E SEGUE 2014...
CAPÍTULO 133 – Conversas Entre Mulheres
--Então você já tá de mala pronta pra ir morar em Cidade Restinga e casar? -- Leda perguntou com as mãos na cintura -- Conheceu o macho outro dia, viveu momentos de resfulengo e acha que encontrou o homem de sua vida?
--Ele não é simplesmente um macho qualquer, mamãe! -- respondeu contrariada -- É o sobrinho da sua amiga dona Ritinha! -- lembrou
--E daí?? -- gesticulou -- Vou te contar, Cecília, você tem titica na cabeça, não é possível! -- balançou a cabeça negativamente -- Será que não vê que tá cedo demais pra tomar uma decisão dessa?
--Ah, mamãe, esperar pra que? -- retrucou -- Encontrei o homem da minha vida, cabra macho da melhor qualidade, vou ficar esperando o que? -- gesticulou -- Ele tá lá, eu tô aqui, então um dos dois tá no lugar errado, né? -- olhava para a idosa
--E você já descobriu que o lugar errado é o seu... -- concluiu
--Ele tem um apartamento legalzinho e eu gostei da cidade! -- respondeu de pronto -- Também tem as suas amigas lá pra me dar um apoio se eu precisar. -- passou a mão nos cabelos -- Eu quero casar, ele também quer, então fechou balão!
--Eu não falo mais nada, menina! -- gesticulou -- Quer ir? Vá! -- afirmou enfática -- Só não larga o emprego, porque depender de macho é roubada, ouve o que eu tô te dizendo! -- advertiu
--Ah, isso não! Pode ficar tranquila. -- garantiu
--Humpf, só quero ver! -- Leda retrucou -- Por causa de um pinto, você chama urubu de meu louro e faz miséria!
Fingiu que não ouviu o comentário. -- Esse casamento é uma coisa que tem ser, mamãe! -- sorriu para a idosa -- Até os Céus tão me ajudando! Vai dar tudo certo!
--Como assim? -- perguntou desconfiada
--Fiquei sabendo que tem um cara de Cidade Restinga querendo vir pra cá e aí tô mexendo meus pauzinhos pra fazer uma permuta com ele! -- contou -- Tô na boca de espera da transferência e só vou embora quando ela sair. -- afirmou enfática -- Diz se não é o pessoal lá de Cima querendo me ajudar? -- perguntou animada
Clarice e Raquel se entreolharam, mas permaneceram caladas. Deodoro dormia no quarto da avó.
--Você é sempre muito cheia de historinha pro meu gosto, menina! -- Leda não levava fé -- Desde adolescente é assim... -- fez um bico -- Só que essa tua adolescência não acaba nunca! -- afirmou enfaticamente
--A senhora pensa que eu não tenho juízo, né, mamãe? -- Cecília cruzou os braços de cara feia -- Eu não sou Raquel e nem Clarice, não! Tenho cabeça! -- apontou para a fronte
--Humpf, olha a audácia do bofe! -- fez cara feia também -- Como assim, “eu sou não sou Raquel”?? -- protestou revoltada -- Vê lá se eu ando batendo cabeça atrás de homem como você tem feito pela vida toda? -- retrucou
--Também não entendi o seu comentário! -- a professora se manifestou insatisfeita
--Vocês são muito marrentas pra cima de mim, mas só metem os pés pelas mãos! -- olhou para as irmãs -- Uma passou anos a fio casada com um malandrão, até que decidiu largar ele de qualquer jeito pra ficar às escondidas com um cafajeste e a outra só vive correndo atrás de uma mulher que mal sabe se vive ou se morre! -- acusou
--Como se você tivesse condição de criticar alguém! -- retrucou -- Mas é melhor ouvir certas idiotices do que ser surda! -- Clarice revirou os olhos -- Isso não merece nem resposta!
--Claro, né, meu bem? -- sorriu para a professora -- Sua vida se resume a seguir a comunidade GLS onde quer que for! Parece até aquelas duas malucas do seriado. -- debochou -- Já pensou em comprar um cajado, uma saia marrom e um top verde pra vestir e sair por aí?
Raquel ficou furiosa. -- Você não tem nada com nossa vida! -- respondeu exaltada -- Cafajestes são esses namorados que você arruma, como aquele que te deixou bêbada e pobre largada em casa, lembra não? Arrumou até caminhão de mudança pra roubar tuas coisas! -- acusou
--Pois é! -- Clarice concordou contrafeita -- Disso ela não lembra!
--Fica na tua, Raquel! -- advertiu -- Teu cigano dos peito cabeludo vai te deixar ch*pando dedo quando estiver de saco cheio de ir pra cama contigo! -- revidou -- Ou você acha que ele quer casar e ter um ciganinho? -- riu debochada -- Espera deitada, meu bem! O que ele queria você já deu! -- fez um gesto -- É só uma questão de tempo!
Sentiu vontade de chorar mas se conteve. -- E quem te garante que teu cabra macho queira casar e ser feliz pra sempre? -- respondeu despeitada -- Ele quer é uma empregada de cama e mesa!
--E teu cigano se contenta só com a cama! -- afirmou sarcástica -- Já pensou em procurar Getúlio prum vale a pena ver de novo? Tem que ser prevenida, dona maripousa apaixonada! -- zombou da outra -- Vai ensaiando o retorno pra não ficar muito tempo chorando pelo pé na bunda que se aproxima!
--Experiência de pé na bunda é coisa que você domina, né, Cecília? -- Clarice comentou acidamente
--Hahaha! -- fingiu que ria -- E você aprende a fazer tricô! -- aconselhou a professora -- Pra esperar pela comunidade GLS que não vai casar contigo é nunca!
Clarice sentiu o sangue ferver. -- Sua, sua... -- estava possessa
--Sua grandessíssima filha da... -- Raquel se exaltou ainda mais
--ÊÊÊPAAA!!!!!!!!!!!!! -- Leda sacou o chinelo e deu uma chinelada em Raquel -- Lembra que a mãe dela também é a tua e a mãe das duas sou eu! -- advertiu a filha -- Praga! -- reclamou
--Bem feito! -- Cecília gostou
--E cala a boca você também, bicha! -- deu duas chineladas -- Tá muito abusadinha depois que arrumou esse macho! -- ralhou -- Fica quieta aí que quem conta com ovo em fiofó de galinha corre o risco de passar vergonha! -- advertiu
--Ai, mamãe, isso dói! -- reclamou esfregando as nádegas
--Zombou de mim, viu? -- Raquel respondeu vingativa -- Pelo menos só levei uma!
--E você fica na tua se não quiser chinelada no rabo também! -- Leda advertiu Clarice com o chinelo na mão
--Eu fui a que menos falou! -- defendeu-se
--A senhora sempre tratando a gente como criança! -- Cecília protestou
--Porque vocês simplesmente esquecem que não são mais crianças! -- jogou o chinelo no chão e calçou -- Se que ir pra Cidade Restinga, vá! -- gesticulou -- Mas não se meta com suas irmãs porque elas não estavam dizendo nada!
--Eu não me meto na vida de ninguém e não admito que se metam na minha! -- a professora afirmou decidida -- Façam o que quiserem, não quero nem saber! -- estava chateada -- Vou pro meu quarto tomar um banho! -- saiu da sala
--A senhora fica me criticando porque vou embora... -- reclamou como criança manhosa -- espera só como não demora muito, Clarice vai pra Cidade Restinga também...
--Humpf! -- Leda fez um bico -- Deixa eu beber meu chá de boldo que é o melhor que eu faço! -- foi andando para a cozinha
--Eu vou acordar meu filho e ir embora. -- Raquel decidiu -- Não tem mais clima pra ficar aqui! -- pegou a bolsa
Cecília ficou olhando para a irmã até que falou antes que ela saísse da sala: -- Fica esperta, meu bem, que vai sobrar pra você! -- advertiu -- É melhor você dar uma passadinha no albergue onde Getúlio tá morando, enquadrar ele e ensaiar um retorno. -- aconselhou -- Senão...
--Senão o que? Como assim, sobrar pra mim? -- olhou para a irmã -- Tá falando de que?
--Assim que sair minha transferência eu vou embora! -- afirmou enfática -- E não demora muito, Clarice pede uma transferência também, arruma os trapinhos dela e vai atrás da comunidade GLS. -- passou a mão nos cabelos -- Você é que vai ficar aí de solteirona pra cuidar de mamãe. -- concluiu -- Vai por mim que teu cigano não tá querendo compromisso!
--Você só fala besteira! -- respondeu contrariada -- Solteirona, eu hein?! -- foi para o quarto acordar o filho
Leda ouviu a conversa das duas e ficou triste ao perceber que suas filhas pareciam vê-la como um fardo. “Se Clarice for mesmo embora, eu tô perdida...” -- pensou preocupada
***
--Ah, minha filha, essa minha vida de casada continua um espetáculo! -- Magali falava animadamente -- Em pouco tempo já conheci praticamente todas as posições tântricas que os orientais levaram séculos pra inventar! -- gesticulou -- E já perdi oito quilos! -- comentou bem humorada -- Tudo por causa da dieta especial que faço com gosto! -- piscou
--Que dieta? -- Clarice não entendeu
--Brusqueta, chuleta, malagueta, porpeta e muito chá de erva lanceta... -- brincou -- Só quero saber do que termina com o sufixo eta! -- deu um tapinha no braço da amiga -- E Lúcia me alimenta direitinho! -- brincou novamente -- Dá-lhe eta! -- riu
--Ai, ai, e eu aqui levando a sério... -- riu também -- Imagino que Lúcia também tenha perdido peso depois de tanta... -- pensava em como dizer -- eta! -- brincou também
--Aquela bombeira é pura energia, meu bem! -- respondeu orgulhosa -- Todo dia ela malha! Aí chega em casa de roupinha colada, suada... -- suspirou -- Pra me aguentar tem que ter resistência, né? -- brincou de novo
--Pois é! -- achava graça -- Que bom que Lúcia tem preparo... -- sorriu
--Só fica ruim quando ela viaja ou tem que fazer curso no Centro da cidade! -- comentou -- Mas, graças a Deus, desde que a gente casou ainda não aconteceu! -- ergueu as mãos para cima rapidamente -- Só quando a gente namorava.
--Ah, mas isso também é gostoso pra dar uma saudade. -- comentou -- Os reencontros são sempre muito bons...
--Mas e você? -- prestava atenção na amiga -- Depois do que me contou deveria estar mais alegre... -- debruçou-se sobre a mesa -- O que é que te angustia dessa vez? -- perguntou curiosa
--Você nunca deixa passar nada... -- sorriu -- Não dá nem pra disfarçar!
--Não é preciso muita sagacidade pra notar que você tá feliz e triste ao mesmo tempo. -- comentou -- Aliás, você vive sempre agoniada... -- balançou a cabeça achando graça -- Ô, mulher complexa!
Ficou uns instantes calada antes de responder. -- Não é questão de viver agoniada ou de ser complexa, é que... eu fico pensando e não sei como vai ser... -- suspirou e olhou para a amiga -- Zinara e eu, sabe? -- silenciou brevemente -- Não me agrada um relacionamento que se passa na maior parte do tempo através do telefone ou da internet. -- desabafou -- E Zinara não me parece que vai se mexer pra mudar isso nem tão cedo...
--O que? -- tentava ver se entendeu -- Já tá pensando em casar? -- estranhou
--Não entendi essa cara de surpresa! -- retrucou -- Você e Lúcia casaram num piscar de olhos!
--Mas é diferente, amiga! -- argumentou -- A gente já morava na mesma cidade, se via sempre... com vocês a coisa é outra! -- gesticulou -- Além do mais, nem Lúcia e nem eu passamos pelo que Zinara passou! -- continuava falando -- Ela precisa de um tempo pra pôr as coisas em ordem, né?
--E ela me pediu esse tempo, mas sei lá... -- ajeitou-se na cadeira e cruzou os braços -- Ela até evita falar sobre o nosso futuro...
--Clarice, pensa com calma. -- pediu -- É fato que Zinara tem que colocar a vida em ordem primeiro, além do mais, pára pra pensar na condição de cada uma. -- olhava para a outra -- Você mora aqui com sua mãe, ralou pra caramba pra conseguir o que conquistou nessa universidade... -- expunha os fatos -- Agora vai fazer o que? Dar uma de Cecília e mudar tudo pra morar com Zinara em Cidade Restinga? E sua mãe, fica com quem? E seu trabalho? -- provocou para fazê-la refletir -- Da mesma forma é Zinara. Tenho certeza que ela batalhou pra cacete pra conquistar um espaço naquela universidade, assim como ralou pra comprar o apartamento onde vive. -- gesticulava -- Você quer o que? Que ela largue tudo e venha pra cá mendigar vaga de trabalho aqui? -- argumentava -- E vai morar aonde? Na sua casa? Ou vai fazer das tripas coração pra comprar ou alugar alguma coisa na cidade? Filha, desde que se fala em Copa e Olimpíadas, os preços dos imóveis em São Sebastião subiram tanto que nem sei!
A paleoceanógrafa apenas ouvia pensativa.
--Tem que pensar com a cabeça e ponderar muito! -- aconselhou -- As duas têm uma vida, um caminho percorrido! Não se joga tudo pro alto assim, sem mais sem menos, pra viver de um amor numa cabana! -- continuava falando -- Se uma das duas abrir mão de tudo de qualquer maneira, lá pelas tantas vai acabar se arrependendo. Aí, minha amiga, no primeiro desentendimento vai ser um tal de jogar na cara da outra... -- revirou os olhos -- É assim que muito casamento vai pro ralo!
--Isso é... -- concordou pensativa -- Verdade... -- debruçou-se sobre a mesa
--Deixe de sofrer por antecedência e curte os momentos presentes! -- segurou as mãos da morena -- Sua caipira voltou sã e salva e mais safada do que nunca... -- Clarice achou graça -- E além de tudo, ficou curada. -- fez um carinho nos dedos dela -- Curte, aproveita e vão resolvendo esses dilemas aos poucos! -- aconselhou -- Enquanto isso, entra na dieta da eta que é um espetáculo! -- brincou e riu
Riu também. -- Você é doida, Magali! -- desvencilhou-se delicadamente e preparou-se para levantar -- Mas vou pensar no que me falou. -- pegou a bolsa e derrubou algo sem perceber -- Mamãe pensa mais ou menos como você -- levantou-se
--Mas é bem por aí mesmo!
--Deixa eu ir que tá quase na hora da minha aula. -- soprou um beijo -- Tchau! -- acenou
--Vai lá. -- deu tchauzinho
Clarice foi embora e Magali ainda gastou uns segundos bebendo um cafezinho. Antes de partir, percebeu que havia um pen drive esquecido sobre a mesa.
--Será que isso é de Clarice ou de outra pessoa que esteve aqui antes da gente? -- perguntou-se curiosa -- Vou levar e ver o que tem dentro. Se descobrir de quem é, devolvo. -- decidiu ao pegar o pen drive -- Agora é hora de trabalhar. -- guardou-o na bolsa e foi embora
***
--Eu não sei se ya sayyida (a senhora) vai entender, mãínha, mas eu preciso ir... -- Jamila segurava carinhosamente uma das mãos de Jandira -- Tem umas pessoas perigosas que tão me perseguindo por causa de umas coisas que ajudei a desmascarar e se eu ficar aqui... -- pensava em como dizer -- posso acabar sendo... muito machucada. -- olhava para a idosa -- E o que é pior: as pessoas que eu amo podem sofrer algum mal em retaliação a mim e eu nunca me perdoaria por isso... -- tentava se explicar -- Vou ficar em outra cidade por uns dias e depois vou passar uma pequena temporada fora do país. -- reparava na expressão inerte da outra mulher -- Mas eu nunca vou abandoná-la! -- prometeu -- Vou sempre ligar pra saber notícias... -- suspirou sofrendo por antecipação -- Wallahi! (Eu juro!)
--Ei! -- Paula apareceu na porta -- Seu táxi chegou! -- informou
A advogada deu um beijinho na testa da idosa e se levantou. -- Tenho que ir. -- anunciou pesarosa -- Macasalaama! (Até logo!) -- preparou-se para partir e caminhou até a porta
--Vá cum Deus, minha fia! -- Jandira respondeu com voz rouca, fazendo com que Jamila interrompesse seus passos -- Ele te protegi! -- a jovem olhou surpreendida para ela -- E nas minha reza, teu nome sempre há di sê dito! -- afirmou com fé
--Vixi, ela falou!! -- Paula arregalou os olhos e cobriu os lábios com as mãos -- Meu Deus! -- ficou emocionada -- Nem me lembrava mais como era a voz dela!
--Mãínha! -- a advogada foi até a idosa, ajoelhou-se e abraçou-a com amor -- Mãínha... -- fechou os olhos e derramou lágrimas de emoção -- Como fico feliz em ouvir sua voz...
--João, corre aqui, homem! -- Paula chamou empolgada -- Um milagre aconteceu, corre aqui!! -- não cabia em si
--O que foi? -- aproximou-se esbaforido -- Quê que houve, mulher? -- parou na porta do quarto e viu Jamila e Jandira abraçadas -- O que aconteceu? -- estava curioso
--Ela falou! -- apontou para a idosa -- Ela falou, você entende o que isso significa? -- segurou-o pelos ombros -- É um milagre! -- sorria com os olhos marejados -- Milagre!
João olhou para Jandira com carinho e respondeu sorrindo: -- Um milagre que se chama amor...
***
Najla e Amina acomodavam-se debaixo da sombra generosa de um pequizeiro após um dia de trabalho no roçado. Georgina voltava para a casa com Hassan e Ahmed João, que carregavam as ferramentas penduradas sobre os ombros.
--Ai, que dia! -- secou o suor do rosto com um lenço -- Acho que hoje a gente trabalhou pela semana inteira! -- sorriu para a cunhada
--A labuta rendeu qui foi só ela! -- concordava -- Ispera pra vê comu qui o roçadu vai ficá bunitu pur dimais da conta quandu nascê os trem tudu! -- parecia ver uma imagem do futuro -- Eu ficu numa ansiedadi qui chega dói, num sabi? -- riu brevemente
--É gostoso plantar e ver a natureza devolvendo nosso esforço em forma de alimento... -- respondeu pensativa -- E pensar que houve uma época em que fiquei totalmente indiferente a isso... -- lamentou
--Issu é passadu, muié! -- fez um gesto -- Hoji, ocê intendi o valô qui as coisa tem. Num careci di ficá si amufinandu cum o qui já si foi -- aconselhou -- Agora qui os trem da vida di nóis tudu tá dandu certu, é só pensá nu daqui pra frente! -- olhou na direção de Georgina e as crianças -- Ispia elis indu pra casa todu facêru! -- achava graça -- Façu gostu di vê o modu comu elis labuta! Inté pareci qui pensa qui é tudu brincadera, num sabi?
--Também gosto de ver a empolgação de Georgina e das crianças nessa roça. -- olhou na direção deles -- É bom que seja assim! -- sorriu
--É bão... -- balançava a cabeça positivamente. -- Najla, é amanhã qui teu homi vem buscá meu netu modi í na piscóluga? -- perguntou curiosa -- Si fô, tem qui falá pra eli arrumá logu us trem modi viajá. -- olhou para a cunhada
--Já tá tudo arrumado! -- respondeu divertida -- Marco e Ahmed João se tornaram grandes amiguinhos um do outro e o menino adora ir pra Gyn com ele. -- suspirou -- Meu negão de tirar o chapéu... como não gostar dele? -- comentou apaixonada
Amina achou graça e nada comentou. -- E ocê vai casá cum eli ô num vai? -- queria saber
--Não penso em casamento nem tão cedo, Amina... sinceramente, não. -- respondeu de pronto -- Na verdade, o que mais tenho pensado é em como conseguir quinhentos mil reales pra resolver as pendências da fazenda e poder tomar posse dela novamente. -- olhava para a outra mulher -- Situação louca! Ter recuperado a fazenda e ao mesmo tempo não ter! -- desabafou -- Às vezes chego a pedir a Allah que me ajude a não voltar a ter ódio de Cezário! -- lembrou de marido e revirou os olhos -- Oh, Aba, dai-me forças...
