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EM BUSCA DO TAO por Solitudine

Ver comentários: 9

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Palavras: 18535
Acessos: 10439   |  Postado em: 02/01/2018

YOUSSEF

 

 

CAPÍTULO 58 –  E Assim Passaram-se os Dias em Cidade Restinga...

 

De volta a Cidade Restinga, Zinara conversava com Cláudia no final do dia.

 

--Então, ficamos assim: vamos retomar o tratamento do modo como te expliquei e a gente se vê toda terça. -- olhava para a amiga -- Combinado?

 

--Wana amil eh? (Fazer o que)? -- deu um suspiro triste -- Espero que esse coquetel não seja tão danado quanto o outro e que meu braço se recupere. -- olhava para ele -- O pobre tá só o quimba!

 

--Tá só o quimba?! -- não entendeu a expressão

 

--Não queria ter que sacrificar esse aqui também... -- mostrou o outro braço -- E também não me agrada uma vida de braceta! -- reclamou

 

Achou graça. -- Braceta... É cada coisa que você me inventa! -- riu e balançou a cabeça -- Vai dar tudo certo, querida. -- respondeu com carinho -- Faça as compressas como te orientei e esse braço vai ficar melhor.

 

-- Inshallah! (Se Deus quiser!) -- desejou olhando para cima

 

--Mas agora vamos prosear um pouco. -- debruçou-se sobre a mesa -- O que aconteceu durante essa estadia em São Sebastião que a senhora voltou tão bem? -- sorriu -- Tá com uma cara tão boa... -- reparava na professora -- Será que tem a ver com uma certa paleoceanógrafa? -- piscou para ela

 

Zinara abaixou a cabeça e sorriu envergonhada. -- Ih, mas aconteceu foi coisa boa por demais da conta nessa viagem...

 

--Tô ouvindo! -- estava curiosa

 

--Uai... -- olhou para a médica -- Acho que baba e eu finalmente estamos no caminho pra nos entender...

 

--Que maravilha, Zinara! -- sorriu satisfeita

 

--Sonhei com Shamash e ela me aplicou um passe. -- contava -- Isso também me fez um bem que nem sei dizer!

 

--Ai, lá vem você com esses assuntos... -- revirou os olhos contrariada

 

Ignorou o comentário da outra. -- E... Clarice e eu... -- ficou tímida novamente -- estamos namorando...

 

--E não estavam antes? -- estranhou

 

--Não, porque eu não tinha condição, uai. Clarice não é mulher pra se oferecer pouco!-- tentava se explicar -- Agora que eu me sinto mais pura, achei que podia... pedir ela em namoro... -- sorriu de novo -- Ya gamil, ya habibi... (Minha linda, minha querida...) -- visualizou o rosto da amada em sua mente -- E sabe que ela aceitou?

 

--É lógico que ela aceitaria, a menos que fosse louca! -- afirmou enfática -- E que bom que as coisas andam tão bem! -- segurou uma das mãos dela -- Realmente é muito bom te ver assim!

 

Continuava sorrindo. -- Ana mabsoutah! (Estou feliz!)

 

--Nota-se! -- cruzou as pernas -- E deduzo que... -- sorriu maliciosa -- aconteceu? -- perguntou em voz mais baixa

 

Balançou a cabeça positivamente. -- E foi muito, muito especial!

 

--Ai, que ótimo!! -- bateu uma palma -- Zinara, você não sabe como fico feliz em ouvir isso! -- sorria empolgada -- Amar faz bem e Clarice é uma boa mulher pra você! -- lembrou-se de Jamila -- Ao contrário de umas e outras que têm por aí! -- fez cara feia -- Foi ótimo que tivesse acontecido, pra você tirar logo o ranço jamilesco da tua vida!

 

--Ranço jamilesco... Você tem uma birra com Jamila! -- achou graça -- Deixe ela! -- pediu -- Ficou no passado!

 

--Ficou nada! -- discordou ao se levantar -- Ela veio me procurar pra saber de você, -- andou pelo consultório -- e eu disse umas boas verdades, sabe como? Pra arrasar logo! -- comentou gesticulando -- Sei que ela vai insistir em voltar, então seja firme e diga um não bem arretado pra ela!

 

Surpreendeu-se com o que ouviu. -- Macleech, doktuur! (Não se preocupe, doutora!) Jamila e eu é uma história que ficou no passado! -- afirmou convicta

 

--Acho bom! -- olhava para a morena -- Porque do contrário te dou uma surra pra tomar vergonha na cara! -- ameaçou

 

--Ave Maria! -- respondeu divertida

 

--Eu não tô brincando, não, viu, Zinara? -- advertiu -- Volte pra ela e te deixo braceta!! -- gesticulou

 

--Eita, boi! -- abraçou a si mesma protegendo os braços

 

Enquanto isso, em São Sebastião...

 

--Clarice, conta tudo! -- Magali invadia a sala da amiga -- Bota pra fora essa verdade nua e crua! -- ordenou -- Esperei ansiosa até essa hora pra vir aqui te perguntar: -- puxou uma cadeira e se sentou -- foi ou não foi?

 

Ficou envergonhada com a abordagem brusca. -- Foi pra onde, criatura? -- tentava ganhar tempo

 

--Deixa de me enrolar e responde, mulher! -- debruçou-se sobre a mesa da outra -- Sabe muito bem do que eu tô falando! -- sorriu -- Levou ela praquele motel e mandou ver?

 

--Mas que maneira de falar, Magali, que horror! -- ralhou -- Eu hein! Parece até conversa de homem vulgar! -- passou a mão nos cabelos contrariada -- Mandou ver... humpf! -- fez um bico

 

--Clarice, deixa de doce e me responde, por favor? -- insistiu

 

--Ah, você não tem romantismo... -- cruzou as pernas -- Aconteceu sim... -- pausou brevemente -- E foi muito lindo, -- sorriu -- muito especial... -- suspirou

 

--Hum, então você gostou... -- ficou toda animada -- Conta os detalhes! -- ordenou cheia de fogo -- Como são as mulheres de Cedro na cama, hein? Agressivas, safadas, ordinárias...? -- queria saber -- Ela morde, arranha com ódio, bate ou faz o que? -- não se agüentava de assanhamento -- Ela é melhor que Cátia? Dê uma nota de zero a dez! -- pediu

 

--Ih, eu, hein, você me vem com cada coisa! -- levantou-se e pegou a bolsa -- Ela é a mulher que eu amo, como nunca amei ninguém! E basta você saber isso. -- desligou o computador

 

--É... você nunca me conta os detalhes sórdidos... -- respondeu desanimada

 

--Vamos embora? -- olhou para o relógio -- São quase sete.

 

--Vamos. -- levantou-se também -- Tá na hora mesmo! -- encaminharam-se para a porta -- Vejo que... depois dessa, definitivamente não há mais espaço pra Cátia na sua vida... -- concluiu

 

--Há muito tempo não há! -- respondeu convicta -- Mas por que esse interesse todo em saber de Zinara e eu, de Cátia...? -- perguntou desconfiada ao sair -- Sinto que há algo mais além do seu gosto natural por fofocas sexuais. -- caminhavam pelo corredor

 

--Bem... -- pensava em como dizer -- Claro que eu queria saber se vocês saíram do zero a zero, mas... -- olhou rapidamente para a outra -- Cátia me ligou ontem à noite pra conversar... e me chamou pra sair... -- confessou

 

--E você tá doida pra isso, né? -- achou graça -- Cadê a mulher que disse que Cátia Magalhães é gata, porém safada e por isso não vale a pena mesmo pra curtição? -- lembrava das palavras da outra

 

--Sabe como é, Clarice... na minha horta não tem chovido nada há tanto tempo... Tô numa seca de dar dó! -- justificou-se -- E ela tá insistindo tanto, né?

 

--Fique à vontade, Magali. Cátia e eu ficamos no passado e não me importa com quem ela saia. -- respondeu com sinceridade -- Apenas tome cuidado pra não se envolver e se magoar. -- aconselhou

 

--Tudo bem. -- tranquilizou-a -- Não sou como você que se apaixona fácil! -- garantiu

 

***

 

--Então, professora, eu analisei todos os grandes terremotos de Nova Maorilândia no século XX e constatei que tiveram uma coisa em comum: o alinhamento do sol com o planeta Hermes! -- o aluno sorria satisfeito -- E isso não pode ser coincidência! Veja só! -- mostrava imagens na tela do computador

 

--Certamente não! -- concordou com ele -- Lembre-se daquela conversa que tivemos sobre ciclos solares, pressão de maré gravitacional e sua influência no vulcanismo do nosso planeta. -- olhava para o monitor -- Não considero nada absurdo que tais alinhamentos interfiram de algum modo no movimento das placas tectônicas, e Nova Maorilândia tá assentada sobre duas delas! -- analisou as imagens com mais atenção -- Mas... -- pensava em possibilidades -- devemos investigar com mais calma, porque nem sempre houve terremoto por acontecer o alinhamento entre Hermes e o sol!

 

--Já constatei isso também, professora. -- olhou para ela -- E não sei o que pensar... -- respondeu envergonhado -- Mas ainda tô empolgado em explorar a teoria!

 

--Hum... -- olhava para ele enquanto pensava -- Pesquisou a Cynthia? -- propôs -- Será que nas ocasiões dos terremotos ela não estava mais perto de nós?

 

Após uns segundos calado, sorriu ao se lembrar de um detalhe. -- Ei, se não me engano... -- consultou uma planilha -- Cynthia tava no perigeu quando os grandes tremores aconteceram! -- olhou para a professora -- Vou conferir com cuidado, mas acho que matamos a charada! -- quase pulava de alegria

 

--Calma, rapaz, sem conclusões precipitadas! -- aconselhou -- Sempre há vários fatores conjugados ao redor de um dado fenômeno natural. Analise os dados com rigor científico e veja se podemos propor uma teoria do tipo: -- explicava -- há maior probabilidade de ocorrência de tremores fortes na região de Nova Maorilândia quando o alinhamento entre Hermes e o sol coincidem com a maior proximidade da Cynthia com nosso planeta.

 

(Nota da autora: baseado em http://solarwatcher.net/index.php?option=com_content&view=article&id=1010:joe&catid=3:newsflash)

 

--Muito massa, professora! -- bateu palmas -- Já tenho até um nome pra essa teoria: -- mirou um ponto no infinito -- teoria de Chinara! -- sorria como bobo

 

--Chinara?! -- não entendeu

 

--Ah, é a fusão de Chico, -- apontou para si mesmo -- com Zinara! -- explicou -- Não ficou bom?

 

Achou graça. -- Ai, ai... Sugiro que estude mais o assunto antes de investir num nome pra essa teoria. -- respondeu divertida

 

--Pôxa, como eu tava com saudades da senhora! -- confessou com sinceridade -- Professor Ribeiro disse que eu pirei na batatinha ao tentar propor essa teoria. Falou que me deixei levar pela empolgação de ter viajado pra Nova Maorilândia pra pegar onda e perdi a noção das coisas! -- criticou o homem -- Eu sabia que a senhora ia pensar junto comigo e me ajudar a encontrar uma saída!

 

--Pra toda idéia nova surgirão vários argumentos contrários. -- respondeu simplesmente -- Um cientista de verdade não desiste fácil, Chico. Podemos estar errados, mas é preciso que nos convençam! -- olhava para o jovem -- Da mesma forma, precisamos buscar as evidências que tornem nossos argumentos confiáveis.

 

--E eu vou fazer isso! -- levantou-se decidido -- Obrigada, professora! -- sorriu -- Não sabe o quanto me ajudou!

 

--Al’afw! (Não há porque agradecer!) -- fez um gesto -- Quando tiver mais respostas, me procure.

 

--E eu vou! -- caminhou até a porta da sala -- Volte logo, professora! -- pediu -- A senhora faz muita falta! -- deu tchauzinho e saiu

 

--Se faz! -- Werneck encostou-se no portal -- Volte logo, mulher! -- pediu também -- Esse departamento sem você é igual caldo de bilota: ralo, ralo...

 

--Caldo de que? -- achou graça

 

--Acha que é só você que conhece expressões caipirescas inusitadas? -- sentou-se ao lado dela -- Escute, Zinara, bastou você passar essa semana aqui trabalhando com a gente que já vi uns e outros aí se coçando! -- referia-se a alguns professores -- Bernadete tem cortado um dobrado pra tocar o projeto dos observatórios virtuais e eu te digo porque: -- enumerou nos dedos -- falta de verba, inexperiência dela e falta de apoio de colegas nossos que poderiam somar bastante! -- afirmou sem rodeios -- E tudo isso por uma coisa só: orgulho!

 

--Dah mumill! (Isso é um saco!) -- fez cara feia -- Quanta coisa se faz, ou não se faz, simplesmente por orgulho!

 

--E também teve muita gente aperreada quando o diretor do telescópio SONdAR disse que desejava você a frente dos trabalhos com o equipamento. -- contava -- Isso aconteceu na semana passada!

 

--É, mas só lembram de mim na hora das obrigações. -- levantou-se contrariada -- Quando é pra dar um avanço de letra e dinheirinho no contra cheque, premiam gente que não produz nem a metade que eu! -- cruzou os braços -- Comigo é só na base do “Mahabruk (parabéns), Zinara!” e tome de trabalho no meu lombo! -- desabafou -- Você sabe disso, até porque também vive essas coisas na pele!

 

--Mas a vida é assim mesmo! -- abriu os braços conformado -- Não se pode esperar reconhecimento pelo trabalho bem feito porque dificilmente isso vem! -- cruzou os braços -- O trabalho, seja onde for, reflete a podridão da sociedade que nós formamos! -- expôs seu modo de pensar -- O importante é fazer a diferença, dar o nosso melhor e fazer o mundo andar pra frente de vez em quando! Mesmo que as chefias ou o Governo jamais reconheçam esses esforços, nós sabemos o que fizemos e isso basta!

 

“Nunca esperei ouvir isso de Werneck! Ele não costuma ter uma visão tão romântica, embora seja dedicado.” -- pensou surpreendida -- Sei que você tem razão, mas não nego que essas injustiças me magoam.

 

--E magoam a mim também. -- assumiu -- Na verdade eu fiz esse discurso todo só pra te convencer a voltar! -- confessou -- Volte, Zinara! -- pediu com cara de maior abandonado -- Eu não agüento mais ser chefe de departamento, é uma consumição dos diachos! Fico doido com o tanto de burocracia que existe atualmente pra fazer qualquer coisa num projeto de pesquisa! -- gesticulava -- E administrar aluno é o cão! Eles reclamam de tudo, Ave Maria!

 

Riu gostosamente. -- Ai, ai, agora sim tá parecendo você falando!

 

--Volte, por favor! -- insistiu

 

--Ainda não terminei o que tenho que fazer, Werneck. -- respondeu pensativa -- Preciso de mais tempo... -- mirou um ponto perdido -- “E se até lá eu sobreviver, aí sim volto pra cá...” -- pensou com pouca esperança

 

***

 

Zinara havia acabado de sair do banho quando ouviu batidinhas na porta.

 

--Uai? -- não esperava ser visitada àquela hora -- Não me diga que é a sindica? -- olhou pelo olho mágico -- Ih! -- surpreendeu-se -- Mas e não é que ela veio mesmo? -- abriu a porta desconfiada -- Messe il-kheer. (Boa noite.) -- cumprimentou com certa formalidade -- Kifel haal? (Como vão as coisas?)

 

--É assim que você me recebe depois de tanto tempo sem me ver, hayati? -- respondeu insinuante ao entrar -- Se bem que... -- fechou a porta -- tá tão gostosinha recém saída do banho... -- sorriu maliciosa -- Saudades! -- abraçou-a com força e sussurrou no ouvido: -- Messe in-nuur! (Boa noite!) -- beijou-lhe a bochecha bem perto da boca -- E tudo fica bem melhor com você por perto. -- olhava nos olhos -- Dayman! (Sempre!)

 

A astrônoma sentiu-se um pouco perturbada e rompeu o contato. -- Olha, Jamila, deixa eu te contar! -- afastou-se -- Eu tô namorando e não é certo que você venha chamegando desse jeito! -- falou com seriedade -- Se quer me fazer uma visita, sente pra conversar e a gente faz um lanche, mas não venha com intimidades que não cabem mais!

