 

 

 

Raquel foi na onda e gritou também. -- SOCORRO!!!!! -- levantou as mãos -- SOCORRO!!!

 

 

 

Várias pessoas se aproximavam gritando e batendo panelas.

 

 

 

--Fora, safado! Vai embora e deixa a gente em paz! -- uma senhora gritou

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- Leda incitava o povo

 

 

 

--FOOOORA!! -- Raquel gritava com raça -- AHAHAHAH! -- berrou

 

 

 

--Fora, safado, fora!!! -- a idosa usou o balde como escada e subiu no muro gritando -- Grita comigo, gente: FORA, FORA, FORA!!! -- batia palmas

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- gritavam batendo panelas

 

 

 

--Mas que merd*! -- Fagundes não entendia o que estava acontecendo e ficou sem ação

 

 

 

--Nossa, tem um monte de gente protestando aqui! -- o câmera man comentou quando a imprensa chegou -- Não disse que era negócio de policial cobrando propina de obra? -- estranhou -- Cadê a obra?

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- gritavam

 

 

 

--Esse pessoal tá protestando pro tal do policial ir embora! -- outro câmera man deduziu -- Quem será ele?

 

 

 

--Ali! -- o repórter apontou -- Prepara aí e vamos correr atrás dele! -- ordenou

 

 

 

--Gente, veio até a imprensa! -- Raquel levou um susto

 

 

 

--Puta que pariu! -- Fagundes ficou furioso

 

 

 

--Se eu fosse você dava no pé agora, cigano pornô! -- Leda descia do muro -- Sai da vida de minha menina, bicho cabeludo dos infernos!

 

 

 

--Humpf! -- fez um bico -- Eu vou, e você nunca mais vai me ver, Raquel! -- afirmou revoltado -- Nunca mais!

 

 

 

Sentiu dor ao ouvir aquilo. -- É o que mais quero: nunca mais te ver! -- respondeu magoada

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- gritavam

 

 

 

--O que o senhor tem a dizer sobre as acusações do seu envolvimento no esquema de propinas da empreiteira Marrakesh com as obras da Prefeitura de São Sebastião? -- o repórter abordou o policial -- Pra qual partido político o senhor opera? É verdade que seu nome foi indicado pela presidenta Vilma pra ocupar seu cargo?

 

 

 

Fagundes olhou revoltado para o repórter e para os dois câmeras men. -- Vão pra merd*, bando de idiota! -- saiu com ódio e dando esbarrão em todo mundo

 

 

 

--Porr*! -- um dos homens reclamou -- Quase que me faz derrubar a câmera!

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- gritavam

 

 

 

Fagundes entrou no carro e saiu cantando pneus.

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- gritavam

 

 

 

--Conseguiram gravar alguma coisa? -- o repórter perguntou preocupado -- Cara grosso! -- reclamou -- Fedorento! -- fez cara feia

 

 

 

--Eu, nada! -- um dos câmeras respondeu desanimado

 

 

 

--Também não deu! -- o outro constatou

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- gritavam e batiam panelas. Alguns jovens tiravam fotos para postar no LivrodasFuças

 

 

 

“Eu protestando!” -- uma moça digitava no celular -- "Fora, deputado Munha!”

 

 

 

--Ai, mamãe... -- Raquel abraçou-se com a idosa -- Acabou de vez, pra sempre... -- fechou os olhos -- Dói tanto... -- derramou uma lágrima

 

 

 

--Ah, minha menina... -- acariciava as costas dela -- Esquece aquele bisco... Já foi tarde!

 

 

 

--E agora? -- um dos câmeras perguntou sem saber o que fazer -- Demos viagem perdida!

 

 

 

--Não mesmo! -- o repórter respondeu de imediato -- Vai aí que eu começo falando! -- pediu ao se posicionar perto dos manifestantes -- A maior crise de Terra de Santa Cruz dos últimos 11 anos fez com que os moradores do bairro de Grande Leopoldina organizassem um protesto no meio da rua, -- o repórter mentia descaradamente -- exigindo o impeachment da Presidenta Vilma Youssef!

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- gritavam e batiam panelas

 

 

 

--É a classe média batendo panelas contra a corrupção desenfreada que se vê nesse país! -- o repórter continuava -- As pessoas exigem a renúncia imediata da Presidenta!

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!!

 

 

 

--Mas que negócio é esse? -- Clarice chegava em casa e não entendia coisa alguma -- Gente batendo panela, repórteres, mamãe abraçada com Raquel na porta... -- aproximava-se receosa -- E que cheiro horrível é esse? -- sentia um odor desagradável

 

 

 

--Perfeito! -- um dos câmeras man finalizou

 

 

 

--Agora vamos entrevistar aquela ali! -- o repórter decidiu apontando para Clarice -- Chegou, tá perdida e vai querer aparecer pra ganhar seus cinco minutos de fama! -- sorriu -- Vem comigo! -- chamou os colegas

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- continuavam protestando e tirando foto com os celulares

 

 

 

--Fora, quem, gente? -- a professora entendia nada

 

 

 

--Vai passar, menina! -- Leda segurava o rosto de Raquel com carinho -- Acabou! Esquece aquele homem, porque ele é mesmo muito pouco pra você! -- aconselhou

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!!

 

 

 

--Senhora! -- o repórter se aproximou de paleoceanógrafa -- Qual o seu nome e profissão, por favor?

 

 

 

--Clarice Verrier, professora universitária. -- respondeu desconfiada -- Será que alguém pode me dizer o quê que tá acontecendo aqui? -- continuava perdida

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- e tome de bater panela

 

 

 

--O que acontece, é que é cada vez mais nítido o descontentamento da população com a Presidenta Vilma Youssef e esse protesto aqui na rua, -- apontava -- é uma prova de que todos querem dar um basta na corrupção. -- olhava para ela -- O esquema de poder montado por este Governo para se perpetuar na presidência está simplesmente desmoronando com o país. A população se revolta e exige a renúncia de Vilma Yossef. O que a senhora tem a dizer sobre isso? -- aguardou a resposta com o microfone na direção da mulher

 

 

 

--O que eu tenho a dizer, -- olhava para as câmeras -- é que, de fato, ninguém aguenta mais essa corrupção e nem esse mundo de mentiras que diariamente são veiculadas em todos os noticiários desse país! -- falava com desenvoltura -- Não aguentamos mais essa mídia desonesta, sonegadora de impostos, que deturpa as notícias e demite os repórteres que ousam fazer de sua profissão uma atividade ética! Não aguentamos mais esse reinado monopolista da Rede Mundo, que há décadas montou um esquema pra se perpetuar no poder, servindo fielmente aos interesses das grandes corporações internacionais, sem pensar nem um pouco no povo de nosso país!

 

 

 

--Corta, corta! -- o repórter pediu para os colegas

 

 

 

--Fora, vocês! -- Clarice afirmou com firmeza -- FORA MÍDIA GOLPISTA! -- gritou

 

 

 

--Ih! -- Leda ouviu o grito e olhou para Raquel -- Olha sua irmã infernizando a TV Mundo! -- constatou animada -- Vem comigo, -- segurou a filha pelo pulso -- vamos lá fazer miséria! -- seguia em direção à equipe de TV -- Solta a fúria reprimida num grito medonho e vamos botar essas pestes pra correr daqui! -- queria expulsar a imprensa -- FORA MÍDIA GOLPISTA! -- gritou

 

 

 

--Mamãe... -- acabou rindo

 

 

 

--FORA MÍDIA GOLPISTA! -- Clarice gritou de novo

 

 

 

--FORA MÍDIA GOLPISTA! -- um homem gritou também -- Deixa eu tirar minha selfie fazendo sinal feio pra TV Mundo! -- preparou-se

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!! -- o povo seguia para perto da equipe de rua gritando e batendo panelas

 

 

 

--Vamos embora! -- o repórter ordenou para os colegas -- Desmobiliza e vaza! -- estava com medo de apanhar

 

 

 

--FORA, FORA, FORA!!!

 

 

 

--FORA, MÍDIA PODRE, MENTIROSA, TENDENCIOSA, GOLPISTA!!! -- Clarice gritava -- FORA!!!

 

 

 

--FORA, BANDO DE MENTIROSO!! -- Leda gritava

 

 

 

--FORAAAA!!!!!! -- Raquel bradou com fome de vingança

 

 

 

A equipe de jornalismo saiu quase voando da rua de Leda. Horas mais tarde, o SSTV exibia as imagens de um pretenso protesto a favor do impeachment da Presidenta, ocorrido nas ruas de um grande bairro de São Sebastião. Enquanto isso, alguns dos manifestantes postaram no LivrodasFuça os vídeos que gravaram, só que não com o mesmo poder de abrangência da mídia farsante.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 160 - Gália, Suriyyah e Um Rio Que Virou Lama

 

 

 

Aisha e Jamila conversavam no LivrodasFuça. Após alguns cumprimentos iniciais, falavam sobre o desejo de Najla em transformar a fazenda em abrigo para os refugiados.

