IBN AL-AKH - SOBRINHO
CAPÍTULO 89 – Os Dias Seguintes
--Ai, Amina, foi tão lindo, tão especial... -- Najla conversava ao telefone com a cunhada -- Eu nunca tinha experimentado daquele jeito... -- não sabia como se explicar -- Com Cezário era diferente, não tinha tanto sentimento... -- suspirou -- Tô feliz por demais da conta! -- sorriu
“Eita, que a curnicha piou foi muito!” -- Amina pensou divertida -- Ficu filiz pur ocê, muié! -- sorriu também -- Marco é um homi bão e ocês hão di dá certu, inshallah (se Deus quiser)! -- desejou
--Inshallah! -- olhou para cima pedindo a Deus
--E cadê eli agora? -- perguntou intrigada -- Fazendu o que?
--Tá na casa dele, uai. Sei lá o que faz a essa hora! -- respondeu de pronto -- Mas vamos nos encontrar amanhã! -- comentou animada
--Hum... -- achava estranho -- E ondi tava Aisha e Janaína quandu acunticeu essis trem tudu?
--Foram trabalhar numa festa de criança e só voltaram no dia seguinte. -- lembrava -- Marco e eu acordamos cedo e logo pedi pra ele ir embora porque não queria que elas nos vissem juntos... Não naquelas circunstâncias, sabe? -- ajeitou o lenço na cabeça -- Mas claro que quando Aisha botou os pés dentro de casa já foi me crivando de perguntas! -- achava graça -- Ela e Janaína armaram pra gente ficar junto e queriam saber se deu certo ou não. Agora não tô dando conta do fogo de bintii (minha filha). Parece até que foi com ela! -- riu
--E quandu qui ocês casa? -- queria saber
--Ma hatha?! (O que é isso?!) -- levou um susto e riu -- Calma, criatura! Casar é coisa séria e complicada, não pode ser assim! Vamos vivendo um dia de cada vez. -- sentou-se no sofá -- Não tenho pressa pra nada.
“Najla tá muderna!” -- pensou -- "Fez us trem e num qué casá...” -- coçou a cabeça -- Bão... di sua vida é ocê qui sabi, num é mes? -- balançou a cabeça positivamente -- Seji comu fô, tô filiz pur ocê e deseju qui dê tudu muitu certu! -- falava com sinceridade
--Obrigada, habibi! -- agradeceu -- Saiba que você é como uma irmã pra mim! Ukhtii, ya habibi... (Minha irmã, minha querida...) -- também estava sendo sincera -- Agora me fale de Zinara. Estou sem notícias e queria saber...
--Ela mais Clarice fôru falá cum Viegas só qui num deu muito certu, num sabi? -- contava -- Intão dipois fôru vê o homi di novu e daí sumiru. -- contava -- Eu discunfiu qui Zinara passô mar ô sei lá o qui hovi, mas arguma coisa acunticeu!
--Não pensa isso, Amina! -- não queria aceitar a hipótese -- Zinara deve ter se emocionado muito com isso tudo e tá tirando um tempo pra se recompor. -- afirmou convicta -- Vamos orar por ela e aguardar. Daqui a pouco as duas voltam pra roça!
--O pessoar du terrêru di mãe Agda tem oradu pur ela também. Tenhu fé!
--Amina, ocê tá falandu cum Najla? -- Raed se aproximava curioso -- Cumé qui ela tá? Quandu é qui ela vorta? E o homi créu? Num mi diga qui aqueli pesti vai na casa di Aisha todu dia modi í atrás di minha irmã? -- perguntou falando rápido e de cara feia -- Fala, muié! Num queru sabê di homi créu fuçandu atráis dela!
--Humpf! -- fez um bico -- "Si ocê sobessi qui o homi créu já fuçô atráis, na frenti e im todu cantu...” -- pensou com vontade de rir -- "E Najla também já fuçô foi tudu e cum muito gostu!” -- fingiu que não ouviu e voltou a falar com a cunhada -- Ói, muié, vô disligá purque Raed já chegô aqui modi mi azucriná o juizu, num sabi?
--AHHa! -- o homem reclamou
Riu gostosamente. -- Ai, ai, que ciumento... -- sorriu -- Manda um beijo pra ele, habibi! -- preparou-se para desligar -- Fiquem com Deus! Macasalaama! (Até logo!)
--Macasalaama! -- desligou e olhou para o marido -- Ela tá bem, num perguntei quandu vorta e o homi créu num faz farta na casa di Aisha! -- respondeu decidida -- Agora dêxi eu í purque ya Leda mi ispera modi nóis jogá Crandi Cruchiu! -- deu tchauzinho e partiu
--Ôxi! -- resmungou contrariado -- O homi créu num faiz farta lá? -- alarmou-se -- Será qui o safadu já si aproveitô di minha irmã?? -- arregalou os olhos -- Oh, Aba, mi dá uma gastura...
***
--Gente, mas eu tô super emocionada com isso, Jamila! -- Leonor exclamava enquanto prestava atenção na irmã arrumando as bagagens -- Você tirando uma de palestrante convidada na Saxônia! -- sorria -- Coisa chique, mulher! Vou postar esse fuxico no LivrodasFuça pra todo mundo ficar sabendo! -- gesticulou
--Não exagera, tá, minha irmã? -- achava graça -- É só uma palestra!
--Que é isso, criatura, enxerga o que tá acontecendo! -- saltou da cama e começou a andar em círculos pelo apartamento da advogada -- Primeiro você virou manchete na época do escândalo de Scowben, aí bombou no caso Hamatsu, recebeu convite de ONG pra lutar contra a invasão de Suriyyah e agora essa coisa de ir palestrar numa das organizações humanitárias mais conhecidas da Saxônia! -- quase pulava -- Isso é tão massa que nem sei! Você virou celebridade! -- sorria para a outra
--Menos, Leonor, menos... -- riu e balançou a cabeça -- Tô bem longe de ser celebridade!
--Tá longe nada! Você é sim! -- discordou -- E você além de tudo é gata! Aí juntou a fome com a vontade de comer!
--Ai, ai... -- continuava rindo -- Olha, deixa eu te situar na realidade pra você não ficar aí soltando foguete por muito tempo. -- continuava arrumando suas coisas -- A repercussão das denúncias de Scowben ainda me protege, mas vem aí outra etapa tumultuada na minha vida!
--Ôô... -- paralisou preocupada -- O que vem por aí, hein, Jamila? -- perguntou cruzando os braços
--Eu preparei um dossiê cheio de denúncias de arrepiar os cabelos e apresentei ao Ministério Público ontem. -- revelou -- Tive o apoio de colegas do escritório mas sou a relatora principal. -- olhou para a irmã -- Vou comentar sobre isso durante a palestra e com certeza o assunto vai render!
--E ainda tem a história de você querer tirar a tal da fazenda do Ametista... -- fazia cara feia
--Fazenda que nunca deveria ter sido dele, diga-se de passagem! -- retrucou enfaticamente -- Quando voltar de viagem vou me reunir com a família do Ramalho, Aisha e a mãe dela e com base no que ficar sabendo vou compor minha proposta pra fazer o Ametista pensar... -- falava de seus planos -- Com a repercussão que gira e ainda vai girar em torno do meu nome, duvido que o empresário não se sinta, no mínimo, balançado... -- sorria
--Francamente, mulher, você agora só quer viver perigosamente, vou te contar! Parece até que quer se matar!
--Do contrário! -- fechou a mala -- Nunca me senti tão viva quanto me sinto hoje!
--Nem namorada você arruma! -- objetou -- Sei não, Jamila, você mudou!
--A gente tem que andar pra frente e é isso que tô tentando fazer. -- passou a mão nos cabelos -- Quanto à namorada... no momento certo a pessoa especial há de aparecer.
--Abre o olho, é só o que te digo! -- aconselhou -- E tem mais: -- gesticulou -- se o mercado lésbico tiver tão complicado como tá o mercado hetero, você vai amargar uma longa espera! Só tem bomba por aí...
--Wana amil eh? (Fazer o que?) -- piscou para a outra
***
--Alô? -- Cátia atendia um número de telefone desconhecido
--Oi, amor! -- respondeu melosa -- Tô ligando pra saber como você tá...
--Magali! -- animou-se -- Nossa, eu tenho pensando tanto em você... -- afirmou com sinceridade -- Como vão as coisas? Ainda falta muito pra você voltar? -- perguntou ansiosa
Achou graça. -- Vou bem, querida. E falta pra voltar o tanto que sobra de férias pra mim. -- sorria -- No mais tenho me divertido muito e sempre na maior inocência. -- garantiu -- Espero que esteja se comportando bem por aí!
--Ah... -- não sabia o que responder -- Você não me disse quando volta. -- mudou o foco da conversa
--Você sabe, já tinha te dito. Volto no final das minhas férias.
Deu um suspiro profundo. -- Quando você voltar... -- pensava em como dizer -- A gente tem que... -- não conseguia falar
--Fazer muito amor pra compensar a saudade! -- completou achando que sabia o que a namorada diria
--É isso mesmo... -- não teve coragem de falar a verdade -- "Como dizer que a gente precisa conversar sobre nós? Sobre minha vida dupla?” -- pensava
--Olha, meu bem, liguei rapidinho só pra ouvir sua voz bonita mas agora tenho que desligar. -- lamentou -- Depois eu ligo de novo. Talvez amanhã.
--Tá bom... Fico esperando. -- pausou brevemente -- Se cuida, querida! E aproveite a viagem.
Magali estranhou a docilidade da outra. -- Você também. -- pausou brevemente -- Tchau! -- desligou o telefone -- O que será que houve que ela tava tão mansa? Não reclamou de nada, não me mandou ficar comportada... -- questionava-se -- Tem caroço nesse angu... -- desconfiou
***
--Cátia? -- atendeu empolgada -- Oi, meu amor, como vai? -- sorria
--Pensando muito em você... -- falava a verdade -- Eu não vejo a hora de você voltar pra gente poder... -- não conseguia dizer
--Matar a saudade na cama? -- falou baixo e deu uma risadinha -- Safada! Sei bem que é no que tá pensando... -- respondeu dengosa
--É, eu penso nisso... -- concordou -- "Eu nunca consigo introduzir o assunto!” -- lamentou em pensamento
--Não posso conversar muito agora porque ainda tô no curso. De noite eu ligo, tá bom?
--Tá... -- sentou-se no sofá -- Eu espero...
--Até logo mais, benzinho! -- mandou um beijo -- Tchau! -- desligou -- "Engraçado, ela tava estranha...” -- pensou -- "Não reclamou, não me fez perguntas... parecia até um pouco desanimada...” -- intrigava-se -- "Tem alguma coisa estranha no ar...”
***
Clarice e Zinara entravam em um quarto de hotel.
--A gente não precisava fazer essa parada em Gyn antes de ir pra roça. -- a astrônoma ponderava -- Já tá tudo bem comigo e é como digo sempre: -- deixou as malas sobre o sofá cama -- caipiras rodopeiam mais num freiam! -- brincou
--Você passou muito mal em Coriteba, meu amor. -- aproximou-se da namorada -- A viagem pra roça é cansativa e era bom descansar um pouco. -- envolveu o pescoço da outra com os braços -- Sem contar que eu queria um pouco de privacidade com você... -- beijou-a
--É claro que amo ter privacidade com você, Sahar, mas sei que a razão principal pra essa quebrada aqui é sua preocupação comigo. -- acariciava o rosto da amante -- Não me agrada saber que te sou motivo de angústia, tampouco saber que tá gastando dinheiro por minha causa. -- retrucou -- Ala halik (Cuide-se), não se incomode comigo... -- pediu com certa tristeza -- Macleech! (Não se preocupe!)
A paleoceanógrafa estranhou o que ouviu. -- Acho que a gente tem que conversar... -- olhava para a morena -- Vamos tomar um banho, fazer um jantar leve no restaurante do hotel e aí voltar pra cá e ficar deitadinha na cama com o ar condicionado ligado. -- propôs -- Acho que aconteceu muita coisa em Coriteba e... temos que conversar!
--Tudo bem... -- desvencilhou-se da mulher com cuidado e foi abrir a mala -- Pode tomar banho primeiro, se quiser.
Novamente estranhou. -- Pensei que você quisesse vir comigo... -- respondeu mal disfarçando a decepção
A morena percebeu e ficou sem graça. -- Hoje não, Sahar. -- não tinha coragem de encarar a outra -- Hoje não...
Clarice passou a mão nos cabelos e foi abrir sua mala também. -- Se quer assim... -- escolheu as roupas que iria usar -- vou na frente. -- seguiu para o banheiro e fechou a porta
Zinara encostou-se na parede e fechou os olhos. “Queria tanto que as coisas fossem diferentes...” -- pensou em lamentação -- "Ya wail... (Que pena...)”
***
Deitadas de lado na cama de casal, Zinara e Clarice olhavam uma para outra. Estavam em silêncio desde que voltaram para o quarto e não se tocavam.
--Não quer me dizer o que tá acontecendo, meu bem? -- perguntou carinhosamente -- Desde a última visita a Viegas você ficou tão diferente, tão distante...
--Tenho pensado... -- pausou brevemente -- Mesmo passando mal a cabeça não desliga... e eu penso... -- abraçou um travesseiro
--E no que tem pensado, especificamente? -- perguntou receosa -- Até onde esses pensamentos envolvem você e eu?
Gastou uns segundos calada antes de responder. -- Sabe... antes de morar com Shamash, morei no centro espírita, lissa faker (você lembra)? -- Clarice confirmou balançando a cabeça -- Desde a época do centro ela pagava pra eu fazer análise e fez isso até seus últimos momentos de lucidez. -- pausou brevemente -- Depois que ela morreu, eu não tive condições de continuar o tratamento porque não tinha dinheiro e também porque fui morar em São Sebastião por causa da faculdade. -- olhava para a outra -- Só retomei as análises muitos anos depois, quando fui morar em Cidade Restinga, e parei em 2011, porque a psicóloga foi fazer doutorado no exterior.
Não entendia porque Zinara estava lhe contando aquilo, mas ouvia com atenção.
--Eu pensava que ficaria livre das bombas pra sempre, mas elas voltaram. -- passou a mão nos cabelos -- Não é tão forte quanto no passado, mas quando acontece alguma coisa que me machuca muito elas ainda explodem. E ainda ouço os gritos, sinto o cheiro de sangue e tenho vontade de correr, de fugir pra bem longe...
--É o que está fazendo? -- interrompeu-a gentilmente -- Está fugindo de mim? -- perguntou de súbito
--Você ficou assustada comigo nas duas vezes em que visitamos Viegas. -- não respondeu a pergunta -- Especialmente nessa última vez.
--Fiquei sim. -- assumiu -- Mas entendi o porque de suas reações. E também lamentei demais pelas coisas que vocês todos passaram. -- segurou uma das mãos da morena -- Mas não por isso quero que fuja de mim! Do contrário...