--Ave Maria, qui é dinheru qui num si acaba mais... -- considerou pesarosa -- Num tenhu tinu modi consiguí essi tantu... nunca nem cheguei pertu di tê dessa dinherama toda...
--Mas vamos sonhar um pouco, que é de graça! -- propôs sorridente -- Se eu recuperasse a fazenda, poderíamos morar todos juntos lá! -- falava animada -- Você, Raed, seus filhos, noras, netos e mais Aisha, Janaína e Marco! -- fazia planos -- A gente usava uma parte do terreno pra plantar e criar animais e outra parte pra ser hotel, aproveitando a estrutura que Mike Ametista construiu! -- mirava um ponto no infinito -- Aí cada um tinha uma tarefa: Aisha cuidava do hotel comigo, Marco e Janaína seriam os responsáveis pela segurança, meus sobrinhos se responsabilizavam pelos serviços gerais, minhas sobrinhas noras cuidavam da parte de alimentação e você e Raed cuidavam do roçado e dos animais junto comigo, que ia me dividir entre o hotel e a produção!
--Uai! -- franziu a testa -- Mas muié, comu é qui nóis pudia í tudu morá mais ocês na fazenda? -- perguntou intrigada -- E as casa, o roçadu, us colégiu dus mininu? -- considerou -- Naquelis tempu nóis num tinha nada, mas hoji nóis tem a casa, meus fio tem as casa delis e tem o clubi também, qui Raed gosta pur dimais da conta. -- ponderava -- Aisha, Janaína e Marco podia alugá as casa qui elis mora, mas e nóis?
--Ah... -- não sabia o que dizer -- Pra tudo dá-se um jeito, né, Amina? -- respondeu meio sem graça -- Já resolvemos problemas bem maiores...
--Hum... -- coçou a cabeça
--Você não tem vontade de voltar pra fazenda? -- perguntou receosa -- Vocês gostavam tanto de lá...
--Num sei, Najla... -- respondeu com sinceridade -- Eu gostu du meu cantu aqui, dessi roçadu, da vida qui nóis leva... -- pausou brevemente -- Num sei si Raed e eu ia morá mais ocê si as peitica da fazenda si resorvessi... -- tentava não magoar a cunhada -- Também num sei si nossus fio ia querê.
--Seria difícil me separar de vocês... -- abaixou a cabeça e mexeu na terra -- Já me acostumei a tê-los por perto...
--Tudu tem seu tempu, muié. -- respondeu com delicadeza -- Quandu fô teu tempu di í, ocê vai. Só num sei si nóis vai juntu. -- mexeu na terra também -- O importanti é qui nóis nunca mais vai si separá, -- prometeu -- inda qui moremu im cantu diferenti.
--Mas eu tô apenas sonhando alto. -- levantou-se com dificuldade -- Quinhentos mil reales não caem do céu e provavelmente eu nunca volte pra fazenda. -- ajeitou a roupa -- Vambora pra casa? -- chamou
--Tanta coisa já acunticeu nessa vida da genti, -- levantou-se também -- qui eu num duvidu di mais nada. -- olhava para a ex fazendeira -- Vai qui arguma coisa muda e essi dinheru vem? Deus é qui sabi!
--Anêim! -- fez um gesto de dúvida -- Nossa cota de milagres pra essa vida já se esgotou! -- respondeu brincando
--Sei não... -- pegaram as trouxas e foram andando -- Comu dissi: eu num duvidu di mais nada!
“Será?” -- Najla pensou esperançosa -- "Mas quinhentos mil reales...? É pedir demais...”
***
Cátia esperava por Lídia na saída do Departamento onde a moça estudava. Quando avistou a jovem surpreendeu-se por vê-la tão desanimada.
--Querida? -- abordou-a preocupada -- Que foi, que carinha é essa? -- perguntou interessada
--Cátia!! -- sorriu e abraçou-a com força -- Ai, que surpresa maravilhosa! -- exclamou com sinceridade
--Fico feliz que tenha gostado de me ver. -- desvencilhou-se com cuidado e olhou para a moça -- Mas estranhei a carinha de tristeza que vi em você.
--É que têm acontecido umas coisas... -- suspirou -- Tô tão aperreada... -- confessou
--Vamos sair daqui e você me conta tudo. -- propôs -- Aluguei um carro e tô completamente a sua disposição! -- sorriu
--Nossa! -- ficou toda prosa -- Você sempre me surpreendendo...
--Eu tinha que te ver, Lídia! -- respondeu com voz rouca -- Vou embora no mês que vem e quero que você vá comigo! -- olhava nos olhos
--Ave Maria... -- sentia o coração se derreter
***
--Você não imagina o aperreio, Cátia... -- Lídia contava a história -- Mamãe sofreu um acidente e quebrou o fêmur em dois lugares. Nem te conto o sufoco que foi pra conseguir interná-la no Hospital dos Ossos.
--E por que não me disse que isso tava acontecendo? -- perguntou inconformada -- Eu podia ter feito alguma coisa pra ajudar!
--Não, você já me ajuda demais! -- segurou uma das mãos dela com carinho -- E tem as suas coisas pra cuidar, não é pra ficar se preocupando comigo. -- olhava para a loura com admiração -- Eu não quero ser um peso na sua vida.
--Mas você não é! -- retrucou de pronto -- E como vai sua mãe, me diz? -- queria saber -- Já operou, passa bem...?
--Ela operou anteontem, graças a Deus, e já tá na enfermaria. -- entrelaçaram os dedos -- O médico disse que foi tudo bem.
--Mas então por que você tá tão tristinha? -- não entendia -- Se tá tudo bem e o pior já passou...
--Porque quando ela ficar de alta e for pra casa, vou precisar de alguém pra cuidar dela enquanto estiver na faculdade. Também vou precisar de um fisioterapeuta e de mais algumas coisas... -- soltou delicadamente a mão da outra -- Fico pensando em como resolver tudo isso. -- debruçou-se sobre a mesa -- Não tenho muito com quem contar aqui...
Não sabia o que dizer. -- Acho que... não vai dar tempo de tentar fazer alguma coisa por vocês... Não sei, eu... -- passou a mão nos cabelos
--Cátia! -- interrompeu-a com delicadeza -- Não é um problema pra você resolver, meu bem! -- falava com carinho -- Você tem que cuidar de sua viagem e de seus estudos em Godwetrust. -- pausou brevemente -- Você não tem obrigação de resolver minha vida. Isso cabe a mim, não se preocupe. -- sorriu -- Eu não sei o que fazer, como fazer, mas Deus vai me ajudar. Ele sempre ajuda... -- olhava para ela -- Não colocou você no meu caminho? Há de colocar alguma outra boa alma que me dê um apoio nesse momento de dificuldade. Ou há de me dar inspiração quanto ao que fazer. -- falava com fé
--Você parece tão certa disso... -- comentou -- Acho que é bom ter fé... -- respondeu pensativa -- Ajuda a ter força...
--Ajuda sim. -- concordou -- Querida, me perdoe, eu não quero ser indelicada, mas... -- estava envergonhada -- Preciso ir embora... -- anunciou cheia de cuidado -- Tenho que ir pro hospital passar a noite com minha mãe... -- suspirou -- Tenho dormido lá todas as noites desde que ela se internou.
--Ah... -- respondeu desanimada -- Então... então não vamos... -- não sabia como dizer -- passar a noite juntas, né? -- perguntou desolada -- "Claro que não, né, Cátia? Pergunta imbecil!” -- repreendeu-se mentalmente
--Infelizmente não... -- respondeu quase num sussurro
“Que pena... Não teremos uma última noite antes de eu viajar...” -- pensou com tristeza -- E você não vai embora comigo... -- deduziu o óbvio
--Não... -- abaixou a cabeça -- Embora eu quisesse muito...
Cátia respirou fundo e chamou o garçom. -- É melhor a gente ir... -- sentia uma tristeza imensa -- Te deixo no hospital. -- não sabia nem para onde olhar
--Obrigada, querida.
Saíram do barzinho, entraram no carro e seguiram para o hospital sem dar uma palavra. Estavam tristes, sabiam que tudo seria diferente quando Cátia voltasse e sentiam que era uma despedida. Sabiam que o relacionamento terminava ali, mesmo sem ter realmente começado.
--Chegamos. -- a loura anunciou ao parar o carro -- Desejo que tudo dê certo, Lídia. -- olhou para ela -- E, pelo amor de Deus, se precisar de mim... -- foi calada por um beijo
Segurava o rosto da geofísica com as duas mãos. -- Não sabe como me fez bem hoje. Não sabe como me fez bem sempre... -- afirmou olhando nos olhos -- Nunca vou te esquecer, Cátia! O que aconteceu entre nós, ficará eternamente em mim! -- beijou-a novamente -- Mas sei, posso sentir que quando você voltar tudo vai ser diferente... -- emocionou-se -- Seremos sempre amigas, não é? -- beijou-a mais uma vez -- Terei sua amizade aconteça o que for, não é? -- perguntou como se tivesse medo da resposta
--Sim... -- foi só o que conseguiu dizer
--Te amo, Cátia. -- encostou testa com testa -- Mas não era pra ser... -- respirou fundo, afastou-se e saiu do carro andando apressadamente
--Lídia! -- saiu do carro também
Parou de andar e virou-se de frente para a loura.
--Também te amo! -- derramou uma lágrima sentida
A jovem soprou um beijo para a outra e partiu sem olhar para trás. Não queria que Cátia soubesse que ela não conseguiu mais se conter e chorava com muito pesar.
--Despedidas... -- entrou no carro novamente -- Sempre tão tristes... -- ligou a ignição e partiu -- Dormir sozinha no hotel... -- falava consigo mesma -- Solidão, Cátia, é o seu destino. -- os olhos estavam marejados -- Pare de sonhar com o que não vai viver!
***
--O tratamento que você vai fazer agora nem se compara ao de antes, Zinara. -- Cláudia explicava -- Temos que cuidar de você pra que se recupere o máximo possível.
--Agora é só alegria, doktuur! -- respondeu animada -- Aproveita que a caipira tá aceitando tudo! -- brincou
--Acho bom que agora a madame tome tenência mesmo! -- achou graça -- Eu vou ficar só de olho! -- ameaçou
--Ave Maria! -- fingiu estar com medo -- Ya sheen theek izziwaya? (O que será de mim?) -- brincou de novo
A médica ficou uns instantes calada apenas prestando atenção na amiga. -- Sabe que não me esqueci mais dessa coisa toda com você? -- desabafou -- Como conseguiu se curar desafiando tudo que estudei e vi na minha carreira? Foi como se a medicina tivesse virado de cabeça pra baixo!
--Allah, Deus, Jeová ou nome que você queira dar. -- respondeu sorrindo -- Eis a chave do mistério!
--Acho que nunca vou esquecer o que senti quando vi seus exames e não encontrei nada! -- passou a mão nos cabelos -- Só acreditei nessa cura porque eu era sua médica desde o começo e eu mesma sempre analisei todos os exames. -- cruzou os braços -- Me vejo obrigada a rever meus conceitos sobre um monte de coisas...
--É assim mesmo, doktuur. Quem nunca tá disposta a mudar, acaba sofrendo desnecessariamente. É até uma questão de sobrevivência, warana ay (que mais se pode fazer)? -- considerou -- A gente tá sempre aprendendo, sempre se renovando. É o próprio exemplo da vida, que muda o tempo todo!
--E por falar em renovação, -- debruçou-se na mesa -- quais são seus planos agora? -- perguntou curiosa -- Voltar pro Departamento, dar um jeito na vida, casar...? -- sorriu
--Tudo isso aí. -- concordou -- Mas a parte do casar é o que tem me deixado cabreira, não sabe? -- admitiu
--Oxi, e por que?? -- estranhou -- Você ama Clarice, ela te ama, qual o problema? Ainda pra facilitar a vida, suas respectivas mães são grandes amigas uma da outra! -- respondeu enfática -- Até sua sobrinha se apaixonou pelo sobrinho dela! -- achou graça
Achou graça também. -- Ana a’arfa! (Eu sei!) -- concordou com a amiga -- E não tenho a menor dúvida do meu amor por Sahar! -- falou com verdade -- Mas o que me angustia é o como vai ser. -- explicou -- Ela tem uma vida lá, eu tenho uma vida aqui e é difícil conciliar o que temos. -- olhava para a médica -- E ela vive com ya Leda, que é uma senhora idosa que só pode contar mesmo é com Sahar. -- considerou -- Fico pensando no que aconteceria se a gente se casasse...
--Por que você tem pena de deixar a velhinha morando sozinha ou com alguma das outras filhas, né? -- Zinara balançou a cabeça concordando -- E ao mesmo tempo não é muito legal morar com sogra... por mais que a gente se dê bem com ela. -- considerou -- Um casal tem que ter privacidade, especialmente no começo da relação.
--Eu penso em tudo isso. -- suspirou -- E não acho solução. -- passou a mão nos cabelos -- Andei pesquisando os preços dos imóveis em São Sebastião e quase tive um troço! Tem que ver como os trem tão caro!
--Imagino! -- respondeu de pronto -- E você consultou por internet, né? Ainda tinha que ir visitar pra ver se corresponde à propaganda.
--Eu pedi um tempo pra Sahar pra poder ver como que vou fazer, mas ela deixou claro que não vai me esperar indefinidamente. -- comentou -- Sa'ban ‘alay (É difícil para mim), mas vou tentar dar meu jeito. -- afirmou convicta -- Prometi a ela e ana fez ‘ala mawa’idi (eu cumpro com promessas)!
--Não ponham o carro na frente dos bois. -- levantou-se -- O pior já passou e, como diz você, é só alegria! -- foi até uma pequena dispensa e pegou uma caixa de remédios -- Tome um comprimido depois do almoço todos os dias. -- entregou à professora -- É até acabar a caixa. -- prescreveu -- E quando acabar essa, compre mais uma caixa e tome até o final!
--Aywah. (Sim.) -- guardou na bolsa -- Anotado!
--Agora deixa eu preparar o outro remédio. -- foi andando para a salinha ao lado -- Sem reclamações, tá, mulher? -- advertiu -- Tá na hora da intramuscular e não quero chiado!
Concluiu qual era o remédio. -- Ô, meu Pai, me defenda! -- rogou -- Odeio injeção! -- fez careta -- AHHa! -- reclamou
--Deixa de ser chorona, Zinara. -- respondeu da outra sala -- Uma mulher que viveu o que você viveu, e ainda fez doutorado em astronomia e graduação em matemática ao mesmo tempo não deveria ter medo de nada! -- brincou -- Deus que me livre! -- esconjurou
--Uai, mas nem se compara! -- argumentou -- Durante o doutorado eu percebi que não sabia tanta matemática como deveria, aí fui resolver o problema. -- contou -- Tomar injeção é outro trem! Num dou conta, não!
--Mulher, você se esparramou pelo mundo naquele doutorado. -- voltou trazendo a seringa e uma cuba com algodão -- E ainda aprendeu um idioma novo! -- achou graça -- Nunca conheci ninguém que fizesse loucura igual! -- colocou a cuba sobre a mesa -- Vira o braço pra mim. -- pediu e a morena obedeceu -- Lembro do dia que você me mostrou sua tese por curiosidade, -- passou um algodão com álcool no braço da outra -- e tinha umas páginas lá que era tanto número, tanta fórmula, uma calculeira da porr*! -- espetou a seringa -- Minha curiosidade acabou-se em dois tempos! -- riu -- Não sei como alguém pode escolher se dedicar a uma doideira daquelas!
Fez cara feia. -- Essa injeção é viscosa, aHHa! -- reclamou -- Parece até que tá enfiando graxa no meu lombo!
--Já acabou. -- colocou outro algodão com álcool no braço da amiga -- Pressiona aqui por um pouquinho. -- pediu e voltou para a salinha
Zinara ficou uns instantes calada até que falou: -- Sabia que meu doutorado acabou sendo aquela loucura toda, como você diz, por causa de uma única decisão que tomei? -- comentou -- Às vezes uma simples escolha muda os trem todo na vida da gente...
--E que decisão foi essa? -- voltou para perto da professora -- Isso você nunca me disse. -- pausou brevemente -- Aliás, você nunca me disse um monte de coisas!
--Foi tudo por causa de uma bailarina ruiva... -- afirmou pensativamente
--Vixi! -- olhou para o relógio -- Ainda tenho tempo! -- queria ouvir -- Qual é a história dessa bailarina ruiva aí? Desembucha! -- bateu uma palma
Achou graça. -- É a história de uma mulher que virou a cabeça da caipira... -- começou a contar -- Foi a história de amor mais conturbada que eu já vivi...
--Mais do que com Jamila? -- duvidou
--Ô! -- revirou os olhos -- Muito mais...
CAPÍTULO 134 – Emille Delacroix
Magali havia acabado de tomar um banho e lanchar. Estava cansada e não desejava trabalhar em casa. Para seu desgosto Lúcia fazia um curso no QG da Corporação e só chegaria mais tarde.
--Deixa eu aproveitar esse tempo de bobeira pra arrumar minha bolsa, que anda uma zona! -- falava consigo mesma -- Olha como tá pesada! -- pegou a bolsa e abriu -- É capaz de sair até uma cobra daqui de dentro. -- riu sozinha
Esvaziando o conteúdo sobre a mesa logo notou o pen drive que não era seu.
--Ih, aquele pen drive que encontrei na mesinha do trailer. Há quantos dias que isso tá na minha bolsa, gente? -- pegou o objeto -- Deixa eu ver o que tem aqui pra saber se identifico o dono ou a dona. -- foi até o laptop, deixado em modo de espera, e conectou -- Já pensou se for de algum aluno que gravou um monte de sacanagem? -- riu sozinha -- Vamos ver. -- debruçou-se sobre a mesa e mirou a tela do computador -- Hum...
Observou que havia vários documentos Word cujos nomes pareciam remeter a datas.
--Que diabo é isso? -- estranhou -- Olha só o nome dos arquivos: 1999, 2000, 2001... -- pensou intrigada -- Gente, será o tal diário de Zinara que Clarice vive lendo? -- conjecturou -- Só há um jeito de ter certeza... -- escolheu o arquivo 2002 aleatoriamente e abriu
“Eu sabia que me formaria no final daquele ano, Kitaabii, e desejava ardentemente manter a cabeça ocupada. Procurei minha orientadora de monografia de final de curso e externei a ela meu desejo de me inscrever no mestrado. Também desejava tentar a modalidade sanduíche, passando uma parte do tempo estudando no exterior. Além ser interessante para meu currículo, era uma chance de mudar de ambiente e, quem sabe, fugir para longe de minhas lembranças, tristezas e decepções. Era como se eu não soubesse que nossos fantasmas estão dentro de nós e seguem conosco onde quer que estejamos...
Naquele tempo eu também sonhava demais, Kitaabii. Acreditava de verdade que meu trabalho poderia fazer a diferença e, quem sabe, mudar o mundo...”
--Zinara, você não acha que deveria se formar primeiro, menina? -- a professora perguntou cheia de tato -- Você faz muita coisa ao mesmo tempo e ainda tá toda dedicada à luta pra prender o assassino da sua amiga... -- olhava para a jovem -- Será que não tá exagerando, não? Vai devagar. -- aconselhou -- Pra que tanta pressa?