 

“Namorando? Ah, mas é por pouco tempo!” -- pensou decidida -- Se quer assim, tudo bem, hayati. -- concordou disfarçando a contrariedade -- Mas gostaria muito de conversar com você. -- pediu -- Preciso desabafar... min fadlik (por favor)...

 

“Não há mal em conversar um pouco. Imagino que ela precise, depois de tudo que passou no caso Hamatsu.” -- pensou -- Senta? -- indicou o sofá -- Me dá dois segundos que preparo uns sanduíches. -- passou a mão nos cabelos -- E hoje tem água de coco na geladeira! -- anunciou sorrindo

 

--Você é sempre uma anfitriã maravilhosa, hayati. -- sentou-se e cruzou as pernas sensualmente

 

“E você uma eterna sedutora...” -- pensou ao perceber o charme que a outra jogava

 

***

 

--E agora, depois de todo aquele sufoco, vivo uma situação bem diferente, sabe hayati? -- contava após finalizar o sanduíche -- Já dei várias entrevistas, fui procurada por algumas ONGs sérias, por pesquisadores que têm histórias parecidas com a de doutor Hamatsu... -- limpou os lábios com guardanapo -- Tô preparando uma espécie de dossiê, junto com colegas do escritório, pra levar tudo a conhecimento do Ministério Público! -- comentou empolgada

 

--Smallah! -- exclamou admirada -- E além do caso Hamatsu o que mais você descobriu pra compor esse dossiê? -- perguntou interessada

 

--Tenho evidências irrefutáveis que mostram que Godwetrust impede o avanço das pesquisas nucleares no país. -- afirmou seriamente -- Por razões de ordem econômica e estratégico-militar!

 

--Certamente a razão econômica se relaciona com o fato de Terra de Santa Cruz dispor de grandes reservas de urânio e de tecnologia própria e comercialmente competitiva pra produção do combustível nuclear! -- concluiu

 

--O que faria com que a gente deixasse de ser exportador de minério, que é matéria-prima barata, e passasse à condição de importante global player no bilionário mercado de combustível nuclear! -- Jamila complementou -- E o motivo estratégico-militar é que um país que tem como opção política permanente a intervenção militar, independentemente da aprovação da Organização das Nações Amigas, não se agrada que um país como o nosso possa produzir artefatos nucleares. -- explicou

 

--Por razões óbvias, né? -- bebeu um gole de água de coco -- Não que eu seja a favor da produção de armas nucleares, mas se a gente também tiver algumas aqui, mesmo que de baixa potência, já dá pra falar mais grosso! -- concluiu -- Já daria pra inibir tentativas de invasão do nosso território!

 

(Nota da autora: baseado em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.php?id=16862)

 

--Exatamente! -- balançou a cabeça concordando -- E tem também a questão da biopirataria, como o extravio de insetos e ervas pra indústria farmacêutica internacional, o caso da exploração indevida de minérios e por aí vai...

 

--É tanta podridão que dá nojo na gente! -- fez uma cara feia -- Ralã! (expressão de desgosto)

 

A advogada gastou uns segundos calada apenas prestando atenção na outra. -- Senti saudades dessas nossas conversas... -- debruçou-se sobre a mesa -- Eshtaqto elaiki katheeran... (Senti tanto a sua falta...)

 

Zinara abaixou a cabeça e olhou para as mãos. -- Não leve a conversa pra esse lado, Jamila. -- pediu ao olhar novamente para a jovem

 

--Você sabe que eu assumi o caso da sua prima Aisha, não sabe?

 

--Ela me contou. -- respondeu simplesmente

 

--Não foi calculado... simplesmente aconteceu assim. Minha colega teve problemas pessoais e não teve condições de continuar. -- contava a história -- E eu assumi porque nenhum outro colega teve disposição pra isso. -- justificou-se

 

--Wbitichkii min eh? (E qual é o problema?) Não vejo isso com maus olhos, Jamila, do contrário. -- foi sincera -- Se é alguém em quem confio pra levar esse caso adiante é você! -- pausou brevemente -- Aliás, seu momento profissional não podia ser melhor!

 

--Então não se aborreceu? -- sorriu -- Tamintanii! (Que alívio!)

 

--Não seria a primeira vez que você ajuda usritii (minha família). -- sorriu

 

--Tem minha palavra que vou me empenhar ao máximo! -- segurou uma das mãos da morena -- Wallahi! (Prometo!)

 

--Eu sei. -- recolheu a mão delicadamente -- Deixa eu cuidar dessa louça. -- levantou-se e começou a juntar os pratos

 

--Te ajudo. -- ofereceu ao se levantar

 

--Tudo bem, Jamila. -- recusou gentilmente -- Tudo bem. -- colocou toda louça na pia

 

Aproveitando um momento em que a morena virou-se para pegar a esponja, a advogada puxou-a para junto de si e pediu insinuante: -- Hatee booseh, hayati... (Beije-me, minha vida...) -- aproximou os lábios

 

--Laa! (Não!) -- afastou-se bruscamente -- AHHa! Sabe que namoro Clarice, pare com isso! -- reclamou ofendida

 

--Zinara, escuta por favor! -- aproximou-se mais uma vez -- Behebbik ya, ya habibit! (Eu te amo, minha querida!) -- olhava nos olhos -- Eu mudei! Confesso que estive com outras mulheres nesse meio tempo, mas eu mudei!

 

--Jamila... -- não se sentia confortável naquela situação

 

--Eu sei que demorei demais a crescer, mas eu mudei! O tempo em que fiquei reclusa com medo de ser assassinada me forçou a rever minha vida e meus conceitos! -- continuava falando -- Eu mudei, dessa vez é verdade! -- segurou-a pelos braços -- E eu sei que você não ama aquela...

 

--Veja lá como vai se referir à Clarice! -- advertiu enérgica ao se desvencilhar

 

--Hayati... -- respondeu decepcionada -- Você não costuma a falar assim comigo...

 

Controlou a raiva e desculpou-se em tom mais baixo: -- Aasif... (Sinto muito...) -- pausou brevemente -- Mas não admito que ofenda minha Sahar de maneira alguma! -- passou a mão nos cabelos

 

“Sua Sahar?!” -- pensou indignada, mas se conteve -- Você se envolveu com ela só pra me afrontar? -- perguntou despeitada

 

Respirou fundo antes de responder. -- Mosh hadary belahfaty bayna lelnas kelha! (Eu não vou esconder o que sinto, já que é muito óbvio!) -- olhava nos olhos da outra -- Clarice é a mulher da minha vida! -- assumiu

 

--Laa... (Não...) -- os olhos marejaram

 

--Saia da minha vida, Jamila. -- pediu -- Não te quero mais! -- afirmou duramente -- Nunca mais!

 

--Por que guarda tanta mágoa de mim? -- controlava-se para não chorar -- Clarice não é melhor do que eu!

 

--Melhor ou pior, é a mulher que eu amo e ponto final! -- respondeu de pronto

 

A jovem passou a mão nos cabelos e saiu da cozinha rapidamente. Zinara pôde ouvir seus passos apressados e o barulho da porta da sala batendo com força.

 

“Jamila...” -- pensou ao derramar uma lágrima

 

A astrônoma lavou a louça e foi para o quarto. Abriu o laptop e voltou a escrever seu livro de memórias. Precisava desabafar.

 

“Como é possível amar uma pessoa com todas as forças e depois ter que tirá-la do seu coração, Kitaabii? Como é possível que alguém, outrora tão íntimo, se transforme numa pessoa com quem mal se pode conversar em paz?

 

Por que ela me perturba, se não foi o desejo a causa de meu desconforto? Por que me pareceu que, bem dentro de mim, gostei de ver a tristeza estampada em seu rosto, quando ao mesmo tempo a constatação dessa tristeza me causou dor?

 

O que ainda existe entre nós, Kitaabii? O que sobrou de Jamila e eu? Será mágoa, rancor e um pouco de saudade? Será orgulho, capricho do ego e arrependimento? Um pouco de tudo isso, talvez?

 

Laa acrif, Kitaabii... laa acrif... (Eu não sei, Meu Livro... eu não sei...)”

 

A geógrafa dirigia seu carro com o coração agoniado. Chorava contidamente e sofria diante da constatação de que havia perdido Zinara. Não queria aceitar, mas aquela verdade parecia se impor de forma visceral.

 

--Laa... (Não...) -- ligou o som -- Eu não aceito isso... Jamila Haddad não aceita a derrota! -- secou os olhos rapidamente

 

A professora parou de escrever, levantou-se e ligou o rádio. Sentia-se mal, precisava de um pouco de música.

 

“Desculpe, estou um pouco atrasado,

Mas espero que ainda dê tempo,

De dizer que andei errado e eu entendo...”

 

Jamila ouvia a mesma canção naquele exato momento. Sentia-se traduzida por ela.

 

“As suas queixas são justificáveis,

E a falta que eu fiz essa semana,

Coisas que pareceriam óbvias,

Até pra uma criança...”

 

--O óbvio é o que a gente mais leva tempo pra perceber... -- Zinara murmurava olhando pela janela -- Não é, habibit? -- pensava na ex

 

“Por onde andei,

Enquanto você me procurava?

Será que eu sei,

Que você é mesmo tudo aquilo que me faltava?”

 

--É você que eu quero, sua astrônoma teimosa! -- deu um soco no volante -- Cabeça dura, orgulhosa! -- chorava novamente

 

“Amor eu sinto a sua falta,

E a falta é a morte da esperança...”

 

--Yatamanna não pode morrer... -- Zinara lembrava palavras de Zahirah

 

“E a vida é mesmo coisa muito frágil,

Uma bobagem, uma irrelevância,

Diante da eternidade do amor,

De quem se ama...”

 

--Por onde andei, -- a advogada cantava -- enquanto você me procurava? E o que eu te dei, foi muito pouco ou quase nada! -- identificava-se com a letra da canção -- Sei que eu deixei, algumas roupas penduradas. Será que eu sei, que você é mesmo tudo aquilo que me falta? -- lembrava-se de fatos recentes...

Nando Reis – Por Onde Andei [a]

 

“--E quanto à mulher que olha para o céu... -- a pedinte interrompeu a fala de Jamila -- os caminhos não estão mais entrelaçados...

 

--O que?? -- sentiu o coração acelerar ao perceber que era de Zinara que a idosa falava

 

--Você a perdeu! -- afirmou solenemente”

 

“Não pode ser...” -- a jovem pensava -- Que merd* que essa Clarice tinha que se meter pra estragar tudo! -- reclamava -- AHHa!

 

Zinara encostou a testa na parede e fechou os olhos. Estava sofrendo, sentia-se mal e desejava entender a si mesma.

 

“Clarice, minha Sahar...” -- pensava na amada -- “Preciso de você...”

 

***

 

--Eu tô morrendo de saudades de você, amor. -- Clarice falava abraçada ao travesseiro -- Parece que faz um ano que você voltou pra casa...

 

--Também sinto sua falta, Sahar. -- admitiu saudosa -- Muita mesmo...

 

--E você tem passado bem? -- perguntou preocupada -- Quando seus pais vão chegar? Fico tão agoniada em te ver aí sozinha sem ninguém pra cuidar de você...

 

--Eu tô bem, Sahar, yahda’u (fique calma). -- achou bonitinho o jeito da namorada falar -- Caipiras ‘rodopeiam mais num freiam’! -- brincou -- De mais a mais, semana que vem maama e baba chegam aqui. -- escondeu da amada que vinha se sentindo mal há alguns dias

 

--Queria muito estar aí com você... -- lamentou ao dar um suspiro -- Eu já te contei minhas novidades, agora me diz... O que tem feito? Tem se cuidado, voltou pro tratamento...? -- deitou de barriga para cima -- E me diz a verdade, nada de esconder as coisas! -- advertiu

 

--Não tem o que esconder. -- garantiu sorrindo -- Fui na Cláudia e retomei o tratamento, visitei minhas velhinhas, fiz compras, porque essa casa tava à míngua, fiz limpeza, trabalhei na universidade... -- pensava no que já havia feito desde o retorno -- E foi isso, de volta à rotina. -- pausou brevemente pensando quanto à falar da ex -- Também tem outra coisa... -- passou a mão nos cabelos -- Jamila veio aqui...

 

Sentou-se na cama alarmada. -- E ela queria o que? -- franziu o cenho

 

--Falar de si, desabafar...

 

--E voltar pra você! -- concluiu chateada

 

--É... -- concordou sem graça

 

--E será que eu posso saber por que você alimenta essas conversas já que diz que não a quer mais? -- levantou-se contrariada

 

--Eu não alimento! -- protestou -- Tanto que disse umas coisas pra ela que... -- lembrava-se do episódio -- A coitada saiu daqui transtornada...

 

--Coitada?! -- perguntou indignada -- Faz bem pro seu ego alimentar as esperanças de uma mulher que vive te pedindo pra voltar ou isso é alguma vingança de sua parte por tudo que ela te fez? -- perguntou sarcástica

 

--Laa! (Não!) -- protestou chateada -- Jamila e eu tivemos uma vida, Clarice, goste disso ou não! Seria muita ignorância minha proibi-la de entrar aqui em casa! -- justificou-se -- Não quero mais nada com ela, wallahi (eu juro)! E nem alimento esperanças que ela possa ter! -- continuava argumentando -- Apenas a recebi porque senti que ela queria conversar!

 

--Ao ponto que me responde com essa rispidez, deveria tentar se colocar no meu lugar! -- retrucou magoada -- Como se sentiria se eu deixasse Cátia entrar aqui em casa pra chorar no meu ombro? E olha que ela tentou esse contato várias vezes só que eu cortei!

 

--Eu não tô sendo ríspida, só tô tentando me explicar! -- não concordava com a outra -- E se Cátia fosse aí e você não ficasse de gracinha com ela, eu não me incomodaria!

 

--Será? -- duvidou -- Às vezes acho que você tem uma certa dificuldade em se colocar no lugar do outro! -- reclamou

 

--AHHa! Como pode dizer isso? -- reclamou também -- Eu apenas não queria que ela se sentisse banida de minha vida! -- franzia o cenho -- Não foi porque terminamos que devo ser uma grossa! -- elevou o tom de voz -- Se não confia em mim porque quis ficar namorando comigo?

 

--Tudo bem, Zinara. -- não queria mais conversar -- Continue dando apoio pra coitada, você é quem sabe. -- passou a mão nos cabelos -- Agora eu preciso desligar porque tenho mais o que fazer!

 

A astrônoma deu um suspiro profundo.

 

--Cuide-se, fique com Deus e boa noite. -- desligou sem esperar resposta

 

--Mas que coisa, aHHa! -- resmungava sozinha -- Será possível que não dou uma dentro? -- Zinara jogou o telefone sobre o sofá -- Minha Sahar vai acabar desistindo de mim por causa de minha besteira... -- concluiu com tristeza -- E ela me achou ríspida... acha que não sei me colocar no lugar dos outros... -- lamentava-se agoniada -- Será que ela tá certa? -- sentou-se no chão -- Eita, que tá me dando uma sudaagh (dor de cabeça)... -- fechou os olhos e levou as mãos à cabeça -- Aba... (Meu Pai...) -- clamou amedrontada

 

--Quê que houve, menina? -- Leda perguntou desconfiada quando Clarice aparece na sala -- Tava toda melosa no telefone e agora me vem com essa cara de quem cheirou uns miúdo? -- parou de bordar

 

--Cheirou miúdo, mamãe? -- fez cara feia -- A senhora me vem com cada coisa! -- andava sem rumo pela sala

 

--Não me diga que já brigou com a outra? -- concluiu ao cruzar os braços -- Até bem pouco tempo era uma lambição danada, começaram a namorar outro dia e já tão de arranca rabo? -- fez um bico -- Eu hein!

 

--Não é isso! -- parou diante da janela -- Zinara faz umas coisas também... -- olhava para a rua

 

--O que foi que ela fez? -- perguntou desconfiada

 

--Ah... -- mexia na cortina -- Fica de conversinha com a ex dentro de casa... -- falou como criança dando queixa -- Sabe que Jamila vive à espreita e não fecha as portas pra ela!