Recolheu a mão lentamente. -- Eu não sou uma pessoa normal, Sahar! -- afirmou enfaticamente
--Pára com isso, Zinara! -- sentou-se na cama -- Não diz isso! -- pediu
--Eu minto? -- sentou-se também -- Olhe pra mim, Sahar! -- abriu os braços -- Olhe pra essa mulher que é quase pele e osso, tem um braço todo calambiado, a pele queimada por um ‘bronzeado’ que vem de dentro, vira e mexe passa mal e tem a alma cheia de traumas e neuroses! -- abaixou os braços -- Veja a realidade diante de você! -- pediu com tristeza -- Pense no desgaste físico e emocional que é estar ao meu lado... -- pausou brevemente -- Eu vou procurar ibn al-akhii (meu sobrinho), cujo nome ainda nem sei qual é, e certamente não viverei muito depois de encontrá-lo. -- levantou-se da cama -- Isso se tiver tempo de encontrá-lo...
--O que é que tá acontecendo, Zinara? -- levantou-se e foi até ela -- Você andava tão bem, tão confiante, por que de repente se entregou a essa tristeza e ficou tão desanimada? -- não entendia -- Eu sei que Viegas disse coisas que mexeram muito com você, mas não há razão pra se deprimir assim! -- segurou-a delicadamente pelos braços -- E se pensar de outro modo, verá que recebemos uma notícia ótima: Khaled tem um filho! -- sorriu -- Ele deixou um pedacinho de si pra vocês! -- tentava reanimá-la -- Apesar da revolta que se sente em saber das coisas que Viegas fez, pelo menos podemos dizer que graças a ele Khaled pôde realizar um sonho: ter um filho com a mulher que amava!
“Como Clarice podia ter a incrível capacidade de ver as coisas com um olhar tão belo, Kitaabii? Como podia estar sempre amanhecendo e irradiando luz em todas as direções? Como podia ser capaz de iluminar minha escuridão com tanta facilidade?
Não, Kitaabii, eu não mereço esta mulher...”
--Sho ibhibik lamma ibtihki... tirsom ‘aashafik ildhihkai! (Eu amo tanto quando você fala... desenha um sorriso em seus lábios!) -- afirmou com intensidade
Sorriu melosa. -- Não venha me derreter falando assim comigo! -- segurou as mãos dela -- Temos um problema aqui e eu quero resolver!
--Eu sou o problema, Sahar! -- desvencilhou-se dela e foi até a janela parando de costas para a amada -- Não tem solução... -- respirou fundo -- Eu mesma fiquei assustada comigo naquele hospício infeliz! -- confessou -- Lembrei de muitas coisas que me forcei a esquecer e não me perdoo. -- virou-se de frente e encostou na parede -- Não perdoo Viegas e nem sei se perdoo baba, embora estivesse me dispondo a isso... -- cruzou os braços e olhou para o chão -- Também caí em mim e vi que não melhorei da doença... -- pausou brevemente -- Não mereço você, Sahar... -- olhou para ela com olhos marejados -- E nem você merece investir numa relação que mais suga do que doa!
Sentiu uma dor no peito. -- Não tome decisões por nós duas! -- olhava nos olhos -- Se não me quer mais na sua vida, que seja por não me amar, mas não por achar que sabe o que é melhor pra mim! -- afirmou com firmeza
--Não te amar?? -- aproximou-se da outra -- --Enti ibta’araif ana sho ibhibik iw adaish ghaali ‘aalayyi (Você sabe o quanto eu te amo e quão preciosa você é para mim!) -- afirmou com emoção -- Behebbik ya, Sahar! Yoom, bukra widayman! (Eu te amo, Amanhecer! Hoje, amanhã e sempre!)
--Então pára com isso, por favor! -- segurou-a pela blusa -- Não se afasta de mim, não decide o que é melhor pra mim! -- pedia agoniada -- Não faça coisas pra se arrepender depois! Não crie mais razões pra sofrer e veja VOCÊ a realidade!
--E qual é a realidade que não vejo? -- perguntou sem entender -- Diga, heek la a’ref (porque eu não sei)!
--Você não é uma alma escura! Você não abandonou Khaled! Você não tem culpa do que aconteceu com ele e nem seu pai tem! -- falou de uma vez só -- Tire esse sofrimento do seu peito e pare de se ver como uma pessoa mesquinha e pequena, porque você não é! -- emocionou-se -- Em toda minha vida ainda não conheci ninguém com sua força e grandeza!
--Grandeza? Força? -- achou graça e desvencilhou-se mais uma vez -- Sahar, você vê apenas parte de quem sou! -- argumentou -- Naquela época, eu havia me tornado uma jovem arrogante e um tanto segura de si, apesar de tudo! -- confessava -- Era a melhor aluna do colégio e tinha o amor de uma mulher maravilhosa! Sabia que passaria pra Universidade Federal e fazia mil planos pra minha vida com Shamash! -- riu nervosamente -- Meu orgulho não suportava qualquer desaforo, tampouco as grosserias extremas de baba! -- andou desnorteadamente pelo quarto -- Eu ficava longe de usritii (minha família) desejando que baba ou maama viessem me pedir pra voltar e se desculpassem por tudo, mas isso nunca aconteceu! -- pausou brevemente -- E nisso o tempo passava e Khaled definhava dia a dia.
--Você era tão frágil quanto seu irmão! E ainda segurou a barra da doença de Olívia e o que veio depois! -- argumentou -- Seu pai não queria ver a realidade e por isso não deixou o filho ir com vocês pra Gyn! Mas quando ele procurou Viegas achava que tava fazendo uma coisa boa! -- aproximou-se mais uma vez -- Você, seu pai, sua mãe, ninguém tem culpa do que aconteceu! -- derramou uma lágrima -- O próprio Viegas era um cego naquela época e hoje sofre terrivelmente colhendo os maus frutos que semeou!
--Laa acrif, Sahar... (Eu não sei, Amanhecer...) -- estava nervosa e transtornada -- Eu te amo por demais da conta, mas me parece que o melhor que tenho a fazer é me afastar e cuidar de mim sozinha! -- olhava para ela -- Você é romântica demais! Vê uma realidade que não é a real!
--Eu tô vendo a sua realidade, sei que tá doente e sei que é uma pessoa marcada por muitos traumas, só que EU QUERO FICAR DO SEU LADO! -- falava com sentimento -- Não quero sofrer por antecedência e nem pensar em morte! Eu quero pensar em vida, EM VIDA! -- olhava nos olhos -- Sinta saudades de mim quando você ou eu deixarmos essa terra, mas não antecipe as coisas! -- pediu com muita emoção -- Eu te amo, Zinara e isso me basta! -- afirmou com convicção
--Sahar... -- foi até ela, puxou-a pela cintura e a beijou com paixão
Mãos nervosas tateavam os corpos para se despirem uma à outra com urgência, enquanto lábios ansiosos perdiam-se em beijos mesclados por mordidas. Zinara pressionou Clarice contra a parede e seguiu beijando seu corpo com desejo, ao mesmo tempo em que deslizava os dedos sobre a pele da amada causando-lhe arrepios.
--Isso, amor, sim... -- fechou os olhos e segurou os cabelos da astrônoma -- Sim...
A morena devorava os seios da namorada alternadamente e ao mesmo tempo provoca-lhe o sex* com dedos incertos. A paleoceanógrafa sabia que não havia timidez ou dúvida ali; era apenas uma vontade de acendê-la ainda mais.
--Pára com isso, amor... -- arranhou-lhe os ombros levemente -- Vem pra dentro de mim... -- pediu excitada
Zinara não respondeu de pronto e colou seu corpo no da amante, segurando-a por uma coxa com firmeza. Esfregava-se contra ela cadenciadamente e deslizava o nariz pelo pescoço exalando ar quente bem devagar. -- Laylouna khamroun wa-ashwaakon toughanni hawlana... (Nossa noite é vinho rodeado por desejos de canto...) -- sussurrou -- Eu te quero com urgência e sem pressa ao mesmo tempo...
--Faz como quiser, então! -- puxou-a pelos cabelos da nuca e beijou-a furiosamente
Línguas dançavam um bailado sensual e cúmplice.
--Habibi... -- perdeu-se no olhar da outra -- Ya dØ¡illi... (Minha deusa...) -- ameaçou beijá-la novamente mas não o fez -- Ya agmal hedeya ba’aathaly el adar leya! (Você é o presente mais bonito que o destino mandou para mim!) -- inesperadamente seguiu lambendo o corpo da amante
--Ai!! -- um arrepio bem vindo eletrizou-a da cabeça aos pés -- Ai, amor, você me mata desse jeito...
Ajoelhou-se diante de Clarice e mergulhou entre as pernas dela. As mãos não tinham destino certo.
Cravou as unhas nos ombros da astrônoma. -- Zinara, meu amor... -- respirava com sofreguidão -- Ah!!! -- gem*u alto
A morena provocava a amada com língua e lábios famintos, ao ponto que arranhava-lhe as coxas apertando a pele nas zonas sensíveis, despertando-lhe sensações que iam do prazer à dor em poucos segundos. Não tinha mais a vitalidade de outrora, mas concentrava suas forças para amar a mulher que lhe fazia sentir-se viva.
--Ah!!! Ah!!! Ai... -- gemia -- Ah!!!! -- respirava com sofreguidão -- Vem, amor, vem aqui! -- puxou-a pelos cabelos mais uma vez -- Vem!
Zinara ficou de pé lentamente sem deixar de beijar e lamber a pele diante de si.
--Vem aqui comigo! -- introduziu os dedos no sex* da outra mulher -- Quero olhar nos seus olhos! -- mordeu-lhe a orelha
--Aywah! (Sim!) -- também penet*ou a amante com os dedos -- Como você quiser... -- colou testa com testa
--Você e eu... estamos ligadas... amor... -- falava com sofreguidão -- Não há como... fugir... ou evitar...
--Você está mim... -- sentia que seu corpo beirava o clímax
--E você em mim... -- ondas de prazer fizeram-na tremer -- AH!!! -- gem*u alto
--AH!!! -- gem*u alto também -- Sahar! -- fechou os olhos
--Habibi... habibi... -- abraçou-a pela cintura com força para sentir os dois corpos convulsionarem juntos
--Sahar... -- abraçou-a segurando-a pelos cabelos -- Sahar...
Perderam-se em sensações deliciosas por minutos quase eternos.
“Fazer amor com Sahar, Kitaabii, vai muito além de provocar desejos, estimular os corpos e atingir o clímax no momento certo. Estar com Sahar é deixar o sol brilhar de dentro para fora da alma...”
Quando percebeu que estavam mais relaxadas, Clarice guiou as duas para a cama e continuou amando Zinara até o momento em que o cansaço as fez parar. Não sabia quanto tempo ainda dispunham, mas estava disposta, como havia dito, a pensar em vida, somente em vida; jamais em morte.
***
--Smallah!! -- Amina exclamou emocionada -- Raed, homi... -- olhou para ele -- Nóis tem mais um netu... um fio di Khaled... -- pôs as mãos sobre o peito -- Oh, Aba, oh, minha Virgi... -- sentia o coração batendo forte -- Um fio di Khaled... -- sorria com os olhos marejados
--Um fio di Khaled... -- estava igualmente emocionado -- Avi Maria, meu Pai, é muita emoção... -- sentia-se perdido sem saber o que fazer -- Um fio di meu mininu...
Leda também estava estupefata com a história que acabava de ouvir. -- E você sabe onde encontrar o garoto, minha filha? -- olhava para Zinara -- Agora até eu não vejo a hora de conhecer esse menino!
--Viegas me deu uma carta que Georgina escreveu pra falar que o filho nasceu bem, mas não sei se o endereço que tá no envelope ainda vale alguma coisa... -- olhava para os demais -- Afinal de contas, a carta foi escrita há quase 12 anos!
--Ah, mais si eu tivessi lá tinha inforcadu o miserentu du dotô inté vê eli si istribuchá nu chão qui nem galinha seca! -- Raed gesticulava furioso
--Creia que isso quase aconteceu... -- Clarice comentou
--Ele tá acabado, baba! -- a morena respondeu -- Acabado! -- fez um gesto para enfatizar -- E quando a gente saiu de lá parece que uma nova crise de loucura se abateu sobre ele! -- lembrava -- Viegas não precisa que ninguém lhe dê uma lição, embora vontade não falte... -- passou a mão nos cabelos -- Ele mesmo colocou a corda no pescoço! -- balançou a cabeça negativamente -- Ralã! -- exclamou em desgosto
--Seus irmão pricisa sabê dissu! -- Amina afirmou resoluta -- Vô chamá elis tudu modi jantá aqui hoji! -- decidiu -- Najla e Aisha também pricisa sabê dissu! -- continuava falando -- Vô ligá pra elas e num demora!
--Comu si Najla quisessi sabê... -- Raed resmungava de cara feia -- A vida dela agora é só o créu!
--Também era bom falar sobre isso naquele centro, hein, Amina? -- Leda olhava para a outra -- Os espíritos podem orientar Zinara a saber como encontrar o garoto, se de repente mãe e filho mudaram de endereço. -- considerava
--A gente pensou nisso, mamãe. -- Clarice interveio -- Seria bom se fôssemos todos pra lá na próxima sessão.
--Ah, mais vai tudu! -- Amina deu um pulo -- Nóis vai é tudu! -- decidiu
--Pretendo ir pra Maurítia o mais rápido possível. -- Zinara anunciou -- Só preciso de um tempo pra me recuperar e ponho logo o pé na estrada.
Leda reparava em Zinara. -- De fato essa menina tá acabada... -- resmungou para si mesma -- Tá até com olheira... -- puxou a filha para um cochicho -- Não me diga que você sugou essa criatura até se danar mesmo sabendo que o babado era forte? -- perguntou curiosa
--Mamãe!! -- arregalou os olhos -- Pelo amor de Deus, eles podem ouvir! -- ralhou quase aos sussurros
--Isso é crime, viu, Clarice? -- advertiu -- A mulher aí toda arrasada com as estripulias que o médico do capeta aprontou e você só em cima pra acasalar! -- olhava para a filha -- Nunca pensei que você fosse do tipo que só falta arrancar a curnicha da outra do lugar! -- balançou a cabeça contrariada -- Foram as influências daquela estupradora de terceira idade! -- lembrava de Cátia -- Cruzes!
--Pelo amor de Deus, mamãe, não me mata de vergonha! -- pediu cobrindo o rosto com uma das mãos
--Baba, maama... -- não sabia como dizer -- Vou precisar de dinheiro pra viajar... -- estava envergonhada -- Não tenho... -- abaixou a cabeça
--Já dissi qui nunca dexei meus fio cum pricisão dus trem! -- Raed respondeu de pronto -- Quandu ocê tivé im cundição di í, vai tê o dinhêru na mão! -- garantiu
--Mais num si apavora, Zinara! -- Amina pediu zelosa -- Primêru ocê tem qui si recuperá dessas istripulia toda! -- reparava nela -- Espie pra ela, homi! -- apalpava a filha -- Tá seca! -- constatou
--Seca! -- o homem concordou ao apertar a filha -- Ói!
