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EM BUSCA DO TAO por Solitudine

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Palavras: 18519
Acessos: 10405   |  Postado em: 02/01/2018

AB - 2

 

 

 CAPÍTULO 52 –  E a Luta Continua

 

Zinara dormia nos braços de Clarice.

 

“Caminhava por uma alameda cheia de flores e admirava-se com a beleza do lugar.

 

--Lembra tanto aquela praça de Gyn... -- falava sozinha -- Só que é ainda mais bonita! -- aproximou-se para cheirar as flores -- Que perfume... -- sorriu -- A’jabani haqqan! (Eu realmente gosto!)

 

--Não deixa o samba morrer... -- ouviu uma voz conhecida cantar ao longe

 

--Oh, Aba! (Oh, Meu Pai)! -- pôs a mão no peito

 

--Não deixa oooo samba acabar... -- a voz tornava-se mais próxima

 

Zinara fechou os olhos emocionada e não se virou na direção do som.

 

--O morro foi feito de samba...

 

--De samba pra gente sambar... -- a astrônoma cantou e abriu os olhos -- Há quanto tempo... -- derramou uma lágrima e sorriu

 

--Sempre gostei quando tu cantavas pra mim, querida. -- Olívia falou carinhosamente -- Olha pra mim? -- pediu

 

Virou-se e ficou encantada ao ver Olívia no meio das flores. Ela usava o vestido que mais gostava quando era encarnada. Estava bonita, radiante e parecia feliz. -- Smallah! (interjeição de admiração)

 

O rosto da saudosa professora abriu-se em um lindo sorriso. -- Minha prenda...

 

--Shamash... -- ficou muito emocionada -- É tão bom te ver! -- sentia-se paralisada

 

--Também é maravilhoso te ver. -- aproximou-se e tocou o rosto dela -- Quantas saudades...

 

A astrônoma se jogou nos braços de seu antigo amor e fechou os olhos chorando.

 

--Minha guria... -- acariciava os cabelos da morena -- Minha linda...

 

--Há quanto tempo...

 

--Eu precisava muito te falar, querida! -- sorria -- Tu sempre fazendo o bem! Não tenho palavras pra te agradecer por Salete! Não sabe por quantos anos andei presa à vida material por causa dela! -- continuavam abraçadas

 

--Agora tá tudo bem! Ela e sua neta terão uma vida boa, eu sei! -- falava com fé -- Eshtaqto elaiki katheeran... (Senti tanto a sua falta...)

 

--E não só por ela andei presa a esse mundo! -- segurou o rosto da ex aluna -- Mas também por causa de ti! Sofri muito!

 

--Sofreu por mim? -- ficou pasma -- Mas por que? -- Olívia secava-lhe as lágrimas com os dedos

 

--Depois que desencarnei tu passaste um tempo deprimida e isso me entristecia muito. -- olhava nos olhos dela -- E quando tentou suicidar... -- emocionou-se -- Não sabes o quanto me esforcei pra te fazer mudar de idéia!

 

Envergonhou-se. -- Desculpe, Shamash... -- abaixou a cabeça -- Não queria te fazer sofrer... -- falou como criança

 

--Não te desculpes, querida! -- pediu levantando o rosto da morena pelo queixo -- Apesar de ser espírita eu não tava pronta, eu não me preparei emocionalmente pra desencarnar, e por isso passei pelo que passei. Eu me sentia muito na obrigação de cuidar de ti, de cuidar de Salete... -- falava com carinho -- Mas eu sei que tu ficaste bem, sei que tua formatura na faculdade mudou muita coisa na tua vida... E só tenho orgulho da minha caipira! -- brincou

 

Zinara sorriu.

 

--Mas ainda preciso que faças uma coisa. -- complementou -- Que faças por mim, ao menos!

 

--O que é? Do que você precisa? -- perguntou preocupada -- Ainda sofre? Eu faço o que for!

 

--Preciso que faça como Salete: que perdoe teu pai! -- pediu

 

--Shamash... -- não sabia o que dizer

 

--Como bem te disse uma pessoa muito especial, perdoá-lo não é uma escolha, é uma necessidade! -- repetiu as palavras de Clarice -- E o momento é esse!

 

Zinara permaneceu muda.

 

--Fecha os olhos, querida. -- deslizou os dedos pelo rosto da outra -- Preciso ir, mas ainda tenho que fazer uma coisa. -- aplicou-lhe um passe e depois de uns instantes falou: -- Pronto, agora tenho que ir. -- beijou-lhe a testa e se afastou

 

A astrônoma abriu os olhos e viu que Olívia se distanciava, mesmo parecendo não sair do lugar.

 

--Fica com Deus, Zinara! E não te esqueças de que somente o amor torna o fardo mais leve!

 

--Rahimaka Allah (Deus te abençoe) -- acenou -- Eu te amo, Shamash! -- afirmou ternamente

 

--Também te amo... -- sua imagem desvanecia no meio das flores -- Para sempre serás minha guria!”

 

Zinara abriu os olhos lentamente e percebeu que ainda estava no motel deitada nos braços de Clarice. Sentia-se bem, sentia-se em paz.

 

“Obrigada, Shamash!” -- agradeceu mentalmente -- "Obrigado, Allah (Deus), por me dar a honra de vê-la mais uma vez.” -- levantou a cabeça devagar e olhou para Clarice -- "E obrigada por ela!” -- sorriu para a amada que dormia

 

***

 

--Mas como assim você não vai continuar com o caso contra o Mike Ametista? -- Jamila reclamava indignada -- Recomendei você e agora vai me fazer passar uma vergonha dessas? Que fuleiragem!

 

--Deixa eu te contar que meu filho foi preso aqui em Gyn por causa das manifestações na cidade! -- justificou-se -- A imprensa não fala, mas Gyn tem pegado fogo nos últimos tempos, viu, fi?

 

--Choo?? (O que??) Seu filho foi preso?! -- estava em choque

 

--Foi, e eu tô tensa, agoniada, não consigo pensar direito! -- falava com nervosismo -- Acusaram o menino de ter usado coquetel voronoff durante a manifestação e ele tava simplesmente com uma garrafa de água mineral! O próprio laudo policial provou isso!

 

--Mas é uma fuleiragem da porr* nesse país! -- reclamou desgostosa -- Vagabundo fica solto, político corrupto tem vida de rei e gente honesta que vai protestar contra o que tá errado é tratado como criminoso! -- balançou a cabeça -- Dá nojo! Ralã! (expressão de desgosto)

 

--Meu marido e eu tamos uma pilha de nervos! Ainda mais que soubemos que ele tá com câncer na próstata!

 

--Seu marido tá com câncer?! -- arregalou os olhos

 

--Pois é! Minha vida tá um inferno! -- desabafou -- Num tô dando conta, não!

 

--Calma, mulher, se aperreie não que vai dar tudo certo! Vocês dois são ótimos advogados e vão tirar o menino da cadeia, sei que vão! -- tentava tranqüilizá-la -- Se precisar de ajuda sabe que pode contar comigo! -- ofereceu -- Quanto à saúde de seu marido, fica tranqüila que tudo vai se resolver também! Tem que lutar!

 

--Eu sei que posso contar contigo, Jamila, te conheço!

 

--Pode ser ajuda com dinheiro e com seja lá o que for! Se precisar, fala comigo e sem ficar com vergonha! -- estava sendo sincera

 

-- Obrigada! -- agradeceu comovida -- Mas queria que entendesse que não dá pra tocar o caso da prima da sua amiga. Eu não consigo! -- confessou -- Tô passando os casos mais fortes pra outros colegas e só vou ficar mesmo com o que for tranqüilo. Não tá dando não!

 

--Eu entendo... -- pausou brevemente -- Desculpa se explodi com você quando me disse que ia desistir do caso. Eu não sabia... -- envergonhou-se

 

--No seu lugar eu teria feito o mesmo. -- compreendeu e ficou uns instantes calada -- Mas ainda não terminei com as notícias ruins...

 

--E tem mais?! -- ficou com medo

 

--Nenhum advogado que eu conheço quer pegar esse caso... Eles têm medo do Ametista, deduzo eu.

 

Jamila gastou uns segundos apenas pensando. De repente uma idéia surgiu em sua mente e ela decidiu sem receios: -- Pode deixar comigo que eu levo adiante! -- sorriu

 

--Você?! -- surpreendeu-se -- Mas você mora em Cidade Restinga e o processo tá correndo por aqui...

 

--E pra que existe avião? -- passou a mão nos cabelos -- Não vou precisar ficar indo pra Gyn todo dia...

 

--Se quer assim, tudo bem. -- concordou -- Depois do caso Hamatsu você ganhou projeção e isso pode ajudar. Vou te passar todos os detalhes e queria marcar uma reunião contigo aqui.

 

--Sem problemas! -- balançou a cabeça positivamente -- Sem problemas... -- continuava sorrindo -- "Pegar esse caso é tudo que eu preciso pra me reaproximar de Hayati” -- pensou animada -- "E de quebra, conquisto a família toda...”

 

***

 

Cátia discursava diante de uma pequena multidão no centro da cidade de São Sebastião. Em cima de um palanque, tentava sensibilizar as pessoas quanto à importância da questão do petróleo no país.

 

--O campo de Balança jamais deveria cair em mãos de empresas estrangeiras, uma vez que sabemos muito bem do potencial que ele tem! Estamos tratando aqui de um campo gigantesco, cheio de óleo leve, que tem maior valor de mercado! É óleo de excelente qualidade! Um verdadeiro tesouro! -- falava ao microfone -- Sou geofísica e trabalhei intensamente na pesquisa desse campo, sei o que estou dizendo! -- olhava para as pessoas -- O Governo alardeia que a importância do leilão está nos quinze bilhões de reales que serão pagos como bônus de assinatura por quem arrematar nosso tesouro. Dizem que esse dinheiro vai ser muito bom pra nosso país, mas na verdade, o que se deseja é fechar com chave de ouro o superávit primário de 2013! -- gesticulava -- E sabem pra que? Pra pagar esses banqueiros exploradores que enriquecem dia a dia às custas das altas taxas de juros e da dívida pública!

 

Uma jovem mulher morena ouvia atentamente as palavras da loura. -- É bem por aí mesmo...

 

--A lei do petróleo que rege o Prima di Sale, diz que a União pode entregar qualquer campo considerado estratégico diretamente pra sua empresa estatal! -- explicava -- Daí eu pergunto a vocês: não seria o campo de Balança algo muito estratégico? -- andava de um lado a outro -- Então por que o Governo não o entrega pra nossa empresa? Eu digo porque! É porque isso não interessa ao capital internacional, que é quem de fato sempre nos governou! -- passou a mão nos cabelos -- Eles alegam que nossa empresa não teria os tais quinze bilhões pra pagar pelo bônus porque ela anda mal das pernas. Aliás, a imprensa vive dizendo isso, né? -- olhava para as pessoas -- Mas a imprensa não diz que a estatal passa por isso porque ajuda o Governo a manter a inflação nos níveis mais baixos possíveis! -- denunciava -- E também não diz que se ela recebesse o campo de Balança, qualquer banco do mundo emprestaria o dinheiro de olhos fechados! -- riu brevemente -- Dinheiro não seria problema e o petróleo seria todinho nosso!

 

--Ela tá certa! -- a morena falava sozinha -- Essas coisas dão um ódio na gente!

 

--E depois que o ciberagente Scowben denunciou que nossa empresa foi espionada, na certa pra que soubessem todos os detalhes do Prima di Sale, aí é que não tinha que ter leilão nenhum! -- quase gritava -- Não sou filiada a partido político, não penso em me candidatar, sou professora universitária e patriota até morrer! -- bateu no peito -- Vamos lutar pra que esse maldito leilão não aconteça! -- convocou -- Quem tá comigo canta: leilão, leilão, é privatização! O petróleo é nosso e disso não abrimos mão! -- dava socos no ar

 

--Leilão, leilão, é privatização! O petróleo é nosso e disso não abrimos mão! -- o povo cantava junto

 

(Nota da autora: inspirado no que ouvi durante uma passeata contra o leilão do campo de Libra)

 

Instantes depois, a polícia surge repentinamente agredindo os manifestantes, dando tiros com balas de borracha e jogando spray de urtiga no rosto das pessoas. Simultaneamente, alguns Blekiploks apareceram também e reagiram arremessando pedras nos policiais. Em pouco tempo um estranho tumulto havia se formado.

 

--Droga! -- Cátia desceu do palanque correndo -- Que merd*! -- buscou fugir da violência

 

--AH!!!!! -- um rapaz levou um tiro na perna -- Puta que pariu! -- gritou ao se ajoelhar

 

--Aqueles ali! -- um policial apontou para um grupo

 

--E agora, pra onde eu vou? -- a geofísica se questionava apavorada

 

Correndo sem rumo no meio do povo, Cátia sente que uma bala de borracha passa de raspão em sua coxa. Assustada, acabou se desequilibrando e caindo no chão. -- Merda! -- xingou -- E agora, gente? -- olhou para os lados e percebeu que um tumulto maior se formava a alguns metros de onde ela estava caída -- Que droga, me ralei toda... -- levantou-se -- Mas pelo menos o tiro foi de raspão e não doeu!

 

Sem que esperasse, uma mulher vem ao seu encontro e a segura pelo braço. -- Vem comigo, professora! -- ordenou imperativa -- Agora!