 

--Humpf, eis que a sebosa renasceu das cinzas! -- fez um bico -- Se Zinara é do tipo que fica de chamego com ex, corre que é fria! -- levantou-se -- Mas se ela apenas tá sendo gentil, e acho que o caso é esse, -- aproximou-se da filha -- situa aquela caipira!

 

--E foi isso que eu fiz, mamãe... -- continuava mexendo na cortina de cabeça baixa

 

--Então deixe de muxoxo e espere ela te ligar. -- aconselhou -- Aí você situa ela de novo, faz uma ameaça básica e fica tudo certo!

 

--Ameaça básica... -- acabou rindo -- Ai, mamãe, só a senhora pra me fazer rir!

 

--É que você é muito bobinha e acha graça de tudo! -- deu um tapinha na perna da filha -- Fica esperta e põe essa caipira na linha! -- começou a andar em direção a cozinha -- E se não der certo, fala comigo que dou queixa pra mãe dela! O que você não conseguir, Amina consegue, nem que seja na base do cacete! -- entrou na cozinha -- Fui!

 

--É mole? -- achou graça de novo e suspirou -- Ai, minha caipirinha... -- balançou a cabeça negativamente

 

***

 

O telefone de Clarice tocava nas primeiras horas da manhã.

 

--Quem me liga a essa hora em pleno sábado? -- buscou o celular na mesinha ao lado da cama e olhou para o visor -- Meu Deus, é Cláudia! -- o coração disparou -- Alô? -- atendeu angustiada -- O que aconteceu com Zinara, por favor, me diz? -- quase chorava

 

--Calma, Clarice! -- não sabia como dizer -- Calma... -- tentava ganhar tempo

 

--Eu não consegui dormir a noite toda com o coração agoniado, Cláudia! -- sentou-se na cama -- O que aconteceu, me diz? Por favor! -- pediu -- Zinara não me ligou mais e nem me atendeu quando liguei pra ela!

 

--Não se desespera, Clarice. -- pausou brevemente -- Zinara foi internada hoje de madrugada. -- afirmou com tristeza

 

--Ah! -- cobriu os lábios e começou a chorar

 

--Eu... não consigo contato com os pais dela e... -- respirou profundamente -- pra Jamila eu me recuso a ligar! -- afirmou convicta

 

--Ela... -- buscava se conter -- Ela me disse que eles iam chegar aí nessa semana que vai começar. -- levantou-se -- Como estão as coisas? -- perguntou chorando -- Me diz toda a verdade, por favor! -- pediu emocionada

 

--Ela me ligou por volta de meia noite se queixando de dor de cabeça e forte mal estar. -- contava -- Normalmente Zinara jamais faria isso, então me preocupei. Daí perguntei se ela tinha condições de vir direto pra cá, pro hospital do Rabi, ou se precisava de ajuda. -- caminhava pelos corredores -- Ela chegou sozinha e mal deu entrada... -- os olhos marejaram -- teve algumas complicações cardio respiratórias e foi... -- controlava a emoção -- Ainda não sei o que te dizer, mas ela tá no CTI.

 

--Ai... -- não conseguiu falar mais coisa alguma e derrubou o celular no chão -- Não, meu Deus, por favor, não! Meu Pai... -- chorava angustiadamente

 

--O que foi, minha filha? -- Leda apareceu receosa na porta do quarto -- Ouvi você chorando... -- foi até ela e estranhou ao ver o celular no chão -- Por que tá chorando, o que foi? -- segurou-lhe o rosto

 

--Zinara tá... -- chorava -- internada no CTI de novo, mamãe...

 

--Ah, meu Deus... -- os olhos marejaram

 

--Ela não pode morrer! -- falava com muita tristeza -- E a gente ainda tinha brigado... -- chorou ainda mais -- E eu nem vou poder ir lá agora... Tem tanta coisa pra fazer nessa semana e eu não posso delegar, não posso adiar... -- soluçava

 

--Vem aqui, minha menina! -- abraçou-a -- Ela não vai morrer, não! -- tentava consolar a filha -- Aquela caipira é danada! -- chorava contidamente -- Vem, vamos rezar! -- pediu

 

As duas se ajoelharam na beirada da cama, fecharam os olhos e oraram pelo bem da morena.

 

CAPÍTULO 59 – Trabalho de Campo

 

Cátia e uma equipe composta por dois professores e cinco alunos estavam em Guaiás realizando um trabalho de campo. Investigavam estranhos fenômenos magnéticos que haviam sido reportados naquele local.

 

--Não consigo entender essas medições. -- a loura fazia a leitura dos arquivos -- É muito estranho...

 

--Em trinta anos de geofísica ainda não tinha visto nada igual. -- Guimarães comentou -- Têm acontecido mudanças no planeta que nos desafiam o entendimento...

 

--Eu sei... -- a geofísica concordou -- Precisamos estudar mais!

 

--Pois é, mas agora temos de ser práticos! -- Sandro se meteu na conversa -- Chegamos cedo aqui e viemos direto trabalhar. Já são seis e quinze e não temos um hotel pra passar a noite! -- olhava para o grupo

 

--Verdade. -- Cátia se levantou -- Vamos desmobilizar e procurar um lugar pra ficar! -- bateu uma palma -- Vambora!

 

--Até que enfim! -- Lucas, um dos alunos, cochichou com o colega -- Cátia e Guimarães são dois tarados pra trabalhar, cruz credo! -- revirou os olhos -- Tô pregado!

 

--Fala baixo que eles podem ouvir! -- Gustavo recomendou

 

***

 

--Professora, será que a gente vai ter grana pra pernoitar nessa fazenda? -- Carolina descia do carro olhando para todos os lados -- Lugar bonito!

 

--É mesmo! -- Sandro concordou -- Isso aqui não é pro nosso bico, não!

 

--Mas é o único hotel nas redondezas, gente! -- a loura argumentou ao sair do carro -- Vamos negociar! -- seguiu em direção a recepção

 

--Negociar com que? -- Lucas resmungou -- Só se for com o corpo!

 

--Caraca, tu reclama, hein? -- Gustavo deu-lhe um tapa na cabeça

 

--Vamos esperar por aqui e confiar na lábia de Cátia. -- Guimarães falou aos demais -- Se ela não conseguir, ninguém consegue!

 

--Boa noite! -- a loura apresentou-se com simpatia -- Que fazenda agradável temos aqui! -- olhava para a recepcionista -- Meu grupo e eu ficamos encantados! -- sorria

 

--Boa noite, senhora! -- Úrsula levantou-se de um pulo -- Não foi por menos que houve tal encantamento! -- sorria -- Nossa fazenda é o que há de melhor no conceito de ecoturismo!

 

--Somos um grupo de oito pessoas, querida. -- debruçou-se no balcão da recepção -- Três professores e cinco alunos que passamos o dia em intensos trabalhos de campo pelas redondezas!

 

--Imagino que estejam exaustos! -- concluiu -- Hospedando-se aqui vão se sentir revigorados! -- continuava sorrindo polidamente

 

--É do que precisamos! -- concordou -- Acredita que trabalhamos tanto, a ponto de nos esquecer de procurar um local pra repousar os corpos cansados? -- reparou em Úrsula

 

--Ah, mas não pode! Tem que cuidar do corpo, não é, senhora? -- reparou nem tão discretamente na outra -- E que corpo, viu, fi? -- resmungou consigo mesma

 

“Hum... meu detector de sacanagem acusa um considerável teor de sapatanice...” -- pensou com malícia -- "E até que ela é gostosinha...” -- analisava possibilidades -- Mas, todo grupo de pesquisadores deste país nunca conta com um budget considerável, não é mesmo? -- passou a mão nos cabelos -- Será que... nessa fazenda existiria algum tipo de acomodação modesta que pudesse nos abrigar? -- perguntou fazendo charme -- Ao menos por essa noite?

 

--Modesta? Que é isso? -- cruzou o balcão e caminhou para junto de Cátia, abraçando-a pelos ombros -- Aqui nada é modesto, mas simplicidade é nosso lema! -- conduziu-a para perto de uma parede onde havia uma planta da fazenda -- Veja, senhora! -- apontou -- Nossa fazenda passou por algumas mudanças e agora é capaz de atender a todo tipo de turista, desde os mais exigentes aos mais descolados! -- fazia propaganda -- Nesta parte daqui -- mostrava -- temos os chalés de luxo, os românticos e os executivos. -- apontou para outra parte da planta -- Aqui temos os chalés para famílias e nesta parte estão as acomodações para mochileiros, que acomodam até dez pessoas!

 

--Hum... -- pensava -- acho que uma acomodação pra mochileiros é tudo que precisamos! -- olhou sorridente para a outra -- E qual seria o valor da diária? -- perguntou fazendo charme

 

--Ah, mas aí é que a senhora vai se surpreender! -- afastou-se de Cátia e pegou um formulário de check in -- Trezentos reales! -- entregou o papel a loura -- E por apenas trinta reales por pessoa -- tirou uma caneta do bolso do blazer -- o café da manhã estará incluso! -- ofereceu a caneta à futura hóspede

 

--Ah, obrigada. -- recebeu o formulário e a caneta -- Nós trouxemos nosso próprio farnel, então não precisa do café. Mas a hospedagem tá num preço ótimo e nós vamos ficar! -- decidiu -- “Que bom, pensei que a pernoite aqui sairia por uma fortuna!” -- pensou aliviada

 

--Preço ótimo? Mas é claro! -- continuava com sua propaganda -- Nós aqui trabalhamos com bons preços e qualidade! Turismo tem que ser acessível, a senhora não acha? -- fazia uma média -- “Com a crise que o chefe tá passando tem mais é que fazer desconto pra atrair o povo!” -- pensou -- “Isso aqui nunca teve muito hóspede mesmo!”

 

--Posso te pedir um favor, querida? -- olhava para Úrsula -- Me chama de Cátia? Nada de senhora. -- piscou para ela -- Pra que tanta formalidade, né? -- jogou um charme

 

--É só um respeito e o padrão da casa. -- justificou-se -- Porque eu jamais chamaria uma mulher tão bonita e charmosa de senhora, embora continuasse mantendo o respeito para com ela. -- jogava um charme também -- Aliás, perdoe. -- fez uma reverência -- Meu nome é Úrsula e estou encantada!

 

“Hum... com certeza ela é do ramo!” -- pensou -- Já que... -- começou a preencher a ficha -- o valor da hospedagem aqui é acessível, de repente meu grupo e eu ficamos na fazenda por todo período que estivermos trabalhando na região. -- aventurou a hipótese

 

--Por que não? Além de ser o único hotel nas redondezas garanto que a experiência será inesquecível. -- caprichou nos olhares -- E eu até que não moro longe daqui... -- sorria -- Qualquer coisa que precisar... -- ofereceu

 

“Hum... essa aí já tá no papo!” -- pensou animada -- “Sinto que me dei bem...”

 

***

 

--E aí, Marco, vamo no casamento do primo da minha mulher ou não? -- Janaína perguntava dando um soco no braço do colega -- Minha sogra disse que você pode ir.

 

--Sei lá, Jana. -- respondeu pensativo -- Eu não conheço ninguém, fica meio chato isso...

 

--Conhece ninguém? -- retrucou -- Eu e Aisha somos o que?

 

--Ah, mas vocês não são as donas da casa. -- respondeu cuidadoso -- Não conheço tua sogra, os pais do noivo, o noivo... E ainda vou dormir na casa deles? Seria cara de pau da minha parte!

 

--Que nada, deixa de ser bobo! -- deu outro soco no braço dele -- Minha sogra perguntou pro irmão, que é o pai do noivo, e ele disse que você podia ir. Então relaxa, compra um presente pros noivos e tá tudo bem!

 

--Vou pensar... -- balançou a cabeça

 

--Você anda muito desanimado, Marco. -- afirmou preocupada -- Precisa sair, ver gente, se distrair... Ir nesse casamento podia melhorar o seu astral.

 

--Fico feliz que se importe comigo. -- sorriu para ela -- Nos últimos tempos tenho me sentido um trapo. -- desabafou -- Ainda mais agora que me aposentei, tô longe do ‘trabalho de campo’... -- brincou -- Dá uma sensação de inutilidade...

 

--Você vai acabar caindo em depressão profunda se ninguém fizer nada! -- deu-lhe um tapa na perna -- Tá decidido! Vai no casamento de Ahmed com Aisha e eu! -- afirmou resoluta -- E não tem mas, mas, mas!

 

--Tudo bem, Jana, eu vou. -- esfregou a mão na perna -- Mas não precisava ter a mão tão pesada, né? -- reclamou -- O negão aqui já tá veínho e faz tempo que parei no boxe! Desaprendi de apanhar! -- brincou

 

--Mão pesada?! No dia que conhecer a prima da minha mulher tu vai ver o que é isso! -- lembrava de Zinara -- Ela é gente fina, mas quando se invoca, sai de baixo... -- revirou os olhos

 

CAPÍTULO 60 – Mudança de Planos

 

Amina e Raed conversavam com Cláudia no hospital.

 

--Ô, dotôra, num iscondi a verdadi di nóis! -- Amina pedia humildemente -- Cumé qui tá minha fia? Eu fiquei cum o coração piquinininhu di vê minha minina naquela tar di CTI com uns fiu presu nu corpu e umas bicha tudu piandu!

 

--É muita máquina, dotôra! -- Raed comentou preocupado -- Ela pricisa daquelis trem todu módi num morrê? -- queria entender -- Ela tá muitu mar? Zinara vinha tão bem!

 

--Ela teve uma recaída e aquelas máquinas são importantes pra garantir a estabilidade dela, mas não quer dizer que Zinara esteja nas últimas. -- tentava tranqüilizá-los -- Ela tem ido bem e pode ser que saia do coma quando menos se esperar.

 

--Ave Maria, meu Pai! -- Amina sentia vontade de chorar -- Mais já vai pra uma semana qui essa minina tá aqui! E nunca qui sai dessis coma! -- reclamou

 

--É, dotôra, ela num sai! -- Raed concordava com a esposa

 

--Podem acreditar que nós estamos empenhados em ajudá-la, mas certas coisas não há como prever. -- respondeu delicadamente -- Tem que ter fé! Não percam a esperança, por favor! -- recomendou

 

--Ah, mais issu nunca! -- Raed afirmou convicto -- Até o Santu Papa tem uma fotu di minha fia, ela num podi morrê! Eu tenhu fé!

 

--E eu também tenhu! -- Amina reafirmou sua fé

 

--Conto com isso! -- sorriu para eles -- Agora, me perdoem, mas preciso voltar ao trabalho. -- fez um gesto de cabeça -- Com sua licença. -- retirou-se

 

--Vamo fazê umas reza, homi. -- Amina sugeriu ao marido -- Nossa fia pricisa!

 

--Vamo! -- concordou

 

Nesse momento, Jamila chegava nervosa no hospital. Caminhando pelos corredores viu um casal humilde conversando e logo reconheceu os pais da ex.

 

--Com licença? -- abordou-os gentilmente -- Talvez não se lembrem de mim, mas sou amiga de Zinara. -- olhava para os dois -- Estive em sua casa uma vez.

 

--Eu achu qui mi alembro docê... -- Raed olhou pensativo para a jovem

 

--Eu alembro. -- Amina balançou a cabeça -- Ocê é adévogada e agora tá cum o casu di Aisha!

 

--Aywah! (Sim!) -- respondeu empolgada por ter sido reconhecida -- Gostaria de reencontrá-los em situação melhor, mas... -- passou a mão nos cabelos -- Como Zinara está?

 

--Tá di coma. -- o pai respondeu entristecido -- Nóis tava indu rezá pur ela agora. Vem mais nóis? -- convidou

 

--Ah, é que... -- ficou sem graça -- Eu queria ir vê-la e... Aasif (Sinto muito), mas a ansiedade é grande e eu...

 

--Anêim, ocê num vai pra cantu ninhum purque Clarice tá lá e só podi uma pessoa pur vez na tar da CTI, num sabi?

 

“Xara! (Merda!) Sempre Clarice no meu caminho!” -- pensou contrariada

 

--Vem rezá mais nóis enquantu ispera tua vez di entrá! -- Aminha segurou Jamila pelo pulso

 

--Ah, mas é que eu sou... -- queria dizer que era atéia

 

--Fica quéta e vem! -- Amina seguia puxando a outra pelo pulso -- Vamo rezá mais nóis!

