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EM BUSCA DO TAO por Solitudine

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Palavras: 16860
Acessos: 10632   |  Postado em: 18/01/2018

Notas iniciais:

De uma forma ou de outra, toda pessoa é capaz de amanhecer...

SAHAR (AMANHECER)

 

CAPÍTULO 112 – Angústia

 

--Calma, menina, não chore assim, não! -- Leda tentava consolar a filha -- "Ô, meu Pai, ajuda a acalmar essa criatura, por piedade!” -- embalava a professora como se fosse um bebê -- "Ajuda minha menina...” -- orava mentalmente

 

--Essa Zinara, hein? Vou te contar! -- Cecília criticava -- Chega aqui, se instala, come, bebe, dorme e vai embora sem nem dizer tchau cachorras! -- gesticulava -- Que papelão!

 

--Pior que ela só teu ex, que foi embora e ainda te roubou, né? -- Raquel comentou criticando também -- Graças a Deus que não sei o que é isso! -- fez um gesto -- Getúlio pode ter todos os defeitos, mas não me larga nem por um decreto!

 

--Será que vocês duas podiam parar com essa conversa fiada? -- Leda ralhou com seriedade -- Não tão vendo o estado de Clarice? Ela por acaso ficou jogando na cara das duas os dissabores de vocês?

 

Raquel e Cecília se entreolharam e ficaram caladas.

 

--Ai, mamãe, eu tô tão angustiada... -- a paleoceanógrafa chorava -- Zinara vai morrer sozinha e sabe-se lá onde!

 

--Foi uma decisão dela, minha filha. -- respondeu mansamente -- O jeito que ela escolheu pra lidar com a própria morte... -- acariciava a cabeça da outra -- O que você poderia fazer? Nada!

 

--Pronde que eu vou quando tiver pra morrer, hein? -- Cecília pensou em voz alta -- Acho que vou pra alguma festa louca e cheia de homens... -- decidiu

 

--Essa Zinara é doida, isso sim. -- Raquel resmungou em voz baixa -- Onde já se viu! Pegar avião pra morrer à distância! -- fez um bico discreto

 

--Bom dia, todo mundo! -- Deodoro apareceu na sala sorridente -- Ué? -- desmanchou o sorriso -- Por que minha tia tá chorando? -- perguntou preocupado

 

--Saudades da coleguinha dela, meu bem. -- Raquel foi para junto do filho -- Tia Zinara foi embora e ela ficou assim. -- segurou a mão dele -- Mas daqui a pouco passa. -- tentava disfarçar -- Vamos tomar café? Vem com a mamãe. -- encaminhou-se para a cozinha -- Vem. -- foram andando

 

--Chora não, tia! -- olhava para Clarice enquanto andava -- Tia Zinara volta! -- falou cheio de convicção -- Deve ter ido brincar naquele parque mais longe! -- concluiu

 

--Criança é tão inocente, né? -- Cecília comentou -- O menino nem imagina que Zinara já era! -- balançou a cabeça com pesar -- Vai morrer por aí e a gente nem vai no enterro!

 

--Ahahahahah!! -- Clarice gem*u alto e chorando

 

--Cecília, vai fazer um chá de camomila, vai? -- Leda ordenou de cara feia -- Aqui você não tá ajudando! -- olhava para ela -- Aproveita e lava aquela louça suja que você deixou na pia, pra variar.

 

--Tudo eu... -- obedeceu de cara feia

 

--Calma, Clarice, pelo amor de Deus! -- continuava consolando -- Eu não gosto de ver minhas filhas sofrendo, isso acaba comigo! -- beijou a cabeça dela -- Pense que talvez tenha sido melhor assim... Você iria sofrer muito vendo Zinara definhar num hospital...

 

--Eu não sei, mamãe. -- desvencilhou-se da idosa devagar e se sentou -- Ficar aqui sem notícias é uma angústia absurda pra mim... -- limpou o nariz com um lenço de papel -- Mas também não posso ficar chorando o dia todo...

 

--Até porque chorar desse jeito dá dor de cabeça, rugas e o nariz fica numa catarreira doida! -- concordou

 

Acabou achando graça. -- Ai, mamãe, só a senhora... -- sorriu com tristeza e suspirou -- Mas eu tenho que agir... -- levantou-se -- Tenho que agir! -- foi até o telefone

 

--Vai fazer o que?! -- perguntou curiosa -- Avisar Amina e fazer a mulher se estrebuchar lá na roça?

 

--A família tem que saber, mamãe. -- discou o número -- Tem uma lista de pessoas pra quem vou ligar hoje! -- ficou esperando atender -- Todo mundo tem que saber disso pra que a gente possa fazer a única coisa que dá: rezar!

 

--Avisa com cuidado, menina! -- aconselhou ao se levantar -- É melhor você falar com Najla primeiro!

 

--Vamos ver quem vai me atender. -- respondeu com tristeza

 

--Alô! -- Raed atendeu

 

--Bom dia, seu Raed. -- cumprimentou receosa -- É Clarice, tudo bem com o senhor?

 

--Tudu bão e ocêis? -- respondeu desconfiado -- E minha fia?

 

Não sabia o que dizer. -- Todo mundo bem... -- pausou brevemente -- Será que... eu poderia falar com a dona Najla? -- pediu cheia de tato

 

“Uai? Pur que será?” -- ficou ainda mais intrigado -- Najla! -- chamou -- Clarice qué falá cocê! -- anunciou -- Corri, muié!

 

--Clarice quer falar comigo?! -- olhou surpreendida para Amina

 

--Corre, muié, vamu sabê du qui si trata! -- as duas foram rapidamente para a sala

 

--Cadê? -- a ex fazendeira pedia o telefone

 

--Raed, vá cuidá du armoçu! -- Amina ordenou enquanto o marido passou o telefone para a irmã -- Tem quatru panela nu fogu!

 

--AHHa! -- cruzou os braços contrariado -- Mais eu também queru ficá aqui modi sabê du qui hôvi!

 

--Alô, Clarice! -- Najla respondeu -- Aconteceu alguma coisa com Zinara? -- sentiu o coração acelerar -- Confesso que hoje acordei meio tensa!

 

--Ela tá bem e não teve qualquer recaída enquanto esteve aqui... -- afirmou mansamente

 

Alarmou-se. -- Enquanto esteve aí?? -- pôs a mão no peito -- Pra onde ela foi?

 

--Pra ondi ela foi?? -- Amina colou o ouvido no telefone

 

--Ela foi prôtru cantu? -- Raed colou na irmã também

 

--Ela foi embora hoje cedo e... -- calou-se para conter a vontade de chorar

 

--Fala, Clarice, pelo amor de Deus! -- Najla pediu com os olhos marejados

 

--Fala, minina! -- Amina pediu aflita -- Dá uma gastura qui chega dói! -- sentia uma angústia no peito

 

--Fala! -- Raed pediu também -- Ô, pistinga dus infernu! -- o coração batia nervosamente

 

--Ela me deixou uma carta de despedida e eu entendi que... -- respirou fundo e voltou a chorar -- Ela foi pra... -- soluçou

 

“Meu Deus, se eu fosse Najla ou Amina já tava maluca e xingando tudo que é nome!” -- Leda pensou com a mão sobre o peito -- Desembucha, menina! -- falou impaciente

 

--Mamãe, pra onde a tia Zinara foi? -- Deodoro perguntou enquanto comia -- Por que ela não me disse tchau? -- queria entender

 

--Coisas de gente grande, meu bem. -- mentia -- Mas um dia ela volta. -- sorriu para ele

 

--Sapatona ingrata... -- Cecília resmungou enquanto esperava a água ferver -- Sapatona e homem é tudo igual! -- fez cara feia -- Vale nada!

 

--LAA!!!! (NÃO!!!) -- Najla gritou agoniada -- Eu não acredito que Zinara tenha feito isso, Clarice! -- chorava -- Não pode ser, não pode!! -- soluçou -- Não pode...

 

--Mais comu qui ela cunsiguiu dinhêru pra pagá avião, si eu num dei? -- Raed perguntava choroso -- Clarice tá inganada! -- não queria aceitar -- Zinara num podi tê idu pra tão longi! Ela num ia fazê issu cum nóis! -- andava sem rumo certo pela sala -- Ela tá vindu pra cá, ô intão pra Maurítia modi trazê Hassan! -- falava como se estivesse louco -- Ela vem, ela vem...

 

--Oh, Aba, ya sheen theek izziwaya? (Oh, Meu Pai, o que será de mim?) -- Amina caiu de joelho no chão -- Oh, Aba... -- chorava -- Bintii... (Minha filha...) Bintii... -- cobriu o rosto com as mãos

 

***

 

--Eu não acredito que Zinara tenha feito isso, mamii!! -- Aisha exclamou agoniada -- Não é possível, não pode ser! -- passou a mão pelos cabelos -- Pelo amor de Deus, mamii, diz pra mim que isso é mentira! -- pediu nervosa

 

--Quisera fosse, bintii (minha filha)! Você não queira saber como estão as coisas aqui! -- respondeu tristemente -- Amina tá inconsolável, Raed ficou fora de órbita, Nagibe passou mal, Cid deu uma crise de choro e até Ahmed ficou nervoso! -- contava -- Daqui a pouco as crianças vão entender o que tá acontecendo e é aí que o desespero vai ser completo!

 

--Meu Deus... -- fechou os olhos e derramou uma lágrima -- Eu vou falar com Janaína e... -- pausou brevemente -- Falar com Marco...

 

--Eu já falei com ele, habibi. -- interrompeu-a -- Você nunca que atendia o telefone e eu precisava falar com alguém... -- suspirou -- Ai, Aisha, eu tô me sentindo tão mal...

 

--Mamii, eu não sei o que fazer... -- lutava para conter o choro -- Eu não sei...

 

--Não há o que fazer, Aisha! -- respondeu de pronto -- Só rezar...

 

--Vocês já falaram sobre isso lá no centro da Agda? -- perguntou -- Vai que ela ajuda de alguma forma?

 

--Vamos lá amanhã à noite, porque vai ter sessão. -- respondeu com os olhos marejados -- Eu também não sei o que fazer, mas queria um pouco de conforto... É uma agonia que chega dói!

 

--Vou falar com Janaína e a gente vai praí no final de semana. -- derramou mais uma lágrima -- Não vamos ajudar em nada, mas pelo menos a família fica junta!

 

Derramou uma lágrima também. -- Vem, habibi! -- pediu -- Sua mamii precisa de você! -- falou como criança

 

--Engraçado, sabe... -- passou a mão sobre os olhos -- Aquela caipira safada fez de tudo pra ver a família junta... -- sorriu tristemente -- E ela consegue nos unir mesmo estando longe...

 

***

 

--Alô?

 

--Bernadete, mulher, você não sabe o que aconteceu com Zinara! -- Werneck foi logo falando -- Eu tô a ponto de me danar de aperreio!

 

--Ave Maria, homem, que foi?? -- arregalou os olhos -- O que houve com ela??

 

--A professora Clarice, lá da Federal de São Sebastião, acaba de me ligar! -- contava -- Zinara tava passando dias na casa dela e foi-se embora!

 

--Foi-se embora?? -- não entendeu -- Mas se a casa não era dela, naturalmente deveria ir-se embora em algum momento! -- deduziu

 

--Mulher, ela foi embora do país!!! -- afirmou nervosamente -- Sumiu, escafedeu-se com uma peste de uma mochila nas costas e um câncer no bucho!

 

--Ave Maria!! -- preocupou-se -- E pra onde que ela foi??

 

***

 

--Entra, Claudia. -- Jamila convidou receosa -- Senta, min fadlik (por favor). -- apontou a cadeira

 

--Obrigada. -- sentou-se

 

Examinava o rosto da outra. -- Confesso que quando a secretária te anunciou, eu fiquei aperreada e agora te vendo assim... -- comentou preocupada -- Que cara é essa? Não me diga que Zinara... -- cobriu os lábios com uma das mãos

 

--Ainda não! -- interrompeu a outra -- Ela ainda não morreu, mas fez uma coisa terrível! -- passou a mão nos cabelos -- Ah, que me dá até uma vontade de enforcar aquela bicha!! -- gesticulou nervosamente

 

--O que ela fez?? -- sentiu o coração acelerar -- Diz logo, mulher, não me deixa nessa tensão! -- pediu aflita

 

--Ela tava na casa de Clarice e... -- os olhos marejaram -- deu a louca e foi embora! -- levantou-se -- Saiu do país e só deixou uma carta pra contar a história! -- esfregou as mãos no rosto

 

--CHOO?? (O QUE??) -- arregalou os olhos

 

--Eu fiquei até com dor de cabeça depois que Clarice me ligou ontem! Que estresse da porr*! -- passou as mãos nos cabelos -- Fui atrás de dona Ritinha e dona Zezé pra avisar e que merd*... Tive que levar dona Zezé pro hospital, porque a pressão foi pras alturas! -- Jamila se assustou -- Ainda bem que dona Ritinha botou o sobrinho pra ajudar e Adamastor tá de olho nela. -- suspirou -- Quando sair daqui passo lá pra ver como que tá a situação.

 

--E a irmã dela morreu do coração de repente. -- comentou -- Eu já tava separada de Zinara mas lembro quando aconteceu... -- ainda se sentia abobalhada com a notícia -- Mas, você tem certeza que ela saiu do país? -- não queria aceitar -- Pode ter ido pra roça ou buscado alguma montanha maluca dessas pra escalar... -- sorriu nervosamente

 

--Jamila, acorda! -- respondeu impaciente -- Zinara saiu daqui pra morrer!

 

A advogada ficou sem palavras.

 

--Quando avisei à Grazi ela quase surtou... -- circulou pela sala da outra -- Queria que você avisasse pra moça daquele asilo onde ela ia. -- pediu gesticulando -- Tem que ter gente rezando pra ver se Zinara cria juízo e volta pra casa!

 

--Isso não pode estar acontecendo! -- seus olhos marejaram -- Não pode...

 

--Como eu queria que não estivesse! -- derramou duas lágrimas -- Minhas duas melhores amigas... Valentina e Zinara... -- lutava para não chorar -- Uma me incentivou a correr atrás do meu sonho e fazer medicina, a outra me impediu de cometer uma loucura... -- cruzou os braços -- As duas mortas... -- soluçou

 

--NÃO DIZ ISSO!! -- gritou -- ELA NÃO TÁ MORTA!!

