• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • EM BUSCA DO TAO
  • ANA A ' AYESH (EU ESTOU VIVA)

Info

Membros ativos: 9525
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,495
Palavras: 51,977,381
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Azra

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Entrelinhas da Diferença
    Entrelinhas da Diferença
    Por MalluBlues
  • A CUIDADORA
    A CUIDADORA
    Por Solitudine

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Guerra
    Guerra & Paz
    Por Etoile
  • Desejo de Amora
    Desejo de Amora
    Por Katalyloa

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

EM BUSCA DO TAO por Solitudine

Ver comentários: 9

Ver lista de capítulos

Palavras: 18897
Acessos: 10482   |  Postado em: 21/01/2018

Notas iniciais:

Morrer é o destino do corpo. Viver é uma escolha da alma.

 

ANA A ' AYESH (EU ESTOU VIVA)

 

CAPÍTULO 126 – Planos

 

--Mamãe vai matar a gente... -- recebeu um beijo nos lábios -- Nem sei que horas são... -- fechou os olhos e sorriu -- Ai, amor... -- gem*u dengosa -- Pára de morder meu pescoço desse jeito? -- deleitava-se com as suaves mordidas da amante -- Que fogo! -- ralhou cheia de charme

 

--Albii beyseer jamra min naar ijnooni... (Meu coração tornou-se uma carvoaria por causa de meu fogo intenso...) -- sussurrou

 

Ficou arrepiada. -- Ai, pára... -- segurou o rosto da namorada com as duas mãos -- Se comporta, senão a gente não sai desse motel hoje! -- beijou-a rapidamente e sorriu -- Safada! -- envolveu o pescoço da morena com os braços -- Você parece que ficou mais safada do que nunca...

 

--Uai... -- abraçou-a pela cintura e sorriu envergonhada -- Eu tava morrendo de saudades da minha Sahar... -- abaixou a cabeça timidamente -- Não imagina o quanto...

 

--Own, minha caipirinha... -- beijou-a repetidas vezes -- Você vem assim toda faminta e safadinha pra cima de mim e depois fica com vergonha? -- achou engraçadinho -- Hum, sua fofinha... -- beijou-a mais uma vez

 

--Eldenyi balaak sadeØ¡ni ghareebi! (O mundo sem você é estranho, acredite!) -- sussurrou antes de beijá-la com amor e desejo

 

Zinara e Clarice estavam nuas e sentadas na cama, de frente uma para a outra. A mulher menor envolvia a cintura da astrônoma com as pernas.

 

--Ai... -- suspirou quase sem ar -- Você voltou com uma energia... -- arranhou o ombro da morena de leve -- que nem parece que tava sofrendo num país em guerra... -- reparava na amada -- Pra dizer a verdade até sua aparência mudou! -- comentou impressionada -- Você parece tão... -- não sabia se explicar -- saudável, sei lá...

 

--Já te contei o que aconteceu comigo no Monte Cedro. -- deslizava as mãos pelas costas de Clarice -- Tenho certeza que me curei! -- sorriu orgulhosa

 

--Se Deus quiser!! -- olhou para cima esperançosa -- Mas quando chegar em Cidade Restinga, -- olhou novamente para Zinara -- você vai se tratar com Cláudia! -- determinou -- E aqui comigo vai se alimentar direitinho, dormir cedo, tomar vitaminas... Além de ir no centro! -- continuava dando ordens -- Tá ouvindo, né?

 

--Ana cawza! (Eu quero!) -- respondeu animada

 

--Você parece até uma criança grande, sabia? -- achava graça -- Minha caipirinha safada... -- abraçou-a pelo pescoço e beijou-a sem pressa

 

--Depois reclama que ya Leda vai brigar com a gente... -- brincava com a namorada -- Mas só fica me agarrando... -- beijou-a

 

--Ah, sou eu que agarro? -- riu brevemente -- Você que me jogou nessa cama e não deu tréguas... -- respondeu dengosamente -- Fiquei até sem direito de resposta... -- brincou

 

--Foi você que me trouxe pra esse canto bom aqui, uai! -- retrucou bem humorada -- Eu nem conhecia esse lugar! -- beijou-a

 

--Eu devo estar ficando louca, sabia? -- beijou-a e se afastou para se deitar sobre os travesseiros -- Beijo você no aeroporto em pleno ponto de ônibus, -- enumerava nos dedos -- peço pra um taxista que me conhece há anos trazer a gente pra esse motel e ainda deixo mamãe esperando em casa sabendo que ela preparou um almoço pra você! -- balançou a cabeça negativamente -- Ai, dona Zinara, você me enlouqueceu de vez... -- sorria para ela

 

--Ó! -- olhou para o relógio -- São duas e meia. -- informou brincalhona -- Será que ya Leda ainda serve almoço a essa hora? -- passou a mão nos cabelos

 

--Depois de nos dar uma boa bronca, sim! -- riram juntas -- Não tá com fome, não? -- deslizava um dos pés na perna da caipira

 

--Morrendo! -- respondeu enfática -- E a comida de ya Leda é boa por demais da conta! -- pegou o pé da namorada e o beijou

 

--Então vamos nos aprontar pra ir? -- sugeriu -- Também tô morta de fome! -- olhava para a mulher -- Especialmente depois de... -- provocava a morena com o outro pé -- ter sido usada e abusada como fui... -- falava fingindo inocência

 

--E parece que quer mais, né? -- deitou-se sobre Clarice -- Não é, ya gamil (minha linda)? -- segurou-a por uma das coxas com força e a beijou -- Hal a’jabaki... ya habibi? (Gosta disso... querida?) -- perguntou entre beijos

 

--Ai, amor... -- envolveu a cintura dela com pernas e a abraçou -- Pára que a gente... ainda tem que... discutir... um monte... de coisas... sobre... -- falava entre beijos

 

--Sobre? -- mordia e beijava o pescoço da paleoceanógrafa -- Bitichkii min eh? (Qual é o problema?) -- deslizava uma das mãos pela coxa dela

 

--Ai... -- sentiu a amante provocando-lhe um mamilo com a ponta da língua -- Sobre o futuro, meu amor... -- fechou os olhos -- Como vai ser... nossos planos... daqui pra frente...

 

--Aywah... (Sim...) -- olhou para ela e mordeu-lhe o queixo -- Aywah... -- seguiu beijando e mordendo o pescoço da outra -- Ya habibi... -- continuava seu caminho de beijos -- Sahar... -- cobriu um mamilo com os lábios

 

--Ah... -- gem*u e segurou-a pelos cabelos da nuca -- Sabia que eu comprei... um telescópio? -- não sabia mais o que falava -- Pra ver... -- sentiu os dedos da morena roçando em seu sex* -- estrelas, ai... -- gem*u

 

--Quer ver estrelas agora, habibi? -- perguntou maliciosa -- A’jabani haqqan! (Eu gosto muito!) -- inesperadamente mergulhou entre as pernas da namorada

 

--AH!!! -- arqueou as costas e puxou os lençóis -- Ai, Zinara, amor... -- gemia com os olhos fechados -- "O almoço espera mais um pouco...” -- pensou -- AAI!! -- gem*u alto

 

***

 

--Como Clarice tá demorando! -- Cecília comentava de cara feia -- Quase três da tarde e nada! -- olhou para o relógio -- Será que o voo de Zinara atrasou tanto assim? -- perguntou intrigada -- Não pode tá voando até agora!

 

--Humpf! -- Leda fez um bico -- "Clarice e Zinara tão fazendo mais hora de cama que urubu de vôo, isso sim!” -- pensou de cara feia -- Mas deixa essa menina chegar pra ver só! Vai tomar uma bronca! -- afirmou contrafeita -- E aquela caipira também, pra deixar de ser safada! -- gesticulou -- "É morrendo daqui, morrendo dali, mas não pode ver a curnicha de Clarice que endoida!” -- estava revoltada

 

--Ainda bem que a gente não ficou esperando por elas! -- Raquel comentou aliviada -- Senão eu estaria aí, resvalada no chão e morrendo de fraqueza! -- gesticulou -- E a comida tava tão gostosinha... -- sorriu satisfeita

 

--Você não devia mais viver com tanta fome, Raquel. -- Cecília comentou maliciosa -- Com a dieta especial que vem fazendo, era pra estar bem saciada...

 

A mulher fingiu que não ouviu e Leda ficou só prestando atenção. “Fê, fi, fó, fum, fê, fi, fo, fum...” -- a idosa pensou -- "Sinto cheiro de sacanagem no ar...” -- espremeu os olhinhos

 

--Tia Clarice e tia Zinara devem tá brincando lá no parque! -- Deodoro concluiu -- Eu ouvi o carro de som bem dizer que hoje tinha algodão doce e pipoca de graça! -- comentou empolgado -- Depois leva eu lá, mãe? -- pediu pulando -- Só acaba de noite!

 

--Levo, meu bem. -- respondeu sorrindo -- Quando for umas cinco horas, mamãe leva. -- prometeu

 

--Eu vou chamar o papai também. -- correu para a porta -- Paiê! -- abriu e foi para o quintal -- Paiê, vamo na praça umas cinco horas? -- perguntou animado

 

--Falando no ogro, o quê que houve com ele? -- Leda perguntou desconfiada -- Não quis almoçar, tá quieto na barraca... -- olhava para a filha -- Quê que tá acontecendo, hein, Raquel? -- cruzou os braços -- Ontem ouvi os dois discutindo numa danação só!

 

--Ah... -- passou a mão nos cabelos -- Briga de casal, né, mamãe? -- respondeu sem graça -- Acontece nas melhores famílias... -- ajeitou-se na poltrona visivelmente incomodada.

 

--Bem... -- Cecília pegou a bolsa tira colo -- eu marquei com uma amiga no shopping e tá na minha hora. -- preparou-se para sair -- Cansei de esperar por Clarice e a caipira foragida. -- olhou para as outras duas e soprou um beijinho -- Tchauzinho! -- aproveitou a porta aberta e saiu rapidamente

 

Leda se levantou também e seguiu para a cozinha. -- Vem aqui, menina! -- chamou

 

--Que foi, mamãe? -- perguntou contrariada

 

--Agora! -- afirmou decidida

 

--Ai, meu Deus! -- levantou-se de cara feia e olhou para fora. Viu que o filho brincava com o pai -- Quê que a senhora quer, hein? -- foi para a cozinha também

 

Leda virou-se de frente para a filha, encostou-se na pia e cruzou os braços de cara feia. --Desde quando tá tendo um caso? -- perguntou de supetão

 

--Como?! -- não esperava uma pergunta direta daquele jeito -- Mamãe, que conversa é essa? -- sentiu o rosto queimar -- Pelo amor de Deus, que tipo de mulher a senhora pensa que...

 

--Eu não sou idiota, menina, e nem nasci ontem! -- interrompeu-a bruscamente -- Quando você se matriculou na escolinha da sacanagem eu já tava na pós graduação! -- gesticulou -- Não foi só por causa do comentário de sua irmã que eu farejei a pouca a vergonha no ar! -- olhava para ela -- Noto que alguma coisa estranha acontece desde aquele quase assalto que vocês sofreram!

 

--Ai, mas... -- andou em círculos pela cozinha -- nada a ver isso... -- não sabia o que dizer

 

--E também notei, pelo que entendi da briga de ontem, que o ogro tá desconfiado tanto quanto eu! -- afirmou enfática e pausou brevemente -- Se bem que não é tudo que ele fala que eu entendo... -- considerou

 

--Mamãe, eu... -- sentia-se nua

 

--Você tá tendo um caso com o policial, não é? -- insistiu -- O tal do cigano dos peito cabeludo que Cecília fala!

 

“Meu Deus, como que ela pode sempre saber tudo?” -- pensou agoniada

 

--Entenda uma coisa, menina: -- aproximou-se da filha -- eu não conheço esse bisco, mas esse tipo de homem que vem pra cima de mulher mal casada não quer outra coisa senão uma boa sacanagem sem compromisso! -- olhava nos olhos -- Não quer outra coisa que não seja uma mulher disposta a acasalar em todas as posições possíveis e imagináveis!

 

--Que é isso??!! -- arregalou os olhos envergonhada

 

--E depois que passa a novidade, pula na cama da próxima. -- continuava a falar -- Você nunca foi mulher de sacanagem, minha filha, -- advertiu -- então se tá sonhando com o novo príncipe encantado, abre o olho, porque esse cigano só quer mesmo é resfulengo!

 

--A senhora nunca perde essa mania de julgar as pessoas! -- respondeu nervosamente -- Fala do que não sabe e de quem não conhece! -- seus olhos marejaram

 

Leda estudou atentamente o rosto da filha antes de responder: -- Eu posso até me enganar com esse cigano tarado, mas que essa lambição bandida não é certa, isso não é! -- gesticulou

 

--Lambição bandida... -- afastou-se e passou a mão nos olhos -- Eu hein? -- protestou -- A senhora e essa mania de falar de lambição... -- virou-se de costas para a mãe -- E, pelo amor de Deus, fala baixo, por favor! -- pediu preocupada -- Não quero que meu filho entre aqui e ouça isso! -- olhou para o corredor receosa em ver o menino

 

--Nunca gostei do teu ogro mas não acho que ele te traia! -- considerou -- Até porque esse bicho é tão preguiçoso que falta força pra pular a cerca! -- gesticulou novamente

 

Olhou para a idosa novamente. -- Ele não me trai... -- sussurrou concordando -- Nem eu traio ele... -- mentiu

 

--Quer saber do que mais? A curnicha não é minha, então faça com ela o que quiser! -- afirmou sem paciência -- Quer cigano? Então tome de peito cabeludo! Não quer cigano? Tome de ogro! Por falta de pinto é que não morre!

 

--Mamãe!!! -- arregalou os olhos de novo -- Pelo amor de Deus, olha o que a senhora fala! -- olhou para todos os lados temendo que alguém ouvisse aquilo

 

Preparou-se para sair da cozinha -- Mas vou dizer só uma última coisa: -- apontou o dedo para a outra -- não sei quais são seus planos, mas não se constrói felicidade em cima da dor dos outros! -- saiu da cozinha -- Enigma pra você pensar! Fui!

 

Raquel ficou parada sem nada responder. Sentia-se desmascarada e suja.

 

***

 

Jamila prestava atenção em Graziela tocando piano. Estava de pé, ao lado de João, apoiada nas alças da cadeira de rodas de dona Jandira.

 

--Eu tô muito feliz, nem te conto, Ave Maria! -- João exclamou em voz baixa -- Ver dona Jandira usando cadeira de rodas ao invés de ficar deitada como um vegetal, é uma coisa que dinheiro não paga! -- sorria

 

--Aywah! (Sim!) -- concordou -- Ela ainda é caladinha e quase sem reação, mas sem dúvida foi um avanço e tanto! -- beijou a cabeça da idosa -- Também tô muito feliz! -- sorriu

 

--E essa sua amiga toca muito bem! -- João continuou falando baixo -- Os idosos tão adorando, ainda mais que ela sabe tocar as músicas que eles pedem. -- olhou para a pianista

 

--Ela não é necessariamente minha amiga... -- respondeu reticente -- Mas toca muito bem mesmo. -- reconhecia

 

--Bravo, bravo!!! -- Paula batia palmas animadamente ao final da música -- Maravilhoso!!! Uhu!!! -- assoviou

 

--Muito bom! -- uma idosa comentou aplaudindo

 

--Lindo, lindo! -- um senhor complementou

 

--Essa moça toca piano muito bem! -- mais um comentário

 

--Adorei, lindo, como que ela toca bem! -- outros idosos diziam

 

Graziela se levantou para agradecer. -- Obrigada, muito obrigada! -- sorria para todos -- Fico feliz que tenham gostado!