 

“Axra min kida mafiiš!! (Não há merd* pior do que essa!!)” -- pensava de cara feia

 

***

 

Clarice saía do CTI quando deu de cara com Jamila esperando para entrar. -- Ah, você... -- falou espontaneamente ao franzir o cenho

 

--Infelizmente não é a primeira vez que vivemos essa situação desagradável. -- a advogada olhou para a outra com desdém -- Você não tem trabalho em São Sebastião, não? Pode viver sempre viajando assim? -- provocou

 

--Se quer ver minha namorada, vá em frente. -- parou diante da jovem -- Mas o clima aqui deve ser de otimismo e oração. Não quero desavença com você ou seja lá com quem for! -- falava com seriedade -- Se Zinara realmente é importante pra você, saiba fingir que é educada ao menos enquanto estiver aqui! -- fez um gesto de cabeça -- Com licença. -- seguiu para junto dos pais da morena

 

--‘Minha namorada’... -- resmungou de cara feia -- Tatuí metido a besta!

 

***

 

Cátia admirava as flores que ladeavam o caminho de entrada na fazenda.

 

--Bonitas, não? -- Úrsula se aproximou -- Também me vejo paquerando essas flores de quando em vez, apesar de vê-las todos os dias. -- sorriu -- Aqui na fazenda há muitas belezas!

 

Olhou para Úrsula. -- Nesses quase sete dias de hospedagem acho que já conheço cada canto daqui. -- sorria também -- Só me falta tomar banho de rio.

 

--E pular do alto das pedras. -- complementou -- Os hóspedes adoram! -- reparou-a de cima a baixo -- A menos que tenha medo de altura... -- provocou

 

--Só não fiz isso porque sempre chegamos aqui tarde. -- passou a mão nos cabelos e fez um charme -- E saiba que Cátia Magalhães não tem medo de quase nada! Quando eu quero, -- aproximou-se -- chego pulando de cabeça... -- falava com duplo sentido

 

--Eu tô indo embora porque meu horário de trabalho já acabou. -- fazia uma voz sexy -- Será que a professora aceitaria passar na casa desta pobre funcionária de hotel pra fazer uma... visita? -- ofereceu com segundas intenções

 

--Ora, mas é claro que sim! -- aceitou na hora -- “Oba! Hoje tem!” -- pensou cheia de fogo

 

***

 

Cátia e Úrsula entravam aos beijos na casa da recepcionista. No momento em que a porta se abriu a loura pôde sentir um cheiro desagradável e isso a incomodou.

 

--Hum... -- interrompeu o beijo -- Eu acho que alguma coisa... -- reparou no ambiente -- Meu Deus!!! -- chocou horrorizada

 

--O que foi? -- Úrsula não entendia o espanto da outra -- É casa de pobre, repara não! -- puxou-a para um beijo

 

As duas caíram sobre o sofá e a geofísica sentiu um objeto duro machucando suas costas. -- Espera. -- pediu empurrando a outra com jeito -- Tem uma coisa aqui me incomodando. -- reclamou

 

--Ô, merd*, deixa eu ver! -- fez com que a loura se sentasse -- Ah, é a porr* do caralhinho da caixa da TV a cabo. -- jogou no chão e sorriu para a mulher -- Onde que a gente tava mesmo? -- beijou-a

 

--É... espera aí. -- desvencilhou-se para se levantar -- Esse sofá tá meio ferrado demais, né, não? -- reparou com certo nojo -- Por que não vamos pra um lugar mais... limpo? -- olhava ao redor -- "Cruzes, que sala imunda!” -- pensou horrorizada

 

--Porr*, gata, pára com isso! -- retrucou -- O sofá é véio mas é massa! -- deu um tapa na almofada, fazendo com que uma nuvem de pó surgisse no ar -- Só tem um pouquinho de poeira! -- tossiu um pouco e arrotou -- É foda! -- riu

 

“O que aconteceu com ela que de repente perdeu a educação toda?” -- pensou intrigada

 

--Vem cá, que a gente tava pegando fogo... -- levantou-se também, agarrando Cátia pela cintura -- Vamo fuder muito! -- beijou-a com desejo -- Vem! -- beijou-a novamente

 

“Ô, meu Pai, o que eu não faço por uma periquita nova?” -- a geofísica pensava enquanto buscava tirar as roupas da outra

 

Acabaram deitando-se no sujo carpete da sala, mas a loura tratou de ficar por cima da companheira de modo a evitar o contato com ele. Desabotoava a blusa de Úrsula e seguia beijando e mordendo a pele recém descoberta.

 

--Hum... -- sorriu -- Sem sutiã... -- mordiscou um mamilo

 

--Puta que pariu, caralh*, porr*... -- gemia excitada -- vai, gostosa, vai! -- fechou os olhos

 

Cátia continuava explorando os seios da mulher enquanto puxava a saia dela para baixo. Deslizou a mão para dentro da calcinha e introduziu um dedo.

 

--Ah!!!!!! -- Úrsula se contorceu extasiada -- Porr*, mete nessa bucet*! -- quase gritou

 

“Eita!” -- achou graça e seguiu lambendo, sugando e mordendo o abdômen da outra -- Vamos... tirar essa... calcinha... -- afirmou entre beijos e mordidas

 

--Tira, tira, caralh*!!! -- pedia enlouquecida

 

--Mas que...? -- a loura chocou com a calcinha da outra -- "Meu Deus, que calcinha imunda! Mulher mais porca!” -- pensou e parou

 

--Não pára, gata! -- olhou para Cátia sem entender -- Ou isso é um jogo? -- sorriu maliciosa

 

--Que é isso?! -- suaves beliscões na canela da loura fizeram-na olhar para trás -- AHAHAHAHAH!!!! -- gritou apavorada ao se levantar

 

--Que foi, mulher?? -- Úrsula sentou-se para ver o que assustou a parceira -- Ah, é Zeca! -- sorriu para o animal -- Minha galinha lésbica!

 

--Como é que é?! Galinha lésbica?? -- perguntou em estado de choque -- Olha, minha filha, pra mim acaba aqui, tá? -- começou a se arrumar -- Eu não vou trans*r com você e essa galinha tarada! Isso nunca! -- gesticulou furiosa

 

--Caralh*, você ficou maluca, fi? -- revoltou-se -- Puta que pariu, eu não transo com animais e Zeca é como se fosse minha irmã, porr*! -- argumentou ofendida -- Jamais abusaria do cú de minha parceira galinácea!

 

--Uma casa imunda já era difícil de engolir, mas com essa tua calcinha mal lavada e uma galinha depravada, não rola!

 

--Ei, pêra lá, puta que pariu! -- começou a se arrumar também -- Não é porque você é uma porr* de uma professora de merd* que pode chegar aqui e me espezinhar assim, não, caralh*! -- reclamou -- Tá pensando o que? É foda, viu?

 

--Vê se aprende a ter noção das coisas, sua louca! -- caminhou até a porta -- E não se atreva a me propor mais nada, porque só falo com você agora no momento do check out! -- abriu a porta e saiu -- “Cátia, mas você se mete em cada uma que vou te contar!” -- pensava revoltada -- “Tomara que quando eu voltar pra casa aquela bombeira cheia de contra indicações esteja disponível!” -- lembrava de Lúcia

 

--Porr*! -- deu um soco no ar e olhou para Zeca -- Deixa eu te falar, e você também, hein? Não podia ter ficado assistindo de longe? -- reclamou

 

A galinha se limitou a bicar um pedaço de salsicha perdido no carpete.

 

***

 

--Você tem certeza disso, Zinara? -- Cláudia perguntava com tristeza -- É mesmo o que vai fazer?

 

A astrônoma havia levado alta do CTI e estava na enfermaria. No dia seguinte iria para casa.

 

--Ontem tive uma longa conversa com maama e baba e eles me convenceram a mudar meus planos. Vou voltar pra roça! -- informou decidida

 

--Pra morrer lá? -- perguntou magoada

 

--Quem sabe, doktuur? -- sorriu -- Quem sabe...?

 

--E o tratamento você vai largar de mão mesmo, né? -- franziu o cenho -- Olha que mal recomeçamos... Nem deu tempo de você sentir a diferença nos resultados com o novo coquetel... -- lamentou

 

--Cláudia, não fica zangada comigo, mas sabe que estranhei essa medicação! -- falou com jeito -- De mais a mais preciso ficar perto de usritii (minha família). -- segurou uma das mãos da amiga -- Sabemos que esses coquetéis não vão me curar. Você sabe disso melhor do que eu... Warana ay? (Que mais se pode fazer?)

 

--E quanto a suas velhinhas? -- não sabia o que dizer -- E a faculdade? -- olhava para a morena -- Seus alunos, seus orientados? -- não se conformava -- E a maluca da Grazi, quem vai colocar juízo na cabeça dela? -- recolheu a mão que a professora segurava

 

--Não tenho mais condições de cuidar de minhas velhinhas, mas deixei um dinheiro pra elas desde que tirei licença e as danadinhas nem tocaram nele. -- comentou -- Antes de viajar procuro Adamastor pra falar de ya Ritinha. -- endireitou-se no leito -- E ya Zezé não tem ninguém, mas graças a Deus, as duas moram perto e ficaram amiguinhas. Uma fica de olho na outra. -- pausou brevemente -- Quanto ao departamento, eu já tinha deixado minhas atribuições com outros colegas, os alunos estão bem e Werneck tem sido um bom chefe, embora morra de medo da função. -- achou graça -- Grazi é bem grandinha e pode se virar sem mim. Tá até namorando Andressa de novo. -- riu brevemente -- Ai, ai...

 

--E eu? -- derramou uma lágrima -- Fico de que jeito, hein? -- perguntou com tristeza

 

--Você tem um bom zog (marido) e uma bint (filha), ya habibi. -- sorriu -- Eles cuidam de você! E sem fazer caipirices! -- brincou

 

--Vou morrer de saudades... -- confessou

 

--Eu também, sahibi (amiga). -- segurou a mão dela de novo -- O que devo a você é... impagável!

 

--E eu mais ainda! -- secou os olhos com uma das mãos -- Se não fosse por você, teria sido uma suicida imbecil!

 

--E eu já teria morrido desse maraD as-saraTaan (câncer), provavelmente. -- suspirou de cansaço -- Vai no casamento de Ahmed pra gente se rever? -- pediu -- Garanto que será divertido! -- piscou para ela

 

--Vamos ver. -- balançou a cabeça -- Mas eu quero ir, sim. -- acariciou os cabelos da outra -- E Clarice, hein? -- perguntou interessada -- Ela teve que voltar pra São Sebastião e nem chegou a te ver fora de perigo.

 

--Maama ligou ontem pra ela e avisou que tá tudo bem comigo. -- respondeu calmamente -- Quando sair daqui, eu mesma ligo pra minha Sahar e aproveito pra pedir desculpas. Se ela ainda me quiser, não será por morar na roça que abrirei mão dela.

 

--A mulher se abalou pra vir aqui por tua causa, toma tento! -- ralhou -- Claro que ela te quer! -- respondeu convicta -- E você tem que pedir desculpas pelo que? -- perguntou curiosa

 

Achou graça do modo como Cláudia perguntou. -- Por ter recebido Jamila em minha casa. -- esclareceu -- Sahar se zangou com isso.

 

--Claro né, Zinara! -- falou como quem diz o óbvio -- O bom de você ir pra roça vai ser ficar longe daquela praga te perseguindo! -- mirou um ponto no infinito -- Uma mulher que não gosta de meio de mato não vai ficar indo lá, com toda certeza! -- sorriu -- Bem feito!

 

--Você não gosta dela, né, fi? -- riu -- Ai, ai...

 

--E adorei que ela ainda não te viu aqui na enfermaria! -- postou as mãos para o alto em agradecimento -- Que bom que teve que viajar a serviço. Acho que quando ela voltar, você já até se mudou!

 

--Tamintanii! (Que alívio!) Não queria mesmo vê-la por agora... -- suspirou aliviada

 

--Fique com Clarice e viva esse amor enquanto puder! -- aconselhou -- Amar faz bem e ela é uma mulher de ouro!

 

--Sei que é e me honro por tê-la a meu lado. -- abriu os braços -- Agora seja gentil e dá um abraço na sua amiga caipira! -- pediu

 

--Eu devia era dar umas boas palmadas nessa sua rabichola, isso sim! -- fez pirraça

 

--Tacaalii, sahibi? (Vem, amiga?) -- insistiu fazendo beicinho para comover a outra

 

Achou graça e se abaixou para abraçá-la. -- Caipira safada! -- sorriu -- Eu te amo, minha amiga!

 

--Também te amo, doktuur!

 

CAPÍTULO 61 – Vida na Roça

 

Zinara estava no ônibus a caminho da roça. Seus pais ocupavam os dois assentos da frente e dormiam pesadamente. Contemplando a paisagem, a professora viajava no tempo perdendo-se em lembranças. Pensava nos irmãos e nas coisas simples e bonitas que viveram.

 

“--Youssef, sigura só essi trem. -- entregou uma couve-flor nas mãos dele -- Issu é qarnabiiT! Aqui chama di côve-flô!

 

--Côve-flô. -- o menino apalpava a hortaliça -- MuDaHHik! (Engraçado!)

 

--Issu é brócu! -- Khaled entregou o brócolis ao irmão

 

--Brócu. -- apalpava também -- FuDuuli! (Curioso!)

 

--Sorta essis e pega essi aqui. -- entregou uma cenoura -- Jazar! Aqui jazar é cinôra.

 

--Cinôra. -- investigava -- É bem diferenti dus ôtru! -- exclamou

 

--Zinara, cumé qui ocê sabi o nomi dessis trem na nossa língua si em Cedru nunca qui vimu ninhum delis? -- Khaled perguntou intrigado -- Ana la afham... (Eu não entendo...)

 

--Purque eu veju nu dicionáriu qui ganhei di presenti di natar. -- esclareceu -- BaTaaTa. -- entregou também -- Aqui fala iguar lá em Cedru: batata!

 

--Mi dá agora aquelas foia que eu gostu? -- pediu

 

--Arfaci. -- Khaled entregou -- Senti só ela.

 

--Ih, nasci um monti juntu! -- achou graça

 

--Ói o piqui! -- Zinara colocou um nas mãos do menino -- Diz qui issu só nasci pur aqui!

 

--E eu gostu dessis piqui, Ya aini (Meus olhos)! -- Youssef afirmou animado -- Pena qui si mordê di força os ispinhu ispeta nóis.

 

--Mas o que é isso? -- Najla apareceu de repente -- Que bagunça é essa que fazem na minha cozinha? -- pôs as mãos na cintura

 

--Nóis tá insinandu os trem pra Youssef, camma! -- Zinara esclareceu -- Eli tem qui sabê recunhecê cada cumida! -- olhava para a tia

 

--E eu já bem aprindi, camma! -- afirmou todo prosa -- Côve-flô, brócu, cinôra, baTaata, arfaci e piqui! -- apresentava cada item conforme ia falando

 

Najla ficou com pena das crianças. -- Tudo bem, mas depois arrumem essa bagunça. -- ordenou -- Amanhã eu peço pra cozinheira preparar vários legumes e verduras e você também vai aprender a reconhecê-los pelo gosto. -- decidiu -- Mas não se atrevam a mexer no que tem dentro da geladeira! -- advertiu e foi embora

 

--E geladêra é o quê, mesmu? -- Khaled não lembrava

 

--Aqueli trem qui faz um friu! -- Zinara respondeu

 

--Eu gostu dessi trem, mais aqueli ch*padô di pó! -- fez cara feia -- Avi Maria!”

 

A astrônoma ria sozinha ao se lembrar do primeiro eletrodoméstico que eles conheceram.

 

“--E issu é o que? -- Khaled olhava intrigado para o aspirador

 

--Um trem isquisitu! -- Zinara respondeu desconfiada

 

--Dêxa eu pegá eli, Ya aini? -- Youssef pediu -- Ondi tá?