 

--E COMO É QUE VOCÊ ACHA QUE ELA VAI VIVER NAQUELA TERRA??? -- gritou em resposta -- SOZINHA, DOENTE E SEM RECURSO NENHUM?? -- fechou os olhos e começou a chorar

 

--Laa... (Não...) -- sentia-se perdida -- Não pode ser, não pode... -- chorava também -- Pra onde ela foi?? De repente não é nada disso e...

 

--Você não consegue imaginar pra onde ela foi, Jamila? -- interrompeu-a

 

A advogada não respondeu. Sabia a resposta e o desespero tomou conta de seu coração.

 

“Por favor, Meretíssima!” -- pediu mentalmente -- "Por favor!!! Faça com que ela volte, eu Lhe imploro...” -- soluçou

 

 

CAPÍTULO 113 – Guerra e Paz

 

--Adorei que você pudesse ter se encontrado comigo! -- exclamou sorrindo -- Queria muito mesmo te ver. -- bebeu um gole de suco

 

--Eu desmarcaria qualquer compromisso pra te ver, Cátia! -- respondeu animada -- Também tava com saudades. -- sorriu

 

--Você é uma gracinha, Lídia... -- fez um carinho breve em uma das mãos dela -- Agora me conte as novidades! O que tem feito de bom? -- perguntou interessada

 

--Ah, eu tenho estudado muito e a professora de saxão falou que sou a melhor aluna da turma! -- respondeu que nem criança -- Sabia que nunca tirei nota baixa na faculdade?

 

--Hum, tô orgulhosa! -- piscou para ela -- Tinha certeza de que você não teria um desempenho diferente disso. -- debruçou-se sobre a mesa -- Você é uma guerreira e uma menina muito determinada!

 

Corou e abaixou a cabeça. -- Nossa... -- mordeu o lábio inferior -- Vindo de você, é mais que um elogio!

 

“Ela é um amorzinho...” -- pensou com ternura -- E no mais, o que tem feito além da batalha? -- brincou

 

--Nada de mais... -- olhou para a loura -- Só meus programas simples com mamãe, com minhas amigas... também vou na praia sempre que posso.

 

“Como pode uma menina dessas não ter namorada?” -- pensou sem entender -- Porque você não tá namorando? -- notou o constrangimento da outra e se arrependeu pela pergunta -- Desculpa, querida, não é da minha conta. -- ficou sem graça -- Perguntei porque... -- ajeitou-se na cadeira -- "E por que eu perguntei?” -- não sabia o que dizer

 

--Não fiquei chateada, é que eu sou boba mesmo... -- sorriu encabulada -- Eu não tô namorando porque... -- brincava com o canudo -- não tem ninguém que me interesse no meu círculo de pessoas conhecidas na cidade.

 

--Ah, mas vai aparecer alguém legal e que te encante. -- afirmou de pronto -- Alguém que te mereça e te faça bem. -- bebeu mais um gole -- Sei que vai. -- sorriu

 

Não sabia o que dizer. -- E você? Conte suas novidades. -- pediu

 

--Como você sabe, o congresso começa amanhã e eu vou ficar na cidade até domingo que vem. -- contava

 

--A gente podia se ver mais vezes nesse período, se você quiser... -- propôs timidamente

 

--Eu quero! -- respondeu de pronto -- "Onde que eu vou perder a chance de ficar perto de mulher bonita?” -- pensou empolgada

 

--Mas, desculpa, eu te interrompi.

 

--Tranquilo. -- fez um gesto despreocupado -- Em relação ao dia a dia, tenho trabalhado muito, tô pensando em passar um ano fora fazendo um pós doc, mas ainda não decidi onde... -- gesticulava -- Também tô vendo a burocracia referente ao meu afastamento do país, tenho pensado a quem delegar algumas atribuições minhas durante minha ausência e por aí vai... -- passou a mão nos cabelos -- Continuo engajada com questões de geopolítica e... -- não sabia mais o que dizer -- É isso!

 

--E você... -- bebeu um gole do refrigerante -- não tá namorando? -- perguntou sem olhar para a loura

 

--Não. -- ficou olhando para a jovem em silêncio até que decidiu falar -- Eu não vou mentir pra você, meu bem. -- respirou fundo -- Minha vida amorosa tava uma bagunça, sabe? Eu saía com várias mulheres, obviamente não era fiel, mentia pra cacete... -- confessou -- Na primeira vez que a gente saiu, você e eu... -- pensava em como dizer -- você deve lembrar que eu fiquei num vai e vem, toda hora no celular...

 

--Porque a Presidenta ligava pra você e mais um monte de gente importante! -- exclamou orgulhosa -- Eu lembro!

 

--Era tudo mentira! -- admitiu olhando nos olhos da outra -- Na verdade eu vivia um relacionamento meio inconstante com uma pessoa e aconteceu que ela tava no mesmo bar que a gente. -- não conseguiu decifrar o que Lídia sentiu ao ouvir -- Eu ficava indo e vindo pra me alternar entre a nossa mesa e a mesa dela com os colegas. -- pausou brevemente -- Eu tava interessada em você... -- abaixou a cabeça -- pra te levar pra cama e só. -- pausou brevemente -- Mas conforme a gente foi conversando, percebi uma pessoa tão bonita, verdadeira, pura... fiquei me sentindo uma canalha e mudei de atitude.

 

--Por isso resolveu me ajudar? -- queria entender

 

--Resolvi te ajudar pela razão que te falei naquela noite: -- olhou novamente para a moça -- porque você me lembrou a mim mesma! A jovem e sonhadora Cátia, que não existe mais! -- pausou brevemente -- E juro que não há quaisquer segundas intenções na minha atitude! -- falou com verdade

 

--Nunca pensei isso. -- garantiu

 

--Depois me envolvi com outras mulheres, -- continuava confessando -- sem compromisso, apenas pra curtir... -- bebeu o último gole do suco -- Aí acabei vivendo um relacionamento duplo por um tempo... Eu e mais duas mulheres, quero dizer. -- explicou-se -- Até que as duas acabaram se envolvendo e me deram um pé. -- acabou rindo -- Foi meio ridículo, sabe? Esdrúxulo, eu diria. -- olhava para as próprias mãos -- Agora elas vão casar...

 

--Nossa! -- espantou-se

 

--Eu acabei me sentindo um lixo, por uma série de razões e... uma grande amiga me aconselhou a mudar de vida e procurar ajuda. -- pensava em Clarice -- E hoje tô fazendo terapia e buscando levar uma vida mais regrada...

 

--Tem conseguido? -- perguntou interessada

 

--Até que tenho, mas não é mole! -- desabafou -- E é uma merd*, porque agora tem aparecido tanta garota da faculdade querendo pular na minha cama, que eu fico doida!

 

--Como se isso não fizesse parte da sua rotina... -- sorriu e desviou o olhar -- Aposto que sempre foi assim!

 

--Não, nunca foi! -- respondeu de pronto -- Eu é que cismava com alguém e esperava o momento certo pra investir. A iniciativa era minha em 99% das vezes. -- cruzou as pernas -- Agora tá diferente, porque fico no meu canto e elas vêm!

 

--Nada que me surpreenda... -- mexia no guardanapo

 

--Não ficou escandalizada com o que te contei? -- prestava atenção nas reações dela -- Zangada, decepcionada, revoltada...?

 

--Na verdade, não. -- pausou brevemente -- Confesso que não gostei de saber que mentiu pra mim naquela noite, mas... não fiquei zangada, decepcionada ou seja lá o que for. -- segurou uma das mãos da loura -- Gostei que tivesse me contado a verdade agora. -- olhava para ela

 

--Quero que tenha noção do tipo de pessoa que eu sou. -- olhava nos olhos

 

--Continuo te admirando da mesma forma.

 

--Linda... -- beijou a mão dela -- Eu te acho uma pessoa tão especial, Lídia... -- percebeu que ela corou -- "Pare com isso, Cátia! Você não a convidou pra sair pensando em seduzi-la!” -- repreendeu-se mentalmente -- É melhor eu te levar pra casa porque já é noite alta e amanhã é dia de estudo pra você. -- olhou para o relógio e se recompôs -- E amanhã começa o congresso. É sempre aquela loucura, né? -- sorriu -- Vou pedir a conta! -- acenou para o garçom

 

--É... -- concordou encabulada -- Lembro bem dessa correria de congresso...

 

Após pagar a conta, Cátia descia as escadas ao lado de Lídia. -- Melhor pedir pro manobrista chamar um táxi pra gente, né? -- decidiu -- Cadê ele? -- olhava para todos os lados ao sair do restaurante

 

--Me leva pro seu hotel? -- pediu subitamente

 

A geofísica abriu a boca e não emitiu som. “Eu tô ouvindo o que tô ouvindo ou a secura é tanta que endoidei de vez?” -- pensou intrigada

 

Não tinha coragem de encará-la. -- Não quero ir pra casa essa noite... -- afirmou quase num sussurro

 

"Olha só a bichinha já começando a abrir o bico...” -- sentia o próprio sex* a se manifestar -- "Mas ela não merece tão pouco...” -- a consciência doeu -- Lídia, eu... -- não sabia como dizer -- Você merece alguém que valha a pena! -- parou de frente para ela -- Alguém que seja como você: uma pessoa maravilhosa, pura, intensa, de bom caráter...

 

--Você é assim! -- olhou para ela

 

“Own, que amorzinho...” -- pensou derretida -- Não sou, minha querida, não sou... -- segurou as duas mãos dela -- Eu não tenho condições de dar o que você merece. E moramos tão longe... Relacionamentos à distância são complicados e eu não poderia garantir que seria fiel...

 

--Não tô te cobrando nada, Cátia. -- respondeu mansamente -- Não tô esperando nada. -- pausou brevemente e respirou fundo -- Só queria que me levasse com você essa noite...

 

“Ô, meu Pai, assim não dá pra resistir...” -- pensou agoniada -- "Não futica, menina, que a bichinha já tá mastigando as calcinha...”

 

***

 

--Você tem certeza, meu bem? -- perguntou olhando nos olhos -- Não quero te magoar, não quero que se arrependa... -- segurava o rosto dela com as duas mãos

 

Cátia e Lídia estavam despidas e ajoelhadas na cama, uma de frente para a outra.

 

--Seja você mesma, sem disfarces, sem artifícios pra se proteger e eu não vou me arrepender. -- respondeu com intensidade -- Quero a Cátia que você não deixa as pessoas conhecerem, mas que eu consigo ver. -- acariciava os braços dela -- Quero você! -- pediu

 

A loura não resistiu mais e beijou a moça com carinho e desejo. Deslizou as mãos pelo corpo dela, abraçando-a com força e colando os corpos.

 

--Ahh... -- Lídia soltou um gemido abafado pelo beijo

 

A geofísica reclinou o corpo fazendo com a que a outra se deitasse lentamente. Apoiou seu peso sobre ela com cuidado e fez com que as pernas da mulher envolvessem sua cintura. Em momento algum deixavam de se beijar.

 

--Linda... você é... especial... -- Cátia sussurrou entre beijos

 

--Você... também... -- respondeu do mesmo jeito

 

Cátia sentia as mãos da jovem acariciando suas costas e o fogo do desejo tomava conta de si num crescente de emoções. No entanto, havia algo mais que apenas um misto de sensações físicas. Havia algo mais...

 

Percorrendo o corpo da amante com seus lábios ansiosos, não estava apenas fazendo sex* com aquela mulher; depois de muito tempo, estava sendo ela mesma.

 

***

 

Zinara conversava com dois jovens. Estavam no pátio de um pequeno albergue no qual várias famílias se abrigavam com dificuldade.

 

--E foi por isso que fugimos para esta cidade. -- o rapaz contava indignado -- O Primeiro Ministro de Dar-ulharb ordenou um ofensiva terrestre contra a Faixa de Gisah e nós simplesmente perdemos tudo! -- seu olhar era puro ódio e rancor -- Il-cela (Família), dar (casa), Hayawaanaat (animais)... -- enumerava nos dedos -- Ukhtii (Minha irmã) e eu só temos al malaabis (as roupas) e nada mais!

 

--Al junuud (Os soldados) chegam como aš-šeiTaan (Satan), destruindo, atirando, matando! -- a moça falou com expressão de fúria -- Matam awlaadina (nossas crianças), violentam muitas mulheres, humilham os homens e cospem nos cabelos brancos de nossos anciãos!

 

--Ralã! -- Zinara exclamou com nojo

 

--E depois eles não entendem porque odiamos Dar-ulharb! -- o jovem afirmou entre dentes -- Gaatak niila, Dar-ulharb! (Vá para o inferno, Dar-ulharb!) Gaatak niila!! -- gritou

 

--GAATAK NIILA!!! -- todos os que estavam próximos gritaram também

 

--Eu tenho sonhos de liberdade, mas também tenho desejos de vingança! -- a moça dizia -- Não desejo que morram, mas que os malditos de Dar-ulharb sofram das mais terríveis moléstias! -- amaldiçoou -- Yabae kefaya alya!! (Isso será suficiente!)

 

--Pois eu lhes desejo a mais temível das mortes! -- o rapaz amaldiçoou cuspindo no chão em desprezo

 

“Era incrível, Kitaabii, mas eu ouvia as mesmas palavras rancorosas e sofridas que me impressionavam na infância. Por quantas vezes abuuya (meu pai) e tantas outras pessoas de minha vida gritaram ‘gaatak niila, Dar-ulharb’? Por quantas vezes? Qual era a diferença entre a realidade de hoje e aquela que maltratava o povo do Oriente em 1975, quando nasci e a guerra me saudou com tiros e explosões? Qual a diferença entre o sofrimento vivido por meu povo em mais de dez anos de guerra civil e o martírio imposto às pessoas prisioneiras na Faixa de Gisah? Sim Kitaabii, prisioneiros! Gisah é uma prisão a céu aberto, onde mendigos sofrem carência de tudo enquanto arrastam os corpos cansados sobre um solo rico de recursos naturais.

 

Desde que o banho de sangue começou, lá pelos idos da Primeira Guerra, a origem de todas as dores não está em religião, soberania territorial ou em qualquer outro motivo ‘nobre’ que se possa alegar. Tudo se resume a duas palavras: petróleo (ou energia, se preferir) e geopolítica. É a ganância dos poderosos do mundo que patrocina as mortes, os massacres, as invasões. Não é diferente em outros países, Kitaabii! Eles vampirizam o Continente Negro, os territórios vizinhos da Rossiya, A Terra do Lama e muitos outros lugares ao redor do planeta. E são eles que estão fechando o cerco ao redor de Terra de Santa Cruz, buscando assumir o controle total novamente, de olho nas riquezas do Prima di Sale.