--Ai, baba! -- a astrônoma simplesmente achou graça -- Aperta devagar, min fadlak (por favor)! -- olhava para ele
--Viu? -- Leda beliscou a filha discretamente -- Todo mundo notando que você ch*pou a filha deles até deixar no sabugo! -- ralhou de cara feia
--Ai, mãe! -- esfregou a pele dolorida
***
--Clarice?! -- Cátia deu um salto da cama -- Que surpresa! -- sorria -- A que devo essa ligação tão bem vinda? -- andava pelo quarto
--Desculpa te ligar a essa hora da noite, querida, mas eu preciso de sua ajuda. -- respondeu com brandura -- E, antes de mais nada, me diga como você vai. Espero que esteja bem.
--A gente vai levando, né? -- passou a mão nos cabelos -- E você? Tá viajando, tá em casa...? -- arriscou
--Vou bem, graças a Deus. -- pausou brevemente -- Tô viajando com mamãe. -- não quis entrar em detalhes -- Você ficou em casa ou tá em outro lugar?
“Deve estar na roça com a terrorista desde o mês passado! Aquilo ali não deve querer saber de viajar pra nenhum lugar diferente!” -- pensou com despeito -- Em casa... tive uns probleminhas aqui no apartamento e na casa de Costa Azul que me forçaram a ficar na cidade pra tentar resolver. -- caminhou para a sala -- Mas você falou que precisava da minha ajuda... -- estava curiosa
--Você tem uma amiga que vive em Maurítia, não é? -- lembrava -- Aquela moça que conheceu num congresso...
--Ah, sim, Lídia. -- pensou na jovem -- Por que a pergunta? -- estava curiosa
--Bem, Cátia, é um assunto muito sério... -- anunciou com jeito -- E Zinara não sabe que tô te pedindo isso, mas pensei que seria bom te contatar pra adiantar as coisas.
“Eu não acredito que ela me ligou pra pedir favor praquela uma!” -- pensou revoltada
--Um dos irmãos dela, que já é falecido, deixou um filho, mas ninguém sabia disso. -- contava a história -- Ele fazia tratamento psiquiátrico na época em que a namorada engravidou e o médico escondeu da família a existência do bebê. É uma longa história, mas o fato é que isso aconteceu há quase 12 anos atrás e agora eles querem encontrar o garoto de qualquer jeito. -- pausou brevemente -- Por isso pensei em te pedir ajuda através da Lídia.
--Nossa, que história louca! -- exclamou sem entender -- E o garoto mora em Maurítia, deduzo eu?
--Ao menos sabemos que nasceu lá, mas em 12 anos acontece muita coisa. Quem pode garantir que o garoto mora no mesmo endereço até hoje?
--E você pensou que talvez Lídia pudesse pegar o endereço que vocês têm e procurar pra ver se descobre alguma coisa? -- concluiu
--Exatamente isso! -- notava a má vontade da outra -- Olha, Cátia, eu não estaria te pedindo esse favor se não considerasse algo de extrema importância! -- falava a verdade -- A mãe dele é uma pessoa pobre e quem sabe a vida que levam? Quem sabe das oportunidades que esse menino vai ter no futuro? -- tentava tocar o coração da outra -- Ele não conheceu o pai, mas merece conhecer a família dele, merece ser amado pelos avós e tios paternos! Se podemos gerar felicidade a alguém, por que ficar de braços cruzados?
A loura nada respondeu.
--Zinara vai pra Maurítia procurar pelo sobrinho mas, por razões de saúde, no momento tá sem condições de viajar. -- explicava a situação -- Eu queria ver se dava pra adiantar as coisas, descobrir o paradeiro do garoto antes dela chegar na cidade pra que já vá certa! -- pausou brevemente -- Queria que ela tivesse a graça de conhecer o menino à tempo!
“Como assim, conhecer o menino à tempo?” -- não entendeu
--Será que se eu te desse o endereço que temos você poderia pedir a Lídia pra procurar saber? -- pediu receosa -- Se ela tiver tempo e possibilidade, claro...
--Se eu pedir a Lídia, meu bem, ela vai fazer. -- garantiu -- Aquela menina é um amor!
--Sei que você e Zinara têm suas diferenças, mas pense no garoto! -- insistia -- Pense na possibilidade de poder mudar a vida de uma pessoa pra melhor! -- pausou brevemente -- De várias pessoas, melhor dizendo!
Deu um suspiro profundo. -- Tudo bem, Clarice, você me convenceu! -- concordou -- Não me custa nada e... essas histórias familiares mexem comigo... -- confessou
--Eu sabia que podia contar com você! -- sorria satisfeita -- Vou te passar o endereço por e-mail e fico no aguardo das novidades!
--Faça isso! -- pediu -- E vamos ver se Lídia vai ter a sorte de achar o garoto.
--Peça pra ela não dizer que é a família do pai dele que o procura, por gentileza. -- advertiu -- Não sei como a mãe dele reagiria e... melhor não arriscar.
--Deixe com a gente. -- concordou -- Se esse garoto mora em Maurítia, duvido que Lídia não mova céus e terra pra encontrá-lo! Ela também é muito sensível com essas questões de família! Se não achar, é porque realmente não moram mais lá! -- passou a mão nos cabelos -- "Faço questão que ela encontre o menino!” -- pensava -- "E vou jogar na cara daquela astrônoma doida que ela me deve favor!” -- sorriu
CAPÍTULO 90 – De Onde Havíamos Parado
Magali havia acabado de retornar de seu cruzeiro mas não ligou para Cátia avisando; desejava fazer uma surpresa.
“Fiz bem em ter enganado a ela que passaria todo o período de férias viajando!” -- pensava sorridente -- "Vou fazer uma bela surpresa à minha loura e ainda teremos uma semana inteirinha de muita sacanagem e loucuras entre quatro paredes!” -- sorria -- Deixa eu me produzir que daqui a pouco vou pra casa dela! -- falava sozinha -- É hoje! -- foi para o banho
Lúcia havia acabado de chegar em casa e também não telefonou para a geofísica.
--Graças a Deus que o curso terminou mais cedo! Graças a Deus! -- agradecia olhando para cima -- Passar um mês inteiro naquele regime de sala de aula com professor ditador seria uma tortura! -- revirou os olhos -- Masss... -- sorriu -- agora deixa eu me produzir toda e vestir aquela lingerie que ainda nem usei pra poder fazer uma surpresinha à minha namorada safadinha... -- estava empolgada -- Cátia Magalhães, a noite hoje promete! -- correu para o banheiro
--Alô? -- Cátia atendia a um telefonema -- Lilian? -- ficou desconfiada -- Nossa, que surpresa você me ligar... -- não sabia o que esperar
--Tudo bem? Como vai?
--Bem e você? -- continuava desconfiada
--Tudo certo. -- pausou brevemente -- Escuta, queria te pedir um favor. Será que poderia me emprestar aquele seu livro sobre sísmica 3D? -- pediu sem rodeios -- Tô precisando dele pra fazer um trabalho pro mestrado.
--Pra quando precisa?
--Na verdade... -- ficou sem graça -- O trabalho é pra ser entregue amanhã à tarde...
--porr*, que merd*! -- reclamou indignada -- Que espécie de aluna é essa que deixa pra fazer o trabalho em cima da hora? -- fez cara feia -- E ainda me pede o livro agora? -- olhou para o relógio -- São quase sete da noite!
--Eu sei, eu sei... -- reconheceu -- Tudo bem, já entendi que a resposta é não! -- afirmou chateada
--Calma, eu vou emprestar! -- foi para o quarto -- Me arrumo rapidinho, pego o carro e levo o livro pra você. -- ofereceu -- Mas vamos nos encontrar no shopping, porque não quero ter o desprazer de dar de cara com aquela sua namorada baranguda!
Fingiu que não escutou o comentário final. -- No Shopping Igaraçu? Beleza, te encontro lá! Fui! -- desligou
--Dever favor aos outros é uma merd*! -- reclamou consigo mesma enquanto se arrumava
Quase uma hora depois Magali tocava o interfone do apartamento da loura.
--Ué, não tá em casa? -- ficou intrigada -- Onde será que ela foi? -- pôs as mãos na cintura -- E cadê o porteiro pra gente perguntar alguma coisa? -- procurava pelo homem
--Ai, finalmente! -- Lúcia descia do ônibus -- Já tava ficando com a bunda quadrada, cruzes! Praga de engarrafamento! -- reclamava consigo mesma -- Pára de reclamar, mulher! -- aconselhou-se e sorriu -- A noite promete! -- andava em direção a rua da geofísica
***
--Por Deus, Zinara, quando Amina me ligou pra contar fiquei pasma! -- Najla conversava com a sobrinha -- Khaled teve um filho e o sem vergonha do psiquiatra escondeu de todo mundo pelo motivo mais idiota que podia haver! -- balançou a cabeça contrariada -- Ralã! -- exclamou com desgosto
--Pois é! Diga se não foi uma notícia bombástica? -- olhava para a tia -- E por causa desses encontros com Viegas lembrei de um monte de coisas do passado, me aborreci muito, me danei tanto, que acabei não dando conta e passando mal por demais! Tanto em Coriteba quanto aqui! -- contava -- Zayy iz-zift Tabiib! (Médico de lixo!) -- exclamou de cara feia
--Eu sei, habibi. Amina me contou... -- olhava para a morena com carinho -- Oramos muito por você! -- tocou o rosto dela -- Só não voltei pra cá mais cedo porque tinha a reunião com Paulo Ramalho e Jamila... -- justificou-se
--À propósito, me conte sobre isso! -- estava curiosa -- A fazenda tá no papo ou não? -- brincou
--Primeiro vamos encerrar os assuntos ‘saúde de Zinara’ e ‘filho de Khaled’, sim? -- retrucou com brandura -- São muito mais importantes que a fazenda! -- sorriu -- Muito me surpreendeu te ver na cama a essa hora, então me conte toda a verdade sobre você!
Tia e sobrinha conversavam no quarto onde a astrônoma ficava. Era por volta de nove da noite.
--Se tô aqui foi por ser obrigada, né, camma? -- riu brevemente -- Maama e baba me tratam como awlaad (criança) desde que souberam de minha doença! -- achou graça -- Mas já tô me sentindo bem melhor, tanto que comprei a passagem pra Maurítia. -- comentou -- Agora me sinto em condições pra poder viajar! -- ajeitou-se na cama -- Quanto a ibn al-akhii (meu sobrinho), já sei onde mora. -- informou -- Uma amiga de uma amiga de Sahar fez uma pequena investigação e descobriu o verdadeiro paradeiro da mãe dele e, consequentemente, o dele. -- sorriu -- Acredita que o nome do garoto é Hassan?
--Hassan, como o filho de Leila... -- Najla comentou pensativa -- Lembrei agora do Yoom Kitaab de Zahirah... Leila, Hassan, Jamal... -- suspirou -- Pobres criaturas!
--Khaled deve ter falado sobre Hassan pra Georgina em algum momento e ela não esqueceu. -- conjecturou -- Fiquei devendo favor a uma mulher com a qual não simpatizo muito... -- pensava em Cátia -- mas pelo menos vou direto pro lugar certo ao invés de ainda empreender uma busca! -- considerou -- Mumtaz! (Excelente!) Dos males o menor!
--Clarice vai com você dessa vez? -- segurou a mão da outra -- Ela foi tão importante nos momentos com Viegas...
--Laa... (Não...) -- negou com a cabeça -- Infelizmente! -- suspirou -- Janeiro termina depois de amanhã e com isso ela tem que ir... -- lamentou -- Ela, ya Leda e o Di... -- suspirou -- Vão deixar saudades por demais da conta... Em mim, em maama e em Khadija e nos filhos de Ahmed.
--Entendo essa saudade que você fala... -- mirou um ponto no infinito -- Quando deixei a rodoviária de Gyn e vi os olhinhos de bintii (Aisha) e... -- endireitou-se toda -- seu Marco... -- suspirou -- Quase não dei conta...
--Uai? -- surpreendeu-se -- Ya sayyida (A senhora) ainda chama ele de seu Marco apesar de tudo? -- não entendia
--Como assim, apesar de tudo? -- arregalou os olhos -- "Não acredito que Amina contou!” -- pensou intrigada
--Uai... -- arrependeu-se pelo comentário -- É... -- coçou a cabeça -- Aisha me mandou um SMS... -- ficou sem graça -- Pensei que ya sayyida e ele tavam namorando... -- sorriu para disfarçar
--E o que Aisha escreveu no tal SMS?? -- arregalou os olhos
--camma... -- arrependeu-se mais um vez por ter falado
--Eu fiz uma pergunta, Zinara! -- cruzou os braços -- O que Aisha escreveu nesse trem?
Deu um suspiro profundo. -- Bem... -- esticou o braço e pegou o celular -- Melhor ver com seus próprios olhos... -- localizou o SMS e estendeu o telefone para a ex fazendeira
--Vamos ver isso! -- recebeu o celular --‘GK,’ -- começou a ler -- Que é isso de GK? -- perguntou intrigada
“Good kisser...” -- pensou -- Doideira de Aisha. -- disfarçou
--Humpf! -- fez um bico e voltou a ler -- 'GK, finalmente aconteceu: muitos tiros na curnicha na calada da noite! UAUAUAUA!!!’ -- arregalou os olhos -- Smallah!!
--Aí eu deduzi que o amor tava acontecendo, né? -- deu um sorriso amarelo
--Ah, mas um dia eu ainda vou dar tanta chinelada no rab* dessa menina! -- gesticulou revoltada -- O que não fiz quando ela era criança, vou fazer agora! -- devolveu o celular da outra
--Yahda’u, camma! (Fique calma, tia!) Não contei pros outros! -- garantiu -- Quando estiver pronta pra assumir seu relacionamento, faça isso. Mas, por enquanto passa a língua em Aisha e Janaína senão elas estragam seu segredo! -- acabou rindo
--Não é segredo... -- cruzou as pernas -- Apenas não quero que Raed saiba e fique se met*ndo... -- olhava para a sobrinha -- Eu moro aqui, dependo dele...