 

--Sigura. -- entregou o tubo de sucção nas mãos do irmão -- HariiS! (Cuidado!) -- advertiu

 

--Tem fam (boca)! -- o menino afirmou enquanto apalpava a boca do tubo

 

--E tem rabu! -- Khaled apontou para o fio da tomada -- Issu é um tipu di bichu? -- apalpava o aparelho -- É friu... -- constatou -- Animar tem calor! -- afirmou -- Ô intonci o bichu morreu!

 

--Issu devi di fazê arguma coisa, mais tá durmindu! -- Zinara deduziu -- Cuidadu ocê aparpandu essi trem aí, Khaled! -- advertiu -- Vai qui o diachu acorda!

 

--Anêim! -- retrucou -- O bichu tá é mortu! -- ligou o aspirador acidentalmente

 

--AHAHAHAH!!!!!! -- Youssef começou a gritar ao sentir a pele do rosto ser sugada pelo aspirador -- Eli tá mi cumendu!!! -- tentava se livrar -- La itkarraib Haddi, ya ibn il-Homaar!! (Não chegue perto de mim, seu filho de um camelo!!!) -- gritava apavorado -- AHAHAHAH!!!!

 

--Ya gazma, yibn ig-gazma!! (Seu sapato, seu filho de um sapato!!) -- Khaled tentava ajudar o irmão puxando o tubo de sucção para longe dele -- AHAHAHAH!!!! Eli tá comendu também!!! -- gritava -- Zinara, ala dalouna!!! (Zinara, nos ajude!!)

 

(Nota da autora: sapatos são relacionados com sujeira e têm a conotação de degradação e imundície. É um insulto.)

 

--Ya Hayawaan! (Seu animal!) -- a menina gritava com ódio -- E eu puxu teu rabu! -- puxou o fio com força causando um pequeno curto na tomada -- AHAHAH! -- assustou-se com as faíscas e caiu sentada no chão

 

--Ya aini, ocê tá bem? -- Youssef perguntou preocupado -- Ocê matô o bichu! -- constatou orgulhoso

 

--Aywah... (Sim...) -- respondeu abestalhada ao se levantar -- Eu tô. -- olhava intrigada para a tomada -- "O qui tem ali qui faz os bichu vivê?” -- pensava curiosa -- "Sem aquela força os bichu morri!”

 

--Allaah yin’aal abuuk!! (Meu Deus amoldiçoa seu pai!!) -- Khaled chutava o aspirador com ódio -- Bichu marditu!!!

 

--Mas o que diabo é isso aqui?? -- Najla ralhou furiosa -- Seus monstros! -- foi até Khaled e o afastou do aspirador -- Parem de destruir minhas coisas! -- estava possessa

 

--Essi bichu quis cumê nóis, camma! -- Youssef contava -- Ói comu mi ch*pô as fuça! -- mostrou a pele do rosto

 

--camma, qui tem ali qui faz os bichu vivê? -- Zinara perguntou intrigada apontando para a tomada

 

--Ora, mas vocês queimaram a tomada! -- constatou revoltada -- Vão ficar todos de castigo, ya hamag (seus bárbaros)! -- gritou furiosa -- AHHa, karaahiyya! (Que ódio!) -- reclamava

 

“Nós quase morremos e camma Najla ainda fica a favor do bicho!” -- Zinara pensava em seu idioma natal”

 

--Youssef e Khaled... -- encostou a cabeça no vidro da janela do ônibus -- Como eu queria tê-los por perto... Especialmente nessa fase da minha vida...

 

***

 

O telefone da sala de Clarice tocava. Ela chegava de uma aula e correu para atender. -- Alô?

 

--Ya bint il-labwa! (Sua filha de uma leoa! Nota: Isto seria equivalente a ‘filha de uma puta’) -- respondeu furiosa -- Zinara se mudou e nem se despediu de mim por sua culpa! Não fosse a síndica do prédio dela eu nem iria saber de nada! -- reclamava

 

--Boa tarde pra você também, querida. -- respondeu sarcástica -- Não sou dona de Zinara e nem mando nela. Se não se despediu de você, foi porque não quis.

 

--O que você ganha com isso, hein? Acha que com essas fuleiragens vai ganhar a disputa e ficar com ela?

 

--Eu não estou em disputa alguma, querida. Não me rebaixo a esse ponto. -- respondeu tranquilamente -- Fica com Deus. Tchau. -- desligou sem esperar resposta -- Mas é cada uma... -- fez um bico

 

--Maldita!! -- Jamila gritou ao perceber que o telefone havia sido desligado -- Ah, mas isso não fica assim! -- prometeu -- Eu vou dar um jeito de ir naquela roça e ter uma conversa definitiva com hayati! -- decidiu -- Ah, se vou! -- passou a mão nos cabelos -- XARA!!! (MERDA!!!) -- gritou furiosa

 

***

 

--Vocês chegaram bem ontem, amor? -- Clarice perguntou melosa -- Foi boa a viagem?

 

--Graças a Deus, Sahar! -- respondeu animada -- Chegamos bem e camma Najla, Nagibe, Dora, Khadija, Cid, Penha e Cidmara estavam aqui esperando por nós! -- sorria -- Nem preciso dizer que foi a maior farra!

 

--Ai, que bom! -- ficou feliz -- E... seus irmãos já sabem de você? Da sua saúde? -- perguntou com jeito

 

--camma Najla tinha contado pra eles. Fez isso quando maama avisou a ela que eu tava no CTI. -- suspirou -- Agora até Aisha já sabe. Mal chegamos aqui e ela telefonou pra me descer os sarrafos por eu ter escondido minha doença! -- achou graça -- Eu não gostei muito de todo mundo saber a verdade, mas... wana amil eh (fazer o que)? Uma hora as pessoas acabariam sabendo mesmo... -- pausou brevemente -- É só olhar pra mim que já dá pra perceber que eu não tô saudável!

 

--E não há mal algum nisso das pessoas saberem! É mais gente orando por você, amor, mais gente desejando que você cure! -- sentou-se na poltrona -- Lembre-se que mamãe e eu oramos todas as noites por sua saúde e seu nome tá na irradiação do centro há tempos. -- falava com carinho -- Você deu um susto em todo mundo e eu fiquei... -- abraçou-se com a almofada -- Eu fiquei desesperada com medo que você morresse... e a gente ainda havia se desentendido... -- colocou as pernas sobre o sofá -- Chorei tanto...

 

“Eu que sei o chororô de Clarice como foi!” -- Leda pensava enquanto fazia suas costuras -- "Até eu fiquei com medo de Zinara se danar de vez!” -- lembrava

 

--Oh, Sahar, nem me lembre disso! Eu me arrependi tanto... -- lamentou -- Sei que já nos resolvemos, mas não canso de te pedir perdão por ter sido insensível e grosseira. É que nem percebi isso na ocasião. -- envergonhou-se -- Min fadlik, ya habibi, (Por favor, minha querida) perdoe! -- pediu mais uma vez -- Perdoe!

 

--Não precisa pedir perdão, meu bem. -- respondeu melosa -- Eu entendo que pra nós, que nascemos aqui, certas coisas parecem agressivas, mas vocês percebem de modo diferente. -- compreendia -- De outra forma, há coisas que não nos ofendem nesse país mas vocês de Cedro acham um absurdo. -- deslizava os dedos nas bordas da almofada -- Reconheço que reagi de modo exagerado à visita de Jamila e também devo pedir o seu perdão.

 

--Macleech, ya gamil! (Não se preocupe, minha linda!) Você é tão maravilhosa, Sahar, não precisa se desculpar! -- ficou toda derretida -- Tá tudo bem!

 

--Cheguei a ter medo que você não fosse mais me querer... -- fez um charme

 

“Hum... olha só a sedução de Clarice fazendo um charminho meigo...” -- a idosa só prestava atenção

 

--Dallak Haddi w bءorbi baddee yek, baddee yek! -- sussurrou para a amada

 

--Ai, Zinara, traduz, amor... -- pediu cheia de dengo

 

--Fique do meu lado, e perto de mim é onde eu quero que você esteja, eu quero você! -- repetiu com intensidade

 

--Você me deixa toda arrepiada quando fala comigo assim...

 

“Hum... voltou a lambição!” -- Leda pensou divertida -- “Melhor assim do que chorando aparvalhada!” -- balançou a cabeça achando graça -- “Ave Maria, e como chorou!”

 

--Eu vou evitar de viajar porque me sinto fraca, mas... -- passou a mão nos cabelos -- quando você e ya Leda virão aqui na roça pra nos visitar? Quero tanto vê-la novamente!

 

--Setembro acabou de começar e o ritmo de trabalho tá uma loucura, minha querida. Mas eu prometo que assim que puder, mamãe e eu vamos praí! -- afirmou convicta

 

--Pra roça? -- a idosa se animou -- Oba, tô dentro! -- sorriu para a filha

 

--É mole, mamãe prestando atenção na nossa conversa? -- a paleoceanógrafa achou graça

 

--Ya Leda é sempre antenada, Sahar! -- achou graça também -- Uma velhinha daquelas!

 

--E, se Deus quiser, estaremos aí no casamento de Ahmed! -- prometeu -- Então mesmo que não dê pra ir antes, essa ida tá garantida! -- sorria

 

“Não sei se vivo até lá, Sahar...” -- pensou com tristeza -- Tudo bem... Mas se puderem vir antes do casamento, por favor, venham! -- pediu com humildade

 

“Ela não acredita que viverá até a data do casamento...” -- Clarice percebeu o receio da namorada

 

--Zinara, vem cumê! -- Amina gritou da cozinha -- Di buchu vaziu num si sustenta!

 

--Vem, Zinara, fizemos bolo de milho e aipim cozido! -- Najla anunciou

 

--Ouviu isso, Sahar? -- riu -- Tô sendo intimada por duas!

 

--Anda, minina, chega di prosiá nu telefoni! -- Raed ordenou

 

--Intimada por três, né? -- brincou e riu -- Vai lá, amor, não deixa usritik (sua família) esperando!

 

--Ai, que lindo, ela sabe! -- ficou toda prosa -- Behebbik ya, Sahar! Tô cheia de saudades! Tamally waheshny! (Sinto muitas saudades!)

 

--Também sinto, amor! -- respondeu melosa -- E também te amo!

 

--Ala halik, ya habibi! (Cuide-se, minha querida!)

 

--Rahimaka Allah, habibi! (Deus te abençoe, querida!) -- mandou um beijo -- Tchau! -- desligou o telefone -- Ai, mamãe... -- olhou para a idosa -- Sabe que Zinara não acredita que vá sobreviver nem até o casamento de Ahmed? -- comentou com tristeza -- E eu que não sei se vai dar pra ir na roça antes disso!

 

--Calma, menina! Não morra de véspera que você não é peru! -- parou de costurar e tirou os óculos -- Aliás, nem peru você tem aí! -- apontou para a virilha da outra

 

--Pára de brincadeira, mamãe, eu falo sério! -- insistiu -- Deu pra sentir o medo dela. Quase palpável!

 

--Só quem sabe mesmo é Deus! -- tentava dar esperança -- Continue rezando, eu rezo também e entrega nas mãos do Pai. -- falava com seriedade -- Vai dar tudo certo, eu tenho fé! -- afirmou convicta

 

--Também quero ter toda essa fé! -- desejou -- Mas confesso que às vezes dá tanto medo...

 

--Tenha medo, não, que você é filha de Leda! -- gesticulou -- As mulheres dessa família não têm medo de nada! -- parou para pensar -- Barata voadora não conta, né? -- reconsiderou

 

--Ah! -- acabou rindo -- Ai, mamãe, só a senhora pra me fazer rir numa hora dessas... -- balançou a cabeça negativamente

 

***

 

Amina, Raed, Najla e Zinara lanchavam na cozinha.

 

--Isquici di falá, mais onti di noiti sonhei cum Youssef. -- Raed comentou enquanto bebia café -- Eli mi dizia um monti di coisa mais num mi alembro di nada! -- mordeu um pedaço de bolo -- Bão! -- elogiou

 

--Nossu fio devi di tá velandu pur Zinara, homi! -- Amina concluiu -- Si eli tivessi vivu, era inté capaz di tê tiradu os canci todu, cum as graça di Deus! -- comeu um pedaço de aipim cozido

 

--Nem sempre a pessoa merece a cura, maama, mas pelo menos ele iria tentar. -- sorriu saudosa -- Youssef era solidário por demais da conta! Acho que o sonho dele era curar todos os sofredores do mundo... -- mordeu um pedaço de bolo também -- Adoro bolo de milho!

 

--Ele conseguia mesmo curar as pessoas? -- Najla perguntou curiosa -- Quando começou a acontecer isso? -- queria saber

 

--É uma longa história... -- Raed respondeu

 

--Conta, então? Quem tá com pressa? -- estava interessada

 

--Lembra que nós fomos morar no terreiro de mãe Dézinha quando saímos da sua fazenda? -- a astrônoma perguntou para a tia, que balançou a cabeça positivamente -- Maama e eu logo começamos a freqüentar as sessões que ela conduzia lá, mas baba tinha medo e não deixava Youssef e Khaled irem.

 

--AHHa, qui eu num tinha medu nada! -- protestou -- Eu tinha era uma cisma porque ia um bucadu di mukhannath (efeminado) lá e eu num quiria qui os mininu tivessi aqueli exemplu! -- esclareceu

 

--Só qui um dia mãe Dézinha pidiu pra levá os mininu tudu e Raed num pôdi negá, num sabi? -- bebeu um gole de café -- E fomu nóis!

 

--Divia favô a ela, né? Tem qui sê agradicidu!

 

--E foi dali que tudo começou! -- Zinara lembrava -- Nunca vou esquecer do que aconteceu naquela noite...

 

“Ao som do batuque cadenciado dos atabaques, os médiuns da casa entoavam o canto de abertura da Gira.

 

--Eu abro a nossa Gira, com Deus e Nossa Senhora. -- dançavam -- Eu abro a nossa Gira, Sandorê, pemba de Angola...

 

--Eu tô cum medu! -- Khaled confessou baixinho ao entrar no salão

 

--Fica não qui essi povu é du bem! -- Zinara garantiu

 

--Gira, Gira, Gira, dos caboclos, sem sua Gira eu não posso trabalhar... -- cantavam e dançavam

 

--Trem isquisitu! -- Raed resmungou para Amina

 

--Podi falá issu, não! -- Amina respondeu com respeito

 

--Assim, assim na fé de Xangô meu Pai, sem Gira eu não posso trabalhar...

 

--Sintu uma coisa tão... -- Youssef comentou intrigado -- pareci qui... -- levou as mãos a cabeça -- Ya aini? (Meus olhos?) -- chamou

 

--Qui foi? -- perguntou preocupada

 

Ao perceber a chegada de Youssef, mãe Dézinha, que manifestava um espírito iluminado, ergueu uma das mãos para o alto e todos silenciaram imediatamente. -- Mais óia quem chegô! -- sorriu para o menino

 

--Avi Maria! -- Raed se abraçou com Amina e Khaled

 

Todos os presentes no salão reverenciaram o jovem. Zinara ficou pasma.

 

--Ya aini, parece que eu... -- respirou fundo

 

--Venha, pai José. -- a mãe de santo pediu -- Nóis precisa di ocê!

 

A música e os cânticos recomeçaram e Youssef caiu ajoelhado no chão.

 

--Laa! (Não!) -- Khaled gritou assustado, e junto com Zinara e Raed tentou ajudar o irmão

 

--Dêxi qui eli tá bem! -- alguns homens formaram uma espécie de barreira ao redor de Youssef -- Pai José tá bem!

 

--Pai José?! Mas qui diachu é issu? -- Raed ficou nervoso

 

--Carma, homi! -- Amina pedia sem saber o que fazer

 

--Venha, pai José. -- a mãe de santo pediu novamente -- Venha!

 

O garoto começou a se remexer, como se travasse um duelo consigo mesmo, até que se levantou repentinamente e ergueu os dois braços pedindo silêncio. E mais uma vez, todos pararam.

 

--Smallah! -- Zinara estava admirada -- Mas o que...? -- não conseguia entender

 

--Refletiu a luz divina, -- Youssef começou a cantar com desembaraço -- com todo o seu esplendor, vem do reino de Oxalá, onde há paz e amor...