 

 

 

Beryta: Eu já tô com as ideias prontas na cabeça, viu, fi? Meu plano é têúdêô: TU-DÔ!

 

Beryta: Achei um vídeo na internet com umas criancinhas de Suriyyah cantando sobre as desgraças da guerra e fiz uma gambiarra. Vou jogar isso na rede e pedir ajuda pro povo contribuir com doações pra fazenda. Aí a gente paga o que deve e lota aquilo lá de gente da terrinha! :P

 

Jamila: kkkkkk

 

Jamila: Como assim achou um vídeo e fez uma gambiarra?

 

Beryta: Seguinte

 

Beryta: primeiro pedi pra mamii traduzir e coloquei legenda, né? Senão ninguém dava conta. Nem eu!

 

Jamila: kkkkk

 

Beryta: E depois que as crianças terminam de cantar, aparece o meu carão lá, linda e formosa, pedindo um dinheirinho pra pagar o que a gente deve

 

Beryta: E você não sabe... os juros correm que é uma praga!

 

Beryta: Fomos abater a dívida com o dinheiro que juntamos e ainda devemos cento e oitenta e poucos mil reales

 

Jamila: Eu sei como é

 

Jamila: Tipo um taxímetro que não pára. E houve também uns acréscimos em termos de imposto... Fiquei sabendo...

 

Beryta: Pois é

 

Beryta: O frenesi do vídeo da luta de Marco já passou. Ninguém mais tá contribuindo

 

Beryta: Tem que se reinventar, né, amiga?

 

Jamila: Tá certa... kkkkk

 

Jamila: Pode deixar que eu vou ajudar vocês buscando contatos com o Governo e em Suriyyah

 

Jamila: Eu achei linda a iniciativa de ya Najla, não poderia deixar de ajudar

 

Jamila: Mas me responda

 

Jamila: Vocês vão viver de que na fazenda?

 

Beryta: Ah, minha filha, todo mundo vai trabalhar! Seja plantando, seja cuidando de animais ou sei lá como

 

Beryta: Quando mamii quer, ela sabe muito bem colocar todo mundo na labuta!

 

Beryta: Senão vai pro tronco! kkkkkkkkkk

 

Jamila: kkkkkk

 

Beryta: Mas me diz aí

 

Beryta: Depois de um ano fora, imagino que você deva tá louca com os trem pra resolver

 

Beryta: Não vou ficar te alugando aqui, só que deixa eu te perguntar

 

Beryta: E a sensação de voltar pra casa?

 

Jamila: MARAVILHOSAAAAA!!!!!!!!!!

 

Beryta: kkkkk

 

Jamila: E voltei em boa hora, visse?

 

Jamila: Depois daqueles atentados na Gália, a neura com terrorismo em Godwetrust deve estar insuportável!

 

Beryta: Deus me livre!!!

 

Jamila: Horrível aquilo que aconteceu lá, eu sinto muito mesmo por cada vida interrompida, mas os oportunistas de plantão vão aproveitar o episódio pra justificar suas atrocidades bélicas no Oriente!

 

Beryta: Pois é! Exatamente como os oportunistas daqui tão aproveitando a desgraça alheia pra esconder o terrível acidente da Samico

 

Beryta: E o rio Foice que virou um mar de lama... :(

 

Beryta: Foi-se mesmo!

 

Jamila: Ai, aquilo também foi uma tristeza...

 

Jamila: É um descaramento da porr* nesse país!

 

Beryta: Sabe o que de verdade também me incomoda?

 

Beryta: É que esse LivrodasFuça bota bandeira da Gália pra gente se solidarizar

 

Beryta: Até aí, beleza! Mas por que não bota bandeira de Suriyyah, da Babilônia, do Afganistain, dos países em guerra no Continente Negro?

 

Beryta: Por que a dor é mais forte em Urubba do que nos outros continentes?

 

Jamila: Escrevi exatamente isso no artigo que publiquei ontem!

 

Jamila: A solidariedade do LivrodasFuça é só pra um lado

 

Jamila: Como se a Gália não bombardeasse Suriyyah e isso não matasse ninguém

 

Jamila: A droga é que quem paga o pato é sempre o povo!

 

Beryta: E enquanto isso, os nossos aqui soterrados na lama...

 

Jamila: Pois é! Tristeza horrível...

 

Jamila: Também lembrei logo de Zinara e do apelo que ela sempre faz pela causa das águas...

 

Beryta: Aquelas águas são mortas, habibi... a verdade agora é essa...

 

Jamila: Olhe, eu adoro conversar contigo, mas a vida tá louca mesmo!

 

Jamila: E tô planejando me mudar, aquela correria pra organizar tudo, sabe como?

 

Beryta: Ih, vai se mudar, que chique! Depois me convida pro open house, viu, fi?

 

Jamila: kkkkk

 

Beryta: Eu agradeço pela sua boa vontade de sempre! :)

 

Beryta: Vai lá, amiga! Beijão!

 

Beryta: Macasalaama!

 

Beryta: Eu sei dizer ‘até logo’ na língua da terrinha, tá pensando o que? ;)

 

Jamila: kkkkkk

 

Jamila: Macasalaama, ya habibi!

 

 

 

A advogada saiu do computador e ficou pensando em voz alta: -- Se conseguisse aprovar aquele recurso de Zinara contestando a decisão do Governo de Suriyyah... -- caminhava em círculos pelo apartamento -- Acionei meio mundo quando tava em Godwetrust e até agora nada! -- passou a mão nos cabelos -- Se esse dinheiro viesse, dava pra resolver tudo... -- não sabia o que fazer -- Ah! Deixa eu cuidar de minha vida que já tem muito pra uma Jamila só fazer! -- decidiu -- Illi maktuub a’al-gibiin laazim tsuufu I-a’ein. (Todos encontram inevitavelmente seu destino.) -- repetiu um provérbio de Cedro -- O que tiver de ser, será! -- olhou para cima -- Submeto à avaliação de Vossa Excelência, Meretíssima, e nestes termos peço deferimento! -- benzeu-se a sua maneira

 

 

 

***

 

 

 

Cecília assistia emocionada a uma reportagem na TV.

 

 

 

--Oxe, minha delícia, que carinha é essa? -- beijou-a -- Quê que você tá vendo aí que te deixou nesse aperreio? -- sentou-se no sofá do lado dela

 

 

 

--Ai, Mastô, é esse maldito acidente na barragem da Samico! -- apontou para a tela da TV -- Tanta gente que morreu, tanta gente desabrigada... -- olhava para ele -- E um rio inteiro contaminado... -- lamentou

 

 

 

--Tristeza isso! -- olhou consternado para a TV -- Espia que lamaçal! -- ficou pasmo

 

 

 

--Eu amava o rio Foice, sabe? E amava a cidade de Fabiana... -- olhou para a tela também -- Quando tava na faculdade, uma grande amiga minha morava em Fabiana e vira e mexe eu ia pra lá com ela. -- lembrava -- A gente ia numas festinhas em Doiro Negro, curtia todas e no final sempre parava no sítio de uma tia dela pra tomar banho no rio... -- suspirou -- São lembranças muito queridas que esse lamaçal da Samico soterrou! -- falou de cara feia -- "E quanto homem a gente pegou nas festas de Doiro Negro! Ô, coisa boa...” -- pensou rememorando

 

 

 

Não gostou de imaginar Cecília nas festas de Doiro Negro. -- Mulher, o mundo já tem notícia ruim o suficiente, não sabe? -- pegou o controle e desligou a TV -- Deixe essas fuleiragem pra lá porque a gente não tem como fazer nada pra resolver. -- virou-se de lado e olhou para ela sorrindo -- Vamos falar de nós, de nossa vida! -- beijou-a -- E planos pro futuro! -- beijou-a de novo

 

 

 

A mulher se aproximou mais do marido e envolveu o pescoço dele com os braços. -- E o que o meu Mastô tá planejando pro nosso futuro, hein? -- beijou-o sensualmente

 

 

 

--É... -- acariciava o rosto dela -- Eu tava pensando da gente já se planejar pra tê uns menino, não sabe? -- falava com jeito -- Sempre tive vontade de ser pai... -- olhava para ela -- A gente podia ver isso pro ano que vem... -- propôs

 

 

 

Cecília ficou sem graça ao ouvir aquilo e se afastou do marido meio constrangida. -- Filhos? -- levantou-se -- Eu não sabia que você... -- evitava encará-lo -- já tava pensando nisso...