--Fique tranqüila, macleech (não se preocupe)! -- fez um gesto despreocupado -- Por mim ele não saberá! -- prometeu -- Mas não deixe baba mandar na sua vida! Viva seu relacionamento com o homem que escolheu e seja feliz! -- aconselhou -- Agora me conte sobre o caso da fazenda! -- pediu curiosa
--O velho Ramalho cuspiu toda podridão que ele e Cezário fizeram naquela época, depois te conto os detalhes. -- olhava para a sobrinha -- E Jamila disse que já tem material suficiente pra fazer uma proposta irrecusável ao Ametista! -- complementou empolgada -- Ela falou que é proposta do tipo pegar ou pegar! Não tem isso de largar, não! -- riu brevemente
--Se Jamila diz eu acredito! Ela é Al-Muhuaami (A Advogada)! -- frisou o sotaque de Cedro na pronúncia dos termos
--Agora você vai dormir! -- levantou-se da cama da outra -- Vou te deixar descansar! -- beijou a cabeça da sobrinha
--Tô com sono, não, camma! -- protestou -- Fica? -- pediu
--Descanse porque você precisa de forças pra continuar com a saga dessa história de Viegas e Khaled! -- caminhou até a porta e apagou a luz -- Bons sonhos! -- saiu
--Oxi! AHHa! -- protestou ao se levantar -- Agora todo mundo me trata como awlaad (criança)! -- fez um bico -- Não deito nem tão cedo! -- protestou -- Não deito! -- acendeu a luz
Minutos depois...
--Zinara? -- Clarice entrou no quarto -- Não deveria estar deitada? -- perguntou sorridente ao se aproximar
--Até você, Sahar? -- perguntou decepcionada -- Veio me tratar como awlaad ou... -- aproximou os lábios do ouvido da outra -- me dar bousa ala shafayef (beijo nos lábios)? -- sussurrou
“Ui, ela já me pede a bousa assim sem a menor cerimônia...” -- pensou excitada -- Safadinha! -- apertou a bochecha dela -- Vim me deitar com você, meu bem! -- sorria
--Ezzai?! (Como pode?!) -- surpreendeu-se -- Tá todo mundo aí...
--Engana-se, minha querida! -- afastou-se para fechar a porta e apagar a luz -- Hoje tem festa no clube Cedro-Suriyyah... Coisa de seu Rafi... -- voltou para junto da amada -- Acho que ele quer se despedir de mamãe e tentar alguma coisa pela última vez! -- riu brevemente -- Todos acabaram de sair de casa há minutos atrás... -- envolveu o pescoço da namorada com os braços
--Sério?! -- surpreendeu-se
--Aywah! (Sim!) -- imitou Zinara
--Eu não sabia dessa festa! -- abraçou Clarice pela cintura
--Eles não te disseram nada pra você não querer ir. -- explicou -- Não reparou como sua tia tava toda arrumadinha? -- achou graça -- Te esconderam a história da festa porque todos entendem que o lugar de Zinara Raed nesse momento é na cama... -- beijou-a sensualmente -- E eu concordo... -- beijou-a novamente -- Quis ficar aqui pra cuidar de você direitinho... -- mordeu o queixo da outra -- Não acha que deveria estar deitada, habibi?
--Deito agora! -- puxou a mulher e jogou as duas sobre a cama
A paleoceanógrafa riu com gosto. -- Doida! -- deu um tapinha no ombro dela -- Você tá se recuperando e mamãe disse pra eu não te ch*par muito! -- riu de novo
Riu também. -- Ya Leda disse isso?! Ô velhinha danada... -- beijou os lábios da outra -- Mas... quem nunca desobedeceu a maama pelo menos uma vez na vida, né? -- brincou e deitou-se sobre a mulher
--Quem? -- abriu as pernas para acomodar namorada -- Quem? -- puxou-a para um beijo apaixonado
--Ah... -- interromperam o beijo com falta de ar -- A gente também... tem que... se despedir, né? -- comentou entre beijos
--Prefiro dizer... macasalaama (até logo)... -- respondeu aos beijos
--Macasalaama... (até logo...) -- começava a despir sua mulher -- Ibkhaf la wahdi... (Eu temo a solidão...) -- olhava nos olhos -- IbØ¡a lawahdi laou bitgheeb ishwayai... (Eu não quero ser deixada para trás se você vai embora por um tempo...) -- retirou a blusa dela
--Eu fico louca quando você faz assim!!! -- inverteu as posições e deitou-se sobre a astrônoma -- Me beija, amor! -- segurou o rosto da morena e beijou-a cheia de desejo
Zinara e Clarice passaram a noite se despedindo com muito amor e paixão.
“A saudade já tomava conta de mim, Kitaabii! Que pena, que tristeza... Minha Sahar indo embora... Min fadlik, ya habibi, khaleed haddi... (Por favor, minha querida, fique do meu lado...) Quando será a próxima vez?
Mas era apenas um até logo, não é? Estarei com Sahar novamente? Responda, Kitaabii! Responda...
Sim, eu tenho que acreditar! Por quantas vezes pensei que seria a última?
Sim, eu sei! Estaremos juntas de novo!
Nem que seja em outra vida...”
CAPÍTULO 91 – Mais de Zinara
Clarice viajava no avião ao lado de Leda e Deodoro, que dormiam tranquilamente. Após ajeitar os dois em seus respectivos assentos resolveu retomar a leitura do diário de Zinara.
“Eu passei muito batida naquela fase de doença e morte de Olívia.” -- pensava -- "Também pulei muita coisa da época de Zinara na faculdade. Deixa eu me nortear melhor no tempo e no espaço.” -- abriu um dos documentos Word -- "Queria detalhar algumas coisas...”
Releu um trecho do diário.
“Shamash e eu fomos embora naquele mesmo dia, Kitaabii. Nossa estadia na roça durou pouco menos de um mês... Novamente parti arrasada e me sentindo um lixo. Não fosse pela doce professora, acho que teria ficado deprimida.”
“Tá, essa é aquela parte em que ela conta que passou as festas de fim de ano na roça com Olívia, mas teve que ir embora depois da briga com o pai.” -- lembrava -- "Estamos agora em 1998...” -- seguia lendo -- "Hum, depois ela conta que voltou sozinha nas férias de julho, mas bateu em Ahmed e brigou de novo com seu Raed...” -- lia -- "E daí decidiu que não voltaria na roça por um bom tempo.” -- continuava passando o texto -- "Vejamos o que vem depois.” -- olhava atentamente para tela do tablet
Após alguns minutos de leitura, chegou em um trecho que lhe impressionou.
“Eu empurrava a cadeira de rodas de minha amada, Kitaabii, quando percebi que ela se encantara com um canteiro cheio de azaléias cor de rosa, as quais formavam uma alameda maravilhosa. Árvores de um lado a outro davam àquele caminho uma aparência de portal do paraíso.
Para onde vão os anjos senão para o paraíso, Kitaabii?”
--Zinara, sempre uma romântica... -- sussurrou para si mesma e suspirou
“--Eu queria tanto poder correr no meio das flores... -- Olívia desejou -- Adoro flores e nunca vi essa praça tão linda como vejo hoje!
--Posso empinar a cadeira pra trás e correr te empurrando com apenas as rodas grandes tocando no chão. -- ofereceu sorridente -- Juro que não te deixo cair!
--Seria muito esforço pra você, meu bem! -- respondeu de pronto
--E desde quando caipira faz corpo mole? -- brincou -- Se confiar em mim...
--Confiar em você? -- sorriu -- Sempre! -- afirmou convicta
--Então... -- empinou a cadeira -- Yaalah! (Vamos lá!) -- começou a correr
--AHAHAHAHAH!!!!! -- Olívia sorria de braços abertos. O lenço nos cabelos mexia suas pontas ao sabor do vento”
Clarice visualizava aquela cena em sua mente.
“Nunca fui de chorar, Kitaabii, mas naquele momento não podia evitar as lágrimas. Estávamos nos despedindo e eu não queria... Eu realmente não queria... Mas que poder eu tenho sobre o tempo de cada um nesta terra? Que poder eu tenho sobre seja lá o que for?
Já dizia o grande sábio que “tudo tem seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do Céu.”
Assim acontecia, Kitaabii... O Céu a chamava de volta...”
--Despedidas são tão tristes... -- a paleoceanógrafa dizia para si mesma -- Ai... -- seus olhos marejaram
“--EU TE AMO, SHAMASH!! -- a jovem Zinara gritou emocionada -- BEHEBBIK YA, SHAMASH!!!!!!!!!
--EU TE AMO, ZINARA!!! -- Olívia gritou igualmente emocionada”
--Não dá pra ter ciúme, gente! É tão lindo... -- Clarice secou uma lágrima -- Emociona ler uma coisa dessas...
--Precisando de alguma coisa, senhora? -- a aeromoça perguntou preocupada
--Não. -- sorriu ao secar os olhos com as mãos -- É mania de falar sozinha! -- a mulher saudou com a cabeça e se afastou -- "Deixa eu parar de falar porque mamãe e Di podem acabar acordando!” -- pensou -- "Vamos voltar a ler.”
Após quase uma hora de leitura, lutava para não cair no choro.
“Gente, que coisa mais linda esse enterro e essa música...” -- pensava -- "Esse Kitaabii é de matar qualquer um! Especialmente uma mulher manteiga derretida feito eu!” -- secava os olhos novamente
“Eu corria alucidamente em minha bicicleta, Kitaabii, arremessando flores pelas ruas de Gyn. Shamash não vivia mais nessa terra. Ela se foi e eu fiquei só...
Volte, Shamash, volte! Li-fraak, li-fraak... (Separação, separação...) Qual o sentido da vida? Por que você foi e eu fiquei? Era tudo que eu pensava.
Bombas voltaram a explodir. E elas não paravam... Acho que nunca vão parar...”
--A história se repete de outro modo... -- Clarice resmungava -- Shamash partiu e deixou Zinara sem sol... -- suspirava -- Oh, Deus, será que eu vou ficar sem meu sol? -- olhou na direção da janela e vislumbrou o céu dourado
--Acho que não vai chover, tia! -- Deodoro respondeu de pronto -- Não vai ficar sem sol!
--Lindinho! -- deu um beijo na cabeça dele e sorriu
CAPÍTULO 92 – E Assim Terminava Aquele Ano e Começava Um Outro
--Mas o que é isso aqui?! -- Fred gesticulou furioso -- Quando me disseram eu não acreditei! Pelo amor de Deus, o que é que meus olhinhos veem?? -- falava com seu jeito afetado -- O que você faz habitando essa pocilga na véspera da tua formatura, xiita louca??
--Gaatak niila, Fred! (Vá para o inferno, Fred!) -- respondeu sem olhar para o amigo -- Quero ficar sozinha! -- abraçou-se consigo mesma -- Além do mais aqui é banheiro feminino, você nem podia entrar! -- resmungou
--Pois saiba que eu escapei de ser mulher por muito pouco e vai por mim: -- aproximou-se da morena e a segurou pelo braço -- seria linda e poderosérrima! -- puxou-a para que se levantasse -- Pode ir ajeitando essa carcaça porque amanhã te quero linda pra cerimônia e você não tá nem louca de faltar!
--Laa... (Não...) -- resmungava
--Nem lá, nem cá, xiita! -- fez com que ficasse de pé -- Eu hein? -- olhava para o rosto da outra -- Tá horrorosa! -- exclamou contrariado
--Nunca fui bonita... -- desvencilhou-se dele -- Vá embora! -- afastou-se -- Tiizak Hamra! (Seu rab* é vermelho!)
--Não começa falando em código que não vale! -- segurou-a pelo braço novamente e foi até o espelho -- Olha só pra essa cara inchada e toda vermelha! -- apontou para a imagem -- Cabelo desmantelado, roupa suja... -- reparava -- Acha que a loura ia gostar de te ver assim, xiita? Você é espírita; pensa e me diz!
Não respondeu.
--Ela te amava, sua burra, queria te ver bem! -- sacudiu a amiga -- Ocê ralou tanto pra desistir no fim? É isso mesmo, fi?
--Eu não tô com vontade de ir em formatura nenhuma, aHHa... -- resmungou
--Ah, mas ocê vai sim! -- retrucou de pronto -- E posso saber por que tá dormindo aqui nesse banheiro cafonérrimo e sujo? -- perguntou desaforado -- Quer se matar, é isso?
--Salete disse que ia tomar o apartamento de mim, ela me ameaçou! -- desvencilhou-se novamente e se afastou -- Eu não tenho direito a nada e não ia esperar ela chamar a polícia pra me expulsar de lá à força... -- passou a mão nos cabelos embaraçados -- Peguei meus trem tudo e vim pra cá. -- apontou para uma pequena mala -- Vim mimbora antes que o pior acontecesse, não sabe?
--Mas que mulherzinha cachorra, essa tal de Salete! Nem parece que é filha da loura! -- gesticulou novamente -- Mas o diabo que cuide dessa bicha por agora. Nossa preocupação do momento é a formatura!
--Já disse que não vou! Wa la te shaghilny! (E não me aborreça!) -- cruzou os braços -- Nem tem como ir!
--Se é por falta de pouso, acabou-se o drama: -- pôs as mãos na cintura -- vai lá pra casa, uai! -- decidiu -- Pelo amor do Pai, Zi! Reage, nêga! -- reparou na morena mais uma vez -- E aproveita pra tomar um banho, cuidar desse cabelo, fazer as unhas, passar uma pintura básica na cara... -- sugeria
--Eu não tenho razão pra comemorar em formatura... -- sentou-se desanimada -- Vai você e me deixa quieta! -- abaixou a cabeça -- Nem tenho convidados, se quer saber... -- pausou brevemente -- E de usritii (minha família) não vem ninguém...
--Como assim, não tem razão pra comemorar? Bebeu gasolina ou mijo, my darling? -- perguntou desaforado -- Além do mais duvido que o pessoal do centro espírita não venha te ver! Duvido que os amigos que fez aqui nessa Escola não vão te ver! -- argumentava -- Duvido que as pessoas que ocê conquistou nessa cidade não apareçam! -- sorriu -- A colação de grau não tem limite de convidados e a loura divulgou pra todo mundo, e muito orgulhosa, que a menina dela ia se formar com louvor! -- lembrava de Olívia -- Você não pode fazer um vexame desses e deixar todo mundo plantado te esperando!
--Não vai ninguém, Fred! -- fez um gesto de contrariedade -- E nem eu quero ver gente! Quero sossego! Quero paz...
--ZINARA RAED!!! -- o jovem chamou com energia -- Eu não saio daqui sem você! Ou vamos os dois nessa formatura ou vai nenhum! -- gesticulou escandalosamente
--AHHa! -- reclamou de cara feia -- Só me faltava essa!
--Criatura, pensa bem! -- continuava tentando convencê-la -- Você, a estrangeira, xiita, terrorista maluca, psicopata, aquela que todo mundo sacaneava no primeiro ano! -- relembrava -- Eu, o viadinho, o gay escroto do colégio, a vergonha da turma! -- seus olhos marejaram -- Nós éramos os cavalos azarões, meu bem! Mas a gente conseguiu, a gente se formou! E agora vem essa cerimônia pra consagrar isso! -- olhava nos olhos -- Não dá pra simplesmente não ir!
A morena sentiu-se perturbada com aquelas palavras.
BUMM!! -- um barulho forte se fez ouvir -- Quê que é isso aqui??