 

--Surpreendeu! -- Jamila estava impressionada

 

--Olha, Grazi, você foi muito massa, meu Deus! -- Paula se aproximou dela -- Que delícia pros meus ouvidos captar os seus acordes! -- derretia-se toda -- Que sensibilidade, que leveza... -- olhava para a outra como se estivesse enfeitiçada -- Os velhinhos adoraram... -- sorria -- como bem pode perceber... -- passou a mão nos cabelos -- E eu também adorei! Amei!

 

“Oxi, que negócio é esse?” -- Jamila pensou intrigada -- “Paula é casada com João e tá se derretendo toda pra maluca da Grazi?” -- não entendeu aquilo

 

--Foi um prazer... -- respondeu igualmente melosa -- Pode ter certeza que depois de hoje não vou mais fazer falta nesse asilo, não sabe? -- olhava para Paula -- Um chamado teu e eu venho na hora! -- fez um charme -- Faz parte dos meus planos ficar vindo aqui sempre! Motivo não me falta... -- piscou

 

“E não é que Grazi tá dando trela?” -- constatou -- "AHHa!”

 

--Jamila tem sido um anjo nas nossas vidas! -- olhou para a advogada e depois para os idosos -- Além de tudo que vem fazendo, ainda nos traz uma pianista maravilhosa... -- apontou para Graziela com as duas mãos -- Uma verdadeira artista! -- gesticulou

 

--Ô, mulher, que é isso? -- respondeu cheia de dengo -- Só sei tirar umas notas do piano... -- retrucou modestamente

 

--Uma artista. Artista. -- alguns idosos repetiram

 

--Que nada, meu bem! Chega de modéstia! -- Paula continuava bajulando -- Você é uma artista sensível, profunda, simpática, erudita...

 

“Erudita?!” -- Jamila pensou revirando os olhos -- "Paula tá é maluca!”

 

--Sensível é você, que cuida desse asilo com todo seu amor, cuidado, carinho... -- respondeu risonha -- Esse lugar tem até uma aura de paz! -- afirmou enfaticamente e olhou para os idosos -- Fiquei fã do asilo! -- olhou para Paula -- E da responsável por ele... -- falou mais baixo ao se aproximar

 

--Ai... -- Paula suspirou abobalhada -- Também fiquei tua fã... -- respondeu em voz baixa -- Como não ser? -- aproximou-se mais

 

“Gente, não me diga que essas duas vão se beijar aqui na frente dos idosos?” -- a advogada tinha mil pontos de interrogação na cabeça

 

--Toca mais, filha! -- uma senhora pediu

 

--Toca mais! -- outras reforçaram

 

--A saideira! -- João pediu bem humorado

 

--Tudo bem! -- sentou-se novamente -- Vamos ver se gostam dessa! -- voltou a tocar

 

Aproveitando que João se afastou para ver o que um idoso queria, Jamila buscou falar com a diretora do asilo. -- É... Paula? -- acenou para a outra, que se aproximou dela -- Eu sei que não tenho nada com isso, mas... -- segurou a mulher gentilmente pelo braço e  quase cochichou -- vai devagar, tá? -- aconselhou -- Tá dando uma pinta...

 

Corou envergonhada. -- É, às vezes eu me excedo um pouquinho... -- abaixou a cabeça e sorriu encabulada

 

--E teu marido taí, né? -- complementou -- Não vai arrumar enxame num dia de diversão!

 

--Meu marido? -- olhou espantada para Jamila e então compreendeu -- Ah! -- riu brevemente -- Espie pra isso, você pensou que João fosse meu marido! -- achou graça

 

--E não é? -- ficou pasma -- Smallah!

 

--Ele é meu irmão, mulher! -- esclareceu -- Nunca tive marido, não! -- voltou a prestar atenção em Grazi tocando -- Eu sou é lésbica!

 

--Smallah! -- exclamou boquiaberta novamente -- “E como que eu não tinha percebido isso até agora?” -- questionou-se em estado de choque -- Vejo que Grazi deve fazer bem o seu tipo... -- comentou

 

--O que? Nem te conto! -- olhou para Jamila -- Professora universitária, bem humorada, pianista e simpática? -- falou em tom mais baixo -- Totalmente o meu tipo! -- piscou e novamente voltou a olhar para Grazi

 

A advogada ficou pensando até que resolveu perguntar: -- Não me diga que você e Zinara...?

 

--Não! -- respondeu imediatamente sem olhar para a outra -- Aliás, falando nela, fiquei felicíssima em saber que voltou sã e salva pro país! -- desconversou

 

--Você já me disse isso hoje... -- respondeu desconfiada -- Todos ficamos felizes. -- mantinha-se olhando para a mulher -- Não mesmo? -- insistiu

 

--Ela era fiel demais, tá legal? -- olhou para a advogada -- E depois que vocês terminaram, ficou totalmente sem ânimo pra se envolver com quem fosse. -- a música havia se acabado -- Bravo! -- aplaudiu animadamente olhando para a pianista -- Maravilhosa, perfeita!! -- elogiava cheia de fogo -- Uhu!!! Ai! -- deu um gritinho

 

Os idosos também aplaudiam e Jamila o fez mecanicamente.

 

“E pensar que eu nunca me incomodei de deixar Zinara vir pra cá sozinha!” -- pensou revoltada -- "Minha testa corria perigo e eu não sabia de nada!” -- conjecturava -- "Tô me sentindo a Presidenta Vilma!”

 

Graziela e Paula eram todas sorriso uma para a outra.

 

***

 

--Sabia que... -- beijava a nuca da jovem -- não podia ter... -- mordia a orelha dela -- surpresa melhor que te encontrar aqui... -- deslizava uma das mãos pelo corpo da amante -- nesse congresso de Paulicéia? -- apertou um seio com força cuidadosa

 

--Ai... -- gem*u e sorriu -- Eu sabia que você viria... -- sentia os lábios da amante percorrendo suas costas -- E já que tive a chance de me inscrever pela faculdade... -- fechou os olhos -- Ai... -- gem*u -- eu vim...

 

Percorreu com a ponta língua a coluna da jovem até chegar na nuca. -- Eu tava morrendo de saudades... -- deslizou uma das mãos para entre as pernas dela -- Gostosa... -- sussurrou no ouvido -- Deliciosa... -- introduziu dois dedos

 

--Ai, Cátia, você... -- puxou os lençóis -- Não cansa, não? -- mordeu o lábio inferior

 

--Jamais! -- começou a penetrá-la com força enquanto pressionava seu corpo contra o dela -- Quero você de novo... -- rosnou com voz gutural

 

--Aff... -- gem*u -- Vem... -- deleitava-se com o calor do corpo da outra sobre suas costas -- Vem...

 

--Eu te amo, Lídia... -- sussurrou -- Amo... -- apertou-lhe o seio com mais força, sem deixar de penetrá-la

 

--Ai... -- gem*u alto -- Ah...

 

Cátia esfregava o sex* contra as nádegas da amante e beijava-lhe pescoço, ombros e costas alternadamente. Mantinha-se penetrando-a com vigor, variando apenas a pressão que fazia no seio da jovem.

 

Lídia se sentia dominada pelo desejo devorador da loura e gostava daquele jogo. Entregava-se totalmente, perdendo-se entre as sensações deliciosas que tomavam seu corpo e o som da voz de Cátia sussurrando mil coisas em seus ouvidos. Atingiu o clímax rapidamente e percebeu que a geofísica também se satisfez.

 

--Linda... -- beijou as costas dela

 

--Você é um perigo, Cátia Magalhães... -- sorria relaxadamente com os olhos fechados

 

--Por que, meu bem? -- virou-a de frente para si e a beijou -- Qual é o perigo? -- sorriu e a beijou novamente

 

Abriu os olhos. -- Acho que... -- deslizava o dedo pela sobrancelha da outra -- se eu fosse mulher de uma galega como tu... -- admirava o rosto dela -- vivia lesa de tanto fazer amor...

 

--Mas você não quer ser mulher de uma galega como eu... -- afirmou com um pouco de mágoa -- Já me disse isso por telefone. -- beijou-a mais uma vez e se sentou

 

--Oxi! -- cobriu-se com os lençóis -- Eu não disse isso... -- respondeu envergonhada

 

--Com outras palavras, disse... -- levantou-se da cama e abriu o frigobar -- Mas, tudo bem. -- pegou uma garrafa de água -- Foi só um comentário. -- abriu a garrafa e sorriu -- Servido? -- ofereceu

 

--Obrigada. -- agradeceu e negou com a cabeça

 

--Tintim! -- piscou para ela e bebeu um gole

 

Lídia ficou olhando para a loura até que perguntou receosa: -- Você... -- deitou-se de lado -- disse que me amava só porque... -- pausou brevemente -- Foi aquela coisa de quando se está na cama, na empolgação?

 

--Eu sinto assim, menina. -- respondeu calmamente -- Não me pergunta muita coisa, mas é como sinto. -- bebeu o resto da água de um gole só

 

--Também sinto... -- respondeu quase num sussurro ao abraçar o travesseiro -- Mas... eu não combino com seus planos... -- suspirou -- e você é muito grande pra caber nos meus...

 

Cátia deixou a garrafa sobre a mesinha e voltou para a cama. -- Por agora, meus planos se resumem a uma coisa só. -- puxou os lençóis e deitou-se de frente para a jovem -- Eu tô aqui, -- beijou-a -- você também -- beijou-a novamente -- e o que vem depois... que se dane! -- sorriu

 

--Boba! -- beijou-a e sorriu -- Amanhã a gente acorda cedo pro evento... -- beijou-a mais uma vez -- E tem que pensar no futuro, sim! -- mordeu o lábio inferior da amante -- Senão fica como?

 

--O futuro pra mim é a semana que esse congresso vai durar! -- afirmou enfaticamente -- Uma semana... -- puxou a outra pela cintura e a beijou com desejo -- fazendo amor gostoso... -- mudou as posições e deitou-se por cima da moça -- com você... -- mordeu-lhe a orelha e seguiu para o pescoço

 

--Quando cê for pra Godwetrust... -- arranhava as costas dela -- dá pra me levar na mala? -- brincou -- Ai, amor...

 

--Quer ir... comigo? -- convidou entre beijos -- Vem, gostosa, vem comigo... -- sussurrava

 

--Ai, amor... -- envolveu o pescoço dela com os braços -- Não me fala assim... -- pediu dengosa

 

Parou de beijá-la e pediu olhando nos olhos: -- Vem comigo! Quero você!

 

Lídia sentiu o coração acelerar e segurou o rosto de Cátia com as duas mãos. Queria muito ir com ela, mas acreditava que não deveria. Tinha muito medo e sentia-se insegura.

 

--Vem, Lídia! -- pediu novamente

 

--Eu te amo... -- puxou-a para um beijo ardente, apertando-a contra si

 

“Ela quer ir comigo... Ela quer...” -- a loura pensava

 

“Eu queria muito ir com ela...” -- a jovem pensava -- "mas não posso, não devo...”

 

***

 

Raed observava a irmã trabalhando no roçado e estranhava. Apesar das boas notícias sobre Zinara e a fazenda, a ex fazendeira não cantava durante a lida.

 

--Mais o qui será qui há? -- perguntou para si mesmo intrigado -- Oxi!

 

--Falandu sozinhu, homi? -- Amina se aproximava com um carrinho de mão -- Qui foi? -- reparou que ele olhava para Najla -- Que qui acunticeu? -- parou perto dele

 

--Eu tô aqui matutandu e istranhandu as atitudi di minha irmã! -- olhou para a mulher e pôs a enxada sobre a terra -- Tanta nutiça boa pur dimais da conta e ela num canta, uai! Tá labutandu calada e isquisita! -- coçou a cabeça -- Nem pareci aquela qui pensava qui era a nuviça reberdi! -- não conseguia entender -- Até modi ajudá a cuidá dus trem da festa di Zinara, ela pareci meio lesa!

 

Najla pegou um saco de adubo e caminhou para outra parte do terreno, indo para mais longe.

 

--Oxi, homi, mas ocê num sabi di nada, Ave Maria! -- balançou a cabeça negativamente -- O homi dela terminô cum as namoração, uai! -- explicou sem rodeios -- Pur issu qui tua irmã tá dessi jeitu, apesá das nutiça boa!

 

--O homi créu terminô cum ela?? -- perguntou revoltado -- Mais pur que?? -- olhou rapidamente para a irmã e se concentrou em Amina -- Mi diz purque, qui eu vô lá e cortu us trem di homi deli tudu fora! -- ameaçou entre dentes -- Bichu vigarista! Quem eli pensa qui é? -- gesticulou furioso

 

--Foi pur causa da fazenda, num sabi? -- pegou o enxadeco -- Ela iscundeu deli qui pudia ganhá a fazenda di vorta e eli si maguô.

 

--Maguô?? -- não entendia -- Cum o que? Si fossi homi decenti num largava minha irmã, não, uai! -- queria matar o ex cunhado -- Eli cospi na honra da famia!

 

--Eli ama essa muié. -- apoiou o enxadeco no ombro -- Mais si maguô pur ela num si apercebê qui eli num tava cum ela pur interessi, mas pur amô. -- preparou-se para ir cuidar da terra em outro lugar -- Najla também ofendeu a honra deli e daí foi intão. -- afastou -- Agora vorta pra labuta e dexi di só matutá! -- ordenou

 

--Hum... -- pegou a enxada e voltou ao trabalho -- Pur essi ladu o homi créu tá cum a razão, mais também num possu concordá qui eli suji a honra di Najla e mais a da famia... -- considerava -- Vô bolá uns planu e resolvê essa peitica dus dois! -- decidiu -- Ah, si vô! -- estava convicto -- Essi créu num tá nem murdidu pelu cachorru das muléstia!

 

***

 

--Eu nunca qui tinha vistu o sor si pô assim, tão bunitu! -- Ahmed Marcos exclamou empolgado -- Qui pena qui Ahmed Lucas é muitu piquenu pra vim aqui e vê uma buniteza dessa!

 

--Mais eli vai crescê e nóis vai mostrá essi cantu pra eli. -- Ahmed sorriu para o filho --. E pra Ahmed Mateus também!

 

--Eu gostei! -- Ahmed João sorriu para o pai -- A piscóloga di Gyn mi dissi qui é bão eu vê as buniteza da vida modi num tê medo, num sabi?

 

--É bão! -- o homem balançou a cabeça e voltou a mirar o horizonte -- A tia docês mi pediu modi trazê ocês aqui, mais eu fiquei isperandu inté ela vortá. -- falava mais para si do que para os filhos -- Eu num quiria acriditá qui ela... -- não teve coragem de dizer

 

--E ela tinha idu pra ondi, afinar? -- João perguntou intrigado -- Eu via todu mundu numa consumição só e num intindia era nada!

 

--Pra ondi, hein, baba? -- Marcos queria saber

 

--Coisa di adurtu. -- olhou para os meninos -- Agora tá tudu bão! -- não queria insistir naquele assunto -- "E si Deus quisé, ela si cura!” -- desejou

 

--Ondi qui camma Zinara tá? -- estavam curiosos

 

--Im São Sebastião na casa di uma amiga dela. -- esclareceu -- É qui o avião foi para lá e ela tem qui discansá. Num podi ficá pulandu di um trem pru ôtro, num sabi? -- repetia as notícias que Catiúcia lhe dera

 

--E quandu qui ela vorta pra cá? Tô doidu pra vê a festança qui o giddu prometeu! -- João comentou animado -- Nóis vai brincá muitu! -- pensava nos jogos que Zinara inventava -- Né? -- olhou para o irmão

 

--Quandu ela vorta? -- Marcos insistia também -- E quandu é a festança? Eu queru í!