 

 

 

“Será que ela não gosta de criança?” -- pensou receoso -- É que... eu não sou tão moço... -- ajeitou-se no sofá -- A gente é um casal de quarentão, né? -- afirmou com jeito

 

 

 

“Ai, meu Deus, como que eu falo?” -- não sabia por onde começar -- Pois é, amor... -- andava em círculos -- A gente não tinha conversado sobre isso e daí eu não te falei... -- parou de andar e ficou de costas para ele -- Eu não posso ter filhos! -- fechou olhos temendo o pior

 

 

 

Levou um susto. -- Não? -- perguntou decepcionado

 

 

 

--Entrei na menopausa aos trinta... -- abriu os olhos mas continuava de costas -- Fui a única da família a passar por isso tão cedo, embora sempre tivesse me cuidado... - - pausou brevemente -- É por isso que tomo todo dia aquelas pílulas que você vê e pensa que são vitaminas. -- explicava -- Reposição hormonal...

 

 

 

--Mas você tem vontade de ser mãe? -- queria saber

 

 

 

--Eu evitava pensar nisso, mas depois de você... eu tenho. -- respondeu com sinceridade

 

 

 

Percebeu o constrangimento dela e se levantou para abraçá-la. -- Ei, não fique assim, não! -- sussurrou com carinho -- Filho não precisa ter o sangue da gente. -- beijou-lhe o rosto -- Tem tanta criancinha por aí querendo um lar...

 

 

 

Virou-se de frente para ele. -- Você não se incomodaria de adotar? -- sorriu -- Não vai ficar frustrado por não ter um filho que seja sangue do seu sangue?

 

 

 

--Quem tem uma boniteza de mulher que nem você, linda, cheia de vida e fogosa, -- falava cheio de assanhamento -- não fica frustrado com nada, visse?

 

 

 

--Ai, meu cabra da peste tamanho GGG! -- pulou no colo dele e enroscou as pernas em sua cintura -- Só mesmo um homem muito macho como você pra tomar uma decisão dessas sem pensar duas vezes! -- beijou-o empolgada

 

 

 

--Ô, minha gostosa, você me deixa doido quando me beija assim! -- mordeu-lhe o lábio inferior

 

 

 

--E vou deixar ainda mais doido! -- beijou-o com paixão

 

 

 

***

 

 

 

--Selima, por favor, não faça isso! -- Raja pedia com grande preocupação -- Continue trabalhando aqui comigo, min fadlik (por favor), não volte agora para uma nova encarnação! -- tentava convencê-la -- A vida em Cedro e Suriyyah nunca esteve tão difícil! -- sentia medo por ela -- Oh, osforata kalbi, naysaee... (Oh, pássaro do meu coração...) não voe para longe mais uma vez... -- quase implorava

 

 

 

--Raja, ya habibi, asharo bel khawf men al majhoon, fa awini… (Raja, meu querido, eu tremo ante o desconhecido, então ampare-me...) Não me peça para ficar, mas esteja comigo em seus pensamentos e orações. -- olhava para ele -- É assustador voltar, eu sei, mas você ouviu o que os Espíritos Superiores disseram na última grande reunião. -- falava com carinho -- O planeta Água se encontra há anos em um sofrido processo de transição e os equivocados irmãos dedicados ao Mal estão extremamente fortalecidos por causa da onda de pessimismo, revolta e vícios escravizadores que se avoluma ao redor da psicosfera do orbe. -- explicava -- O tempo se esgota e poucos encarnados estão de fato dedicados à regeneração interior e à mudança do padrão mental. -- pausou brevemente -- É por isso que a situação tem se tornado cada vez mais crítica e que muitos serão arrastados para fora do planeta quando este se transformar em um mundo regenerado.

 

 

 

--E pior ficará, ya habibi! -- temia por ela -- A grande guerra entre os hemisférios se aproxima! -- anunciava consciente -- E os cataclismos naturais, a fome, a falta de água... -- segurou o rosto dela -- Você sofreu tanto em sua vida passada... aquela doença terrível, maraD as-saraTaan (câncer)...

 

 

 

--Que muito me ensinou, pois eu era vaidosa e arrogante demais. -- admitiu humildemente -- Oh, meu Raja, você quer proteger a todos de usritina (nossa família), e isso é lindo, mas não pode viver acreditando que tomará o sofrimento de seus amados para si. -- segurou o rosto dele também -- Temos muitos débitos a serem saldados e todo um caminho a ser percorrido sob as bênçãos do Rabi! Se temos tempo para mais uma encarnação, que seja aproveitado!

 

 

 

--Oh, Aba... (Meu Pai...) -- desvencilhou-se dela com cuidado -- Eu me preocupo, Selima, não consigo evitar... -- afastou-se -- Não consegui protege-los como deveria em minha vida passada e isso me angustia demais... -- pausou brevemente -- Vi você morrendo de uma doença contra a qual eu nada podia fazer, vi meus filhos, noras e netos perecendo ante uma guerra que a nada poupava... -- emocionou-se -- Oh, a’akli a’aar... (Oh, minha alma se envergonha...)

 

 

 

--Laa, habibi... (Não, querido...) -- tocou suavemente as costas dele -- Não imponha sobre si uma cruz tão pesada. -- pediu com amor -- Você fez o que poderia e fez muito, esteja certo! -- acariciava os ombros dele -- Já é hora de deixar passar. -- aconselhou -- Não quero mais ter que lhe esconder a verdade, como foi necessário fazer para que Amin pudesse voltar.

 

 

 

--E quando eu soube, ele já estava encarnado há cinco anos pelo tempo do planeta Água... -- lamentou ao se virar de frente para ela -- Em nosso tempo aqui na espiritualidade, eu sequer pude notar. Pensava que ainda se encontrava em tratamento... -- suspirou -- Fosse como fosse, a verdade me foi escondida para me poupar e eu não gostei disso...

 

 

 

--Agora não cabe mais esse tipo de cuidado para não desesperá-lo. -- olhava nos olhos -- Chede, Ibrahim, Sanya, Adel, Khaled, Farida e eu refletimos bastante e iremos retornar à carne, à exemplo de Zahirah, cujo períspirito já começa a ser preparado para assumir as dimensões de um pequeno óvulo fecundado.

 

 

 

Respirou fundo sem nada responder.

 

 

 

--Você sabe qual será o papel de Suriyyah e de Cedro nesta terrível guerra que se aproxima. E conhece o destino de Terra de Santa Cruz como coração do mundo e pátria do Evangelho, após os grandes estertores da corrupção viciosa. -- ela continuava -- Nós trabalharemos, junto com os membros de usritina (nossa família) que estão encarnados, como os agentes a unir estes países que sempre foram interligados! -- sorriu com ternura -- Sabe que fomos os senhores do Mar do Meio da Terra, mais tarde renascendo como navegadores no país que oficialmente descobriu Terra de Santa Cruz. E sabe que Terra de Santa Cruz é a pátria que mais abriga filhos de Cedro fora de Cedro. -- segurou as duas mãos dele -- Não deveria buscar evitar o sofrimento que nos aguarda, mas sentir felicidade pela missão que nos dispomos a empreender! -- queria novamente tranquilizá-lo -- Preciso de sua força, não de seus receios...

 

 

 

--Qual será o clã a lhe receber? -- perguntou interessado e tenso -- O mesmo de Zahirah?

 

 

 

--O clã no qual nosso Amin reencarnou. -- respondeu -- O clã de Zahirah será outro, porém se ligará ao nosso de uma forma ou de outra -- confidenciava seu planejamento -- Agora que nossa Najla sabe qual o papel que lhe cabe desempenhar, será através dela que chegaremos aos braços da Mãe Gentil do planeta.

 

 

 

--E os demais? -- perguntou preocupado

 

 

 

--Todos em Terra de Santa Cruz. -- respondeu de pronto -- E igualmente ligados a usritina por diversos caminhos... -- desvencilhou-se do homem e caminhou um pouco para longe

 

 

 

--Você tem certeza de que deseja realmente fazer isso? -- insistiu -- Vocês têm certeza, todos vocês?

 

 

 

Mirava um ponto perdido no horizonte. -- Ana akdamo azimaton lil hozn... (Eu sou a mais antiga cidade da tristeza...) -- começou a cantar uma melodia de Cedro -- We jorhi nakshon faroni... (E minhas feridas são tão profundas quanto hieróglifos...) -- virou-se de frente para ele -- Wajai antakto, kasarbi hamamin men Cedro illal al Terra de Santa Cruz... (Minha dor se espalhou, como um bando de pombas, desde Cedro até a Terra de Santa Cruz...) -- derramou uma lágrima sentida -- Enquanto esta canção expressar os sentimentos de meu povo, haverá uma certeza inabalável em nossos corações! -- respondeu resoluta

 

 

 

Raja sentiu-se arrepiar. -- Eu também irei! -- decidiu de pronto

 

 

 

--Choo? (O que?) -- sorriu surpreendida

 

 

 

--Quero reencarnar em Suriyyah, junto com você e Amin e Zahirah! -- afirmou resoluto -- E dessa vez irei defendê-los de uma forma que ninguém lhes tirará um fio de cabelo sequer! -- jurou -- Em Terra de Santa Cruz, os demais estarão seguros, mas em Suriyyah, vocês terão minha vida para livrá-los do pior, sob as bênçãos de Allah! -- falava com muito sentimento -- Wallahi! (Eu juro!)