 

Indignou-se revoltada. -- Mas que negócio é esse de...? -- deu de cara com uma bela morena e mudou o tom -- Pedindo assim, né? -- concordou e foi

 

--Me pareceu que você levou um tiro! -- a mulher comentou preocupada enquanto escapavam

 

--Levei! -- afirmou tacitamente -- E foi certeiro! -- começou a mancar -- Ai, ai, ai, como dói!! -- fazia um teatro -- Mal posso andar! -- fez cara de sofrimento -- Nossa, que dor imensa!

 

--Me abraça que eu te ajudo, vem? -- pediu condoída

 

“Não futica a pantera, que eu tô carente!” -- pensou -- Obrigada! -- envolveu o ombro da outra como se fosse uma polva -- "E agarro com raça!” -- pensou -- "Cheirosa...”

 

Cátia e a mulher seguiram para uma rua estreita e entraram no carro da morena.

 

--Você se arranhou... -- olhou para as mãos e cotovelos da loura -- Tem que fazer curativo! -- comentou preocupada

 

--Ai, você nem sabe que dor eu tô sentindo... -- dramatizava

 

--Vamos, que eu vou te levar pra um hospital. -- ligou o carro e manobrou para sair

 

--Ah, não, nada de hospital! -- protestou -- Já me basta passar por isso aqui! -- acomodou-se no assento -- Chega de maus tratos!

 

--Pra onde quer que eu te leve? -- perguntou enquanto seguia com o carro

 

“Pode ser pro motel mais próximo?” -- pensou ao reparar nas coxas da morena -- "Que pernuda, ui!”

 

***

 

--E o seu nome, qual é? -- Cátia perguntou curiosa para a mulher que fazia curativo em seu braço

 

--Lúcia! -- olhou rapidamente para a geofísica -- É um prazer, professora Cátia. -- sorriu

 

--O prazer é meu... -- reparava na outra -- Você faz o que, Lúcia?

 

--Sou bombeira. Mas trabalho no administrativo, nada de atividades emocionantes. -- brincou

 

“Uma bombeira era tudo que eu precisava pra apagar esse fogo que me consome!” -- pensou maliciosa -- Não deveria ter me ajudado então. Estávamos em lados opostos... Ou não?

 

--Ouvi seu discurso desde o começo e concordei com cada palavra. -- terminou o curativo -- Obedeço ao lema hierarquia e disciplina, mas não acho que devamos deixar de pensar por causa dele. -- olhou para a geofísica -- Sou patriota, quero o melhor pro meu país! Se o Governo quer que se reprimam as manifestações do jeito como vem acontecendo, eu não vou compactuar com isso!

 

Admirou-se. -- Pode ser presa por agir assim. Não tem medo?

 

--Tenho medo de pouquíssimas coisas, professora. Pouquíssimas coisas...

 

“Bonita, gostosa, patriota e corajosa... precisa mais o que?” -- pensou cheia de fogo -- “Ah, mas ainda tem que saber se ela é do ramo...”

 

Lúcia olhou para as pernas da outra e perguntou intrigada: -- Qual delas foi atingida pelo projétil? -- não conseguia adivinhar -- Não tem marca...

 

--Tecido bom é outra coisa, né? -- disfarçou

 

Achou graça. -- A gente tem que fazer curativo nessa perna! -- olhou novamente para Cátia

 

--Não se preocupe com isso! -- não queria que Lúcia descobrisse que ela mentiu -- Aliás devo te agradecer por ter me salvado daquela confusão e ainda ter me trazido pra sua casa pra cuidar de mim. -- sorriu -- Fazia muito tempo que ninguém se importava comigo... -- lançou um olhar sensual -- Tô solteira, largada no mundo... -- fez um charme quase inocente

 

--Loucas que são as pessoas de sua vida que te deixam solta por aí... -- sorriu

 

“Hum, ela gosta da fruta...” -- concluiu

 

--Agora tira a calça que eu vou cuidar de você! -- pediu -- Pára de me enrolar e vamos dar atenção a esse ferimento!

 

“É hoje que a porca torce...” -- pensou ao se levantar -- Quer que eu tire a calça? -- perguntou sensualmente -- Quem sou eu pra dizer não à autoridade? -- desabotoou o jeans e rebolou lentamente para se livrar da roupa

 

Arregalou os olhos. -- Mas não tem ferimento! -- constatou babando -- Tá tudo tão certinho aí...

 

--Que bom, não acha? -- sorriu maliciosamente e tirou a blusa -- Quer que eu tire mais? -- aproximou-se

 

--Tá querendo me provocar, professora? -- sentia a excitação crescer

 

--Eu? -- virou-se de costas e tirou o sutiã -- Imagina... -- jogou a peça no chão

 

Lúcia avançou sobre a loura e puxou sua calcinha para baixo, virando-a de frente para si. Abraçou-a pela cintura com força e beijou-a com desejo.

 

Cátia arrancou a blusa da morena e buscou desabotoar as calças dela quando sentiu-se arremessada na poltrona.

 

--Você me enganou, professora! -- parou de pé diante da outra e tirou as calças com calcinha e tudo -- Isso não se faz! -- sorriu ao desabotoar o sutiã

 

--Foi por uma boa causa! -- puxou-a pela cintura -- Vem, bombeira! Tem muito fogo pra apagar! -- beijou-a

 

--Também tô pegando fogo! -- deitou-se sobre a geofísica -- Tá tudo... queimando... aqui... -- respondeu entre beijos

 

--Chega de papo! -- reverteu as posições e mordeu o queixo da morena -- Hora de agir! -- seguiu direto para o sex* da outra

 

--Ui! -- arregalou os olhos -- “Essa aí é do tipo que cai de boca, Nossa Senhora!” -- pensou extasiada -- Ah! Ah... -- gemia -- Ai, que mulher é essa? -- fechou o olhos

 

Cátia explorava o sex* de sua nova amante enquanto deixava as mãos percorrem o corpo dela sem destino certo.

 

***

 

Zinara e Raed lixavam o muro da casa de Clarice.

 

--Ocê vai na vigía mais eu hoje? -- ele perguntou sem olhar para a filha

 

--Eu disse que ia, baba. Então eu vou. -- também não olhou para o homem

 

--Mamãe, a senhora não devia ter deixado eles levarem adiante essa história de pintar nosso muro. -- a paleoceanógrafa criticou -- Já trouxeram tanta coisa pra gente! É exploração demais! -- olhava para a idosa

 

--Já te disse que eu respeito a tradição alheia. -- respondeu enquanto teclava no computador -- O homem queria e Zinara insistiu. Quem sou eu pra contrariar esse povo?

 

--Humpf, sei... -- fez um bico -- E com quem tanto a senhora conversa aí, se dona Amina tá aqui em casa? -- queria saber

 

--Tô falando com Qamar Celeste, que ficou passada em saber que Siriema veio justo pra cá! -- riu brevemente -- Mundo pequeno...

 

--À propósito, -- olhou para todos os lados -- cadê Khadija e dona Amina?

 

--Foram dar uma voltinha porque Amina é muito alérgica pra ficar aqui enquanto eles lixam lá fora. -- e tome de teclar -- Eu não fui junto pra fazer o almoço.

 

--E fez? -- perguntou intrigada -- Desde que Zinara e eu chegamos tô lhe vendo nesse computador!

 

--Ih, eu hein, Clarice, que coisa! -- parou de escrever e olhou para a filha -- Vai ficar me regulando, é? -- fez cara feia

 

--Pra senhora ver como é chato ser regulada! -- cruzou os braços

 

--Quem é a mais velha aqui, hein? -- ajeitou os óculos -- Se tá falando isso porque não quero que se acasalem no quintal, pode reclamar à vontade! -- voltou a escrever -- Se não aproveitou a noite passada pra fazer isso, babau!

 

--Ah! -- acabou achando graça -- É mole uma coisa dessas?

 

***

 

Amina e Leda conversavam no quarto da idosa enquanto Clarice e Khadija brincavam na sala.

 

--Eu recumendei muitu a Raed pra vortá a prosiá cum Zinara, num sabi?-- olhava para a amiga -- Tem qui aproveitá essa vigia di hoji! Tumara qui eli saiba si avê e os dois finarmenti si intenda! -- desejou -- É o sonho di minha vida...

 

--Clarice e eu temos orado pra isso, querida. Eu tenho fé! -- respondeu confiante -- Pode não acontecer hoje ou amanhã, mas vai acontecer!

 

--Também cunfiu e intreguei nas mão da Virgi! -- postou as mãos para cima

 

--Agora me conte a tal coisa que queria me dizer. -- pediu curiosa -- Pode falar sem medo que Clarice nem vai escutar. Ela e Khadija tão entretida lá na sala. -- piscou para a outra

 

--Óia issu aqui! -- mexeu no computador de Leda e localizou uma página na internet -- Incontrei antis di vim pra cá!

 

--Hum... -- olhou para a tela

 

--O qui a sinhora acha? -- perguntou esperançosa

 

--É... pode ser... -- balançou a cabeça pensativa

 

CAPÍTULO 53 –  A Vigília

 

Zinara e Raed estavam em Princesinha do Mar por conta da vigília com o Papa. O clima era familiar e as pessoas concentravam-se em orações ou conversas amistosas.

 

O homem prestava atenção na filha enquanto ela orava com os olhos fechados. Reparava em como havia emagrecido, na expressão cansada em seu rosto e no braço machucado devido ao tratamento médico. Sentia muita pena e desejava imensamente aninhá-la em seus braços e dar a ela o carinho que nunca foi capaz de oferecer. Arrependia-se de verdade e não queria mais aceitar que era muito tarde para um recomeço.

 

--Fia? -- chamou e a morena virou o rosto na direção dele -- Onti ocê mi dissi o qui pudia dizê sobre nóis e... agora quiria eu ti contá argumas coisa...

 

Respirou fundo e respondeu com tranquilidade: -- Pode falar, baba.

 

Não sabia por onde começar mas decidiu desabafar o que nunca havia dito. -- Baba era um homem diferente de todos os outros que eu conhecia. -- falava na língua de Cedro -- Ele tinha uma sabedoria que até hoje acho que ainda não fui capaz de aprender. -- lembrava de Raja -- Eu o respeitava e amava muito, mas não posso negar que guardava uma certa mágoa dele... -- confessou -- Talvez fosse por isso que vivíamos nos desentendendo... -- olhou para a filha -- Lissa faker? (Você lembra?)

 

--Aywah! (Sim!) -- balançou a cabeça -- E por que tinha mágoa dele? -- também falava na língua de Cedro

 

Deu um suspiro profundo. -- Eu fui o oitavo e último walad (filho)... -- mirou um ponto perdido no horizonte -- Quando nasci, maama ficou muito mal e foi internada. Os anciãos até acreditaram que ela fosse morrer... -- contava -- Chede, Ibrahim e Amin já eram maiores de idade. Fadel e Xafiq eram adolescentes e Rachid tinha dez anos. -- pausou brevemente -- Eles já não precisavam de cuidados especiais, é o que quero dizer... -- olhou para as próprias mãos -- Baba ficava todo o tempo que podia ao lado de maama e... ele trabalhava e não tinha como cuidar de Najla, que era um bebê de um ano, e tampouco de mim... E os outros também não cuidariam porque eram todos homens... -- olhou para a morena -- A solução foi deixar Najla e eu na casa de camm (tio paterno) Faruk para que ele e camma (tia paterna) Sadala nos criassem temporariamente.

 

--E por quanto tempo viveram com eles? -- perguntou curiosa

 

O homem deu um sorriso triste. -- Najla ficou por dois anos e eu por doze... Ana w albii kona mosh daryanin... (Eu e meu coração não sabíamos...) -- abaixou a cabeça -- que seria por tanto tempo...

 

“E por que será que foi assim?” -- não entendia

 

--camm Faruk era muito conservador e conduzia Il-cela (a família) com mãos de ferro. Ele me ensinou que um homem devia ser firme, que não podia chorar, que nossa posição na sociedade era superior e que... -- tentou imitar a maneira de falar do tio -- “mulheres não precisam ser entendidas, mas dominadas!”

 

--Humpf! -- fez um bico discreto

 

--Eu o admirava e queria ser igual a ele. Além do mais, naqueles tempos Cedro vivia uma época de prosperidade e Berytus era uma cidade cosmopolita e rica. -- lembrava -- No entanto, o fantasma da guerra já pairava sobre nossas cabeças e muitos homens, como camm Faruk, pregavam o rigor dos costumes para manter a sociedade firme. -- tentava fazer Zinara entender o contexto de seus valores -- Isso é muito normal de acontecer quando as pessoas sentem que as coisas vão piorar.

 

A professora nada comentou e Raed continuou com seu relato.

 

--Quando baba me levou de volta para casa, tive muita dificuldade em me habituar e também me sentia discriminado... “Wala betehda, wala betertah” (“A dor e as feridas nunca cicatrizam”), eu costumava a dizer para ele. -- pausou brevemente -- Por muitos anos eu o considerei um fraco e busquei ser bem diferente da pessoa que ele era. -- confessou envergonhado -- Depois que maama morreu saí de casa rumo ao sul de Cedro no intuito de encontrar uma moça de família para casar. Senti como se meus vínculos com baba tivessem sido desfeitos. -- suspirou -- Aliás, foi a guerra que nos aproximou, veja que curioso...