 

A música recomeçou e todos cantavam junto: -- Luz que refletiu na terra, luz que refletiu no mar, luz que veio de Aruanda, para tudo iluminar...

 

--Eu num tô intendendu é mais nada! -- Raed não sabia o que pensar

 

--Youssef é ispeciar, baba! -- Zinara respondeu admirada com o que via -- Ele é ispeciar...”

 

--Daquele dia em diante, Youssef passou a freqüentar as sessões e em pouco tempo começou a realizar curas e operações espirituais. -- a morena contava orgulhosa

 

--Os buatu sobri eli si ispalharam di uma tar manêra qui vinha genti inté da Capitar pra vê meu fio! -- Raed lembrava

 

--Só da Capitar? -- Amina retrucou -- Veio genti du norti, du sur, di São Sebatião, di Paulicéia e di todus os cantu di Terra di Santa Cruz!

 

--Meu Deus! -- Najla ficou boquiaberta

 

--Tinha dias que ele nem dormia, de tanta gente que tinha pra socorrer. -- Zinara lembrava -- Ele trabalhou muito...

 

--E devi di tê sidu pur issu qui morreu tão moçu! -- Raed lamentou -- E dispois qui eli morreu Khaled mudô muitu! Nunca qui aceitô perdê o irmão... -- comentou com tristeza ao se levantar da mesa com prato e caneca nas mãos

 

--Num sei si eli morreu pur issu, homi... num sei... -- Amina respondeu pensativa -- Mais qui Khaled mudô, issu foi! -- concordou

 

--Ele morreu de que? -- perguntou com jeito

 

--Um belo dia Youssef decidiu que não iria trabalhar no terreiro, -- a morena contava -- e ficou o dia todo com a gente. -- sorria de cabeça baixa -- Lembro que fomos pra pedra grande ver o pôr-do-sol, nós três, pela última vez... -- os olhos marejaram -- Aí, quando chegou a noite ele pediu pra orar junto com todos nós... -- pausou brevemente -- Fizemos isso e fomos dormir. -- passou a mão nos olhos -- E ele não mais acordou...

 

--Nossa! -- emocionou-se -- Sem dúvida foi uma passagem muito bonita a do meu sobrinho.

 

Amina levantou-se também com seu prato e caneca. Não respondeu coisa alguma e entregou a louça para o marido lavar.

 

--Veio gente de todo canto pro enterro dele. -- a astrônoma continuava lembrando -- E eu cantei a música que ele mais gostava. -- limpou os lábios com o guardanapo e se levantou também -- Deixe que eu lavo a louça, baba.

 

--Põe ela aqui na pia e vai discansá. -- ordenou -- E já tá na hora di ocê deitá! -- tentava disfarçar a emoção

 

--Não vou dormir agora mas vou deitar mesmo. -- aproximou-se receosa e beijou o rosto do pai -- Chukran, baba! (Obrigado, pai!) -- agradeceu

 

--Di nada... -- respondeu sem graça e comovido

 

--Chukran, maama! -- beijou o rosto da mãe

 

--Vai si deitá! -- estava emocionada com as lembranças também

 

--Chukran, camma! -- foi até Najla e beijou a cabeça dela -- Inté! -- brincou e se preparou para sair da cozinha

 

--Ô, de casa! -- bateu na beirada da porta -- Bença baba, bença maama! -- Ahmed chegava com Catiúcia -- Eita, qui cheguemu na hora du lanchi! -- sorriu olhando para o bolo

 

--Bastarde! -- Catiúcia cumprimentou

 

--Deus ti abençoi, fio. -- sorriu -- Entra, mininu, entra minina! -- Raed convidou -- Já viu quem taí, Ahmed? -- apontou para a filha

 

Só então ele notou a presença da irmã. -- Oi, Zinara. -- cumprimentou sem graça -- Num tinha vistu ocê aí pertu da porta... -- sorriu desconcertado -- Nagibe e Cid mi disseru qui ocê veio morá na roça di novu...

 

--Olá, Ahmed. -- respondeu secamente -- É, eu acho que voltei pra ficar. -- sorriu e saudou a cunhada com um aceno -- Tudo bem? E a gravidez? -- perguntou educadamente -- Tem se sentido bem?

 

--Tudo. -- ela respondeu sem graça -- Di veiz im quandu é qui dá uns injôo e uns cansaçu... -- pausou brevemente -- E ocê, comu vai? Nóis tá sabendu da duença...

 

--Graças a Deus, vou bem dentro do possível. -- passou a mão nos cabelos -- Vou deitar agora, que eu tô cansada. Na verdade, já tava indo fazer isso. -- não sabia o que dizer -- Com licença! -- retirou-se para o quarto

 

--Podi sentá pra lanchá. -- Amina ofereceu -- Vô passá um café. -- pegou o bule

 

--Tá todu mundu cum umas cara di tristeza... -- comentou ao se sentar -- Quê qui foi? -- estava curioso

 

--Lembranças, meu filho, lembranças... -- Najla esclareceu secando os olhos com as mãos

 

--Nóis viemu visitá minha cunhada e falá du casório. -- Catiúcia olhou para o futuro marido

 

--É sim, baba... -- Ahmed cortou um pedaço de bolo -- Ainda farta um pôcu di dinhêru, num sabi? Só um pôcu e os trem pru casório si resorvi tudu...

 

--Vieru visitá Zinara e ocê ficô tão isquisitu quandu viu ela? -- respondeu descrente ao se sentar também -- Sei... Ocês viéru é atrás di dinhêru, mais eu vô logu dizendu mais uma veiz: -- gesticulava -- a fonti secô! Chega!

 

--E chega mesmu! -- Amina concordou, olhando para o filho com as mãos na cintura -- Já ti demu dinhêru dimais pra essi casório, num sabi?

 

Catiúcia morreu de vergonha e Ahmed abaixou a cabeça comendo seu pedaço de bolo.

 

--Certas coisas parecem não mudar nunca... -- Najla resmungou contrariada

 

***

 

Zinara e Najla caminhavam pelo roçado e conversavam.

 

--Ontem Catiúcia comentou toda prosa que Khadija fica doidinha quando vê o barrigão dela e quer logo tocar pra sentir o neném mexer. -- contava -- Eu mesma já vi isso acontecer mais de uma vez! -- sorriu -- Ahmed falou que acha que esse menino vai ser muito querido.

 

--Inshallah! (Se Deus quiser!) -- desejou -- Maama me disse que ele tem sido mais presente na vida dos outros filhos também.

 

--Sim, é verdade! -- concordou -- Ele disse que vem aí com eles no final de semana pra você vê-los.

 

--Se eu vi esses garotos umas três vezes foi muito! -- comentou -- Mas fico feliz que aos poucos Ahmed esteja mudando.

 

--Ele tá sim. -- olhou para a sobrinha -- E quem sabe agora vocês dois começarão a se entender, não é mesmo? -- perguntou esperançosa

 

--É só o tempo, camma. -- respondeu pensativamente -- Se eu tiver tempo...

 

--Seja otimista, Zinara! -- pediu -- Você ainda tem muito chão pela frente!

 

A astrônoma nada respondeu.

 

Continuaram caminhando em silêncio até que Najla resolveu falar novamente: -- Sabe... passei a noite pensando em tudo que vocês me disseram sobre Youssef... -- sorriu -- Foi uma história muito bonita, muito especial. Aliás, sempre achei que vocês três eram crianças muito especiais. -- pausou brevemente -- E o modo como desencarnou... com certeza ele sabia que era chegada a hora!

 

--Embora tenha sido uma perda dolorosa pra nós, sei que Youssef desencarnou de uma forma tão natural quanto dormir e acordar. -- sorriu também -- Só que ele despertou em outro plano, certamente muito melhor do que esse. -- pôs as mãos nos bolsos das calças -- E onde estiver ele deve ser um incansável obreiro do bem, como sempre foi! -- mirou um ponto no infinito -- Dayman! (Sempre!) -- olhou para a tia -- Sabia que ele sempre gostou muito de ya sayyida (senhora)? E ainda nos incentivava a ter mais paciência com suas atitudes em nome da gratidão.

 

Najla corou envergonhada. -- Quisera eu ter a visão que tenho hoje naquele tempo... Quisera eu... -- gastou uns segundos em silêncio -- Amina me contou que mãe Dézinha morreu há anos e que o terreiro dela ficou abandonado por todo esse período. -- cruzou os braços -- Mas agora parece que uma das filhas dela está retomando as atividades.

 

--Smallah! Eu não sabia! -- supreendeu-se -- Qual das filhas?

 

--Ah, o nome da moça eu não sei, mas vocês podiam ir lá um dias desses. -- sugeriu -- Podia te fazer bem.

 

Zinara ficou pensando.

 

--Olha, querida, -- parou de andar -- eu vou voltar pra casa porque tenho que fazer alguns serviços ainda. -- a morena parou também -- Te deixo aqui com seus pensamentos, mas espero que sejam pensamentos de otimismo e paz.

 

--Macleech, camma! (Não se preocupe, tia!) Eu tô bem! -- assegurou

 

--Acho bom! -- beijou a testa dela -- Até logo! E não demore muito a voltar pra casa! -- recomendou

 

Achou graça. “Agora todos me tratam como criança...” -- pensou -- Macasalaama! (Até logo!)

 

A professora ainda acompanhou a tia com o olhar e depois buscou abrigo na sombra de uma árvore.

 

--Youssef, Youssef... -- olhava para o céu -- Por onde andará você nesse universo infinito? -- perguntou pensativa

 

Recostou-se no tronco da árvore e fechou os olhos para uma oração. Agradeceu a Deus por todas as coisas e a mãe Dézinha por ter-lhes ajudado em um momento crítico da vida. Mentalizou para ela, Youssef e Khaled suas melhores vibrações e após alguns segundos concentrada, sentiu uma presença bem vinda perto de si.

 

--Zinara? -- uma voz chamou sua atenção

 

Com os olhos do espírito, a astrônoma vislumbrou um ente iluminado que lhe sorria.

 

--As-Salamu Alaikum! (Que a paz esteja convosco!) -- saudou gentilmente -- Não tema, querida, estou aqui em nome do Altíssimo! -- postou as mãos para o céu

 

--Alaikum as-Salaam! (E a paz também convosco!) -- respondeu com respeito -- Não sinto medo, apenas paz. -- afirmou com segurança

 

--Sua tia lhe inspirou a se colocar receptiva agora, desse modo pude vir para lhe trazer um recado. -- olhava para a morena -- Agda espera por você no domingo. -- referia-se à filha de mãe Dézinha -- Fale com Amina e cheguem por volta das nove da noite.

 

Zinara balançou a cabeça concordando.

 

--Importante que vocês se preparem espiritualmente antes de chegar na casa, então convoque sua família para uma oração e mantenha-se em sintonia com as vibrações elevadas do espírito. -- recomendou

 

--Aywah! (Sim!) -- respondeu humildemente -- Assim será!

 

--E lembre-se do que diz a grande mentora, Zinara: “a vida nos é dada para um grande fim”... -- desaparecia lentamente da visão da astrônoma

 

***

 

Zinara divertia-se com os sobrinhos. Organizava brincadeiras que os meninos curtiam animados.

 

--Vai, vai, vai, sem deixar cair no chão! -- a morena incentivava -- Vambora, awlaad (crianças)!

 

--Droga, dirrubei meu piqui! -- Ahmed Marcos reclamou -- Oxi! -- chutou o chão

 

--Ganhei!! Ganhei!!! -- Ahmed João comemorava

 

--E eu! -- Ahmed Lucas vinha com o pequi dentro da blusa

 

--Dentru da rôpa num vali, né tia? -- Ahmed Marcos perguntou revoltado -- E João fez trapaça também!

 

--Eu não! -- protestou -- Diz pra ele, tia!

 

--Calma, criança, é só um jogo! -- achava graça -- Às vezes um ganha, às vezes o outro, é assim mesmo! -- deu um beijo na cabeça de cada um -- Agora vamos brincar de outra coisa! -- propôs

 

--Simbora cumê, ocês tudu! -- Amina chamou -- Tá na mesa!

 

--Ih, mudança de planos! -- olhou para os sobrinhos -- Lavando as mãos pra almoçar, meninos! -- bateu uma palma -- Vamos comigo!

 

--Ahmed Lucas bem tava cum a mão nas coisa, tia! -- Marcos dedurou

 

--Então vamos lavar as mãos bem lavadinhas pra tirar as coisa da mão! -- brincou

 

***

 

--Meus mininu gostaru docê, Zinara. -- Ahmed comentou durante o almoço -- É bão! -- deu uma garfada

 

--Eu gostei di minha tia! -- Ahmed João falou

 

--E eu! -- Marcos concordou

 

--Gostô! -- Ahmed Lucas respondeu no colo da morena, que lhe dava de comer

 

Achou graça. -- Gosto de criança, Ahmed. -- deu uma colherada na boca de Lucas -- Sempre gostei.

 

--Fala pra ela o qui ocê mi dissi hoji cêdu, meu fio! -- Raed incentivou

 

--Fala, amor! -- Catiúcia também deu força

 

A astrônoma ficou curiosa.

 

--É... -- parou de comer -- Catiúcia mais eu tivemo prosiandu... -- olhou para a mulher -- E dispois falei cum baba e maama... -- olhou para os pais, que balançaram a cabeça -- Nóis qué dá Ahmed Mateus procê batizá, num sabi?

 

--Eu?! -- ficou pasma

 

--E por que não, Zinara? -- Najla sorriu -- É uma idéia excelente! -- deu força

 

Não sabia o que dizer. Desconfiava daquela escolha. -- Mas eu tô... -- não queria falar na frente dos meninos -- Você sabe do que se passa comigo, Ahmed. -- olhava para o irmão -- Tem certeza?

 

--Tem, uai! -- respondeu de pronto

 

--Pense com calma, querida! -- Najla queria evitar que a sobrinha negasse -- A gente entende o seu receio, mas é bom pensar antes de responder!

 

--Eu agradeço aos dois, mas... -- pensou em negar de imediato, porém se arrependeu -- vou pensar, tudo bem? -- pediu ao casal

 

--Intão tá, intão. -- Ahmed respondeu desanimado e voltou a comer

 

--Por quê a sinhora vai pensá, tia? Num podi aceitá agora? -- Ahmed João queria entender

 

--Ser madrinha é uma coisa muito séria, habibi, e eu... -- pensava em como dizer -- Eu tô um pouco doente e tenho medo de aceitar e não poder ajudar o menino. -- justificou-se

 

--Tá doenti di que, tia? -- Marcos perguntou

 

--Da barriga, meu bem. -- respondeu simplesmente -- Mas depois cura. -- mentiu

 

--Nóis sabemu dissu, Zinara. -- Catiúcia respondeu -- Mais num incomodemu purque ocê tá bem e si Deus quisé há di miorá! -- desejou -- Di mais a mais, ocê num tem herdêru, né mesmu? -- deu uma garfada

 

Os adultos ficaram constrangidos com aquele comentário.

 

--Herdêru é o que? -- Ahmed João e Marcos perguntaram ao mesmo tempo

 

“Eu sabia que esse convite era por interesse!” -- pensou chateada -- “Por que outra razão Ahmed iria querer me dar filho pra batizar?” -- limpou os lábios com o guardanapo -- Herdeiro é quem fica com nossos trem quando a gente morre, querido. -- olhou para o irmão acusadoramente

 

--Quem é meu herdêru, tia? -- Lucas perguntou intrigado ao terminar de comer -- Eu tem um monti di trem!

 

Todos acabaram rindo e Amina aproveitou a deixa para servir a sobremesa e mudar de assunto.

 

Zinara balançou a cabeça negativamente e deu um suspiro profundo.

 

***

 

Amina e sua filha chegavam no terreiro de mãe Dézinha. Logo na entrada foram saudadas por uma entidade que as acompanhou até o salão, onde Agda as aguardava junto com outras pessoas.