E de repente, Carabina apresentou-se de supetão, assustando os dois.
--Ih, meu Pai, a inspetora! -- Fred arregalou os olhos -- Valei-me Nossa Senhora! -- teve medo
--Quê que houve? -- deu uma chicotada no chão, fazendo os jovens tremerem -- Você não tinha que tá aqui, né, Fred? -- olhou para o rapaz de cara feia -- Não exageremos, né, bebé?
-- Eu posso explicar...
--Ele tá aqui por minha causa, inspetora! -- Zinara defendeu o amigo -- Veio tentar me animar pra ir na formatura amanhã. -- falou a verdade
--Ela tá deprimida e não quer ir! -- o rapaz se justificava -- Aí veio se esconder nessa pocilga aqui e eu vim atrás, né? Não podia ficar sem fazer nada!
--Eu ouvi o final da conversa... -- olhou para a moça -- E concordo com tudo que ele falou! -- apontou para Fred -- Você não pode simplesmente faltar amanhã! Seria um verdadeiro crime! -- sentou-se do lado dela
--Por que? -- não entendeu
Carabina olhou para Fred e ordenou. -- Tranca aquela porta e senta aí. -- jogou um molho de chaves na mão dele
--Agora! -- correu para obedecer
Respirou fundo e começou a falar olhando para a morena. -- Nunca fui de muita conversa, mas sempre estive atenta ao que se passava. Sei do que havia entre você e a falecida. -- Fred sentou-se perto delas e devolveu as chaves -- Não entendo essas coisas, mas respeito as escolhas de cada um. -- mexeu na ponta do chicote -- A professora queria muito te ver bem, feliz, encaminhada na vida... e ela zelava por ti como se fosse mãe. -- Zinara se emocionou -- Se faltar amanhã, será como se cuspisse no nome dela! -- usava uma figura de linguagem significativa na cultura da jovem
--Como se cuspisse! -- Fred deu força -- Escarrasse e com catarro verde! -- gesticulava
--Acha que ela merece isso?
--Laa! -- negou imediatamente -- Não!
--E eu ouvi o que Fred falou sobre você, a estrangeira terrorista, e ele, o viadinho escroto. -- olhou para os dois -- É tudo verdade! Os dois azarões, os dois mais sacaneados da Escola conseguiram vencer! -- balançou a cabeça admirada -- Os dois se formaram e são simplesmente os melhores alunos!
--Os melhores! -- o rapaz repetiu estufando o peito -- Tomem papudos! -- deu um soco na mão
--Então escuta aqui, garota: -- olhava nos olhos dela -- você vai sair desse banheiro, se arrumar e chegar amanhã naquela colação de grau e pegar teu diploma na frente de todo mundo que vai tá lá pra te prestigiar! -- falava com decisão -- Você vai erguer seu diploma e olhar nos olhos dos que te sacanearam e pensar: eu consegui! E sou muito, mas muito melhor que vocês, seus merd*s!
--Ai, mandou ver!!! -- Fred bateu palminhas -- Isso aí!! -- sorria empolgado -- Arrasou!!
--Eu nunca fui em formatura de aluno, porque não gosto de burburinho! -- levantou-se -- Mas na de vocês eu já tinha me decidido a abrir uma exceção. -- caminhou até a porta e a abriu -- Não me faça dar viagem perdida! -- olhou para Zinara -- Ou te pego na rua e meto chicotada no lombo! -- ameaçou
--Ave Maria! -- a moça arregalou os olhos
--No lombo! -- Fred repetia a ameaça para a amiga -- Chicotada no lombo!!
--Fred! -- chamou e ele olhou -- Se não sair daqui agora, te chicoteio também! -- ameaçou
--Eita! -- levantou-se apavorado -- Pelo amor que você tem ao teu lombo e ao meu, -- olhava para a amiga -- pega tuas coisas e simbora pra minha casa! -- pediu
“Eu pensei em tudo aquilo que ouvi, Kitaabii, e decidi que seria mesmo um verdadeiro crime não ir à formatura. Depois de ter saído da roça como saí, de ter vivido naquele mesmo banheiro, de ter trabalhado na casa de Sandrinha, de ter aturado todas as provocações e agressões de colegas desrespeitosos... Depois de ter conhecido Shamash, de ter trabalhado no laboratório dela e até morado lá, de ter ido para o centro e depois para sua casa e seu coração... Depois de tantos estudos, de tantos sacrifícios e de ter sofrido com saudades de usritti (minha família) e das coisas da roça, se eu faltasse à formatura seria mesmo um verdadeiro crime!
Naquele ano eu estagiei em período integral e estudei à noite. Gastava quase duas horas na estrada entre o estágio e a Escola e chegava sempre atrasada nas primeiras aulas. Tive que me virar em mil quando Shamash ficou doente e houve uma época em que passei dias sem pregar os olhos, porque minha amada passava mal de madrugada e eu cuidava dela... Realmente, se faltasse à formatura, seria um crime...
Fui para a casa de Fred e me cuidei como não vinha fazendo. Vesti a última roupa que Shamash me deu e fui para um salão de beleza me aprontar. Cheguei no Auditório Nobre da Escola junto com ele e a avó, cabeça erguida e o peito cheio de orgulho, embora ainda sofresse muito. Admirei-me ao perceber que meu amigo tinha razão: pessoas do centro, amigos da Escola e pessoas queridas que conheci na cidade estavam lá para me ver. Eles não esqueceram, Kitaabii, e atenderam ao convite de minha amada...
Quando chamaram meu nome e recebi o diploma, aquele momento foi um fato marcante na minha vida! Acho que nunca vou esquecer... O gosto da vitória, a satisfação de ter conseguido concluir o curso, a realização pessoal... Oh, Kitaabii, por instantes esqueci de minha solidão...
Eu sabia que havia passado para o curso de astronomia da Federal de São Sebastião, aliás, nunca duvidei que conseguiria, tampouco Shamash. Fizemos planos, ela esquematizava uma transferência para a cidade e pensávamos em alugar apartamento por lá. Agora, porém, tudo era diferente. Não haviam planos...
Fred e a avó se mudaram para a Capital pouco depois do réveillon e nossa despedida foi emocionante. Senti como se fosse mais uma perda na minha vida...
Por essa altura Salete já havia tomado conta do apartamento da mãe e não quis saber o que faria com ele; não me interessava. Meu tesouro era a dona dele! Suas posses não passavam de objetos sem vida e sem cor... assim como eu. No começo de janeiro de 1999 peguei minhas coisas e fui para São Sebastião. Era hora de recomeçar. Mais uma vez.
E talvez aí fosse o melhor momento para engolir o orgulho, esquecer os caprichos do ego e voltar para a roça. Talvez ainda encontrasse um Khaled mais lúcido e com certeza livre dos efeitos das drogas que Viegas receitava. Talvez ainda tivesse tempo de fazer a diferença na vida dele... Talvez, tudo talvez...
E a vida seguiu em meio às novas experiências que se descortinavam diante de mim e meu constante estado depressivo. E a depressão me fez companhia por quatro longos anos.
O que são as escolhas, Kitaabii? O que é a semeadura? Não sei... mas a colheita é sempre obrigatória...”
--Ai, ai... -- Clarice suspirou -- Dá uma pena tão grande... -- derramou uma lágrima
--Pena de quem, menina? -- Leda perguntou desconfiada -- O que é isso que você lê aí que te faz chorar?
--Ela tá com medo que chova, vovó! -- Deodoro esclareceu, lembrando-se do comentário que a tia fizera sobre o sol -- Mas eu já disse que não vai chover!
--Não é isso... -- acariciou carinhosamente a cabeça do menino -- Esse é o diário de Zinara, mamãe. -- mostrou os arquivos no tablet -- Ela me deu pra eu ler e... -- olhava para a idosa -- é muito emocionante!
--Imagino. -- balançou a cabeça -- Conversei muito com Amina e me emocionei e choquei com várias coisas que ela me contou! -- lembrava -- Quando penso nela, em Raed, em Zinara fico me perguntando... como podem aquelas criaturas ainda conseguirem levar uma vida depois de tudo? Só Deus explica... -- pensava nos três -- Passar por uma guerra tão infernal, ficar em um campo de refugiados tão infeliz, ver a família morrendo... -- fez cara de tristeza -- Amina me disse que houve uma época em que bebiam urina por não ter água!
--Que é urina, vó?
--Xixi, meu filho. -- respondeu -- É por isso que não pode desperdiçar água! -- aconselhou -- Porque se falta, a gente se dana! -- advertiu -- Beber xixi, além de ruim, estraga os dentes!
--Zinara me disse que eles trataram dos dentes durantes anos pra poder recuperar. -- a professora contou
--E Amina e Raed ainda perderam dois filhos! -- Leda continuava falando -- Deus me livre que qualquer uma de vocês morra antes de mim! Deus me livre que esse menino... -- olhava para o garoto -- Meu Deus, a pior dor na vida de qualquer mãe é perder um filho! -- pausou brevemente -- E ainda tem Zinara tão doente... -- lamentou -- Eles têm umas esquisitices, mas como não ter? Como não ter? -- considerou
--Hoje em dia eu me aborreço muito quando ouço as pessoas chamando o povo deles de terroristas! -- Clarice comentou de cara feia -- Não se pode chamar de terrorista aquele que luta pelo seu próprio território! Terrorista é quem fomenta essa desgraceira toda! É quem cria a guerra e ganha dinheiro com ela! São tão fanáticos quanto o punhado de infelizes que amarram uma bomba no corpo e explodem junto! -- falava com mágoa -- Uma pessoa que passa pela guerra, não pode ser normal! -- considerou -- É o que Zinara diz: você pode fugir da guerra, mas ela não sai de você...
--E enquanto isso tem gente que nunca passou por nada é tão sem vergonha! -- a idosa gesticulou -- Haja visto aquele Rafi das perna fraca! -- fez cara feia -- O máximo que ele viu explodir foi rojão de festa junina e ainda assim o bicho não é normal! Aquilo ali é um terrorista de alcova! -- cruzou os braços -- Mas a língua tá fora de circulação por um bom tempo!
Deodoro não entendeu quase coisa alguma. -- Que é alcova, vovó? É coisa de comer? -- perguntou curioso -- Por isso que usa a língua?
Achou graça e acabou rindo. -- Só a senhora pra me fazer rir agora, mamãe... -- secava os olhos marejados com as mãos -- Explica pro Di o que a senhora falou! -- riu brevemente -- "Agora quero só ver sair dessa!” -- pensou divertida
CAPÍTULO 93 – Procurando Tu
--Magali, onde é que você tava? -- Cátia invadiu a sala da outra como um foguete -- Quero saber onde é que você tava! -- cruzou os braços de cara feia -- Te procuro há dias! Passei a noite...
--Magali, diga onde é que tu tava, onde é que tu tava, onde é que tava tuuu! -- interrompeu a loura para cantar -- Passei a noite procurando tu, procurando tu, procurando tuuu... -- sorriu e piscou para ela
--Ah! -- ficou indignada -- E ainda debocha da minha cara cantando música de Todos os Santos! -- ameaçou ir embora -- Eu sou mesmo uma idiota!
--Calma, querida, foi só pra descontrair! -- pediu com brandura -- É que ouvi essa música no cruzeiro e acabei me lembrando dela por causa do modo como você veio me perguntando coisas... -- puxou uma cadeira -- Senta? -- pediu
“Ela tá tão estranha...” -- pensou desconfiada ao se sentar -- Você voltou quando?
--Anteontem à noite. -- respondeu simplesmente -- A casa tava um caos! -- revirou os olhos -- Passei o domingo fazendo faxina!
--Ué? -- não entendeu -- Que conversa é essa, Magali? -- estava indignada -- Você não podia ter interrompido a faxina por dois segundos pra me telefonar? Será possível que sou tão desimportante na sua vida assim? -- perguntou magoada -- Nem parece aquela que me prometeu dias e noites de prazer e loucuras pra matar a saudade! -- cobrou
--Prometi e vou cumprir! -- garantiu -- Eu queria te fazer uma surpresa, mas não deu muito certo... -- aproximou-se e segurou a mão da namorada -- Mas vamos fazer assim: -- sorriu sensualmente -- sexta-feira à noite a gente se encontra no restaurante Quatro Fogos, janta, conversa e depois... -- aproximou-se do ouvido dela -- faz sex* alucinadamente até o dia amanhecer... -- sussurrou sensualmente
“Ai, que falando assim no ouvidinho me dá até uma câimbra no útero...” -- pensou assanhadamente -- Ah, eu... -- excitou-se em antecipação -- Bem... -- buscava permanecer firme -- Eu ainda não engoli essa história, mas... -- passou a mão nos cabelos -- aceito a proposta! -- fingia indiferença ao convite -- "Quero só ver como que vou conseguir falar a verdade depois de tanta sacanagem...” -- pensou
--Então tá ótimo! -- sorriu e piscou para a namorada -- Agora vou te pedir uma licença porque o primeiro dia é só bomba pra resolver, né? E haja burocracia... -- revirou os olhos
--Pois é! -- levantou-se -- De minha parte ainda tenho uma angustiante reunião de Colegiado... -- fez um bico -- Tão querendo me passar a coordenação mas não sei se vou encarar...
--Deveria! --aconselhou -- É uma experiência terrível, mas um aprendizado e tanto!
--Vou me lembrar disso... -- deu tchauzinho -- Até sexta, né? -- despediu-se receosa -- "Será que não vai dar pra se ver antes disso?” -- aguardava a resposta da outra
--Até sexta, meu bem! -- soprou um beijo -- E se prepara, porque vou te deixar arrasada! -- prometeu sensualmente
“Ô, meu Pai, olha a bichinha aí piscando o olhinho...” -- pensou ao sentir a umidade evidente em seu sex* -- Tá... -- sorriu -- Tchau! -- saiu
--Tchau! -- voltou ao trabalho
“Magali tava tão estranha...” -- pensava -- "Não me deu nem um beijinho sequer... Tudo bem que ela é bem séria no lugar de trabalho, mas beijo na testa é coisa soft e nem isso ganhei...” -- estava intrigada -- "Mas se bem que ela deve tá poupando forças pra sexta-feira...” -- conjecturou -- "Vou fazer assim: a gente se encontra, janta, conversa sobre amenidades, passa noite e madrugada na sacanagem e quando acordar, depois do café, eu conto a verdade!” -- planejou -- "E aí, seja lá o que Deus quiser...” -- benzeu-se
***
--Lúcia, mas que bonito, hein? -- Cátia invadia o apartamento da outra como um furacão -- Se não fosse pela tua vó eu nem saberia que a senhora voltou pra cidade! -- parou diante da amante com os braços cruzados -- Que papelão, hein? Eu aqui, toda cheia de saudades e você chega e nem pra me ligar avisando! -- fazia cara feia -- Me diga onde é que você tava! Onde é que você tava? -- queria saber
--Ah, minha lindinha, perdão, bebê... -- envolveu o pescoço da loura com os braços -- Eu até pensei em te fazer uma surpresa mas deu tudo errado... -- falava cheia de dengo -- E não sei se vovó te contou, mas ela passou mal a beça... -- acariciava o rosto da namorada com um dos dedos -- Foi uma correria tão grande...