 

--Ana a’arfa. (Eu sei.) camma Najla me contou que ya said (o senhor) foi para o sul buscando casamento. -- olhava para o pai -- Imagino que a sensação de abandono e discriminação tenha lhe feito sofrer, mas não precisava me fazer conhecer esta dor, não acha? -- perguntou diretamente -- E certamente baba não amaldiçoou o seu nascimento como ya said fez comigo! -- acusou

 

O homem se envergonhou e olhou para a morena com olhos súplices. -- Eu era um tolo e ignorante, bintii (minha filha). Ainda sou... -- assumiu -- Só que a vida me ensinou e todo o sofrimento que se abateu sobre meu coração me fez ver muitas coisas, mesmo que eu tenha demorado tanto a admitir meus erros! -- emocionou-se -- Fui ensinado que para a glória e honra de um homem seu primeiro awlaad (filho) deveria ser um varão. Os marabutos (eremitas santos, adivinhos) não conseguiam descobrir se você seria mulher ou homem e eu acreditei com todas as forças que... -- derramou uma lágrima -- Oh, bintii, se soubesse o quanto me arrependo por ter sido tão cego. -- segurou as mãos dela -- Omrak shoft maaya farh... (Você nunca experimentou alegria a meu lado...) -- lutava para se conter e não chorar -- Eu queria tanto poder mudar o passado, mas eu não posso!

 

Recolheu as mãos e se afastou um pouco, ficando de costas para o pai. -- Realmente não pode. -- concordou secamente

 

--Se você soubesse como é ser um baba em tempos de guerra... -- abria seu coração -- Eu tinha tanto medo e lutava para não demonstrar isso nunca. Meu dever era ser forte para preservar usritii (minha família) e defendê-la mesmo com sacrifício da minha própria vida! -- chorava contidamente -- Eu temia que os junuud (soldados) tirassem sua inocência e que abusassem de Amina ou das outras mulheres do clã. Temia que baba fosse morto pelos aghdaa’ (inimigos). Temia que os meninos tivessem que pegar em armas e se juntar à muqaawama (resistência), pois não queria que eles sujassem as mãos de sangue como eu... -- passou as mãos sobre os olhos -- Quantas noites passei acordado, vigiando escondido na escuridão, para que nada de mal acontecesse a vocês!

 

“Eu nem imaginava isso!” -- pensou surpreendida

 

--Há muitas coisas que você não sabe, Zinara. -- falou como se tivesse ouvido os pensamentos dela -- Mas eu vou seguir o conselho de Najla e vou lhe dizer tudo... -- respirou fundo -- Quando vivíamos naquele galpão, e éramos quase sessenta pessoas amontoadas, baba, Ibrahim, Amin e eu nos revezávamos na vigilância noturna para que os junuud (soldados) não nos encontrassem desprevenidos. -- lembrava -- Naquela noite em que a bomba explodiu, Ibrahim estava exausto e havia adormecido sem que nós soubéssemos. Por isso fomos pegos de surpresa. -- controlava as emoções -- Metade do galpão desabou, como você deve se lembrar, e muitos morreram... -- Zinara virou-se de frente para o pai -- Amin e eu corremos para resgatar os sobreviventes e conseguimos tirar nove pessoas. -- olhou para a filha -- Você ficou presa nos escombros e muitos acreditaram que estava morta...

 

De repente, lembranças adormecidas no esquecimento vieram à mente da morena.

 

“--Bintii!!! Bintii!!! -- Amina berrava em desespero -- BINTII!!!

 

--Ela tem que estar viva! -- Zahirah chorava -- E baba também não vai morrer! Não vai! -- não se conformava --  BABA!!! ZINARA!!!! -- gritou

 

--Calma, hayati! -- Farida tentava consolar seu amor -- Zinara será encontrada e abuuik (seu pai) não vai morrer!

 

Zinara ouvia tudo aquilo mas não tinha forças para gritar e dizer a eles onde estava. Sua garganta sufocava com a poeira e ela sentia uma estranha pressão sobre seu corpo. Na verdade, não sabia realmente se estava mesmo viva ou morta.”

 

"Eu não me lembrava de ter ficado soterrada!” -- pensou atônita -- Ya said me salvou? -- murmurou para si mesma estupefata

 

--Não sairia de lá sem você... -- afirmou com muito sentimento -- Zahirah não escreveu sobre isso no yoom kitaab (livro dos dias)... Ibrahim morreu naquele dia e ela disse que se recusava a escrever sobre certas coisas... -- tentava se recompor para continuar a dizer tudo que precisava -- Quando Youssef sofreu aquele ataque, ouvi os gritos de Khaled em desespero e corri para ver o que acontecia, seguido por outros homens. -- cada lembrança era-lhe muito dolorosa -- Vi que você vinha correndo com akhuuik (seu irmão) em seus ombros e também percebi que um dos aghdaa’ (inimigos) se preparava para atirar em suas costas. -- olhou para baixo -- Eu corri até você, tomei Youssef nos braços e te joguei para trás de mim. -- levantou uma perna de calça -- Levei um tiro na coxa, bem aqui. -- tentava mostrar -- Se não fossem os homens do acampamento acho que teria ficado aleijado.

 

“Baba levou um tiro por minha causa?” -- continuava em choque

 

--Quando percebemos que você fugiu do acampamento para ver giddik (seu avô) ficamos loucos. -- continuava lembrando -- Deixei Amina tomando conta do clã e corri atrás de você do jeito como estava. Eu não pensava em nada, apenas em te encontrar. -- olhou para a filha -- Depois de uma busca que me pareceu não ter fim, vi que você vinha correndo e de repente caiu desmaiada. Simplesmente desfaleceu. -- narrava os fatos -- Eu fui até onde estava e te trouxe comigo.

 

“Por que eu não me lembro de nada?” -- pensava em agonia

 

--Quando você tentou ajudar Leila e os meninos em Al Maghrib, os chefes do campo de refugiados decidiram que você deveria ser punida. -- não deixava de relembrar -- Da mesma forma aconteceu quando você ajudou aquela moça... -- tentava lembrar o nome dela -- Acho que se chamava Adilah...

 

--E eu fui punida! -- afirmou com emoção -- Lembro bem o quanto trabalhei! E também lembro dos golpes daqueles malditos que separaram ya Leila de mim!

 

--Não, você não foi! -- retrucou -- Eu negociei com os supervisores por você e fui punido no seu lugar! -- revelou -- Por que acha que fui trabalhar na parte mais bruta do curtume? -- novamente se emocionou -- Fui surrado, trabalhei como um burro e fiquei dias sem direito a beber maa’ (água).

 

--Então foi por isso que veio aquele problema de rim... -- concluiu em estado de choque

 

--E você me deu o seu! -- chorava contidamente -- Não sabe do orgulho que senti quando você se propôs a ser minha doadora.

 

--Oh, Aba... (Oh, Meu Pai...) -- sentia vontade de chorar

 

--Poderia passar horas lhe dizendo coisas e tentando te convencer do meu arrependimento imenso... Albii (meu coração) dói como nem sei... -- lutava para não chorar sem controle -- Você não sabe o que senti ao perder tantos amados de usritina (nossa família)! Não sabe o que senti quando aqueles malditos vieram e levaram Farida embora e eu não pude fazer nada!

 

--Baba... -- não se controlou mais e começou a chorar

 

--Não sabe o que senti quando baba foi morto e eu não estava lá para defendê-lo!

 

--Não havia o que fazer...

 

--Não sabe como foi para mim quando Zahirah morreu e eu vi você morrendo junto com ela! -- o coração batia acelerado -- E a dor de ver um filho ficando cego e outro enlouquecendo! -- passou as mãos nos olhos -- E quando levaram Leila de nós, quando soube que Hassan sofreu abuso e quando ele foi encontrado morto naquele tanque de tinta...

 

--Calma, baba! -- aproximou-se dele preocupada. Muitas pessoas prestavam atenção sem entender o que diziam -- Não falemos mais sobre estas coisas... -- pediu chorando. Raed também chorava muito

 

--E quando Jamal morreu no navio e nós tivemos que jogar o corpo dele no mar... -- segurou a filha pelos ombros -- Você não entende! -- falava em desespero -- Eu era responsável por todos vocês e não pudia fazer nada! Eu me sentia o mais miserável dos homens... -- soltou a morena e caiu de joelhos chorando -- O mais miserável...

 

--Por favor, com licença. -- um padre se aproximou com duas senhoras -- O que acontece com ele? -- olhava para Zinara -- Não entendemos!

 

--Será que falam nossa língua? -- uma das idosas perguntou

 

A professora respirou fundo, passou a mão nos olhos e respondeu tentando se recompor: -- Sim, nós falamos. -- olhava condoída para o pai -- É que ele está desabafando lembranças muito dolorosas comigo... E nós somos nascidos em outro país... estamos conversando no idioma de lá.

 

--É seu pai? -- o padre perguntou intrigado

 

--Sim...

 

--Eu me sentia o mais incompetente dos pais e quando Ahmed nasceu... -- Raed falava como se precisasse desabafar para viver -- Eu quis fazer diferente, eu quis tentar! -- olhou novamente para Zinara -- Perdoe se não soube como lidar com vocês! -- não parava de chorar -- Criei Ahmed, Nagibe e Cid muito mal, mas pensava que fazia o melhor por eles! Investi tudo neles, mas sempre soube que você, Youssef e Khaled eram meus melhores filhos! -- confessou -- E sei que sua força, sua tenacidade... -- balançou a cabeça negativamente -- nenhum deles têm!

 

--O que ele diz? -- o padre perguntou, mas a astrônoma não respondeu

 

--E quando você disse que ia estudar em Gyn, eu me desesperei porque tive medo! -- justificava-se -- Você era uma moça ingênua e a cidade grande sempre foi cheia de gente maldosa e aproveitadora... você era uma menina da roça... -- chorava -- E também tive medo que depois que virasse doutora, sentisse vergonha de nós... vergonha de mim, que nunca fui o pai que merecia ter... -- confessou

 

--O que ele diz, minha filha? -- a outra idosa perguntou agoniada -- O que ele quer?

 

--Esse homem tá a ponto de passar mal! -- o padre observou preocupado

 

Zinara olhava nos olhos de Raed e afirmou sem romper o contato visual. -- Ele quer Gufraan... -- pausou brevemente -- Ele quer perdão... o meu perdão.

 

--Então perdoe, filha! -- o padre pediu emocionado

 

--Perdoe! -- as duas mulheres pediram juntas

 

--Ana behebbik, bintii! (Eu te amo, minha filha!) -- afirmou com muito sentimento -- Wallahi! (Eu juro!)

 

A professora não sabia o que dizer. Seu coração ainda não estava pronto. -- Vamos orar? -- pediu para todos e ajoelhou-se ao lado do homem -- Por favor! -- fechou os olhos

 

--Vamos. -- as duas senhoras se ajoelharam também

 

Raed entendeu que a filha não tinha condições de perdoá-lo naquele momento, mas sentia-se como se tivesse removido um peso das costas. Havia falado tudo o que deveria dizer. Havia exposto suas feridas de alma como nunca houvera feito em toda vida. Buscou se recompor, fechou os olhos e concentrou-se no Pai Nosso que o padre começou a conduzir.

 

“Oh, Aba!” -- Zinara orava em pensamento -- "Terá tudo sido culpa da guerra, da violência que ainda impera neste mundo?” -- questionava -- “Será que à despeito de nossas próprias imperfeições, fomos vítimas da dor e do sofrimento coletivo que se abateu sobre Cedro?” -- queria entender as emoções e sentimentos que revolviam seu espírito sofrido -- "Wi yentifi al nor fil dameer wi tintifi nigoom el salaam?” (E por quanto tempo as luzes da consciência e as estrelas da paz permanecerão apagadas?)”

 

CAPÍTULO 54 –  Reencontros

 

Jamila e sua irmã conversavam enquanto relaxavam na praia.

 

--Ai, Jamila, é tão bom ter você de volta! Já não agüentava mais de saudade querendo te reencontrar! -- Leonor confessou -- Especialmente agora que tô solteira, ia ficar muito carente sem minha irmã por perto! -- piscou para ela

 

--Nem me fale, porque andava louca pra voltar pra casa! -- sorriu -- E saber que  você terminou com o ‘bebê’ -- fez uma careta -- foi a grande notícia do meu retorno!

 

--Humpf! -- fez um bico -- Nem me lembre que eu chamava o falecido de bebê! -- reclamou -- Aquele traste, malandro e traidor! Bicho fuleiro da porr*!

 

--Até que enfim você abriu os olhos, né? Nossos pais já não agüentavam mais ele!

 

As duas estavam deitadas de bruços tomando sol.

 

--Será que existe amor verdadeiro? -- Leonor perguntou esperançosa -- Daquele tipo que a gente vê nos filmes, onde tem romantismo, fidelidade, entrega... -- suspirou -- E muita sacanagem na cama, que ninguém é de ferro, né? -- complementou

 

--Claro que tem! -- olhava para a outra -- É que nem sempre a gente tem preparo pro amor quando ele chega e... deixa passar. -- afirmou com certa tristeza

 

Leonor tirou os óculos escuros e encarou a irmã de cara feia. -- Não me diga que tá pensando naquela caipira? -- pela expressão da advogada teve certeza -- Ah, por favor, me poupe! -- colocou os óculos novamente e virou o rosto para o outro lado

 

--Não sei porque você implica tanto com hayati! -- protestou

 

--E eu não sei porque não se convence que ela não é mulher pra você! -- olhou para Jamila novamente

 

--Eu não desisti dela! -- afirmou convicta -- E agora que voltei vou lutar com todas as forças!

 

--Fazer o que? -- lamentou -- Mas, esquecendo daquela uma, -- não queria mais falar em Zinara -- você já conheceu algum casal que te fizesse pensar: “Isso sim é amor de verdade!”? -- perguntou curiosa -- Se disser que nossos pais são esse exemplo eu vou rir!