 

Queria muito ver tudo isso mudar, Kitaabii, mas nessa vida não me será possível....

 

Olhava para os rostos daquelas pessoas e o que via era um retrato da mesma realidade de outrora: dor, sofrimento, desilusão e ódio, muito ódio! A atmosfera daquele albergue parecia impregnada pelos piores sentimentos que podem mover os pensamentos de um ser humano.”

 

--Ana mutafaa'il, sadikina! (Eu sou otimista, meus amigos!) -- Zinara afirmou resoluta -- Um dia seremos todos livres! -- afirmou com convicção -- Ana a’arfa! (Eu sei!) -- levantou-se e começou a falar para todos -- Sou sobrevivente da guerra civil de Cedro e do famigerado campo de refugiados de Al-Maghrib, -- olhava para os demais -- entendo o que vocês todos vivem, o que vocês todos sentem! Entendo esse fogo no olhar, esse ódio, essa dor, essa revolta e essa sensação de impotência que fica no coração, mas aprendi, exatamente por isso, que eles, esses malditos que ordenam as guerras, -- apontou para fora -- podem destruir tudo que tenhamos, sem jamais roubar a liberdade e a força de nossas almas! -- emocionou-se -- Eles sabem que nosso povo não desiste, sabem que nós lutamos até a morte! Seja homem, mulher, ancião ou criança!

 

--Por Allah, nós temos força e lutamos até o fim! -- um homem gritou

 

--É preciso ter esperança, é preciso fé e tentar não se deixar contaminar pelo ódio, porque ódio não gera outra coisa senão mais ódio! -- continuava -- Allahu akbar! Akbar, akbar! (Deus é grande! Grande, grande!) -- bateu no peito -- Nós seremos livres!

 

--Laa astati' an afqid al'amal, hatta law mittu! (Eu não poderia perder a esperança, mesmo se eu morresse!) -- uma senhora falou

 

A astrônoma se arrepiou ao ouvir aquela frase tantas vezes dita por Zahirah. “Você está aqui, ar-rabiic?” -- perguntava-se -- Ya sayyida (A senhora) está certa! -- concordou -- É a esperança, a fé e o amor que mantêm uma pessoa de pé! -- passou a mão nos olhos

 

--O ódio também! -- um homem retrucou

 

--Mas não por muito tempo, ya said (senhor)... -- olhou para ele -- O ódio cobra um preço alto demais! -- estendeu as mãos abertas -- Vamos orar, vamos cantar e pedir a Allah que nos liberte! Que nos dê forças! -- propôs

 

“Não sei porque estava tendo coragem de me arriscar a ser rechaçada, Kitaabii, mas meu coração me disse que o momento era propício e eu tentei ajudar. Tentei mudar o clima do ambiente e, para minha surpresa, eles aceitaram. Talvez suas almas estivessem a espera de migalhas de luz. Da Luz que só Allah faz brilhar.”

 

https://www.youtube.com/watch?v=pcWmTgdrB7E

 

--Cada dia, nós temos que dizer um ao outro, -- Zinara começou a cantar -- que este dia vai ser o último e amanhã todos nós poderemos ir para casa em liberdade... -- cantava com muito sentimento -- e tudo isso vai finalmente acabar!

 

--Amanhã, seremos livres! -- algumas pessoas cantaram também

 

--Nem mãe, nem pai para enxugar minhas lágrimas, por isso não vou chorar. -- a morena continuava cantando -- Tenho medo, mas não vou demonstrar meus temores. Eu mantenho a cabeça erguida...

 

--No fundo do meu coração, eu não tenho qualquer dúvida! -- os outros acompanhavam -- Amanhã, seremos todos livres!

 

--Vi bombas e foguetes brilhando no céu, -- cantavam todos juntos -- como gotas de chuva na luz do sol, levando para longe todos os amados do meu coração, destruindo meus sonhos em um piscar de olhos... -- muitos choravam -- O que aconteceu com os nossos direitos humanos? O que aconteceu com a santidade da vida? E todas aquelas outras mentiras?

 

Aos poucos a psicosfera do lugar começava a se modificar.

 

--Eu vou acariciar com minhas mãos nuas, cada precioso grão de areia, -- cantavam com mais intensidade -- cada pedra e cada árvore, porque não importa o que eles façam...

 

--Eles nunca irão te machucar, porque sua alma SEMPRE SERÁ LIVRE! -- uma jovem cantou

 

“Amanhã, Kitaabii, seremos todos livres... Eu sei! Confio na promessa do Rabi da Galiléia!”

 

(Nota da autora: adaptação da lindíssima música de Maher Zain, Palestine Will be Free [a])

 

***

 

--Essa que Zinara aprontou foi uma de mestre, pelo amor de Deus! -- Magali protestava revoltada -- Como que teve coragem de sair sorrateira e sumir pelo mundo? -- gesticulava -- E logo pra onde que ela escolheu ir! -- balançou a cabeça negativamente -- Me perdoe, mas essa mulher tem merd* na cabeça!

 

Clarice apenas suspirou.

 

--A desgraçada não podia ao menos ter esperado um pouco mais? -- questionava -- Quem espera maio chegar pra poder morrer, espera até junho, ora!

 

--E o que tem de especial em junho? -- não entendeu

 

--Meu casamento! -- respondeu com quem diz o óbvio

 

--Ah! -- acabou rindo -- Você e mamãe são as únicas pessoas que me fazem rir nos momentos mais difíceis... -- passou a mão nos olhos

 

--E como você tá amiga? -- segurou as duas mãos dela -- Por isso que faltou por esses dias, né? Ficou abalada...

 

--Realmente não consegui ter forças pra vir trabalhar... -- admitiu -- Mas acabei trabalhando em casa e deixei umas tarefas pros alunos fazerem. -- suspirou -- Eles iam ter que fazer pesquisa de campo mesmo...

 

--Esquece trabalho, quero saber de você! -- insistiu

 

--Eu tô indo, né, Magali? -- respondeu desanimada -- Me sinto como se tivesse doente...

 

--Own... -- ficou com pena -- Queria tanto poder te ajudar... -- fez um carinho nos braços da outra -- E a família dela, já sabe disso? -- perguntou curiosa

 

--Já avisei pra todo mundo que deveria saber e temos orado muito. -- olhava para a amiga -- Todos estão arrasados!

 

--Claro! -- fez um gesto -- Imagino a mãe dela... Coitada... -- ficou pensando -- E aquela mulher de Maurítia? -- perguntou -- A cunhada dela? Já sabe também?

 

--Cátia foi prum congresso lá e pedi pra ela dar um jeito de avisar a Georgina. -- comentou -- Disse que pediu pra Lídia e ela vai lá antes de ir pra faculdade.

 

--Quem é Lídia? -- não sabia

 

--Uma moça que Cátia ajuda a estudar. -- ajeitou-se na cadeira -- Quer ser geóloga.

 

--Humpf! -- fez um bico -- Imagino como essa Lídia tem pago por essa ajuda... -- cruzou os braços

 

--Cátia também não é esse monstro! -- protestou -- Ela tem qualidades, embora você não acredite. -- pausou brevemente

 

--Humpf! -- resmungou

 

--Seja como for, a única notícia boa de tudo isso é que depois que Zinara disse umas verdades pra minhas irmãs o clima lá em casa melhorou muito. Acabou-se a guerra!

 

--Pelo menos isso! -- retrucou -- Ai, amiga, queria muito mesmo poder te ajudar...

 

--Então reza por mim e por Zinara que você ajuda muito. -- pediu -- É só o que você pode fazer.

 

--Um dia você vai encontrar uma mulher bacana, saudável, que te mereça e fique contigo de verdade. -- desejou -- Zinara é boazinha mas ficou maluca de repente! Podendo ficar aqui... humpf! -- levantou-se da cadeira -- Esquece dela que é o melhor que você faz.

 

Sorriu com tristeza. -- Impossível...

 

--Não fique eternamente sofrendo por causa dela. -- servia café em dois copinhos -- A vida continua! E você precisa de paz!

 

--Não é uma questão de paz, Magali... Paz eu tenho. -- recebeu o copinho que a outra lhe entregou -- Obrigada. -- agradeceu -- O tempo vai acalmar as dores de todos nós... Mas, por agora, não dá pra desligar o coração e evitar o sofrimento!

 

Sentou-se. -- Mas que esse tempo não seja longo demais! -- aconselhou -- Vida que segue, meu bem!

 

--Vida que segue... -- repetiu antes de beber um gole de café

 

***

 

--Mãínha, eu já arrumei meus treco todo pra quando a gente se mudá! -- Hassan anunciou empolgado

 

--Oxi! -- achou graça -- A mudança é só im julio, mininu! -- lembrou -- Quandu tuas féria chegá.

 

--Mas eu tenho que me prevenir! -- justificou-se -- Não vejo a hora da gente botá gidda e giddu! -- colocou a mochila nas costas -- E minha camma Zina vai me ensinar a língua de paínho! Eu quero aprender a falar igual usritina (nossa família)!

 

A lembrança de Zinara entristeceu a mulher, mas ela buscou não demonstrar isso. -- Si Deus quisé, meu fio... -- sorriu sem ânimo -- Ocê vai aprendê us trem tudu qui ocê quisé.

 

--Beijo, mãínha. -- beijou o rosto dela -- Tchau! -- acenou e foi

 

--Tchau, meu mininu... -- foi para a janela da sala e acompanhou a partida dele com o olhar

 

Depois de alguns segundos em silêncio, Georgina foi para seu quarto e ajoelhou-se diante da imagem da Divina Mãe. Postou as mãos, abaixou a cabeça e fechou os olhos. -- Minha Mãe Divina, minha Virgi Santa, perdoa us atrevimentu di uma muié sem honra qui nem eu, mais tenhu pricisão di Lhi implorá ajuda! -- orava com humildade -- Ajuda modi essi tratamentu qui eu cumecei mi dexi vivê inté eli entrá di féria e as parenta deli di Guaiás cunsegui vaga num colégiu di lá. Ajudi meu mininu a cunseguí vivê tudu qui eli sonha, eu Lhi imploru! Eli é bão, verdadêru e puru di coração iguar o pai deli... -- derramou uma lágrima -- Ajuda pra qui a famia deli cuide bem di meu Hassan e qui mesmu du infernu ondi minha arma vai tá, qui di quandu im veiz, só di quandu im veiz, eu possa sabê qui eli vai bem e tá filiz. -- pausou para conter o choro -- Ajuda pra qui Zinara num morra, qui ela vorti pra casa e fiqui curada di todo mar, di todas doença! Ela faiz farta prum monti di genti, ela é importanti pru mundu, num é comu eu... -- derramou mais uma lágrima -- Ajuda pra qui meu morenu saiba qui eu mi arrependu pur dimais da conta, qui eu peço o perdão deli di joeiu e qui eli foi o mió e mais bunitu homi qui eu já cunhici a vida toda... O únicu homi di verdadi... O homi qui eu amu...

 

Khaled ouvia aquela prece com muita emoção. -- Ah, se eu pudesse tomá-la nos braços... -- lamentou -- Ana laka, ya habibi... (Eu estou aqui para você, minha querida...) -- desejava que ela o ouvisse -- Tamally waheshny! (Sinto muitas saudades!)

 

--Ela não pode te ouvir, Khaled. -- Youssef amparava-o gentilmente -- Mas pode sentir bem estar com o amor que você irradia para ela. Ala hasb wedad albik... (Tudo depende do seu coração...)

 

--Eu queria que ela ficasse curada! -- olhou para o irmão com olhos súplices -- Ela e ukhtina (nossa irmã)! -- segurou-o pelos braços -- Cura essas mulheres, Youssef! Min fadlak (Por favor), não deixe que elas morram! -- pediu agoniado

 

--Somente Allah é soberano para decidir sobre o tempo de cada pessoa, Khaled. -- respondeu mansamente -- Fiz e faço o que posso, mas não me cabe decidir. Ambas estão nas mãos de Allah!

 

--We att sharad wayah Il afkar! (Meu cérebro é incapaz de se concentrar!) -- sentia-se aflito -- Preciso ir, preciso descansar. -- voltou a olhar para a mulher -- Eu queria vê-la, fiquei feliz com isso, mas me causa dor vê-la chorando. -- admitiu pesaroso

 

--Ainda não há paz no seu coração, não é? -- acariciou a cabeça do irmão

 

--Laa... (Não...) -- negou -- E também não gosto de pensar que binina (nosso filho) ficará sem maama e baba, embora usritina (nossa família) vá cuidar dele. -- suspirou -- Não gosto de pensar que Zinara vai morrer sozinha. -- seus olhos marejaram -- Ela não merece isso...

 

--Não temos o que merecemos, mas o que precisamos... -- fechou os olhos -- Vamos voltar. -- concentrou-se para partir dali -- Está na hora.

 

***

 

--AIAIAIAIAI!!!!!!!! -- Graziela chorava com raça -- Como eu fui burra, como fui besta, como eu fui lesa... -- lamentava-se -- Troquei um amor puro como a flor por um amor bandido e veja no que deu! AHAHAH!!! -- gritava -- Sozinha, viúva e sofrendo...

 

--Calma, mulher, que escândalo! -- Gabriela tentava contornar a situação -- Não vai adiantar nada você ficar nessa danação toda!

 

--Ai, mas eu me dano, eu me dano... -- chorava -- Eu me dano porque sofro, e no sofrimento me dano... AHAHAHAH!!! -- gritava -- É um círculo vicioso!

 

--Ave Maria! -- não sabia o que fazer -- Soube da notícia há dias atrás e agora que resolveu cair no berreiro?

 

--Eu choro não é de hoje, minha irmã... -- respondeu fungando -- Abriu-se o breu e danou-se tudo! AHAHAHAHAH!!! -- gritou

 

--Mãínha, que fuzuê é esse? -- Valentina chegava da rua -- De lá de fora dá pra ouvir essa zoeira! -- olhou para a tia -- Vixi! -- ficou surpresa -- Tia Grazi chorando? -- não entendeu -- Que horror!