--O que?? -- arregalou os olhos -- Ela passou mal e você nem pra me ligar?? -- revoltou-se -- Lúcia, você sabe que eu adoro aquela velhinha, como pôde não ter me contado nada??
--Ah, meu bem, eu não queria ser inconveniente e ela mesma não quis te incomodar... Afinal de contas você foi tão presente na vida dela enquanto estive fora... -- justificou-se
--Eu, hein, que conversa! -- desvencilhou-se de cara feia -- E como ela está? -- perguntou preocupada -- Fala, menina, como ela está?
--Calma, meu bem... -- aproximou-se novamente -- Ela tá em casa e passa bem, graças a Deus. -- segurou o rosto da geofísica -- Você mesma não acabou de me dizer que soube que eu cheguei graças a ela? Então? Tá tudo bem... -- beijou-a
--Se você pensa que... -- a bombeira cobria seu rosto com beijos e mordidas suaves -- vou amolecer contigo... -- sentia as unhas da amante deslizando lentamente por sua pele -- porque tá me beijando... -- tentava manter-se durona -- Se você pensa...
--Se eu penso...? -- tocou um dos seios da namorada e a beijou novamente
--Se você pensa que essa tática vai amansar minha raiva... -- estava excitada
--E... não vai... amor? -- perguntou entre beijos
--Vai! -- respondeu cheia de desejo -- Vem aqui, menina! -- puxou-a de encontro a seu corpo e beijou-a com paixão
--Hum... -- desvencilhou-se com cuidado -- Calma, querida. -- afastou-se -- Agora não... -- passou a mão nos cabelos -- Tenho que ir pra casa de uma amiga. -- olhou para o relógio -- Aliás, vou dormir lá porque amanhã cedo temos um treinamento na serra e ela me leva de carona.
--Mas que diabo! -- reclamou
--Essa semana vai ser difícil te ver, mas eu tenho altos planos pra sexta à noite... -- afirmou sensualmente
--Sexta à noite?! -- perguntou com os olhos arregalados -- "Caraca, e agora?” -- pensou aflita
--A gente podia ir praquele restaurante que tá na moda, o Quatro Fogos, e então jantar, conversar e depois... -- sorriu insinuante
“Ai, meu Pai, tô encurralada...” -- pensou engolindo em seco -- Por que não fazemos isso no sábado? -- propôs -- É que na sexta vai ter uma reunião no departamento que vai me consumir como nem sei! -- mentiu
Fez cara feia e cruzou os braços. -- Ah, então quer dizer que você entra aqui toda cheia de decisão, reclamando comigo, e quando eu faço uma proposta recusa por causa de reunião de departamento? -- ficou indignada e virou-se de costas -- Pode ir embora no mesmo pé que veio, Cátia! -- afirmou com decisão -- Se não pode me ver na sexta, então não me verá mais!
“Ai, e agora? Pensa rápido, pensa rápido!!” -- não sabia o que fazer -- Não zanga comigo, minha delícia! -- abraçou-a pela cintura -- Tudo bem, a gente sai na sexta! -- virou-a de frente para si -- Meu desejo era estar cem por cento pra você e sei que no sábado minhas baterias estariam mais recarregadas... -- brincou -- Mas se quer que a gente se veja na sexta... -- beijou-a -- assim vai ser! -- sorriu sedutora
--E depois quero passar noite e madrugada afora fazendo amor... -- beijou-a -- Até a gente não aguentar mais... -- sorria
“E como é que vai ser isso?” -- pensou -- Não vejo a hora...
--Mas, como te disse, tenho que ir! -- beijou-a e se desvencilhou mais uma vez -- Ainda tenho que terminar de me arrumar.
--Posso te dar uma carona até a casa da tua amiga. -- ofereceu -- Aproveito e olho na cara dela pra deixar claro que você tem dona! -- afirmou enfática
--Relaxa, meu bem, ela é hetero e casadíssima. -- achou graça -- Mas eu aceito a carona, sim. Me dá só mais uns cinco minutinhos. -- pediu
--À vontade. -- sentou-se na poltrona
--Já volto. -- foi para o quarto
“Essas minhas namoradas andam muito esquisitas...” -- a loura pensava -- "E como que eu faço agora tendo que ver as duas na sexta?” -- buscava uma solução -- "Já sei, vou enrolando as duas pulando de mesa em mesa e ao final finjo que passo mal e chamo um táxi pra levar Lúcia pra casa!” -- planejava -- "Ela é bem mais compreensiva e ingênua que Magali...” -- balançou a cabeça pensativa -- "Aí passo a noite com Mag e conto a verdade. Daí no sábado procuro Lúcia, fazemos amor o dia todo e depois conto a verdade também!” -- decidiu -- "Sem dúvida é o mais honesto e decente a fazer!”
CAPÍTULO 94 – Todos os Encontros
Zinara chegava receosa ao endereço que Lidia informou. Ao avistar a casa humilde em que Georgina e o filho viviam sentiu o coração acelerar. Parecia mentira que estava tão perto do sobrinho...
“Eu olhava para aquela casa maltratada, cujas paredes estavam apenas no reboco, exibindo tijolos quebrados e janelas de madeira mofada, e ficava pensando nos caminhos da vida... Eu estava ali, Kitaabii, bem perto do ibn al-akh (sobrinho) que sempre esteve tão longe e ao mesmo tempo tão perto de albii (meu coração)...
Curioso que ao longo dos anos já havia uma sensação em mim, algo me dizia, desde antes de saber da verdade, que deveria buscar alguém; exatamente como Khadija me pediu em sua inocência de criança. No entanto meu racional não entendia; pelo menos não até aquele momento. Agora estava tudo claro demais: Hassan deveria se juntar a usritina (nossa família)! E essa certeza era tão nítida em mim que parecia uma própria ordem dos Céus. Mas, me diga, Kitaabii, ezzai (como pode)? Hassan tem mãe. O que Georgina pensaria de tudo isso?”
--Ô, de casa! -- bateu palmas -- Oi! -- a astrônoma chamava
--Quem é?! -- uma mulher respondeu desconfiada sem abrir as janelas
“Será ela?” -- pensou intrigada -- "Não reconheço essa voz.” -- aproximou-se mais -- Sou eu! Zinara! -- identificou-se -- Lissa faker, Georgina? (Você lembra, Georgina?)
--Essa língua!! -- abriu a janela rapidamente e olhou nos olhos da outra -- Minha Virgi, num acriditu nissu! -- estava pasma -- Intão... foi a teu mandu qui veiu uma muié aqui mi curiá? -- perguntou estupefata
“E o que seria o verbo curiar?” -- pensou intrigada -- Não sei bem o que quer dizer, mas acho que a resposta é sim. -- pausou brevemente -- Por favor, Georgina, preciso muito falar com você! -- pediu com humildade -- Desde que soube que você teve um filho com Khaled não penso em outra coisa senão conhecer esse menino!
--Ocê num sabia?! -- ficou ainda mais chocada
--Laa! (Não!) -- negou com a cabeça -- Juro que não sabia. Nem eu e nem ninguém de usritti (minha família)! -- falou com verdade -- Juro sob Deus e sob o nome de meus ancestrais!
--Oxi! -- sentia-se atordoada -- Ah... -- não sabia o que fazer -- Vem, entri! -- decidiu convidar -- Nóis tem mesmu qui cunversá, num sabi? -- saiu da janela e foi abrir a porta -- Só num repari na casa, pur favô! -- deu passagem para a professora
--Não vou reparar. -- entrou respeitosamente
--Vamo sentá lá fora purque tá calô. -- apontou para os fundos da casa -- Hassan foi fazê um mandadu na rua pra mim. -- fechou a porta e seguiu andando -- Dá tempu di nóis cunversá.
Zinara seguiu atrás da mulher.
***
--Ocê devi di si alembrá daqueli incontru infeliz que nóis duas tevi nu passadu. -- Georgina falava -- E devi di si alembrá qui terminei cum teu irmão fazendu a coisa du jeitu qui ocê mandô.
--Lembro de tudo. -- respondeu secamente
--Intão... eu num ligava pra muita coisa naquelis tempu e nem dava trela pru qui o povu dizia... -- rememorava -- Só dipois di um bão tempu qui fiquei sabendu qui Khaled tava mar e fiquei muitu arripindida pur tudu... Eu fiquei pensandu neli, alembrandu di nóis e di repenti, num sei ti explicá! Foi um trem doidu pur dimais da conta... -- gesticulava -- Di repenti eu mi sinti apaxonada pur eli e mi deu uma dô, num sabi? -- seus olhos marejaram -- Nunca na minha vida cunhici homi qui nem Khaled... qui pena qui eu num sôbi dá valô nu tempu certu... -- lamentou
--E foi por isso que você procurou por ele na clínica? -- concluiu
--Eu procurei pur eli inté qui fiquei sabendu qui tava naquela praga di lugá. -- respondeu de pronto e pausou por uns instantes -- Tinha um infermêru lá qui já tinha tidu casu cumigu... -- confessou -- e eli mi colocô frenti a frenti cum a tar du Viegas... -- fez cara feia -- Homi du cão!
“O fã clube desse homem é imenso!” -- pensou ironicamente -- "Gaatak niila, Viegas! (Vá para o inferno, Viegas!)” -- praguejou -- E aí ele deixou vocês se encontrarem... a sós. -- continuava completando o raciocínio de Georgina
--É... -- balançou a cabeça concordando -- E foi muitu ispeciar... -- falou com verdade
--Ana mabsoutah! (Estou feliz!) -- sorriu emocionada -- Khaled te amou de coração e fico muito feliz em saber que o filho de vocês foi gerado num momento especial.
--Eu num cuntava di pegá barriga. -- desabafou -- Eu nem cuntava di mi apaxoná pur um homi qui num mi dei ao trabaiu di cunhicê... -- passou a mão sobre os olhos úmidos -- Viegas dissi qui eu só pudia vortá lá dipois di um mêis... -- lembrava -- Mas aí... num deu tempu... Khaled morreu... -- lamentou -- Meu morenu morreu...
--Viegas só fez droga, vou te contar! -- resmungou contrariada
--Quandu mi discubri prenha fiquei morta di medu! Cum certeza ia sê ixpursa di casa! -- olhava para Zinara -- Tivi medu di prucurá tua famia pur causa di minha má fama. E nóis duas inda tivemu aquela birra... -- envergonhou-se -- Prucurei o dotô modi pidí pra eli dizê procês du qui acunticeu e eli si ofereceu foi pra mi ajudá a abortá o mininu, num sabi?
--Smallah! -- arregalou os olhos -- Eu sabia dessa proposta infeliz do aborto, mas nem desconfiava que você pediu a ele pra nos dizer que tinha ficado grávida! Isso ele não me contou! -- indignou-se -- Ibn il-Homaar!! (Filho de um burro!) -- resmungou entre dentes
--Pois é! -- cruzou as penas -- Inquantu issu eli mi falô qui ocês nem quiria sabê du mininu purque pudia sê fio di quarqué machu da região!
--Mentira!! -- protestou -- A gente não sabia de nada! Ninguém de usritti sabia! -- gesticulou -- Tem minha palavra!
--Acriditu! Hoji eu sei dissu... Só hoji eu sei... -- suspirou
--Mas continue, o que aconteceu depois? -- pediu ansiosa
--Antis di sê ixpursa di casa, saí pur minha conta. Lembrei di uns parenti qui morava aqui e vim pra essa cidadi modi parí o meninu e mudá di vida. -- olhava para as próprias mãos -- Inda iscrivi uma carta pru dotô modi dizê qui o mininu nasceu bão. -- pausou brevemente -- Eu tinha isperança qui ocês pudessi mudá di idéia e vim mi prucurá... -- sorriu com tristeza -- Mais num veio ninguém... e só hoji eu sei purque... -- olhou para Zinara -- Ocês num sabia...
--Ya wail... (Que pena...) -- lamentou -- Sinto muito por todos nós, Georgina! -- afirmou com pesar -- Mas o que interessa é que a gente se encontrou e eu queria muito levar vocês pra roça! -- convidou de supetão -- Maama, baba, todo mundo quer conhecer o garoto! Eu mesma tô que não dou conta de ansiedade! -- riu de nervosa
--E ocê vai tê um sustu quandu vê teu subrinhu. -- sorriu -- Deus sabi o qui faiz, muié... ocê veiu nu momentu certu!
--A vida aqui não tá fácil, né? -- perguntou com jeito
--Tô cum AIDS! -- declarou sem rodeios -- Tô morrendu... -- assumiu -- Pur issu qui tô nessi istadu qui ocê vê! -- abriu os braços
“Nos últimos tempos parecia que eu só recebia notícia bombástica, Kitaabii. E veja você como é o destinho... Georgina morrendo com AIDS e o câncer acabando comigo...”
--Tenho câncer, habibi. -- repetiu brevemente o gesto da outra -- Por isso que tô nesse estado que você vê! -- passou a mão nos cabelos -- Mas não é pra desistir, não! Tem que lutar até o fim!
--Num sei si guentu lutá... -- mirou um ponto no infinito -- Eu num mi dei bem cum a famia daqui e tivi di trabaiá comu puta pur uns bons anu... -- confessou -- Foi assim qui pudi dá cumida pro meu fio e mi sustentei. Foi com essi dinheru qui fiz essa casa aqui! -- olhou ao redor -- Larguei a vida dipois qui sôbi qui tava cum AIDS... tem uns trêis anu ou quatru...
--E tem vivido de que? -- perguntou preocupada -- Aasif (Sinto muito), acho que não deveria... -- arrependeu-se pela invasão
--Num si discurpi, Zinara. -- fez um gesto para tranqüilizá-la -- Tenhu ricibidu ajuda pelu borsa das famia. E também pegu umas limpeza pra fazê, acumpanhu idosu duenti, cuidu di cachorru... o qui apareci... -- falava a verdade -- Hassan trabaia nu culégio e ganha uns dinherinhu também. -- comentou orgulhosa
--Ele trabalha no colégio? -- perguntou toda prosa -- Fala dele pra mim, min fadlik (por favor)! -- pediu -- Por que escolheu esse nome? -- queria saber -- Khaled falou de Hassan pra você?
--O primu docês? -- lembrava -- Falô e eu nunca qui mi isquici... -- balançava a cabeça -- Achu qui teu irmão ia gostá di butá essi nomi nu fio si sôbessi qui ia sê pai.
--Ia sim... -- concordou
--Eu sempri falei bem di Khaled pru meu fio. Insinei eli a tê respeitu pelu pai. -- abaixou a cabeça -- Era o mínimu qui pudia fazê pur meu morenu...