 

Achou graça. -- Com certeza nossos pais não, né? -- pensou um pouco e respondeu depois: -- Conhecer eu não conheci, mas li sobre um casal que me fez pensar exatamente isso: amor de verdade!

 

--Leu?! -- não entendeu -- Como isso?

 

--Foi o yoom kitaab de uma pessoa que veio parar em minhas mãos. -- mirou um ponto perdido no infinito -- O casal vivia em condições muito duras e numa sociedade intolerante com certas coisas a ponto de nem poderem se tocar direito... -- contava -- mas a simples presença uma da outra já era todo motivo de felicidade.

 

--Duas mulheres? -- concluiu

 

--Duas mulheres... -- pensava no que havia lido

 

“Farida e eu passamos a tarde lavando al malaabis (as roupas) perto do poço e por muito tempo ficamos só nós duas. Quase não conversávamos, Kitaabii, penso que não sabíamos o que dizer, mas a simples presença dela era a semente de paz plantada em meu coração.”

 

--Hayati, por favor. -- não deixou a ruiva se levantar com peso -- Você já trabalhou demais, itrouk el baqi a’alateh. (deixe o resto comigo) -- Farida se ofereceu -- Não a quero carregando peso, seu corpo não foi feito para isso. -- pegou os quatro baldes

 

--E o seu foi, habibit? -- tentou tirar ao menos um dos baldes das mãos da outra -- É muito peso para uma só mulher!

 

--Você é mais delicada que eu. -- respondeu com carinho -- Confie em mim. Posso carregar. -- começou a andar

 

--Teimosa... -- seguiu ao lado de Farida -- Quantos baldes já carreguei?

 

--Só quando eu não pude evitar!

 

--Ao anoitecer estará completamente dolorida! -- roçou brevemente uma das mãos no braço da outra

 

--Que o corpo sofra por sua causa, eu não me incomodo tanto. -- olhou rapidamente para ela -- O que não pode acontecer é que meu coração sinta dor por você!

 

--E porque seu coração sentiria dor por mim? -- perguntou intrigada

 

--Ele sentiu muito a cada dia que ficou longe do seu... -- afirmou melancólica

 

“Como pode alguém tocar você tão intensamente sem encostar um dedo em sua pele, Kitaabii? Farida me toca com palavras, me despe com os olhos e me ama com a alma...”

 

--Você me diz coisas que... -- emocionou-se -- Oh, habibi, como consegue me tocar desse jeito? Parece que quando fala comigo é pelo coração e não somente pelos lábios.

 

Farida parou de andar e colocou os baldes no chão. Olhou nos olhos da ruiva e disse com muita verdade: -- Ana kol gamla talaa men khalass be ged! (Eu realmente sinto cada frase que digo!)

 

--Eu, hein! -- Leonor exclamou estranhando o que ouviu -- Confesso que é até bonitinho, mas eu prefiro um bom ‘vem cá minha nêga’, sabe cumé? -- brincou

 

--Acho a história delas duas muito linda, só não teve um final feliz. -- sentou-se -- Mas eu tô disposta a batalhar um final feliz pra MINHA história! -- levantou-se -- Vamos pra água? Yaalah? (Vamos lá?)

 

--Vamos. -- sentou-se também -- Quem sabe não aparece alguém nessa praia que venha com frases de efeito, do tipo... que tocam sem palavras? -- levantou-se -- Aí você esquece da caipira!

 

--Ai, ai, Leonor... -- achou graça -- Você ainda é muito imatura pra entender certas coisas... -- seguiram para o mar

 

***

 

Zinara e Clarice estavam em uma pracinha com Khadija, que brincava animadamente com outras crianças.

 

--Olha como a danadinha faz amizade fácil! -- sorria olhando para a sobrinha -- Já tá cercada de criança! -- achava graça

 

--Khadija é uma gracinha! -- prestava atenção na menina -- Difícil não gostar dela.

 

--É mesmo... -- concordou -- Mas eu sou suspeita pra falar, né? -- piscou para a outra

 

--Você é muito fofa com sua família! -- brincou e fez um breve carinho em uma das mãos dela -- Falando em família, sabe que fiquei com medo quando você e seu pai chegaram em casa? Ele parecia tão arrasado! Pensei que teríamos de levá-lo pra algum hospital.

 

--Baba se emocionou muito por causa de uma conversa que tivemos durante a vigília. -- explicou -- Fiquei aliviada quando ele disse que preferia passar o dia de hoje em casa. Acho mesmo que precisa descansar.

 

--Descansar? -- achou graça -- Vocês deixaram o muro todo preparado ontem! -- olhava para Zinara -- Não me surpreenderia se déssemos de cara com ele em altas pinturas quando voltarmos pra casa!

 

--Ah, não, ele sabe que eu quero pintar também. -- retrucou -- Até Khadija quer! -- sorriu

 

--Mas acontece que ele é teimoso igualzinho a você! -- beliscou de leve o braço da morena e sorriu também -- E me diga, querida... -- falava com jeito -- Vocês dois conseguiram se entender?

 

--Não se resolvem anos de problemas em minutos de conversa, Sahar. -- respondeu olhando para o chão -- Não mesmo...

 

Clarice suspirou. -- Espero que um dia... Bem, confio em Deus!

 

--Obrigada por se importar! -- sorriu docemente para ela -- Halla, halla cala ely Hala denyety we ceshektoh wallah... -- cantou baixinho

 

--Lá vem você querendo me derreter... -- respondeu melosa -- Traduz! -- pediu

 

--Bem vinda, bem vinda, pessoa que mudou minha vida, eu juro que me apaixonei...

 

Mordeu o lábio inferior e se aproximou. -- Pára com isso que aqui eu não posso te beijar! -- sussurrou para a amada

 

--Mas tem uma barraca de camping no seu quintal... -- lembrou

 

--Hum... -- sorria -- E a noite que não chega, hein? Ainda são dez e meia da manhã... -- brincou

 

O som de uma freada brusca chamou a atenção das duas. Por um triz um homem escapou de ser atropelado por um carro. -- Ui!! -- ele gritou assustado

 

--Porr*, maluco! -- o motorista colocou a cabeça para fora e reclamou

 

--Olha aqui, meu filho, não sabe dirigir, pega táxi! -- respondeu desaforado ao parar diante do motorista -- Ou então vai de bike, pra ver se diminui essa tua pança escandalosa!

 

--Escuta aqui, seu viado, -- saiu do carro -- você vai cantar de galinho com os da tua laia! -- dedo em riste na cara do outro -- Trata de baixar tua bola senão te sento a porr*da! -- ameaçou

 

--Gente, que estresse desnecessário! -- a paleoceanógrafa olhou espantada para os dois que discutiam

 

--Ma hatha?! (O que é isso?!) -- Zinara se levantou surpresa ao olhar para os homens -- Uai?

 

--Que foi, querida? -- Clarice não entendeu

 

--Hum, já vi tudo: homofóbico, ou seja, enrustido! -- o gay gesticulava -- Em vez de querer sentar porr*da, senta numa rola bem grossa que você fica mais feliz, viu fi? -- debochou

 

--Ah, mas eu vou quebrar tua cara, viado arrombado! -- avançou em cima do outro

 

--Me solta seu louco! -- buscava se desvencilhar

 

--Gente, cadê a polícia que não vem apartar essa briga? -- Clarice olhava para todos os lados -- Zinara, chama Khadija e vamos embora! -- pediu com medo

 

--Não acredito!! -- afirmou boquiaberta -- Aquele ali é meu amigo Fred! -- apontou

 

--Fred?! -- Clarice não sabia de quem se tratava -- E qual deles é esse Fred?

 

--O que tá mordendo a perna do outro! -- olhou rapidamente para a sobrinha e viu que ainda brincava tranquilamente -- Toma atenção em Khadija pra mim, Sahar! -- pediu antes de correr na direção deles

 

--Ai, ai, ai... -- resmungou e se levantou preocupada

 

Três homens chegaram para acabar com a briga.

 

--Pára com isso, gente, chegou, parou! -- um deles falou ao puxar Fred para longe do outro

 

--Me solta que eu quero matar esse viado fudido! -- o motorista se contorcia querendo se libertar

 

--Chega disso! Já tem uma fila de carro parado aí atrás! -- um dos homens argumentou

 

--Recalcado! Enrustido! Bicha anônima! -- Fred provocava

 

--Chega, Fred, deixe de ser implicante! -- Zinara se aproximava de cara feia -- AHHa! -- ralhou

 

--Zi?? -- olhou para ela -- Pára tudo!!! -- deu pulinhos -- Ai, minha xiita preferidaaa!! -- pulou no pescoço da morena em um abraço de urso -- AHAHAH!!!! -- gritou

 

--Eita, boi! -- fez uma careta divertida -- É hoje que morro surda ou asfixiada! -- brincou

 

Os outros homens não entenderam aquilo e ficaram desconfiados.

 

--Eu, hein, viado doido! -- o motorista resolveu deixar o caso de lado e voltou para o carro -- Tem mais é que morrer, esse tipo de gente! -- deu partida e foi embora

 

***

 

--Ai, que coisinha linda essa Khadija! -- Fred beijava a testa da menina -- Um espetáculo de criança! -- passou a mão nos cabelos dela -- Olha esse cabelo, gente, que riqueza! -- comentou admirado

 

A garotinha não sabia o que dizer.

 

--E sente que olhar penetrante essa pequenininha tem! -- apertou levemente a bochecha da criança -- Já vi que os pontos fortes da família da xiita são esses: cabelo e olho! -- deu um tapa no braço de Zinara

 

--Pois é... -- respondeu achando graça

 

--Possu vortá pra brincá, camma? -- perguntou

 

--Pode, habibi. -- sorriu para a sobrinha -- Mas daqui a pouco a gente vai embora porque senão a gidda (vovó) e ya Leda ralham! -- advertiu -- Não pode atrasar o almoço.

 

--Tá! -- concordou -- Inté, seu moço! -- despediu-se de Fred e correu para junto dos coleguinhas

 

--Inté, sua linda! -- deu tchauzinho e ficou sorrindo -- Adoro criança... -- cruzou as pernas e olhou para Zinara e Clarice -- Agora vocês duas, meninas, contem tudo! -- pediu cheio de fogo -- Casadas, amigadas, tico tico no fubá, namorando...? -- esperava uma resposta -- Só não pergunto se é puramente sacanagem porque sei que Zi não é disso!

 

As duas se entreolharam e sentiram as bochechas arder.

 

--Ai, que lindo, num dou conta, vocês ficaram tudo com vergonha! -- riu delas -- Entendi, as duas tão em início de namoro! -- concluiu -- E uma é tão bobinha quanto a outra!

 

--É... -- Clarice concordou encabulada -- Pode-se dizer que você tá certo...

 

--Então deixa eu falar de mim! -- propôs -- Afinal de contas são muitos anos sem se ver, né?

 

--Você tá morando aqui em São Sebastião, Fred? -- Zinara perguntou para mudar de assunto

 

--Que nada, boba, eu moro em Gyn! Voltei pra lá há uns seis meses, porque fui transferido! -- fez um gesto afetado -- Tô aqui por causa do Papa! O marido é católico, aí já viu!

 

--Smallah! -- exclamou admirada -- Você casou?! -- estava surpresa

 

--Ih, Zi, nem te conto! -- revirou os olhos -- Eu morava em Paulicéia e conheci o homem da minha vida numa passeata de orgulho gay, acredita? -- contava -- A gente casou no ano passado. -- passou a mão nos cabelos curtos -- Ele é daqui dessa cidade, igual tua namorada! -- piscou para Clarice

 

--E afinal, vocês dois se conhecem da onde? -- a paleoceanógrafa perguntou curiosa

 

--Ai, xiita, sua bandida, nem falou de mim pra ela, né? -- semicerrou os olhinhos de cara feia

 

--Falei sim, fi, é que ela esqueceu do nome. -- olhou para Clarice -- Fred é aquele grande amigo dos tempos de escola técnica.

 

--Aquele que te dava carona de moto? -- lembrou e riu -- Ah, agora já sei!

 

--Aposto que me chamou de barbeiro! -- deu um tapa no braço de Zinara e acabou rindo

 

--Aywah (Sim), com toda certeza, uai! -- riu também -- Você é barbeiro até como pedestre, haja visto que quase foi atropelado aí! -- provocou -- Eu, hein, já tava até mordendo a perna do outro! -- riu de novo

 

--Ele queria me bater e me derrubou no chão, boba! Tive que me defender como pude! -- fez cara de inocente

 

--Ai, ai... -- balançou a cabeça negativamente -- Por que vocês perderam o contato? -- queria saber -- Carne e unha como eram é de se estranhar!

 

--Ah, minha filha, o final do nosso curso foi uma loucura! -- contava -- A Zi sofreu um golpe muito duro, -- pensava na morte de Olívia -- e eu morava com vovó, que cismou de voltar pra junto da família na Capital. E foi um estresse só na minha casa, porque eu não queria sair de Gyn!

 

--Aí eu vim pra cá pra fazer faculdade e Fred acabou se mudando mesmo. Eu tinha o endereço novo, escrevi pra ele mas nunca recebi resposta! -- lembrava -- Depois que foi pra Capital ficou metido que chega dói e esqueceu da caipira. -- provocou de novo

 

--A gente nem esquentou lugar na Capital, viu, fi? Logo depois da mudança, vovó morreu e eu tive que ir morar com minha mãe, que foi parar aonde? -- perguntou a elas -- Em Amassunu! Daí eu me perdi da xiita e ela se perdeu de mim! -- explicou

 

--Foi pra longe! -- surpreendeu-se -- E você hoje trabalha em que, Fred?