 

--Ê, ê, óia quem tá aí! -- a mãe preta, manifestada em Agda, exclamou da mesma forma que quando viu Zinara pela primeira vez --E num é qui elas viéru du jeitinhu qui pidí pra ví? -- fumava um charuto -- Alembra deu, muié? -- olhava para a professora

 

--Lembro! -- curvou-se -- Mojubá, minha mãe! -- saudou com reverência -- Sua benção! -- pediu

 

--Deus ti abençoi, muié. -- pôs a mão rapidamente sobre a cabeça da morena

 

--A bênça minha mãe! -- Amina pediu

 

--Deus ti abençoi! -- agiu do mesmo jeito com Amina -- Agora faiz comu vô ti dizê: -- cuspiu fumaça no rosto dela -- senti ali e faiz uma oração! -- indicou o lugar -- E num vá si abalá cum nada qui teus zóio vão vê! -- recomendou -- Cunfia!

 

--Eu cunfiu! -- a mulher respondeu e fez como lhe foi dito

 

--Ocê fica aí mesmu! -- falou para Zinara -- E cunfia também. Tem arguém querendu ti vê!

 

A astrônoma balançou a cabeça e permaneceu parada onde estava.

 

Um médium se aproximou caminhando com dificuldade. Segurava uma bengala para se apoiar e fumava um cachimbo. Zinara logo percebeu que manifestava um pai velho.

 

--Vai ocê pra ditrás dela! -- Agda ordenou para uma jovem que se posicionou de pé atrás da morena. O médium, ao contrário, parou diante dela -- Êêêêêêê ahahahah!! -- gritou e os presentes começaram a cantar e dançar

 

--Ocê cunfia? -- o médium perguntou a professora, olhando nos olhos dela

 

--Confio! -- respondeu convicta

 

Subitamente ele bateu com a bengala no chão e Zinara, sem saber explicar como ou porque, desmaiou caindo sobre a jovem atrás de si, que caiu também. O homem se aproximou das duas e cuspiu fumaça sobre elas.

 

Amina permaneceu firme em suas orações e Agda veio dançando com um pano branco nas mãos e cobriu as mulheres com ele.

 

--Vai vê quem ti qué vê, muié! -- a mãe de santo se afastou dançando

 

Zinara despertou em outra dimensão, sem saber ao certo o que pensar. Olhou ao redor e se descobriu cercada por uma natureza exuberante e cheia de vida.

 

--Smallah! -- exclamou admirada -- Que lugar maravilhoso! -- levantou-se e contemplou embevecida

 

--Ya aini? (Meus olhos?) -- uma voz conhecida chamou por ela

 

--Oh, Aba! (Oh, Meu Pai!) -- os olhos marejaram -- Youssef! -- olhou para ele

 

O irmão da morena se apresentava com a mesma aparência que tinha quando encarnado, no entanto, não estava cego ou portava quaisquer traços característicos dos deficientes visuais; seus olhos eram perfeitos. Trajava uma túnica luminosa e parecia flutuar nos espaços.

 

--As-Salamu Alaikum! (Que a paz esteja convosco!) -- sorria emocionado

 

--Alaikum as-Salaam! (E a paz também convosco!) -- respondeu com lágrimas nos olhos -- Oh, akhuuya, -- sorriu -- dayman betkhaleeeni mebtsmeh... (Oh, meu irmão, você sempre me faz sorrir...) -- a emoção tomava conta de si

 

--Ana mabsoutah, ukhtii! (Estou feliz, minha irmã!) -- aproximava-se lentamente-- Ver você e saber que você me vê é a mais bela dádiva que o Altíssimo poderia me conceder! -- falava a língua de Cedro

 

--A honra é toda minha! -- também falava o idioma pátrio

 

--Roguei aos Obreiros da Luz que lhe trouxessem para junto de mim porque precisávamos conversar sobre algumas coisas. -- parou diante dela -- Glória a Deus que nos permitiu essa oportunidade antes do seu desenlace! -- postou as mãos ao céu em agradecimento

 

--Allahu akbar! (Deus é grande!) -- ela agradeceu também -- Você está tão lindo, cheio de luz e paz! -- sentia-se orgulhosa dele -- Como fico feliz em vê-lo tão bem! -- sorria

 

--Seus olhos emprestam beleza a tudo que vê, Ya aini! -- secava as lágrimas dela -- Não à toa pedi para que me guiassem quando os meus já não me serviam!

 

--E quanto a Khaled? -- perguntou ansiosa -- Como vai akhuuina (nosso irmão)? Você já esteve com ele, não é?

 

--Ele tem ido bem, no entanto são muitos traumas a superar. -- acariciou o rosto dela -- Macleech (Não se preocupe), Ya aini, Khaled se retempera no amor de Deus! Não está esquecido! -- tranquilizou-a -- Você também tem ido muito bem em sua caminhada, mas ainda resta um trabalho a ser feito. -- olhava nos olhos -- Precisa limpar seu coração e consertar os erros do passado. Não deve deixar para outras vidas o que pode ser resolvido nesta!

 

--Do que está falando? -- queria compreender -- Ana la afham... (Eu não entendo...)

 

--Sabe que ainda guarda mágoas e rancores dentro de si, Ya aini. -- respondeu com brandura -- Sabe que precisa perdoar algumas pessoas. Dentre elas, Ahmed.

 

Abaixou a cabeça. -- Não há o que perdoar. Não o condeno mais.

 

--Laa? (Não?) -- perguntou sorrindo -- Então por que não quer aceitar ser madrinha do awlaad (menino) que virá? -- questionou -- Sabe que não se trata apenas do receio de partir antes que ele cresça. -- afirmou mansamente

 

Zinara não respondeu.

 

--Às vezes você faz julgamentos um tanto precipitados, Ya aini. -- levantou o rosto dela delicadamente -- Pessoas não são como números que obedecem estatísticas. Elas não têm que seguir a mesma tendência sempre. -- acariciava os cabelos da irmã -- Converse com akhuuina (nosso irmão) e ouça o que ele dirá. Talvez você se surpreenda.

 

--Farei isso. -- balançou a cabeça -- Wallahi! (Eu juro!) -- prometeu

 

--E pergunte a si mesma o que falta fazer que as respostas virão. -- sorriu novamente -- Embora eu acredite que você já conheça estas respostas.

 

--Ana a’arfa... (Eu sei...) -- admitiu envergonhada -- Você tem razão...

 

--Não há motivo para se envergonhar, Ya aini. Ambos somos espíritos em evolução, humildes aprendizes no concerto da vida! -- tentava incentivá-la -- Não sou melhor que você! Nunca fui! -- afirmou com simplicidade -- Abadan! (Nunca!)

 

--Não se compare comigo, habibi. -- respondeu humildemente -- Sou apenas uma mulher teimosa, que lutou a vida toda para chegar a algum lugar, e agora já não tem mais a mesma firmeza para continuar. -- sorriu -- Você é um espírito elevado, que certamente veio ao mundo para nos inspirar com sua grandeza e retidão. -- tocou o rosto dele -- Nunca te ouvi sequer reclamar por ter ficado cego! Suas palavras sempre foram as melhores e mais gentis.

 

Youssef sorriu com tristeza. -- Oh, Ya aini, se soubesse de toda verdade... -- suspirou -- Você, Khaled e eu temos um passado juntos. Afinidades antigas, tanto para o bem quanto para o mal... -- afirmou com certo pesar -- A cegueira foi o remédio amargo que tive de provar por ter sido responsável por tantos conflitos, por tantas mortes, mesmo sem nunca ter disparado um tiro! -- confessou -- Eu era ambicioso demais e desejava quase tudo que podia ver! -- contava -- Durante anos fomentei conflitos em Cedro e, não satisfeito, despachei homens violentos e sanguinários para o continente negro, simplesmente para escravizar e pilhar sem piedade. Meus caminhos acabaram cruzando com os de Terra de Santa Cruz e foram justamente os negros de Aruanda que me fizeram ver a miséria na qual meu espírito se perdia mais e mais. -- segurou uma das mãos dela -- Sofri e trabalhei muito na espiritualidade antes dessa encarnação, e se quer saber, não fui eu quem veio para te ensinar, mas você quem se propôs a me proteger!

 

Zinara estava estupefata.

 

--Você já esteve com gidda e ela te mostrou muitas verdades, assim como giddu, que te esclareceu quanto a outras questões. -- lembrava -- Até mesmo um espírito das esferas superiores como Zahirah veio ter contigo! Será que não percebe que não é qualquer pessoa que recebe tais oportunidades? -- chamava-lhe a atenção

 

--E agora é você quem me dá a honra... -- reconheceu -- Tudo isso enche meu coração de esperança e felicidade, só não entendo porque recebo de Deus tamanha graça! Não mereço, sem dúvida não!

 

--Nada nessa vida acontece em vão! Você tem uma missão a cumprir, ya habibi, e embora já tenha feito muito, ainda lhe resta mais a desempenhar! -- anunciou -- Não sente esse chamado em seu coração?

 

--E como poderei cumprir essa missão se meu tempo se esgota? -- perguntou sem entender -- Sinto que minha saúde se esvai a cada dia!

 

--O tempo que você terá depende apenas de você! -- respondeu profético -- Mas de minha parte, posso ajudá-la um pouquinho. -- impôs as mãos sobre a fronte dela -- Feche os olhos, Ya aini, e mantenha-se em oração!

 

Zinara obedeceu e em poucos instantes pôde sentir as vibrações superiores de seu irmão a percorrer seu corpo como um sopro de vida. Youssef invocou o socorro dos pais velhos, de mães negras, dos caboclos e dos muitos elementais que compõem o plano astral do planeta Água em Terra de Santa Cruz. A astrônoma sentia-se aos poucos mergulhando novamente em sua realidade mas ainda era capaz de ouvir a doce voz de seu irmão ecoando na mente: -- Rahimaka Allah, ya habibi! (Deus te abençoe, minha querida!) Você sempre foi e sempre será Ya aini, os olhos do meu coração!

 

--Vorta, muié, qui a lida tem qui continuá! -- Agda removeu o pano branco de sobre as mulheres e a professora despertou -- Levanta e vem agradicê ao Sinhô das Luzi pela graça di tê dexá vê Pai Jusé mais uma veiz!

 

Amina se emocionou ao ouvir aquilo. Entendeu que a mãe de santo falava de seu filho.

 

A astrônoma obedeceu e em seus pensamentos agradeceu emocionada pelo que acabava de viver. Sentia-se mais uma vez revigorada e as palavras que ouviu encheram seu espírito de esperança e fé no futuro à despeito de qualquer coisa.

 

“Você me ensinou muito, Youssef, essa é toda a verdade!” -- dizia para ele em pensamento --“Você foi quem me serviu de farol, mesmo que sua humildade não o permita reconhecer!”

 

***

 

Najla, Raed, Amina, Nagibe, Cid e Zinara conversavam animadamente no quintal da casa. Nisso, Ahmed chega com uma viola nas mãos.

 

--Sarvi, meu povu! Bastardi! -- cumprimentou e os outros responderam em coro -- Uai, -- olhou surpreendido para os irmãos -- todu mundu marcô di si incontrá aqui hoji e eu qui num sabia? -- perguntou curioso

 

--Acunticeu, num sabi? -- Nagibe respondeu -- Dora levô Khadija módi vê os avô, mais eu num quis í juntu, não. Mi deu foi uma vontadi forti pur dimais da conta di vim pra cá e eu vim! -- olhou para o outro irmão -- E Cid e eu cabô qui cheguemu juntu!

 

--E eu também quis vim e vim! -- Cid falou -- Minha muié ficô durmindu cum Cidmara.

 

--E você, meu filho? -- Najla perguntou -- Que viola é essa aí?

 

--Eu custumava a tocá umas moda, camma, mais dispois larguei di mão e emprestei essa viola prum cunhicidu. -- explicava -- Mais agora eu queru di vorta os trem tudo qui dexei pra trás, num sabi?

 

--Senta, fio. -- Raed pediu -- Qué café? -- ofereceu

 

--Si quisé eu passu. -- Amina falou -- Os minino já beberu uns bom goli mais nóis.

 

--Menus Zinara, qui num toma café; só bibida fina! -- Nagibe provocava a irmã de brincadeira

 

--Finíssimas! -- respondeu brincando

 

--Agora num vô querê café, não. -- puxou uma cadeira para se sentar -- Agradicidu. -- olhou para a morena -- Ocê tá diferenti! -- comentou surpreendido -- Tá cum aparença bem mió du que quandu vim aqui das outras veiz.

 

--São os ares da roça! -- olhou para a viola e pensou por uns instantes até que disse: -- Lembro que você era bom nisso. Que tal exercitar um pouco? -- propôs

 

--Eu arranhava umas moda boa, né? -- sorriu -- Mais agora devu di tá meiu inferrujadu.

 

--Certas coisas a gente nunca esquece... -- levantou-se e foi para perto dele -- Pra não dizer que nunca fizemos nada de bom juntos, -- sorria -- me acompanha?

 

Raed e Amina se entreolharam surpresos.

 

--Eita, qui eu possu disafiná! -- ficou receoso

 

--Bitichkii min eh? (Qual é o problema?) -- perguntou despreocupada -- Estamos em família, ninguém vai condenar a gente. -- olhou para os demais -- Usritina! (Nossa família!) -- pronunciou a palavra com muito sentimento

 

Najla se sentiu tocada. -- Eu quero ouvir vocês! -- pediu sorridente -- Por favor!

 

--Canta, Zinara! -- Cid pediu também -- Vai lá, Ahmed, dêxi di peitica!

 

--Vai qui nóis qué ôví! -- Nagibe deu força

 

Amina e Raed sorriam. Podiam sentir naquela proposta algo mais que uma simples vontade de cantar.

 

--Toca, meu fio! -- a mãe pediu -- Todu mundu qué oví!

 

Ahmed respirou fundo e preparou-se para tocar. Olhou para a morena aguardando que começasse.

 

Zinara fechou os olhos e decidiu cantar uma música de muito significado em sua vida. Ao mesmo tempo, lembrava-se de momentos únicos.

 

“--Ya aini! -- Youssef dizia -- É artu ondi nóis tá? -- perguntou receoso

 

--Artu pur dimais da conta! -- Khaled respondeu assustado -- AHHa! -- reclamou com medo

 

--Num tem medu, não! -- ela pediu -- Segura as mãos nóis tudu e pula quandu eu contá nu trêis! -- deram-se as mãos. Zinara dava coragem a eles

 

--E trêis é quar? -- Youssef perguntou em dúvida

 

--É talaata! -- traduziu o numeral para a língua de Cedro -- Simbora: -- começou a contar -- um, dois e... trêêêês!!! -- saltaram juntos

 

--AHAHAHAHAHAHAH!!! -- Youssef e Khaled gritaram antes de cair no rio”

 

--Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso, porque já chorei demais... -- Ahmed acompanhava tocando

 

Lembrava das montanhas de Cedro e de seus cumes nevados inspirando os sonhos de infância que alimentou.

 

-- Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe...

 

Via os olhos bondosos de Raja e ouvia sua voz grave e serena contando histórias.

 

--Eu só levo a certeza, de que muito pouco sei, e nada sei...

 

Lembrava de Zahirah cantando nas noites estreladas e do movimento gentil de suas vestes ao sabor do vento.

 

--Conhecer as manhas, e as manhãs, o sabor das massas, e das maçãs...

 

Recordava-se da felicidade simples que sentia quando Farida a colocava no colo e dizia que estava misteriosamente pesada.

 

--É preciso amor, pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso chuva para florir...

 

Acompanhava a imagem de Leila caminhando de mãos dadas com os filhos pela estrada poeirenta.

 

--Penso que cumprir a vida, seja simplesmente, compreender a marcha, e ir tocando em frente...

 

Recordava-se de quando esperava o sol se pôr ao lado dos irmãos, fosse em Cedro, Al Maghrib ou em Terra de Santa Cruz.

 

--Como um velho boiadeiro, levando a boiada, eu vou tocando os dias, pela longa estrada, eu sou, estrada eu vou...

 

Sentia o cheiro bom de comida na cozinha de Najla quando moravam na fazenda. Pensava em quando ensinava Youssef a reconhecer os alimentos pelo tato e pelo sabor.

 

--Conhecer as manhas, e as manhãs, o sabor das massas, e das maçãs...

 

Era capaz de ver e ouvir Aisha dançando e cantando ao som das músicas que faziam sua cabeça na juventude.

 

--É preciso amor, pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir...

 

Najla cavalgando imponente e Khaled tentando imitar a tia montando um potrinho.