 

--AIAIAIAI, que desgraça, que desgraça... -- continuava se danando -- AHAHAHAH!!!

 

--O que foi? -- a jovem olhou para a mãe

 

--Sua tia sofre por amor, meu bem. -- respondeu sem entrar em detalhes -- E não queira saber de mais nada!

 

--AIAIAIAI, como que eu pude ser tão burra, como pude, como pude?? Agora acabou, se danou, foi-se!! -- gesticulou abrindo bem os braços -- AHAHAH! -- gritou mais uma vez

 

--Eu hein? -- fez um bico -- Ó, tô no meu quarto! -- informou -- E não me incomodem! -- entrou no quarto e trancou a porta

 

--Valentina Maria, não quero saber de você tirando foto de calcinha e sutiã pra botar no LivrodasFuça, viu, menina? -- Gabriela advertiu em voz alta -- Isso é muito feio! Não quero saber!

 

--AHAHAHAH!!!!!!! -- e tome de grito -- E agora, o que eu vou fazer?? AHAHAH!!!

 

--Ô, minha irmã, pára com isso! -- pediu de cara feia -- Daqui a pouco alguém vai vir aqui reclamar! -- pôs as mãos na cintura

 

--Ai, que reclame, eu não ligo!! -- respondeu de pronto -- A dor que eu sinto é muito maior, muito maior!! AHAHAHAH!!!!!!!

 

--Oxi! Você quase não vem aqui em casa e quando vem é pra fazer esse inferno? -- reclamou de cara feia -- Vem pra chorar e tirar minha paz?

 

--Não me fale em paz que eu lembro de guerra!! -- pediu escandalosa -- E não me lembre guerra que eu lembro de... -- não conseguiu dizer -- AHAHAHAH!!!

 

--Ô, merd*! -- Gabriela xingou revoltada

 

Enquanto isso, trancada no quarto, Valentina caprichava nas fotos de si mesma para postar no LivrodasFuças. Estava nua e parcialmente coberta com uma echarpe transparente. Fazia caras e bocas, caprichando nos olhares que julgava sensuais.

 

-- Essa ficou muito massa! -- admirava a foto gravada no celular -- Vai dar mais de cem curtidas, no mínimo! -- exclamou animada

 

***

 

--Você tá feliz com isso, minha filha? -- a idosa perguntava -- Mudar sua vida pra viver com uma mulher? -- questionava -- E depois ainda casar com ela?

 

Lúcia abaixou a cabeça e respondeu com respeito: -- Eu sei que pra senhora é um absurdo, uma coisa inaceitável, mas... -- ajoelhou-se na frente da outra -- eu amo Magali, vovó! -- olhou para ela -- Sei que vai ser complicado, que a gente vai engolir muito sapo mas eu tô disposta a tentar. -- segurou as mãos dela -- Queria que a senhora não me desprezasse por causa disso! -- pediu como criança -- Não aguentaria...

 

--Minha filha... -- suspirou -- Eu não concordo mesmo, não entendo isso, mas... eu tenho que aceitar... E isso porque te amo.

 

--Ah, vovó! -- abraçou-a e beijou a testa dela repetidas vezes -- Fico tão feliz em saber que nada muda entre nós! -- segurou o rosto da idosa com as duas mãos

 

--Você aceitou e respeitou minha decisão de continuar morando sozinha mesmo sendo cadeirante e velha. -- reconheceu -- Você sempre cuidou de mim e não quis me dizer o que fazer de minha vida. -- sorriu ternamente -- Não posso querer determinar o que vai escolher pra si mesma.

 

--Obrigada, vovó! -- beijou as mãos dela -- A senhora ganhou mais uma neta, pode acreditar! -- sorria também -- Magali gosta muito da senhora e lhe respeita.

 

--Eu sei, querida. -- balançou a cabeça -- Mas me responda... e aquela moça, a Cátia? -- perguntou pela loura -- Também gosto dela e até sinto saudades.

 

--É... -- abaixou a cabeça -- É uma longa história, mas Cátia e eu rompemos contato.

 

--Ficaria zangada se ela viesse me visitar de vez em quando? -- perguntou receosa -- Dia desses ela me ligou pra saber de mim e eu a convidei pra um café, mas ela não quis vir. -- contava -- Percebi que inventou desculpas e achei que era por sua causa.

 

--Deve ter sido. -- olhou para a avó -- Mas eu não vou impedir a senhora de ter amizade com ela. Claro que Cátia pode vir aqui de vez em quando. -- concordou -- "E talvez um dia a gente possa ser amigas sem problema nenhum.” -- pensou -- Só não deixe Magali saber pra não ter reclamação pro meu lado. -- pediu

 

--Não digo nada, pode deixar. -- garantiu -- Peço que você também não diga pros parentes de seu pai que... bem... -- não sabia como dizer -- Eu não quero ninguém aqui tirando minha paz pra saber dos detalhes da sua vida com Magali!

 

Ficou um pouco triste ao ouvir aquilo. -- Quer que eu disfarce na frente da família? -- perguntou decepcionada

 

--Você fez isso por todos esses anos! -- argumentou

 

--E o que vou dizer que Magali é? -- questionou -- Minha amiga? -- afastou-se da mulher e se levantou -- Por que eu mudaria minha vida pra dividir apartamento com amiga? Por que meu salário de bombeira é baixo e eu não tava aguentando o aluguel?

 

--Pode ser. -- concordou

 

--Isso é triste, vovó! -- retrucou como criança -- E ela não vai gostar disso!

 

--Triste mas necessário! -- aconselhou -- Ninguém vai acreditar, mas todo mundo vai fingir que acredita. -- gesticulou -- Faça isso e evite uma guerra! -- aconselhou mais uma vez -- Vai ser melhor pra você e pra mim! Do contrário, prepare-se pra muitos aborrecimentos!

 

Lúcia deu um suspiro profundo. Não concordava com aquilo, mas aceitou fazer o que lhe foi pedido apenas em respeito a avó. -- Tudo bem... -- respondeu desanimada

 

--Você vai viver muito melhor desse jeito, pode acreditar! -- a mulher afirmou convicta

 

Nada respondeu. “Por que tem que ser assim?” -- questionou-se mentalmente

 

Pensando um pouco melhor, Lúcia percebeu que ao longo dos anos a idosa havia feito exatamente o que afirmou que a família faria: fingiu não saber da verdade. E por isso viveram tão bem.

 

Entre as duas acabou se firmando um acordo não planejado no qual a homossexualidade da bombeira era não verbalizada, não diretamente assumida, e assim transformou-se em um “problema” que se evitava abordar. Agora, diante de seu casamento com outra mulher, sua avó se mostrava tolerante, mas pedia silêncio.

 

“Até quando vai ter que ser assim?” -- continuava pensando -- "Até quando uma lésbica ou um gay vai precisar se esconder pra ter um pouco de paz?”

 

***

 

--Fazer amor com Lídia foi diferente de tudo que eu vivi nos últimos anos, sabe, Vera? -- Cátia contava para sua terapeuta -- Ela me quis, mesmo sabendo exatamente quem eu era! -- gesticulava -- Não havia mentira, não havia jogo ou qualquer artifício de minha parte... -- sorria -- Éramos somente ela e eu, de verdade ela e eu! -- fechou os olhos -- E foi tão bom, tão intenso, tão lindo... -- suspirou -- Eu me senti em paz... -- abriu os olhos novamente

 

--Fico muito feliz em ouvir isso. -- cruzou as pernas -- Você precisava reaprender a diferença entre amor e prazer sem sentido.

 

--Amor? -- perguntou receosa -- Eu não sei se ela me ama... -- abaixou a cabeça -- Pode ter sido somente a admiração de uma mulher mais jovem por outra mais velha que representa o que ela quer ser no futuro... -- considerou -- Pelo menos profissionalmente sei que Lídia se espelha em mim.

 

--Você e Lídia ainda não se amam no sentido pleno do termo até porque precisam se conhecer melhor. Precisam de mais contato... Amor é um processo que evolui e não simplesmente um momento. -- explicava -- Mas é muito claro que entre vocês existe carinho, amizade e admiração recíproca.

 

--É... -- concordou

 

--Lídia gosta de você do jeito como você é. Sem truques e sem fantasias. -- olhava para a loura -- E essa experiência com ela foi importante pra que você percebesse que merece amor e pode ser amada!

 

Sorriu e olhou para a outra. -- Ela merece alguém melhor que eu, Vera! -- afirmou humildemente -- Ela é linda, pura, boa de coração! E tem um caminho pela frente! Um caminho que eu já trilhei. -- gesticulou -- Lídia precisa de alguém que fique junto, ali do lado, pra dividir tudo com ela! Pra viver tudo isso com ela!

 

--E você acha que não pode ser essa pessoa?

 

--Não... -- pausou brevemente -- Eu vivo aqui, bem longe de Maurítia, e ainda planejo um período de um ano fora. -- sorriu com certa tristeza -- Em um ano acontece muita coisa...

 

--Você não precisa ir se não quiser.

 

--Mas eu quero ir! -- argumentou -- Preciso ir, Vera!

 

--Tudo bem. -- não se opôs -- Mas o que gostaria que acontecesse entre vocês daqui pra frente?

 

--Depois do amor nós conversamos muito nos braços uma da outra... Foi bem aconchegante... -- sorriu -- Ela disse que não tinha expectativas, que entendia que muitas barreiras nos separavam e que talvez... não tenhamos condições de rompê-las por agora... -- contava -- Mas eu não vou deixar de fazer parte da vida dela e nem quero que meu anjinho saia da minha!

 

--Faz bem. -- concordou

 

--E de tudo, o que mais me deixa feliz é essa sensação de paz e satisfação que fiquei sentindo desde que a beijei. -- sorriu -- Como pode isso? -- perguntou como criança -- É incrível que depois de todos esses anos eu... -- emocionou-se

 

--Continue se dando a chance de ser você mesma e sendo verdadeira, que sensações como essa farão parte de sua vida de forma constante. -- aconselhou -- A paz não cai do céu, meu bem, e nem a guerra interior é algo inevitável. -- afirmava com propriedade -- O que de bom ou ruim nos aconteça, vem sempre atendendo aos chamados silenciosos que fazemos diariamente, consciente ou inconscientemente.

 

***

 

Regina conversava com sua amada no talk do Êmail.

 

Regi: Eu ando muito cismada por causa de Zinara, amor. Aquela caipira sumiu e nunca mais escreveu uma linha por aqui!


Docinho: Também notei isso e fiquei preocupada. Perguntei a outras amigas e ninguém sabe de nada!


Regi: Será que aconteceu alguma coisa?


Docinho: Será?


Docinho: Ai, não, nem diga isso! Não há de ser nada errado! Problema nenhum!


Regi: Pensando bem, Zinara tem essa mania de sumir, reaparecer, sumir de novo...


Docinho: Pois é!


Docinho: Lembra que num desses sumiços eu fiquei tão angustiada que saí por aí perguntando a todo mundo por notícias?


Regi: Eu lembro! Fiquei uma fera com ela naquela época! Caipira safada!


Regi: Masss... Foi por causa dela que a gente começou a conversar com frequência...


Regi: E foi surgindo uma amizade, um companheirismo, até que...


Regi: Apaixonei...


Docinho: Ai, ai... E esse amor chegou assim, de mansinho, mas tão forte...


Docinho: Eu ando tão bem que meus olhos brilham o tempo todo!


Docinho: Todo mundo fala!


Regi: Parecem duas esmeraldas reluzentes!


Regi: Tesouros do meu coração! <3 <3 <3


Docinho: Você também é meu tesouro, minha linda, querida e maravilhosa!!!


Docinho: <3 <3 <3

 

--Não dá pra ficar zangada com a caipira... -- Regina falava sozinha -- Graças a ela conheci meu docinho e vivo numa paz tão grande... -- suspirou apaixonada -- Ai, ai...

 

***

 

Leda e Amina conversavam no LivrodasFuça.

 

Siriema: Eu andu numa tristeza tamanha qui chega dói, num sabi?


Siriema: Só di alembrá qui minha minina anda sozinha pur essis caminhu...


Siriema: Allah proteja minha fia pur ondi ela istivé...


DonaBord: Imagino como não deve ficar o seu coração de mãe... O meu também anda num aperto só!


DonaBord: Como estão os outros aí?


Siriema: Raed pareci qui ficô mei doidu... Disligô-si da realidadi e vivi comu si nada tivessi acunticendu...


Siriema: Najla é rezandu pelus cantu cum o terçu na mão...


Siriema: E meus fio pareci qui perderu a noção dus trem... Só us mininu piquenu é qui num si atinaru ainda.


DonaBord: Ô, minha amiga querida...


Siriema: O qui num mi dêxa indoidá di veiz é só minha fé no Pai e na Virgi!


Siriema: E as ida nu centru di mãe Agda...


DonaBord: Quisera eu poder fazer alguma coisa pra aliviar seu coração sofrido...


Siriema: Reza pur nóis tudu, pur caridadi!


Siriema: Num tô dandu conta, não...


Siriema: Quandu Khadija dissi pra num preocupá, eu e Najla inté ficamu mais filiz


Siriema: Mais ela é criança, podi sonhá... Nóis é muié, tem qui vê as realidadi...

 

--Por que Zinara tinha que fazer o que fez, meu Pai? -- Leda resmungava contrafeita e pesarosa -- É a família dela sofrendo na roça e Clarice chorando toda vida aqui... -- fez cara feia -- Por que isso, hein, Zinara? -- perguntou para ninguém -- Ah, se eu pudesse te ver agora, metia chinelada no teu rabo! -- falou mais alto

 

DonaBord: Clarice anda arrasada também...


DonaBord: E eu tenho sofrido com tudo isso


DonaBord: Porque gosto muito de sua menina e fico triste por ver a minha chorando tanto!


Siriema: É só o tempu... Só o tempu...


Siriema: Perdoa, mais vô saí do leptópio... Pricisu discansá um pôco...

 

Leda acabou desanimando de continuar na internet e decidiu que também sairia do computador. “Coitada de Amina... Não queria eu estar no lugar dela...” -- pensou com pesar

 

DonaBord: Vai lá, querida!


DonaBord: E fé! Muita força e fé pra todos nós!


DonaBord: Que Deus proteja vocês e Zinara onde ela estiver!


Siriema: Améin!