 

 

 

--Oh, habibi... -- sentiu-se tocada

 

 

 

--Hobiki kharitati, madat kharitatol alam tanini! (Seu amor é meu guia, minha diretriz, o mapa do mundo não mais me interessa!) -- declarou -- Estarei junto a você, onde quer que vá! -- prometeu

 

 

 

Selima abraçou seu grande amor com emoção inexplicável.

 

 

 

(Nota da autora: muitos são os caminhos que ligam Cedro e Terra de Santa Cruz)

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 161 – E Tome de Crise em Terra de Santa Cruz

 

 

 

--Zinara, mulher, eu já não sei o que fazer! -- Werneck reclamava contrariado -- Eu pensei que o pior corte de verba do ano já tivesse acontecido, mas não! -- olhava para ela -- Corte de verba foi é agora, que a coisa desembestou-se! Tô me sentindo quase igual na década de 90! -- gesticulava nervosamente -- Depois que eu fiz o planejamento todinho, veio o Governo e cortou mais um tanto! Pense numa desgraceira dessa!

 

 

 

--Ana a’arfa! (Eu sei!) Tenho três alunos cujas bolsas correm perigo! -- comentou -- Não sei o que fazer pra mantê-los... -- estava chateada -- Já me bastou a tristeza de ver os bichinhos de Maurítia indo embora...

 

 

 

--Por toda parte só se fala em crise, -- levantou-se da cadeira -- mas fui no cinema ontem à noite e a fila arrodeava da porta pra fora, acredita? -- cruzou os braços -- Até pra estacionar o carro foi uma danação!

 

 

 

--Claro que acredito, eu vejo isso! -- cruzou as pernas -- Essa crise é um misto de tudo: -- começou a enumerar nos dedos -- do contexto internacional e mais o golpe da derrubada dos preços do petróleo, do modo como a Operação Caça Rato vem sendo conduzida, dessa roubalheira de sempre e da disputa pelo poder dentro do Governo, o que, dentre outras coisas, fez a cotação do reale cair! -- olhava para o amigo -- Além de uma boa pitada de pouca vergonha, mentira e alarmismo pela parte podre da imprensa, é claro!

 

 

 

Sentou-se na pontinha da mesa. -- No meio dessa zorra toda, só fico feliz mesmo em ver os alunos de Paulicéia ocupando as escolas e lutando contra a ideia de jerico do governador de lá! -- comentava satisfeito -- Onde já se viu, fechar as escolas, segmentar os alunos e demitir os professores?

 

 

 

A morena sorriu. -- Giddu Raja dizia pra mim, pensando nas gerações mais jovens: ana acdam sharegh feeki w entilik melli baleki (eu sou sua estrada mais antiga e você minha maior esperança)! -- lembrava do avô -- Tenho muito orgulho desses estudantes, dessa nova geração de lutadores que vêm por aí! Eles estão sendo organizados, inteligentes, sérios e já contam com a ajuda de várias pessoas, como seus familiares, voluntários, advogados ativistas, repórteres corretos e artistas! A internet tem divulgado tudo que tá acontecendo, de modo que até a TV Mundo tá sendo forçada a noticiar! -- sorria -- Anote aí, Werneck, eles vão ganhar essa luta! -- apostava -- Quando o povo se mobiliza de verdade, mesmo os mais poderosos são obrigados a retroceder!

 

(Nota da autora: E os estudantes ganharam! Leia mais sobre o movimento em http://resistir.info/brasil/levante_secundaristas_12jan16.html. Alegria de qualquer professor!)

 

 

 

--Queria ver o povo desse nosso estado aqui fazendo coisa parecida, pra ver se a gente deixava de ser uma terra de coroné! -- afirmou contrariado

 

 

 

--E eu também queria muito ver uma mobilização dessas acontecendo em Guaiás, onde o governador tá fazendo a mesma pouca vergonha com as escolas! -- desejou -- Mas aquele estado ainda é muito dominado pelos “fazendeiros” -- fez aspas com os dedos -- de sempre! -- suspirou -- Temos um longo caminho, sadikii (meu amigo)... -- bateu uma palma -- Simbora trabalhar que é o melhor que a gente faz! -- convocou

 

 

 

--Simbora! -- movimentou-se para isso

 

 

 

--Gente, mas que bafafá é esse aqui? -- Cátia estranhava um grupinho de rapazes empoleirados no corredor -- Posso saber o que é isso? -- abordou os jovens repentinamente -- Tão aqui nesse amontoado fazendo o que, hein? -- queria saber

 

 

 

--Professora?! -- um deles ficou sem graça

 

 

 

--A gente tá aqui... -- outro não sabia o que dizer -- Admirando a fé da nossa colega... -- sorriu sem graça

 

 

 

--Vanessa tem orado pra Allah por causa da crise... -- mais um rapaz tentava se justificar

 

 

 

A loura olhou na direção em que eles olhavam e surpreendeu-se com Vanessa ajoelhada com a testa no chão, fazendo preces a Allah. “Ô, meu Pai, olha que bunda imensa estufada pra cima!” -- pensou abestalhada -- "Com toda burca, não tem como não perceber a abundância dessa fé...” -- chacoalhou a cabeça para se concentrar -- Eu sei bem a fé que vocês tão admirando! -- olhou para eles com seriedade -- Circulando, gente, vão cuidar da vida que vocês tão devendo um monte de tarefas, pelo menos pra mim! -- enxotou os rapazes que se dispersaram contrariados

 

 

 

A jovem continuava em seus movimentos de erguer o tronco e levar a testa até o chão. A geofísica gastou uns segundos contemplando a fé que abundava naquele peito.

 

 

 

--Quanta fé... -- a professora falava consigo mesma -- Vai rezando aí, minha filha, reza pra crise acabar... -- admirava a cena -- "Jamila que me perdoe, mas olhar não tira pedaço, tira?” -- pensava -- "E se tirasse ainda sobrava um tanto...” -- balançou a cabeça pensativa -- Ô abundância... -- suspirou

 

 

 

Clarice abordou Magali com o celular na mão. -- Amiga, será que dá pra você traduzir isso aqui? -- mostrou a tela para a outra -- Li e não decifrei nada! -- queria entender

 

 

 

--BT. Qria t vr no alm. FDA em 4. -- leu em voz alta -- Ih, mas você anda lesadinha, hein? -- provocou -- Isso quer dizer: Boa tarde. Queria te ver durante o almoço. Final de ano em quatro. -- traduziu -- É pra gente tricotar mais sobre nosso réveillon, tolinha! -- piscou divertida

 

 

 

--Ah! -- achou graça -- E desde quando você escreve assim? -- guardou o celular -- Tá parecendo até adolescente de hoje em dia!

 

 

 

--É a crise, amiga! -- justificou-se de brincadeira -- Tô poupando letra!

 

 

 

--Palhaça! -- sorriu bem humorada

 

 

 

--Eu tô achando que nesse ano não vai rolar décimo terceiro... -- Guedes previa preocupado -- O governador já chorou miséria nem sei quantas vezes no jornal e na televisão! -- comentou -- Mais um pouquinho e até eu dava uma esmolinha pra ele! -- afirmou irônico

 

 

 

--Também acho! -- Fabíola concordou de cara feia -- Tenho uma amiga economista que me disse que a Previdência já morreu e não sabe! -- contava para os outros bombeiros -- Faliu!

 

 

 

--Gente, vocês tão por fora! -- Lúcia rebateu -- A crise da Previdência é forjada pelo Governo com apoio da imprensa! -- olhava para os demais -- O que transforma o superávit previdenciário em déficit é uma gigantesca farsa contábil que se faz nesse país não é de hoje! -- revirou os olhos -- Desde a década de 80 rola esse discurso de previdência falida!

 

 

 

--Que é isso, Lúcia? -- Guedes discordou -- Todo mundo sabe que a população envelheceu, além do baque do fim do imposto nos cheques! -- olhava para ela -- Claro que falta dinheiro! -- pausou brevemente -- Mas não tô querendo desculpar a pouca vergonha do nosso governador por causa disso! -- explicou-se

 

 

 

--Falta nada! -- retrucou -- Pra início de conversa, a Previdência é uma das partes que compõem a Seguridade Social. E a Seguridade recebe recursos não só dos trabalhadores ativos, mas de todos os impostos como CONFINS, CSLLL, o imposto nos cheques e mais o que se arrecada nas lotéricas. -- explicou -- E nunca se jogou tanto nesse país!