 

--Devi di sê im agostu, quandu o primu docês vié também. -- concluiu ao se levantar -- Agora ocês tudo si levanta, modi nóis vortá antis qui fiqui tudu nu breu! -- chamou -- Simbora, mininu!

 

--Vamu! -- Ahmed Marcos levantou-se e foi seguindo o pai, que começou a andar

 

--Simbora! -- Ahmed João vinha atrás dos dois

 

--Pai, eu quiria í na casa du giddu... -- Ahmed Marcos pediu receoso -- Nunca mais fui... -- pausou brevemente -- Tô cum sardadi deli e da gidda... É tão bão í lá... -- olhou para o irmão

 

--Isperi qui ocê vai. -- respondeu de pronto -- É qui eu andu sem tempu di í lá. -- mentiu

 

--Pur que? -- não entendeu

 

--Coisa di adurtu! -- não pretendia dizer ao filho que levou uma surra de Raed

 

--Também quiria qui eli fossi pra lá... Eli e Ahmed Lucas... -- João dava força -- camma Najla tava dando aula da língua di Cedro pra nóis. -- continuava falando -- Agora eu andu estudandu sozinhu mais Khadija e ela sabi muitu purque istuda há mais tempu... Sem meus irmão fica difícir... -- lamentou-se

 

--Ocê acabô di vortá di Gyn e num demora muitu vai pra lá di novu. -- respondeu contrafeito -- Num tá istudandu tantu cum tua tia assim não! -- retrucou -- E eu tô sem tempu di ficá indu na casa di baba. -- desviou-se de um galho

 

--Ah... -- os dois reclamaram juntos

 

--Agora tem qui andá mais dipressa. -- deu o assunto por encerrado -- Num podi ficá di prosiadu! Simbora! -- acelerou o passo

 

--Oxi. -- Ahmed Marcos resmungou ao perceber que o pai andava mais rápido

 

“Quando Zinara vortá, num tá nu meus planu í na casa di baba e maama.” -- pensava -- "Tomara qui baba faça a festança no clubi meis, purque aí é terrenu neutru!” -- conjecturava -- “Num gostu di perdê uma boa bagunça, mais si fô pra í pra casa di baba, prifiru ficá di fora!” -- decidiu -- "Num quis mi batê? Fazê eu passá vexami? Intonci fica sem fio!” -- pensava desaforado -- "Só vortu si us dois vié mi pidí perdão!”

 

***

 

--Deixa de ser teimoso, homem! -- Janaína insistia impaciente -- Só vive com essa cara de quem perdeu tudo e não toma providência! -- olhava para ele -- Vai lá atrás dela e luta pelo que é teu! -- deu um soco no braço dele

 

--Mas que diabo! -- reclamou do soco -- Eu já disse que não vou! -- retrucou decidido -- Ela não me ama e nem é capaz que enxergar a beleza dos meus sentimentos! -- levantou-se chateado -- Najla não sabe a diferença entre um homem apaixonado e um interesseiro!

 

--Como assim ela não te ama, criatura? -- protestou revoltada -- Minha sogra arrasta um caminhão de granito por tua causa! Ela te ama e muito!

 

--Ela não confia em mim! -- parou diante da janela -- Bastou aparecer uma chance de mudar de vida e já me escondeu a verdade! -- pausou por uns instantes -- Ela acha que sou aproveitador...

 

--Ela deu um vacilo e foi só isso! -- levantou-se também -- Todo mundo erra! -- aproximou-se dele -- Vá lá conversar e se acertem logo! -- aconselhou -- Essa briga dos dois é uma grande bobagem! -- deu-lhe um soco

 

--Não é contigo, né? -- argumentou contrariado -- Por isso é bobagem... -- não olhava para a amiga

 

--E você acha que nunca passei por umas coisa dessa? -- deu-lhe outro soco no braço -- Marco, escuta uma: Aisha e eu já vivemos momentos de tensão!

 

--Humpf! -- esfregou o braço dolorido

 

--Teve uma vez que Aisha me escondeu uma coisa gravíssima... -- viajou no tempo

 

“--Eu não acredito nisso! -- reclamava de cara feia -- Você comeu um pote inteirinho de sorvete Habibi Dah e nem pra me deixar uma nesga que fosse? Uma raspinha?? -- gesticulava furiosa

 

--Ai, Janaína, eu tava ansiosa! -- defendeu-se -- Você nunca que chegava, eu fui ficando nervosa, foi me dando aquela coisa, uma fome de justiça e deu no que deu: comi têúdêô: TU-DÔ!

 

--E me escondeu sobre o que fez! -- continuava protestando -- Só descobri a verdadeira verdade porque vi o pote vazio escondido no saco quando fui jogar o lixo fora! -- revelou -- Só Deus sabe o que senti! A dor dessa traição!

 

--Não tava nada escondido! -- revoltou-se -- Você cria caso à toa!

 

--À toa? -- discordou -- Muito casal se separa por causa de coisas assim, tá? -- aproximou-se da outra

 

--E você quer separar? -- aproximou-se mais -- Se quiser, a porta da rua é serventia da casa! -- gesticulou

 

--Você tá doida pra se ver livre de mim! -- ficou ainda mais perto -- Se é assim, eu vou embora! -- ameaçou

 

--Vá com Deus! -- deu-lhe um tapa no ombro -- Esse nosso amor é bandoleiro!

 

--Eu vou mesmo! -- falou com raça -- Adeus! -- afastou-se e caminhou até a porta

 

--Adeus! -- respondeu dramática -- Vá, leve o que é teu e só! -- gesticulou

 

--Eu nada levo além da roupa do corpo! -- abriu a porta e lançou um último olhar para a esposa -- O resto fica contigo! -- afirmou com desprezo

 

--Some daqui, Janaína! -- gesticulou tensamente

 

--Eu vou! -- estava decidida -- Mas antes... -- fechou a porta com força e correu para junto de Aisha -- Ordinária! -- puxou-a para um beijo intenso

 

--Bandida! -- mordia os lábios da outra enquanto buscava despi-la

 

--Eu vou... -- afirmava com voz gutural -- te comer inteira... -- beijava-a com fúria e puxava suas roupas

 

--Ui! -- pulou sobre a outra e envolveu a cintura dela com as pernas”

 

--Olha, eu vou te contar... -- balançava a cabeça pensativa -- Foi uma noite daquelas... Os trem ficaram tudo ardido...

 

--Humpf! -- fez um bico -- Você parece maluca! Como é que pode comparar minha situação com Najla com uma briga por causa de sorvete?? -- olhava para amiga -- Doidice!

 

--Ah, mas não era qualquer sorvete! -- discordou da opinião dele -- Era um Habibi Dah sabor pistache com crocante! -- lambeu-se -- Nossa Senhora, deu até fome!

 

--Você e Aisha não passam de duas malucas! -- afastou-se dela -- Najla e eu somos maduros, vividos, marcados pela vida... -- suspirou -- E ela me traiu...

 

--Mas que drama, hein? -- cruzou os braços -- Vai lá e faz como eu fiz: pega ela, dá um puxão, manda-lhe uma beiçada e é só pena que voa!

 

--Já te disse que não me identifico com seus métodos! E também não tá nos meus planos ir pra roça atrás de Najla. -- afirmou resoluto -- Vou continuar ajudando no tratamento de Ahmed João e só! Se Najla quisesse alguma coisa comigo, tinha me procurado e ela não fez isso. -- não queria mais conversar -- Agora, se você vai mesmo me ajudar a consertar a bomba, pega tuas ferramentas e vem! -- saiu da sala -- Vem! -- chamou de novo

 

--Ô, homem teimoso... -- resmungou ao pegar a caixa de ferramentas -- Ele e minha sogra são muito crianças, vou te contar... Brigam por cada bobagem! -- seguiu o mesmo caminho do amigo

 

***

 

--GOL!!!!!!!!!! Da Germânia!! -- o locutor anunciava desanimado

 

--UUUUUUUUUUHH!! -- o povo agonizava nas ruas -- AHAHAHAHAHAH!!!!!!!!

 

--NÃO, NÃO, NÃO!!! -- Leda gritava angustiada -- Mais um gol, não!!! -- arremessou uma almofada contra a TV -- Inferno!!! -- estava revoltada -- Bando de lesma!

 

--Que é isso, mamãe? -- Cecília repreendeu -- Daqui a pouco passa mal aí! -- advertiu

 

--Mané passa mal, menina, eu hein? -- protestou furiosa -- Esses jogadores é que não correm, não fazem nada, parece que tão com as prega presa! -- gesticulou

 

--Que é isso de prega presa, mãe? -- Deodoro perguntou sem entender

 

--É quando a cueca gruda no short, meu bem. -- Raquel disfarçava -- Mamãe, por favor! -- mostrou o menino

 

--GOL!!!!! Da Germânia!!

 

--Outro?! -- Leda, Cecília, Raquel e Deodoro exclamaram ao mesmo tempo

 

Getúlio assistia da janela. -- Porr*, mermão, puta que pariu! -- reclamou -- É tanto gol que tá parecendo até basquete, essa merd*!

 

--Olha a boca, ogro! -- Leda jogou uma almofada contra ele -- Praga!

 

--Mãe, vamos ver outro esporte? -- Deodoro pediu entediado

 

--Cadê o país do futebol, mermão, cadê? -- Getúlio cobrava -- Só tem bundão!

 

--Ah, mas isso é! -- Cecília concordou empolgada -- Tem uns jogadores assim tão bundudinhos, tão coxudos, fortes, másculos, cheios de... -- arrepiou-se -- Ui! -- exclamou

 

--Cheios de dinheiro no bolso e sem disposição pra nada! -- Leda complementou de cara feia -- Simbora, minhas almas, faz um gol aí! -- batia palmas estimulando -- Que venham os espíritos dos jogadores mortos e possuam os corpos dessas besta que tão no campo! -- invocou -- Faz um gol, minhas alma! -- pediu olhando para cima -- Um gol não, um monte! -- reconsiderou

 

--Cruzes! -- Raquel se benzeu com medo -- Eu hein?

 

--GOLL!! Da Germânia!!

 

--UUUUUUUUUUHH!! -- e tome do povo nas ruas se danar -- AHAHAHAHAHAH!!!!!!!!! -- estertores agonizantes se ouviam por toda parte

 

--Sinto que o couro come nessa final de Copa, Sahar... -- Zinara exclamou achando graça -- O povo nas ruas grita tanto que tô me sentindo na guerra de Cedro!

 

Clarice riu. -- Gente, eu nunca vi Terra de Santa Cruz jogando tão mal! Que adiantou chegar na final pra jogar desse jeito? -- comentou balançando a cabeça contrariada -- Quer dizer, não tô vendo nada, né? -- corrigiu-se -- Não tive paciência pra ficar na sala assistindo aquela coisa triste!

 

--Eu não gosto de futebol e com certeza não assistiria esse jogo de uma forma ou de outra! -- sentou-se na cama da namorada -- Mas seja como for, se a Copa tá acabando é sinal de que suas férias estão chegando! -- sorriu para a amada -- Aí a gente faz o que planejou tudo direitinho, Sahar! -- falava empolgada -- Vamos juntas pra Cidade Restinga, vou passar na Cláudia pra fazer uns exames, visito minhas velhinhas, passo no escritório de Jamila pra agradecê-la e depois vamos pra Maurítia buscar Hassan e Georgina! -- não via a hora -- E depois de tudo isso vamos pra roça! -- puxou-a para se sentar em seu colo e a abraçou -- Ba'd el fora’a wa-l ashwa’a gama’ el hawa beno we beny... (Depois de ficarmos um tempo afastadas, esperando, a brisa do amor nos uniu novamente...) -- sussurrou no ouvido

 

--Ai, Zinara, pára! -- respondeu toda dengosa

 

--AHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!!!!! PORRA!!!!!!!!! -- gritos medonhos se fizeram ouvir da rua

 

--Cruzes!! -- Clarice levantou-se de um salto -- Que susto! -- pôs a mão sobre o peito

 

--INFERNO!!!! -- Leda gritava -- QUE DIABO!!!!

 

--Acho que foi gol da... -- a astrônoma começou a falar

 

--Da Germânia!!! -- o narrador anunciava

 

--É isso. -- Zinara concluiu

 

A paleoceanógrafa acabou achando graça. -- Bem, mas voltando a nossa conversa... -- aproximou-se dela e segurou o rosto da morena com carinho -- você deve fazer uns exames urgentemente! -- sorria -- Apesar de estar com uma aparência ótima e com muito fogo, -- beijou-lhe a testa -- tem que se cuidar ao máximo!

 

--Eu sei que curei! Macleech! (Não se preocupe!) -- tinha fé

 

--Se Deus quiser! -- desejou -- E você também deve ter deixado sua casa à míngua e precisa dar um jeito nela! -- aconselhou -- Quando que vai voltar a trabalhar? -- segurou as duas mãos dela

 

--Eu penso em voltar pro departamento ainda esse ano. Vai depender da velocidade da burocracia. -- afirmou resoluta -- Mas vou cuidar da casa aos poucos. Primeiro tenho que pagar o que devo pro baba, pra Jamila, pra você... -- beijou uma das mãos de Clarice

 

--A mim não deve nada, meu amor! -- falava com sinceridade -- Só quero que se cuide! -- curvou-se um pouco e aproximou o rosto para sussurrar no ouvido -- E que continue sendo minha caipirinha safada... -- mordeu-lhe a orelha

 

--Sahar... -- puxou-a para se sentar em seu colo de novo

 

--GOL!!!!!!!!! Da Germânia!!

 

--AHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!!!!!!! -- o povo nas ruas gritava ensandecido -- AHAHAHAHAHAHAHAH!!!! PORRAAAAAAAA!!!!!

 

As duas namoradas levaram um susto.

 

--Ui! -- a paleoceanógrafa pulou do colo da outra -- Mas que coisa! -- reclamou

 

--AHHa, Ave Maria! -- fez cara feia -- Dessa vez quase caio da cama! -- endireitou-se -- Dah mumill!! (Isso é um saco!!)

 

--Que pouca vergonha é essa?? Derruba um raio assassino e mata logo esses homens todos, meu Pai! -- Leda clamava furiosa -- Eu quero ver sangue!

 

--Não se deseja morte de homem gostoso, mamãe! -- Cecília recriminou -- Já tem tão pouco...

 

--Ah, gente, desliga isso! -- Raquel pediu -- Chega de sofrimento!

 

--Mãe, meu pai tá batendo com a cabeça na parede! -- Deodoro advertiu olhando pela janela

 

--Até que tem males que vem pro bem... -- a idosa reconsiderou

 

--Isso é a Copa mesmo? Tá pior que pelada na roça! -- Zinara não entendia -- A Germânia fez quantos gols?

 

--Perdi as contas... -- sentou-se do lado da namorada -- Olha, depois que a gente for pra Cidade Restinga, mamãe vai pra roça com o Di, como você sugeriu. -- voltou ao assunto original -- Aí quando eu voltar pra cá, eles vêm comigo.

 

--Aywah! (Sim!) -- concordou balançando a cabeça

 

Clarice gastou uns segundos calada até que resolveu perguntar: -- Mas e depois, Zinara? Quais são os planos? -- olhava para ela -- Os nossos planos?

 

A morena sabia o que a mulher queria dizer e ficou pensando. -- Laa acrif... (Eu não sei...) -- respondeu envergonhada -- Eu não sei como a gente vai fazer pra... -- abaixou a cabeça -- Você tem uma vida aqui, eu vivo em Cidade Restinga... -- pausou brevemente e olhou para a outra -- Eu acho que...

 

--GOL. -- o locutor afirmou desanimado -- Da Germânia.