 

Amina despediu-se da amiga e desligou o laptop. Em seguida foi até a janela e ficou olhando para o céu. “Cuida di minha fia, Sagrada Virgi!” -- pediu com os olhos marejados -- "Cuida dela e num dêxa nada di mau acunticê...”

 

Bem longe dali, Zinara se preparava para uma longa caminhada.

 

--Ya sayyida (A senhora) tem certeza de que quer fazer esta expedição? -- o guia perguntou incrédulo -- O Monte Cedro se estende por cerca de 160km, de norte a sul do país! Tem ideia do que isso representa? -- olhava para ela -- O ponto mais alto chega a 3100 metros de altitude! -- falava no idioma local -- Não creio que tenha condições de agüentar o esforço... -- reparava na magreza da morena -- E essa comida desidratada que ya sayyida trouxe não será suficiente para o percurso inteiro! -- alertou

 

--O Monte Cedro marcou a minha infância. -- respondeu na mesma língua -- De longe eu o via pintado de branco e sonhava em chegar ali... -- sorriu -- Ficaria surpreso se soubesse de todas as montanhas que escalei e das caminhadas que já fiz. -- argumentou calmamente -- Tenho experiência.

 

--Seja como for, não é aconselhável trilhar o caminho inteiro por causa dos conflitos gerados pela guerra na faixa de Gisah! -- informou -- Dizem que muitos rebeldes se escondem nas montanhas ao sul e eu não pretendo me arriscar!

 

--Conduza-me até uma certa parte do caminho e itrouk el baqi a’alateh. (deixe o resto comigo) -- sugeriu

 

Achou a proposta absurda. -- Seu dinheiro muito mal pode pagar por dois dias de meus serviços! -- falou sem rodeios -- Percorrer o monte inteiro levará uns quinze dias! -- estimou pelo que podia avaliar do físico da mulher

 

“Ave Maria! O dinheiro do meu fundo de pensão só deu pra comprar uma passagem de avião, pagar magras diárias de albergue e agora mais dois dias de guia de caminhada!” -- pensou em estado de choque -- "Até pra morrer com um mínimo de dignidade professora sofre!” -- balançou a cabeça contrariada -- Então me guie por dois dias e me dê um mapa, min fadlak (por favor). -- retrucou -- Do resto cuido eu. -- olhava nos olhos

 

Gastou uns segundos calado até que resolveu perguntar: -- Deseja morrer, é isso? -- não entendia -- O que deseja é loucura!

 

--Laa. (Não.) Desejo apenas fazer a caminhada dos meus sonhos. -- respondeu calmamente -- "Minha última...” -- pensou

 

O homem ficou olhando para ela e pensando no que fazer. -- Majnum... (Louca...) -- resmungou para si mesmo

 


CAPÍTULO 114 – Estranha Loucura

 

Clarice viajava para participar de uma defesa de tese em Todos os Santos. Recebera o convite da doutoranda há meses atrás e não podia recusar agora por causa da tristeza que lhe invadia a alma.

 

“Eu não posso me permitir ficar deprimida!” -- pensava enquanto olhava através da janela do avião -- "Já sofri no passado por depressão e não quero viver isso de novo...” -- suspirou

 

Já havia lido a tese da aluna e não estava disposta a reler. Sem saber o que mais fazer, decidiu buscar refúgio no diário da namorada.

 

“Minha vida não pode girar ao redor de Zinara!” -- pensava revoltada -- "É por isso que eu sempre sofro tanto! Me envolvo com alguém, me dedico de corpo e alma e acontece sempre a mesma coisa: decepção, abandono, tristeza!” -- seus olhos marejaram -- Eu pensei que com você seria diferente, Zinara... -- resmungou baixinho

 

--Falou comigo? -- a moça a seu lado perguntou

 

--Não. -- sorriu encabulada -- Desculpe. -- olhou para o laptop e decidiu iniciar nova leitura -- Eu sou masoquista, louca ou sei lá o que, sabe? -- falava para a mulher sem tirar os olhos do computador -- Não se incomode comigo! -- clicou sobre o arquivo que desejava ler -- É minha estranha loucura!

 

--Ah, tá... -- respondeu desconfiada -- "A maluca do avião tinha que sentar justo do meu lado!” -- pensou contrariada

 

“Até quando viverei presa a esse desejo de me manter conectada com você, Zinara?” -- perguntava-se -- "Até quando...” -- começou a ler

 

“E a vida na República seguia seu rumo, Kitaabii. Eu continuava trabalhando e estudando, por conta disso passava pouco tempo interagindo com as meninas, mas ninguém implicava comigo. Pagava minha parte no aluguel, limpava o apartamento, não causava problemas e nunca reclamava.

 

Nos finais de semana quase sempre havia alguma festa que elas inventavam. As mais frequentes eram as chamadas ‘sapas party’, quando um incontável número de moças iam para lá e faziam algazarra maior que as araras de Guaiás. As tais ‘party’ começavam logo desde cedo e aquilo me incomodava, porque eu não estava no ânimo para bagunça, daí inventava pretextos para ficar longe. Pegava meus livros, o caderno e sumia para me abrigar no Museu da Astronomia, que aprendi a amar.

 

Um dia desses Valentina me levou para uma caminhada na Floresta Urbana e fiquei apaixonada. Às vezes, fugia das festas me embrenhando em trilhas na floresta e só voltava quando o sol estava para se pôr. Bruna me apresentou a algumas praias e o contato com a imensidão de azul também me encantou. Quando cismava, pegava al ‘agala (a bicicleta) e evitava a bagunça passando o dia com o mar.

 

Aliás, Kitaabii, deixe-me contar sobre ‘agala: encontrei-a toda velha e largada perto do campus e decidi consertá-la, pois, apesar de estropiada, bem que podia me servir. No final, após muito esforço, consegui deixá-la utilizável e ela se transformou em minha companhia mais constante.”

 

Valentina e Zinara assistiam a uma chuva de meteoros durante a madrugada. Observavam as chamadas estrelas cadentes do telhado da República, deitadas sobre um colchonete velho.

 

--Eu nunca que tinha visto uma coisa arretada dessas! -- Valentina exclamou -- É massa! -- sorriu

 

--Essa é a chuva de meteoros chamada de Leonídeas! Tem esse nome por causa da constelação de Leo, de onde parece que os meteoros saem. -- comentou sem desviar o olhar do céu -- Pena quem nem todo mundo sabe que essas chuvas acontecem.

 

--E por que acontece isso? -- perguntou curiosa

 

--Sempre que nosso planeta cruza com a cauda de algum cometa, que é rica em pequenos fragmentos de rocha e gelo, esses fragmentos entram em contato com a atmosfera e pegam fogo, se transformando em meteoros. -- explicava -- E as pessoas chamam os meteoros de estrelas cadentes. -- pausou brevemente -- Eles não chegam a tocar no solo, porque são consumidos pelo fogo, mas quando a gente fica olhando assim é engraçado... -- sorriu

 

--Parece que vão cair nas nossas fuças! -- comentou divertida

 

--E não é? -- riu brevemente -- Adoro ver as maravilhas da natureza! Haljamaal mish maa’ool! (Essa beleza é inacreditável!)

 

--Mas e então, mulher? -- Valentina deu um tapão no braço de Zinara -- O semestre e o ano tão pra acabar, você já vai fazer seis meses morando com a gente e não desse uns amasso em ninguém até agora! -- olhou para ela -- Toda vez que tem sapa party aqui em casa você foge! -- observou -- Até quando vai ficar nessa de só estudar, trabalhar e tirar dez?

 

Zinara ficou envergonhada e nada respondeu.

 

--Você tem que beijar na boca, mulher! -- beijou a própria mão mais de uma vez -- E tem que trepar, porr*! -- gesticulou -- Não acredito que não sinta vontade!

 

--Uai... -- corou -- Sentir eu sinto... mas sinto muito mais a falta de um carinho. -- confessou -- Não sou mulher de nik nik (fazer sex*) sem base nenhuma!

 

Não entendeu muito bem a última afirmação da morena. -- Vou te repetir uma pergunta que te fizeram no dia que você veio pra ser entrevistada por nós: você gosta de comer, de dar ou das duas coisas?

 

--Eita boi! -- ficou sem graça -- Eu não sei responder isso, não!

 

Achou graça. -- Ai, ai, mulher... -- deu um tapa na perna dela e se levantou -- Eu acho que você é mais ou menos do meu tipo, embora nossos estilos sejam diferentes. -- caminhou um pouco -- Tu gosta de comer as mulherzinha e goz*r no final com uma boa ch*pada!

 

“Ave Maria!” -- pensou encabulada

 

--Eu sei que tu ficasse viúva e tal, mas tá na hora de conhecer gente. -- cruzou os braços -- Vamo aproveitar que o período tá acabando, você já passou em tudo por média, com toda certeza, e vamo pra festa da Revolução Popular no Centro da cidade amanhã! -- sorriu -- Eu sempre marco presença e tu vai comigo nessa festa! -- decidiu

 

Achou graça. -- Uai... -- ajoelhou-se e começou a enrolar o colchonete -- Nem sei que trem de festa de Revolução Popular é essa... -- não sabia o que dizer

 

--Mulher, fica esperta, essa festa é pura onda! -- respondeu de pronto -- Tem show de rock ao vivo, discurso político, barraquinha vendendo comida e bebida... -- enumerava nos dedos -- E melhor que tudo isso: cheia de gostosa! -- riu

 

--Eu não tô em clima pra festa... -- levantou-se com o colchonete debaixo do braço -- Minha diversão é olhar o céu, praticar meus esportes e prosear com vocês aqui...

 

--E você lá conversa com a gente, porr*? -- reclamou -- Só vive trabalhando, estudando ou trepada naquela bicicleta doida que você arrumou! -- comentou de cara feia -- Acho que você pensa que a bike é tua namorada!

 

--Humpf! -- protestou fazendo um bico

 

--Tem que se entrosar com gente também, Zinara! -- aproximou-se -- Tá decidido: você vai pra festa comigo!

 

“Oh, Aba…Ya sheen theek izziwaya?” (Oh Aba... O que será de mim?) -- pensou revirando os olhos

 

***

 

--Ave Maria, quanta gente! -- Zinara reparava assustada -- Nem no campo de refugiados de Al Maghrib vi tanto povo junto amontoado! -- olhava para todos os lados

 

--Eu te trago pruma festa e você pensando em campo de refugiado, mulher? -- deu-lhe um tapa no braço -- Fica esperta, porr*! E vamos chegar no meio do fuzuê! -- puxou a outra pelo braço

 

“Adentrando no meio da multidão, logo avistei os dois carros de som sobre os quais várias pessoas se aglomeravam. Bandeiras de partidos de esquerda tremulavam junto com outras de grupos feministas, de grupos negros, do movimento dos Sem Posses e do movimento GLS. Era muito interessante, Kitaabii, ver a forma pacífica como o povo deste país protestava e sua incrível capacidade em transformar quase tudo em festa. Característica tão criticada pelos nativos desta terra e a qual eu tanto admirava.

 

Uma mulher na faixa de seus quarenta anos começou a discursar com muita classe e consciência, expondo suas ideias de forma clara e compreensível. Suas palavras de repúdio ao governo entreguista que conduzia Terra de Santa Cruz e à mídia mentirosa que veiculava com destaque apenas o que lhe era conveniente encontravam eco em cada um de nós, que aplaudíamos com empolgação. Fiquei tão admirada quanto da primeira vez que ouvi Valentina falar em público.”

 

--Adorei o discurso dela! -- a morena comentou enquanto aplaudia -- Perfeito!

 

--UHU!!!!!! -- Valentina gritou animada -- Valeu Daise!!!! -- acenou para a mulher, que não a percebia no meio da multidão -- GOSTOSA!!!!

 

--AHHa! -- olhou espantada para a amiga -- Não fala isso, é falta de respeito! -- ralhou -- Não pode sair assim chamando de gostosa, não, uai!

 

Achou graça. -- Ô, abestada, ela não tem a menor chance de me ouvir agora. -- riu brevemente

 

--Mas é falta de respeito ainda assim! -- retrucou -- E deixa eu te perguntar, quem é ela? -- estava curiosa

 

--Professora Daise Bacelar, da Escola de Comunicação da nossa Faculdade -- esclareceu -- Inteligente, classuda, gostosa  e separada! -- fofocou -- Ah, uma dessa na minha cama... -- esfregou as mãos -- Negra arretada!

 

--Oxi! -- achou graça

 

--Tina, Tina!!! -- Aline apareceu do nada e gritando -- Deu xabu, deu xabu, amiga!! -- aproximou-se nervosa -- Merda fedorenta! -- olhava para as duas -- Ih, Zinara veio, que milagre! -- comentou surpresa

 

--Como que você achou a gente aqui? -- a morena estava pasma -- Smallah!

 

--Que xabu que deu? -- não entendia -- Tô vendo a festa linda aqui, porr*!

 

--A banda lésbica que você arrumou! A cantora tá com dengue e não vai poder cantar! -- explicou -- Sorte que te achei, porque a galera tá louca sem saber o que fazer!

 

--Hum... e o show vai começar depois do discurso do Aragão. -- olhou para o relógio -- Daqui a meia hora. -- franziu o cenho -- Que merd*! -- reclamou

 

--Não tem ninguém que você conheça pra quebrar o galho, não? -- Aline perguntou preocupada -- Se não rolar o show vai ser foda, cara!

 

--Conhecer eu conheço, mas até conseguir entrar em contato e a pessoa chegar aqui... -- balançava a cabeça contrariada -- Onde que em meia hora eu vou encontrar alguém que mande bem cantando, curta rock, conheça boas letras e esteja aqui perto...?

 

--E que seja bolacha, né? -- Aline complementou -- Vai pegar mauzão colocar um carinha ou uma mulher careta lá com a banda!

 

Zinara ficou calada sem saber o que dizer.

 

--Hum... -- Valentina olhou para a caipira -- Sabe que me deu uma ideia?

 

--Pensando bem... -- Aline olhou para a morena também -- É uma! -- sorriu -- Acho que já é!

 

--Choo?? (O que??) -- Zinara arregalou os olhos -- Vocês não tão pensando em...?

 

As duas jovens se entreolharam sorrindo e balançaram a cabeça positivamente.

 

--Ma hatha?! (O que é isso?!) -- teve medo -- "Eu devia ter me escondido no mato...” -- pensou apavorada

 

***

 

--Uai... -- Zinara segurava o microfone com mãos trêmulas -- As-Salamu Alaikum! (Que a paz esteja convosco!) -- cumprimentou repetindo os gestos do seu povo -- Masaa il-kheer! (Boa noite!)