--Laa (Não), ya Cristina. -- objetou educadamente -- Eu sei que dou conta e quero começar o mestrado. -- afirmou resoluta -- Quero continuar a estudar a relação da astronomia com o clima do planeta e ajudar a desmascarar a farsa da teoria do aquecimento global causado pelo ser humano!
Cristina ficou visivelmente sem graça. -- Você e esses termos fortes...
--Mas é uma farsa, uai! Não sabemos disso? -- olhava para a professora -- Minha monografia vai atestar esse fato, exatamente como fizeram tantos outros trabalhos antes do meu! -- argumentou
--Gostei da resposta decidida! -- Magali balançou a cabeça concordando
--Zinara, você sabe que esse tema é complexo e suscita discussões acaloradas... -- Cristina passou a mão nos cabelos -- Sinceramente até me arrependi de tê-la deixado seguir por esse caminho... Não esperava que fosse interagir com tanta gente e buscar tanta informação...
--Ih, eu hein, professorazinha banana! -- Magali reclamou de cara feia
--AHHa! -- reclamou -- Ya sayyida (A senhora) fala como se enriquecer a monografia fosse uma coisa ruim! -- não entendeu o comentário da professora -- Bitichkii min eh? (Qual é o problema?) -- abriu os braços brevemente -- Com os resultados astronômicos mostro que entramos no caminho de uma nova era glacial, -- enumerava nos dedos -- além dos ciclos solares e seus máximos e mínimos estarem muito bem relacionados com os períodos mais quentes e mais frios do planeta. -- falava com propriedade -- Com os resultados da paleoceanografia deixo claro que as oscilações decenais dos oceanos se somam com a atividade solar para regular o clima, e mostram isso melhor que qualquer modelo oficial apresentado nos painéis internacionais. -- argumentava -- E fica óbvio que o aumento da porcentagem de CO2 na atmosfera é uma consequência do aumento da temperatura dos oceanos e não uma saturação causada pela atividade humana. -- continuava falando -- E com a pesquisa feita junto a meteorologistas e climatologistas a gente vê que, além da maioria das estações meteorológicas estarem instaladas em locais totalmente impróprios, o verdadeiro gás de efeito estufa é o vapor d’água e não o dióxido de carbono! -- riu brevemente -- Mas é claro, não existe vapor d’água na atmosfera dos painéis internacionais! -- ironizou
(Nota da autora: só para citar mais uma fonte diferente, vale a pena ler o livro “Aquecimento Global: Ciência ou Religião?” de Gustavo M Baptista. Embora, particularmente, não concorde com algumas posturas do autor, entendo que o material apresentado ali é muito interessante e deveria ser conhecido. Cito também o vídeo no youtube https://www.youtube.com/watch?v=XojMReumoDQ)
--Você podia se especializar mais nos estudos sobre as teorias de Milankovitch, como analisar questões sobre a precessão dos equinócios, a excentricidade da órbita planetária e a inclinação do eixo do planeta. -- aconselhou como se não tivesse ouvido os argumentos da aluna. -- Como sabe, esse fabuloso cientista destacou os principais fatores astronômicos a interferir no clima e sua teoria demorou várias décadas pra ser aceita pela comunidade científica. -- contava -- Só a partir dos anos 80, depois de vários debates e abordagens debochadas, a teoria de Milankovitch foi efetivamente aceita. -- passou a mão nos cabelos -- Ainda hoje penso que ela não é suficientemente explorada, então você podia investir nesse caminho! Por que não? -- sorriu -- Não há interesse em se ficar esmiuçando nessa coisa de aquecimento global natural ou antropomórfico... -- fez um gesto de desprezo -- O importante é salvar o planeta, né mesmo?
-- Ma hatha?! (O que é isso?!) Como não há interesse?! -- ficou pasma com o que ouviu -- Claro que é importante! -- discordou -- Wdah mistagcil! (E é urgente!) -- não entendia a reação da professora -- Quanto se gasta com sequestro de carbono nesse planeta? E os créditos de carbono em bolsa de valores, fazem que tipo de bem à natureza? -- questionou criticamente -- Precisamos que todos os países se comprometam realmente com preservação ambiental e sustentabilidade e não que fiquem fazendo teatrinho! -- olhava para a outra -- Godwetrust, por exemplo, fala tanta coisa, mas não adere a nenhum pacto de redução de emissão de gases de efeito estufa! E isso porque eles dizem que acreditam no aquecimento global antropomórfico! Imagine se não acreditassem... -- ironizou novamente -- É muito nítido que eles e outros países querem deter o consumo e o crescimento dos emergentes, ao mesmo tempo em que não desejam mudar seu próprio padrão de consumo de energia, que é totalmente errado! -- gesticulou -- Temos que mudar os nossos modelos de desenvolvimento, mas isso vale pra todo mundo, não somente pros países emergentes, pobres ou de periferia, como queiram nos chamar!
--Zinara, eu entendo tudo isso, mas... -- Cristina não sabia o que dizer
--Cala a boca, besta, você não tá com nada! -- Magali discutia como se a mulher estivesse diante de si -- Professora cagona!
--E quanto às águas, brofeseer (professora)? Quem está conduzindo uma política séria de manutenção, preservação e gestão das fontes de água potável? -- continuou argumentando -- O que eu vejo são políticas de apropriação indevida do patrimônio natural de uns países por parte de outros! -- falava inconformada -- O clima virou um comércio! Eu sei que existe muita gente séria batalhando nesse campo, mas a verdade é que o clima virou um comércio! -- insistiu na afirmação -- E nós temos que fazer alguma coisa pra denunciar isso e mudar o rumo da situação! -- advertiu -- Ana mutafaa'il! (Eu sou otimista!) E acredito que raras são as coisas ou situações imutáveis nessa vida!
--Tô gostando de ver, Zinara! -- Magali puxou uma cadeira para se sentar -- É bom esse negócio de ler sobre a vida dos outros, né? -- falava para si mesma
A orientadora fez uma expressão de desagrado e gastou uns segundos antes de responder. -- Tudo bem, Zinara... -- suspirou -- Entendo essa paixão típica dos jovens, mas, sejamos realistas: não estamos aqui para mudar o mundo. Aliás, você nem é tão jovem assim; já tem 27 anos. -- afirmou tranquilamente -- Por que deseja iniciar sua carreira remando contra a maré? -- queria convencê-la a mudar de opinião -- Por que não aprofunda seus estudos do modo como sugeri e se concentra nas investigações em torno da temática que te comentei? -- sugeriu -- Muito melhor que ficar se indispondo com a maior parte da comunidade científica nacional e internacional!
--Os grandes cientistas foram grandes porque desafiaram o senso da maioria. -- respondeu convictamente -- Exatamente como fez Milankovitch, citado por ya sayyida (a senhora).
--Touché, Zinara! -- Magali aplaudiu
--Mas você não é uma grande cientista, menina. Tampouco uma Milankovitch de saias. -- a professora respondeu olhando nos olhos -- É só uma aluna dedicada e inteligente, nada mais que isso. -- cruzou os braços -- E como você, há um número incontável de alunos pelo mundo todo.
A jovem ficou decepcionada ao ouvir aquilo.
--Mulherzinha filha da puta, vou te contar! -- Magali protestou revoltada -- Como é que se desincentiva uma aluna desse jeito?
--Pense na minha proposta, porque se insistir em continuar nessa caça às bruxas do aquecimento global não vai conseguir bolsa de mestrado. -- afirmou secamente -- E se realmente deseja ingressar num programa de mestrado sanduíche, recomendo que reflita mais ainda na proposta que te fiz. -- olhava para ela -- Do contrário, nenhuma universidade lá fora vai querer te receber!
“Ainda relutei por um tempo mas não houve jeito, Kitaabii: tive de deixar de explicitar minha oposição à teoria do aquecimento global causado pelo ser humano e focar meus estudos somente na atividade solar. Desta forma, não me desviaria de meus objetivos e poderia solicitar a orientação de outro professor uma vez que, depois daquela atitude, não havia como continuar com professora Cristina. A ciência não era desprovida de valores, estava começando a aprender isso, e para assumir certas posturas de modo contundente era necessário adquirir mais conhecimento e experiência. Como disse ya Cristina, eu era somente uma aluna. Só que, ao contrário do que ela tentou me convencer, não me sentia apenas mais uma, apesar de saber que não era a melhor do mundo.
Defender a monografia foi um desafio e tanto, a começar pelo mal estar que minhas conclusões sobre o tema “aquecimento global” suscitavam. Convidei um pesquisador polêmico para compor a banca e ele aceitou, enquanto outros declinaram; mas, no final de tudo, consegui defender o trabalho e recebi nota máxima. Foi uma mobilização tão grande que comecei com uma orientadora e terminei com quatro! Não posso dizer que foi monótono!”
--Ah, mas eu queria ter estado lá pra ver essa defesa! -- Magali comentou achando graça -- Zinara se formou abalando os alicerces! -- brincou
“Durante o mestrado passei um tempo sem uma definição quanto a como seria meu período no exterior, até que recebi uma proposta para trabalhar por seis meses no Observatório do Astro Rei, em Godwetrust, e foi uma pressão enorme sobre mim para que aceitasse. Pesquisadores daquela instituição não costumavam fazer convites e era a primeira vez que alguém do Departamento se via diante de tal oportunidade. De acordo com meu novo orientador era o que de melhor poderia esperar para minha carreira naquele momento e ele não entendia porque eu era tão irredutível em dizer não. Ele e os demais professores esqueciam que minhas considerações ideológicas eram fortes demais para aceitar estudar em um país sobre cujo governo eu cuspia e maldizia os ancestrais. Eu sou fiel, Kitaabii, sempre fui! Jamais estudaria em Godwetrust ou Dar-ulharb. Abadan! (Nunca!) A menos que o mundo fosse outro...
Por fim, depois de muitas discussões e momentos tensos, consegui uma bolsa de quatro meses na Gália surpreendendo novamente o Departamento: eu estudaria no famoso e tradicional Observatório de Villeparisis e meu orientador local seria o renomado astrônomo monsieur Eugène Cozette.”
--Gente, essa caipira né fraca, não! -- Magali ficou impressionada
“Minha passagem de ida foi comprada para o dia 31 de dezembro, Kitaabii, já que naquela data os preços despencavam. Viveria a experiência única, e totalmente dispensável, de passar a virada do ano dentro de um avião. Estava receosa de ficar tanto tempo fora do país, não nego, mas era algo que desejava muito. Não me sentia mais uma caipira tão inocente e indefesa; achava que a fase das grandes novidades já havia se encerrado... Mal sabia eu, Kitaabii, que o ano de 2003 me traria muitas surpresas, especialmente uma bailarina ruiva que virou minha cabeça como mulher alguma havia feito até então.”
--Gente, que fofoca boa!!! -- Magali estava doida -- Cadê o arquivo 2003 pra gente ver essa história de bailarina ruiva? -- procurou o documento e o encontrou -- Clarice e Zinara que me perdoem, mas não tem como não ler uma coisa dessas! -- ajeitou-se na cadeira -- Falou em sacanagem, acende uma luzinha aqui dentro que nem o diabo apaga! -- riu brevemente e abriu o arquivo -- Vamos conhecer o lado safadinho da caipira! -- esfregou as mãos -- Ui! -- gemia por antecipação -- Vamos ler!
(Para entrar no clime da Gália)
https://www.youtube.com/watch?v=zt32Bl_U_4Q
“Choques culturais podem ser meio desconfortáveis mas sem dúvida proporcionam um aprendizado imenso, Kitaabii. Após Al-Magrhib e Terra de Santa Cruz e, dentro do mesmo país, vivenciar as diferenças entre a roça de Guaiás, uma capital de porte médio como Gyn, e uma megacidade como São Sebastião, estava eu diante de mais um choque cultural... A Gália!
Descobri um país incrível, cheio de histórias encantadoras, de ciência e arte e de características interessantíssimas. Um país de grandes contradições, onde muita coisa funcionava admiravelmente bem e outras tantas eram péssimas a ponto de quase enlouquecer. Um país de pessoas educadas e ao mesmo tempo ríspidas, onde o cheiro de excelentes fragrâncias se misturava constantemente ao fedor do suor de várias e várias horas, muitas vezes dias, sem tomar banho. Pessoas que reclamavam de quase tudo, mas que ao encontrar um estrangeiro alegavam viver no melhor país do mundo. Pessoas intensas, passionais, que se apegavam com facilidade e se desapegavam mais facilmente ainda... Opiniões, Kitaabii, opiniões. Muitos hão de discordar de mim...
No dia em que cheguei, passei por uma verdadeira sabatina junto à Imigração da Gália e, quando finalmente me liberaram, fiquei três horas no aeroporto esperando pelo professor Cozette, o qual prometera me receber, mas não apareceu. Mais tarde soube que tomou um porre de vinho na virada do ano e nem se lembrou da promessa que me fizera.
Dei meu jeito pedindo informação a um e a outro e cheguei no albergue onde o professor havia reservado uma vaga para mim. O local era horrível, sujo, cheio de gente e parecia a torre de Babel: vários idiomas falados ao mesmo tempo. Felizmente fui vista com simpatia, uma vez que fui apresentada como natural de Terra de Santa Cruz. O chato foi que passei um bom tempo sendo perguntada sobre assuntos que absolutamente nunca me interessaram: futebol e carnaval. E foi assim no Observatório também!”
--Vamos chegar na parte da bailarina! -- Magali estava indócil -- Zinara rodeia demais, ô, coisa! -- resmungou
“Viver em São Sebastião fortaleceu em mim o amor pelas montanhas, me fez me apaixonar pelo mar e me apresentou às artes de forma arrebatadora. Aliás, devo à professora Daise, quando ainda investia em mim, a primeira ida ao Theatro do Município. Assistimos a um balé e fiquei apaixonadíssima. Em pouco tempo me tornei amante dos balés, das óperas, dos musicais e das obras de arte. Durante meu período de graduação foram raras as vezes em que pude assistir a espetáculos, porque meu dinheiro era muito contado. Para dizer a verdade, só pude fazer isso nas vezes em que ganhei a oportunidade de presente, como foi o caso de um dos meus aniversários. As garotas da República diziam, brincando comigo, que eu era uma caipira nerd, chegada a uns esportes radicais e muito metida a fina.
Uma vez em Villeparisis, nada mais natural que buscasse conhecer o que a cidade tinha a oferecer em termos de arte e foi aí que ela apareceu na minha vida. Numa ida ao Palais Garnier, junto com professor Cozette e sua esposa, lá estava ela dançando magistralmente em um espetáculo que mexeu comigo sob todas as formas. Uma história que contava sobre os horrores da guerra de Cedro, narrada por uma jovem ruiva que sonhava em dançar para não enlouquecer.
Fiquei pasma, Kitaabii, emocionada, arrebatada, quase sem chão. Era uma parte da história do meu povo, da minha vida, contada em forma de dança por uma outra Zahirah que pôde sonhar e viver este sonho. Mesmo em se tratando de uma visão distorcida por parte da Gália, que se colocava como salvadora de Cedro, eu fiquei presa à história e mais ainda à mulher que parecia me trazer Zahirah de volta a minha vida.
E eu, mais uma vez, me permitiria viver uma ilusão e buscar por aquilo que não poderia ter;
jamais...”
--Gente, eu não tô ligando o nome a pessoa, mas é daqui que a parte boa começa! -- Magali bateu palminhas -- Vamos ler como foi esse caso entre Zinara e a bailarina ruiva de Villeparisis! -- olhou para o relógio -- Ainda vai demorar um pouco pra Lúcia chegar em casa, então... eu fico só nas leituras! -- sorria
“Descobri que o nome da bailarina ruiva era Emille Delacroix, Kitaabii, e fui assisti-la se apresentar até o final da temporada, que durou apenas uma semana. Pesquisei sobre ela na internet e de todas as formas possíveis, mas descobri pouquíssimas coisas a respeito. Apenas soube que fazia parte do corpo de balé do Palais Garnier e que viajava rotineiramente por conta de seus espetáculos. Quando a temporada terminou, ela foi embora e não imaginava por onde deveria andar.
Minha vida seguia dentro de uma rotina de estudar e trabalhar no Observatório, de onde saía sempre tarde, e praticar exercícios físicos nos finais de semana. Já que custava caro ir para as montanhas e o mar estava longe, comecei a correr e a fazer ginástica numa espécie academia de um senhor originário do norte do Continente Negro. Arrumei também uma bicicleta velha, que me servia de meio de transporte pela cidade, e corria muito com ela. Era o meu exercício de segunda à sexta.
Um dia, voltando para casa quase às oito da noite, percebo que dois jovens se preparavam para avançar sobre uma mulher que caminhava solitária e rapidamente pelas ruas do bairro Boêmio. Sem pensar, lancei a bicicleta contra eles e caímos os três no chão. Pode falar, Kitaabii, eu sempre fui meio majnum (doida)...”
--Oh, mon Dieu! (Oh, meu Deus!) -- a mulher se assustou com o barulho -- Police! Police! -- começou a gritar, percebendo a intenção daqueles homens
--Maldita! Puta! -- um dos homens gritou no idioma da Gália antes de se levantar
--Miserável! -- o outro demonstrava ter machucado a perna
Zinara pensou em gritar, mas paralisou ao reconhecer a mulher que acabara de ajudar. “Oh, Aba! (Oh, Meu Pai!)” -- pensou abestalhada -- "A ruiva...” -- não conseguiu nem se levantar e ficou sentada
--Police, police!!! -- Emille continuava gritando -- Police!!
Sem saber o que fazer e receando a chegada da polícia, os dois homens foram embora apressadamente seguindo por uma viela escura.
Emille olhou para Zinara sentada no chão e se aproximou. -- E você, como está? -- perguntou preocupada -- Está ferida, machucada...? -- reparava nela -- Hum?
--Très bien! (Muito bem!) -- respondeu abobalhada -- Eu vou bem, obrigada! -- sorria
--Levante-se deste chão frio, por favor! -- segurou a mão dela -- Você provavelmente salvou minha vida e por isso não quero que adoeça! -- ajudou a outra a se levantar -- Sabe Deus se aqueles homens não seriam estupradores ou assassinos! -- considerou
--Eram idiotas, com toda certeza! -- brincou e as duas riram -- “Nossa, ela riu do que eu falei!” -- pensou toda prosa
--Je m’appelle Emille Delacroix (Eu me chamo Emille Delacroix). -- apresentou-se e sorriu -- Enchanté! (Muito prazer!)
“Ai, que sorriso lindo...” -- pensou embevecida -- Enenchanté! -- gaguejou timidamente -- Je m’appelle Zinara Raed.
--Que tal continuarmos andando e sairmos daqui? -- sugeriu -- Está tarde e essa rua é muito deserta. -- considerou
--Oh, sim. -- concordou -- Vamos. -- pegou a bicicleta e começaram a andar
--Sua bicicleta empenou? -- perguntou receosa -- Será que ainda conseguirá andar com ela?
Balançou a cabeça positivamente sem olhar para a bailarina. -- Faço companhia a você até o Terceiro Quarteirão, que é mais movimentado... -- conversavam na língua da Gália -- Depois sigo pedalando.
Emille reparava na outra mulher com curiosidade. -- Tu habites où? Tu viens d’où? (De onde você é? Onde mora?) -- perguntou desconfiada
A caipira sorriu e olhou rapidamente para a ruiva. -- Sou de Terra de Santa Cruz e estou passando uma temporada na Gália por causa do meu mestrado. -- respondeu envergonhada -- Moro em um albergue na Zona Latina, não muito longe daqui.