 

--AHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!! -- Leda soltou o mais terrível dos gritos e caiu sentada no sofá

 

--Mamãe?? -- Clarice levantou-se apavorada e correu para a sala

 

--Ya Leda?? -- Zinara também se levantou e foi atrás

 

--Mamãe, por favor, pelo amor de Deus, fica calma! -- Cecília pedia apavorada -- Se a senhora passar mal agora, não vai ter médico pra lhe atender! -- advertiu -- Deve tá tudo estirado no chão em estado de choque!

 

--Vó! -- Deodoro abraçou-se com a idosa -- O que foi??

 

--Mamãe, o que houve, que grito horrível foi aquele? -- Clarice ajoelhou-se ao lado dela -- Fala comigo, o que foi? -- segurou a mão da idosa

 

--Ya Leda, tá tudo bem? -- aproximou-se também -- Sentiu mal, o quê que foi?

 

--Calma, mamãe, bebe aqui! -- Raquel chegava com um copo de água com açúcar -- Toma! -- estendeu o copo para a idosa -- Bebe devagar!

 

--Gente, não é pra tanto, né? -- deu um tapinha na mão de Clarice e recebeu o copo de Raquel -- Eu não tô dando piripaque, não, o que sinto é uma coisa só: -- semicerrou os olhinhos -- ódio! -- bebeu tudo de um gole

 

--Nossa! -- Deodoro arregalou os olhos

 

--Cuidado aí, sogrona! -- Getúlio advertiu -- Olha a idade! Pra morrer é um pulo!

 

--Vai agourar o diabo, ogro! -- olhou para ele de cara feia -- Cecília, vai lá e fecha aquela janela! -- ordenou

 

--Final de jogo! -- o narrador anunciou -- Germânia... -- interrompeu brevemente -- Teve um gol da Germânia agora e eu nem vi... -- reconheceu constrangido -- Germânia treze... -- pausou brevemente -- Terra de Santa Cruz...zero... -- sorriu para as câmeras -- Mas ainda tem a chance de um terceiro lugar! -- tentava consolar os telespectadores

 

--Treze a zero, gente! Treze a zero! -- a idosa não se conformava -- Nunca na história desse país aconteceu uma coisa assim! -- colocou o copo sobre a mesinha -- Os espíritos futebolescos devem estar por aí se revoltando! -- gesticulou

 

--Ai, mamãe, pára de falar de espírito, cruzes! -- Raquel recriminou

 

--Que foi, mulé, tá ca consciência pesada, malandragem? -- Getúlio provocou -- Tá cum medo das alma penada?

 

--Conversa fiada! -- resmungou sem olhar para o marido -- Cecília, fecha aquela janela! -- repetiu a ordem da mãe

 

--Você não me dá ordens, Raquel, fica quieta aí! -- colocou a mãos na cintura desaforadamente -- Tá com moral pra isso, não!

 

--Ah, pelo amor Deus, já vão brigar? -- Clarice levantou-se e olhou para as irmãs

 

--Aí, até minha cunha manja que tem umas parada sinistra rolando cuntigo, Raquel! -- Getúlio quase pulou para dentro de casa -- Eu tô ligado! -- apontou para ela -- Ligadaço!

 

--Gente, essa não é a hora e nem o lugar! -- Clarice olhou de cara feia para o cunhado -- Se manca!

 

--Baixaria... -- Cecília revirou os olhos

 

“Sinto que a porca vai torcer o rabicho...” -- Zinara pensou preocupada -- "E o menino não devia ficar aqui ouvindo esses trem...” -- considerou -- Di, -- estendeu a mão para o garoto -- vamos brincar? -- ofereceu

 

--Legal! -- deu um beijo na avó e se levantou -- Brincar de que, tia? -- segurou a mão da astrônoma

 

--De correr pra longe. -- foram andando para a porta -- Sahar! -- chamou a namorada discretamente e ela olhou -- Depois a gente volta! -- falou em voz muito baixa

 

--Vai. -- fez sinal para eles saírem

 

--Você tá sendo inconveniente, Getúlio! -- Raquel respondeu mal humorada

 

--E você tá sendo o que, mulé? -- retrucou -- Trairona! -- gesticulava -- Cem por cento kaô, valeu?

 

--Acabou essa pouca vergonha aqui! Chega! -- Leda se levantou decidida -- Vai lavar tua roupa suja com minha filha em outro lugar, -- aproximou-se da janela -- aqui na minha casa, não!

 

--Raquel tá me metendo chifre, sogrona! -- protestou magoado -- A senhora apoia esses vacilo, pô?

 

--Metendo chifre? -- Deodoro perguntou quando saíram para o quintal -- Como assim? -- não entendeu

 

--É uma fantasia de carnaval que sua mãe tá fazendo pro seu pai e ele não tá gostando muito, não... -- não sabia o que dizer -- Simbora! -- abriu o portão e saíram para a rua

 

--Quer saber, Getúlio? Acabou! Eu quero o divórcio! -- anunciou resoluta

 

--O que??!! -- o homem e Leda perguntaram ao mesmo tempo -- Isso é sério?? -- a idosa chocou

 

Clarice e Cecília ficaram pasmas.

 

--Eu cansei! -- aproximou-se da janela -- Cansei de ser sua empregadinha e viver cuidando de tudo, enquanto você finge que trabalha e só deita nas minhas costas! -- acusou agressivamente -- Cansei de ser igual mãe solteira depois de ser casada e ter marido em casa! -- gesticulava -- E que casa, né? Porque isso a gente nunca teve! -- olhava para o homem -- Uma vida inteira contigo sempre à base de aluguel!

 

--Princesa?! -- ficou sem ação

 

--Eu tô ouvindo o que eu tô escutando? -- Leda perguntou para as outras duas filhas

 

--Eu cansei dessa vidinha mais ou menos que a gente tem! -- Raquel continuava acusando -- E do sex* sem sal que você me dá! -- desabafava com emoção -- Cansei de ser mulher de um homenzinho frouxo, preguiçoso, sem graça e ruim de cama como você!

 

--Eita! -- Clarice arregalou os olhos

 

--Eu sempre achei que ele devia ser ruim de cama! -- Cecília considerou -- Se bobear tem pau pequeno... -- conjecturava

 

--Menina, me poupe! -- Leda beliscou-lhe a bunda

 

--Ai, mãe! -- Cecília reclamou de cara feia

 

--Acabou, Getúlio! -- anunciou resoluta -- Dessa vez é pra sempre! -- virou-se de frente para irmã -- De agora em diante eu vou morar na sua casa com meu filho! -- disse para Cecília -- É só o tempo de arrumar nossas trouxas e a gente vai embora!

 

Leda e Clarice tinham pontos de interrogação na cabeça.

 

--Decide o valor do aluguel e eu pago! -- afirmou com segurança

 

--Ah... -- não sabia o que dizer -- Sei lá... uns mil, dois mil reales... -- Cecília respondeu analisando possibilidades

 

--O que?? -- revoltou-se -- Deixa de ser mercenária?

 

--Meu Deus! -- Leda estava pasma -- Eu não tô acreditando nisso...

 

--Nem eu... -- Clarice concordava

 

--E eu vou ficar aonde? -- Getúlio perguntou desnorteado

 

--Volta pro esgoto que é o seu lugar! -- fechou a janela na cara dele e se aproximou da irmã -- Pago quinhentos por mês! -- propôs -- É pegar ou largar!

 

--O que?? Essa bagatela?? -- fez cara feia

 

--O imóvel tá lá largado e você não ganha nada com ele! -- retrucou -- Daqui a pouco vem um e invade! -- cruzou os braços -- Com esse dinheiro a mais, dá até pra você viajar por aí...

 

--E pra que eu quero viajar? -- fez um bico -- Um aluguel de quinhentos reales tá de graça, é um absurdo! -- continuava discordando

 

--Eu não tenho mil ou dois mil reales pra pagar por mês, mas quinhentos eu consigo! -- insistia -- Sou uma pessoa de confiança e não vou dar calote em você! Faço um cheque agora e pago o primeiro mês adiantado. -- aproximou-se mais -- Com quinhentinhos assim na mão, sem fazer nada, você pode ir juntando pra viajar pra um monte lugar cheio de homens... -- sorriu maliciosa -- Cada um mais gato que o outro! -- provocava -- Já imaginou conhecer homens ao redor do mundo inteiro?

 

--Ah... -- ficou pensando -- Feito! -- concordou -- Eu tenho coração mole, né...? -- fez um tipo

 

--Você vai se separar mesmo? -- Clarice não acreditava -- E vai embora daqui, assim, no susto? -- olhava para Raquel -- Lembra que a casa de Cecília ficou sem móvel nenhum! Você vai precisar de um tempo pra se organizar por lá, não pode se mudar desse jeito, correndo apavorada!

 

--Você já pensou nisso com calma, menina? -- Leda analisava a filha -- Será que não tá alimentando falsas esperanças? -- pensava no amante dela

 

--Nunca estive tão lúcida em toda minha vida! -- respondeu sem pestanejar -- Espera aí que faço o cheque agora! -- foi pegar o talão

 

--Quinhentinho no bolso chegando do nada! -- Cecília comemorou satisfeita

 

--Você comemora esse dinheiro, mas negou quando eu falei pra alugar tua casa pra eles!

-- Leda lembrou sem entender -- Não sei qual é a sua!

 

--Eu neguei porque Getúlio ia junto e eu não confio nele como inquilino! -- justificou-se -- Mas, se vai sozinha com o filho, eu sei que Raquel paga sem me dar trabalho! -- olhou para a outra irmã -- E, Clarice, pode se preparar! -- anunciou -- Vou pra Cidade Restinga com você e Zinara!

 

--O que??? -- a professora arregalou os olhos

 

--Danou-se... -- Leda continuava entendendo nada

 

--Raquel tá certa! -- andou pela sala -- Tem que viajar pra conhecer homens de novos lugares, de novas culturas... -- sorriu animada -- Cidade Restinga tá cheia de cabra macho dando sopa... -- bateu palminhas -- Lá vou eu!

 

--Só me faltava essa! -- Clarice reclamava contrafeita -- “Cecília vai junto com a gente só pra me atrapalhar...” -- pensou contrariada -- Tem nada a ver você ir também! -- reclamou -- E vai dormir aonde?

 

--Não se preocupe, meu bem! -- respondeu irônica -- É só a comunidade GLS ser discreta na hora do vamo ver, que eu não vou escutar! -- sorriu

 

--Olha o respeito, Cecília! -- Leda ralhou enérgica

 

--Você e Raquel enlouqueceram, isso sim! -- Clarice foi para o quarto de cara feia -- E vê se leva dinheiro porque ninguém vai te bancar!

 

--Claro, né? -- Cecília respondeu resmungando -- Já tá bancando a namoradinha, não tem grana pra mais nada...

 

--Aqui! -- Raquel voltou com um cheque assinado -- Quero o recibo! -- exigiu

 

--Mas que saco, hein? -- reclamou da exigência

 

Leda observou as filhas com um olhar crítico e depois foi até a janela. Ao abri-la e olhar para o quintal, percebeu que Getúlio chorava copiosamente dentro da barraca de camping e, pela primeira vez na vida, sentiu pena dele.

 

“Eu esperei tanto que Raquel fizesse isso...” -- pensava -- "e quando ela fez, algo me diz que foi tudo errado...” -- considerou

 

***

 

Cátia estava sozinha em casa e dormia profundamente.

 

“-- Filha? -- ouviu uma voz conhecida chamar -- Querida?

 

--Mamãe!! -- reconheceu-a emocionada -- Ah, meu Deus! -- correu até ela e se abraçaram emocionadamente

 

--Oh, meu amor... -- acariciava os cabelos da filha -- Quantas saudades...

 

--Mamãe... -- chorava copiosamente -- mamãe...

 

A mulher deixou que a outra desabafasse o pranto guardado por tantos anos, aconchegando-a carinhosamente em seu colo. Nada falavam.

 

--Eu nem acredito... -- olhou para a mãe -- Depois de tanto tempo...

 

--Nunca deixei você, meu bem. -- falava ternamente -- Nem eu, nem sua avó. -- acariciava o rosto da outra -- Pena que você nunca nos percebia...

 

--Cadê a vovó? -- perguntou como criança -- Queria tanto vê-la...

 

--Ela se prepara espiritualmente para voltar, meu bem. -- respondeu delicadamente -- Por isso não está aqui agora. -- sorriu -- Assim como você, ela terá um grande papel na transformação do planeta. -- explicou -- Na verdade, ela continuará com o trabalho que você e outras pessoas irão iniciar. -- revelou -- E junto com ela, outros iluminados se juntarão à seara do Rabi Amado! -- pausou brevemente -- Assistida pelos Guias Excelsos, ficarei sempre velando pelas duas! Orientarei a ambas quanto ao que fazer, cada uma a seu tempo.

 

--Como assim, mamãe? -- surpreendeu-se -- Eu tenho uma missão importante a cumprir? -- não entendia -- Existe um plano pra mim?

 

--Todos temos um plano bendito, minha querida, e nos cabe dar andamento a ele ou não. -- respondeu de pronto -- Seu intelecto já foi devidamente preparado, mas você se perdeu nos desatinos do sex* irresponsável e atrasou bastante o que já deveria ter começado. -- Cátia ficou envergonhada -- Não a estou condenando! -- esclareceu amorosa -- Mas preciso que entenda que não pode mais continuar se desequilibrando como fez por tantos anos. Atraímos para nós aquilo que se identifica com nossos pensamentos e ações; uma vez presa ao sensualismo vulgar, atrairá para si a companhia de Espíritos menos felizes que a obsidiarão sempre. -- advertiu -- Lembre-se que está escrito: “pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias”. -- citou um versículo de Mateus (24:28) -- Está mais que na hora de se disciplinar, de buscar o equilíbrio e se concentrar na missão que se propôs a desempenhar antes de renascer pela carne.

 

--Sei que errei... -- abaixou a cabeça -- Venho tentando me modificar, mas é muito difícil... sex* é um vício na minha vida... -- pausou brevemente -- Também tem o fato de eu ser lésbica, não é...?

 

--Nada há de impuro no sex*, meu bem. -- segurou o rosto dela com as duas mãos -- Nada há de doentio em sua orientação sexual. -- olhava para a filha -- Sexo e Amor devem andar de mãos dadas, pois, do contrário, aquilo que só engrandece servirá apenas para perturbar. -- sorriu -- "Numa cultura dedicada quase que exclusivamente ao erotismo, é natural que o hedonismo predomine nas mentes e nos corações”. -- afirmou com propriedade -- No entanto, cabe a nós a libertação. Continue firme e será bem sucedida. Dê espaço ao Amor e ele surgirá em sua vida!


(Nota da autora: entre aspas, citação de Joanna de Angelis. Também esclarecendo: hedonismo é a cultura que considera o prazer imediato e individual como a razão essencial da vida)

 

--Talvez o amor já tenha surgido... -- pensava em Lídia

 

--O tempo lhe mostrará. -- respondeu enigmática -- Como também vai lhe mostrar o que fazer, se tiver sabedoria para ler nas entrelinhas. -- advertiu -- Como disse, estarei aqui para orientá-la.

 

--Mas que missão é essa? -- segurou as mãos da progenitora -- Preciso saber, mamãe, porque não consigo sequer imaginar!

 

A mulher afastou-se da filha suavemente e, sob um gesto delicado, fez abrir um espaço no céu que se assemelhava a um telão de cinema. -- Veja com atenção! -- indicou

 

Cátia olhou para a tela e viu uma sucessão de imagens aceleradas retratando o destino do planeta Água. -- Meu Deus! -- levou a mão aos lábios -- O que é isso?