 

--Xiita!!! -- alguém gritou

 

--Mulher bomba!!!! -- outro zombou

 

A morena fingiu não ter ouvido. -- Eu não sou cantora, não conhecia a banda e tô aqui só pra tentar ajudar por conta de um imprevisto. -- sentia um imenso frio na barriga -- Espero que gostem.

 

--Cala a boca e canta porr*!!!! -- uns rapazes gritaram

 

--Vai cantar ou ficar falando aí? -- outros perguntaram berrando

 

“Eita, povo nervoso!” -- pensou sem graça -- Essa é uma versão que fiz de uma das músicas do saudoso Brazuza. Acho que tem tudo a ver... -- olhou para a banda -- O tempo não falha. -- pediu

 

--Formou!!! -- as duas guitarristas exclamaram empolgadas

 

--Comigo! -- a baterista começou

 

Após os primeiros acordes, a jovem fechou os olhos, respirou fundo e começou a cantar:

 

-- Disparo contra o sol, sou forte, sou por acaso, minha metralhadora cheia de mágoas... eu sou Zinara!

 

--Ih! -- Valentina se surpreendeu sorrindo -- Gostei!

 

--Cansada de correr na direção contrária, sem pódio de chegada ou beijo de namorada. Meu nome é Zinara. -- bateu no peito -- Mas se você achar que eu tô derrotada, saiba que comigo agora é tudo ou nada, porque o tempo, o tempo não falha.

 

--Tina, essa caipira canta! -- Aline comentou admirada

 

--Sei disso desde o dia da entrevista. -- respondeu lembrando

 

--Dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem um arranhão... Nessa cidade, de estresse e de festaaaa!!! -- cantava com vontade -- A Capital está cheia de ratos, nossas manchetes não correspondem aos fatos, maaas, o tempo não falha!

 

--UHUUUU!!!!!!!!! -- o povo gritou empolgado.

 

--Eu vejo o futuro, repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades... O tempo não falha! Não falha, não, não falha! -- abriu os olhos e percebeu que as pessoas estavam gostando -- Eu não tenho base pra me equilibrar, na corda bamba sigo sem olhar, pro abismo lá embaixo, que é profundo. -- continuava cantando -- Nas noites de frio não vejo uma luz, nas de calor a mentira seduuz, e assim caminhamos: Santa Cruz! -- aos poucos perdia a vergonha -- Te chamam de ladrão, xiita, vagabundo, entregam o país inteiro num segundo, pois assim agrada aos síndicos do mundooooo!! -- gritou

 

--Cara, ficou foda essa versão! -- Valentina exclamava empolgada

 

--Põe Zinara pra cantar em todo show! -- Aline sugeriu animada

 

--A Capital está cheia de ratos, nossas manchetes não correspondem aos fatos, maaas, o tempo não falha! -- cantava -- Eu vejo o futuro, repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades... O tempo não falha! Não falha, não, não, não, não falha! -- a banda finalizou com um solo de sax

 

(Nota da autora: versão da maravilhosa música O Tempo Não Para [b])

 

--XIITAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! -- o povo gritava e aplaudia curtindo

 

--Canta Lobato Lusso! -- a guitarrista sugeriu emendando as músicas -- Vai!

 

--Tempo Perdido? -- Zinara entendeu e concordou -- Alann!! (Agora!!)

 

“Eu cantei mais várias músicas, Kitaabii, e o povo cantou junto, alto e pulando com os braços erguidos. Pedi solos de guitarra e fiz pequenos discursos entre uma canção e outra, desabafando minha insatisfação com o modo como Terra de Santa Cruz era conduzida por políticos sem patriotismo algum. E foi um sucesso!

 

Naquele dia esqueci da tristeza que me acompanhava sempre e me senti realizando um sonho de menina: por uns instantes, fui cantora.”

 

***

 

--Zinara Raed? -- ouviu uma voz chamar

 

--Sim? -- olhou na direção da mulher -- Professora Daise?! -- levantou-se assustada -- Smallah, que surpresa! -- arregalou os olhos -- Masaa il-kheer! (Boa tarde!) -- cumprimentou sem saber o que fazer

 

--Fique à vontade, querida. -- sorriu simpática -- Você tá parecendo até um soldado recebendo um general! -- brincou

 

--É que... eu não esperava por isso. -- abaixou a cabeça encabulada -- Uma visita ilustre. -- sorriu

 

--Será que podemos conversar um pouco lá fora? -- propôs -- Na biblioteca do museu tem que haver silêncio, né? Sou professora e devo dar o exemplo! -- falou em tom brincalhão

 

--Aywah! (Sim!) -- concordou -- É só o tempo de arrumar os trem! -- começou a juntar suas coisas

 

--Te espero lá fora, no trailer do João. -- saiu

 

“O que será que a professora quer comigo?” -- pensava intrigada

 

***

 

--Então, professora, Khaled pegava o cavalo e lá íamos nós três montados no lombo do bicho, seguindo a boiada junto com os vaqueiros. -- contava saudosa -- Youssef ia espremido no meio de nós dois e ouvia cheio de atenção a minha narrativa sobre o que tava acontecendo. -- sorria -- Ele ficava imaginando as cenas, como por exemplo, dos anuns pretos, que pulavam de boi em boi, matando as moscas e comendo os bernes que elas deixavam no couro dos animais. -- mirou um ponto no infinito -- Os anuns voam desengonçados e têm um piado rouco que parece até buzina velha! -- achou graça -- A gente seguia a boiada até o final da trilha do pau d’arco e depois se despedia dos vaqueiros. -- lembrava -- Ya Vicente, o berranteiro do grupo, se despedia de nós soprando bem alto no berrante e acenando com o chapéu de couro. -- olhou para a mulher -- Nós adorávamos aquele som... -- ficou brincando com o guardanapo -- Daí voltávamos pra fazenda cavalgando e já cheios de saudades daqueles bois! Dava uma pena...

 

Daise ouvia com atenção. -- Sua tia ganhava dinheiro com a venda dos bois. Ela não podia ficar com todos eles. -- comentou

 

--Ana a’arfa... (Eu sei...) -- balançou a cabeça concordando -- Mas, era difícil pra nós... -- sorriu -- A gente também gostava muito quando o retireiro soltava os bezerrinhos pra mamar nas vacas depois da ordenha! -- lembrou -- Eles iam tudo correndo e mamavam com fé! -- riu como criança -- Era bonitinho!

 

--Que é um retireiro? -- não sabia

 

--O homem que faz a ordenha, uai! -- esclareceu -- Ele também separa o soro do leite pra dar pros porcos. -- explicava -- Mas Khaled era o melhor retireiro de todos! Ele chegava a tirar mais de cento e cinqüenta litros de leite em uma única manhã! -- falou orgulhosa

 

--Nossa! -- surpreendeu-se

 

--Youssef sabia trabalhar a palha de milho e fazia uns colchões macios por demais da conta! Ainda completava com paina pra ficar mais confortável! -- contava -- Ele trabalhava com os restos da colheita do milharal e com as painas que Khaled e eu catávamos perto do rio. -- continuava falando -- Chegou a vir gente das cidades mais próximas pra comprar os colchões de akhuuya (meu irmão)! E mais de uma vez!

 

--E qual era o seu talento? -- perguntou sorridente

 

--Uai... -- ficou envergonhada -- Eu não tinha um talento... -- passou a mão nos cabelos -- Labutava na lida de casa, trabalhava nos roçado, gostava de tentar consertar os trem escangalhado... mas nem sempre dava certo! -- Daise achou graça -- E no mais gostava de cantar nas roda de viola. -- olhou para a professora -- Quando os vaqueiros iam buscar o gado de camma Najla, eles chegavam na fazenda à noite pra partir logo de manhãzinha. -- contava -- Aí, antes de dormir, reunia todo mundo perto do curral, acendiam uma fogueira e começava a cantoria. Baba gostava de ouvir as modinha e deixava a gente participar também. -- pausou brevemente -- E eu cantava...

 

--Interessante! -- sorriu -- Então foi assim que você começou a ser cantora? -- debruçou-se sobre a mesa -- Cantando música sertaneja?

 

--Quisera... -- respondeu timidamente -- Era só passatempo de caipira...

 

--E quando você deixou a fazenda pra estudar na cidade? -- tinha interesse em saber

 

--Faz tempo que a gente deixou a fazenda de camma Najla, mas usritii (minha família) ainda mora na roça, só que em outro canto. -- respondeu simplesmente -- Saí de lá em 95 pra fazer curso de química em Gyn e desde então só volto pra visitar.

 

Examinava a jovem com atenção. -- Você e seus irmãos devem ser super unidos! -- comentou -- Eles devem morrer de saudades... Pelas coisas que me contou...

 

Desmanchou o sorriso lentamente. -- Youssef já se foi e Khaled... -- abaixou a cabeça -- Tenho andado longe da roça e não volto pra lá quando o ano acabar. -- pausou brevemente -- Nem sei porque disse essas coisas todas... -- comentou envergonhada -- Ya sayyida (A senhora) deve estar cansada de me ouvir tagarelando tanto!

 

--Eu vim te procurar exatamente porque desejava te conhecer melhor! -- afirmou de modo sedutor -- Fiquei impressionadíssima com a garota estrangeira, que canta maravilhosamente bem e aproveitou um show de rock improvisado pra falar de política com maestria. -- sorriu cheia de charme

 

“Uai!” -- pensou com estranheza -- "Será que a professora tá me assediando?” -- não acreditava

 

--Desde então saí perguntando a meio mundo quem seria Zinara Raed, até que descobri se tratar da melhor aluna do curso de astronomia. -- tocou suavemente uma das mãos dela -- Que tem 24 anos, trabalha dando aula em um cursinho pré vestibular e gasta boas horas no Museu da Astronomia, conforme pude comprovar há pouco. -- deslizava os dedos sobre a mão da moça -- Zinara Raed, nascida em Cedro e vinda do interior de Guaiás...

 

“Ave Maria, ela sabe de um tudo!” -- espantou-se -- E por que ya sayyida queria saber de mim? -- perguntou desconfiada

 

--Eu não sei o que seria esse ya sayyida, mas me chame de você. -- pediu melosa -- Afinal de contas, com meus cinqüenta anos eu até podia ser sua mãe, mas não sou... -- olhava nos olhos -- Não é?

 

--Laa! (Não!) -- respondeu receosa -- "Ela é bem jovem pra essa idade!” -- pensou -- "Por isso que o povo fala que negro quando pinta, três vezes trinta!” -- lembrava do dito popular

 

--Você disse que não vai pra roça no final do ano. -- acariciava a mão da outra -- O que vai fazer?

 

--Sei não... -- sentia-se nervosa com aquele assédio inesperado

 

--Talvez você e eu... -- reclinou-se mais sobre a mesinha -- pudéssemos ver o ano 2000 chegar... -- falava com voz hipnótica -- da janela de uma aconchegante casa de praia em Angra Régia... -- ofereceu

 

--Uai? -- não sabia o que dizer

 

--Na cama! -- afirmou de súbito

 

--Ave Maria! -- engoliu em seco

 

--Você não é uma caipirinha inexperiente, não é, Zinara? -- queria saber -- Tô te assustando?

 

“Eita boi!” -- pensou cheia de medo -- Chukran, kam as-saagha? (Obrigado, que horas são?) -- recolheu a mão e perguntou nervosamente -- Eeeu acho que... -- levantou-se desengonçada -- a maioria das meninas da República vai ficar na cidade e... -- procurava algum dinheiro dentro da mochila -- todo mundo vai ver o ano 2000... -- sacou um nota de cinco reales -- tudo junta... -- colocou sua parte da conta sobre a mesa -- Tenho que ir, professora. -- sentia as bochechas queimarem -- Tá tarde e... eu tenho que... -- pensava no que dizer -- buscar al ‘agala!

 

--Buscar quem? -- não entendeu

 

--Al ‘agala... -- colocou a mochila nas costas -- A bicicleta.

 

--Ah! -- achou graça

 

--Tchau! -- acenou brevemente -- Macasalaama! (Até logo!) -- saiu quase correndo

 

Daise acompanhou a jovem com o olhar e achou graça da timidez e da inocência dela.

 

***

 

--Puta que pariu, Zinara, não acredito!!! -- Valentina andava de um lado a outro -- Uma mulher daquela, gata, gostosa, interessante, classuda, estilosa, te convida pra passar o réveillon fundendo numa casa de praia em Angra Régia e tudo que você sabe dizer é Ave Maria?? -- perguntou indignada -- E ainda sai correndo como se fosse uma caipira brocoió?

 

--Mas eu sou uma caipira brocoió, uai! -- retrucou -- E fala baixo, min fadlik (por favor)! -- pediu -- Senão daqui a pouco vem todo mundo pro meu quarto e as meninas vão fazer simpósio sobre isso! -- gesticulou

 

--Aqui, você vai procurar por ela e vai aceitar o convite! -- falava olhando para a morena -- E vai passar a virada do ano comendo aquela gostosa! -- ordenou

 

--Você parece até que é tarada, aHHa! -- reclamou -- Só pensa nisso!

 

--Escuta aqui, -- segurou-a pelos ombros -- uma mulher daquela escolhe quem ela quer! Se ela te escolheu, cai dentro!

 

--Oxi! -- desvencilhou-se -- Você diz cada coisa que num dou conta! -- fez cara feia

 

--Pensa no que tô te falando! -- passou a mão nos cabelos -- Das garotas da República que não voltam pra casa no final do ano, vai todo mundo passar réveillon na praia. Você já disse que não quer ir porque os fogos te incomodam.

 

--Deus me livre! Odeio! -- fez um gesto -- Infijaraat... (Explosões...) -- sentiu a pele arrepiar -- Ralã! -- exclamou em desgosto

 

--Você também não vai pra roça, então a única opção decente é passar a data com Daise! -- considerou

 

--Mas eu mal conheço ela! -- argumentou -- Como é que vou passar fim de ano com uma pessoa nessas condições? -- cruzou os braços -- E já te disse que não sou mulher de nik nik (fazer sex*) sem base!