--Terra de Santa Cruz?! -- surpreendeu-se -- Pensei que fosse imigrante de algum país arb... -- continuava reparando na jovem
--Na verdade sou nascida em Cedro. -- olhou novamente de relance para a ruiva -- Mas vivo em Terra de Santa Cruz há anos, desde criança.
Balançou a cabeça pensativa. -- E por que me ajudou se nem me conhecia? -- continuava desconfiada
--Eu me preocupei com você, não parei para pensar e quando vi... estava caída em cima daqueles bandidos... -- riu brevemente e gastou uns segundos calada -- Não precisa ficar tão desconfiada. -- pediu gentilmente ao olhar para ela -- Não sou terrorista.
Emille ficou um pouco sem graça. -- Pardon (Perdão). -- pediu -- Não estou acostumada a ver gente que se importa com desconhecidos e por isso... humpf! -- fez um gesto -- Você vive em Terra de Santa Cruz e sempre ouvi dizer que lá as pessoas são mais solidárias que aqui.
Zinara não respondeu coisa alguma.
--Você é sempre assim? -- a ruiva perguntou repentinamente
--Como? -- não entendeu
--Age por instinto, sem pensar? -- prestava atenção na morena -- É assim que as mulheres do seu país funcionam? -- sorriu
A astrônoma ficou na dúvida quanto ao sentido daquela pergunta e respondeu sem graça: -- Laa acrif... (Eu não sei...), quer dizer... -- gaguejou -- Je ne sais pas... -- afirmou a mesma coisa em gálio
Emille achou graça da reação da outra e permaneceu calada. Após alguns minutos de caminhada silenciosa chegaram ao Terceiro Quarteirão.
--Aqui nos despedimos... -- a morena parou de caminhar e anunciou timidamente -- Não sei onde mora, mas...
Parou de andar também. -- Naquele prédio. -- apontou -- Bem perto daqui.
“Eita, boi, que agora eu sei onde ela mora!” -- pensou aparvalhada -- "Só falta saber o número do apartamento.” -- considerou -- Se quiser... -- abaixou a cabeça envergonhada -- posso acompanhá-la até lá... -- ofereceu
--Oh, merci (Oh, obrigado). -- balançou a cabeça negativamente -- Não é necessário.
--Tudo bem. -- sentiu as bochechas queimarem -- Eu vou andando. -- preparou-se para montar na bicicleta -- Foi um prazer conhecê-la. -- sorriu
--Você disse que faz mestrado... -- comentou antes de Zinara partir -- Onde estuda?
--No Observatório da cidade. -- respondeu simplesmente -- Au revoir! (Até logo!) -- despediu-se
--Au revoir! -- a bailarina acenou
“Mas você é bicha lesa, né, Zinara?” -- a morena se condenava mentalmente -- "Passou dias sonhando em encontrar essa mulher e quando encontra... vai simbora na hora em que de repente ela puxava um papo...” -- pedalava rapidamente -- "Ai, meu joelho ficou doendo com a queda!” -- sentiu uma pontada de dor
--Essa caipira sempre foi lesada com mulher, a coisa é antiga! -- Magali comentou fazendo um bico -- Podia ter arriscado tascar um beijo na boca da ruiva logo no susto... -- balançou a cabeça negativamente -- Vamos ver quando a coisa começa a ficar picante... -- seguiu procurando no texto -- Zinara rondando a casa da bailarina, piruando nas imediações do Palais Garnier, levando florzinha pra outra, convidando pra ver céu noturno, pra passear de bicicleta... -- achou graça enquanto continuava procurando -- Zinara trabalhando, discutindo com o orientador... -- riu brevemente -- Mas esse tal de Cozette tem pinta de ser mesmo um saco! -- considerou -- Ah, aqui! -- sorriu -- Convite pra jantar! -- assanhou-se toda
“Já estávamos em maio, Kitaabii, e meu período na Gália chegava ao final. Meu contato com Emille era muito pouco, embora eu vivesse buscando formas de ficar mais perto dela. Para minha surpresa, quando soube que eu partiria no final do mês, ela me convidou para um jantar em seu apartamento. Gastei quase a semana toda pensando no que vestir e, quando finalmente me decidi, o tempo virou e fez um frio surpreendente. Na hora marcada, lá estava eu na sexta-feira à noite, usando jeans, botas de cano curto, blusa de gola em V e um casaco de couro emprestado. Fiquei uns segundos parada diante da porta dela antes de ter coragem de bater. Ser tímida não é fácil...”
--Salut, Zinara! (Olá, Zinara!) -- abriu a porta sorrindo -- Oh, você está ótima! -- reparou-a de cima a baixo
“Emille vestia uma saia verde longa e uma blusa preta justa de mangas compridas que lhe deixava os ombros de fora. Seus cabelos ruivos adornavam-lhe a imagem assentando-se em cachos suaves. A maquiagem era delicada e de muito bom gosto. Usava um perfume de odor cítrico extremamente agradável. Ela estava linda, perfeita, irrepreensível...”
Ficou feliz e envergonhada ao mesmo tempo. -- E você está linda! -- sorriu embevecida -- Ah! -- balançou a cabeça para despertar do transe -- Para você! -- apresentou um buquê de rosas e uma caixa de bombons -- Espero que goste. -- sentia-se nervosa -- Não sei se bailarinas comem chocolate mas resolvi arriscar... -- sorriu timidamente
--De vez em quando, que mal há? -- recebeu os presentes e a convidou para entrar -- Fique à vontade. -- fechou a porta depois que a morena entrou -- Se quiser, pode deixar seu casaco pendurado ali. -- indicou
--Obrigada. -- tirou o casaco
--Eu vou cuidar destas flores. -- seguiu por um corredor estreito -- Fique à vontade! -- repetiu
Zinara achou o apartamento minúsculo, mas a decoração de muito bom gosto. Reparou que havia uma pequena lareira perto da qual Emille preparou uma mesa improvisada no chão para as duas jantarem.
--Gosta de vinho suave? -- a bailarina voltou sorrindo com uma garrafa na mão -- Esse aqui é delicado como suco de uva. -- sorriu
--Ah... -- não sabia o que dizer -- Eu não bebo... -- afirmou quase num sussurro
--Normalmente, não. -- parou diante da morena -- Mas hoje vai abrir uma exceção, não é? -- piscou para ela
--Ana sakraneh (Estou bêbada)... sem ter bebido... -- afirmou sem nem saber o que dizia
Achou graça. -- Je ne comprends pas! (Não entendo!)
“Meu cérebro era incapaz de se concentrar, Kitaabii. Nada havia acontecido, nunca nem havíamos passado longas horas conversando e eu já era totalmente fascinada por aquela mulher...”
--Ih, será que foi nessa noite que o couro comeu?? -- Magali acompanhava a leitura com interesse -- Vamos logo pro final do jantar pra ver o que rolou na hora da sobremesa! -- riu assanhadamente -- Ai, eu fico doida!
--Então você foi me assistir até o final da temporada? -- perguntou fazendo um charme com a taça de vinho nas mãos
--Fielmente até o último dia... -- respondeu olhando para a ruiva -- "O que me fez ficar quase a pão e água por um tempo. O dinheiro foi-se quase todo embora...” -- pensou
Zinara e Emille estavam sentadas uma de frente para a outra, perto da lareira. As duas haviam recolhido a louça, deixando somente a garrafa de vinho e duas taças.
--Hum... interessante... -- bebeu um gole -- Mas eu também pesquisei sobre você... -- sorriu
--Choo?? (O que??) -- surpreendeu-se -- Pesquisou? -- perguntou empolgada -- Verdade? -- aproximou-se um pouco mais -- "Ô, caipira, que é isso?” -- repreendeu-se mentalmente -- "Bebeu esse trem e ficou saidinha?” -- olhou desconfiada para a taça em suas mãos -- "Vê se te amansa pra não passar vergonha!”
--Oui, oui (Sim, sim). -- olhava para a astrônoma -- Cheguei a ir no Observatório um dia destes e perguntei por você. -- confessou -- Fiquei impressionada com a boa imagem que construiu por lá. -- sorria sensualmente -- Não é fácil um estrangeiro ter boa reputação na Gália.
--Que bom que eu tenho, então... -- respondeu sem graça -- Por que não quis me ver? -- perguntou receosa
--Não queria atrapalhar...
--Você jamais atrapalharia! -- respondeu enfática e logo se arrependeu -- Quer dizer... jamais... -- calou-se repentinamente -- "Segura a língua pra não falar besteira, bicha!” -- repreendeu-se
--O que você espera da carreira, Zinara? -- aproximou-se um pouco mais também -- Sucesso, poder, dinheiro...? -- queria saber a resposta
--Eu quero ser uma profissional de relevo na minha área. -- afirmou com sinceridade -- Que meu trabalho faça diferença para o mundo, de um jeito ou de outro... -- bebeu um gole de vinho -- E que com o salário que venha a receber eu possa viver com dignidade, ajudar minha família e quem mais precisar de mim. -- olhou nos olhos da ruiva
--Objetivos nobres. -- bebeu mais um gole -- Eu quero mais que isso da minha! -- passou a mão nos cabelos -- Quero ser a melhor bailarina que o mundo já viu! -- declarou
--Inshallah! -- desejou -- Se Deus quiser! -- repetiu a mesma coisa em gálio
--Deus... -- achou graça -- Nem sempre se precisa dEle. -- bebeu o último gole e deixou a taça no chão -- Não eu!
--Pontos de vista... -- respondeu sem saber o que dizer -- Pontos de vista... -- colocou a taça no chão
--O que eu quero, eu consigo! -- afirmou resoluta -- Seja na carreira... -- tocou o rosto da morena com suavidade -- ou na minha vida... -- reparou nos olhos dela -- Gosto de seus olhos... -- falou sedutoramente -- Seu típico físico exótico me chamou atenção...
“Exótico?!” -- Zinara moveu os lábios e não produziu som -- "E agora eu faço o que?” -- estava incerta quanto à atitude a tomar
--Já conversamos sobre artes, astronomia, política, história, feminismo... -- deslizava um dedo ao longo do V da gola da astrônoma -- Confesso que me surpreendi com seus conhecimentos... -- sorria -- Inclusive sobre balé.
--Eu, eu... -- gaguejou -- Eu gosto de ler. -- falou rápida e nervosamente
Emille riu. -- É sempre tão tímida mesmo depois de um vinho? -- brincou
--Acho que essa única taça de vinho foi suficiente para me deixar bêbada... -- respondeu para tentar descontrair
--Verdade? -- aproximou-se ainda mais -- Então quer dizer que eu posso me aproveitar? -- brincou novamente
A astrônoma sentiu o coração acelerar e engoliu em seco.
--Eu prefiro as meninas quando estão mal comportadas... -- alternava o olhar entre os lábios e os olhos da outra -- J'ai la peau douce, me prélasse
et me délasse... (Eu tenho a pele macia, me deito e relaxo...) -- falava com voz hipnótica -- Gosto de mulheres que me devoram... -- aproximou-se ainda mais -- Mas não deixo que qualquer uma faça isso. Tem que ter um mínimo de conteúdo.
--Conteúdo... -- estava como que enfeitiçada
--Será que você é do tipo que faria isso comigo? -- provocou -- Ou vai ficar apenas me olhando e repetindo o que eu digo? -- brincou novamente
Sem poder se conter, Zinara puxou a mulher pela cintura e beijou-a com desejo e paixão. Emille soltou um gemido abafado pelo beijo e envolveu o pescoço da astrônoma com os braços. Em poucos segundos estavam completamente excitadas e se beijando com fome uma da outra.
Rapidamente a morena deitou a ruiva sobre o carpete e seguiu despindo-a com pressa entre beijos, lambidas e mordidas urgentes. A bailarina tentava despi-la também, mas não conseguia forças para tal, preferindo deixar-se dominar pela fúria do desejo da mulher que estava prestes a amá-la da forma como gostava.
--Oh, Zinara, oui... -- gemia -- Oh! -- fechou os olhos
A astrônoma livrou-se das próprias roupas de qualquer jeito e deitou-se sobre a outra abrindo-lhe as pernas com decisão.
--Oui!(Sim!) -- gem*u excitada -- L'intérieur de moi... (Dentro de mim...)
Zinara seguiu percorrendo uma trilha de beijos famintos pelo corpo da nova amante, introduzindo dois dedos em seu sex* antes de alcançá-lo com os lábios.
--Oh!! -- gritou e arqueou o tronco -- Oui!
Sedenta de desejo, a morena invadiu o sex* da ruiva com lábios, língua e dedos, deixando que a outra mão provocasse os seios dela à vontade.
--Oh, oh, oh, oh... -- gemia e respirava com sofreguidão -- OH!!!!!!!!! -- gritou escandalosa ao atingir o clímax -- Oh... -- abriu os olhos e sorriu -- Pare de me provocar desse modo... -- segurou a outra pelos cabelos -- senão gozo de novo... -- olhou para ela
--Seria ruim, habibi? -- perguntou antes de morder-lhe a coxa
--Quero cuidar de você! -- puxou-a para perto de si e inverteu as posições -- Mon cher... (Minha querida...) -- seguiu mordendo, sugando e lambendo o corpo da parceira
--Ah!! -- fechou os olhos e sorriu
--Tão cheirosa... -- afirmou entre beijos e mordidas -- bom...
“Boa é essa sensação...” -- pensou extasiada
Ao se aproximar do sex* da astrônoma, Emille introduziu um dedo e cobriu um mamilo da amante com os lábios. -- Hum... -- gem*u
--Ah!!! -- gem*u também -- You you you, ya habibi... -- sentia que o orgasmo se aproximava quando a ruiva introduziu mais dois dedos em movimentos rápidos
--Devagar... -- mordeu um mamilo bem de leve -- Hum? -- expirou ar quente sobre a pele da outra
--AH!!! -- Zinara sentiu o corpo tremer de prazer
--Nossa, que desse jeito vou ter que tomar outro banho! -- Magali estava indócil -- Gente, que babado forte!
***
Zinara e Emille estavam deitadas de barriga para cima, lado a lado, no carpete da pequena sala.
--Você deve ter achado estranho que não retribuí o sex* oral, -- a bailarina dizia -- mas eu não gosto de fazer. Apenas de receber. -- afirmou naturalmente
A morena ficou calada sem saber o que dizer.
--Eu também gosto muito de... -- pensava em como dizer -- gosto de sentir... algo dentro de mim. Não somente dedos... -- olhou para a outra -- Entende o que digo?
--Acho que sim. -- olhou para ela também
--Já fez amor com alguma mulher usando um... bibelô? -- perguntou dengosa
Lembrou-se de Daise e seus brinquedos estranhos. -- Já vi isso... -- respondeu receosa
--Eu tenho um. -- sentou-se como felina sobre a amante -- Usa comigo? -- pediu melosa
--Habibi, eu... -- sentou-se também e abraçou-a pela cintura -- Eu não sei se me sentiria à vontade com uma coisa dessas... -- estava meio constrangida -- Ou se teria sensibilidade para fazê-la sentir prazer...
--E por que não tentamos, mon cher? -- mordeu-lhe o lábio inferior -- Aí você ficaria com as mãos livres para mim... -- sorriu sensualmente
“Eu olhava naqueles olhos, Kitaabii, e não conseguia negar coisa alguma.”
--Espere um pouco que eu vou trazer. -- beijou-a e levantou-se -- Só um pouco! -- foi andando nua pela casa
“O que tá acontecendo comigo?” -- pensou sentindo-se confusa -- "Bebi, fiz amor no primeiro encontro com uma mulher e tô prestes a usar uma tranqueira sexual...” -- considerava -- "Zinara, onde você tá se metendo? Emille não é Zahirah, e Zahirah nunca foi mulher pra você desejar...” -- pensou envergonhada
--Ai, caipira, não corta o clima com essas crises existenciais! -- Magali reclamou -- Que coisa! -- continuava lendo -- Deixa eu pular essa parte de conversinha e passar direto pro que interessa. -- prestava atenção no texto -- Hum...
--Oh, oh, oh!! -- Emille gemia com os olhos fechados -- Oh, desse jeito, mon cher, forte... -- pedia excitada
Zinara estava de pé, posicionada atrás da amante, beijando-lhe o pescoço com fúria enquanto penetrava-a com vigor. Com uma das mãos estimulava-lhe o sex* e com a outra, provoca-lhe um dos seios.
--Oh, oh, oh, oh!! -- gemia extasiada -- OHOH!!!!!!!! -- gritou com a chegada do orgasmo
--AH!! -- a morena goz*va junto com a ruiva -- Ah, ya habibi, ya gamil... (Ah, minha querida, minha linda...) -- sussurrava no ouvido
-- Oh, mon cher... oh... -- recuperava o fôlego -- era assim que eu queria... -- respirou fundo -- Oh, era assim... -- sorriu -- Hum... -- remexeu-se um pouco -- Tira... -- pediu dengosa e foi atendida
Beijava a nuca da bailarina. -- Que pena... que estou indo embora... -- virou-a de frente para si -- Sentirei sua falta... -- beijou-a carinhosamente
--Fica? -- beijou-a -- Eu gostei de você... -- sorriu -- Gostei dessa noite. -- beijou-a novamente -- Une part de bonheur dont je connais la cause... (Um pedaço de felicidade que eu conheço a causa...) -- cantarolou um trecho de uma canção
--Des nuits d’amour à plus en finir, un grand bonheur qui prend as place, les ennuis, les chagrins, s’effacent... (Infinitas noites de amor trazem grande felicidade, a dor e os aborrecimentos vão-se embora...) -- cantarolou também
--Heureux, heureux à mourir... (Feliz, tão feliz eu poderia morrer...) -- cantarolou novamente -- Hum, você conhece a canção... -- beijou-a -- Ganhou mais pontos comigo, senhorita astrônoma! -- brincou -- Agora quero mais ainda que você volte! -- mordeu-lhe o lábio inferior
--Se conseguir voltar... -- sentou-se no sofá e guiou a parceira para se sentar em seu colo -- Ainda tenho as últimas disciplinas do mestrado para cursar. -- explicou
--Faça o doutorado aqui. -- respondeu simplesmente -- Espero você... -- beijou-a novamente -- Mas quero muitas lembranças pra suportar a espera. -- sorriu e beijou-a languidamente
--Isso, vão fazendo aí, vão fazendo, que eu quero ler! -- Magali falava empolgada -- Acho que eu vou arrumar uns brinquedinhos desses aí! -- decidiu -- E ver também o tal do gel que a bailarina gostava. Hoje em dia deve existir um monte de tipo. -- continuava lendo -- Ui, mas olha só isso! Elas tavam com vontade mesmo! -- constatou animada
--É assim que as mulheres de Terra de Santa Cruz rebol*m? -- a bailarina requebrava-se sobre a morena como se cavalgasse -- Hum? -- sorria sensualmente
--Você me enlouquece... -- sentou-se rapidamente e inverteu as posições deitando-se sobre a outra -- Linda... -- penetrava-a rapidamente beijando cada pedaço de pele nua com desejo e paixão
--OHOH!!! -- gem*u alto e fechou os olhos cravando as unhas nas costas da amante
--Gente, quanta sacanagem boa... -- Magali não se aguentava -- Esse jantar foi um arraso! -- lia como uma tarada
--Amor, cheguei! -- Lúcia anunciou -- Ai, que cansaço! Peguei um engarrafamento...
--Ih, hora de parar de ler. -- fechou o arquivo rapidamente -- Depois eu entrego o pen drive pra Clarice. -- desconectou-o do laptop -- Tem que saber como foi que terminou esse rolo com a bailarina ruiva. -- levantou-se -- Tô indo, amor! -- foi receber a esposa -- "Amanhã tem mais!” -- pensou
--Então foi depois dessa noite de sex* ardente na casa da bailarina que você decidiu que faria o doutorado na Gália? -- Cláudia perguntou empolgada
--Uai... -- ficou sem graça -- Eu não pensava em outra coisa senão em revê-la... -- confessou -- Não conseguia tirar Emille do pensamento, sabe como é? O desejo de voltar pra Gália me consumia. -- lembrava -- Trocávamos e-mails com certa frequência e ela demonstrava que me queria por perto; eu me sentia nas nuvens...