 

--Indústria farmacêutica, honey. -- respondeu orgulhoso -- Mas, graças a Deus, agora tô bem longe dos remédios de tarja preta e mais aqueles muito punks que tanta gente toma em tratamento psiquiátrico!

 

--Nem me fale... -- fez cara feia -- Nem me fale... -- pensava em Khaled

 

--E de você eu sei tudo! -- gesticulou -- Mora em Cidade Restinga, é professora da Universidade Federal, astrônoma renomada e conhecida dentro e fora do país... -- sorria -- Só não sabia que namorava outra cabeçuda que nem você!

 

--Cabeçuda... -- Clarice achou graça

 

--Mas agora espia pra isso! -- reclamou indignada -- Sabia tanta coisa e nunca me procurou! -- cruzou os braços -- Ezzai? (Como pode?)

 

--Ah, Zi, eu fiquei receoso, né? -- mexia nas unhas -- Te conheci pobre e caipira, mas hoje a realidade é outra! Sabia lá se você iria querer papo com uma bicha técnica em química? O sucesso vira a cabeça...

 

--Que sucesso, criatura? -- protestou -- Sou apenas uma professora, que ficou menos pobre e continua mais caipira do que nunca!

 

--Ah, não mesmo! -- discordou olhando para ela -- Olha pra você! -- apontou para a outra -- Roupa toda combinando e essa pinta de rica! Naquela época você só usava trem sem base nenhuma!

 

--Como é? -- Clarice riu de novo

 

--Isso, acaba comigo na frente de Sahar! -- fez um bico -- Warana ay? (Que mais se pode fazer?)

 

--Deixa eu te fofocar umas coisas aqui, honey! -- virou-se todo para Clarice -- Sabia que ela usava uns vestidinhos de Tonha com sandália baixa que eu num dava conta?

 

--E o que seriam vestidinhos de Tonha? -- achava graça

 

--E eu levei a xiita num baile punk, sabia? -- continuava falando -- Acredita que ela subiu no palco e se jogou em cima do povo? Em baile punk todo mundo faz isso e ela aprendeu rapidinho!

 

--Ah, é? -- surpreendeu-se olhando para Zinara

 

--Esqueceu de contar pra ela que você mentiu pra uns caras dizendo que eu queria subir no palco mas tava com vergonha. Daí os loucos quase me arremessaram e subi na marra! -- lembrava -- Como o único jeito de sair de lá era pulando em cima do povo, não tive escolha! -- justificou-se

 

--E a gente participou de racha, foi em festas louquérrimas, rodou Gyn inteirinha de moto, foi num show de rock na Capital! -- deu um tapa no braço de Clarice -- Conhecemos Lobato Lusso no auge da banda dele! -- comentou empolgado

 

--Sério?? -- arregalou os olhos -- Gente, vocês conheceram Lobato Lusso?! -- estava pasma

 

--E Fred, na maior tietagem, tascou um beijo na boca do homem e rachou minhas fuça de vergonha! -- complementou -- Quanto às outras partes, posso explicar melhor depois, mas já deixo claro que o tal do racha foi só uma vez! -- justificou-se -- Trem horrível por demais da conta! -- revirou os olhos

 

--Não sei o que é racha... -- respondeu desconfiada

 

--Aqui, vocês chamam de pega, Sahar. -- pausou brevemente -- Eu acho...

 

--Zinara num pega? -- riu gostosamente -- Ah, mas depois eu quero ouvir essa história!

 

--Posso te contar essa e muitas outras, my darling, só que agora eu tenho que ir. -- olhou para o relógio -- Vou pra casa da sogrona porque daqui a pouco meu homem volta da missa com o Papa.

 

--É, e a gente tem que almoçar, senão maama e ya Leda reclamam do atraso. -- segurou uma das mãos de Fred -- Eu quero seu telefone, e-mail e tudo mais! Não vamos nos perder um do outro de novo!

 

--Of course my horse! -- respondeu e os dois riram

 

--My horse? -- Clarice não entendeu a piada

 

--Tinha uma amiga nossa que sempre passava réveillon com os pais em Godwetrust desde que tinha treze anos. Aí a garota era metida a falar saxão mas só dava rata! -- Fred explicava -- Ela vivia dizendo isso de ‘of course my horse’! Acho que o my horse era simplesmente pra rimar, e se bobear ela nem sabia o que dizia!

 

--E falando nela, como anda Sandrinha? Tem notícias? -- perguntou curiosa

 

--Encontrei ela no LivrodasFuça! -- respondeu animado -- Casou com um cara de Godwetrust e foi viver com ele lá! -- sorriu -- E agora ela finalmente sabe falar saxão! -- brincou -- Quer dizer, assim espero! -- pegou o celular -- Vai dizendo tudo aí pra eu registrar. E me passa teu perfil pra eu te fazer o pedido de amizade.

 

--Eu não tô no LivrodasFuça, mas e-mail, telefone e endereço eu tenho. -- sorriu

 

--Fala sério, xiita! -- reclamou -- O mundo todo põe as fuça no livro e só você que não?

 

--Sabe que eu sou caipira. Só deixei de usar os vestidinhos de Tonha. -- piscou para ele

 

Após trocarem seus contatos, Zinara se levantou para chamar Khadija. Frederico ficou olhando para ela e decidiu perguntar a Clarice a dúvida que lhe ia na alma: -- Ela tá doente, honey? -- olhou para a paleoceanógrafa -- Tá mais magra, aquele braço machucado...

 

--Zinara tem câncer no pâncreas, Fred. -- confessou -- Ela faz uma espécie de quimioterapia e é por isso que o braço tá daquele jeito. -- explicou com tristeza -- Ela não gosta de contar isso pros outros, mas como vocês têm uma história...

 

--Tudo bem, pode acreditar que sou discreto quando quero. -- garantiu -- Não me surpreendo com esse câncer, ela sofreu muito nessa vida. -- segurou a mão da outra -- Só Deus sabe se ela vai se safar dessa, mas, seja como for... Seja boazinha com a minha amiga, tá? -- pediu com carinho

 

--Eu amo Zinara, Fred! -- afirmou convicta -- Não vou magoá-la, tenha certeza! -- garantiu

 

--Acho bom! -- fez cara de mau e depois sorriu -- Essa caipira é a pessoa mais fofa que já conheci na vida. -- olhou para Zinara que vinha com Khadija sentada em seus ombros -- Confesso que até me confundi e um dia beijei ela na boca, me sentindo apaixonado. -- revelou um segredo -- Ela não esperava, sabe? Mas a gente conversou e me convenci que não tinha nada a ver. Éramos só amigos mesmo.

 

--Essas coisas acontecem... -- respondeu pensativa

 

--E naquela época ela já andava de quatro pela loura, aí ninguém teria chance mesmo! -- gesticulou

 

--Shamash... -- concluiu -- Eu sei. Ela me contou sobre esse amor.

 

--Pois é... Mas em relação a mim, a Zi tava certa e foi melhor ficarmos só amigos. -- pausou brevemente -- Sem contar que eu ia sentir muita falta duma coisa dura pra sentar em cima, né? -- deu um tapa no ombro da outra e riu

 

--Ai, ai... -- riu divertida junto com ele

 

***

 

Cátia ligava cheia de empolgação para Lúcia, que não demorou a atender.

 

--Alô? -- não sabia quem era

 

--Oi, querida. -- fazia uma voz sexy -- Será que terei o privilégio de te ver hoje à noite? -- deitou-se no sofá -- Acho que a bombeira acendeu meu fogo ainda mais ao invés de apagar.

 

--Oi, Cátia. -- respondeu animada -- Adoraria te ver hoje, mas tô na casa da minha avó. Passo os domingos com ela, a menos que esteja de serviço.

 

--Ah, sim... -- tentava disfarçar a contrariedade -- Que pena, tava doida pra te ver... -- continuava melosa

 

--Nessa semana eu vou com o pelotão pra um treinamento fora da cidade, sábado tô de serviço e...

 

--Domingo vai estar com sua vó. -- parou de jogar charme e completou a frase da outra

 

--É isso. -- concordou sem graça -- Mas na semana que vem a gente pode se ver.

 

--Semana que vem eu viajo a serviço. -- sentou-se e passou a mão nos cabelos -- E na outra semana vou estar assoberbada de trabalho por conta de correção de provas, relatórios pra entregar e prestações de contas.

 

--Ah, então infelizmente a gente só vai poder se ver daqui a cinco semanas... -- constatou desanimada -- Tenho uma missão com alguns colegas pra instalar uns sensores meteorológicos em pontos estratégicos da serra. -- explicou

 

--Somos mulheres ocupadas, não é? -- suspirou -- Ossos do ofício...

 

--Mas a gente pode se telefonar, conversar um pouco por internet...

 

--É, a gente pode... -- respondeu mecanicamente -- Bem, querida, vou desligar. Depois a gente conversa melhor.

 

--Tudo bem. -- concordou -- Mas, olha, fiquei feliz de você ter me ligado. Estivemos juntas ontem e muitas mulheres fazem um jogo tão duro pra ligar... E você, uma professora importante...

 

--Todos somos importantes, meu bem. -- levantou-se e andou até o quarto -- Beijos!

 

--Beijos, querida! E não esquece de mim!

 

--Impossível! -- pegou um caderninho de telefones -- Tchau! Se cuida!

 

--Tchau e bom domingo! -- desligou

 

--Ah, tá, que eu vou ficar esperando uma eternidade por uma bombeira que não ata nem desata! -- abriu o caderno -- Chega de ficar na seca e sofrer por causa de Clarice! -- decidiu -- A predadora volta a atacar! -- coçou a cabeça -- Quem eu poderia procurar pra uma trans* louca e sem compromisso, hein? -- lia os nomes -- Ah! -- escolheu uma pessoa -- Você! -- discou o número -- E se não der certo contigo, tenho nomes de A a Z nesse caderninho! -- sorriu maliciosa -- Oi, gata, há quanto tempo... -- caprichou na voz -- Saudades...

 

CAPÍTULO 55 –  Soltando as Frangas

 

Zinara e Clarice voltavam para casa de mãos dadas. Era noite e elas haviam ido tomar sorvete e circular um pouco pelo bairro. Por causa da visita do Papa a cidade estava cheia e muita gente transitava pelas ruas até bem tarde.

 

--Você tinha razão, Sahar. -- deu uma batidinha de leve no ombro dela -- Eis que baba pintava o muro quando chegamos da praça. -- sorriu

 

--Eu tinha certeza! Conheço esse povo de Cedro! -- brincou -- E que povo eficiente, vou te contar! O muro ficou uma beleza! -- sorriu também

 

--Ah, mas caipira de barriga cheia faz maravilhas! -- brincou também -- Depois do almoço, baba e eu fomos com tudo pro teu muro e foi só pena que voa! Quer dizer, tinta que voa!

 

--Até Khadija ajudou! -- achou graça -- Muito lindinho ela com aquele pincel minúsculo pintando um pedacinho de muro!

 

--Mas ela é lindinha! Gamil, awlaadii! (Linda, minha criança!) -- respondeu orgulhosa -- E a essa altura deve estar no quinto sono. Antes da gente sair de casa ela já dormia! -- olhou para a outra -- Criança da roça dorme cedo. -- pausou brevemente -- Pelo menos em usritii (minha família).

 

--Seu pai também já deve estar dormindo. -- complementou -- Depois do lanche ele falou que ia esperar um pouquinho e então se deitar. -- pararam diante do portão de casa -- Ué, cadê minhas chaves? -- soltou a mão de Zinara para mexer na bolsa -- Ah, achei! -- abriu o portão e entraram -- Nossa, tá tudo tão quieto. -- estranhou ao se aproximar da porta

 

--Nossas maamas devem estar brincando no computador. -- concluiu -- camma Najla me disse uma vez que há momentos em que maama nem respira quando tá na internet. -- comentou divertida

 

--Ah, mas a minha maama não é nada silenciosa. -- abriu a porta desconfiada -- Mãe? -- chamou sem ouvir resposta -- Só a luz da sala tá acesa, que negócio é esse? -- não entendia -- Mãe? -- foi para o quarto dela

 

--Uai... -- foi ver no quarto de Clarice e voltou -- Baba e Khadija dormem, mas nem sinal de maama!

 

--E no quarto de mamãe não tem vivalma! -- pôs as mãos na cintura -- Não precisa ser muito inteligente pra perceber que elas não tão aqui! -- não sabia o que pensar -- Meu Deus do céu, Zinara, elas não disseram que pretendiam bater perna quando a gente falou que ia sair.

 

--E quando a gente saiu elas estavam no computador! -- lembrou-se -- Pesquisavam algumas coisas... -- afirmou pensativa -- Acho que não devem ter saído há muito tempo, até porque tinham que esperar baba cair no sono.

 

--Também acho que elas não saíram há muito tempo. -- concordou -- O computador entrou em modo de espera quando cheguei na porta do quarto.

 

--E algo me diz que é nele que tá a resposta! -- deduziu de imediato -- Fiquei desconfiada que elas tramavam alguma coisa, porque cochichavam demais! -- aproximou-se de Clarice -- Vamos dar uma olhada no computador de ya Leda porque tenho uma desconfiança e a gente tem que agir logo!

 

--O que acha que elas foram fazer? -- preocupou-se

 

***

 

“Se embola, se embola, embola nos cabelo, neim,

Se embola, se embola, embola nos cabelo, neim,

Se embola, se embola, embola nos cabelo, neim,

Se embola, se embola, embola nos cabelo, neim...”