 

 

 

--Isso é... -- Fabíola considerou

 

 

 

--O problema é que boa parte desse dinheiro é desviado pra cobrir despesas financeiras do governo, como a maldita Dívida Pública! É isso que ferra com a gente! Sem contar a parte que os políticos roubam, né? -- Lúcia continuava -- Aí o governo vem, reverte a situação e diz que é o contrário: que ele é quem cobre o suposto rombo da Previdência! Mas não cobre nada, só tira!

 

 

 

--Da onde você sacou isso? -- Guedes desacreditava -- Daqueles blogues rebeldinhos que têm na internet? Os eternos teoria da conspiração?

 

 

 

--Muitos economistas sérios explicam essa situação. -- respondeu de pronto -- Ontem mesmo li a entrevista de uma economista que fez o doutorado dela nesse tema! Não temos um problema demográfico a enfrentar, mas um problema de política econômica inadequada pra promover o crescimento ou a aceleração do crescimento. -- explicou mais uma vez -- E como eu disse, isso vem desde muito tempo!

 

(Nota da autora: leia a entrevista em http://www.adunicentro.org.br/noticias/ler/1676/em-tese-de-doutorado-pesquisadora-denuncia-a-farsa-da-crise-da-previdencia-social-no-brasil-forjada-pelo-governo-com-apoio-da-imprensa. Para quem se interessar, segue a tese http://www.ie.ufrj.br/images/pesquisa/publicacoes/teses/2006/a_politica_fiscal_e_a_falsa_crise_da_seguraridade_social_brasileira_analise_financeira_do_periodo_1990_2005.pdf)

 

 

 

--Vou te contar, é muita roubalheira... -- Fabíola reclamou -- Só sei que com ou sem rombo, se não rolar décimo terceiro vou ficar na maior pindaíba nesse fim de ano!

 

 

 

--E eu só sei que com ou sem décimo terceiro vou pra Maraguaó e seja lá o que Deus quiser! -- Lúcia gesticulou sorridente -- Nem que tenha que passar até junho comendo arroz puro! -- riu brevemente -- Que se dane!

 

 

 

--Ai, mamãe! -- Clarice pôs a mão no peito -- A senhora não sabe! -- levantou-se do sofá -- O maldito Gerardo Munha aceitou o pedido de impeachment contra a presidenta! -- olhou para a idosa que voltava da cozinha -- E agora? -- teve medo

 

 

 

--Calma, menina! -- respondeu enquanto caminhava -- Ainda tem muita água pra rolar! -- sentou-se no sofá -- E todo mundo tá vendo que esse bicho tem o rabo mais sujo que fiofó de boi!

 

 

 

--Isso é o mais puro golpismo! -- reclamou andando em círculos -- Ele não tem nem condições de fazer isso! -- gesticulava -- Cheio de rabo preso, dinheiro escondido, histórico de propinas... Tá na cara que ele acatou o pedido por vingança!

 

 

 

--Muita coisa ainda vai acontecer e os tais dos delatores da Caça Rato vão entregar mais um monte de safado. -- pegou suas costuras -- Vai por mim! -- garantiu -- Só aquele dos olho torto... -- comentou -- Com um olho no inferno e outro na casa do Diabo, ele deve ter visto é coisa!

 

 

 

Achou graça. -- Só a senhora mesmo pra me fazer rir numa hora dessas... -- sorria para a velhinha

 

 

 

--Avi Maria, qui pidiru o pitchu! -- Dora se alarmou ao ouvir a notícia no rádio -- Oxi, si tirá a prisidenta cumé qui vai sê? -- olhava para os demais -- Aí é qui a tar da crisi vai si daná!

 

 

 

--Nem fali uma disgracêra dessa! -- Penha se benzeu -- Marditu Gerardo Munha! -- praguejou -- Vim cum essa história di pitchu justu nesses tempu di crisi!

 

 

 

--Mais tá im crisi? -- Georgina perguntou sem entender -- "Eu num notu diferença na vida da genti pur causu di que?” -- pensava intrigada

 

 

 

--Essi homi disgracentu aceitô o pitchu foi di vingança! -- Nagibe dizia -- É purquê o nomi deli tá invorvidu im um monti di escândalu, num sabi? -- gesticulava -- Bichu safadu!

 

 

 

--É um safadu, fingidu, falsu homi di riligião! -- Cid protestava -- Vai pidí o pitchu du Bichu Ruim, Gerardo Munha! -- gritou -- Ladrão dus infernu!

 

 

 

--Mais o qui diachu é pitchu afinar?! -- Georgina coçou a cabeça -- Num intendu dessis trem di pulítica!

 

 

 

--Pitchu é quandu qué tirá a prisidenta, muié! -- Catiúcia explicou -- Tumara qui tire! -- deu um soco na mão

 

 

 

--Tumara! -- Ahmed concordou

 

 

 

Estavam na sala da casa de Amina e Raed. As crianças brincavam do lado de fora sob os olhos dos avós.

 

 

 

--Sempri ocês... -- Dora fez cara feia -- Qué pitchu pra quê? -- cruzou os braços desaforada -- Pru safadu du Décio entrá?

 

 

 

--Tumara qui entri! -- Catiúcia desejou

 

 

 

--Deus qui mi livri! -- Georgina se benzeu -- Meu fio mi diz qui essi homi é um dus mais pilantra qui há!

 

 

 

--Vilma também é! -- Ahmed replicou -- E eu queru pitchu sim! -- gesticulou -- Eu queru é pitchu! -- gritou -- E um pitchu bem grandi pra tirá elis tudu du partidu dela! -- falava alto

 

 

 

--Ih, eu hein, bestagi! -- Cid retrucou

 

 

 

--Pareci inté qui tá malucu! -- Nagibe reparou

 

 

 

--Pois eu queru é pitchu! -- Ahmed continuava aos berros -- Queru pitchu! Pitchu, pitchu, eu queru mais é um bom pitchu dus bem grandi!!! -- clamou gesticulando -- AI!!! -- gritou sentindo dor -- Ai, baba, dêxi di mi batê! -- correu para longe -- Oxi, qui essa cinta dói! -- reclamou

 

 

 

--Pôca vergonha é essa na minha casa, mininu? -- Raed segurava o cinto -- Dispois di andá cum tanta muié pur aí e finarmenti si casá, ocê me enchi a boca pra dizê qui qué um bom dum pitchu grandi?? -- estava horrorizado -- Tá virandu efeminadu, qui trem da pesti é essi??

 

 

 

Os demais acharam graça.

 

 

 

--E ocês ri? -- indignou-se -- Tão tudu muitu muderninhu! -- reclamou

 

 

 

--Num é issu, meu sogru... -- Dora sentia mais vontade de rir

 

 

 

--Baba, óia, o qui eli quis dizê cum essi trem di pitchu é... -- Nagibe tentava explicar

 

 

 

--Eu sei muitu bem o qui é um pitchu, num tem pricisão di falá nada! -- interrompeu com raiva -- E num queru sabê dessas indecença aqui im casa, não, num sabi? -- estava furioso -- Num si tem respeitu pur mais nada, AHHa! Óia as criança nu quintar!

 

 

 

--Achu qui é hora di si mandá... -- Georgina fugiu antes do pior acontecer

 

 

 

--Ocês tudu vão pegandu seus trem e vão simbora! -- Raed ordenou de cara feia -- E num demora muitu, não, qui eu já tô cum vontadi di metê a cinta nus três! -- indicou os filhos -- Indecença! -- saiu da sala

 

 

 

--Tá vendu, Ahmed? -- Penha reclamou -- Sempri ocê pra causá furdunçu!

 

 

 

--Sempri ocê! -- Nagibe resmungou também

 

 

 

--Humpf! -- Ahmed fez cara feia enquanto esfregava a pele dolorida -- Baba num intendi nada, qui coisa!

 

 

 

--Amina, eu tô muitu apoquentadu pur causu di Ahmed, viu? -- abordou a mulher -- Ocê num sabi o qui eu oví agora! -- estava preocupado e triste

 

 

 

--Apoquentadu pur que? O qui ocê oviu? -- desviou a atenção dos netos -- Qui gritaria foi aquela na sala?

 

 

 

--Eu sei lá o qui eles falava, mas oví Ahmed gritandu im artu e bom som qui quiria um... -- olhou para todos os lados e abaixou a voz -- um bom dum pitchu grandi! -- contava

 

 

 

--Oxi?! -- arregalou os olhos -- Justu Ahmed querendu issu?

 

 

 

--E num tem muitu tempu, oví eli dizendu pra sei lá quem nu celulá qui tava querendu... -- novamente abaixou a voz -- O pau du Sélfio! -- cochichou

 

 

 

--Avi Maria!! -- espantou-se novamente -- E quem diachu é esse Sélfio? -- chocou-se

 

 

 

--E eu sei? Já tentei discubri mais num cunsigui! Devi di sê arguém di ôtra cidadi... -- deu um suspiro profundo -- Achu qui dispois di tanta bestagi correndu atrás di muié, nossu fio tá virandu efeminadu, num sabi? -- lamentou com tristeza -- Pur isso qui eu num quiria qui fizesse a tar da zécomia... -- deu um soco na mão -- Fez e agora passô-si o tempu e deu nissu!