Olhou para o relógio. -- Ave Maria, que já é tarde e eu não consigo ir embora! -- achou graça -- Conta mais, e aí? -- queria saber -- Você queria voltar, a bailarina queria que você voltasse, mas e o pessoal do Observatório de Villeparisis? -- estava curiosa -- Tenho certeza que o povo de lá te achou uma aluna da gota, mas como foi que tu conseguisse juntar a fome com a vontade de comer?
Achou graça. -- Eu analisei 400 anos de registros astronômicos de manchas solares e confrontei com registros de temperaturas médias do planeta no mesmo período. A concordância foi perfeita! -- contava -- Daí busquei desenvolver dois modelos: um deles continuava meu trabalho de monografia, e consistia numa correlação entre a temperatura média global e os ciclos de manchas solares -- explicava sua pesquisa -- e o outro foi pra poder prever a ocorrência cíclica dessas manchas, do tipo, quantas seriam, quando apareceriam, mais ou menos isso. -- sorriu -- Nos meus dois últimos meses por lá ganhei um bom dinheirinho apostando numa casa de apostas contra as previsões da Oficina Meteorológica da Gália. Toda semana fazia uma fé... -- riu brevemente -- Errei pouquíssimas vezes, ao contrário da Oficina, que vacilou quase sempre.
--Uau! -- ficou admirada -- Que massa!
--A coisa gerou uma certa repercussão e brofeseer Cozette ficou doidinho pra eu fazer o doutorado lá. -- justificou
--Mas então deixa eu entender o resto. -- estava ansiosa -- Tu voltasse pra São Sebastião, defendesse o mestrado e corresse atrás do doutorado na Gália. -- deduziu -- Mas e os professores? Você planejava mesmo fazer o doutorado antes de ter conhecido a ruiva? Como foi que a coisa se desenrolou? -- perguntou tudo ao mesmo tempo
--Aywah (Sim), fazia parte dos meus planos engrenar direto no doutorado e por isso, quando voltei, comecei a cursar algumas matérias do doutorado junto com as que faltavam pra terminar o mestrado, que eu defendi em setembro. -- contava -- Mas por causa de Emille acabei me decidindo pelo país dela, embora no primeiro momento tivesse pensado em fazer um doutorado sanduíche na Germânia.
--Vixi! -- estava pasma
--Você tinha que ver quando comuniquei sobre minhas ideias pro meu orientador... -- riu brevemente -- ele não reagiu muito bem, não... -- viajou no tempo
--Mas, Zinara, como você é uma aluna complicada, bem que Cristina falou! -- Oséias reclamava -- Primeiro você perturbou com essa coisa de mudanças climáticas e aquecimento global, depois decidiu estudar sobre o sol e me pediu pra te orientar. -- andava para um lado e outro gesticulando -- Só aceitei porque suas notas sempre foram altas e sua reputação no Departamento é muito boa, embora Cristina tivesse me advertido a seu respeito. -- olhou rapidamente para a morena -- Vi que ela não exagerou quando você recusou o convite do Observatório do Astro Rei! -- fez cara feia -- Depois você arrumou uma oportunidade na Gália e me encheu o saco pra ir antes de terminar todas as matérias do mestrado! -- relembrava -- Coisa que eu não gostei nem um pouquinho!
--Eu expliquei que precisava ir logo porque minha vida tava muito complicada e eu queria ficar um tempo longe. -- justificou-se -- E ya said (o senhor) há de reconhecer que esses quatro meses na Gália foram muito proveitosos! Tanto que já vou até defender a dissertação em setembro, logo no final do período.
Não respondeu ao comentário. -- Também não gostei muito de você cursar matérias do doutorado agora, junto com as que tão faltando pra concluir o mestrado, mas engoli porque sei que dá conta. Pelo menos conto com isso! -- parou diante da aluna -- Mas essa que você me arrumou de estudar de novo na Gália foi a gota d’água! -- cruzou os braços
--Mas por que?! -- perguntou sem entender -- Meus modelos teóricos precisam de mais estudos pra aumentar a aderência. -- justificava-se -- É o que pretendo fazer no doutorado.
--E por que não pode fazer isso na Germânia, que tem muito mais recurso? -- objetou
--Mas eu vinha usando os recursos do Observatório de Villeparisis e lá eu já sei a quem procurar pra me ajudar a resolver meus problemas. -- olhava para o homem -- Também preciso de mais interface com a equipe de paleoclimatologia do Pólo Norte e o melhor grupo que tem é o da Gália.
--Ora, Zinara, me poupe! -- fez um gesto de contrariedade -- Além do mais não posso te orientar num tema que não domino! Essa sua proposta cheia de ‘interfaces’ -- falou ironicamente -- foge das minhas competências!
--Ya said pode ser meu co-orientador. -- sugeriu -- E o orientador principal seria o brofeseer Cozette.
--Humpf! -- fez um bico -- Eu preferia muito mais o plano original que negociamos antes de você viajar! -- reclamou -- Pensei que essa sua neurose de clima tinha passado!
--Desejo que seja assim, brofeseer... -- respondeu respeitosamente -- É a minha carreira, não?
Oséias saiu da sala contrariado sem dar uma resposta.
--Mulher, esse estresse todo foi só por causa da bailarina... -- Cláudia ficou pasma -- Você mudou até o tema da tese por causa dela! -- riu brevemente -- Aquela noite deve ter sido mesmo da gota, visse? -- piscou
Zinara corou. -- Na verdade, o primeiro tema de tese foi uma sugestão do meu orientador e eu tinha ficado meio cabreira, porque seguir o caminho que ele apontava podia me deixar bem longe de meu objetivo de me aprofundar nos estudos sobre o clima com astronomia. -- cruzou as pernas -- Na equipe de monsieur Cozette havia gente que se dedicava ao tema, só que ele era um homem muito complicado, rude e a equipe dele também não era muito fácil de se lidar... -- lembrava -- Fiquei ponderando essas coisas durante quase os quatro meses que passei por lá, só que depois de Emille...
--Você caiu de cabeça na ideia. -- concluiu
--E não sosseguei até conseguir voltar pra Gália... E isso aconteceu no réveillon 2003-2004, por causa do preço mais em conta da passagem aérea. -- lembrava -- E pela segunda vez a experiência de passar ano novo dentro de avião! -- revirou os olhos -- Ralã! -- expressou desgosto
--E sua família? -- perguntou curiosa -- Eles sabiam disso?
--Tomei coragem e fui passar o natal na roça. Como te contei, naquela época eu tinha conseguido juntar um bom dinheirinho e levei presente pra todo mundo! -- sorriu para a médica -- Fui bem recebida pra minha surpresa, mas não por causa dos presentes. Hoje sei que eles morriam de saudade... -- abaixou a cabeça -- Quando contei da novidade acabei tendo uma discussão com baba, que ficou possesso com a ideia de saber que eu passaria um ano fora. -- pausou brevemente -- Aliás, ele já tava mordido em saber que passei quatro meses na Gália... Acho até que pensou que o dinheiro que eu tinha foi ganho em prostituição. -- balançou a cabeça desgostosa -- Wana amil eh? (Fazer o que?)
--E acabou que você ficou na Gália por mais de um ano! -- Cláudia complementou
--Pois é... pois é... -- suspirou -- Me permiti ser egoísta, larguei todo mundo no vento e vivi o que achava que deveria viver. -- pausou brevemente -- "Ana baddi gheish! (Eu quero viver!)”, dizia pra mim mesma. -- lembrava -- Achava que tinha passado tempo demais valorizando os outros e sofrendo, então era hora de fazer diferente.
--Arrependimentos? -- olhava para a amiga -- Responde sinceramente! -- pediu
Pensou antes de responder. -- Laa... (Não...) Acho que não... -- cruzou os braços -- Fiz o que tava com vontade de fazer naquela época e não prejudiquei ninguém... Foi um aprendizado. -- considerou -- E graças a Allah, ninguém de usritii (minha família) precisou de minha ajuda enquanto estive fora. -- falava mais para si do que para a outra -- "E eu também remeti dinheiro pra maama várias vezes...” -- pensou -- "Não larguei de todo...”
--Ai, ai... -- suspirou -- A conversa tá muito boa, mas eu tenho mesmo que ir. -- levantou-se -- E você tem que cuidar da vida em casa porque já tá tarde. -- pegou a bolsa -- Outro dia a senhora termina de me contar a história dessa ruiva que te fez mudar tudo! -- afirmou como se desse uma ordem -- Quero saber o que aconteceu depois que você voltou pra Gália.
--Macleech! (Não se preocupe!) -- levantou-se também -- Eu conto.
--Última pergunta do dia: -- não se aguentou -- valeu a pena o esforço? -- caminhou até a porta -- Digo, com a bailarina.
--É uma longa história... -- seguiu a médica
--Ah, mas com certeza eu vou querer saber do que veio depois!
***
“Emille me recebeu no aeroporto com certa frieza, Kitaabii, como se me visse todo dia e isso me decepcionou um tanto. Reclamou do atraso do meu avião e não conversou comigo no caminho até o albergue. Cheguei a me arrepender por ter voltado, especialmente porque ela não me procurou mais.
Cheia de saudades e sem poder mais esperar, engoli todo o meu orgulho e arrisquei de ir procurá-la no Palais Garnier.”
--Isso, caipira, atitude! -- Magali voltava com a leitura -- Tomara que esse reencontro tenha sido daqueles! -- desejou
A bailarina saía do teatro acompanhada por outra mulher, que regulava sua idade. As duas conversavam divertidamente.
--Emille? -- a astrônoma chamou receosa
--Hum... -- as duas pararam de andar e a ruiva olhou para trás -- Zinara. -- olhou para a outra de cima a baixo
--Bonsoir! (Boa tarde!) -- cumprimentou as duas -- Comment allez-vous? (Como vai?) -- aproximou-se
--Bien. (Bem). -- respondeu simplesmente -- Zinara, deixe-me apresentá-las. -- olhou para a jovem a seu lado -- Esta é Naima, uma de minhas melhores amigas. -- sorriu polidamente -- Esta é a astrônoma sobre quem lhe falei. -- olhou novamente para a morena
“Então ela fala de mim...” -- pensou toda prosa
--Ela é nascida em Cedro, assim como você. -- Emille comentou para Naima
--Oh! -- a jovem ficou nitidamente desconcertada -- Ahlan! (Olá!) -- cumprimentou sem saber o que dizer
Zinara surpreendeu-se com a informalidade, mas entendeu que os costumes mudam e com as pessoas de Cedro não seria diferente. -- Masaa Il-kheer! (Boa tarde!) -- estendeu a mão para cumprimentá-la -- Tacharrafna. (Muito prazer.)
--Walaw... (O prazer é meu...) -- apertou a mão da outra rapidamente
--Enti mineen? Ana min Jasin. (Da onde você é? Eu sou de Jasin.) -- sorria
--Ana... (Eu...) -- parecia não saber como responder -- Berytus. -- queria claramente finalizar a conversa -- Eu... -- ajeitou os cabelos -- Vou deixá-las conversando a sós. -- afirmou na língua da Gália e deu tchauzinho -- Masalema! -- olhou para a ruiva -- Au revoir! (Até logo!) -- foi embora
“Masalema?!” -- estranhou a forma de dizer o ‘até logo’ -- "Que sotaque é esse?” -- intrigou-se
--Au revoir! -- despediu-se da outra sem tirar os olhos da morena -- O que você deseja? -- cruzou os braços e ficou esperando a resposta
--Será que poderíamos conversar em outro lugar? -- perguntou ao aproximar-se um pouco mais
--O que deseja? -- insistiu com a pergunta
--Você! -- respondeu de imediato -- "Eita, caipira, vai mansa!” -- aconselhou-se
Emille corou um pouco e desviou o olhar. -- Depois de três semanas? -- parecia chateada -- Não parece que me deseje tanto assim... -- afastou-se
--Não acha que você é quem deveria ter me procurado? -- argumentou -- Não fui eu quem agiu com total indiferença naquele dia no aeroporto.
--Eu fui recebê-la, não fui? -- retrucou olhando para a astrônoma
--E eu voltei por você, não voltei? -- olhava nos olhos -- O que mais eu deveria ter feito? -- questionou
A ruiva ajeitou os cabelos e gastou uns segundos calada antes de responder: -- Não estou preparada para o sex* hoje.
--Como assim?! -- Magali não entendeu -- Será que ela tava menstruada, com a calcinha furada, o que será que era? -- especulou
Zinara não entendeu aquela resposta. -- E é só isso que pode acontecer entre nós? -- aproximou-se novamente -- Um relacionamento se resume a tão pouco para você? Ou sou eu que não mereço mais do que o superficial? -- calou a boca -- "Ave Maria, que eu tô numa decisão que não parece nem eu!” -- espantou-se consigo mesma
Ficou analisando o rosto de Zinara e propôs: -- Vamos para minha casa. Lá nós conversaremos melhor.
--Yaalah. (Vamos.) -- concordou
--Ih, será que o coro vai comer de novo? -- Magali se empolgava -- Vamos pular essa parte das formalidades e ir direto ao assunto! -- lia rapidamente
--Eu não vou mentir para você, Zinara. -- tirou o casaco e pendurou no suporte de parede -- Na hora do prazer se diz muita coisa e não nego que g*zei bastante contigo. -- sentou-se no sofá -- Eu não estava pensando em nada sério... -- olhava para a morena -- Sente-se, por favor. -- soltou os cabelos
Sentiu um cheiro forte de suor ao se aproximar e reparou que os cabelos da bailarina pareciam meio sujos. -- Isso quer dizer o que? -- preparava-se para levar um fora
--Que não te prometo nada! -- respondeu de pronto -- Amor eterno, casamento, nada. -- calou-se por uns instantes -- Eu sempre priorizei minha carreira e não faz parte dos meus planos mudar tudo por causa de alguém. -- abaixou a cabeça e ficou mexendo em uma das mechas ruivas
“Naquele momento, Kitaabii, me senti uma completa idiota.”
--Uai... -- acabou exclamando na língua de Terra de Santa Cruz -- Você... -- voltou a falar em gálio -- não gostaria nem de tentar? -- arriscou -- Sem promessas, sem expectativas... -- propôs -- Apenas vivendo um dia de cada vez. -- olhava para ela -- "Não insista, Zinara, não se humilhe, min fadlik (por favor)...” -- pediu a si mesma
Emille ficou olhando para a morena. -- O que você quer, Zinara? -- perguntou com um certo carinho
--Namorar... -- abaixou a cabeça -- Pode ser bom, Emille... Um namoro é uma amizade mais íntima e carinhosa.
A bailarina ficou calada e a astrônoma sentiu-se desconfortável com aquele silêncio.
--É melhor eu ir embora. -- movimentou-se para se levantar mas foi puxada pela blusa, indo de encontro ao corpo da outra
--Qu’elle est mignonne... (Que gracinha...) -- sussurrou antes de beijá-la -- Si tu n'existais, pas je t'inventerais... (Se você não existisse, teria que ser inventada...) -- beijou-a novamente
Sentiu um gosto meio estranho nos lábios da outra mulher e, embora desejasse beijá-la com paixão, não conseguiu fazê-lo.
--Nos fusions… (Nossa fusão…) -- falava entre beijos -- On se desire... (O desejo recíproco...) -- puxava a morena para que se deitasse sobre si -- Sous haute-tension... (Sob alta voltagem...) -- envolveu o pescoço dela com os braços
O cheiro e o gosto que sentia não lhe deixavam com vontade de continuar. -- Espere, Emille. -- desvencilhou-se com jeito -- Espere. -- sentou-se -- Faire à deux ce tout premier pas. (Vamos fazer tudo de novo, começar do princípio.) -- propôs --
Et ne connaître que toi. (E nos conheceremos melhor.) -- falava com delicadeza -- Você disse que não estava preparada para a intimidade hoje e... -- tentava conduzir a situação de modo gentil -- Acho que eu também não.
--Oh... -- ajeitou-se novamente no sofá -- Tudo bem... -- pareceu ter notado o desconforto da astrônoma -- Se prefere assim...
--Claro, né, nêga? -- Magali respondeu como quem diz o óbvio -- Aturar CC e um bafinho de onça não é mole!
Segurou as duas mãos da bailarina. -- Aceita ser minha namorada, mon cher (minha querida)? -- perguntou carinhosamente -- Será que me daria a honra? -- sorriu
--Oui, madmoiselle! -- respondeu sorrindo -- É claro que eu quero...
A morena acariciou levemente o rosto da namorada e beijou-a com carinho.
--Ainda teve muito sangue frio pra fazer isso! -- Magali considerou -- Gente fedida, não dá!
“E apesar das reservas de Emille acabamos namorando sério, Kitaabii. Aos poucos ela foi me deixando fazer parte de sua vida e ao mesmo tempo foi se envolvendo comigo. Ela também me ajudou muito com a terrível burocracia do país, bem mais que monsieur Cozette, e com isso evitei problemas com a Imigração.
Nosso relacionamento evoluiu de modo muito diferente de tudo que eu tinha vivido até então, Kitaabii. Começamos com atração, desejo, paixão e ousadia, e aos poucos fomos trilhando um caminho cheio de companheirismo, carinho e amizade. Tínhamos as mesmas ideias políticas, gostávamos de artes, cultura e ciências. Emille era muito culta e apreciava as oportunidades de aprender coisas novas. Ensinei-a a usar um telescópio e apresentei o céu noturno a ela com detalhes por algumas noites. Fizemos passeios de bicicleta, eu assistia seus ensaios aos domingos de manhã, sempre que me permitiam, e morria de saudades quando ela passava algumas semanas fora. Para minha sorte, naquele ano ela não viajou muito, situação que a deixava bastante nervosa. Ela ardia pelo sucesso e acreditava que quanto menos viajasse, mais longe estaria dele. Nossos desentendimentos, quando aconteciam, eram por causa dessa sede pelo sucesso, pelas minhas esquisitices e traumas de guerra que a incomodavam e pela preguiça dela em tomar banho, lavar o cabelo e sua total indisposição em escovar os dentes. Uma vez, numa discussão, minha bailarina me confessou que se submeteu a um verdadeiro ritual higiênico na véspera de nossa primeira noite e que não desejava passar por aquilo todos os dias. Tive que rir... Não nego que também éramos muito diferentes sob vários aspectos.
Cursei disciplinas do curso de cosmologia em um único período no Departamento de Astronomia ligado ao Observatório e fiquei surpresa com o nível; achei que em Terra de Santa Cruz era mais puxado. O trabalho com o grupo de monsieur Cozette seguia bem, apesar de momentos de atrito entre nós. Ele estava muito satisfeito com meu modelo sobre o ciclo de manchas solares, desenvolvido no mestrado, e desejava vê-lo o mais completo possível. Foi daí que orientei meu primeiro aluno: um graduando que estagiava no Observatório. Fiquei toda prosa...
E enquanto os dias se desdobravam, eu me via cada vez mais apaixonada, tendo ficado em êxtase quando, em julho, Emille me convidou para morarmos juntas. Confesso que sentia muita falta de Terra de Santa Cruz, de minhas amizades, pensava em como estaria usiritii (minha família) e inicialmente não pretendia passar o resto de minha vida na Gália, mas me sentia muito bem com Emille e se ela me pedisse para ficar para sempre, acho que mudaria os planos e teria dito sim. Poderia construir uma boa carreira por lá e visitar Terra de Santa Cruz nas férias.”