 

--Todo mundo ama um dia, todo mundo chora, um dia a gente chega, e no outro vai embora...

 

A imagem de Amina e Raed satisfeitos na colheita do que plantavam. Adorava vê-los daquele jeito.

 

--Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si, carrega o dom de ser capaz, e ser feliz...

 

Via Ahmed, Nagibe e Cid quando crianças, correndo pelo roçado, tentando pegar as nuvens no céu.

 

--Conhecer as manhas, e as manhãs, o sabor das massas, e das maçãs...

 

A luta para que a prematura Khadija pudesse sobreviver. A emoção de tê-la nos braços pela primeira vez.

 

--É preciso amor, pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir...

 

O nascimento de Cidmara e o orgulho de Cid em ser pai. “--Minha fia vai sê qui nem ocê, Zinara! -- afirmou com olhos marejados -- Vô fazê di tudu pra issu!”

 

--Ando devagar, porque já tive pressa, e levo esse sorriso, porque já chorei demais...

 

O abraço emocionado em Najla quando finalmente a perdoou por tudo.

 

--Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si, carrega o dom de ser capaz...

 

Os momentos descontraídos com a mãe na praia em Cidade Restinga.

--E ser feliz...

Almir Sater - Tocando em Frente [b]

 

O perdão a Raed na rodoviária.

 

Ao terminar a canção todos estavam muito emocionados. Mas não havia tristeza, apenas a doce emoção de se sentir vivo e longe da solidão.

 

--Podemos ser uma família... -- Zinara disse ao abrir os olhos -- Eu quero isso! -- olhava para eles -- Eu preciso disso!

 

Raed, Amina e Najla se levantaram, seguidos por Nagibe e Cid. Espontaneamente foram até a morena e se reuniram em um caloroso abraço coletivo.

 

--Ahmed? -- a professora olhou para ele

 

O jovem deixou a viola de lado e se uniu aos demais com os olhos marejados.

 

Dançando nos espaços com seus companheiros de seara divina, Youssef derramava sobre sua família as bênçãos do povo de Aruanda.

 

***

 

Mesmo que pareça impossível e utópico demais, muitas vezes basta que uma pessoa queira de verdade e se disponha a trabalhar nisso, para que um grupo de indivíduos reunidos por laços da matéria tornem-se uma família pelos laços do espírito.

 

O exemplo arrasta e o amor é uma força irresistível!

 

(Nota da autora: Minhas mais puras e sinceras vibrações de amor e carinho a todos os deficientes visuais, os quais, muitas vezes, nos mostram a cegueira que existe em nós. Meu profundo respeito e admiração pelos irmãos de Umbanda, essa doce desconhecida que ainda sofre muito preconceito em função de nossa ignorância diante das coisas de Deus)

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Músicas do Capítulo:

 

[a] Por Onde Andei. Intérprete e Compositor: Nando Reis. In: MTV Ao Vivo – Nando Reis e Os Infernais. Intérprete: Nando Reis. Universal, 2004. 1 CD, faixa 6 (4min09)

[b] Tocando em Frente. Intérprete: Almir Sater. Compositores: Almir Sater / Renato Teixeira.  In: Almir Sater Ao Vivo. Intérprete: Almir Sater. Sony Music, 1992. 1 CD, faixa 2 (3min18)

 


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Comentários para 18 - YOUSSEF:
PaudaFome
PaudaFome

Em: 31/05/2024

A gente ri e chora. É fantástico! E tu abre tesão toda história deixa a gente molhada . Morri com Cátia e Úrsula e Zeca kkkkkkkk


Solitudine

Solitudine Em: 14/06/2024 Autora da história
Kkkkkk Essa é a primeira vez que alguém diz que a caipira abre tesão. kkk

Zeca chegou para atrapalhar os planos da loura! rs

Beijos,
Sol


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Samirao
Samirao

Em: 07/10/2023

Sempre achei que Zi e Jamila foram feitas sob medida. Nada a ver Clarice com uma e Cátia com outra 


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Ai, ai... sem comentários literários. rs


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Samirao
Samirao

Em: 07/10/2023

É a partir desse CAPS que eu pego um rancinho básico da Clarice


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
kkkkkkkkkkkk A partir do título do conto você pega esse rancinho!


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Femines666
Femines666

Em: 16/03/2023

Não consegui comentar o outro. É muita emoção remoendo o peito! Esse capitulo Youssef foi tão lindinho! A0 gente se sente capaz de ser uma pessoa melhor 

Lindo seu resgate pelo respeito à Umbanda!

Coração ? ???? ???? ??’? ??’? ???? ? 


Resposta do autor:

Olá querida,

Alguns capítulos são mais densos que outros. Entendo.

Obrigada por esse retorno tão bacana!

Beijos,

Sol

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Seyyed
Seyyed

Em: 19/09/2022

Tu trabalha o sentido de família que faz a gente pensar em tanta coisa...essa cantoria entre os Raed, puta merda. Só podia ser no capítulo do Youssef... mas porra Clarice cria uns casos! Tá pior que a Isa que começou no riscado aos 19 aninhos né? Hehe E Leda sacaneia. Cátia com Úrsula hahahahaha  relaxa que tu vai pegar Magali hehe

Jamila tu é gostosa inteligente empoderada mas vacilou perdeu! Aceita que dói menos!  E... momento ciência  adorooo


Resposta do autor:

Eu gosto muito de mostrar a importância da família, em todas as suas formas, e fico feliz que você perceba isso e até reflita a respeito.

Clarice é muito insegura, esse é o mal. Pior que Isa foi ótimo! kkk

Cátia não deixa passar nada! rs

Tem razão, Jamila deveria aceitar logo que tudo mudou.

Momento ciência, adoramos! rs

Continuarei a respondê-la amanhã, se Deus quiser.

Beijos,

Sol

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Zaha
Zaha

Em: 14/02/2018

Olha eu aqui!

Esse capítulo é maravilhoso!!! Estou emocionada, meu peito ta cheio de emoção q até dói ,mas feliz , feliz tb de ter lido!!! 

Jamila, tantas coisas para aprender. Me pergunto se amou Zinara um dia ou foi outra coisa...tinha tanto a falar, mas se perdeu no meio do caminho! Texto grande...

Zinara, confesso que não vejo problema em deixar a ex entrar na casa, porém Zinara devia ter posto mais limites, deixa breixas e 0or isso Jamila cria esperanças , além da própria n desistir é ter certa fixação ...Zinara por outro lado tinha suas necessidades, ainda que n mais existam!

Li ela falando q " como um pode amar tanto um é dps n existir mais intimidade...algo assim, vc saberá a qual frase faço referência.Então, ela disse pra Clarice q n botou apelido pq n sentiu conexão ,então será q sentiu amor TB?N foi necessidade de sentir amada por alguém como Jamila já q Zinara se acha um nada?Sempre se refere de forma negativa sobre suas qualidades, principalmente as físicas...as pessoas se unem por necessidades, qndo já n estão, o vínculo se acaba se for supérfluo , se n tem força ,base fortes...amor de verdade é algo forte.Penso assim...mas elas já n estão entrelaçadas ,sabe q escutei isso uma vez qndo tava recebendo uma msg? O q nunca te pertenceu, n te permanece mais,uma frase confusa , mas entendi..falava de "minhas" tristezas .Posso ficar mal qndo leio, mas sou feliz agora, estou em paz pq por fim entendi .Trabalhei pra chegar onde tô .O amor é grandioso mesmo!!! E ganhamos por merecimento, temos q trabalhar pra isso..feliz c esse capítulo q me vejo nele de forma subjetiva, n posso explicar!!

O final tão lindo, família feliz, é lindo qndo podemos deixar as mágoas ,eu bem entendo... 

Sobre umbanda, realmente as pessoas tem MT preconceitos, mas é como qualquer outra, q pode levar pra caminhos de luz ou de trevas depende do q vc escolher! Eu ia a reuniões mediúnicas tanto de Allan Kardec qnto do caboclo,como se chamava ele?N lembro mais dizia: acho bom deixar esse computador pq eu mesmo desligo..me disse coisas sobre minha vinda pra cá e q pensei q tivesse errado, mas passou anos dps...pq me atrasei e estou bem atrasada na minha missão , porém pretendo realizar nessa vida e minhas pendências TB Por isso consegui soltar as dores e mágoas , minhas limitações e agora me sinto livre, pronta prós desafios ainda q caia 20 x n mais esperarei alguém q me levante, eu mesmo o farei!! Agradecer a tanta gente! 

Aqui estou chegando ao capítulo onde n pulei nada,falta alguns ou n sei, verei se o próximo eu li td, esse pulei algumas, bem pouco! Ou minha memória falha...provável, n se pode confiar no cérebro ..

Te deixo um abraço gigante e saiba q todos os dias vc e sua família estão em minhas orações!!

Beijo na testa

PS:diferença de sadikii e Sahini?(n lembro se escreve assim)Outra palavra pra amiga ..como colega e amiga?Pq vi q TB utilizou sadikii como amor..


Resposta do autor:

As famílias são forjas de aprendizado, muitas vezes dificílimo, mas sem dúvida indispensável. Quem não tem seus problemas familiares? O importante é buscar resolver.

Fico feliz em saber que ora por nós. Também estás sempre em minhas orações.

Sadikii é um tratamento entre amigos. Estes dois "i" são o pronome possessivo em primeira pessoa.

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Gabi2020
Gabi2020

Em: 15/05/2020

Olá Solzinha tudo bem? Aproveitando meu horário de almoço para ler essa história que tanto amo.

 

As conversas de Claudia com Zinara são sempre especias, gosto do jeito despachado da médica.

 

“ Ela morde, arranha com ódio, bate ou faz o que? -- não se agüentava de assanhamento -- Ela é melhor que Cátia? Dê uma nota de zero a dez! – pediu” Já a Magali é uma figuraça...Kkkkkk... Nada sutil... Tão fofo Zinara e Clarice tímidas.

Putz... Magali e Cátia... É tão nada a ver...

As aulas da Zinara são inspiradoras, gosto da forma como ela explica, não fica maçante, pelo contrário, dá vontade de ouvir mais e mais.

 

E lá  vem Jamila... Desiste filha , você não te chance! Kkkkkk... Mas apesar da chatice, acho ela profissionalmente incrível, mas o ego dela  é demais! Devia se juntar com a Letícia Avelar  e a Divalinda... Uma sala pra cada ego e dá pra incluir ainda a Cátia.

Nando Reis... Amo essa música!

 

Não aguento essa discussões de sexta série da Clarice e da Zinara... Kkkkkk... Nem parecem adultas.

“-Quê que houve, menina? -- Leda perguntou desconfiada quando Clarice aparece na sala -- Tava toda melosa no telefone e agora me vem com essa cara de quem cheirou uns miúdo? -- parou de bordar” Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk....

 

Namoro à distância é ruim por conta disso, uma fica doente e nem dá pra  cuidar... Ai ai ... Sofro Solzinha!

 

Úrsula e Cátia... Kkkkkkkkkkk.... Sem comentários! Que nojooooooo da Úrsula, podia fica com a Nicole, iam se dar muito bem.

 

Olha o Marco!

 

Quando a Zinara disse que ia voltar pra roça, me deu uma raiva, como assim largar o tratamento? Mas só ela sabe o que tem sentido, mas que deu vontade de dar uns  chacoalhões nela... Ah deu!

 

Adoro a classe da Clarice, Jamila fez o escândalo básico dela e Clarice foi plena... Kkkkkk...

 

Capítulo maravilhoso !

 

 

Rahimaka Allah

 

 Beijos

 

 


Resposta do autor:

Olá Gabinha,

Magali andava à perigo e Cátia estava sempre à caça. Aí, juntou, não é? kkkk

Claudia fala na bucha. Não dá nem tempo de respirar.

Gosta das aulas? Toda professora adora saber disso. :)

Você não esquece de Letícia e Divalina Lomba! kkkk  É verdade, Jamila e Cátia são meio metidinhas. kkk

Namoro a distância complica demais. Eu particularmente não consigo.

Zinara se viu sem escolhas, Gabinha. Ela queria a roça para se despedir.

Clarice teve classe. Jamila ainda vai aprender a ter.

Olha ela só na língua de Cedro! Wakhaf men farheti aftah!

Beijos,

Sol

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Em: 14/02/2018

Olha eu aqui!

Esse capítulo é maravilhoso!!! Estou emocionada, meu peito ta cheio de emoção q até dói ,mas feliz , feliz tb de ter lido!!! 

Jamila, tantas coisas para aprender. Me pergunto se amou Zinara um dia ou foi outra coisa...tinha tanto a falar, mas se perdeu no meio do caminho! Texto grande...

Zinara, confesso que não vejo problema em deixar a ex entrar na casa, porém Zinara devia ter posto mais limites, deixa breixas e 0or isso Jamila cria esperanças , além da própria n desistir é ter certa fixação ...Zinara por outro lado tinha suas necessidades, ainda que n mais existam!

Li ela falando q " como um pode amar tanto um é dps n existir mais intimidade...algo assim, vc saberá a qual frase faço referência.Então, ela disse pra Clarice q n botou apelido pq n sentiu conexão ,então será q sentiu amor TB?N foi necessidade de sentir amada por alguém como Jamila já q Zinara se acha um nada?Sempre se refere de forma negativa sobre suas qualidades, principalmente as físicas...as pessoas se unem por necessidades, qndo já n estão, o vínculo se acaba se for supérfluo , se n tem força ,base fortes...amor de verdade é algo forte.Penso assim...mas elas já n estão entrelaçadas ,sabe q escutei isso uma vez qndo tava recebendo uma msg? O q nunca te pertenceu, n te permanece mais,uma frase confusa , mas entendi..falava de "minhas" tristezas .Posso ficar mal qndo leio, mas sou feliz agora, estou em paz pq por fim entendi .Trabalhei pra chegar onde tô .O amor é grandioso mesmo!!! E ganhamos por merecimento, temos q trabalhar pra isso..feliz c esse capítulo q me vejo nele de forma subjetiva, n posso explicar!!

O final tão lindo, família feliz, é lindo qndo podemos deixar as mágoas ,eu bem entendo... 

Sobre umbanda, realmente as pessoas tem MT preconceitos, mas é como qualquer outra, q pode levar pra caminhos de luz ou de trevas depende do q vc escolher! Eu ia a reuniões mediúnicas tanto de Allan Kardec qnto do caboclo,como se chamava ele?N lembro mais dizia: acho bom deixar esse computador pq eu mesmo desligo..me disse coisas sobre minha vinda pra cá e q pensei q tivesse errado, mas passou anos dps...pq me atrasei e estou bem atrasada na minha missão , porém pretendo realizar nessa vida e minhas pendências TB Por isso consegui soltar as dores e mágoas , minhas limitações e agora me sinto livre, pronta prós desafios ainda q caia 20 x n mais esperarei alguém q me levante, eu mesmo o farei!! Agradecer a tanta gente! 

Aqui estou chegando ao capítulo onde n pulei nada,falta alguns ou n sei, verei se o próximo eu li td, esse pulei algumas, bem pouco! Ou minha memória falha...provável, n se pode confiar no cérebro ..

Te deixo um abraço gigante e saiba q todos os dias vc e sua família estão em minhas orações!!

Beijo na testa

PS:diferença de sadikii e Sahini?(n lembro se escreve assim)Outra palavra pra amiga ..como colega e amiga?Pq vi q TB utilizou sadikii como amor..


Resposta do autor:

As famílias são forjas de aprendizado, muitas vezes dificílimo, mas sem dúvida indispensável. Quem não tem seus problemas familiares? O importante é buscar resolver.

Fico feliz em saber que ora por nós. Também estás sempre em minhas orações.

Sadikii é um tratamento entre amigos. Estes dois "i" são o pronome possessivo em primeira pessoa.

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patty-321
patty-321

Em: 04/01/2018

Ih q saudadesde zinara. Saysades dessa estória espiriualizada. Quando a li a primeira vez eu era outra pessoa. Tantas coisas aconteceram boas e ruins. E eu conheci a doutrina espírita.


Resposta do autor:

Que bom que a outra pessoa que você hoje está mais feliz. É o que me parece.

Espero que continue gostando.

 

Beijos!!

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