 

--Então conduz a coisa prum lado romântico, porr*! -- aconselhou -- Mas não passa a data sozinha, por favor! -- pediu com mais calma -- É muito triste e você não merece isso! -- segurou o rosto dela com as duas mãos -- Você é especial, Zinara! -- afirmou com carinho -- Não merece a solidão!

 

A morena ficou calada ouvindo.

 

--Por que não pode ter um pouco de carinho ao menos uma vez? -- perguntou olhando nos olhos -- Qual o problema? Professora Daise é uma pessoa conhecida, não é uma louca, assassina, vigarista! -- insistia -- É uma mulher interessante, cobiçada, inteligente... e escolheu você! -- pausou brevemente -- Você!

 

“Fiquei pensando naquelas palavras de Valentina, Kitaabii, mas não tive coragem de procurar a professora. No entanto, dias depois ela veio ao meu encontro e acabamos conversando sobre política e ciência. Percebi que ela começava a usar uma abordagem mais sutil e, na minha ingenuidade, pensei que era para me mostrar que suas intenções iam além de noites de prazer.

 

Acabamos passando o réveillon juntas, Kitaabii, mas nada aconteceu; sequer um beijo. Somente em fevereiro tivemos nossa primeira noite e me senti muito acolhida nos braços da professora. Hoje penso até que buscava nela um pouco de minha Shamash, mas foi uma ilusão. Em abril, Daise me dispensava com uma desculpa qualquer e nunca mais me dirigiu uma palavra. Sequer me olhava quando acontecia de nos encontrarmos por acaso em algum lugar.

 

Quando tudo acabou, me senti ainda pior, ainda mais rejeitada. Descobri que não somente os homens podem iludir e magoar... Mulheres também, Kitaabii... Mulheres também.

 

Valentina me deu colo em várias noites de tristeza e minha bicicleta seguiu comigo desvairada pelas ruas de São Sebastião. A Floresta Urbana ouviu meu desabafo mudo em muitas caminhadas solitárias e o mar verde azulado afogou em cada mergulho as palavras que nunca disse a ninguém.”

 

Clarice deu um suspiro profundo. “Também queria muito te dar um colo agora, minha caipirinha...” -- pensou com saudade -- "Mas você se habitou tanto a sofrer na solidão que não sabe mais fazer diferente...” -- derramou uma lágrima -- "Eu te perdôo, meu amor...”

 

***

 

--Alô. -- Jamila atendia o telefone

 

--Oi. -- respondeu desanimada -- É Aisha.

 

--Olá, Aisha! -- saudou a outra -- Tudo bem com você?

 

--Tudo indo, né, Jamila? Você deve estar sabendo da última de Zinara...

 

--Ah, sim. -- pausou brevemente -- Fiquei louca quando Claudia me falou e tô aperreada até agora!

 

--Eu tô te ligando por causa disso mesmo. -- justificou-se -- Será que o pessoal daquela ONG de Godwetrust não podia dar uma força pra gente? Aquele pessoal que te convidou pra trabalhar com eles?

 

--Como assim? -- não entendeu

 

--Será que não tem gente deles em Cedro? -- especulou -- Outras ONGs vinculadas a eles e com sede no país?

 

Entendeu a ideia da outra. -- Você diz, pedir pra que eles procurem por ela? -- sorriu -- É uma possibilidade!

 

--Eu sei que Zinara pode ter ido pra vários lugares, mas depois de conversar por longo tempo com maamii cheguei a uma conclusão: ela deve ter ido pras montanhas! -- afirmou resoluta -- Perdi as contas de quantas vezes aquela caipira me falou de sua paixão pelo Monte Cedro!

 

--É verdade, mulher! -- concordou -- Ela também me disse muitas vezes que amava a visão daquelas montanhas cobertas de neve no inverno e cheias de verde na primavera! -- balançava a cabeça positivamente -- Deve mesmo ter ido pra lá!

 

--A última caminhada...

 

--Se depender de mim, não será! -- afirmou resoluta -- "Por favor, Meretíssima, que não seja a última!” -- pediu mentalmente -- "Eu confio em Vossa Excelência!”

 

--Se Deus quiser! -- respondeu confiante

 

--Pode deixar que daqui a pouco procuro por eles e lanço o alerta! -- prometeu -- E aproveitando que você ligou, deixa eu te contar as últimas novidades do seu processo.

 

--Sim. -- queria saber

 

--Os advogados de Mike Ametista disseram que ele já se decidiu quanto ao que fazer, mas não me adiantaram nada mais que isso. -- contava -- Assim sendo, calculo que no comecinho de junho teremos uma resposta formal.

 

--E junho já tá quase aí... -- afirmou pensativa -- Ai, Jamila, espero que tenhamos um monte de boas notícias! -- desejou -- Que localizem nossa caipira e que a fazenda volte a ser nossa! -- pausou brevemente -- Sinceramente, sem aquela caipira safada que só faz merd*, a fazenda perde até a graça... -- resmungou contrariada

 

--Se Deus quiser a gente vai encontrar Zinara! -- respondeu de pronto -- E vocês vão recuperar essa bendita fazenda!

 

--Falando em Deus, doutora? -- brincou -- Agora você acredita?

 

--Foi um lapso. -- justificou-se desconcertada -- É que vocês falam tanto isso de graças a Deus que eu repeti sem pensar! -- disfarçava -- Acho que tô é ficando doida!

 

--Sei... -- achou graça

 

“A promessa está mantida, Meretíssima!” -- Jamila falava mentalmente -- "Se tudo der certo, irei advogar em nome do Supremo Tribunal Celestial!” -- prometia mais uma vez -- "E... quem sabe até eu comece a acreditar...”

 

***

 

--Eu achei sua defesa simplesmente maravilhosa! -- Clarice conversava com a doutora que havia acabado de aprovar -- O trabalho foi muito bem conduzido e bem escrito! -- elogiou

 

--Um elogio desses vindo da senhora... -- respondeu timidamente -- Fico até bocaberta!

 

--Me chame de você, por favor. -- pediu delicadamente -- Mas, eu não te convidei pra jantar comigo simplesmente pra te elogiar. -- cruzou as pernas -- Queria aproveitar que estamos conversando aqui pra te fazer uma proposta! -- sorriu -- Que acha de organizarmos um painel mundial sobre o clima pra 2016?

 

--Ôxe?! -- sorriu entusiasmada

 

--Seu trabalho, ao integrar astronomia e paleoceanografia no estudo do clima, acabou me parecendo uma espécie de elo entre tudo que o grupo da professora Zinara Raed e o meu desenvolvemos nos últimos anos sobre mudanças climáticas.

 

--Aliás, eu devo muito a professora Zinara! -- comentou -- Pena que ela tirou licença e não me deu tempo de convidar pra compor minha banca... -- lamentou -- Perdi até a chave...

 

“Perdeu a chave?” -- não entendeu -- Ela faz muita falta, mesmo... -- decidiu não ficar falando sobre a astrônoma -- Mas, como eu dizia, penso em montarmos um painel internacional, livre de quaisquer influências de patrocinadores tendenciosos, governos, empresas pseudo ecológicas e de toda essa gente que distorce a verdade dos fatos mantendo essa farsa de aquecimento global antropogênico!

 

--E em dois anos a gente podia conseguir verba pra bancar o evento sem precisar do dinheiro desse povo! -- concordou -- Ah, professora, que massa! -- sorria -- E se vier algum quexão querendo cabimento a gente diz: Se saia, héuris! -- gesticulou

 

 

“Hã?”-- continuava sem entender -- Deixei pra falar contigo em particular, porque senti o embaraço de sua orientadora diante de várias afirmações feitas por você...

 

--Quando comecei a tratar com professora Zinara, eu já tava enfastiada procurando jeito pra minha pesquisa! -- desabafou -- Os professores daqui têm muito medo e me diziam que eu tava procurando frete, ó mãe! -- gesticulou -- Se não fosse pela ação dela, continuava ouvindo o se assunte de uma renca de orientador! Foi por pouco que não fui estudar em Cidade Restinga! -- contava -- Dona Marleide me orientou por honra da firma!

 

“Ai, minha caipirinha, você parece que tá em todo lugar...” -- suspirou cheia de saudade -- Zinara tem o dom de mudar a vida dos outros... sempre pra melhor... -- pensou em voz alta

 

Isabel não prestou atenção no comentário. -- Se você tivesse convidado qualquer professor meu pra montar esse painel a resposta seria uma só: aooonde? -- revirou os olhos

 

Clarice não entendeu a gíria local. -- Mas e com você? Eu posso contar?

 

--Tá rebocado, piripicado! -- ergueu uma das mãos como em um juramento -- 2016, bora pru reggae! -- sorriu

 

“Acho que vou ter que comprar um dicionário pra me comunicar com essa criatura!” -- pensou intrigada -- "Doideira...”

 


CAPÍTULO 115 – Batendo na Porta do Céu

 

Zinara seguia seu rumo calmamente pelas encostas irregulares do Monte Cedro. Já estava sozinha há quase dez dias e sentia-se cada vez mais fraca à medida que a caminhada prosseguia. Seus mantimentos seriam suficientes para apenas mais dois ou três dias, mas ela não se importava. Na verdade, acreditava que a morte a surpreenderia durante algum nascer ou pôr de sol, gradualmente pintando de claro ou de escuro os traços do azul melancólico dos céus de Cedro.

 

Olhava para o mar a sua direita, avistando as gaivotas voando ao longe e os pequenos barcos de um povo que já foi conhecido como o senhor do Mar do Meio da Terra. O sol se despedia com seus raios alaranjados, lentamente beijando o mar e mudando as cores do horizonte com sua aquarela de tons infinitos. Respirou fundo para sentir o aroma fresco dos cedros que sobreviveram a tanta destruição e ignorância e apurou os ouvidos para perceber o som discreto das pequenas aves que se preparavam para se aninhar nos galhos generosos da árvore nacional.

 

“Vou seguir mais um pouco e daqui a duas horas paro pra acampar.” -- decidiu

 

Aproximando-se de uma subida puxada, a astrônoma se surpreendeu. -- Não tinha indicação de uma subida assim no mapa! -- conferia no papel -- Warana ay? (Que mais se pode fazer?) Tem que encarar, né? -- achou graça e decidiu continuar

 

Durante o percurso a professora sentiu bastante dificuldade e empreendeu grande esforço para vencer a barreira que parecia não ter fim. Ao contrário do que planejou, em duas horas ainda não estava em local adequado para pernoitar.

 

“Oh, Aba, que cansaço é esse que eu sinto agora?” -- pensou agoniada --Yaalah, Zinara! (Vamos, Zinara!) -- disse para si mesma com respiração ofegante -- Yaalah!

 

Quase às sete e meia da noite a morena finalmente conseguiu superar a subida, mas sentia que suas forças haviam chegado ao limite. Puxava o ar com dificuldade e não tinha coordenação para sequer reacender a lanterna de cabeça que lhe adornava a fronte. As pernas pareciam não mais lhe obedecer e a visão, obscurecida pela noite, era incapaz de discernir qualquer coisa.

 

Um tropeção e a morena caiu se protegendo com os antebraços. Sentiu que uma pedrinha arranhara seu joelho direito.

 

“Assim é morrer, Aba?” -- pensava -- "Será agora que meu espírito se liberta desse corpo cansado?” -- arrastava-se pelo chão como se estivesse entrincheirada -- Confio em Ti, Aba... -- libertou-se da mochila com dificuldade -- Ana hayati iw-doonyiti, wayya Allah... (Minha vida e meu mundo, estão com Deus...) -- parou de rastejar -- Leve de mim toda energia boa que possa haver, eu Lhe imploro, e derrame sobre Georgina, Aba, para que ela se cure... -- virou-se de barriga para cima -- Que ela se cure, sob Tua graça, e que Hassan não passe a infância longe de ommuh (mãe dele)... -- falava com sofreguidão

 

Em Terra de Santa Cruz, Georgina e Hassan oravam por Zinara ajoelhados diante da estátua da Sagrada Mãe. Não sabiam que Youssef e Khaled oravam junto com eles.

 

--Usritii (minha família)... -- a professora sentia uma sensação desconhecida e causticante -- Eu Lhe rogo, Aba... -- o coração batia acelerado -- Projeta maama, baba, Nagibe, Cid, Ahmed e todas as crianças, eu Lhe imploro... -- os lábios estavam secos -- Dora, Penha, Catiúcia...

 

A família de Zinara se concentrava em orações no centro de Agda. Amina, Raed e Najla entregavam suas preces a Deus em súplicas banhadas por lágrimas. Nagibe, Cid e Ahmed estavam de mãos dadas e olhos fechados. Oravam a sua maneira.

 

--Proteja camma Najla, Aisha, Janaína, Marco... -- o corpo tremia

 

Aisha e Janaína oravam em uma igreja de Gyn. Imploravam ajuda para sua amada caipira.

 

--Sahar... -- os olhos da morena marejaram -- Proteja Sahar, Aba... -- chorava -- ya Leda, usrithum (a família delas), todos eles... -- pausou brevemente -- Behebbik ya, Sahar...

 

Ao mesmo tempo, em inexplicável coincidência, Clarice e Leda oravam no centro espírita que frequentavam em São Sebastião.

 

--Ana tareeki iw-sikkiti, tareek Allah! (Meu caminho, minha direção é o caminho de Deus!) -- Zinara falava com voz rouca -- Proteja meus amigos, Aba... Jamila, al doktuur, minhas velhinhas...

 

Claudia rezava um terço na missa de domingo à tarde em companhia de Zezé e Ritinha. Em outro canto da cidade, Jamila olhava esperançosa para a imagem da Virgem, enquanto os idosos do asilo oravam pela caipira.

 

--Eu me entrego a Ti, Aba... -- fechou os olhos -- Eu me entrego a Ti... -- sentia-se tomada pelo cansaço

 

Uma brisa suave preencheu o ambiente e uma voz doce parecia emanar do fundo do bosque.

 

https://www.youtube.com/watch?v=4NVhBmzEaZI

 

“Mestre eu preciso de um milagre,


Transforma minha vida, meu estado...”

 

Uma caravana de Seres Iluminados rumava para o cume da montanha. Terra de Santa Cruz e Cedro enviavam alguns de seus filhos valorosos.

 

“Lázaro ouviu a Sua voz, quando aquela pedra removeu,


Depois de quatro dias ele reviveu...”

 

Os espíritos formaram um círculo ao redor da astrônoma e as energias do centro de Agda e todas as orações somaram-se naquele momento.