 

 

 

--Será?! Comu podi? -- não conseguia acreditar -- "Zinara gosta muié, mais sempri qui gostô... Ahmed era machu e agora tá gostandu di homi...” -- pensava ensimesmada -- "Zinara é sortêra, mais eli é casadu... cumé qui vai ficá issu?” -- coçou a cabeça

 

 

 

--Eu num tô preparadu prum fio efeminadu... -- Raed lamentava -- E meus netu? -- olhava para os filhos de Ahmed brincando -- Cumé quis us bichinhu vai ficá quandu vê o baba delis vistidu di muié?

 

 

 

--Será...? -- Amina continuava besta -- "Zinara e Clarice num si vesti di machu... Janaína vesti...” -- pensava -- "Quar qui vai sê o tipu di Ahmed?” -- não sabia

 

 

 

--Cid, ocê mi iscuti aqui! -- Ahmed segurou o irmão pelo braço -- Trati di ixplicá pru baba agora meis o qui é pitchu e di dizê pra eli qui num sô efeminadu di jeitu manêra! -- ordenou em voz mais baixa -- Eli num vai querê mi oví e ocê tem qui í lá fora modi falá cum eli, num sabi?

 

 

 

--E pur que eu tenhu qui incará a zanga di baba agora só pra sarvá a imagi di tua macheza cum eli? -- desvencilhou-se do irmão -- Ocê num mi dá ordi e di mais a mais é bem feitu pra dexá di desejá o mar da prisidenta!

 

 

 

--Si eu fossi ocê, ia lá agora! -- ameaçou -- Ô intão baba, maama e tua muié vão sabê qui ocê andô si deitandu cum a forastêra! -- Cid ficou visivelmente sem graça -- Ocê achô qui eu num sabia, fi? -- sorriu

 

 

 

“Cumé qui eli sabi? Justu quem foi sabê!”-- teve medo de ser dedurado, mas se manteve firme -- Qué mi intregá, intrega, Ahmed! -- fingiu não se importar -- Baba e maama também vão ficá murdidu quandu sobé qui ocê foi quem pegô o dinhêru du cofrinhu di Hassan. -- Ahmed levou um impacto ao ouvir aquilo -- Ocê achô qui eu num sabia, fi? -- arremedou o irmão e sorriu

 

 

 

“Cumé qui eli sabi?” -- pensou intrigado -- AHHa, mais foi uma emergênça! -- afastou-se perturbado -- E dispois eu devorvi cada centavu. -- não olhava para o irmão -- Devorvi iscundidu, mais devorvi.

 

 

 

--E eu mi arripindi du qui fiz! -- respondeu de imediato -- Num ripitu meu erru nunca mais!

 

 

 

--Cid, simbora antis qui meu sogru vorti aqui módi mandá nóis pra rua! -- Penha chamou -- Pegá Cidmara e vambora!

 

 

 

--Ahmed, simbora, homi! -- Catiúcia chamou também -- Já falei cum us mininu lá fora e elis tá tudu isperandu.

 

 

 

--Intão tá intão, né, homi? -- Cid deu um soco no braço do irmão -- Eu calo minha boca daqui, ocê daí e tá tudu certu! -- olhava para ele -- Quandu a zanga di baba passá, ocê ixplica pra eli qui num é efeminadu! -- achou graça e deu tchauzinho antes de sair

 

 

 

--Diachu! -- Ahmed resmungou sozinho -- Pur essa eu num isperava!

 

 

 

--Essa crise tá uma inferno! -- Julieta entrava como flecha na casa de Zinara -- Crise, dengue, fuzuê e inflação! -- parou no meio da sala da outra -- Os tempos estão chegados! Viu o acidente da Samico? -- gesticulava -- Já diz a Palavra que as águas se transformarão em Absinto! -- profetizava -- Olha o Absinto aí naquele lamaçal!

 

 

 

A astrônoma respirou fundo e respondeu: -- Imagino que ya sayyida (a senhora) entrou na minha casa com essa educação toda pra me dizer que quer aumentar o condomínio. -- deduziu -- Se é isso, pode voltar no mesmo pé. -- apontou a saída -- Bitlimoni leih (Como pode me culpar) por não aceitar suas loucuras? Não dá!

 

 

 

--Mulher, veja essa crise comendo solta nesse país! Não tem jeito, vai ter que aumentar o condomínio! -- bradava em alta voz -- Não tem choro nem vela, vai aumentar e fim! -- gesticulou

 

 

 

--Só se for por cima de meu cadáver! -- a morena retrucou ao encostar a porta -- Vai aumentar nada! Abadan! (Nunca!)

 

 

 

--Zinara, veja a realidade, criatura! A crise é tamanha que até o Povo do Pai sente no bolso! -- foi até a professora e a puxou pelo pulso -- Minha filha, essa crise não escolhe lado! -- sentou-se no sofá -- Sabia que até os feiticeiros tão fazendo despacho com caldo Knor porque falta galinha? A coisa tá braba!

 

 

 

--Faça-me o favor, ya Julieta! -- não se sentou -- Meu voto é contra e já falei que isso é assunto de reunião! -- voltou para perto da porta e a abriu novamente -- Min fadlik (Por favor), se retire! -- pediu sem muita paciência

 

 

 

--Você nunca vai colaborar comigo, né? -- levantou-se e foi até a porta -- Você é a Vilma desse prédio e eu sou Gerarda Munha! -- olhava para a outra de cara feia

 

 

 

Achava aquela senhora totalmente doida. -- É mesmo? -- cruzou os braços -- Então aproveita e pega o seu dinheiro escondido lá fora, ya Gerarda, pra depositar na conta do condomínio! -- falou com sarcasmo -- Assim não precisa aumentar! -- sorriu

 

 

 

Ficou furiosa com a menção à corrupção por parte do homem santo. -- Quando eu aceitar o teu pedido de impeachment, aí você vai chorar! -- saiu pisando duro

 

 

 

Riu sozinha. -- Se a síndica é ela, eu vou levar impeachment como? -- falava sozinha ao fechar a porta -- E essa majnum (louca) ganha todas as eleições nesse condomínio. Ezzai? (Como pode?) -- não entendia -- O povo de Terra de Santa Cruz não sabe votar nem nessas horas!

 

 

 

 

 

CAPÍTULO 162 – Finalmente, o Réveillon

 

 

 

Zinara, Clarice e Lúcia contemplavam a vida submarina mergulhando nas águas de Maraguaó. Após alguns minutos de diversão, retornaram à lancha seguindo as orientações do instrutor.

 

 

 

--Nossa, três sereias de uma vez só! -- Magali brincou -- E aí? O mar tava pra peixe?

 

 

 

--Amor, você perdeu! -- Lúcia respondeu animada -- Vi cada peixinho colorido mais lindo que o outro! Faltou você! -- sorria -- Obrigado! -- agradeceu ao piloto da embarcação por ajudá-la a subir

 

 

 

--Você podia ter ido mesmo, Magali. -- Clarice comentou enquanto subia pela escadinha de corda -- A visibilidade tava maravilhosa!

 

 

 

--Jayed jedan! (Muito bom!) -- Zinara estava animadíssima -- Eu adoro mergulhar! -- sorria -- Experimente um dia, Magali, porque é bem capaz de gostar!

 

 

 

--Não, eu não sou tão aventureira quanto vocês... -- bebeu um gole de seu drinque -- Fiquei aqui tomando um sol, dando uns mergulhinhos e curtindo esse coquetel que tá divino! -- bebeu mais um gole

 

 

 

--Agora podemos voltar pro hotel. -- o instrutor anunciou sorridente -- Venha, Zinara. -- chamou pela morena -- Hora de ir! -- sorriu para ela

 

 

 

--Amor, sai da água! -- Clarice chamou -- Parece até criança, eu hein? -- fingiu que ralhava

 

 

 

A morena subiu no barco rapidamente e começou a se desequipar. -- A’jabani haqqan! (Eu gosto muito!) -- falava empolgada -- Adoro mar e montanha! -- sorria

 

 

 

Em pouco tempo a lancha começou a correr e os dois casais admiravam a paisagem, sentadas lado a lado na embarcação.