 

--Nunca se produziu tanto alimento quanto hoje, mas ainda assim, nunca houve tanta fome no planeta! -- a geofísica ouvia a voz da mãe ecoando nos espaços -- "Há previsões sombrias de escassez e de aumento de preço dos alimentos, deixando populações inteiras a perecer de fome.” -- via imagens entristecedoras de pessoas famintas -- Crimes hediondos vêm sendo praticados por toda parte e ainda ficará pior. -- cenas de violência descortinavam-se diante da loura -- Guerras, crueldade, destruição... tudo isso é a podridão acumulada por séculos de construções mentais coletivas doentias que vêm à tona, acontecendo como em um furúnculo, cuja pústula começa a ser drenada.

 

--Mas por que? -- perguntou apavorada -- Parece que tudo só piora!

 

--Nossos Guias têm advertido sobre “a reencarnação em massa de Espíritos empedernidos no mal que vivem nas sombras há séculos. Esses Espíritos têm sido conduzidos à reencarnação como última oportunidade de permanecerem no planeta, caso escolham se renovarem. Caso contrário, serão exilados em outro planeta, compatível com seu patamar evolutivo”. -- explicava -- "Com a reencarnação desses Espíritos obstinados no mal, que estavam há séculos nas regiões inferiores do planeta, tanto umbralinas quanto trevosas, estas regiões estão sendo esvaziadas. É certo que muitos decidem por não se renovarem, por isso a iniquidade tem aumentado assustadoramente, o que indica ser este o tempo do início de uma nova etapa.” -- esclarecia -- Muito ainda está por acontecer. -- anunciou

 

Na sucessão de fatos apresentados, cenas de fenômenos da natureza impressionaram a geofísica. -- Minha Nossa!

 

--Você sabe que estes fenômenos têm se intensificado de modo a desafiar o entendimento de suas ciências. Creia que não são forças cegas gerando cataclismos sem razão de ser. -- continuava explicando -- "Os acontecimentos físicos planejados fazem parte dos ajustes e das preparações do mundo de regeneração, o qual não contará mais com terremotos, furacões, tornados, inundações e outras catástrofes naturais próprias de planetas primitivos ou de expiações e provas. No planeta de regeneração, também as expiações cessarão”. -- a transição entre as cenas tornava-se cada vez acelerada -- "A comoção social gerada por esses flagelos fará com que os seres humanos repensem a forma como concebem a vida, o que imprimirá maior rapidez ao avanço moral.” -- imagens de uma nova realidade eram exibidas -- "Os progressos físico e moral, que antes aconteciam de forma parcial, tenderão a se tornar cada vez mais gerais.” -- o telão começou a desaparecer suavemente


(Notas da autora: entre aspas, trechos do livro Terra – Um Mundo de Regeneração e Você, de Alírio de Cerqueira Filho)

 

Cátia estava atônita e emocionada. -- Mãe, eu... -- percebia que a mulher lentamente desaparecia de seu campo de visão

 

--Use a ciência como instrumento de evolução, meu bem. -- aconselhou -- Empregue seu conhecimento para o bem e ajude na orientação da humanidade para o caminho mais acertado. -- a voz reduzia sua entonação -- Se permanecer equilibrada em sua vida, fique certa de que será instruída quanto ao que fazer.

 

A geofísica sentia o peso da responsabilidade que lhe cabia e se assustava com ela. Não sabia o que dizer. Também não desejava que a mãe partisse.

 

--Tenha confiança, minha filha! -- incentivou -- Deus estará com você todos os dias e, sob as Graças Divinas, eu também serei uma presença constante, mesmo que não me perceba. -- pausou brevemente -- Eu te amo!

 

--Também te amo, mamãe! -- balbuciou emocionada”

 

--Mãe!! -- Cátia acordou assustada -- Mamãe?! -- olhava para todos os lados -- Foi um sonho... -- sentia-se perturbada -- Meu Deus, que coisa estranha... não consigo me lembrar direito... -- passou a mão nos cabelos -- Nunca tive um sonho tão... -- não sabia descrever -- Tô com medo! -- meteu-se debaixo das cobertas e fechou os olhos -- "Deus, por favor, me ajude!” -- orava mentalmente -- “Seja lá o que eu tenha que fazer, que esteja preparada e tenha coragem!” -- pedia temerosa

 


CAPÍTULO 127 – Saudades e Surpresas de Norte a Sul do País

 

--Ave Maria, mas como tô feliz, não sabe, menina? -- Ritinha segurou uma das mãos da astrônoma -- Ver você aqui de volta, bonita que só e bem disposta... -- sorria embevecida -- Que bênção, meu Pai, que alegria!

 

--Eu também tô feliz e muito! -- Zezé concordou com a amiga -- Espia só como essa menina tá bonita! -- acariciou o rosto de Zinara -- Só Deus sabe o quanto rezamos pra que tudo desse certo! -- sorriu -- Glória a Deus!

 

“Só mesmo Sahar e minhas velhinhas pra me achar essa boniteza toda...” -- pensou achando graça -- Também tô feliz por demais da conta, minhas fofinhas! -- sorriu para as idosas -- Chukran! (Obrigado)! Eu sei que não me esqueceram em momento algum! Também não me esqueci das duas, a’aleem Ilaah (Deus sabe)! -- agradeceu reconhecida -- E também sou muito grata pelo convite pra almoçar, que se estendeu a minhas convidadas. -- olhou para Clarice e Cecília

 

--Sim, nós só temos a agradecer! -- a paleoceanógrafa concordou sorridente -- A senhora cozinha maravilhosamente bem, Zinara não exagerou! -- piscou para a dona da casa

 

--É mesmo, que comida boa! -- Cecília concordava ao encerrar a refeição -- Obrigada pelo convite! -- sorriu -- "Se Raquel estivesse aqui, tinha comido até as panelas!” -- pensou divertida

 

As cinco mulheres almoçavam na casa de Ritinha.

 

--Vocês são filhas de Leda, eu tinha que convidar! -- sorriu para elas -- E são amigas de minha menina, então... Não me agradeçam! -- olhou para Zinara -- Mas me diga, filha, o que foi que Claudia falou?

 

--Um monte de desaforo, mas depois me deu abraço e beijo na testa! -- respondeu bem humorada -- Acho que se eu tivesse ido sozinha teria sido meu fim! -- brincou -- Quase levei uma sova!

 

“Será que Zinara pegava a médica também?” -- Cecília pensou intrigada -- "Essa comunidade GLS detona as parada!” -- admirou-se -- "Clarice que não abra o olho e acaba que nem Getúlio: trocada por uma versão mais cabeluda!”

 

Clarice riu brevemente. -- É mesmo... -- concordou -- Mas foi bem feito pra aprender!

 

Zezé achou graça. -- Não é isso, não, menina! Cláudia disse que você foi lá e saiu com um monte de pedidos de exames pra fazer! -- explicou -- A gente quer saber o quê que deu!

 

--Mas ainda não deu tempo de sair os resultados, não, uai! -- achou graça da ansiedade delas -- E também ainda não fiz tudo porque tem exame que é mais difícil de conseguir marcar. -- explicou

 

--Mas podem deixar que ela vai fazer TODOS eles! -- Clarice garantiu enfatizando -- Ai dela que não! -- olhou para a namorada

 

--Mas a gente também vai ficar em cima pra ela se cuidar! -- Ritinha concordou -- Pra se tratar, tomar os remédios...

 

--Se vai! -- Zezé balançava a cabeça confirmando

 

--Eita boi... -- riu brevemente -- Mas e quanto as duas, o que têm feito? -- queria mudar de assunto

 

E de repente o interfone tocou.

 

--Ih, meu Deus! -- Ritinha sorriu e se levantou de um pulo -- Quem será que chega sem ninguém esperar? -- foi atender

 

--Quem será? -- Zezé sorriu para Zinara -- Vamos ver! -- levantou-se também

 

“Oh, não! O Lobisomem do Cão!” -- pensou revirando os olhos -- "Oh, Aba, dai-me forças...”

 

--Quem é? -- Cecília cochichou com a irmã -- Parece que todo mundo aqui já sabe...

 

--Você vai ver... -- Clarice desconfiava da resposta

 

--Deixa eu ir pegando a louça pra lavar. -- Zinara se levantou recolhendo os pratos -- "A cozinha de ya Ritinha é sempre meu melhor disfarce!” -- pensava numa estratégia

 

--Eu te ajudo. -- a namorada se levantou também

 

--Se as duas vão fazer isso, não precisam de mim, né? -- Cecília comentou preguiçosa -- Fico aqui na sala pra receber a visita misteriosa. -- sorriu

 

Subitamente Zinara teve uma ideia: -- Fique mesmo, porque pode ser o sobrinho de ya Ritinha. -- preparou-se para sair da sala -- Huwa caazib. -- piscou para ela

 

Clarice entendeu as intenções da amada. -- Ela quis dizer que ele é solteiro... -- traduziu antes de ir para a cozinha também

 

--Homem? -- Cecília deu um salto da cadeira -- Solteiro? -- ajeitou a roupa -- Cabra da peste? -- arrumou os cabelos -- Ui!

 

--Adamastor, que surpresa agradável! -- Ritinha cumprimentava animada

 

--Menino, você parece que adivinha! -- Zezé também cumprimentava

 

--Adivinha, sei... -- a morena resmungou lavando os pratos

 

--Cecília vai te salvar, amor. -- a paleoceanógrafa cochichou bem humorada -- Pode confiar!

 

--Inshallah! (Se Deus quiser!) -- desejou

 

 

--Você não sabe quem tá aqui: Zinara! E já tá cuidando da louça, querido. -- Ritinha falava alcoviteira -- Ela não deixa de ser prendada, né mesmo?

 

--Vamos aguardar na sala que daqui a pouco ela termina. -- Zezé também alcovitava -- Enquanto esperamos, venha conhecer a filha de uma grande amiga nossa.

 

“Isso mesmo, vai apresentando ele pra minha cunhada!” -- a astrônoma pensava -- "Vai que ela é igual a garota daquele filme que é chegada a um lobisomem?”

 

--Querido, conheça Cecília. -- Ritinha apresentou -- Ela é uma das três filhas de uma grande amiga nossa de São Sebastião chamada Leda.

 

--Cecília, esse é Adamastor, sobrinho de Ritinha. -- Zezé apresentou

 

--Oi, Adamastor... -- estendeu a mão toda cheia de charme -- Prazer. -- sorriu sensualmente e reparou no homem de cima a baixo -- "Gentem, que bicho alto, peludo, cheio de macheza...” -- pensou -- "E olha o tamanho do pé dele...” -- conjecturou algumas coisas -- "Ui...”

 

--Olá, Cecília! -- segurou a mão dela e a beijou -- Encantado, não sabe? -- sorriu -- "Vixe, que mulher sexy, Ave Maria!” -- pensou -- “Bem que sempre ouvir falar dos encantos das mulheres de São Sebastião!”

 

Ritinha e Zezé se entreolharam surpreendidas.

 

--Ouvi dizer que você é solteiro... -- foi direto ao assunto -- Também sou! -- fez questão de esclarecer

 

“Boa, cunhada!” -- Zinara comemorava mentalmente -- "Agora pega ele e tasca-lhe um beijo pra abestalhar!” -- desejou

 

--É solteira? -- sorriu satisfeito -- Oxi, que os cabra de São Sebastião me decepcionam! -- respondeu cheio de charme -- Como pode isso?

 

--Ih, Cecília tá conseguindo! -- Clarice cochichou animada -- Não dou cinco minutos e ela tira ele do seu caminho de vez! -- brincou

 

“E eu que cheguei a não gostar quando ela disse que vinha com a gente!” -- a caipira pensou

 

--Bem, já que vocês tão se entendendo tão bem... -- Ritinha mudou o foco da alcovitice -- Sentem-se aí e vão conversando enquanto eu já penso no que vou servir no lanche!

 

--É isso aí, vão conversando, se entendendo... -- Zezé também fazia gosto -- Casal bonito, né? -- aproximou-se da amiga -- Uma filha de Leda também é bom partido pra ele. -- cochichou com ela

 

--Se é! -- concordou

 

 

--Deu certo, Sahar! -- Zinara terminava com a louça -- Pelo que ouvi as velhinhas tão dando força pro amor acontecer lá na sala!

 

Riu brevemente. -- Sabe que esse amor veio bem a calhar? -- achava graça -- De repente minha irmã se aquieta com seu ex quase futuro marido. -- brincou -- Bendita hora que ela veio com a gente -- enxugava um prato

 

--Meninas, vocês não sabem o que aconteceu. -- Ritinha chegava na cozinha seguida por sua amiga -- Adamastor e Cecília caíram de amores um pelo outro... -- anunciou com certo cuidado -- Quem podia imaginar que isso ia acontecer, né? -- perguntou meio constrangida

 

--Pois é, quem poderia? -- Zinara concordou balançando a cabeça

 

--Às vezes isso acontece, sabe, filha? -- Zezé falava com o mesmo jeito da outra -- Tem coisas que não são pra ser, num sabe?

 

--Não são pra ser... -- Clarice concordava

 

--Será que você...? -- Ritinha segurou uma das mãos da astrônoma

 

--Não é que ele não te ache uma menina de ouro... -- Zezé segurou a outra mão dela -- Mas quem pode mandar no coração?

 

--Vou sobreviver! -- respondeu sorridente -- E faço muito gosto nesse amor que desabrocha aí na sala! -- sorria -- "Graças a Deus, o Lobisomem do Cão não me obsidiará mais!” -- pensava aliviada

 

--Que bom que você aceitou bem! -- Ritinha abraçou a mulher -- Fiquei preocupada!

 

--Não fique triste, meu bem! -- Zezé a abraçou também -- O amor da sua vida vai aparecer!

 

--Ana a’arfa! (Eu sei!) -- olhou para Clarice por cima dos ombros da idosas -- Eu sei... -- piscou para ela

 

--Sou eu! -- movimentou os lábios sem produzir som -- Eu! -- Clarice aproveitava que as idosas estavam de costas para ela

 

Enquanto isso, Cecília e Adamastor se amassavam assanhadamente no sofá.

 

“Eita, que essa mulher era tudo que eu queria...” -- pensava enquanto se beijavam furiosamente -- "Ô, bicha quente!”

 

“Eu sabia que achava um cabra macho nessa terra!” -- deslizou uma das mãos para entre as pernas dele e apertou -- "Ui! A teoria do pé não falha...” -- pensou excitada

 

***

 

Getúlio arrumava suas poucas coisas dentro de uma mochila velha. Já havia desmontado a barraca de camping e se preparava para partir.

 

--Pra onde você vai, pai? -- Deodoro observava o homem -- Por que não vai pra roça com a vovó e eu? Lá é tão legal, você não gostou? -- perguntou intrigado

 

Sorriu para o filho. -- Eu sei que lá é manero, mas num rola pro pai ir agora. -- respondeu disfarçando a tristeza -- Podes crer que no final do ano a gente vai tudo junto de mulão. -- mentiu

 

--Por que você não foi morar com a gente na casa da tia Cecília? -- continuava sem entender -- E pra onde você tá indo agora?

 

--Ei, moleque, parece até que eu sou o filho e tu é o pai! -- brincou com o filho e colocou a mochila nas costas -- Quando a gente é adulto as parada não são fácil de sacar. -- mexeu no cabelo do garoto -- Mas tu vai manjar qual é. Fica frio. -- sorriu

 

Leda observava os dois no quintal.

 

--Se cuida, pai! -- abraçou o homem

 

--Tu também, moleque! -- abraçou o menino com carinho e lutou para não chorar -- Agora vai terminá cum tuas parada lá porque tô sabendo que teus treco não tão na mala ainda! -- beijou a testa dele -- Rala peito, moleque! -- fingiu que ralhava

 

--Tchau, pai! -- deu tchauzinho e entrou em casa correndo

 

Leda se aproximou do ex genro quando o menino já estava longe. -- Já sabe pra onde você vai?

 

--Por aí. -- pôs as mãos nos bolsos e sorriu irônico -- Confessa que a senhora tá soltando foguete!