--Moraram juntas, é? Nossa, o babado foi mesmo fortíssimo! -- Magali procurava por outras cenas de sex* -- Mas e a sacanagem, cadê? -- não tirava os olhos da tela
--Querida, cheguei! -- Lúcia anunciou
--Por hoje é só. -- fechou o arquivo rapidamente -- Já vou, benzinho! -- respondeu amorosa -- Esse diário de Zinara é o Ó! -- comentou consigo mesma ao desligar o computador
CAPÍTULO 135 – Malas Prontas
Jamila caminhava pela orla de Princesinha do Mar. Passava uma pequena temporada na casa de uma amiga, em São Sebastião, antes de viajar para Godwetrust.
Parou em frente ao mar e respirou fundo mirando o infinito. Uma lágrima inesperada rolou-lhe pelos olhos assim que a imagem de Jandira formou-se em sua mente. Na noite passada, havia recebido um telefonema de Paula avisando sobre a morte da idosa e lamentou por não estar por perto quando aconteceu.
“Foi melhor assim, Jamila, dona Jandira era uma pobre sofredora...” -- consolava-se mentalmente -- "E se você estivesse lá, faria o que?” -- considerava -- "Pelo menos, foi como disse Paula: ela pôde viver dias de felicidade e acolhimento antes de partir dessa terra...” -- lembrava das palavras da outra
Tentou desviar os pensamentos da tristeza do luto e lembrou-se de sua família, sentindo saudades por antecipação. Sentiu também um pouco de revolta por causa das injustiças do mundo. Lembrar dos motivos que a faziam partir deixavam-na desesperançosa quanto ao futuro do país.
“Mas acaba sendo assim em qualquer lugar do mundo...” -- balançou a cabeça positivamente -- "Zinara tinha razão... a sociedade adoeceu e precisa de mudanças drásticas...”
A lembrança da ex também lhe trouxe um pouco de dor no coração. Às vezes, ainda se arrependia de muitas coisas que fez e de outras tantas que deixou de fazer.
--Ai, eu não quero pensar! -- falou para si mesma -- Tudo que me vem à cabeça me traz dor, que merd*! -- caminhou em direção ao mar -- Mas como desligar a cabeça, hein? -- parou bem perto da água e se ajoelhou -- "Será que a Meretíssima me traria um pouco de paz?” -- pensou na possibilidade e decidiu orar do seu jeito -- "Meretíssima, com sua licença...” -- fechou os olhos -- "Preciso da intervenção de Vossa Excelência na minha alma...” -- pediu humildemente
Cátia caminhava bem perto dali e pensava no último encontro que teve com Lídia, o qual frustrou totalmente suas expectativas.
“Ela tem razão... não era pra ser...” -- lembrava das palavras da outra
Contrariando ao que a jovem pediu, a geofísica havia depositado um dinheiro em sua conta bancária para ajudar a mãe da moça. Sabia muito bem o que era ver familiares precisando de recurso e não ter dinheiro; não queria que Lídia sentisse a mesma coisa.
“Eu não tô com essa bola toda pra ficar dando dinheiro assim. Nem parece que sou professora...” -- acabou achando graça -- "Mas eu não podia ficar sem fazer nada!” -- considerou
Lembrou-se também de Vanessa e da despedida no aeroporto no dia anterior.
“E a maluca foi pra Aethiops com aquelas roupithas toda à la bandida...” -- visualizava a jovem em sua mente -- "É capaz de ser presa quando chegar!” -- pensava -- "Os homens da Imigração vão ficar que nem eu quando vejo aqueles decotes, aquelas coxas, o traseiro de parar o trânsito...” -- suspirou -- Ô, tentação dos infernos... -- passou a mão nos cabelos -- "A quem eu tô tentando enganar?” -- perguntou para si mesma -- "Minha libido foi pro espaço como por encanto...”
Olhou na direção do mar e viu uma mulher ajoelhada como se orasse.
--Eu não tô bem... -- assumiu para si mesma -- Será que se fizer igual a ela, melhoro? -- questionou-se -- Por que não? -- seguiu em direção ao mar e parou a poucos metros de Jamila -- "Dizem que o mar carrega nossas tristezas se a gente pedir...” -- ajoelhou-se -- "Eu não peço muita coisa, meu Deus...” -- fechou os olhos -- "somente um pouco de paz...”
Cátia e Jamila permaneceram ali por algum tempo, totalmente indiferentes a presença uma da outra.
***
--Vai viajar, amiga? -- Magali perguntou com estranheza -- Tô te vendo aí toda de mala pronta! -- reparou na bagagem -- Vais pra onde? -- queria saber
--Vou pra uma reunião em Rainha do Prata e também pra visitar a Universidade. Tenho um ex aluno estudando lá e ele me pediu pra co-orientá-lo no mestrado. -- terminava de se arrumar -- Vou aproveitar e resolver uns outros assuntos que tão pendentes.
--Rainha do Prata? Ai, eu gosto daquela cidade! -- exclamou empolgada -- Não perca tempo e vá ver um show de tango à noite. São maravilhosos! -- aconselhou
--Não sabia que gostava de tango. -- comentou ao pegar a bolsa -- Quem adora um show de tango é Zinara. -- sorriu -- Disse que vai me levar em um bem bonito!
--Ah, eu amo tango! -- gesticulou -- Especialmente as dançarinas! -- aproximou-se para falar mais baixo -- É cada pernão, amiga! E as lascas nos vestidos delas deixam muita coisa pra apreciar! -- piscou assanhada
--Deixa Lúcia ouvir isso! -- brincou -- Ah, aproveitando que está aqui, -- olhava para ela -- será que não teria achado um pen drive azul e pequenininho? -- perguntou esperançosa -- Perdi o Kitaab eletrônico de Zinara e fiquei sem graça de dizer isso pra ela. Já procurei por toda parte e não encontro! -- reclamou -- Quase virei tudo de cabeça pra baixo e nada!
--Pen drive? -- afastou-se meio sem graça -- Não... -- mentiu -- Não lembro de pen drive, não... -- disfarçava
--Que pena... -- lamentou e olhou para o relógio -- Tenho que ir. -- deu beijos de comadre na outra -- Até semana que vem, minha querida.
--Boa viagem, meu bem. -- desejou -- Semana que vem a gente conversa.
Clarice e Magali saíram da sala da paleoceanógrafa, que trancou a porta e foi embora.
“Mil perdões, amiga, mas só te devolvo aquele pen drive depois que ler os babados fortíssimos que ainda me restam!” -- falava mentalmente -- "Prometo que serei discreta e conto nada pra ninguém!” -- beijou os dedos em cruz -- Nadinha.
CAPÍTULO 136 – Barata Voa em Terra de Santa Cruz
--O quê, Lúcia??? -- Rafael exclamou revoltado -- Você vai votar na Vilma?? Não acredito! -- gesticulava furioso -- Militar e votando na Vilma??
--Por que?? Militar vota em quem?? -- respondeu desafiadora -- No Décio?? -- olhava para o colega -- Eu voto em quem eu quero, meu filho, não é em quem você quer!
--Pois tem que votar no Décio mesmo! -- deu um soco na mesa -- Ele vem pra descer o pau nessa pouca vergonha toda que se vê por aí!
--Ah, é, com certeza! -- respondeu debochada -- Eu lembro muito bem de como foram os doze anos de governo do partido dele! -- gesticulou -- Nenhum aumento pra gente naquela época, tá? Lembra não, senhor amnésia?
--Doze anos?! -- riu provocador -- Sabe nem contar! Foram oito! -- mostrou o número com os dedos
--E você não sabe nada de história! -- argumentou -- E os quatro anos de dueto Armando Sollor e Ribamar Branco? Não conta, não?
--Esses aí nunca foram do partido do Décio! -- respondeu de cara feia
--Eram do PLF, atual BEM, partido que apóia o seu candidato! -- sorriu debochada -- Você não diz que PTÊ e PNCB são tudo a mesma coisa porque fizeram coalizão? Vale o mesmo raciocínio nesse caso. -- cruzou os braços
--Pois eu vou votar é na Osvaldina! -- Fabrício veio se metendo na conversa -- Nem Décio, nem Vilma! Esses dois aí, -- gesticulava -- são tudo farinha do mesmo saco! -- olhava para os colegas -- Osvaldina é diferente! Ela tem consciência ecológica e é mulher do povo!
--Consciência ecológica e se mete em negociata com ONGs mercenárias no norte do país? -- Jéssica também se envolveu na discussão -- Mulher do povo e se pega com herdeira de banco? -- riu brevemente -- Faça-me o favor, Fabrício! -- fazia cara feia -- Mulher do povo é a Vilma que manteve a política social do ex presidente Luis Horácio!
--Política social?? -- Herbert interveio revoltado -- E o que você me diz do Plano de Infra? -- gesticulou revoltado -- Aquilo ali é a pura privatização das nossas estradas, aeroportos, portos, tudo com dinheiro do Banco Nacional pra pagar a conta! -- gesticulou -- Bem do jeitinho que o ex presidente Armando Patrick fez com as empresas de telecomunicações e a Dallhe do Rio Foice! -- argumentou com raiva -- Já esqueceu o que o Ministro da Chácara fez em 2010?? Permitindo a enxurrada de dólares que Godwetrust jogou aqui? Nenhum país do G19+1 aceitou essa manobra!
--E a corrupção desvendada com a Operação Caça Rato? O escândalo com nossa estatal do petróleo? -- Bruna lembrou -- Nunca na história desse país se viu coisa igual!
--E quando na história desse país se viu uma investigação como essa, hein?? -- Lúcia respondeu furiosa -- Esqueceu que na época do Armando Patrick, o Buscador Geral era conhecido como Engavetador Geral da República? -- lembrava -- E o escândalo da pasta cor de abóbora? O escândalo da compra de votos pra reeleição, o esquema do cartel do metrô de Paulicéia??
--É por isso que tem que votar na Osvaldina!! -- Mauro falou mais alto -- Ela não tem o nome envolvido com escândalo nenhum!! Ela não tem o rabo preso!!
--E nem o Décio!! -- Gabriela gritou -- Muito menos o Décio!!
--É piada isso?? -- Lúcia zombou -- Vamos rir, gente, que essa foi boa!
--Werneck, você não sabe! -- Bernadete entrou na sala do colega espantada -- Raul e Paulo tão quase se matando no corredor por causa de Vilma e Décio!
--Oxi! -- estranhou -- Que fuleiragem da porr* é essa?
--Raul vai votar em Vilma e Paulo vota em Décio! -- explicou -- Aí já viu!
--Humpf! -- fez um bico -- Que se matem! -- desprezou -- Eu, como vou anular o voto...
--Eu voto na Osvaldina! -- afirmou enfática -- Única pessoa decente que se tem hoje pra votar!
--Sei... -- Werneck revirou os olhos
--Eu não sei como que um cabra instruído tem coragem de votar em Vilma! -- Paulo protestava cuspindo marimbondos -- Uma mulher envolvida num governo que é uma corrupção da peste e ainda tem a cara de dizer que não sabia de nada! -- revoltava-se -- Igual Luis Horácio, que nunca sabia de nada! -- gesticulava com o dedo em riste -- Uma terrorista que fazia miséria na época que os comunistas queriam tomar o poder e acabar com a ordem!
--Mas que discursinho de merd*, esse teu! -- respondeu no mesmo tom -- Você vai votar em Décio, homem?? Vai votar?? -- Raul perguntava escandalizado -- Quê que o partido dele fez pelo nordeste?? -- gesticulava -- Quê que eles deram pra gente?? Quê que eles deram pros professores?? -- falava quase aos berros -- Pois eu digo: foi merd* que eles deram!!
--Votar em Décio??? Vocês tão é loucos!! -- Cátia respondeu enfática -- Por acaso esqueceram como foram os anos de PRCB? -- olhava para os colegas -- A pindaíba que se vivia nessa universidade? -- lembrava -- No ano 2001 a instituição recebia menos recurso por aluno que uma passagem de Kombi! -- gesticulou
--Eu voto em Vilma! -- Leandro afirmou resoluto -- Décio é retrocesso e Osvaldina é loucura!
--Nada de Vilma! -- Cátia se opôs de cara feia-- Não lembra do leilão do campo de Balança? Da mobilização de toda a Força Nacional pra entregar o que é nosso? -- balançou a cabeça negativamente -- Aquilo ali eu não perdoo nunca!
--Eu vou de Osvaldina! -- Célia olhou para Leandro -- Posso saber que loucura há nisso? -- desafiou
--Vocês são todos uns idiotas! -- João afirmou em voz alta -- É Décio na cabeça!!
--Na cabeça dos camarões do Departamento! -- Mariana rebateu de pronto -- É Vilma!! Eu voto Vilma 31!!
--Décio 54!! -- Carla gritou
--Ih, deixa eu vazar que começou a histeria! -- Cátia saiu da sala dos professores
--Zinara, Zinara!! -- Julieta vinha correndo atrás da morena -- Temos que conversar sobre uma coisa muito séria!
“Ô, meu Pai, me defenda...” -- pensou antevendo o pior -- Que foi dessa vez, ya Julieta? -- olhava receosa para a mulher -- Não me diga que já vem com ideia de aumentar o condomínio? -- perguntou desconfiada
--Ainda não! -- aproximou-se mais -- Queria saber em quem vai votar! -- afirmou curiosa
--Oxi! -- exclamou franzindo o cenho
--Nossos homens santos, Otaviano e Vilas Calarraia, mandaram votar em Osvaldina! -- informou -- Você precisa saber disso!
--Humpf! -- fez um bico -- Pois eles que vão dar conselho pro raio que os parta! -- respondeu com seriedade -- Eu não voto nessa candidata nem que a polícia me prenda! -- apertou o botão do elevador -- Ralã! -- exclamou com desprezo -- "Eu vou é anular o voto!” -- pensou
--Que é isso, minha filha?? -- arregalou os olhos -- Por acaso tens demônio no teu peito?? -- estranhava -- Queima, Bicho Ruim! Sai desse corpo que não te pertence! -- ordenou
--Fui! -- entrou no elevador
--Você não pode pensar desse jeito! -- entrou atrás da professora -- Uma mulher na sua posição!
O elevador parou no primeiro andar e abriu a porta. O vizinho olhou para as duas mulheres e perguntou: -- Boa tarde. Tá descendo ou subindo? -- sorriu
--Aleluia, meu Pai, mais um mensageiro do Cão! -- Julieta puxou o homem para dentro -- Repreende! -- a porta do elevador fechou
--A senhora enlouqueceu?? -- Sebastião perguntou revoltado -- Tá doida, maluca, virada ou o que? -- fez cara feia
--Eu sempre adverti, mas vocês continuam votando nela pra ser síndica... -- Zinara resmungou
--Como pode andar com o número da Besta pregado no peito? -- apontou para o adesivo na blusa do homem -- Tira esse símbolo da perdição da tua roupa! -- Julieta ordenou -- Vilma é a mensageira do Bicho Ruim!
--Não se atreva a tocar no meu adesivo! -- advertiu com raiva -- Eu voto Vilma! É 31 até morrer!! -- gesticulou
A porta do elevador abriu e outro homem entrou sem nem saber se descia ou subia. -- O que?? Vai votar em Vilma, abestado? -- provocou -- Pois meu voto é Décio!!! -- deu um soco na mão -- Décio! Décio!
--Décio é outro enviado do Cão, Romero! -- gritou fanaticamente -- Só vive metido em depravação, bebida... -- enumerava nos dedos
--Vilma!! -- Sebastião gritou -- É Vilma 31 na cabeça!! -- encarou o outro
--Décio!!! -- Romero gritou também -- Décio 54 na cabeça!!! -- encarou também
--Osvaldina!! -- Julieta gritou com as mãos postas -- Aleluia!
“Sinto que vou descer no próximo andar que essa peste parar, seja ele qual for!” -- a professora pensou
--Osvaldina!!! -- a mulher gritava
--Vilma!! -- Sebastião gritou também
--Décio, Décio, Décio!!! -- Romero provocava
O elevador parou no sexto andar. -- Desce? -- uma jovem perguntou
--EU desço! -- Zinara pulou para fora -- E te aconselho a não entrar aí! -- cochichou para ela
--Vai votar em quem, filha? -- Julieta perguntou para a moça
--Vilma!!! -- Sebastião decidiu pela garota
--Décio!!! -- Romero decidia também
--Eu acho que não vou nessa. -- liberou o elevador -- Podem ir!
--Sábia decisão! -- a morena respondeu antes de começar a subir as escadas
--Osvaldina é mulher de Deus! -- Julieta pulou para fora antes da porta se fechar -- Vota nela que é candidata santa!
--Mas ela não era a favor do casamento gay? -- a moça perguntou intrigada
--Mas vocês não entendem nada! -- Julieta respondeu impaciente -- Ela é a favor de homem casar com homem e mulher casar com mulher só se não for homossexual! -- explicava -- Isso quer dizer que ela NUNCA foi a favor de casamento gay! -- gesticulava -- Osvaldina tá ungida, minha filha, cheia de aleluia e de glória Deus!
--É cada coisa que acontece... -- a astrônoma resmungava sozinha -- Eu hein! -- acabou rindo
--Só pudia sê ocê, Ahmed! -- Nagibe reclamava -- Sempre ocê! -- condenava o irmão -- Vai votá im Décio, num dô conta, não!!
--Candidatu di Godwetrust!! -- Cid completou o raciocínio do outro
--O que?? -- Raed arregalou os olhos e virou-se para Ahmed -- Num criei fio pra votá im candidatu daquela terra do Cão! -- gesticulou -- Ralã!
Nagibe, Cid, Raed e Najla cuspiram no chão em desprezo.
--Num mi diga qui é pra votá im Vilma? -- Ahmed perguntou cruzando os braços -- Só mi fartava essa! Votá na muié qui chefia o bandu di safadu qui rôba nossus trem tudu!
--Deu na televisão qui Vilma é chefa da quadria qui rôba a impresa di petróio! -- Catiúcia apoiava o marido -- E ela inda intregô aqueli tantão di petróio prus gringu comprá, num sabi? -- referia-se ao campo de Balança
--O que?? -- Raed olhou para Cid e Nagibe -- Num criei fio pra votá im candidata qui chefia quadria e inda vendi nossas riqueza pra gringu! -- protestou -- Ralã!
Najla, Ahmed e Raed cuspiram no chão em desprezo.
--E ocê acridita im tudu qui fala na televisão?? -- Penha se meteu na conversa -- Elis também fala qui o povo di Cedro é tudu terrorista!
--E fica só puxandu o sacu daqueli prisidenti di Godwetrust! -- Dora apoiou a outra
--Pois eu tenho nojo dessa imprensa podre que vende tanta mentira pra iludir o povo! -- a ex fazendeira gesticulou com raiva -- Ralã!
Raed, Najla, Nagibe, Cid e Ahmed cuspiram no chão em protesto.
--Num vota nem im Vilma e nem im Décio, não, minha genti! -- Georgina se meteu -- Vota im Osvaldina qui apoiava Leonardo Santos! -- aconselhou -- Eli fez muitu du trem bão im Maurítia! -- lembrava -- Osvaldina há di fazê uns trem bão nessi país também!
--Pôxa, mãínha, mas e o custo de vida?? -- Hassan discordava da mãe -- Ficou tudo tão caro lá im Maurítia! E nós, que é pobre, não sentimos nada ficando bom pro nosso lado!