 

“Mestre não há outro que possa fazer,


Aquilo que só o Teu nome tem todo poder,


Eu preciso tanto de um milagre...”

 

A professora sentia uma estranha energia renovando-lhe a alma.

 

“Remove minha pedra,


Me chama pelo nome...”

 

--Zinara! -- uma voz de mulher se fez ouvir

 

“Estarei enlouquecendo?” -- pensou ao abrir os olhos -- Ar-rabiic?

 

“Muda minha história,


Ressuscita os meus sonhos...”

 

--Venha, ya habibi! -- um ancião chamou com carinho

 

“Transforma minha vida,


Me faz um milagre...”

 

--Giddu? -- surpreendeu-se com a luz que resplandecia diante de si

 

“Me toca nessa hora,


Me chama para fora...”

 

--As-Salamu Alaikum, Yatamanna! (Que a paz esteja convosco, Esperança!) -- Selima saudou-a sorrindo

 

"Ressuscita-me...”

 

--Gidda! -- lágrimas de felicidade banhavam-lhe o rosto

 

“Mestre eu preciso de um milagre,


Transforma minha vida, meu estado...”

 

--Estamos aqui por você, ya habibi! -- Farida exclamou carinhosa -- Usritik (Sua família) veio apenas por você. -- sorria

 

--Smallah! -- exclamou emocionada ao perceber que parentes e amigos mortos na guerra de Cedro estavam ali, esperando por ela

 

“Lázaro ouviu a Sua voz,


Quando aquela pedra removeu,


Depois de quatro dias ele reviveu...”

 

Levantou-se lentamente. -- Que honra... -- sentia-se imensamente grata -- Usritii veio me buscar... -- reconheceu outras pessoas queridas que passaram por sua vida -- E tantos amigos amados...

 

“Mestre não há outro que possa fazer,


Aquilo que só o Teu nome tem todo poder,


Eu preciso tanto de um milagre...”

 

--Não viemos buscá-la! -- Zahirah respondeu ao se aproximar

 

“Remove minha pedra...”

 

--Choo? (O que?) -- não entendeu

 

“Me chama pelo nome...”

 

--Você fica, habibi! -- Farida se aproximou também

 

“Muda minha história...”

 

--Yatamanna não pode morrer. -- Selima respondeu sorrindo

 

“Ressuscita os meus sonhos...”

 

--Não percam tempo comigo, eu rogo humildemente! -- pediu postando as mãos -- Curem Georgina, sob as bênçãos de Allah! -- implorou chorando -- Ela tem um awlaad (criança)!

 

“Transforma minha vida,


Me faz um milagre...”

 

--Macleech, Zinara! (Não se preocupe, Zinara!) -- Sanya tranqüilizou-a -- Allah não se esquece de seus filhos!

 

“Me toca nessa hora,


Me chama para fora...”

 

--Feche os olhos, ya gamil. -- Ibrahim pediu delicadamente -- E pensa apenas em viver!

 

“Ressuscita-me...”

 

“Oh, Aba, mereço tamanha graça?” -- a morena pensava emocionada

 

“Tu és a própria vida,


A força que há em mim...”

 

Com a permissão de Allah, os desencarnados derramavam suas bênçãos de Luz sobre a astrônoma, que se ajoelhou humildemente em reverência.

 

“Tu és o Filho de Deus,


Que me ergues pra vencer...”

 

As células cancerosas eram destruídas uma a uma.

 

“Senhor de tudo em mim,


Já ouço a Tua voz...”

 

Tecidos debilitados recebiam o influxo de poderosas energias.

 

“Me chamando pra viver,


Uma história de poder!”

 

Órgãos combalidos pela dor eram tonificados sob as bênçãos de Allah.

 

“Remove minha pedra,


Me chama pelo nome...”

 

O amor salvava mais uma vida.

 

“Muda minha história,


Ressuscita os meus sonhos...”

 

--Tudo vai dar certo... -- Youssef mentalizava a irmã à quilômetros de distância -- Confia em Allah e segue firme, Yatamanna...

 

“Transforma minha vida,


Me faz um milagre...”

 

--Behebbik ya, ukhtii! (Eu te amo, minha irmã!) -- Khaled mentalizava também -- Quisera pudesse te ver agora em Cedro!

 

“Me toca nessa hora, Senhor,


Me chama para fora...”

 

--Youssef! -- Zinara sentiu os irmãos mesmo sem vê-los -- Khaled... -- sorria

 

“Remove minha pedra...”

 

Longe dali, o vírus da AIDS perdia uma batalha.

 

“Me chama pelo nome...”

 

“Meu moreno?” -- Georgina pensou sentindo a pele arrepiar -- "Que é issu que eu tô sintindu?”

 

“Muda minha história,


Ressuscita os meus sonhos...”

 

--Behebbik ya, habibi... Behebbik ya, awlaadii... (Eu te amo, querida... Eu te amo, meu filho...) -- Khaled soprava flores para os dois

 

“Transforma minha vida, Senhor,


Me faz um milagre...”

 

--Pur que tá chorandu, meu fio? -- Georgina perguntou chorando também

 

“Me toca nessa hora,


Me chama para fora...”

 

--Felicidade, mãínha... -- olhou para ela -- Felicidade...

 

“Ressuscita-me...”

 

--Elas vão curar, Youssef? -- Khaled perguntou esperançoso

 

--Confia. -- respondeu calmamente -- Confia...

 

“Ressuscita-me...”

 

--Volte para casa, Yatamanna! -- Zahirah lhe falava mansamente -- Você precisa de cuidados... -- sorriu -- A guerra acabou!

 

“Ressuscita-me...”

 

--Ar-rabiic... -- o coração parecia a ponto de explodir

 

“Ressuscita-me...”

 

--Vá, Zinara, retorne à pátria que te acolheu! -- Farida falou -- É hora de amanhecer...

 

“Ressuscita-me...”


Aline Barros - Ressuscita-me [c]

 

(Nota da autora: com todo respeito, uma das músicas mais intensas e maravilhosas que ouvi neste país)

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Músicas do Capítulo:

 

[a] Adaptação de Palestine Will Be Free. Intérprete e Compositor: Maher Zain. In: Thank You Allah. Intérprete: Maher Zain. Worldwide, 2011. 1 CD, faixa 4 (4min53)

[b] Adaptação de O Tempo Não Para. Intérprete: Cazuza. Compositores: Cazuza / Arnaldo Brandão. In: O Tempo Não Para. Intérprete: Cazuza. Phillips, 1988. 1 disco vinil, lado B, faixa 1 (4min37)

[c] Ressuscita-me. Intérprete: Aline Barros. Compositores: Anderson Freire. In: Extraordinário Amor de Deus. Intérprete: Aline Barros. MK Music, 2011. 1 CD, faixa 2 (5min43)

 


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Comentários para 28 - SAHAR (AMANHECER):
Samirao
Samirao

Em: 10/10/2023

Esse aí é o CAPS! THE CAPS!


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Também amo! Não deveria dizer isso, mas é verdade!


Responder

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Alexape
Alexape

Em: 01/01/2023

Isso não foi um capítulo! Isso é uma cena de filme das mais lindas! Chorei muito!!! E que 2023 venha assim pra nós ressuscitar! Você é simplesmente FODA!!!


Resposta do autor:

Beijos e agradecimentos em duplicata!

Sol

PS: volte para comentar o que faltou! rs

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Alexape
Alexape

Em: 01/01/2023

Isso não foi um capítulo! Isso é uma cena de filme das mais lindas! Chorei muito!!! E que 2023 venha assim pra nós ressuscitar! Você é simplesmente FODA!!!


Resposta do autor:

Olá querida,

Um dos meus capítulos preferidos! rs

Obrigada por tudo que escreveu. É importante para mim.

Se Deus quiser!! Ressuscitar! Quem não precisa?

Obrigada pelos elogios.

Beijos,

Sol

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Seyyed
Seyyed

Em: 21/09/2022

Tive medo enrolei um pouco e dei de cara com uma experiência que me fez chorar pra cararra! LINDO!! Tu é foda até de trilha sonora já falei isso??

PUTA QUE PARIU! QUE CAPÍTULO!@!


Resposta do autor:

Obrigada!!!!!!!!!!!!!

Não tenho nem o que dizer. Apenas te destaco que escrevi esse capítulo com muito sentimento. Digamos que uma dose extra. rs

Beijos,

Sol

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Seyyed
Seyyed

Em: 21/09/2022

Clarice já faz o maior drama sem motivo. Agora que tem motivo a sapinha vai surtar! E o jeitos dela dar a notícia puta merda haja coração. O sumiço da Zi abalou geral de norte a sul. Só faz merda a doktur que o diga hehe Ir fazer caminhada num país com guerra? Tu iria diz? Jamila tá até se convertendo né? E essa fazenda eu acho que tá no papo. Parei em Batendo na Porta do Céu. Eu achava que tu não teria coragem de nadar a Zi mas tô com medo. Tu é bem capaz de deixar ela daqui pra frente como fantasminha camarada 


Resposta do autor:

Saiu duplicado.

Observei que até uma resposta que eu te escrevi saiu repetido também. Trem doido! rs

Beijos,

Sol

Responder

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Seyyed
Seyyed

Em: 21/09/2022

Clarice já faz o maior drama sem motivo. Agora que tem motivo a sapinha vai surtar! E o jeitos dela dar a notícia puta merda haja coração. O sumiço da Zi abalou geral de norte a sul. Só faz merda a doktur que o diga hehe Ir fazer caminhada num país com guerra? Tu iria diz? Jamila tá até se convertendo né? E essa fazenda eu acho que tá no papo. Parei em Batendo na Porta do Céu. Eu achava que tu não teria coragem de nadar a Zi mas tô com medo. Tu é bem capaz de deixar ela daqui pra frente como fantasminha camarada 


Resposta do autor:

Clarice esperava e não esperava pelo que Zinara fez. Ela se sentiu traída e abandonada depois de ter se entregado tanto. É compreensível, completamente.

É, o sumiço da caipira sacudiu Terra de Santa Cruz! rs

Se eu iria? No lugar dela? Não sei, creio que não. Mas eu sou meio louca também, então, não posso garantir. rs

Fantasminha camarada kkkkkkkkk Você me diverte!

Continue lendo!

Beijos,

Sol

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Zaha
Zaha

Em: 18/01/2018

Meu capítulo favorito do Tao!!!

Amo Cedro..me representa muito!!

Muito forte.... chorei tanto a primeira vez que li, dessa vez n choro pq se deixo...mas tá um reboliço danado no peito, no estômago.  MT lindo o final!!!

É isso... tô lendo td doido, tudinho misturado !!!Porra louca mesmo

Beijocas e banho de luz pra vc!


Resposta do autor:

Você já experimentou ler e ouvir as músicas ao mesmo tempo, quando existe esta junção?

Eu adoro isso! Escrevo, penso na música, coloco e depois leio e ouço. Não é coisa de megalômana, mas porque acho que a música traduz muito.

Luz Divina para você sempre!

Responder

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Gabi2020
Gabi2020

Em: 20/05/2020

Olá Sol!

 

Deixou todo mundo de coração partido com o sumiço de Zinara. Triste pra caramba! Dona Leda soube dar o suporte que a Clarice precisava, agora as duas tranqueiras... Sem comentários.

E coube à Clarice avisar a família...

Acho que nem Zinara imaginava que fosse tão querida, ô caipira safada, vontade de arrebentar ela na porrada!

 

Cátia finalmente encontrando seu caminho,  muito bom e de fato, Lídia é um amorzinho.

 

Zinara lá no campo de refugiados, onde está o juízo dessa criatura? Ok tudo tem um propósito, mas tá louco viu?

 

“Não temos o que merecemos, mas o que precisamos...”

 

“-Não dá pra ficar zangada com a caipira...” Hummm...

 

Zinara cantora foi impagável! Kkkkkk...

 

Essas cenas de Zinara à beira da morte,  intercalando com as pessoas orando por ela é muito tocante e esse música da Aline Barros é linda. Acho que já te falei  isso,  tem um documentário de  2013 falando sobre o bi campeonato olímpica da seleção de vôlei e as jogadoras contam que essa música (tocada de forma despretensiosa), foi  fundamental para a retomada das meninas no campeonato (vinham de 2 derrotas e estava prestes a serem eliminadas na primeira fase).  Muito bom o documentário e toda a história por trás da medalha de ouro.

 

Beijos querida!

 

Ps. Se pudesse daria nota mil, um dos meus capítulos preferidos.

 

 


Resposta do autor:

Gabinha, minha amiguinha fofinha!

Clarice ficou muito triste e chateada com razão. Zinara não deveria ter partido como fez, mas a caipira não teve coragem de se despedir cara a cara com seu amanhecer. Senão seria noite.

Ya Leda ampara suas três meninas muito bem, mas quando abusam é chinelada no rabo! kkk

Zinara sonhava em ser cantora. Então como sonhou em ser professora também e seguiu por este caminho, ela canta sempre que pode. E o povo até que gosta, viu?

Você falou deste documentário, lembro bem. E em relação à música, acho que é lindíssima e muito bem interpretada pela Aline Barros.

"Ps. Se pudesse daria nota mil, um dos meus capítulos preferidos" - Obrigada!!!

Agora me lembrei, não tem necessariamente a ver com o assunto, mas assisti o filme More Beautiful for Having Been Broken. Muito bonitinho! Recomendo (se é que você não viu).

 

Beijos,

Sol

Responder

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FoxyLady
FoxyLady

Em: 23/01/2018

Saio da moita só pra registrar que mais uma vez chorei ao ler...  Obrigada!


Resposta do autor:

Se te faz bem, agradeço muito que me deixe saber. Obrigada você também!

Responder

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Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 18/01/2018

Meu capítulo favorito do Tao!!!

Amo Cedro..me representa muito!!

Muito forte.... chorei tanto a primeira vez que li, dessa vez n choro pq se deixo...mas tá um reboliço danado no peito, no estômago.  MT lindo o final!!!

É isso... tô lendo td doido, tudinho misturado !!!Porra louca mesmo

Beijocas e banho de luz pra vc!


Resposta do autor:

Você já experimentou ler e ouvir as músicas ao mesmo tempo, quando existe esta junção?

Eu adoro isso! Escrevo, penso na música, coloco e depois leio e ouço. Não é coisa de megalômana, mas porque acho que a música traduz muito.

Luz Divina para você sempre!

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