 

--Eu não acredito que minha mãe veio escondida pra esse lugar louco e cheio de gente pra ver show de funkeira! -- reclamava enquanto tentava andar pelo salão

 

--Ela é amiga de maama, Sahar. -- desvencilhava-se das pessoas também -- E maama cismou de ver Catitta... Ya Leda foi na onda! -- levou um esbarrão -- Eita, pau! AHHa! -- reclamou

 

Zinara e Clarice haviam acabado de chegar em um clube repleto de funkeiros de todas as idades. Seguiam de mãos dadas para não se perder uma da outra, com a paleoceanógrafa indo à frente. Enquanto aguardavam pela cantora, DJs animavam os fãs com seus remixes.

 

--E como a gente vai achar aquelas duas no meio dessa multidão? -- perguntou para a astrônoma

 

--Não deve ter outras velhinhas nesse lugar, tampouco maamas caipiras! -- deduziu -- A primeira cabecinha branca que a gente ver é essa mesma!

 

“Esconde, o pente, se estica, não alisa,

Esconde, o pente, se estica, não alisaaaaa...”

 

--Tem certeza? -- indicou um grupo de algumas idosas que se requebravam batendo bundinhas.

 

“Se embola no meu cabelôôô,

Se embola no meu cabelôôô,

Se embola no meu cabelôôô...”

 

--É... -- mudou de idéia -- Wana amil eh? (Fazer o que?)

 

--Ah, mas quando eu achar dona Leda vou falar muito! -- Clarice estava revoltada

 

--Vamos ficar paradas ali, perto da escada. -- sugeriu -- De repente se a gente ficar de vigia acha as duas.

 

--O que é que nossas mães têm na cabeça, hein? -- continuava reclamando -- Fugir de casa como se fossem duas adolescentes! -- fez cara feia

 

E de repente, a música parou.

 

--Ih, será que Catitta vem aí? -- Zinara perguntou sem entender

 

Os fãs pensaram a mesma coisa e gritaram em coro.

 

--Gente, eu acho que vocês vão gostar da notícia que eu vou dar! -- um homem com roupas extravagantes surgiu falando ao microfone -- Adivinha quem chegou? -- perguntou ao público

 

--CATITTAAAA!!!!!!!!! -- muitos gritaram

 

--Humpf, que bobeira! -- fez um bico -- Se eu já não gostava dessa Catitta, agora então...

 

--Fala baixo, Sahar, que a gente pode até apanhar aqui! -- advertiu receosa

 

E uma buzina ensurdecedora se fez ouvir ao mesmo tempo que as luzes se apagaram.

 

--AHAHAHAHAHAH!!!!!!!! -- os fãs gritaram

 

(E de verdade, maama AMA essa cançoneta! kkkkkkkkkk)

 

--Prepara, que agora é hora, do show das poderosas, que descem e rebol*m... -- Catitta surge cantando para delírio dos fãs

 

--Quantas músicas a gente vai ter que ouvir pra encontrar aquelas duas? -- Clarice continuava revoltada -- E nesse breu...

 

--Se não tá mais à vontade, sai por onde entrei, quando eu começo dançar, eu te enlouqueço, eu sei... -- Catitta dançava com as backing vocals -- Meu exército é pesado e a gente tem poder, ameaça coisas do tipo você, vai! -- todas as luzes se acenderam bruscamente

 

--Eita, pau! -- Zinara se incomodou com o clarão

 

--Olha sua mãe lá! -- Clarice apontou arregalando os olhos

 

--Choo?? (O que??) -- não acreditava

 

Usando toda sua agilidade caipira, Amina subiu no palco e se juntou a sua cantora predileta.

 

--Sorta o som qui vai mi vê, sambandu, pega os trem qui ocê tá, babandu... -- cantava empolgadona

 

--Ah, não acredito! -- indignou-se -- Mamãe?!

 

Empolgada com a ousadia da amiga, Leda resolveu subir no palco também, no que foi ajudada por algumas pessoas.

 

--E fica doidaaaa... Fica doidaaaa... -- cantava com Amina -- É isso aí, Catitta, mostra tudo! -- estimulava

 

--Num podi mostrá tudu, não, ya Leda! -- cochichou para a outra -- Tem mininu novu nessi trem!

 

Catitta achou as duas engraçadas e resolveu cantar perto delas. Os fãs se divertiam com o que estavam vendo.

 

--Prepara, que agora é hora, do show das poderosas, que descem e rebol*m... -- Catitta cantava -- Comigo, vai! -- apontou o microfone para elas

 

--Laiá, laiá, laiála, laiála... -- Amina cantava

 

--Laiá, laiá, laiá... -- Leda imitava a amiga

 

--Laiá?! Só tem coroa doida, aí! -- uma jovem comentou rindo, perto de Clarice e Zinara

 

--Vamo tentar subir no palco também! -- outra propôs -- Se as velha miquenta pode, nós também pode!

 

--Zinara, vamos tirar elas de lá! -- a paleoceanógrafa segurou a morena pelos braços -- As duas tão fazendo papel de idiota na frente de todo mundo!

 

A astrônoma não tirava os olhos do palco, prestando atenção nas duas mulheres. Não conseguia concordar com Clarice. -- A música vai acabar, Sahar, e logo elas descem de lá. -- afirmou tranquilamente -- Vamos esperar. -- propôs

 

--Ah, não, Zinara, eu não acredito que você concorda com isso!! -- indignou-se

 

--Sahar, -- olhou nos olhos -- nossas maamas tiveram uma vida dura na maior parte do tempo. Elas só conheceram um pouco mais de conforto quando nós começamos a trabalhar. -- voltou a olhar para as mulheres -- Elas trabalharam muito e se dedicaram a família acima de qualquer coisa. -- sorriu -- Pouco importa que haja quem pense que estão fazendo feio lá em cima! O que eu vejo são duas mulheres se divertindo...

 

Gastou uns segundos calada e respondeu: -- Vendo por esse lado...

 

--Deixe as duas viverem essa experiência... -- continuava sorrindo -- Elas foram erradas por terem fugido, mas sei que fizeram isso porque sabiam que se nos contassem, a gente não ia deixar que elas viessem. -- pausou brevemente -- Além do mais, quem sou eu pra falar alguma coisa, se subi em palco de casa de show querendo tchu? -- lembrava achando graça

 

--Como é que é?? -- não entendeu

 

--E fica doidaaaa... Fica doidaaaa... -- Amina e Leda cantavam em coro -- Fica doidaaaa...

 

--Mamãe em show de Catitta... -- acabou rindo -- Quem diria... -- balançou a cabeça negativamente

 

--Quem mandou Norberto Marlo fazer show em Dar-ulharb? -- brincou -- Deu no que deu...

 

--Prepara! -- a música terminou e os fãs gritaram alucinados

 

***

 

Clarice e Zinara vinham em um táxi com Amina e Leda.

 

--E que isso nunca mais se repita, viu, mamãe? -- ralhava com a idosa -- Onde já se viu fugir de casa pra ver funkeira cantar!

 

--A curpa é minha, minina! -- assumiu -- Eu qui discubri qui Catitta ia cantá naqueli clubi e chamei ya Leda pra í mais eu!

 

--E eu fui porque quis! -- deu um soco na mão -- Um pouco de adrenalina na terceira idade não faz mal a ninguém!

 

--Adrenalina na terceira idade, veja só! -- balançou a cabeça contrariada

 

--Eu me comprometo a não abrir a boca pra falar com baba sobre isso! -- Zinara prometeu

 

--E ai docê, minina! Ai docê! -- olhou para a filha de cara feia

 

O motorista achava graça mas disfarçava.

 

--Nós fizemos o maior sucesso! -- Leda comentou empolgada -- Viu como a Catitta gostou da gente?

 

--E ela ficô foi besta di vê fã qui nem nóis! -- gesticulava

 

--Ah, mas com certeza ficou... -- a astrônoma se divertia

 

--E desde quando a senhora gosta de Catitta, hein, mamãe? -- queria saber

 

--Desde hoje! -- decidiu -- E não se meta no meu gosto musical, porque sou eclética!

 

--Eclética... -- Zinara achava graça

 

--Também sô é clética! -- Amina concordou mas parou para pensar -- Mas o qui diachu é clética? -- sussurrou para a filha, que riu gostosamente

 

--Vamos cantar, pra animar a viagem! -- Leda propôs -- Prepara, que agora, é hora, de show de poderosa... -- começou a cantar

 

--Laiála, laiála, põe fogu nas fogosa... -- Amina cantava também

 

--Ai, gente, pelo amor de Deus... -- Clarice revirou os olhos

 

--Sorta o som qui vai me vê!

 

--Sambando!

 

--Pega os trem qui ocê tá!

 

--Babando!

 

--Pronto! Mamãe e dona Amina fazendo dueto! -- resmungou para Zinara, que ria toda hora -- E ainda cantam errado!

 

--Chama atenção à toa, perde a linha e fica doida! -- Leda cantava

 

--E fica doidaaaaa... -- Amina continuava

 

--E fica doidaaaa!!! -- o taxista soltou a franga -- E fica doidaaaa!!! -- cantava animado -- Catitta, maravilhosa!!! -- gritou -- Ai!!!

 

--Uhu!!! -- Leda gritou também

 

--Ih, caramba... -- Clarice ficou sem entender

 

Anitta – Show das Poderosas [a]

 

CAPÍTULO 56 –  Uma Chance

 

Aisha e Najla conversavam ao telefone.

 

--Ai, mamii, deixa eu te contar uma notícia que é de arrepiar os cabelinhos mais discretos que se tenha! -- falava com animação -- Minha advogada tá cheia de problemas pessoais e me comunicou que não vai mais conduzir meu processo contra Mike Ametista!

 

--Ai, meu Deus... -- a ex fazendeira lamentou

 

--Massss, adivinha quem pegou o caso no lugar dela? -- fez suspense -- Simplesmente Jamila Haddad: a advogada do momento!

 

--Ai, meu Deus!! -- exclamou empolgada -- Não é aquela que ficou famosa por conta do caso Hamatsu-Scowben? -- quase pulava de satisfação

 

--A própria! -- confirmou -- E além de tudo a família dela vem lá da terrinha! -- pausou brevemente -- Quer dizer, eles vêm de Suriyyah, mas Suriyyah e Cedro são uma patotinha só, né? -- brincou

 

--Filha, que notícia boa! -- estava feliz -- Acho que agora, mais que nunca, temos uma chance!

 

--Também acho! -- concordou -- Se pega com Deus aí, mamii, e fala pro pessoal cair nas reza, porque tô sentindo firmeza! -- riu de satisfação -- Diz se essa notícia não é têúdêô: TU-DÔ?

 

--Se é!

 

--Mamii, eu não sei se você sabe, mas escuta essa: liguei pra Zinara hoje cedo e ela falou que ontem à noite foi resgatar tia Amina no show de Catitta, lá num clube perdido nos confins de São Sebastião! -- riu gostosamente

 

--O que?? -- riu também -- Ai, ai... quando Amina saiu daqui determinada pra ver Catitta, juro que não levei muita fé! E olha que conversei com ela no LivrodasFuça ontem de manhã e a safada não me contou que tava planejando isso!

 

--Comenta não, que tio Raed não sabe! -- advertiu ainda achando graça

 

--Eu não! -- continuava rindo -- E você viu que Raed, Zinara e Khadija apareceram na televisão? Eles conseguiram se aproximar do Papa e Khadija foi benzida!

 

--Ih, que legal! -- achou interessante -- Essa família tem poder, mamii! Quando não ganha fama de um jeito, ganha de outro! -- pausou brevemente -- E os preparativos pro casório de Ahmed? -- perguntou curiosa

 

--A coisa aqui tá a todo vapor e acho que Ahmed realmente tá disposto a levar o relacionamento à sério! -- comentou -- Sabe que tô bem animada? Eu adoro uma boa festa e esse burburinho tem me lembrado os áureos tempos da gente na fazenda!

 

--Falando nessa festa, será que poderíamos convidar um amigo da Janaína? -- pediu -- É que ele aposentou agora e anda meio desanimado... Fica tranqüila que o cara é gente fina!

 

--Ah, eu acho que sim. Vejo Ahmed convidando todo mundo! -- achou graça -- Mas deixa Raed chegar que eu pergunto pra ele.

 

--E quando eles chegam? É hoje? Esqueci de perguntar pra Zinara quando os tios vão embora de São Sebastião.

 

--Não, eles vão pegar o primeiro ônibus de amanhã. Afinal de contas, o Papa vai embora hoje e a rodoviária de lá vai ficar uma loucura, ao que posso imaginar.

 

--Tá bom, então. -- pausou brevemente -- Beijos, mamii!! Tudo de bom!!! Saudade!

 

--Também tô com saudade, minha filha. -- sorriu -- Beijos!!!

 

***

 

Zinara e Amina voltavam da padaria trazendo pão.

 

--O que ya sayyida (senhora) quer conversar comigo? -- perguntou olhando para a mãe -- Essa história de virmos comprar pão juntas me pareceu muito suspeita. -- brincou

 

--Quiria mesmu prosiá cocê. -- balançou a cabeça positivamente -- Eu posso tê idu vê Catitta onti, mais num mi isquici du mutivu principar pra nóis tá aqui, num sabi? -- olhou para Zinara -- Nóis viemu pur causo docê, di tua saúdi!

 

--Ana a’arfa... (Eu sei...)