 

--Não. -- respondeu simplesmente -- Não desejo seu mal, pode acreditar nisso. E também não queria que tivesse acontecido assim. -- falava com sinceridade -- Mas minha filha é adulta e eu não tenho nada com isso. -- examinava o homem -- Vê se você pensa na sua vida e toma um rumo de uma vez por todas! -- aconselhou

 

--Não tô pra sermão, sogrona... -- abaixou a cabeça contrariado -- Tua filha já me deu os escracho dela.

 

--Era só isso. -- tocou o rosto dele -- Vai com Deus. -- recolheu a mão e se afastou

 

Getúlio olhou para a casa da sogra e saiu rapidamente pelo portão, ganhando a rua como se estivesse fugindo. Desejava desaparecer.

 

Leda o acompanhou com o olhar e balançou a cabeça negativamente.

 

***

 

 

--Então quer dizer que ela se separou?? -- Serra perguntou espantado -- E foi por tua causa, cara? -- olhava para o amigo

 

--Foi por um monte de coisas! -- bebeu um gole de cerveja -- O cara é daquele tipo preguiçoso que fica deitado no sofá o dia inteiro só coçando o saco! Tem uma hora que a mulher não aguenta mais, né?

 

Serra achou graça e ficou olhando para o outro. -- Se liga, cara! Se fosse só por ficar puta com a situação ela já teria largado ele há muito tempo! -- bebeu um gole também -- Raquel só fez isso por tua causa! -- apontou para ele -- Ela tá imaginando que você vai assumir e os dois vão virar um casalzinho como manda o figurino!

 

--Ah, mas eu não tô pensando nisso! -- retrucou -- E nunca prometi nada pra ela!

 

--Não precisa prometer! -- sorriu -- As mulheres sempre acham que a gente vai fazer o papel de príncipe encantado! -- pegou a garrafa e encheu mais o copo -- No teu caso, o papel de cigano encantado! -- brincou com o outro

 

--Sei lá... -- estendeu o copo para ser servido também -- Raquel foi morar com o filho na casa da irmã dela e não me jogou indireta pra ir junto. -- recolheu o copo após o amigo tê-lo completado -- O garoto só me viu uma vez, não deve se lembrar de mim! -- comentou -- E a mãe e a outra irmã nunca nem me conheceram.

 

--E daí? Você não disse que ela despachou o moleque pra viajar com a mãe? Não disse que as duas irmãs também tão fora? -- lembrava -- Ela quer ficar no clima de lua de mel contigo e na hora certa vai te jogar a bomba!

 

--Você viaja... -- achou graça e bebeu mais um gole de cerveja -- Passei a noite inteira com ela e não saiu esse assunto! Pra dizer a verdade, o que a gente menos fez foi conversar! -- afirmou maliciosamente

 

--Tu vai ver! -- advertiu -- Se eu fosse você, aproveitava esse momento pra curtir mais um pouquinho e dava no pé antes que ela começasse a encher e dar trabalho. -- aconselhou

 

Fagundes continuou bebendo. -- O único trabalho que ela me dá é com comida! -- desabafou -- Cara, que mulher faminta! -- achou graça -- "Em todos os sentidos...” -- pensou

 

--Você não caiu na asneira de apresentar ela pra tua família, né? -- perguntou receoso

 

--Nada! -- franziu o cenho -- Sem contar que minha mãe nunca aprovaria que eu colasse com mulher separada e mãe de filho!

 

--Menos mal. -- bebeu outro gole -- Mulher é bicho ardiloso... Com toda coisa da tua mãe, era capaz de Raquel fazer um tipo e conquistar a coroa. Aí se tua família fica do lado dela, cê ia ter trabalho... Tava fudido!

 

--Quando eu me aproximei dela não tava pensando em zoar. -- confessou -- Você sabe que eu não sou de bagunça. Fiquei até um bom tempo na minha depois do divórcio...

 

--E tava pensando em que? Em ser o cigano encantado dela? -- ironizou

 

Fingiu não ter ouvido. -- Não sei. -- respondeu sinceramente -- Deu vontade de chegar e eu fui. -- pausou brevemente -- Não tava a fim de compromisso, mas também não queria me mandar. Do jeito que tá, a coisa vai bem.

 

--Mas aí é que tá! -- debruçou-se na mesa -- As mulheres nunca se conformam com o jeito que tá! Elas querem sempre amarrar a gente! -- ajeitou-se na cadeira -- Se liga, mermão! Essa mulher vai te exigir compromisso! -- advertiu novamente -- Já que você tá curtindo, vai cozinhando o galo, vai enrolando, se faz de companheiro... não espanta, não. Aí, quando der no saco, some! -- gesticulou -- Precisa nem falar nada!

 

Fagundes ficou pensando e nada respondeu.

 

***

 

Zinara admirava sua namorada penteando os cabelos.

 

--O que foi, amor? -- sorriu para a caipira através do espelho

 

--Gosto de te ver... -- olhava para ela -- Você ficou lindinha com esse novo visual... -- sorria embevecida -- Parece até uma menina sapeca! -- brincou -- Ya gamil... (Minha linda...) -- suspirou apaixonada

 

--Gostou de me ver de cabelos curtos? -- virou-se de frente para a morena -- Cheguei a recear que fosse reclamar porque cortei... -- deixou o pente sobre o móvel

 

--Laa... (Não...) -- levantou-se da cama -- Reclamo não... -- aproximava-se devagar

 

--Hum... Conheço esse olhar... -- mordeu o lábio inferior e ameaçou fugir

 

--Laa, ya habibi... (Não, querida...) -- agarrou-a pela cintura com força e a puxou de encontro a si -- Arraib layyi! (Fique perto de mim!) -- sussurrou no ouvido -- Beashwaee mistaneek! (Quero você com paixão!) -- deslizou as duas mãos por dentro da camisola da amada -- Alaan! (Agora!) -- beijava e mordia o pescoço dela

 

--Ai, Zinara, pára... -- fechou os olhos -- Ai... -- sentiu uma das mãos da amante apertando-lhe o seio -- Gente! -- outra mão ganhava lugar entre suas pernas -- Ai... -- gem*u dengosa -- Deixa de ser safada? -- sorria -- Pára... -- sentia os beijos da astrônoma assaltando-lhe a nuca e os ombros

 

--Tacaalii! (Vem!) -- conduziu a namorada até a cama -- Ya billadhi askara... (Minha amada intoxicante...) -- deitou-a de barriga para cima e sorriu -- Sahar... -- deitou-se sobre ela e beijou-a cheia de paixão e desejo

 

--Zinara... pára... amor... -- pediu dengosamente entre beijos -- Ai... -- gem*u

 

A morena explorava o corpo de sua amada com as mãos e a beijava ardentemente.

 

--Ai... -- lutava para resistir à vontade -- Ah... -- gem*u

 

--Tacaalii, ya habibi... (Vem, querida...) -- sussurrou antes de iniciar uma trilha de beijos e mordidas em direção ao sex* da mulher -- Behebbik ya, Sahar... (Eu te amo, Amanhecer...)

 

“Ai, que quando ela fala assim eu fico toda fácil...” -- Clarice pensou cheia de vontade

 

Subitamente Zinara tirou a própria roupa e na sequência colocou-se por dentro da camisola da outra, beijando e mordendo a pele nua da amante. Fazia cócegas suaves para provocá-la.

 

--Ai, ai, amor... -- sorria -- Pára, caipira safada! -- remexia-se por causa das cócegas -- Ai... -- achava graça -- Fica aí por dentro da minha roupa fazendo essas coisas... -- ralhou cheia de dengo -- Ai... -- mal se aguentava de vontade

 

Tirou a camisola da paleoceanógrafa e sorriu para ela. -- Prefere assim? -- com movimentos leves deslizava os dedos ao longo do abdômen de Clarice -- Hal a’jabaki, ya gamil? (Gosta disso, minha linda?) -- mordiscou um mamilo -- Hum? -- sugou de leve

 

--Ai... -- sentiu um arrepio pelo corpo inteiro -- Vem, amor! -- gem*u fechando os olhos -- Pára de me provocar que eu não aguento mais! -- pediu excitada

 

--Esperei que me pedisse... -- beijou-a com desejo, segurando-a pelos cabelos da nuca

 

--Ah... -- soltou um gemido abafado pelo beijo

 

Sem interromper o beijo Zinara esfregava seu sex* contra o da mulher amada, mantendo todo seu peso sobre ela. Continuava segurando-a pelos cabelos da nuca, deixando a outra mão percorrer o corpo da outra de forma suave, quase sem tocar.

 

--Ah!! -- Clarice gem*u quase sem ar quando o beijo terminou -- Meu Pai... -- o coração batia acelerado

 

A astrônoma rapidamente soltou os cabelos da namorada e mergulhou entre as pernas dela invadindo-lhe o sex* com volúpia. Manteve-se, no entanto, provocando-a com carícias suaves, roçando os dedos sobre seus mamilos de quando em vez.

 

--Ah, ai, amor... -- segurou-a pelos cabelos -- Ai... -- gemia extasiada

 

Em pouco tempo Clarice percebeu-se tremendo de prazer, atingindo o orgasmo sob os toques e carícias da morena.

 

--Minha Nossa, Zinara... -- sorria com os olhos fechados -- Com quem você aprendeu essas coisas todas, hein?

 

--Uma pesquisadora... tem que honrar a profissão... -- beijava uma das coxas da outra -- E eu levo isso muito a sério. -- brincou

 

--Sei... -- puxou-a pelos cabelos -- Vem cá! -- olhou para ela

 

--Ói eu! -- brincou novamente e sorriu

 

--Você andou pesquisando demais com a mulherada! -- deu-lhe um tapinha no ombro -- Demais! -- fingiu que ralhava com ela

 

--Eu quero pesquisar demais da conta é com você, Sahar... -- mordeu-lhe o queixo -- Espera até eu ficar em forma... -- mordiscou-lhe a orelha

 

“Se não tá em forma e voltou desse jeito...” -- sorriu -- Mas agora EU é que quero honrar a profissão! -- reverteu as posições e sentou-se sobre a morena -- Afinal de contas, sou pesquisadora também... -- arranhou o abdômen da outra bem de leve

 

--Mumtaz... (Excelente...) -- segurou-a pela cintura

 

--Nada disso! -- segurou os pulsos da astrônoma e empurrou seus braços contra a cama -- Agora você é meu objeto de pesquisa! -- afirmou imperativa

 

--Walaw... (O prazer é meu...) -- sorriu

 

--Eu te amo... -- sussurrou no ouvido -- Você é minha... -- arranhou suavemente os braços dela até chegar aos ombros -- E será minha pra sempre... -- mordeu e beijou o pescoço da outra

 

--Dayman... (Sempre...) -- respondeu quase num sussurro

 

A paleoceanógrafa seguia com seus lábios, totalmente sem pressa, o caminho que a levaria ao sex* da amante. Apenas para excitá-la ainda mais, provocava-a por breves instantes com o roçar de alguns dedos.

 

--Tacaalii, Sahar! (Vem, Amanhecer!) -- pediu excitada -- Ana cawza... (Eu quero...) você dentro de mim...

 

--Ainda não... -- beijava, mordia e sugava a pele da morena -- Gosto assim... saboreando... -- dedicava atenção a cada parte do corpo da outra que seus lábios encontravam -- A’jabani haqqan, ya habibi... (Eu gosto muito, querida...)

 

“Eu adoro quando ela fala assim comigo...” -- Zinara entregou-se ao prazer que a amante lhe proporcionava -- Ah... -- gemia baixinho deixando-se explorar por ela sem quaisquer reservas

 

--Nossa, como tá excitada... -- deslizou suavemente o dedo sobre o sex* da outra -- Isso tudo é culpa minha? -- perguntou fingindo inocência -- Hein? -- mordeu a beijou a virilha dela

 

--Ya bajat al-rouh... (Prazer da minha alma...) -- estava de olhos fechados -- Ana cawza! (Eu quero!) -- sentia o corpo queimar

 

--Eu também... -- mergulhou entre as pernas da morena, estimulando-a com a língua e dois dedos

 

--AH!! -- gem*u alto -- Sahar...

 

Clarice provocava a amante de todas as formas possíveis com sua língua, lábios e dedos, fazendo-a vibrar com seus movimentos acelerados.

 

--AH!!! -- Zinara explodiu em um orgasmo intenso

 

***

 

--Por que você fez jogo duro comigo, Sahar? -- a morena perguntou enquanto se enxugava -- A caipira doida pra aproveitar esses momentos de privacidade com você e no entanto... só ouvia não! -- beijou a cabeça dela

 

--Cecília vai dormir com Adamastor sabe-se lá onde, então não tinha porque ter pressa. -- enxugava-se também -- Além do mais você sabe que Akemi vem aí. -- olhou para a outra -- Já pensou se ela chegasse na hora H? Demos sorte que ela ainda não apareceu.

 

--Ave Maria, a fisioterapeuta da mão pesada! -- lembrou-se da mulher -- Ainda bem que não deixamos pra namorar depois da visita dela, porque senão ia ser uma derrengação só!

 

Achou graça. -- Você que chamou a mulher e fica reclamando? -- riu brevemente

 

--Chamei porque preciso de uma massagem poderosa, mas aquela bichinha é terrível! O que faltou em tamanho sobrou em força! -- comentou enfática -- A massagem dela faz um bem danado, mas logo depois que termina você pensa que tá morta! -- lembrava da experiência -- Ana xaafa... (Estou com medo...) -- sofria por antecipação -- Ave Maria, Deus me defenda! -- pendurou a toalha no suporte

 

Achou graça de novo. -- Ai, ai... -- beijou o ombro dela -- Eu também quero fazer massagem com ela. Tenho sentido umas dores no pescoço tão chatinhas... -- começou a se vestir

 

--Smalla'Alik! (Deus proteja você!) -- desejou com sinceridade -- Eu vou ficar do seu lado! -- garantiu -- Tenha fé! -- começou a se vestir também

 

Riu brevemente. -- Quem te ouve falando assim... -- balançou a cabeça negativamente -- Exagerada...

 

--Vai nessa, que é exagero! -- olhou para a namorada

 

Após uns instantes calada, a paleoceanógrafa perguntou com receio: -- Você me acha muito... -- não sabia como dizer -- você teve mulheres experientes, vividas... Acha que eu sou muito... -- terminou de vestir -- sem graça? -- abaixou a cabeça

 

--Choo? (O que?) -- surpreendeu-se com o que ouviu -- Por que essa pergunta agora, uai? -- abraçou-a pela cintura -- Sahar, você se acha sem graça? -- estava pasma -- Ave Maria, se é sem graça e me deixa feito doida imagine se não fosse!

 

--Eu tô falando sério, amor. -- levantou a cabeça e olhou para a morena -- Você é uma amante maravilhosa e eu tenho medo de... -- brincava com o cabelo dela

 

--Laa... (Não...) -- silenciou-a delicadamente -- Não é a primeira vez que você se sente insegura por causa disso. Tenha em mente que você é meu amor, a mulher da minha vida e a melhor amante que eu já tive! -- afirmou com verdade

 

Ficou toda prosa. -- Jura? -- perguntou empolgada ao sorrir -- Mas eu não sou cheia das técnicas que nem você...

 

--Cheia das técnicas? -- achou graça -- Pare com isso, menina... -- pediu com delicadeza -- Temos afinidade, sincronicidade e uma ligação que é muito mais que física! -- beijou-a -- Estamos juntas pelo espírito, Sahar! E isso nem o tempo consegue mudar! -- sorriu -- Shouq ‘enadilik gouwaya... (O amor está chamando você lá do fundo de mim...) -- sussurrou no ouvido -- Yoom widayman... (Hoje e sempre...)