 

 

 

--Eu tô adorando esse final de ano! -- Clarice afirmou quase no ouvido da namorada -- Achei o natal na roça uma gracinha, amei o clima como sempre, mas a experiência de viajar assim com você tá sendo o máximo! -- sorria

 

 

 

--Eu também tô amando tudo por demais da conta, Sahar! -- respondeu feliz -- Minha vida tem sido incrivelmente maravilhosa, -- aproximou-se do ouvido dela -- min yom hobo ma lamas albii... (desde o dia em que seu amor tocou meu coração...) -- sussurrou

 

 

 

--Pára de me provocar na lancha, tá, caipira safada? -- retrucou dengosa

 

 

 

--Amor, quando a gente chegar, vamos tomar um banho e fazer uma massagem juntas? -- Lúcia propôs -- Queria ficar bem relaxada pra curtir você essa noite... -- sorria para Magali

 

 

 

--Tudo que você quiser! -- respondeu de pronto -- Não tô acostumada com esse luxo todo, então vamos aproveitar até o fim! -- sorria -- Massagem, banho de lama, drenagem linfática, me chama que eu topo tudo! -- gesticulou

 

 

 

--Tudo, é? -- a bombeira perguntou maliciosa -- Ui!

 

 

 

***

 

 

 

--A massagem foi muito boa, mas tenho que admitir... -- Clarice falava ao entrarem no quarto -- ninguém chega aos pés de uma certa caipira que eu conheço... -- virou-se de frente para a namorada -- Ela tem mãos mágicas! -- envolveu o pescoço da astrônoma com os braços

 

 

 

--E o que você acha de fazermos algumas magias, habibi? -- abraçou-a pela cintura e a beijou -- Tô morrendo de vontade de não sair mais desse quarto só pra ter... -- olhava para a amada -- bousa ala shafayef (beijo nos lábios)! -- beijou-a

 

 

 

“Nunca imaginei que um dia essa minha bousa seria tão requisitada!” -- pensou excitada -- Você não tá com fome, não, amor? -- beijou-a -- Não quer comer nada?

 

 

 

--Então... -- beijou-a com mais vontade

 

 

 

--Hum... -- sorriu melosa -- Comer comida, viu, caipira tarada! -- fez um dengo -- Não finge que entendeu outra coisa, tá? -- beijou-a

 

 

 

--Uai... -- beijou-a mais uma vez -- Se minha Sahar quer comer comida, a gente come comida! -- beijou-a novamente

 

 

 

--Deixa eu trocar de roupa, amor. -- beijou-a mais uma vez e se desvencilhou -- Essa aqui não tá muito legal pra ir jantar. -- caminhou até o closet e o abriu

 

 

 

--Bitichkii min eh? (Qual é o problema?) -- não conseguia ver nada errado na roupa da outra -- Esse vestido meu tá ruim, Sahar? -- olhava para si mesma -- Tá calor e eu gosto dele por ser fresquinho.

 

 

 

--Você tá ótima, querida, essa minha roupa é que tá mixuruca pra ocasião. -- pegou um vestido e foi para o banheiro -- Também vou passar um batom e já fico pronta.

 

 

 

--Macleech (Não se preocupe), não há pressa. -- sentou-se na cama -- Eu não vejo nada de errado na sua roupa, mas wana amil eh (fazer o que)?

 

 

 

--Você nunca vê nada de errado em mim, amor. -- respondeu toda prosa

 

 

 

--Mas não acho erro mesmo... -- abraçou um travesseiro

 

 

 

--Sabe que já me peguei rindo sozinha por lembrar que seus pais acharam que Ahmed tava virando gay? -- falava do banheiro -- Aquela história de querer um bom de um pitchu grande é ótima! -- riu brevemente -- E mais o pau do Sélfio... -- riu de novo

 

 

 

Achou graça também. -- Ai, ai, usritii (minha família) é muito doida! -- sorriu -- O bom é que agora já tá tudo esclarecido e Ahmed recuperou sua fama de macho alfa! -- riu

 

 

 

--Foram as coisas engraçadas desse final de ano, -- continuava falando enquanto se arrumava -- a história de Ahmed, a dieta de Raquel e mamãe e seu novo pretendente.

 

 

 

--Raquel tá de dieta?! -- ficou pasma -- "Comeu um frango inteiro sozinha...” -- pensou descrente -- "E mais a metade do buche de Noel que camma Najla fez!” -- lembrava

 

 

 

--Na cabeça dela, tá, né? -- achava graça -- Embora essa dieta não exista, o que é verdade é que finalmente parece que ela deixou o cigano de lado e tá tocando a vida pra frente. -- pensava na irmã -- Graças a Deus!

 

 

 

--E Getúlio, Sahar? O que se deu dele? -- perguntou curiosa -- Mais uma vez não viajou com vocês, então Raquel e ele não reataram. -- concluiu

 

 

 

--Ele ficou com o pessoal do centro. -- ajeitava o vestido no corpo -- Os dois ainda não voltaram mesmo, mas acho que falta pouco pra isso. Sinceramente tô torcendo.

 

 

 

--Você também torce pra ter um padrasto? -- brincou com ela -- Ya Leda fisgou um novo pretendente ainda mais assanhado que o falecido ya Rafi. -- achou graça -- La mo'axza (Desculpe), mas eu ri muito de vê-la excomungando ya Zeferino! -- lembrou dos episódios e riu sozinha

 

 

 

--Engraçado que parece até uma coisa! Ela não quer e aparece quem queira! -- riu

 

 

 

--Ya Leda é uma gracinha, quem não iria querer? -- lembrava da idosa e achava graça -- E fala cada coisa! É bem amiga de maama! -- riu

 

 

 

--Falando em dona Amina, tô super feliz que ela e seu pai tão romantizando agora. -- maquiava-se em frente ao espelho -- Muito fofo os dois juntinhos naquele clima de lambição! -- riu brevemente

 

 

 

--Já percebi que a senha é cantar a música da Catitta! -- achava graça -- Quando um se levanta e sai cantando, o outro vai atrás! -- riu brevemente -- A gente também devia ter uma música senha, Sahar! -- sugeriu -- camma Najla tem a dela do negão de tirar o chapéu...

 

 

 

--Hum... -- apareceu na porta do banheiro -- Você já cantou mil músicas no meu ouvido, meu bem. Não saberia dizer qual delas eu gosto mais! -- soprou um beijinho e voltou para dentro

 

 

 

--Você gosta? -- levantou-se -- Posso cantar outra pra ver se prefere! -- caminhou até o banheiro -- Enti habib, enti nasibi... (Você é minha querida, você é meu destino...) -- cantava olhando para a amada -- We enti el nour le einaya we albi... (E você é a luz para meus olhos e meu coração...) -- aproximava-se devagar

 

 

 

--Ai, Zinara... -- suspirou melosa -- "Eu não entendo nada, mas a bousa parece que percebe tudo!” -- pensou

 

 

 

--We enti shababi, we enti sahabii… (E você é minha juventude, e você é minha amiga...) -- abraçou-a pela cintura com força, puxando-a de encontro a si

 

 

 

--Ai... -- gem*u

 

 

 

--We howa qaribi wa kol habaybi… (E você é minha família e tudo que eu amo…) -- cantava baixo, sussurrando no ouvido -- Wel nas bey limoni we aamil eih ya albi? (E todo mundo me culpa e o que eu posso fazer, meu coração?) -- mordeu-lhe a orelha devagar

 

 

 

--Ai, amor... -- gem*u excitada -- assim eu não consigo me arrumar... -- sentia os beijos quentes da amante tomando-lhe o pescoço -- Ai...

 

 

 

--Você quer... -- beijou-a -- mesmo... -- beijou-a mais uma vez -- se arrumar agora? -- deslizou uma das mãos pelas costas da paleoceanógrafa -- Quer? -- mordeu-lhe o lábio inferior

 

 

 

--Ai... -- fechou os olhos -- Eu acho que... -- lábios famintos seguiam em busca de um seio -- Ai, não...

 

 

 

--Não, o que? -- perguntou antes de mordiscar um mamilo que pedia por atenção

 

 

 

--Não, eu não quero, ai... -- segurou-a pelos cabelos -- Me leva pra cama! -- pediu

 

 

 

--Alaan! (Agora!) -- levantou-a no colo e seguiu rapidamente para a cama

 

 

 

***

 

 

 

As pessoas aguardavam a queima de fogos nas areias da praia de Maraguaó. Magali e Lúcia bebiam espumante e Clarice e Zinara simplesmente admiravam o céu estrelado de mãos dadas.

 

 

 

--Gente, olha, vou confessar uma coisinha pra vocês. -- Magali dizia sorridente -- Nem que eu passe meses a fio comendo arroz puro e indo a pé pro trabalho, vou continuar achando que valeu a pena cada minuto passado aqui! -- bebeu mais um gole da bebida -- E que pena que a gente vai embora depois de amanhã! Já tava me acostumando com essa vida chique! -- riu de si mesma

 

 

 

--Podemos dizer que aproveitamos de tudo que esse hotel tinha pra oferecer, amor. -- Lúcia respondeu -- E de mais a mais ainda vem por aí uns dias deliciosos em Cidade Restinga na casa de Zinara. -- piscou para a morena -- O convite tá de pé?