 

--E eu quiria pur dimais da conta qui ocê e Raed pudessi recumeçá! -- afirmou como quem faz um pedido -- A vida já bateu tantu im nóis, mas também deu tanta coisa boa... Há qui sê tê uma sabedoria, num é, minina? Há qui si aprendê arguma coisa!

 

--Acho que todos nós aprendemos, maama... -- concordava com ela

 

--Si aprendêmu, -- parou de andar e olhou para a morena -- então perdôi teu pai! -- seus olhos marejaram -- Num vali a pena curtivá erva daninha nu coração, minina!

 

Zinara parou também e permaneceu calada.

 

--O maió deseju di minha vida, além di querê vê meus fio e netu filiz e bem criadu, é qui ocê e seu pai tenti recumeçá! -- segurou uma das mãos da professora -- Dê uma chanci, Zinara? Teu pai mudô e eli qué fazê diferenti! -- pedia -- Dê uma chanci pur mim, pur teu pai e pur ocê! -- insistia -- E eu tenhu certeza qui ya said Raja, Youssef e Khaled, ondi qué qui elis esteji, deseja a mesma coisa qui eu!

 

A astrônoma sentiu-se tocada pela emoção e humildade da mãe e também lembrou-se do pedido que Shamash lhe fizera em sonho. Sentimentos conflitantes turbilhonavam seu coração.

 

***

 

Zinara, Raed, Amina e Khadija estavam na rodoviária. A morena os acompanhava para garantir que partiriam bem. Era terça-feira, Clarice estava trabalhando e Leda tinha consulta marcada no cardiologista.

 

--Ali tem lugar vago, olha lá. -- a professora apontou -- Por que não sentam ali pra esperar a hora do ônibus? -- sugeriu

 

--Mais já vamu ficá tantas hora sentadu! -- Raed protestou -- E daqui a pôco o ônibu sai!

 

--Ficar esperando de pé também não é bom, baba. -- argumentou com jeito

 

--Vamu pra lá modi ajuntá os trem, num sabi? -- Amina dirigiu-se para os assentos que a filha apontou

 

--E então, Khadija, gostou desses dias aqui em São Sebastião? -- perguntou a sobrinha

 

--Eu gostei! -- respondeu animada -- E gostei di ya Leda, e di tia Claíce, e dus passeio, e du museu dus dinossauru, e di tê idu na praia onti e du meu ússo! -- mostrou o bicho de pelúcia

 

--Eita, que ela gostou de tudo! -- achou graça e deu um beijinho na cabeça da menina -- Também gostaram? -- perguntou esperançosa aos pais

 

--Eu gostei foi é dimais! -- o homem respondeu com sinceridade -- Fomu bem ricibidu, ya Leda e a minina dela são muitu bacana e a visita du santu Papa foi... -- pensava em como dizer -- Eu nem sei mi ixplicá, mais foi uma emoção qui nunca vô mi isquecê nessa vida! -- sentou-se -- Um trem qui chega dói di tanta aligria!

 

--E eu também gostei pur dimais da conta! -- Amina respondeu ao se sentar -- Inda mais qui discubri qui ya Leda é minha amiga Dona Burduada, aí qui gostei mesmu! -- balançou a cabeça satisfeita -- E gostei di Clarice! É moça direita e façu gostu!

 

Zinara ficou toda prosa em ouvir aquilo.

 

--Faz gostu di que? -- Raed não entendeu

 

--De que? -- pensava em como disfarçar -- Da amizadi delas duas, homi! -- apontou para a filha

 

A astrônoma achou graça. -- Ai, ai... -- reparou nas bagagens deles -- Ei, só tem essa garrafinha de água aí? -- perguntou preocupada

 

--É, uai. -- Raed confirmou -- Dispois, na primêra parada, eu compru mais!

 

--Ah, não, baba, não pode ficar passando sede! -- retrucou -- Ainda mais ya said (o senhor)! Tem que beber bastante água! -- olhou para a sobrinha -- Khadija, fica aí tomando conta do giddu e da gidda que eu vou comprar umas garrafinhas de água pra vocês levarem.

 

--Tá! -- concordou -- Eu e meu ússo toma conta delis!

 

--Esperem um pouquinho. -- foi para uma barraca que vendia água

 

--Khadija tumandu conta di nóis, ondi já si viu...? -- Raed resmungou franzindo o cenho

 

--É brincadêra, homi! -- deu um tapa no braço dele

 

Zinara demorou alguns minutos para conseguir comprar a água porque a rodoviária ainda estava cheia. Quando finalmente foi atendida, colocou seis garrafinhas dentro de uma sacola plástica e voltou para junto da família.

 

Antes de se aproximar, no entanto, olhou para eles e espontaneamente parou de andar. Amina e Raed mexiam nas bolsas enquanto Khadija olhava curiosa tentando descobrir o que procuravam. Zinara ficou reparando no casal e pensou em tudo que ambos passaram na vida. Pensou na criação que tiveram, nas expectativas frustradas, nas muitas decepções, nos traumas e em todas as perdas. Pensou em como é difícil criar alguém e que, muitas vezes, nós, na posição de filhos, esquecemos de que nossos pais são apenas seres humanos e que no lugar deles, talvez, não nos saíssemos melhor. Constatou, finalmente, que Raed e Amina eram duas pessoas muito simples, envelhecidas pelo sofrimento e de saúde um tanto debilitada.

 

Olhando mais atentamente para o pai, percebeu que Raed era outro, a vida era outra. Então por que os sentimentos tinham que permanecer os mesmos?

 

E ainda que ela pensasse naquele violento Raed do passado, agora sabia que ele também teve seus mais puros momentos de PAI.

 

Sem saber porque, colocou a sacola plástica no chão e inexplicavelmente sua memória revisitou fatos que ficaram perdidos no esquecimento.

 

“--Temos que sair daqui porque eles vão voltar! -- Amin ordenava ao grupo -- Os malditos junuud (soldados) vão voltar! -- falava como se estivesse louco -- Não há mais sobreviventes nesse galpão, somos os únicos que sobramos! AHAHAHAHAH!!!!!! -- gritou enfurecido

 

--Amin, Raed, -- Raja disse para os filhos -- levem o clã para longe daqui! Eu vou ficar para tentar salvar todos os que puder!

 

--Eu também fico, baba! -- Raed decidiu -- E vou tirar bintii (minha filha) daqui nem que seja a última coisa que eu faça! -- prometeu a si mesmo

 

Zinara ouvia e tentava mostrar que estava ali.”

 

“Pai,

Pode ser que daqui a algum tempo...”

 

“--BABA, ELA ESTÁ AQUI!!! -- Raed gritou emocionado com a filha nos braços -- ELA ESTÁ VIVA!!!! -- abraçava-a com carinho -- Deus é grande!! Akbar, akbar!! (Grande, grande!!)”

 

“Haja tempo pra gente ser mais,

Muito mais que dois grandes amigos,

Pai e filha talvez...”

 

“--Deixe que eu levo akhuuik (seu irmão), Zinara! -- Raed tomou Youssef nos braços e empurrou a filha para trás de si -- Cuidado! -- advertiu -- AHAHAHAHAH!!!! -- levou a mão à perna -- MALDITOS! -- berrou -- Gaatak niila, Dar-ulharb! (Vá para o inferno, Dar-ulharb!) -- gritou

 

“Baba levou um tiro...” -- a pequena Zinara pensou agoniada ao ver o sangue”

 

“Pai,

Pode ser que daí você sinta,

Qualquer coisa entre esses 20 ou 30,

Longos anos em busca de paz...”

 

“--Por favor, Aba (Meu Pai), eu lhe imploro, que bintii não esteja morta! -- orava em voz alta ao se ajoelhar ao lado da filha caída no chão -- Eu não suportaria... -- segurou-a no colo -- Não suportaria... -- levantou-se

 

--Giddu... -- a menina balbuciou

 

--Não é o giddu, bintii. -- seguia com a filha nos braços -- É o baba!”

 

“Pai,

Pode crer eu tô bem, eu vou indo,

Tô tentando vivendo e pedindo,

Com loucura pra você renascer...”

 

“--Ya Leila!!! Ya Leila!!! -- Zinara gritava em desespero -- LAA!!!!!!!! (NÃO!!!!!!!)

 

--Tirem suas mãos de bintii, seus malditos!!! -- Raed conseguiu se libertar para socorrer a filha -- Se é para bater, enfrentem um homem de verdade!! -- socou um dos homens

 

--Vous allez mourir, moron!! (Você vai morrer, idiota!!) -- golpeou Raed pelas costas

 

--BABA!!! -- a menina gritou aflita”

 

“Pai,

Eu não faço questão de ser tudo,

Só não quero e não vou ficar muda,

Pra falar de amor pra vocêêê...”

 

“Zinara chegava com um pesado carregamento quando pôde ouvir um pouco da conversa entre dois supervisores do campo de refugiados.

 

--Pourquoi refuser l'eau à cet homme ? (Por que negar água àquele homem?) -- um deles perguntou intrigado

 

--Culpa dele que aceitou ser punido no lugar da filha rebelde. -- respondeu de imediato -- Deixe que fique seco!

 

A menina percebeu que o homem em questão era Raed.”

 

“Pai,

Me perdoa essa insegurança,

É que eu não sou mais aquela criança,

Que um dia morrendo de medo,

Nos seus braços você fez segredo,

Nos seus passos você foi mais eu...”

 

A morena sequer percebeu que chorava, mas sabia bem que algo havia mudado dentro de si. Sabia que podia dar o primeiro passo. Novamente pegou a sacola e caminhou para perto de seu pequeno clã.

 

--Ocê tá chorando, fia? -- Amina levantou-se preocupada

 

--Qui foi? -- Raed levantou-se também -- Tá sintindu arguma dô?

 

Queria dizer muitas coisas, mas não tinha voz.

 

“Pai,

Você foi meu herói, meu bandido...”

 

--Ya said aywa lessalak makan fe alby, baba! (O senhor ainda tem um lugar no meu coração, pai!) -- afirmou com muito sentimento

 

Amina e Raed se entreolharam emocionados. A professora pôs a sacola no chão.

 

“Hoje é mais, muito mais, que um amigo...”

 

Olhava nos olhos do homem. -- Ismah lana nashufak! (Permita que nós o vejamos!) -- abriu os braços

 

“Nem você, nem ninguém tá sozinho...”

 

--Taqbarny! (Enterra-me!) -- respondeu chorando ao se jogar nos braços da filha

 

“Você faz parte desse caminho...”

 

--Ô, meu Pai! -- Amina se uniu ao abraço deles -- Deus é tão grande! -- falava em voz alta -- Akbar, akbar!!! -- chorava

 

“Que hoje eu sigo...”

 

--Behebbak ya, baba... (Eu te amo, pai...) -- sussurrou baixinho

 

“Eeem paz...”

Fábio Júnior - Pai [b]

 

Khadija não entendia o que se passava, mas se agarrou nas pernas da tia.

 

--Ei, não tá na hora de sair com esse ônibus, não? -- um homem perguntou ao motorista

 

--Calma, gente! -- respondeu emocionado -- Deixa o pessoal se despedir! -- assoou no lenço -- Despedidas acabam comigo... -- comentou choroso

 

***

 

Quantas pessoas têm problemas com o pai? Homens brutos, irresponsáveis, ausentes ou que simplesmente ocupam espaço sem ocupar seu devido lugar. Conheci poucas pessoas da minha idade, ou mais velhas, que afirmam que o pai era de fato um PAI; no entanto, hoje noto que há uma nova geração de homens que vêm transformando a paternidade no que deveria ser: amor, responsabilidade, doação e consciência. Graças a Deus!

 

Pai,

O senhor nunca leu nada que eu escrevesse e certamente não lerá estas palavras. Mas eu escrevo assim mesmo. Descubro que gosto disso...

 

Amizade é algo que se constrói e infelizmente não construímos. Talvez em outra época, em outro lugar... Nossos caminhos se cruzarão de novo, é inevitável!

 

Meu perdão já foi dado há muitos anos, embora sua ausência ainda me tranquilize muito mais que a hostil presença. De minha parte, a consciência é tranqüila. O senhor não faz parte do meu caminho, e somente porque não quer; nem uma filha tampouco deseja. Mas eu sigo em paz.

 

(Nota da autora: No capítulo 5, Perdão, expliquei o sentido mais amplo das expressões “Ismah lana nashufak” e “taqbarny”)

 

CAPÍTULO 57 –  Hiya (Ela É Única)

 

Clarice terminava o dia na faculdade quando foi surpreendida com uma visita.

 

--Zinara? -- levantou-se preocupada -- Aconteceu alguma coisa? Seus pais...?

 

--Sahar! -- interrompeu-a com jeito ao entrar na sala -- Meus pais pegaram o ônibus e foram embora. -- encostou a porta -- Eu vim aqui porque precisava falar com você.

 

--O que foi, meu amor? -- aproximou-se receosa -- Você parece nervosa, emocionada, ansiosa...

 

--Um pouco de tudo isso. -- olhava-a nos olhos -- Escute, Sahar, eu sei que não vou curar as feridas do meu coração num estalar de dedos, mas também sei que basta um primeiro passo pra que as coisas boas comecem a acontecer. -- queria desabafar -- Baba foi embora sentindo-se perdoado por mim. -- Clarice sorriu orgulhosa -- Não vou superar todos os traumas só porque me dispus a dar uma chance a ele, mas hoje me sinto em condições de pedir a Deus que conceda o esquecimento pra mim. -- passou a mão nos cabelos -- Que Ele permita que os Espíritos de Luz intervenham no meu psiquismo tornando todas as lembranças dolorosas e traumáticas inacessíveis. Que elas nunca mais surjam espontaneamente nos meus pensamentos! -- levantou as mãos rapidamente -- Inshallah! (Se Deus quiser!)