 

--Ai, Zinara, sossega! -- desvencilhou-se toda melosa -- Você voltou com um fogo... -- passou a mão nos cabelos e encostou-se na parede -- Ai... -- suspirou

 

--É bom se acostumar... -- piscou para a paleoceanógrafa -- Tudo que a caipira faz é com raça! -- terminou de se vestir -- E muita raça! -- enfatizou

 

Clarice riu brevemente. -- Boba! -- beijou-a -- Vamos pra sala que daqui a pouco a mulher tá chegando aí. -- chamou

 

--Nem me lembre... -- pegou as toalhas para estender no varal

 

Clarice ficou na sala pensando e quando Zinara apareceu resolveu perguntar: -- Aquela cama... -- desviou o olhar -- era onde você e Jamila...?

 

--Eu mudei toda a decoração do quarto algum tempo depois que Jamila saiu da minha vida. -- respondeu mansamente ao se sentar no sofá -- Você foi a única mulher que se deitou naquela cama comigo. -- esclareceu

 

“Ai, que bom!” -- pensou aliviada -- Mas o resto da casa não mudou...? -- continuou perguntando

 

--Não, uai... Por que a pergunta? -- não entendia

 

--Você e Jamila... -- não encarava a astrônoma -- faziam... -- pensava em como perguntar -- Onde mais vocês costumavam a ...? -- olhou de relance para a outra -- Certamente esse sofá...

 

--Uai... -- coçou a cabeça meio sem graça -- Esse apartamento oferece muita privacidade, né...?

 

Clarice prestou atenção naquela reação e perguntou de outra forma: -- Existe algum lugar nessa casa onde você e Jamila não tenham feito...? Você sabe!

 

--Então... -- olhou para a morena -- Como eu disse, tudo da caipira é na raça...

 

Deu-lhe um tapinha na perna. -- Você é muito safada, viu, Zinara Raed? -- sentiu um pouco de ciúmes

 

--Wana amil eh? (Fazer o que)? -- brincou para disfarçar o constrangimento -- Mas... -- sentou-se lado e ficou analisando o rosto da amante -- Isso te incomoda muito?

 

--Um pouco... -- sentou-se de lado também -- Mas são bobagens minhas... -- apoiou a cabeça em uma das mãos -- A gente precisa conversar... -- anunciou pensativa

 

--Sobre isso? -- espantou-se -- Bitichkii min eh? (Qual é o problema?) Você quer que eu mude tudo aqui?

 

--Não! -- esclareceu de pronto -- Não é sobre isso, é sobre nós. Sobre como vai ser daqui pra frente e...

 

O interfone tocou.

 

--Deve ser ela. -- levantou-se rapidamente -- Deixa eu atender, dá licença. -- foi até a cozinha atender o interfone

 

--Vai lá... -- suspirou

 

***

 

--AHAHAHAH!!!!!!!! -- Zinara gritava apavorada -- Gaatak niila, Akemi! (Vá para o inferno, Akemi!) -- reclamava -- Ya behiima! (Sua estúpida!)

 

--Moça grita, né? -- apertava a base da nuca e o pescoço da astrônoma -- Contratura e vértebra fora de lugar de novo! -- diagnosticava -- Mas fica bom! -- virou rapidamente a cabeça dela para um lado e outro

 

--AHAH!! -- sentiu que tudo estalou e sentiu-se semi morta -- Aba, dah JaHiim... (Meu Pai, isso é um inferno...) -- balbuciava aparvalhada

 

--Calma, querida! -- Clarice estava surpresa com as reações da morena -- É só uma massagem! -- tentava acalmá-la -- Essa dor é só na hora!

 

“Ai, Sahar, fica quieta que a coisa é violenta...” -- pensava -- Oh, Aba... -- clamava aos céus

 

--Coluna alta. -- reparava no dorso da paciente -- Tem que resolver! -- empurrou as costas dela para baixo com força

 

--Aff... -- sentia que faltava ar

 

--Tem que ver de um lado e outro. -- ficou de pé sobre as costas da professora

 

--Gente! -- Clarice arregalou os olhos

 

--Saluu ‘na nabi La tahsiiduuna!! (Reze para o profeta contra o olho do mal!!) -- Zinara não sabia mais o que invocava -- AHAH!!

 

Nesse momento, Cecília chegava chateada. -- Pôxa, mas dona Ritinha às vezes é muito empata! -- reclamava sozinha -- Justo hoje tinha que me inventar de chegar sem avisar pra visitar o sobrinho? -- aproximou-se da porta -- E ainda decretou que ia dormir na casa dele! -- preparou-se para tocar a campainha -- Não entendi qual foi a dela!

 

--Puxa perna! -- Akemi pegou uma das pernas da astrônoma e puxou para o alto

 

--AHAHAHAHAH!!!!!!!!!!! -- gritou aflita

 

--AHAH!! -- Clarice gritou com medo

 

Cecília paralisou e arregalou os olhos. -- Nossa, mas o que foi isso? -- espantou-se

 

--Puxa a outra! -- a fisioterapeuta fez a mesma coisa com a outra perna

 

--AHAHAHAHAHAHAH!!!!!!! -- continuava gritando -- Enti ghaawiz iD-Darb bi-sittiin gazma!! (Você merece ser chutada por 60 sapatos!!) -- rogava a praga de sempre

 

--Ai, Zinara!!! -- Clarice ficou aflita novamente -- "Gente, parece até que a mulher vai arrancar as pernas dela do lugar!” -- pensou espantada -- "Acho que Zinara não tava exagerando...” -- reconsiderou

 

--Essa comunidade GLS é animal, gente! -- Cecília pensava coisas -- Deixa escutar! -- encostou o ouvido na porta fofocando

 

--Agora só falta aqui. -- saiu de cima da outra e apontou para os quadris -- Cala boca que só grita! -- ordenou

 

--Ayn, choo...? (Onde, o que...?) -- sentia-se perdida -- Ah... -- a boca não fechava mais

 

--Vira frente! -- virou Zinara de barriga para cima como se fosse um pedaço de carne -- Aqui! -- apertou fortemente na virilha dela

 

--UIUIUIUIUIUIUIUIUIUI!!!!!!!!!!!! -- gritou como porco à beira do abate

 

--Aí não, aí não!!! -- Clarice pediu nervosa

 

--Gente, Zinara tá enfiando o que e aonde?? -- Cecília queria saber

 

--Acabado! -- Akemi deu um tapa na perna da paciente -- Você bem melhor que primeira vez, né? -- sorriu para ela

 

--Oh, Aba... -- a astrônoma parecia alucinada -- Ai... -- suspirou

 

--Agora, você! -- apontou para a paleoceanógrafa -- Deita aqui e fica barriga pra baixo! -- ordenou -- Dá lugar! -- deu um tapa no pé de Zinara -- Vai! -- apressou-a

 

--Ave Maria, eita pau... -- saiu da cama de quatro e se deitou no chão -- Cadê força, meu Pai? -- ficou estatelada no piso -- "Essa mulher é pior do que qualquer câncer...” -- pensava em estado de choque

 

--Vem! -- insistiu para a outra paciente

 

--Eu vou, né? -- Clarice deitou-se receosa -- "Eu nunca vi Zinara ficar prostrada desse jeito!” -- pensava com medo -- "Ai, meu Deus, tô com medo!”

 

--Vê pescoço! -- começou a pressionar o pescoço da outra

 

--AHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!! -- Clarice gritou de súbito -- Assim você... -- não conseguia completar a frase -- AHAHAHAHAH!!!!!

 

--Gente, que sex* animal! -- Cecília estava toda curiosa -- Nunca vi uma coisa dessas, meu Deus! -- continuava colada na porta

 

--Aguenta... firme... Sahar... -- falava em câmera lenta

 

--Pescoço, costas, ombro... -- Akemi massageava com fé -- Tudo contratura!

 

--AIAIAIAIAIAIAIAIAIAI!!!!!!!!!! -- gritava como doida

 

--Nossa, que minha irmã tá parecendo até aquela personagem de seriado! -- falava sozinha -- A comunidade é o terror! -- só pensava bobagens

 

--Estala coluna! -- quase dobrou a professora ao meio para destravar as vértebras

 

--AHAHAHAHAHAH!!!!!!!!! -- gritou

 

--CLARICEEEE!!!!!!!! -- Zinara gritou preocupada -- Tenha cuidado com ela, bint il-Homaar (filha de um burro)!! -- advertiu ao se sentar

 

--Duas moça muito medrosa, né? -- achava graça

 

--Ué? Eu tô ouvindo uma terceira voz?? -- Cecília arregalou os olhos

 

--Moça não tá tão mal. -- afirmou analisando -- Pescoço é pior! -- voltou a massagear o pescoço

 

--AIAIAIAIAI, AKEMIIII!!!!! -- Clarice gritou

 

--Devagar Akemi!!! -- a caipira pediu condoída

 

--Gente, e não é que tem outra?? -- Cecília afastou-se da porta -- Minha irmã fazendo um ménage! -- arregalou os olhos -- Nossa, que fofoca quente! -- preparou-se para ouvir novamente

 

Após mais alguns poucos minutos de massagem, Akemi encerrou o trabalho. Clarice estava abestalhada e Zinara morrendo de pena dela.

 

--Ih, será que acabou? -- Cecília perguntou-se curiosa -- Nossa, que foi o sex* mais animal da história desse país! -- concluiu -- Depois mamãe fala que eu que tenho fogo no rabo!

 

Clarice ficou estirada na cama e indicou à oriental onde estava o dinheiro que pagaria por seu trabalho. Tudo resolvido, a astrônoma acompanhou a mulher até a porta. Quando abriu deu de cara com a cunhada, que quase caiu dentro de casa. -- Uai? -- espantou-se -- Shoo sarlake? (O que acontece com você?)

 

Endireitou-se toda. -- Tive uma mudança de planos. -- respondeu sem entrar em detalhes -- Hum, então era você... -- reparou em Akemi de cima a baixo -- "Olhando pra baixinha ninguém dá nada...” -- pensou -- Cadê Clarice? -- perguntou desconfiada

 

--Estirada na cama. -- Akemi respondeu -- Tudo moça fraca! -- riu sozinha e foi embora

 

--Nossa... -- Cecília ficou pasma -- Estirada na cama, é? -- olhou desconfiada para Zinara

 

--Ah, mas se você soubesse como é a coisa... -- fechou a porta -- Quase não dou conta, não, viu, fi? -- comentou sem maldade -- Deixa eu ir lá ver Sahar. A pobre tá rendida! -- foi para o quarto

 

--Rendida, é...? -- perguntou desconfiada -- E eu que achava que sex* lésbico era coisa sem emoção... -- considerou admirada -- Quem diria que a comunidade GLS era tão liberal...? -- falava sozinha -- Clarice, hein? -- cruzou os braços -- Que diabinha... -- sorriu maldosa

 

***

 

--Você já vai pra Maurítia sem esperar o resultado dos exames? -- Jamila perguntou surpreendida -- Zinara, será possível que você nunca toma jeito? -- cruzou os braços contrariada -- AHHa!

 

--Eu já sei o resultado, Jamila. -- respondeu tranquilamente -- Pedi pra todos os laudos serem entregues diretamente pra doktuur e acho que ela vai ter uma surpresa. -- sorriu -- Eu tô tão bem, que nem insônia tenho mais!

 

“Como pode ter tanta certeza? Como é possível ter tanta fé?” -- pensou intrigada -- E Cláudia aceitou isso assim? -- perguntou curiosa

 

--Digamos que foi mais um momento em que minha vida correu perigo naquele consultório. -- brincou -- Mas eu expliquei pra ela que agosto começa nessa sexta e Hassan já anda doido pra se mudar pra roça! Não podemos deixar o bichinho esperando tanto! -- sorriu -- Ana mabsoutah (Estou feliz) e cheia de empolgação!

 

A advogada ficou observando admirada o rosto da astrônoma. -- Você é capaz de milagres, Zinara... -- afirmou pensativa -- Eu sou uma prova viva disso...

 

--Não eu, habibi. -- respondeu mansamente -- Allahu akbar! (Deus é grande!) E finalmente você percebeu isso. -- olhava para ela

 

--Não sei até que ponto, mas... -- passou a mão nos cabelos e não continuou a frase -- Tomara que você tenha se curado mesmo! -- desejou -- "Por favor, Meretíssima!” -- pediu mentalmente

 

--E quais são seus planos daqui por diante, Jamila? -- perguntou curiosa -- Deixou o asilo bom por demais da conta, abalou o país com seu dossiê, devolveu a fazenda pra camma Najla, uniu Paula e Grazi... -- citava os feitos da geógrafa -- Agora é hora de ganhar o mundo e impedir uma guerra! -- falava com um sorriso no rosto

 

Achou graça por lembrar de Paula e Graziela. -- Quisera eu impedir uma guerra... -- balançou a cabeça negando -- mas vou ficar por aqui mais algum tempo e depois viajo pra Godwetrust. Talvez em novembro, dezembro, não sei... -- considerava -- O que me segura aqui é dona Jandira. Ela tem evoluído e eu fico com pena de deixá-la.

 

Admirou-se ao ouvir aquilo. -- Fico muito feliz em ver o quanto você cresceu! -- afirmou com sinceridade -- Você chega e simplesmente muda a vida das pessoas! -- pausou brevemente -- Sempre pra melhor!

 

Jamila sorriu e ficou calada por uns segundos até que resolveu perguntar: -- E cadê Clarice nesse momento? -- desviou o olhar

 

--No shopping com a irmã. -- respondeu de pronto -- Elas querem conhecer tudo de Cidade Restinga! -- achou graça -- Acho que Cecília já esteve em todas as praias!

 

“Se fosse eu, jamais teria deixado minha namorada vir aqui de novo e sozinha.” -- pensou surpreendida -- E... quando que ela se muda pra cá? -- perguntou curiosa -- Ou será que é você que se muda pra São Sebastião?

 

--Laa acrif... (Eu não sei...) -- respondeu pensativa -- Ainda não sei como vai ser. -- não queria conversar intimidades com a ex -- Eu vou indo. -- levantou-se -- Só passei aqui pra te agradecer mais uma vez e dizer que vou pagar tudo que devo! -- olhava para a jovem -- Embora eu saiba que o que você fez por mim e usritii (minha família) não tem preço.

 

--Al’afw... (Não há porque agradecer...) -- levantou-se também -- Lessalik makan fe alby (Você ainda tem um lugar no meu coração), -- falava com carinho -- será minha amiga até o fim de meus dias. -- abriu os braços

 

Zinara novamente se surpreendeu. -- Até o fim! -- abraçaram-se

 

“Eu nunca pensei que um dia sentiria desse jeito, mas talvez seja verdade...” -- considerava -- "Por toda minha vida eu esperei ver um milagre e eis que Zinara volta pra casa, totalmente diferente e se dizendo curada!” -- romperam o abraço -- "Pode ser, eu não sei, não entendo mais nada...” -- apenas mirava o rosto da outra -- "Talvez ela tenha razão... A Meretíssima já me convenceu e talvez Allah seja mesmo grande...” -- sorriu sem dizer uma palavra

 

***

 

--Ah, os exames de Zinara. -- Cláudia encontrou os envelopes em cima de sua mesa no consultório -- Bicha doida, já se mandou pra Maurítia se sentindo curada! -- fez um bico e colocou a bolsa pendurada na parede -- Se bem que ela tá com uma aparência diferente mesmo... -- abriu um dos envelopes -- Mas daí a achar que tá curada... -- pegou o CD e colocou no computador -- Vamos ver isso aqui. -- abriu o envelopinho do laudo e começou a ler -- Como é?? -- ficou pasma -- Não pode ser!! -- arregalou os olhos e abriu os arquivos no computador -- Mas... -- analisava as imagens e não via os nódulos -- Ah... -- abriu todos os outros envelopes de uma vez só e leu os respectivos laudos -- Meu Deus!!! -- cobriu os lábios com as mãos -- Oh, meu Deus!! -- levantou-se da mesa desnorteada -- Milagre... -- não sabia o que pensar -- Milagre... -- riu emocionada -- AHAHAHAH!!! -- gritou extasiada -- Graças a Deus!! -- caiu de joelhos no chão -- Graças a Deus!!!