--O que disse a ele em relação a nós? Hassan deve ter perguntado em algum momento sobre a família do baba dele. -- aguardava as respostas -- Aliás, você ainda não me falou sobre ele! -- cobrou
--Eu sempri falei qui perdí o contatu cocês dipois qui o pai deli morreu e daí ocês num sabia qui eli tinha nascidu.
--O que não deixa de ser verdade!
--Mãínha! Cheguei! -- a voz de um garoto ecoou pela casa -- Tive que ir lá prus cafundó pra poder achar as coisa num preço bom, mas achei!
--Oh, Aba... -- pôs a mão sobre o peito
“O coração enlouqueceu naquele momento, Kitaabii...”
--Pergunta pra eli as coisa qui ocê qué sabê! -- Georgina indicou o filho com o olhar
--Hassan! -- levantou-se rapidamente e se virou de frente para ele -- Smallah! Mas ele é... -- seus olhos marejaram e a voz fraquejou
--A cara du pai... -- completou ao se levantar -- Sempri achei!
“Quando olhei nos olhos dele, Kitaabii, tive de ser forte para não desmaiar! Hassan era idêntico a Khaled, akhuuya (meu irmão), meu menino... Tinha os mesmos olhos, o mesmo porte e aquele ar de eterna criança... awladii (minha criança)...
Que emoção senti, que sensação maravilhosa! Oh, Allahu Akbar! Akbar, akbar! (Oh, Deus é grande! Grande, grande!) Obrigado, meu Pai Eterno, por ter me dado esta alegria antes que meus olhos de carne se fechem para que os do espírito se abram!”
--É visita, mãínha? -- olhou desconfiado para a mulher
--É sua tia, meu fio... Irmã du seu pai! -- sorriu emocionada -- Pedi a bênça pra ela! -- mandou
--Vixi! -- arregalou os olhos e sorriu -- A benção, tia! -- pediu
--Smalla'Alik, habibi! (Deus proteja você, querido!) -- foi até ele e o abraçou com força -- Smalla’Alik...-- repetiu emocionada
“Quando nos abraçamos, Kitaabii, senti como quem encontra um grande amigo que há muito não se vê... Senti uma familiaridade incrível!”
--Eu queria tanto te ver, habibi... -- começou a chorar -- Tanto, mais tanto! -- beijou a cabeça do menino -- Você é lindo! Oh, ya helu (seu lindo)! Parece tanto com abuuak (seu pai)... -- segurou o rosto dele com as duas mãos
--Eu nunca que conheci ninguém da família de paínho! -- emocionou-se também
--A gente não sabia de você, habibi! -- acariciava o rosto dele -- Você tem avós, tios, primos... -- sorria e chorava -- Todos louquinhos pra te conhecer!
--Eu quero conhecer, mãínha! -- olhou para a mãe com olhos súplices
--Ocê vai... -- secava as lágrimas -- Ocê vai...
--As portas da casa estão abertas, Georgina! -- olhou para ela -- Baba deixou isso bem claro pra mim! -- abraçou o sobrinho novamente -- Você e seu filho -- acariciava os cabelos dele -- serão bem recebidos! -- garantiu
--Oba! -- Hassan comemorou
--Eu num tenhu comu í... -- retrucou -- Meu fio vai mais ocê...
--Vão os dois! -- insistiu -- Não se preocupe com nada! Arrume os trem de vocês e itrouk el baqi a’alateh. -- pausou brevemente -- Deixe o resto comigo! -- traduziu
--A senhora me ensina essa língua, tia? A língua de paínho? -- pediu olhando para ela -- Essa que a senhora fala?
--Aywah, habibi! (Sim, querido!) -- ficou toda prosa -- Ensino... -- sorria -- "E além de tudo ainda gosta de aprender!” -- pensou orgulhosa
***
--Minha bela, que jantar maravilhoso! -- Cátia exclamou sorridente após limpar os lábios com o guardanapo -- Agora que já nos fartamos com as delícias do paladar, -- reclinou-se sobre a mesa e sorriu insinuante -- vamos sair daqui e nos refugiar em algum esconderijo pra nos alimentarmos com as delícias do amor... -- piscou
--Hum... -- Magali fez um charminho -- O jantar teria sido melhor se você não tivesse ficado se levantando de cinco em cinco minutos... -- passou a mão nos cabelos -- Parecia até que tava se dividindo entre eu e mais alguém... -- comentou desconfiada
--Que nada, meu bem, nem pense isso! -- segurou uma das mãos dela -- Foi um misto de coisas: -- fez um gesto -- o celular que não parava, essa maldita cistite que vez por outra me azucrina... -- olhava para a namorada -- Mas vamos pedir a conta, ir embora daqui e curtir a noite com muito amor! -- propôs sedutoramente -- Não vejo a hora!
--Tudo bem. Confesso que também não vejo a hora! -- concordou e sinalizou para o garçom -- Peça a conta, por favor, e enquanto isso vou ao toalete. -- recolheu a mão que a outra segurava -- Deixa eu dar um retoque na maquiagem. -- soprou um beijo e se levantou
--Pois não? -- o garçom aproximou-se
--A conta, por gentileza. -- pediu e o homem foi providenciar -- Graças a Deus meu plano deu certo! -- falava consigo mesma -- Lúcia foi embora sem ter desconfiado de nada! -- sorriu aliviada -- Amanhã procuro por ela. -- passou a mão nos cabelos e olhou ao redor, levando um susto -- O que?! -- levantou-se de um salto e correu em direção à morena que reingressava no restaurante
--Cátia?! -- a bombeira espantou-se ao ver a namorada se aproximar -- Pensei que já tivesse ido embora! -- estranhou -- Não tava passando mal?
--E tô! -- forjou uma expressão desgastada -- Se tô! -- disfarçava -- Só que precisei ir no banheiro pra... -- falava mais baixo -- enjoei, sabe? -- deu um sorriso amarelo -- E você? Por que voltou? -- queria saber -- "Vi essa criatura entrando no táxi!” -- pensou agoniada enquanto olhava na direção do banheiro
--Esqueci meu celular e voltei pra procurar. -- respondeu desconfiada -- Amor, você tá tão esquisita! -- constatou -- Vem pra minha casa que eu cuido de você! -- ofereceu
“Own, mas ela é tão meiguinha...” -- pensou envergonhada -- Não, meu bem, eu te agradeço, mas preciso mesmo é de um médico e já até liguei pra minha doutora. -- mentiu descaradamente -- À propósito, -- abriu a bolsa -- seu celular ficou comigo. -- pegou o aparelho e o entregou -- Agora que me toquei. -- sorriu sem graça -- "Cátia, sua idiota, que furo!” -- recriminou-se
--É... com licença. -- sorriu -- A sua conta, senhora. -- o garçom se aproximou da geofísica e entregou -- Dinheiro ou cartão?
--Ué?! -- Lúcia não entendeu -- Já não tinha pago?! -- olhava para a namorada e o garçom
--Ah, é que... faltou os dez porcento! -- disse o que primeiro lhe veio à cabeça
O garçom olhou em choque para a loura.
--Eu, hein! -- a bombeira estranhou -- Bem, deixa eu ir no banheiro. -- encaminhou-se para o toalete
--Não! -- segurou-a pelo braço -- O banheiro daqui tá um horror! -- revirou os olhos -- Acredita em mim, porque acabei de voltar de lá!
--É... -- abordou novamente -- Dinheiro ou cartão, senhora? -- o garçom insistiu sem muito jeito
--Cartão, filho! -- respondeu de cara feia -- Vai buscar a máquina, tá? -- pediu impaciente e ele obedeceu
--Cátia, quer deixar eu ir no banheiro? -- insistiu
--Vai no do primeiro andar! -- encaminhou-se com ela até a escada -- O de lá é bom! -- recomendou
--Você tá muito esquisita, viu? -- franziu o cenho -- Me espera aí que a gente vai sair daqui juntas! -- soprou um beijinho e desceu as escadas
--E agora, meu Deus? -- perguntou-se aflitamente
--Meu bem! -- Magali pôs as mãos nas costas da geofísica
--AH!! -- levou um susto e deu um gritinho
--Que é isso, criatura? -- não entendeu o espanto da outra -- E o que faz parada na frente da escada com a conta na mão?
--Ah, eu... -- olhou apavorada para a mulher -- É que... a máquina de cartão deles tava sem sinal e eu vim pra cá pra ver se pegava melhor! -- mentiu de novo
--E cadê a máquina? -- olhava para as mãos da amante
--Aqui está, senhora. -- o garçom se aproximava novamente
--Ah, trouxe outra máquina? -- Magali perguntou ao homem -- Essa aí tá pegando sinal direitinho?
--Outra? -- o garçom não entendeu
--É, trouxe outra. -- a loura tomou a máquina das mãos do homem, inseriu o cartão e foi digitando aleatoriamente
--Calma, senhora, ainda não digitei o valor da conta. -- o homem continuava sem entender
--Ih, mas que ineficiência, viu? -- entregou a conta e a máquina para ele -- Esperava mais desse restaurante! -- fez um tipo
Magali fez um gesto e se encaminhou para a escada. -- Vou descendo, querida. -- informou -- Te espero lá embaixo.
--Não! -- protestou desesperada
--Senhora. -- o garçom desejava que Cátia digitasse a senha
--Por que não? -- queria entender -- Que foi, hein? Você tá estranha! -- olhava para a namorada
--Sim! -- pegou a máquina e digitou nervosamente -- Desce e me espera lá embaixo! -- mudou de ideia -- "Pensando bem, é melhor ela descer antes que Lúcia volte e as duas se encontrem aqui!” -- pensou ao devolver a máquina
--Senhora, deu erro! -- o homem comentou constrangido
--Mas que inferno! -- olhou para ele de cara feia -- Digita de novo! -- passou a mão nos cabelos -- Eu devo ter errado a senha. -- o coração batia a mil -- "E agora, meu Deus?” -- pensava em desespero -- "Como que eu saio dessa?”
***
Após cinco minutos de espera, Cátia não sabia mais o que fazer.
“Cadê Lúcia, que não subiu?” -- andava de um lado a outro -- "Se eu descer pra encontrar com Magali, posso dar de cara com minha bombeira e vai ser um fuzuê!” -- pensava -- "Mas se bem que ela pode já ter encontrado Magali lá embaixo!” -- considerava -- "Não, se isso tivesse acontecido as duas tinham subido pra vir tomar satisfação comigo!” -- ponderava -- "Só que é estranho, porque Magali não gosta de esperar e não veio atrás de mim!” -- passava a mão nos cabelos -- "Não posso ficar aqui a vida toda!” -- decidiu -- E seja lá o que Deus quiser! -- respirou fundo e desceu as escadas
A geofísica procurou por suas namoradas e não viu nem sinal delas em parte alguma. Sem entender o que estava acontecendo, abordou um dos garçons e perguntou pelas mulheres, sem obter quaisquer notícias.
“Mas o que é que tá acontecendo aqui?” -- estava a ponto de surtar -- Gente, cadê elas? -- perguntou-se em voz alta
Mais alguns poucos minutos de tensão, e um garçom aproxima-se discretamente.
--Senhora? -- abordou educadamente -- Senhora Cátia? -- perguntou
--Sim. -- olhou para ele desconfiada
--Pra senhora. -- estendeu um bilhete, que logo foi recebido -- Com licença. -- fez um gesto de cabeça e se retirou
--Mas o que diabo é isso? -- abriu o bilhete nervosamente e começou a ler
“Querida Cátia,
Você realmente acreditava que poderia nos enganar indefinidamente com suas desculpinhas esfarrapadas e histórias mal contadas? Pensava que seríamos sempre duas idiotas em suas mãos? Pois a verdade veio à tona, meu bem! Nós já sabíamos de tudo e planejamos esse encontro de hoje à noite calculadamente.”
--O que?? -- arregalou os olhos e voltou a ler
“À propósito, obrigada pelo jantar que proporcionou a ambas! Em agradecimento, pensaremos em você a noite inteira enquanto estivermos fazendo mil loucuras sob os lençóis.
Beijinhos!
Magali e Lúcia”
--Não acredito! -- amassou o bilhete e o jogou no chão -- As miseráveis me enganaram, me fizeram de palhaça e ainda saíram daqui pra... -- tinha fogo nos olhos -- Malditas! -- deu um soco no ar -- Miseráveis... -- sentiu vontade de chorar -- AHAH!!! -- deu um grito
--Senhora. -- outro garçom se aproximou e recolheu o papel do chão -- Será que poderia se retirar? -- pediu falando baixo -- Suas atitudes não condizem com o ambiente. -- olhava para ela com seriedade
--Vai pro inferno você também! -- respondeu revoltada e saiu furiosa
CAPÍTULO 95 – Um Pouco de Leveza
--Ninguém abre os olhos! -- Zinara pedia para todos -- Só mais um pouquinho!
--AHHa, mais qui agunia, minina! -- Raed reclamou -- Queru vê meu netu!
--Também queru! -- Amina concordou -- Simbora cum issu, minina! -- ordenou
--Calma, que tá chegando a hora! -- respondeu divertida enquanto trazia o sobrinho consigo -- Hassan, também não pode abrir os olhos. -- falou para o menino
--Abro, não, tia! -- seguia de olhos fechados ao lado da morena
--Eita, qui eu tô curioso, num sabi? -- Ahmed comentou
--E eu, que vim correndo pra cá só pra ver esse menino? -- Aisha não se agüentava -- Já pode olhar, hein?
--Diz que sim, Zinara! -- Najla pediu
--Diz que sim, camma! -- Khadija pedia cobrindo os olhinhos com as mãos
Georgina acompanhava a cena sentindo o coração quase pular do peito.
A astrônoma posicionou o menino de frente para os familiares, que o aguardavam de pé diante da casa de seus pais, todos com os olhos fechados. Sorriu cumplicemente para Georgina e anunciou: -- Podem olhar! -- descobriu os olhos do sobrinho -- Eis aqui nosso querido Hassan! -- apresentou
--SMALLAH!! -- Amina, Raed e Najla exclamaram emocionados
--Nossu netu, muié... -- olhou para a esposa e começou a chorar -- O fio de Khaled...
--Mi acodi aqui, Najla. -- Amina pediu sentindo as pernas tremerem -- Espia só pra essi meninu! -- seus olhos marejaram
Segurou rapidamente o braço da cunhada para apoiá-la. -- Oh, Aba, ezzai? (Oh, Meu Pai, como pode?) -- a ex fazendeira não tirava os olhos do garoto -- Nunca vi um filho se parecer tanto com seu baba!