--Hassan, num dá pitacu im prosa di adurtu! -- Khadija aconselhou -- Podi sê pirigosu! -- os comentários fizeram os outros acharem graça -- O qui foi? -- não entendeu as risadas
--E ocê, Najla, vai fazê o que? -- Raed perguntou olhando para ela -- Vota im quem? -- queria saber
--Fabiana Tenro! -- respondeu prontamente -- É hora de mudar e eu não aguento mais as mesmas caras! -- gesticulou
--Fabiana Tenro?! -- Raed tinha pontos de interrogação na cabeça -- E tem essa, é? -- questionou-se boquiaberto -- É tantu candidatu qui eu mi percu...
--Pois eu votu nu Décio! -- Ahmed encarou os irmãos -- É Décio na cabeça!
--Cabeça é pra quem tem! -- Nagibe deu uma peitada no irmão -- Eu votu na Vilma!
--E eu! -- Cid concordou com Nagibe -- Ocê num sabi é di nada!
--E eu também votu nu Décio! -- Catiúcia encarou as outras mulheres
--Purque é burra qui só! -- Penha deu-lhe uma ombrada -- Eu votu na Vilma!
--E eu também! -- Dora apoiava
--E ocê?? -- Catiúcia olhou para Georgina -- Di qui ladu qui ocê tá? -- cobrou um posicionamento
--Eu votu na Osvaldina, uai! -- respondeu timidamente -- Pelu menus eu ia, mas dipois du qui meu fio falô... -- coçou a cabeça
--Vilma é candidata dus viadu! -- Ahmed provocou -- Machu vota im machu! Meu votu é du Décio! -- empurrou os dois irmãos
--Machu qui qué tantu votá im machu é purque gosta di machu! -- Cid empurrou de volta
--Tu é burru! -- Nagibe empurrou também -- Vai votá num homi qui nunca ligô pra nóis nessa roça!
--Num impurra meu maridu! -- Catiúcia se meteu gesticulando
--Num grita cum meu maridu! -- Penha advertiu dando um tapinha no braço da outra
--E nem cum o meu! -- Dora colocou-se ao lado de Penha
--Ih, gente, vão brigar por causa de político, é? -- Najla recriminou -- Raed, faz alguma coisa, olha isso! -- segurou o braço do irmão -- Essa confusão vai acabar em pancadaria! -- advertiu
--Num criei fio pra brigá pur causu di pulíticu! -- Raed ralhou com os filhos gesticulando muito -- Podi í parandu! -- aproximou-se deles -- Chega dissu aí! -- ordenou
--Ai!! -- Ahmed deu um berro inesperado
--Ai, pára cum issu! -- Nagibe gritou também
--Ai, issu dói! -- Cid tentava fugir
--Toma chinelada nu lombu pra dexá di sê besta, bandu di homi trôxa! -- Amina dava chinelada nos filhos -- Brigá pur causu di pulíticu, ondi já si viu? -- ralhou revoltada -- Num dô conta di tanta bestagi!
--É bão pará, purque cum Amina vai nu chinelu e cumigu é na cinta, num sabi? -- indicou o cinto -- É mió pará!
“Eita, qui eu bem mi lembru di comu é issu...” -- Ahmed correu para longe com medo
--Eu num falu mais nada, maama, chega! -- Nagibe levantou os braços se rendendo
--Simbora, Penha, qui a coisa cumplicô! -- Cid se escondeu atrás da mulher
--E ocês aí? -- Amina olhou para as noras -- Vão brigá pur causu di pulíticu também ô acabô-si as bestagi? -- perguntou ameaçadora
--Brigá?? Quem?? Nóis?? -- Dora disfarçava -- Impussívi! -- gesticulou
--Deus qui mi livri! -- Catiúcia concordou
--E eu! -- Penha já estava até abraçada com o marido
--Eu tava quéta... -- Georgina se defendeu
--Humpf! -- Najla cruzou os braços -- A que ponto chegamos com essa conversa de eleições... -- resmungou sozinha
Enquanto isso, as crianças confabulavam.
--E eu vota im quem? -- Cidmara perguntou intrigada -- E eli? -- apontou para Ahmed Mateus, que estava no colo de Hassan
--Vota na gidda! -- Khadija recomendou -- Ela bota ordi nus trem!
--Sabe que seria massa? -- Hassan considerou -- Gidda presidenta dando chinelada em todo mundo na Capital! -- riu sozinho
--Gente, mas olha só isso aqui! -- Aisha lia horrorizada as postagens e comentários no LivrodasFuça -- É cada baixaria que esse povo escreve que chega dói ver! -- estava pasma
--Por causa das eleições? -- Janaína perguntou enquanto descascava uma laranja
--E não é? -- continuava observando as postagens -- Se você visse... É cada patada desnecessária, um discurso de ódio... Tô me sentindo no tempo das cavernas! -- balançou a cabeça negativamente -- Acabou-se a civilidade, viu, fi? Educação zero!
--Esse pessoal é tão trouxa que não nota o que tá acontecendo! -- interrompeu o que fazia -- A imprensa tá tocando esse barata voa e o povo cai na pilha! -- dava sua opinião -- Eles querem é isso mesmo: dividir o país pro candidato deles ganhar! -- voltou a descascar a fruta -- Palhaçada! Que cada um vote em quem quiser e deixe o outro ter o mesmo direito!
--Nossa, mas eu não aguento essas duas aqui! -- apontou para a tela do computador -- São as piores dentre todos os ogros do LivrodasFuça!
--Quem? -- sentou-se do lado da esposa
--Boca de Fossa e Peso de Ouro! -- mostrou -- Uma é Vilma e a outra é Décio. -- olhou para Janaína -- Sente o nível!
--Minha nossa! -- acabou rindo -- Só rindo mesmo...
--E pra vocês, bando de filhos da puta, comunas vermelhos que querem fazer de Terra de Santa Cruz uma segunda República Bolivariana, mamadores das tetas do Governo com Bolsa Partilha, bando de babacas que só sabem fuder o país com sua preguiça da porr*, aí vai meu recadinho: -- Tosa digitava -- vão tomar no cu que a boa vida tá pra acabar! Vai dar Décio 54! Vocês vão se fuder, parasitas miseráveis! -- sorriu vitoriosa -- Peso de Ouro se despede. Beijinho no cotovelo e pau no cu dos vermelhinhos! -- clicou no botão publicar -- Toma essa pelas fuça! -- falava para o computador
--Cheiradores de cu de gringo, vocês são umas porr* de umas marionetes de Godwetrust, entreguistas do caralh*, que sofrem porque a empregada agora pode fazer faculdade junto com os viadinhos dos filhinhos de papai, -- Úrsula digitava rapidamente -- vão se foder! -- sorria -- Sinto muito informar, só que nessa porr* dessa eleição vai dar Vilma, cacete! Vilma 31 pra fuder com aqueles que querem privatizar tudo e dar o país de bandeja pra merd* do Capital Internacional! -- estava satisfeita com o texto -- Boca de Fossa diz apenas: mete o dedo no cu e rasgaaaaa!!! -- postou -- Ch*pa essa, que eu quero ver! -- desafiou
--Cruzes! -- Aisha exclamou horrorizada -- Isso tinha que ser proibido!
CAPÍTULO 137 – Momentos de Lambição
Raquel preparava-se para ir embora da casa da mãe quando o celular tocou. Não reconheceu o número e atendeu desconfiada: -- Alô?
--Oi, gata. -- Fagundes respondeu com voz de cafajeste -- Sou eu, o cigano que veio pra mudar teu presente e acertar teu futuro. -- brincou
--Ah... -- mordeu o lábio inferior e caminhou para perto da janela -- Você e essa mania de sempre me ligar de números diferentes... -- sorriu
--Chega de mesmice, né, gostosa? Você já amargou muito tempo de uma relação previsível.
--Relação... -- falava baixo para as irmãs e a mãe não ouvirem -- A única relação que a gente tem é sexual, Fagundes... -- queixou-se timidamente -- Mas na hora do vamos ver...
--Já te disse que tô contigo, meu amor, tamo junto! -- garantiu -- Mas você tem que me dar um tempo... -- pediu meloso -- Calma, vai, pra que a pressa? A gente vai se acertando aos poucos.
--É... -- não queria discutir -- É que eu fico meio ansiosa. Não sou mais adolescente, né? -- respondeu dengosa
--Não?! -- fingiu-se surpreendido -- Engraçado que toda vez que eu tiro a tua roupa chego a ficar com medo de ser preso... -- respondeu com voz rouca -- Às vezes parece que tô com uma gatinha de quinze aninhos...
--Ai, que é isso? -- fez um charme
--Hum... -- Leda só reparava -- Olha só Raquel de lambição com o tal dos peito cabeludo... -- fez um bico -- Parece até uma lagartixa! Daqui a pouco vai subindo pelas cortinas...
E nisso o telefone de Clarice toca. -- Alô? -- deu um salto da poltrona -- Zinara?
--E quem te ligaria de Cidade Restinga, hein, minha Sahar? -- respondeu melosa -- Será que outras caipiras tão tentando fisgar o mais precioso tesouro de São Sebastião?
--Não tem outras caipiras... -- caminhou até a porta -- Eu só tenho uma! -- falava baixo -- Minha caipirinha safada que me deixa louca... -- sorria
--Ai, Sahar, não sabe como sinto sua falta... Tamally waheshny! (Sinto muitas saudades!) -- falava com sinceridade
--Então quer dizer que você sente minha falta? -- fez um charminho -- Nem parece... Fica fugindo de um compromisso...
--Não diga isso, ya habibi, não é verdade! -- pediu preocupada -- Ma tsawart bi hayati fi insan, ghali ‘aalayi! (Eu nunca imaginei em minha vida que haveria uma pessoa tão preciosa para mim!) -- afirmou com paixão -- Laa tiHrimni min Hobbik! (Não me negue seu amor!) -- pediu com firmeza -- Kalby ekhtarik! (Meu coração te escolheu!) -- falava com voz rouca -- Ana aktar wahed! (Eu sou aquela que mais ama!)
Sentiu o coração acelerar. -- Ai, Zinara, você fala de um jeito... -- respondeu melosa -- Que me deixa até arrepiada... -- sorriu e mordeu o lábio inferior
--Queria tanto... bousa ala shafayef (beijo nos lábios)... -- sussurrava para a amada -- É só no que penso agora...
--Pára, Zinara... -- ajeitou-se toda -- "Gente, se a bousa falasse...” -- pensou toda assanhada
--Olha só Clarice de lambição também... -- Leda continuava prestando atenção -- A curnicha tá que não se aguenta! -- resmungava sozinha -- Já tá saindo até fumaça por debaixo da saia! -- riu sozinha
E o telefone da casa toca. -- Ih, será que é Mastô? Ele disse que ligaria pra cá... -- Cecília correu até o telefone -- Alô? -- caprichou na voz mais sexy que podia fazer
--Oi, minha musa de São Sebastião! -- respondeu meloso -- Só de ouvir essa tua voz eu já fico todo atiçado... -- fazia um charme -- Ainda bem que eu tô em casa, porque senão...
--Senão o quê, meu cabra macho tamanho GGG? -- perguntou cheia de sensualidade -- Diz aqui no meu ouvidinho! -- pediu
--Porque senão o povo ia ver o que você faz comigo, visse? -- falava com voz rouca -- Me deixa excitado, arretado e cheinho de vontade de te pegar e te comer é toda!
--Ai, Mastô... -- fingiu que ralhava -- Que safadinho! -- caprichava no tom erótico -- Ai, que eu fico toda molhada... -- agarrou uma almofada e gem*u -- Ui!
--Danou-se! -- Leda observou o lance -- Cecília agora pensa que é atendente de disk sexy e escolheu a almofada pra tarar! -- balançou a cabeça negativamente
--Mastô, Mastô, ui... -- continuava gem*ndo ao telefone -- Você quer me deixar doida, né? -- e tome de apalpar a almofada
--Coitada dessas almofadas... -- a idosa continuava resmungando -- Primeiro foi Clarice que tarou elas, agora vem Cecília com toda a sanha de uma curnicha assassina!
--Ai, mas você, hein? -- Raquel respondeu melosa
--Zinara, vê se deixa de me dizer essas coisas assim? -- Clarice pediu dengosa
--Ui, Mastô, que loucura é essa? -- Cecília perguntou fogosa
--É lambição de norte a sul nessa casa! -- Leda levantou-se do sofá e foi para o quarto -- Deixa eu cuidar do meu futuro que a coisa tá preta! -- foi até o computador -- Cecília e Clarice vão morar em Cidade Restinga mais cedo ou mais tarde. -- ligou o PC -- E Raquel não é uma pessoa com quem eu possa contar... -- sentou-se diante do micro -- Só Clarice mesmo, mas eu não quero atrapalhar a felicidade dela... -- começou a digitar -- Hora de pesquisar sobre asilos... -- decidiu -- Hoje em dia eu me garanto, mas daqui a uns anos... -- pensava em voz alta -- A velhice vai pesar mais...
CAPÍTULO 138 – A Curiosidade Pode Ser um Problema...
Magali aproveitava o curso que Lúcia vinha fazendo para continuar a leitura do Kitaab de Zinara. Estava adorando saber mais sobre a intimidade da caipira e desejava entender o que se deu entre a astrônoma e a bailarina ruiva.
--Onde foi que eu havia parado? -- perguntou-se empolgada
“Emille não tinha um temperamento muito fácil, Kitaabii, e se zangava por qualquer coisa, especialmente quando se sentia prejudicada em seu sonho de ser a bailarina mais famosa do mundo. Às vezes se comportava como criança mal acostumada e fazia pirraça para ser atendida em seus desejos, o que tornava qualquer diálogo impossível. Com o convívio, no entanto, aprendi que naquelas horas o segredo era deixar as palavras de lado e investir naquilo em que éramos puro fogo, desejo e um entrosamento perfeito...”
--Ui! -- Magali previa o melhor
--Que dia! -- Emille chegava em casa contrariada -- Parece que tudo de ruim aconteceu hoje! -- reclamou ao jogar suas coisas sobre o sofá -- Merda!
--Por que tanta revolta, minha bailarina preferida? -- Zinara se aproximou e beijou-a com carinho -- O que aconteceu com você? -- abraçou-a pela cintura
--Não consegui a personagem principal do próximo espetáculo... -- queixou-se como criança -- Jean Louis preferiu Isabelle Chevalier... -- desvencilhou-se da amante e ficou circulando pela sala -- Connard, débile, emmanché! (Idiota, estúpido, veado!) -- gritou como se o homem estivesse lá
“Esse coreógrafo é a pedra no sapato dela!” -- pensou contrariada -- Ele não permanecerá eternamente onde está e nem você viverá indefinidamente sendo injustiçada por ele. -- argumentou -- O que é seu, não será ele a tirar de você! -- afirmou convicta -- O tempo passa e ele vai passar.
--Esse é o problema! -- respondeu gesticulando -- O tempo passa e com ele envelheço! -- fez cara feia -- O maldito Jean Louis só me afasta do que eu desejo... -- lamentou -- Uma bailarina não chega ao topo aos quarenta anos! Ela apenas se mantém, se já tiver chegado lá.
Achou graça. -- Você tem apenas 23 anos... -- respondeu tranquilamente -- Até fazer quarenta vai demorar um pouco. -- brincou
--Você nunca leva nada que eu falo a sério... -- bateu o pé no chão -- Sempre fazendo brincadeiras com minhas preocupações! Só porque fica se exibindo nas rádios com previsão de tempo acha que tudo mais é bobagem! -- foi para o quarto -- Merda! -- estava chateada -- Maldito Jean Louis! -- começou a tirar a roupa -- Maldita Isabelle! -- resmungava -- Va te faire foutre, emmanché! (Vá se fuder, veado!) -- gritou
--Essa Emille era meio malinha... -- Magali comentou para si mesma
--Querida... -- encostou-se na porta do quarto -- Não fique nesse mau humor porque isso não resolve coisa alguma. -- aconselhou -- Agora o que você precisa é espairecer, tirar isso da mente!
--Humpf! -- fez um bico e ficou de costas para a astrônoma -- Eu só consigo pensar em enforcar aquele maldito! -- usava apenas as roupas íntimas -- Que ele morra louco! -- desejou
Aproximou-se da ruiva e abraçou-a por trás com firmeza. -- T'es divine… (És divina...) -- cantarolou no ouvido dela -- quand tu danses... (quando danças...) -- mordeu de leve -- Si excitante... (Tão excitante...) -- deslizava as mãos pelo corpo da bailarina -- T'es la plus belle... (És a mais bela...) -- esfregava-se contra a amante -- de toutes les modeles... (de todas as modelos...)
Sorriu. -- Pára com isso... -- respondeu dengosa -- Oh... -- gem*u
--Esquece o coreógrafo porque você é como o lema dessa cidade... -- virou-a de frente para si -- Fluctuat nec mergitur! (É sacudida pelas ondas, mas não afunda!) -- beijou-a com desejo
--Oh... -- gem*u ao final do beijo -- Você gosta de me agarrar dessa forma abusada... -- sentia os lábios da morena percorrendo seu pescoço e as mãos tateando seu corpo -- Hum... -- fechou os olhos -- Desse jeito vai me jogar na cama ou me levar para tomar uma ducha... -- imaginava o que aconteceria -- Hum... -- estava excitada
--Os dois! -- levantou-a no colo rapidamente -- Aqui dentro não existe Jean Louis d’Lamarck, -- caminhava para o banheiro -- nem Isabelle Chevalier. -- entrou no pequeno box -- Só há Emille e Zinara. -- colocou-a de pé -- E ninguém mais! -- imprensou-a contra a parede e beijou-a com paixão, apertando-lhe uma das coxas
--Ai, que agora a coisa começa a ficar boa! -- Magali se assanhava
--Hum… -- mordeu-lhe o lábio inferior -- Tire a roupa... meu amor... -- buscava despir a morena, mas não conseguia -- Tire... -- pediu novamente -- Oh, seu animal... -- achou graça quando a outra arrancou seu sutiã com os dentes -- Rasgou! -- riu brevemente e empurrou-a para que se afastasse -- Pare! -- pediu sorrindo
Zinara sorriu também e levantou os braços fazendo cara de inocente. -- Et si l'on croit que le temps n'y est pás... (Se você acha que não é a melhor hora...)
--Às vezes... -- puxou-a para perto de si e começou a despi-la -- parece que... -- arremessava as peças por cima do box -- você fica... -- sorria -- muito perigosa... -- mordeu a orelha dela -- senhorita Zinara. -- afastou-a de si novamente, segurando-a pelos ombros -- Eu tenho medo... -- falava toda dengosa
--É porque… -- encostou a ruiva contra a parede mais uma vez, embora ela ainda lhe detivesse -- perto de você... -- lentamente removia as mãos dela de seus ombros -- eu sinto calor no frio... -- segurou-a pelos pulsos e se aproximou mais
--T’es la présence chaude que mon corps aimait serrer… (És a presença morna que meu corpo gosta de abraçar bem apertado…) -- mordeu-lhe os lábios e sorriu sensualmente
--Morna? -- ameaçou beijá-la, mas não o fez -- Quero ser a presença quente e fazer você sentir... -- virou-a rapidamente de costas para si, empalmando as mãos dela contra a parede -- chaleur... (calor...) -- sussurrou no ouvido -- Muito calor... -- abriu a torneira bruscamente
--Ah!! -- gritou surpreendida quando sentiu a água -- Zinara! -- riu brevemente
--Chaleur... -- colou seu corpo contra o da amante e seguiu beijando-lhe o pescoço e os ombros -- Chaleur... -- apertava-lhe um dos seios enquanto a outra mão alojou-se entre as pernas dela
--Oh, oh!! -- gemia com os olhos fechados
--Calor? -- Magali estava indócil -- Eu tô pegando fogo!
Zinara seguiu uma trilha de beijos e mordidas pelas costas da ruiva, apertando-lhe a pele nas partes que sabia serem mais sensíveis.