 

 

 

--Aywah! (Sim!) -- respondeu de pronto -- Meu apartamento não tem glamour mas tá preparado pra recebê-las! -- garantiu -- A cidade e seus arredores têm um bocado de praia linda, boa comida e gente simpática! Vocês vão gostar, tenho certeza!

 

 

 

--Eu também tenho toda certeza! -- Clarice concordava -- Com você, qualquer lugar vira um paraíso... -- abraçou a namorada pela cintura -- E se o lugar já é o paraíso, dizer o que? -- beijou o rosto dela

 

 

 

--E quando tudo terminar, já vamos juntando dinheiro pro próximo réveillon, viu? -- Magali recomendou -- Quando 2017 chegar, nem sei em que parte do mundo quero estar! -- puxou a bombeira pela cintura -- Desde que tenha quem apague meu fogo... -- sorria para a esposa

 

 

 

--Esse seu fogo é inapagável! -- beijou-a

 

 

 

Zinara e Clarice ficaram surpresas com a coragem das amigas em se beijar na frente daquela gente toda, mas nada disseram.

 

 

 

--Falta um minuto! -- a caipira olhou para o relógio -- Já fez seu pedido de ano bom? -- beijou a testa da amada

 

 

 

--Estou abraçada com meu pedido... -- brincou

 

 

 

--Gente, vamos matar uma garrafa de espumante! -- Magali decidiu -- O hotel colocou uma safra inteira à disposição, olha lá! -- apontou para uma mesa cheia de bebidas -- Uma garrafa pra cada duas! -- pausou brevemente -- Ou pra cada uma, se a gente cismar!

 

 

 

--Amor, não exagera, tá? -- Lúcia advertiu -- Por hoje chega de bebida porque não quero carregar esposa bêbada pro quarto! -- ralhou dengosamente -- Parou, tá?

 

 

 

--Ih, vou ter que me embebedar com outra coisa... -- fingiu que pensava -- Que tal... -- aproximou-se do ouvido da outra -- um porre de... eta? -- propôs com malícia

 

 

 

--Aí pode... -- respondeu melosa -- E sem moderação!

 

 

 

--Vamos chegar aos 10 segundos finais! -- Zinara marcava no relógio

 

 

 

--Ai, eu adoro a contagem regressiva! -- Clarice exclamou empolgada -- Dez, nove... -- começou a contar

 

 

 

--Oito, sete, seis, cinco... -- as pessoas na praia contavam em voz alta -- Quatro, três, dois...

 

 

 

--Uuuum!!!!!!!!! -- a astrônoma levantou a namorada no colo

 

 

 

--Zinara, sua doidinha! -- achava graça -- Me bota no chão! -- pediu cheia de dengo

 

 

 

--Feliz ano novo, meu amor!! -- Lúcia pulou no pescoço da esposa, derrubando a taça no chão

 

 

 

--Feliz tudo pra você, meu tesão! -- beijaram-se apaixonadamente

 

 

 

--Haset enni hawana, hayeesh milion sanna… (Eu sinto como se nosso amor, pudesse durar por um milhão de anos...) -- declarava para a amada -- Aqmor alla hawaya, te oul amraki ya einaya! (Eu ordenei para meu amor te dizer que eu sou sua!) -- olhava nos olhos -- We siket el kalaam! (E as palavras se calaram!) -- colocou-a de pé novamente -- Behebbik ya, Sahar! (Eu te amo, Amanhecer!) -- afirmou com intensidade -- A cada ano que passar, a cada dia que vier, meu coração te pertence, meu amor te envolve e minha vida te devota tudo o que de melhor eu poderia dar a uma mulher!

 

 

 

--Ai, Zinara, me beija! -- sem pensar em nada, puxou-a para um beijo apaixonado

 

 

 

“Mais um ano terminava, Kitabii, e outro batia à porta de nossos destinos. Experiências maravilhosas que pude viver e certamente outras tantas ainda por vir. Nada me abalava, não tinha medo das dificuldades que a vida, em seu eterno ciclo de ensinamentos, poderia nos impor. Já passei por muitas coisas que sequer saberia explicar... Você sabe, Kitabii, nós sabemos. Vivi e vivo além dos anos, senti além das palavras, fui intensa em tudo que fiz.

 

 

 

Morri e renasci ao longo desta vida e quando pensei que devolveria o corpo que me serve de morada, amanheci e o sol nunca mais se pôs. Tenho amor, tenho saúde, tenho emprego e um sorriso no rosto. O que mais poderia querer? O que falta? Nada, Kitabii, absolutamente nada! E pensar que um dia duvidei que fosse possível... Oh, Aba, perdoe tamanha cegueira!

 

 

 

Bendito seja Allah! Bendita seja a vida! Bendita seja cada criatura que meu Pai me apresentou neste caminho!

 

 

 

Mais um ano, Kitabii... mais um que recebo como dádiva...

 

 

 

Graças a Deus!”

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Músicas do Capítulo:

Amina Canta:

Adaptada de Zen. Intérprete: Anitta. Compositores: Larissa Machado / Jefferson Junior / Umberto Tavares. In: Zen. Intérprete: Anitta. Warner Music, 2013. 1 CD, faixa 1 (2min45)

 

[a] Na Batida. Intérprete: Anitta. Compositores: Larissa Machado / Jefferson Junior / Umberto Tavares. In: Ritmo Perfeito. Intérprete: Anitta. Warner Music, 2014. 1 CD, faixa 1 (2min43)

 


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Comentários para 39 - O ANO DA CRISE:
PaudaFome
PaudaFome

Em: 11/06/2024

Ri de chorar com Ahmed apanhando por causa de um bão de um pitcho grande kkkkkkkkkk


Solitudine

Solitudine Em: 14/06/2024 Autora da história
Sabe que até a caipira riu na época? kkkk

Beijos,
Sol


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Samirao
Samirao

Em: 14/10/2023

Habitem cadê vc caipiralha???


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Aqui!!!!!!!!!!


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Samirao
Samirao

Em: 14/10/2023

Hoje até bateu saudades do ano da crise


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
A que ponto chegamos! Entendo perfeitamente!


Responder

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Femines666
Femines666

Em: 18/03/2023

E que ano! Pensar que foi daí que tudo começou! Mas você conseguiu trazer beleza até num contexto desse! Maravilhoso! Amo esse diário!


Solitudine

Solitudine Em: 19/03/2023 Autora da história
Obrigada! Tentei porque foi realmente o início do obscurantismo!
Beijos,
Sol


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Seyyed
Seyyed

Em: 26/09/2022

Cararra que viagem no tempo na vida real! EBT é tri super power mega foda!

Amando!!! E que final de capítulos puta merda! Tu é foda!


Resposta do autor:

kkk

Obrigada, querida!

Beijos,

Sol

Responder

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Samirao
Samirao

Em: 22/09/2022

Lacrando huahuahua 


Resposta do autor:

Aposto que esse seu lacrando foi só para fechar com número redondo, como gosta de chamar os múltiplos de cinco. rs

Beijos querida!

Sol

Responder

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Samirao
Samirao

Em: 22/09/2022

Pronto, o derradeiro! Missão cumprida 


Resposta do autor:

E mais um repetidinho.

Responder

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Samirao
Samirao

Em: 22/09/2022

Pronto, o derradeiro! Missão cumprida 


Resposta do autor:

Missão que até agora não compreendi...

Responder

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Gabi2020
Gabi2020

Em: 29/05/2020

Olá Solzinha!

 

                Jamila e Cátia... Duas cafajestes que se encontraram e reencontraram, sei lá essas duas .

 

                Gente que coisa mais moderninha, Raed e Amina namorando ao som de Catita! Aí sim, Raed caprichou na arrumação e na declaração.

 

                Raquel finalmente acordou pra vida  e entendeu que não existe essa de idealizar um relacionamento, ele simplesmente acontece.

                Que sacada da dona Leda, adorei! Kkkkkkkk.....

                Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.... Essa família Verrier Lima é sensacional!

 

                Fantástica a ideia de Najla e Aisha  e com a ajuda da ex chata Jamila, tudo vai se encaminhar bem.

 

                Menopausa aos trinta? Coitada da Cecília... Ainda bem que Adamastor não é do tipo machista e soube compreender a esposa.

 

                “Selima abraçou seu grande amor com emoção inexplicável.” Não vale Sol, sacanagem mulher! Caiu um cisco aqui.

 

                Eita ano difícil, e parece que aquele ano não terminou e as coisas só estão ficando piores.

 

                “Nunca imaginei que um dia essa minha bousa seria tão requisitada!”  Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.... Essa bousa...

 

                Capítulo fofinho, amei!!

 

                Beijos


Resposta do autor:

Bom dia, Gabinha!

Em meio a tanta crise, que começou forjada e agora é real e terrível sob todos os aspectos,muita leveza e lambição para dar um refresco a nossas heroínas e seus amados!

Estou aqui entre uma coisa e outra maquinando o que vem por aí e me sintonizando com o Tao .

Beijos,

Sol

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