 

***

 

--Amina, -- a ex fazendeira chegava na cozinha -- Aisha acaba de me ligar e me deu uma notícia que me deixou preocupada. -- a cunhada olhou para ela -- Parece que Zinara e Clarice foram buscar Hassan e a mãe. -- parou perto da outra -- É claro que eu acho isso maravilhoso, mas será que Zinara podia ficar viajando assim, hein? Afinal de contas ela ainda tá... -- não sabia como dizer

 

--Cê besta, muié, tá nada! -- deu-lhe um tapa no braço -- Mãe Agda mi falô onti qui já tava tudu resorvidu cum minha minina e eu passei a noiti matutandu, matutandu nu qui ela falô e mi atinei qui divia di sê uma coisa só: -- gesticulou -- a cura di minha minina! -- afirmou convicta

 

Ficou surpresa com a conclusão. -- Mas... será isso mesmo? -- perguntou com jeito -- Não que eu não queira que ela se cure, mas é tão difícil...

 

--Muié, -- parou de frente para a cunhada -- inté ya Leda me contô qui achô minha minina cum jeitu diferenti! -- falava empolgada -- Dissi qui nóis vai ficá besta quandu ela chegá!

 

Ficou pensando na possibilidade. -- Ai, Amina, será? -- pôs a mão sobre o peito -- Nossa, mas seria a melhor notícia da minha vida! -- sorriu

 

--Da vida di nóis tudu! -- concordou -- Ya Leda e o netu vão chegá amanhã. -- comunicou -- Vô perguntá a ela na tua frenti pra ocê oví ela falandu di Zinara!

 

Ouviram o som do telefone tocando.

 

--Devi di sê Nagibe pra falá dus móvi qui mandei eli vê modi sirví pra Georgina e meu netu na casa nova. -- deduziu -- Raed e Cid já terminaru di cunsertá tudu e a casinha tá nus trinqui! -- sorriu -- Antis di Ahmed sumí daqui eli cunsertô o teiadu, deu um jeitu nas paredi e mudô as janela tudu.

 

--Georgina e Hassan vão viver muito bem aqui, se Deus quiser! -- desejou -- A casinha geminada é uma graça, fica pertinho de nós e eles podem ter privacidade sem problemas! -- balançava a cabeça -- Mas, falando de Ahmed... -- pensava no sobrinho -- não acha que é hora dessa pendenga entre vocês acabar?

 

--Amina!!! -- Raed chamou emocionado -- Najla!!! -- chamou pela irmã -- Corri, muié, qui ocês num sabi di nada! -- anunciou

 

--Uai? -- as mulheres se entreolharam e correram para a sala -- Quê qui hovi, homi? -- perguntou nervosamente -- Pur que ocê tá chorandu?

 

--Fala cum ela qui eu num intendu mais nada... -- estendeu o telefone para a irmã, que o recebeu -- Muié, acunticeu um milagri... -- olhou para a esposa com os olhos marejados

 

--Alô? -- Najla atendeu com o coração acelerado -- Quem tá falando? O que aconteceu? -- olhava para Raed e Amina que se ajoelharam no chão com o rosto banhado em lágrimas

 

--Alô, é a dona Najla? -- perguntou -- Aqui é Cláudia, médica de Zinara. -- identificou-se -- Tudo bem?

 

Percebeu a emoção na voz da médica. -- Oi, doutora, como vai? Comigo tá tudo bem. -- sentia o corpo tremer -- O que foi que disse a meu irmão que tá todo mundo comovido nessa casa? -- desejava ouvir a notícia mais aguardada

 

--Eu comecei a explicar pro seu Raed que... Ave Maria, eu nem sei como dizer, mas... -- controlava a própria emoção -- Eu li e reli todos os laudos referentes aos exames que Zinara fez. -- contava -- E também examinei todas as imagens da ressonância magnética... -- pausou brevemente -- As conclusões de tudo isso se resumem numa coisa só: -- preparou-se para dizer -- Zinara curou!

 

--Choo?? (O que??) -- jogou-se de joelhos no chão -- Smallah! -- exclamou admirada -- Oh, doutora, por favor, o que é que eu tô ouvindo? -- seus olhos marejaram -- Ela curou?? -- mal se aguentava de felicidade

 

--Eu ti falei, muié, eu ti falei! -- Amina chorava de alegria -- Deus e a Virgi curaru minha minina! -- postou as mãos em reverência -- Allahu akbar!! (Deus é grande!!) -- gritou

 

--Akbar, akbar!! -- Najla e Raed repetiram ao mesmo tempo -- Ai, eu não consigo dizer mais nada... -- começou a chorar intensamente -- Ai, meu Deus...

 

--Comemorem! Comemorem muito! -- Cláudia respondeu com os olhos marejados -- Eu não sei explicar como pôde ser isso, mas... não importa. O que interessa é que ela se curou! -- pausou brevemente -- Zinara é uma vencedora! Ela, Clarice e a família inteira!

 

Najla não conseguia responder. Apenas chorava e balançava a cabeça concordando.

 

--Fiquem bem. Depois a gente se fala melhor. -- respirou fundo -- Tchau! -- desligou

 

Najla, Amina e Raed se aproximaram mais e de mãos dadas, ainda ajoelhados, agradeceram a Deus pelo maior presente que poderiam ter recebido: a chance de recomeçar. Sentiam que não somente Zinara estava renascendo e despontando para uma vida nova, mas eles mesmos percebiam-se como beneficiários do milagre que parecia ter mudado o destino da família inteira. Sabiam que era o momento de começar a escrever uma história bem diferente. Uma história leve, bonita e feliz.

 

***

 

 

Georgina sentia-se a mulher mais bem aventurada do mundo. No dia anterior, havia sido surpreendida pela médica que lhe falou que o vírus da AIDS parecia ter sido derrotado pelos remédios que começara a tomar. E o mais incrível de tudo é que as drogas fizeram efeito em um tempo tão curto que deixaram toda a equipe do hospital estarrecida, além do que, não havia qualquer caso de cura anterior ao dela.

 

“Comu qui Deus e a Virgi foru bão cumigu...” -- pensava agradecida -- "Agora quem sabi vô pudê vê meu mininu crescê e virá dotô!” -- olhava para o filho

 

Os dois aguardavam ansiosamente pela chegada de Zinara e Clarice, o que em si já era outro motivo de felicidade. Uma vida nova se descortinava diante deles e, para Georgina, parecia que de repente o mundo lhe sorria como nunca havia feito.

 

“Espia comu essi mininu tá qui num si aguenta!” -- achava graça -- "Vai sê bão pra nóis morá na roça! Tenhu fé!” -- não se dava mais espaço para receios e angústias

 

--Maínha, são elas!! -- reconheceu as mulheres que surgiram no começo da rua -- É camma Zinara, espia só!! -- abriu o portão e saiu correndo para recebê-las -- camma!! -- acenou para ela -- Ói eu! -- corria e pulava

 

Georgina parou no portão e não se moveu. Ficou apenas admirando a alegria do filho com seus olhos esperançosos e guardando dentro de si a memória daquelas cenas simples e emocionantes que certamente comporiam capítulos de suas lembranças mais queridas.

 

--Hassan!! -- sorriu animada -- Corre aqui, menino! -- olhou para a namorada -- Você vai ficar chateada se eu sair correndo? -- perguntou que nem criança

 

--Ai, ai... -- Clarice achou engraçadinho -- Claro que não, amor!

 

--Então lá vou eu! -- abriu os braços e começou a correr em direção ao garoto -- Hassan! -- chamava pelo sobrinho

 

--camma Zinara!! -- continuava correndo

 

--Essi mininu sofreu tantu na vida... -- pensava no passado -- Meu mininu...

 

https://www.youtube.com/watch?v=KsqAfD4BkwA

 

“Parecia um filme, Kitaabii, mas lá estávamos nós. Que reencontro maravilhoso, que momento bonito! Corríamos em direção um ao outro com um sorriso nos lábios, coração acelerado e olhos marejados. Eu era capaz de ouvir em minha mente a música certa para aquele momento.

 

Hassan, o menino pobre, sofrido e batalhador, que se preparava para uma nova vida, cheia de sonhos e esperanças. Um sobrevivente, assim como todos nós de usritina (nossa família)...”

 

“Já podaram seus momentos,


Desviaram seu destino,


Seu sorriso de menino,


Quantas vezes se escondeu...”

 

--Agora vai sê diferenti, meu fio... -- Georgina falava consigo mesma -- Ocê vai tê uma vida boa...

 

“Mas renova-se a esperança,

Nova aurora a cada dia,

E há que se cuidar do broto,

Pra que a vida nos dê,

Flor,

Flor eee

Fruto...”

 

“Toda criança é como uma semente, Kitaabii. É preciso dar a ela um solo fértil para que floresça em seu esplendor máximo.”

 

Zinara e Hassan abraçaram-se emocionados no meio da rua.

 

“Coração de estudante,

Há que se cuidar da vida,

Há que se cuidar do mundo...”

 

--Eu sou mesmo uma manteiga derretida... -- Clarice continuava caminhando -- Sempre me emociono... -- secava as lágrimas

 

“Tomar conta da amizade...”

 

--Habibi, quantas saudades... -- segurou o rosto do sobrinho -- Fico tão feliz em revê-lo! -- sorria

 

“Alegria e muito sonho,

Espalhados no caminho...”

 

--Eu sonhei tanto com esse dia... -- confessou emocionado

 

“Verdes, planta e sentimento...”

 

--Agora é hora do sonho virar realidade, ya gamil (seu lindo)! -- beijou a cabeça dele

 

“Folhas, coração,

Juventude e fé...”

Milton Nascimento – Coração de Estudante [a]

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Músicas do Capítulo:

 

[a] Coração de Estudante. Intérprete: Milton Nascimento. Compositores: Milton Nascimento / Wagner Tiso. In: Ao Vivo Álbum de Milton Nascimento. Intérprete: Milton Nascimento. BMG/Ariola, 1983. 1 disco vinil, lado A, faixa 1 (3min57)

 


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 31 - ANA A ' AYESH (EU ESTOU VIVA):
PaudaFome
PaudaFome

Em: 06/06/2024

Haja coração que história linda! Estou amando o link constante que existe entre ela e sob o encanto de Maia notei o link até com CONVIDE mesmo ali sendo mais sutil. O ponto alto da parte louca foi o 13 a 0! Kkkkkk


Solitudine

Solitudine Em: 14/06/2024 Autora da história
Ah, você está percebendo, que maravilha!!!

Uai, 0 13 a 0 foi a seleção! kkkk

Beijos,
Sol


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Samirao
Samirao

Em: 11/10/2023

Tô ficando véia e sensível habibem? Huahuahua 


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Na verdade, está deixando de se fazer de durona! rs


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Samirao
Samirao

Em: 11/10/2023

O final desse CAPS me deixa tão tão...


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Feliz!!!!!!


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Femines666
Femines666

Em: 17/03/2023

Essa história é o máximo! Não dá vontade de parar de ler e a gente fica sem saber o que comentar! Tanta coisa legal divertida e emocionante acontece! E as aulas? Muito show!


Solitudine

Solitudine Em: 19/03/2023 Autora da história
Que bom que você está tão empolgada! Feliz em saber!
Beijos,
Sol


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Seyyed
Seyyed

Em: 24/09/2022

Deixei pra falar separado que porra de jogo foi aquele??? Ri muuuito A solução da Zi pra despachar Adamastor... que foi aquilo?? Hahaha Também me acabei de rir com a massagem e Cecília pensando putaria!


Resposta do autor:

O jogo com a Germânia? Fazer o que, né? O trem foi complicado! rs

Zinara tinha uma arma secreta chamada Cecília e usou! kkkk

Cecília só pensa bestagem. Aí ouve um trem e entende outro! rs Vamos ver no que isso vai dar!

Beijos,

Sol

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Seyyed
Seyyed

Em: 24/09/2022

Sabe que esse capítulo...puta merda é cada um melhor que o outro! Zi e Clarice só nos reencontro. Eu não disse? Haja busa! Haha Leda mandou uma enquadrada que puta merda! Bem feito! E os casais só na sacanagem Cátia e Lídia ou então querendo sacanagem Grazi e Paula. Enquanto isso Najla e Marco rompendo a sacanagem. Coitada! E Amed ainda faz pirraça? Paiaçada 

O grande final!!@ LINDOOOOOOO


Resposta do autor:

Fico felicíssima de você sempre achar que é cada um melhor que o outro! rs

Ya Leda enquadra as filhas sempre que necessário. Tipo a maama de Zinara. Certíssimas! rs

kkkk Você me diverte, garota!

Ahmed ficou magoado com a surra que levou, mas ele está aprendendo.

Obrigada por gostar do início ao fim! rs

Beijos,

Sol

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Samirao
Samirao

Em: 22/09/2022

Cadê você amore?


Resposta do autor:

Ói eu! rs

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Luciana T
Luciana T

Em: 26/07/2021

Sem sombra de dúvidas essa é uma das estórias mais emocionante que eu já li. Sua escrita é perfeita!!!

Parabéns!! 

Beijos


Resposta do autor:

Boa tarde, tudo bem? 

Agradeço pela gentileza de suas palavras. Fico feliz!

Se quiser ler Sob o Encanto de Maya e CONVIDE-0 também vou adorar. Peço que depois me diga o que achou, por favor. 

Beijos,

Sol

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Gabi2020
Gabi2020

Em: 22/05/2020

Olá Sol! Tudo certo?

 

Zinara e Clarice tirando o atraso... Kkkkkk... Quer dizer matando as saudades... Sabe que me identifico, já perdi alguns almoços... Kkkkkkk...

 "Clarice e Zinara tão fazendo mais hora de cama que urubu de vôo, isso sim!” Kkkkkk...

Dona Leda é uma figuraça, ô velhinha ligeira!

 

Maldade hein? 13x0... Eu hein? Kkkkkkkk...Lembro bem desse dia, minha mãe tava em São Sebastião e eu em casa sozinha, eu só ria, tipo começou o jogo fui beber água já tava 1x0 pra Germânia.

 

Raquel deu o grito de liberdade, demorou, mas acordou!

 

“--Homem? -- Cecília deu um salto da cadeira -- Solteiro? -- ajeitou a roupa -- Cabra da peste? -- arrumou os cabelos -- Ui!” .... Kkkkkkkkkkkkkkkkkk.... Essa Cecília...

 

Zinara voltou com uma energia!! Apesar de tudo, Clarice é insegura ainda e para piorar toda vez que surge o assunto do futuro delas, acontece algo.

Cecília sua curiosa! Kkkkkkkkk.... Já pensou besteira.

Akemi forte né? Kkkkkkk...

 

É Claudia milagres existem, e como existem!

 

 Beijossss

 

 


Resposta do autor:

Gabinha!!!

"(...) já perdi alguns almoços..." Mas é uma diabinha! kkkk

Esse jogo suspeito ficará para a história de Terra de Santa Cruz!

Clarice é insegura e está numa fase meio ladyana doida para casar. Zinara tem que pôr ordem na vida e também tem suas inseguranças. Se faltar diálogo...

Gabinha, creia que essa fisioterapeuta tem a força de um touro!!

"É Claudia milagres existem, e como existem!" Acho que minha vida é prova disso.

Beijos,

Sol

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web