--Gente, ele é a cara do Khaled!! -- Aisha cobriu os lábios com as mãos -- Ai, mas isso é muito têúdêô: TU-DÔ! -- bateu uma palma
--E num é qui pareci meis? -- Nagibe estava pasmo
--Cara dum, fucinho dôtro! -- Ahmed balançou a cabeça admirado
--Aqueles são seus avós, habibi. -- a professora mostrou -- A gidda e o giddu. -- sorria para o menino -- Vai falar com eles? -- pediu gentilmente
Khadija olhava encantada para o primo e chorava com muita emoção.
--Muié, mas é a cara du meu irmão! -- Cid falou para a esposa com os olhos marejados
--Intão num si podi negá qui o fio é deli! -- Penha concluiu -- É bão!
--A benção, giddu (vovô). -- Hassan pediu respeitoso ao se aproximar -- A benção gidda (vovó). -- sorriu para eles
--Smalla'Alik! (Deus proteja você!) -- beijou a palma da própria mão e benzeu o neto -- Abraci aqui tua gidda! -- aconchegou o menino com carinho -- Qui filicidadi! -- beijou a cabeça dele -- Meu netu... -- chorava
--Smalla'Alik! -- Raed pôs uma das mãos rapidamente sobre a cabeça do garoto -- Avi Maria, é muita emoção...
--Abraci teu giddu! -- Amina pediu e Hassan abraçou-se com o avô
--Eu queria tanto conhecer meus avós... -- chorava -- Mãínha bem sabe...
--Meu mininu... -- beijou a cabeça dele -- Amanhã nóis vai tudu pru clubi modi eu apresentá eli lá! -- anunciou -- Vô falá cum ya Rafi e vai tê festa! Vai tê festa!
--Eita, que Hassan se deu bem! -- Zinara brincava
--Deixa eu ver ele um pouquinho? -- Najla pediu chorando -- Ai, meu Deus... é uma emoção que chega dói!
--Ai, eu também quero ver! -- Aisha veio para perto -- E abraçar, apertar as bochechas, essa coisa toda do primeiro encontro, né? -- gesticulava -- Gente, isso é o must!
--Dexa eu abraçá meu subrinhu! -- Nagibe pediu -- Vem, Dora, vem Khadija, vamu si apresentá! -- olhava para elas -- É mais um nu clã da genti!
--Catiúcia, traiz Ahmed Mateus módi eli vê! -- pediu a esposa -- E queru apresentá meus ôtro fio também! -- olhava para os garotos -- Vem cá ocês tudu! -- chamou e os filhos vieram
--Vem, Penha! -- Cid pegou a filha no colo -- Queru apresentá ocês duas!
--É tão bunitu issu! -- Georgina chorava também -- Meu fio finarmenti vai tê uma famia... -- olhou agradecida para Zinara -- Ocê num sabi da filicidadi qui eu tô sintindu... Nunca qui pensei... -- falava mais baixo -- Dipois di tudu...
--O passado ficou pra trás. -- a morena segurou uma das mãos dela -- Ninguém sabe da história completa além de maama e eu. -- garantiu -- E vai ser um segredo que levaremos pro túmulo, wallahi (eu juro)! -- olhava nos olhos -- De agora em diante você faz parte de usritina (nossa família)!
--Eu, uma ex puta barata... -- abaixou a cabeça envergonhada
--Não sabe o quanto eu respeito uma mulher que acaba se prostituindo em sacrifício para ajudar a quem mais ama! -- levantou o rosto dela segurando delicadamente pelo queixo -- Não sabe o quanto respeito e lamento por essa escolha. -- lembrava-se de Farida -- Mas isso fica no passado! Você não se resume a uma ex mahdia (prostituta). -- derramou uma lágrima -- Agora faz parte de nossas vidas. Você e seu filho! -- sorriu
--Eu vô morrê, Zinara... E num demora... -- chorava -- Cuida deli pra mim! -- pediu
--Morrer todos nós vamos, Georgina. -- olhou para o garoto novamente -- Mas enquanto estamos aqui, a gente cuida um do outro. -- passou a mão sobre os olhos -- Fique tranquila porque Hassan nunca mais ficará longe de nós! -- prometeu e olhou para a outra -- Nunca mais!
“Abracei aquela mulher como se fôssemos grandes amigas, Kitaabii. E ela se refugiou em mim como se buscasse um abrigo. Engraçado como nós somos, fico pensando. O ser humano é um bicho esquisito... De repente, a morte que se aproximava de cada uma de nós, Georgina e eu, parecia ser capaz de nos unir como a vida não pôde.
Sem dúvida alguma eu me sentia feliz. E perceber a emoção dela e a do menino naquele encontro, sentir a alegria de usritii, fazia com que a idéia de perdoar Viegas não fosse de todo tão impossível.
Será que o amor é mesmo capaz de tudo, Kitaabii? De vencer todas as batalhas da vida e transpor as dores do coração? De nos fazer esquecer do mal?
Não sei... Mas naquele momento eu queria abraçar o mundo...”
--Essi é meu fio mais novu, Hassan! -- Ahmed apresentou seu bebê -- Ahmed Mateus o nomi deli! -- sorria
--Nossa, olha comu eli si agitô! -- Catiúcia comentou impressionada
Sentiu uma emoção inexplicável. -- Posso segurar o bichinho? -- pediu para o casal -- Eu até sento no chão pra num deixar ele cair, visse? -- sentou rapidamente
--Dexi eli sigurá, muié! -- Ahmed pediu -- O mininu gostô du primu novu!
--Toma aqui! -- Catiúcia se ajoelhou e entregou o bebê nos braços de Hassan -- Sigura assim, ói! -- ensinou
--Ahmed Mateus... -- repetiu o nome do primo e o abraçou com muito carinho -- Dá uma emoção... -- sentiu que as lágrimas escapavam de seus olhos sem que pudesse controlar -- Emoção...
--Hassan... -- Khadija se aproximou dos dois. Não havia parado de chorar desde que viu o garoto pela primeira vez
Olhou para ela e chorou com mais intensidade. -- Venha, menina! -- chamou carinhosamente -- Abraça eu também! -- pediu
A garotinha foi até o primo e o abraçou como se o estivesse procurando por toda vida. O menino, com todo jeito, buscou envolvê-la com um dos braços, sem deixar de segurar o bebê, e num instante eram os três ali: juntos em um só sentimento de felicidade cúmplice.
“O que se passava diante mim, Kitaabii? O que estava presenciando naquele momento? Hassan, Khadija e Ahmed Mateus pareciam conhecidos de longa data.
O que ligava aqueles espíritos tão fortemente que nem o esquecimento bendito da reencarnação foi capaz de dissimular?
Não... acho que a emoção estava me fazendo perder o senso...”
--Vamu tudu é cumê! -- Amina ordenou batendo palmas -- Tem cumida qui num si acaba mais isperandu lá dentru, num sabi?
--Vambora cumê! -- Raed concordou -- E eu mudei di idéia! Hoji mesmu levu essi mininu pru clubi! E vai nóis tudu pra lá! -- gesticulava -- Vô falá cum ya Rafi e vai sê uma noiti ispeciar! Num guentu isperá inté amanhã, não!
Hassan olhou sorridente para a mãe e a tia.
--Tá só se dando bem, garoto! -- Zinara brincou com ele
--Ai, eu adoro essa vida social da roça! -- Aisha bateu palminhas -- Vem, mon cher! -- segurou Ahmed Mateus no colo e deu a mão a Hassan -- Vamos, que o dia promete! -- olhou para a menina -- Segura na mão dele e vem, Khadija! -- pediu -- Todo mundo pra dentro de casa!
--Vamo! -- a garota fez conforme lhe foi dito -- Hora di cumê!
--Vem, muié! -- Amina chamou Georgina com um aceno -- Sacu vaziu num fica di pé e ocê tá seca! -- reparou -- Zinara também, vem cumê! É ôtra qui tá seca!
Achou graça. -- Eu vou, maama... -- sorriu -- Sempre vou...
Georgina seguiu toda prosa de braços dados com Amina e os demais tomavam o mesmo rumo. O falatório era geral e a família parecia animada como se estivessem em festa.
“E era mesmo uma festa, Kitaabii! Fiquei parada olhando todo mundo entrar em casa e vi um sorriso no rosto de cada um. Estávamos bem, estávamos felizes e eu me sentia leve como nem sei dizer. Olhei para o céu e vi um azul maravilhoso riscado por poucas nuvens brancas e o brilho do sol que nos iluminava no esplendor do verão. Pássaros voavam despreocupados e um vento suave fazia com que algumas vagens caíssem rodopiando até tocar o chão. Espontaneamente lembrei de Khaled e do modo como se divertia ao ver o movimento curioso daquelas vagens que pareciam pequenas asas.”
--Olha, Zinara, pareci umas asa di bichu! -- apontava animadamente -- Eu gostu pur dimais da conta quandu elas cai! -- sorria -- Si pudessi fazê ventá, soprava forti só pra vê as asinha tudu rodandu nu céu!
--Sopra, Khaled! -- aconselhou -- Vai qui dá certu? -- sorria
“Fiquei pensando se naquele momento, em algum lugar, awlaadii (minha criança) não estaria sorrindo e comemorando o encontro de seu filho conosco. Talvez, lá dos espaços, ele estivesse soprando apenas para ver as vagens caindo sobre mim como se me dissesse que deu certo... O plano deu certo... Estávamos juntos!
Felicidade, Kitaabii, não tem como explicar; é só sentir... e eu sentia...
Queria que Sahar estivesse aqui para viver o momento comigo, mas sei que mesmo longe ela partilhava de tudo aquilo. Afinal de contas, ela me ensinou a amanhecer...
E hoje, mais uma vez, eu amanheço.”
Fim do capítulo
Música do Capítulo:
Magali cantarola:
Procurando Tu. Intérprete: Genival Lacerda. Compositor: Antônio Barros
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Samirao
Em: 09/10/2023
Esse CAPS também é uma delícia! Adoro Hassam
Solitudine
Em: 11/11/2023
Autora da história
Somos Duas
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Femines666
Em: 17/03/2023
É muita emoção, meu Deus! Essa história do sobrinho é linda!
Solitudine
Em: 19/03/2023
Autora da história
Olá querida!
Ele foi um amorzinho encontrado pelo meio do caminho. E que bom que o encontro se deu!
Fico feliz de vê-la tão envolvida!
Beijos,
Sol
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Alexape
Em: 01/01/2023
Que capítulo! Abala as estruturas de qualquer uma! Clarice que companheiraça! Zinara para de ser assim e agarra essa mulher com unhas e dentes!
Resposta do autor:
Clarice é uma companheiraça mesmo! Zinara reconhece, mesmo que vacile.
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 20/09/2022
Tem vezes que eu fico sem palavras. Puta que pariu essa história do Hassan e o final o capítulo. Tu é poesia pura guria! Puta que pariu Cátia tomando chifre duplo?? Hahaha toma totoma toma totoma hehe
Resposta do autor:
Obrigada!!!!! Você é uma pessoa sensível.
kkkkkkkkkkkk E uma pessoa divertida também!
Beijos,
Sol
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Samirao
Em: 19/09/2022
Amoree habibem tá bombeando! Tô fazendo uns ajustezinhos e você nem me agradeça tá? Huahuahua My darling vamos infernizar!
Resposta do autor:
Criatura!!! Que tanto ajuste é esse?? kkk
E vamos infernizar como assim? Dá inté medo, num sabe? rs
Beijos,
Sol
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Gabi2020
Em: 24/05/2020
Mulherrrrr.... Sei que é bousa, mas o corretor automático me pegou!! Kkkkkkkkk....
Bom domingo!
Resposta do autor:
A dona sabe, mas o seu celular é como Clarice: não sabe o que significa uma boa bousa! kkkkkkkkkkk
Bom domingo!
Hora de fazer lanche!
Beijos, Sol
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Gabi2020
Em: 18/05/2020
Solzinha tudo bem?
A curnicha de tia Najla piou... Kkkkkk.... Que gracinha ela toda envergonhada contanto pra cunhada.
“-- "Si ocê sobessi qui o homi créu já fuçô atráis, na frenti e im todu cantu...” -- pensou com vontade de rir -- "E Najla também já fuçô foi tudu e cum muito gostu!” Kkkkkkkkk.... Eita dona Leda fez escola!
Essa viagem de Zinara mexeu demais com ela, mas do que ela esperava. Bombas explodem...
Clarice precisa ser forte, mas como ser forte, vendo a mulher que ama desistindo de tudo? Bombas explodem...
Achei Zinara tão grosseira com Clarice, entendo a dor dela, mas Sahar só queria ajudar, ela podia ser um pouco condescendente. Fácil falar pra quem tá de fora e não viveu o que Zinara viveu, mas justamente quem vê de fora, consegue enxergar certos aspectos que a astrônoma não enxerga.
“-- Sinta saudades de mim quando você ou eu deixarmos essa terra, mas não antecipe as coisas! “... Porra Zinara entenda, ouça sua Sahar... Mas a caipira é f.
Dona Leda é um alívio nesses momentos de tensão!
“--Isso é crime, viu, Clarice? -- advertiu -- A mulher aí toda arrasada com as estripulias que o médico do capeta aprontou e você só em cima pra acasalar! -- olhava para a filha -- Nunca pensei que você fosse do tipo que só falta arrancar a curnicha da outra do lugar! -- balançou a cabeça contrariada -- Foram as influências daquela estupradora de terceira idade! -- lembrava de Cátia -- Cruzes!” Gargalhei alto aqui... Kkkkkkk....
Ê Cátia!! Ao menos fez algo de bom.
Essa história de bolsa... Kkkkkkkk.....
A casa caiu pra Cátia e nem tenho dó dessa bicha sem vergonha!
Esse encontro com Hassan foi lindo, penso que Zinara além de enxergar o irmão, “zerou” a dívida que supostamente ela tinha com Khaled.
“E hoje, mais uma vez, eu amanheço.”
Encerrou com chave de ouro, lindo demais!
Beijosss
Resposta do autor:
Gabinha!!!
Depois de tanto tempo, eis que camma Najla volta a amar novamente com tudo que tem direito. E daí por conta de tanto conservadorismo na vida ela fica assim, envergonhada.
A viagem de Zinara remexeu coisas que estavam bem escondidinhas ali dentro da mente. Aquelas lembranças que ficam intactas por segurança de nosso próprio bem estar. Mas ela precisava passar por isso. Faz parte de seu caminho, do Tao.
Clarice tem muita paciência, dedicação e entrega. Zinara não estava preparada para o mesmo nível de renúncia, até porque ela já havia renunciado muita coisa e era hora de recuperar. Mas dentro do que podia, ela dava o máximo para sua Sahar. E mesmo não sendo fácil para Clarice, envolver-se com alguém com tantas bagagens pesadas tem um preço.
Ya Leda fala as coisas muito na lata e sem meias palavras. Mas é um amorzinho.
Não é bolsa, é bousa. E você, já teve bousa hoje? kkkk
Obrigada por gostar do capítulo! E por vir aqui comentar.
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Na sua vida, não! Na vida de Jamila! rs