--Et ça c'est magnifique! (Isso é maravilhoso!) -- exclamou extasiada
A astrônoma se ajoelhou e deslizou o nariz pelas nádegas da namorada, roçando os dedos em seu sex*.
--OH!! -- gemia excitada -- Amor, vem! -- pediu ansiosa -- Vem! -- virou-se de frente e abriu as pernas -- Vem!
--Por que tanta pressa? -- levantou-se e pegou o gel de banho que estava na pequena prateleira -- Quero você com mais calor... -- beijou-a sensualmente
--Caipira malandra... -- Magali achou graça -- Encontrou um jeito bem safadinho de fazer a outra tomar banho! -- gostava do que lia -- Ai, que sacanagem boa!
A morena beijava a namorada esfregando as mãos molhadas de gel por seu corpo. Virou-a novamente de costas para si e seguiu ensaboando a outra mulher.
--Hum... -- contorceu o tronco quando sentiu a mão em seu sex* -- Gosto quando faz isso... -- sorria -- Oh... -- gem*u
Removeu a ducha do suporte. -- Diga se também gosta assim... -- apontou o jato d’água contra as costas da ruiva e seguiu deslizando os dentes suavemente pelas costas dela enquanto se abaixava -- Hum? -- mordia suavemente -- Quero ouvir... -- ajoelhou-se e mordeu-lhe as nádegas
Virou-se de frente. -- Devora-me! -- pediu com voz rouca -- Vem! -- segurou-a pelos ombros
--Não, não... -- mordeu uma das mãos dela -- Hora de tirar a espuma... -- jogou um jato suave sobre o abdômen da parceira -- Toda a espuma... -- roçava os dedos de leve
--Pare, Zinara! -- pediu manhosa
Aproximou o rosto bem devagar e mordeu o sex* da outra com suavidade.
--Oh!! -- gem*u -- Não faz assim!!! -- sentia a pele arrepiar com as mordidinhas
Introduziu a língua em movimentos circulares fazendo a bailarina enlouquecer.
--OH!! -- levantou uma perna e apoiou o pé sobre o ombro da morena -- OH!!!!!!!!!!!!
--Gente, e esse negócio de mordidinha nas coisa, hein? E os tais dos movimentos circulares de língua... -- Magali considerava -- Nunca pensei que aquela caipira fosse me ensinar alguma coisa em termos de sacanagem! -- surpreendeu-se -- Vivendo e aprendendo!
Depois de alguns segundos de lenta exploração, Zinara invadiu o sex* da parceira com os dedos e levou-a ao orgasmo rapidamente.
--OHOH!!!!!!! -- gritou escandalosa
--Gente, mas eu ADOREI essa ideia com a ducha! Na hora da sacanagem a caipira nem se reprime de gastar água! -- Magali se divertia -- Lúcia que não se cuide no banheiro que pego ela de jeito! -- fazia planos -- Olha... -- continuava lendo -- A coisa foi tão boa que a bailarina fresca até se animou de fazer um oral. -- devorava cada palavra
“Daquele dia em diante, Kitaabii, Emille perdeu todas as reservas que sentia em relação àquele tipo de intimidade.”
--“Àquele tipo de intimidade”, mas essa caipira é muito cheia de firula, gente... -- Magali achava graça -- Em vez de escrever simplesmente “sex* oral” ela faz um rodeio... -- balançou a cabeça negativamente -- É realmente a namorada certa pra Clarice! -- considerou -- E como será a sacanagem com Clarice, hein? -- parou para pensar -- Será que ela conta em algum lugar?
“O curioso, Kitaabii, é que quando eu estava com Emille, era como se me transformasse em outra pessoa. Eu era mais segura, mais decidida, mais firme... Não havia espaço para timidez ali.”
--Ah, mas isso nota-se! -- Magali continuava lendo -- Vamos procurar mais sacanagens explícitas pra descontrair. -- pesquisava o texto -- Hum... -- encontrou
“Vivíamos mil fantasias, Kitaabii, e tínhamos jogos que nos deixavam loucas. Quando começávamos a nos amar, somente a exaustão total dos corpos nos fazia parar...”
--E tinha até coreografia... -- Magali se envolvia com a leitura -- Olha, gente, que maldade... -- sorriu -- Ui!
Zinara tentava se libertar e não conseguia. Estava sentada na cama e amarrada pelos pulsos na cabeceira. Diante de si, Emille dançava sensualmente vestida de odalisca.
--AHHa! -- reclamou por não conseguir se soltar
A bailarina achava graça. -- Eu amarrei você muito bem firme, mon cher (minha querida)... -- dançava requebrando os quadris -- Está... -- removeu um dos véus de sua saia -- presa... -- deslizou o tecido suavemente no rosto da outra -- muito presa...
--Quando eu me soltar... -- falava com voz rouca de desejo
--Nunca vai se soltar... -- ficou de pé sobre a cama e rebol*va sedutoramente -- Você nunca vai se libertar de mim... -- virou-se de costas e removeu mais um véu -- Nem eu de você... -- aproximou as nádegas da parceira e se levantou rapidamente
--Emille... -- sentia a umidade crescente entre suas pernas
--Por que não se deita? -- virou-se de frente e continuou bailando -- Será mais confortável deitada... -- removeu mais um véu -- do que sentada... -- sorria
--Não consigo... -- devorava-a com os olhos
--Não? -- fingia-se surpresa -- E por que? -- segurou a ponta do último véu -- Abra a boca. -- ordenou e a morena obedeceu -- Isso... -- colocou um pouco do tecido na boca da amante -- Morde. -- Zinara assim o fez -- Por que não consegue se deitar? -- afastou-se lentamente até que o véu fosse removido
Abriu a boca e deixou o tecido cair. -- Oh, Aba... -- não se aguentava de excitação
--Repara aqui... -- ficou de quatro na cama e se aproximou como felina -- Ainda tenho mais um véu... -- mordeu os lábios da astrônoma -- cobrindo meus seios... -- beijou-a
--Tira! -- pediu cheia de desejo
--Tira para mim... -- sentou no colo da morena e aproximou os seios dos lábios dela -- É só morder aqui. -- indicou a ponta do véu
Zinara mordeu e puxou o tecido da forma como podia.
Emille achou graça. -- Parece um cão faminto... -- riu -- Será que consegue? -- ergueu os braços sobre a cabeça e ficou rebol*ndo bem devagar
--Consegui! -- sorriu ao deixá-la nua
--Hum... -- envolveu o pescoço dela com os braços -- que menina malvada... -- beijou-a -- E agora? -- mordeu-lhe o queixo -- Faço o que com você? -- afastou-se e mordiscou-lhe um mamilo -- Hum?
Zinara não conseguia responder.
--Deita? -- arranhou-lhe o pescoço de leve -- Hum? -- beijou-lhe o joelho -- Acho que sei o que farei com você... -- sorria provocativamente -- Acho que sei... -- mergulhou lentamente entre as pernas dela
--AHH!!!!!!! -- Zinara gem*u extasiada
--Aprendeu, né, filha? -- Magali adorava -- Deixou de frescura e caiu de boca na vida! -- riu -- Gente, que must!!! -- continuava lendo -- A prostituta e a marinheira, a inspetora malvada e a aluna rebelde, a rainha e a vassala... -- devorava o texto -- Elas inventavam cada coisa que me dá até um troço! -- sorria -- E tome de eta!
--Mas o que é isso que você tá lendo aí, hein? -- Lúcia chegou assustando a esposa -- Uma cara de tarada, falando sozinha, que negócio é esse? -- perguntou desconfiada ao se aproximar do computador -- Tão distraída aí que nem me ouviu chegar!
--Ui, criatura, que susto! -- colocou a mão no peito -- Quer me matar??
--Dependendo do que você tiver fazendo, eu quero. -- cruzou os braços -- Que é isso, hein? -- esperava uma resposta -- Tá até com a mão entre as pernas! -- deu-lhe um tapa na mão
--Calma, minha delícia, eu posso explicar! -- levantou-se rapidamente -- Isso é o diário de Zinara que Clarice esqueceu no trailer onde a gente tomou café um dia desses. -- apontou para o arquivo -- Eu tava lendo sobre um babado fortíssimo dela com uma bailarina ruiva que...
--Mas que negócio é esse, hein, Magali? -- a bombeira interrompeu indignada -- Lendo o diário dos outros, as intimidades das pessoas? -- ralhou -- E sem o consentimento delas??
--Ah... -- passou a mão nos cabelos envergonhada -- De fato eu não perguntei se podia, né...? -- olhou receosa para a outra -- Mas é que a coisa tava tão quente, tão picante que eu... -- tentava se justificar
--Tão quente, tão picante...? -- perguntou indignada -- Já chegamos nesse ponto, de você buscar se saciar lendo sobre a vida alheia?
--Não é isso, meu bem! -- tentava acalmar a fúria da esposa -- É que você fica fazendo curso, chega tarde e a gente não...
--Você vai fechar esses arquivos agora e devolver esse tal diário amanhã mesmo pra Clarice! -- determinou -- Nada de ficar aí lendo e se masturbando com os relatos íntimos dos outros!
--Ah, mas eu não tava me masturbando! -- defendeu-se -- "Quase, mas não necessariamente...” -- pensou
--Chega disso, Magali, bastou! -- gesticulou -- Não quero saber de você lendo sacanagem em diário alheio! -- foi até o armário e buscou algumas roupas -- Vou tomar um banho e não quero mais saber de você lendo esse troço! -- afirmou resoluta -- Pouca vergonha!
--Tá legal, mamãe... -- respondeu contrariada ao fechar o arquivo -- Tô até desligando o laptop.
--Acho bom! -- foi andando para o banheiro
--Amor! -- correu atrás da outra -- Você chegou tão decidida... -- parou na porta do banheiro diante da esposa -- E fica tão linda quando tá zangadinha... -- brincou com uma mecha de cabelo da bombeira -- Que tal eu entrar no box junto com você e te fazer uma massagem beeem relaxante, hein? -- ofereceu cheia de dengo -- Te ensabôo toda!
--Pra saciar comigo o tesão que sentiu com as leituras? -- respondeu desaforada -- Nem pensar! -- gesticulou -- E fique sabendo que a senhora está de castigo por um mês! -- entrou e fechou a porta
--O que?! -- arregalou os olhos -- Que é isso, meu bem, que exagero! -- argumentou preocupada -- Já não bastaram esses dias que ficou no curso?
--E se reclamar muito, passa pra dois meses! -- respondeu lá de dentro
Suspirou desanimada. -- Bem que mamãe sempre dizia que minha curiosidade ainda me traria problemas... -- lamentou -- Ô, droga! -- resmungou -- E ainda vou ficar sem saber quando e exatamente porque o babado forte teve fim... -- cruzou os braços -- Que merd*! -- reclamou
--E se ficar resmungando muito, já viu! -- Lúcia advertiu -- Nem tão cedo vai ter cocotinha alada. -- referia-se a uma das brincadeiras das duas
--Ah! -- protestou que nem criança -- Você pega tão pesado... Justo a cocotinha alada...? -- fez um bico -- E nada de eta... -- lamentou
***
--Clarice? -- Magali apareceu ressabiada na porta da sala da colega -- Será que posso falar com você rapidíssimo?
Estranhou a atitude da outra. -- Claro. -- respondeu de pronto -- O que houve? Algum problema com você?
“Problema comigo? Descontando o fato da greve de Lúcia...” -- pensou -- É que... -- aproximou-se desanimada -- vim te devolver isso. -- colocou o pen drive sobre a mesa
--Tava com você?? -- pegou o objeto imediatamente -- Por que não disse antes? -- olhou para ela sem entender
--Eu achei ele lá no trailer naquele dia que você me contou sobre Zinara e tal... aí guardei na bolsa e simplesmente esqueci. -- contou parte da verdade -- Depois fui arrumar minhas coisas, encontrei ele e fui ver o que tinha dentro. -- não conseguia encarar o rosto da amiga -- Pelos nomes dos arquivos deduzi que era o diário. -- deu um sorriso amarelo
A paleoceanógrafa gastou uns segundos estudando a outra. -- E você descobriu que esse era o meu pen drive exatamente quando? -- perguntou desconfiada
--Ontem... -- mentiu -- Lúcia até falou pra te devolver o mais rápido... -- aproximou-se da estante da amiga -- Você tem esse livro, é? -- apontou para o volume -- Tava precisando dele pra uma pesquisa... -- queria mudar de assunto
--Você não teria passado o tempo, assim, como quem não quer nada, lendo o Kitaab de Zinara, não é, Magali? -- cruzou os braços
--Eu? -- fez cara de indignação -- Imagina! -- jogou os cabelinhos -- Eu hein, Clarice, você me vem com cada uma! -- pôs as mãos na cintura
--Sei... -- não acreditava
--Eu não li uma letrinha sequer! -- gesticulou -- Humpf! -- fez um bico e caminhou até a porta -- Deixa eu ir que o tempo urge! -- anunciou
--Tá bom... -- olhava para a amiga -- Bom dia pra você. -- desejou
--Até loguinho! -- saiu
--História mal contada... -- pegou a bolsa e guardou o pen drive -- Pelo menos não tive que dizer a Zinara que tinha perdido o Kitaab eletrônico. -- falava consigo mesma -- Acho que ela ficaria muito sentida. -- considerou
--É... Clarice? -- Magali apareceu na porta novamente
--Sim? -- respondeu desconfiada
--Me diz só uma coisinha... -- encostou-se no portal -- Como é que foi que terminou o babado de Zinara com a ruiva, hein? -- queria saber
Clarice ficou indignada e se levantou aborrecida. -- Mas será possível???
--Não tá mais aqui quem perguntou! -- saiu quase correndo
--Zinara também faz cada coisa! -- resmungou de cara feia -- Tinha nada que escrever sobre as safadezas dela com as outras! -- afirmou enciumada -- Escreveu pra que? -- sentou-se novamente -- Depois eu vou ter uma conversinha com ela sobre isso! -- decidiu -- E com dona Magali também!
Fim do capítulo
Emille e Zinara Cantam:
La Vie en Rose. Intérprete: Edith Piaf. Compositores: Edith Piaf / Louiguy. In: Edith Piaf. Intérprete: Edith Piaf. Columbia, 1947. 1 disco vinil, lado A, faixa 1 (3min05)
Comentar este capítulo:
Samirao
Em: 11/10/2023
Morro com Magali huahuahua
Solitudine
Em: 11/11/2023
Autora da história
Por que será?
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Femines666
Em: 19/03/2023
E tanta coisa incrível aconteceu e estamos apenas em 2014! Até na vida real a gente perde a noção do tempo!!
PS autora apaga o sem cadastro por favor?
Solitudine
Em: 19/03/2023
Autora da história
Olá querida!
Sabe que a minha vida é mais ou menos assim Acontece tanta coisa num ano que me parece que foram três ao invés de um! kkkk
Apaguei o que pediu.
Beijos,
Sol
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Femines666
Em: 18/03/2023
O site mudou de repente. Comentei e saiu como sem cadastro. Vai entender
Solitudine
Em: 19/03/2023
Autora da história
kkkkk Mudou de repente mesmo! Faz parte!
Sigamos em frente!
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 24/09/2022
Porra essa discussão na casa da Leda sacanagem! Sabe que pela primeira vez dei apoio pro papo da Magali? Só falta Clarice ouvir. E pela primeira vez senti pena da Cátia e vi humanidade na Jamila. Olha a bailarina ruiva aê gente! Não falei que a caipira era pegadora? E Magali lendo hahahahaha Essa história prende muito a gente! Pena que tenho que ir. Vou ver se amanhã passo aqui
Resposta do autor:
Ih, veio repetido!
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 24/09/2022
Porra essa discussão na casa da Leda sacanagem! Sabe que pela primeira vez dei apoio pro papo da Magali? Só falta Clarice ouvir. E pela primeira vez senti pena da Cátia e vi humanidade na Jamila. Olha a bailarina ruiva aê gente! Não falei que a caipira era pegadora? E Magali lendo hahahahaha Essa história prende muito a gente! Pena que tenho que ir. Vou ver se amanhã passo aqui
Resposta do autor:
É a falta de consideração e respeito com a pessoa idosa, não? Vejo muito e isso me incomoda.
Magali está mudada. Ela casou e até gosta de Zinara! rs
Cátia e Jamila são humanas, elas apenas erram, como todos nós. Tenha paciência com ambas, pois são boas pessoas. rs
Você cismou com isso de caipira pegadora! kkk
Que bom que o Tao consegue "prendê-la"!
Beijos,
Sol
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Gabi2020
Em: 26/05/2020
Olá querida como vai? Frio por aí?
Essas filhas de dona Leda quando começam uma discussão chegam num baixo nível que dá pena! Cecília disse um monte de bobagens, ofendeu, tá se achando... Porém não mentiu quando falou do cigano do peito cabeludo... É Raquel às vezes a verdade dói!
Mas a Cecília é a maldade em pessoa... Credo! Tadinha da dona Leda, não merecia ouvir aquilo. Triste realidade essa.
Quem diria que Magali seria a voz da razão!!! Besta aqui.
Quando Magali diz em uma das partes largar tudo para viver com a outra, tem razão. É algo a se pensar e pesar bem antes de qualquer decisão. Clarice precisa ser um pouco mais paciente e Zinara mais objetiva e claro que precisam conversar muito.
Olha o pen drive...
O amor faz milagres e fez em dona Jandira e a Jamila (que eu detestava),foi responsável por esse milagre.
Dona Amina tem muito amor por aquele pedaço de terra, e largar tudo para morar com Najla seria bem complicado. Acho que Amina e Raed combinam tanto com aquele sítio.
“--Despedidas... -- entrou no carro novamente -- Sempre tão tristes... -- ligou a ignição e partiu “... Tadinha da Cátia, ficou de coração partido!
Zinara é mesmo um mistério... Fez loucuras , escalou geleiras, se aventurou no deserto, mas tem medo de injeção... Kkkkkk...
Astrônoma danadinha, nem lembrava da bailarina ruiva.
Magali lendo o diário... Comentando e discutindo... Kkkkkk....
Gente outra francesa porca, ecaaaaa!!! Que nojo e que sina!!!
“--Ainda teve muito sangue frio pra fazer isso! -- Magali considerou -- Gente fedida, não dá!”.... kkkkkkkkk....
Lambição e piação de curnichas.... Kkkkkkk....
Magali seu deu mal!!! Hahahahahahahaha.....
Beijos Solzinha! Obrigada pelo capítulo lindo, me ajudou muito a desanuviar.
Resposta do autor:
Olá Gabinha !
Aqui não tem feito frio nem calor. Só dias lindos.
Cecília e Raquel não são muito companheiras da mãe. E elas acham que se Clarice for morar em Cidade Restinga com Zinara vai sobrar para elas ter que cuidar de uma idosa. Pensamento triste porém muito presente em vários lugares.
Cecília está toda empolgada com Adamastor e só vê ele diante de si. Está toda boba e se sentindo.
Kamila cresceu e agora é outra mulher. O sofrimento pode ensinar muita coisa.
Clarice e Zinara se deram conta que é difícil juntar estes dois cotidianos no mesmo lugar, mas elas darão um jeito, quem sabe? ;)
A bailarina ruiva não era muito adepta ao banho mas as caipiras também têm suas técnicas de persuasão. Quanto à Magali, foi ser curiosa demais... deu no que deu! kkkk
Acredita que até eu achei engraçado?
Beijos!
Sol
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Solitudine Em: 14/06/2024 Autora da história
Magali já gosta de um fuxico! Agora é a mosca no mel! kkkk
O barata voa foi a realidade de Terra de Santa Cruz. Fazer o que? rs
Obrigada, querida!
Beijos,
Sol