 

--Isso é possível, sim, minha querida! -- segurou o rosto da outra -- Já ouvi relatos de pessoas no centro que pediram a Deus coisas desse gênero e foram atendidas!

 

--Eu me sinto mais leve, mais pura, embora saiba que apenas comecei um longo caminho. -- segurou o rosto da paleoceanógrafa também -- Queria dividir isso com você!

 

--Está nesse caminho há muito tempo, querida. -- acariciava os cabelos dela -- E só me orgulha a cada dia.

 

--Clarice, eu... ainda tenho coisas a resolver e... sei que não terei muito tempo de vida...

 

--Pare de dizer isso! -- pediu agoniada ao se afastar

 

--Você deve me achar uma tola, cheia de idéias bobas, mas é que eu precisava me sentir mais pura pra... -- esfregou as mãos uma na outra -- me aproximar mais de você.

 

--O que quer dizer? -- olhou para a astrônoma

 

--Embora ainda ache que você merecia coisa muito melhor, -- caminhou até bem perto da outra -- devo ter decência pra acertar nossa situação!

 

--Do que está falando? -- não entendia

 

Ajoelhou-se diante dela. -- Eu não estava brincando com você até então, mas não me sentia digna de te pedir... -- tentava controlar o nervosismo -- Clarice Lima Verrier, será que aceitaria namorar essa caipira derrengada que vos fala? -- sorriu

 

--Ai, Zinara... -- derreteu-se toda

 

--Ana bawcedik men el lela de hafdal macik! (Eu prometo a partir de hoje que estarei com você!) -- falava com intensidade -- Mesmo quando minha alma se libertar.

 

--Você acaba comigo, sua caipira danada! -- puxou-a para que se levantasse -- Nem ouse ir embora dessa cidade hoje! -- ameaçou -- Nem ouse! -- beijou-a com amor, paixão e desejo

 

***

 

--Eu não entendo isso, Clarice! -- Magali reclamava -- Realmente não entendo! -- cruzou as pernas -- Depois dessa cena digna de cinema, você e Zinara passam a noite abraçadinhas numa barraca de camping sem fazer nada mais... picante?

 

--Não dava pra ter ‘picância’ nenhuma! -- fez aspas com os dedos -- Mamãe tava em casa, é claro, e Zinara teve dor de cabeça. Talvez porque esses dias foram emocionalmente muito desgastantes pra ela, não sei. -- sorriu -- Mas a gente queria estar perto uma da outra e isso nos bastava!

 

Magali e Clarice haviam acabado de almoçar na faculdade.

 

--Eu, hein! -- fez um bico -- E quando ela vai embora?

 

--Domingo de manhã.

 

--Bem, até lá dá pra sair do zero a zero... -- resmungou

 

--O que? -- não entendeu

 

--Eu disse que você não sabe da maior! -- mentiu -- Cátia me convidou pra sair!

 

--Que cara de pau! -- fez cara feia -- Mas, se você quiser, saiba que pra mim não tem problema. -- esclareceu -- Vocês são mulheres livres e não me devem satisfações!

 

--Nunca neguei que acho Cátia Magalhães uma gata, mas não dá, Clarice. -- passou a mão nos cabelos -- Muito safada, mentirosa... Mesmo pra curtição não vale a pena!

 

--No fundo ela não passa de uma menina carente e medrosa... Tem medo de amar e sofrer. -- mexia em um guardanapo -- Mas se Deus quiser um dia ela há de tomar jeito!

 

--Ou não. Vai saber... -- gastou uns segundos calada até que se lembrou de algo -- Hum! -- curvou-se sobre a mesa e cochichou para a outra -- Olha só, mudando de assunto, mas sem deixar de falar em sacanagem... tem umas amigas aí que me contaram de um motel que tá bombando. -- sorriu -- Se quiser, te dou o endereço e você leva Zinara pra ver se ela se anima! -- piscou

 

--Ai, Magali, você não é mole, viu? -- sorriu envergonhada

 

--Ih, minha filha, deixa de ser boba! -- deu um tapinha no braço da outra e se ajeitou na cadeira -- Zinara é romântica, fala o que você gosta de ouvir, mas tá faltando alguém aí pra botar um fogo nas coisa!

 

--E essa pessoa é você? -- perguntou achando graça

 

--Fazer o que, né? -- revirou os olhos -- Você e ela são devagar quase parando!

 

--Zinara e eu... o que existe entre nós é algo diferente de tudo que já vivi na minha vida. -- suspirou

 

--Mas não custa nada jogar uma pimentinha nessa relação, né? -- aconselhou -- Você espera demais, Clarice! Talvez seja sua hora de agir e mostrar pra ela que você a quer! -- olhava para a amiga -- Na minha opinião, Zinara não só busca resolver problemas particulares, como também tem vergonha da aparência. Ela tá doente, faz um tratamento complicadinho... Será que nunca te ocorreu que ela deve morrer de vergonha de se mostrar pra você?

 

--Eu não tinha pensado nisso... -- considerou a possibilidade

 

--Ela deve morrer de vontade, mas... falta coragem. -- concluiu -- E é nessa hora que você tem que chegar junto e fazer alguma coisa! -- continuava aconselhando

 

“Talvez ela tenha razão...”-- pensou -- Sabe, Magali, nunca imaginei que um dia você me daria esse tipo de conselho em relação a Zinara. -- comentou sorridente -- Agora você acha que ela é uma boa opção pra mim?

 

--Eu não! -- respondeu de pronto -- Mas já que você insiste com ela, vou te orientar quanto ao que fazer! -- falava com propriedade -- Tô aqui pra ser sua consultora de sex*!

 

--Ah, tá! -- achou graça -- Só me faltava essa... -- riu

 

***

 

--Nossa! -- Zinara olhava para todos os lados -- Isso é o que se pode chamar de um verdadeiro canto bom! Jayed jedan! (Muito bom!)

 

--Nunca estive aqui, mas me disseram que valia a pena. -- lembrava da dica de Magali

 

Zinara e Clarice acabavam de entrar no quarto de um motel numa área nobre da cidade.

 

--Que tal tomarmos um banho, hein? -- envolveu o pescoço da astrônoma com os braços e beijou-a languidamente

 

--Uai... -- sentia-se envergonhada e não sabia o que dizer

 

Clarice olhou para a namorada com carinho e segurou o rosto dela com as duas mãos. -- Amor, escuta o que eu vou te dizer! -- pediu -- Eu te amo e te acho linda! -- olhava nos olhos

 

--Não sou linda, Sahar... -- respondeu com certa tristeza -- Tô mais magra que nunca e você já viu meu braço...

 

--E já vi seu coração também! -- interrompeu-a com delicadeza -- E isso é o que mais me interessa.

 

Ficou feliz com o que ouviu e encheu o peito de coragem. -- Que tal fazermos assim: tomamos banho separadas e te faço uma massagem bem especial? -- propôs

 

“Ela precisa se sentir mais à vontade...” -- pensou -- "Tadinha da minha caipira...” -- beijou-a -- Quem pode resistir a uma proposta dessas? -- beijou-a novamente -- Aceito!

 

***

 

Zinara fazia massagem na namorada, que estava deitada de bruços com rosto virado de lado repousando sobre as mãos. Clarice não usava qualquer roupa, mas havia um lençol cobrindo suas nádegas. A astrônoma usava uma camisola de tecido leve.

 

--Então é assim que começa a famosa massagem de Zinara Raed? -- perguntou sorrindo com os olhos fechados

 

--Se é famosa eu não sei. -- massageava lentamente o pescoço da outra com as duas mãos -- Mas garanto que a dedicação é total! Até hoje, zero reclamações! -- brincou

 

--Não me fale de suas experiências com outras, tá? -- ralhou fazendo beicinho

 

--Tava brincando... -- deslizou as mãos para os ombros fazendo uma leve pressão na base do pescoço -- Isso aqui é pra você ficar beeeem relaxada...

 

--Delicioso... -- sorriu novamente -- Mas não continua, não, porque onde você começou é meu ponto cego....é tudo tensionado...

 

--Eu sei desmanchar pontos de tensão e contraturas, habibi. -- continuava dando atenção a ombros e pescoço -- E sei fazer relaxar...

 

--Hum... confesso que te ter tão perto assim e sentindo o calor de sua pele... chega a ser muito difícil relaxar...

 

Ficou toda boba. -- Ah, mas creia que você vai relaxar... -- reclinou-se e sussurrou no ouvido da outra -- O aquecimento vem depois, Sahar. -- pressionou a base do crânio dela com os dois polegares enquanto os outros dedos faziam uma leve pressão no pescoço -- Jayed? (Bom?) -- perguntou ao se reerguer

 

--Ai... -- gem*u baixinho -- Gente... -- suspirou -- Me explica o que você vai fazer comigo? -- pediu sensualmente

 

--Quando se pressiona com os dois polegares na base do pescoço... -- fazia conforme falava -- desse jeito assim! -- Clarice gem*u alto -- A pessoa involuntariamente reclina a cabeça pra trás.

 

--Verdade... -- relaxou a cabeça novamente -- Nossa, isso deve fazer um bem danado...

 

--Então as mãos rapidamente percorrem os ombros e os empurram pra trás. -- puxou com leveza -- Aí a gente continua massageando os ombros e dosando a força ciclicamente pra desmanchar as contraturas de Sahar. -- explicava -- Que são muitas...

 

--Hum... tô adorando... -- sentia-se relaxar

 

--Sendo que, de quando em vez, uma das mãos desliza pra base do pescoço e puxa os cabelos bem devagar, fazendo movimentos circulares, -- narrava o que estava fazendo com voz melódica -- pra que o couro cabeludo relaxe a aderência...

 

--Isso é forte e suave ao mesmo tempo... -- constatou -- Ai... -- gem*u

 

--Se eu giro no sentido horário é pra ativar, no sentido anti horário é pra relaxar... -- explicava

 

--Hum, gira no sentido horário? -- pediu dengosa

 

--Laa... (Não...) Ainda não... -- seguiu percorrendo a linha da coluna com leves pressões na altura dos pulmões -- Faço isso pra expulsar o excesso de ar não expelido.

 

--Tem isso? -- perguntou curiosa

 

--Nossos corpos, -- arranhava-lhe as costas de leve -- têm muitos mistérios, habibi...

 

--Meu Deus... onde você aprendeu isso? -- sorria

 

--No Oriente. -- reclinou-se novamente e perguntou no ouvido: -- Oit eih? (O que me diz?) -- mordeu-lhe a orelha de leve

 

--Ai, Zinara... -- arrepiou-se

 

--Então... -- reergueu-se mais uma vez -- nesses movimentos de sobe-desce pela coluna, é importante que você varie a temperatura também. -- continuava explicando -- Isso é feito com a respiração.

 

--Como assim?

 

--Quando as mãos descem pela coluna, é o estímulo frio... -- arranhava-lhe as costas em movimentos sinuosos

 

--Ai, e isso é frio? -- abriu os olhos -- Ai... -- gem*u

 

--Quando as mãos sobem, é o estímulo quente... -- seguiu respirando bem rente à pele, deixando o nariz roçar devagar e bem de leve

 

--Isso tá muuito quente! -- afirmou excitada -- E sedutor!

 

--Você acha? -- perguntou no ouvido e se afastou -- É apenas uma massagem caipiresca. -- afirmou fingindo inocência

 

--Caipiresca? -- achou graça -- Você é perigosa, amor... -- disse cheia de dengo

 

--E eu ainda nem terminei... Nem saí da coluna... -- continuava massageando

 

--Não me torture...

 

Após alguns segundos de massagem, a astrônoma continuou a falar: -- Quando se termina com a coluna, as mãos pressionam a linha dos quadris. -- levou as mãos até lá -- Nessa parte mais alta aqui. -- empurrou para baixo em um movimento forte mas não tão brusco

 

--Ai... -- gem*u e reclinou a cabeça para trás

 

--Espontaneamente a pessoa gem*... -- segurou firme pelos cabelos da nuca -- Aí é hora de agir... -- seguiu beijando a amada do pescoço até os quadris, enquanto gradativamente soltava os cabelos dela

 

--Meu Deus... -- o coração acelerou

 

As mãos de Zinara passaram pelas nádegas, pressionando com força dosada e desceram para as coxas, massageando-as simultaneamente.

 

--Isso é muito quente... -- murmurou excitada

 

--Achei que você tava se cansando dessa massagem monótona. -- provocou

 

--Monótona?! -- riu brevemente -- Só eu sei... Ai... -- gem*u e respirou fundo -- Continua me explicando que eu tô amando essa aula!

 

Sorriu. -- Chegando na altura das costas do joelho, -- deslizou as mãos até lá -- dobra-se a perna da pessoa, pressionando-se a panturrilha e girando o pé em sentido horário e anti horário, alternadamente.

 

--Ai... Deu uma pontada de dor. Hum... -- gem*u

 

--Se eu insistir um pouco mais. -- apertou um ponto nas costas do joelho -- Isso provoca um arrepio que segue até o couro cabeludo. -- mordeu o pé da namorada

 

--Ai, eu senti esse arrepio! -- confessou -- Esse e muitos outros em várias partes...

 

--Mumtaz... (Excelente...) -- gostou do que ouviu -- Então massageia-se a sola do pé, preferencialmente começando-se pelo pé esquerdo, -- fazia exatamente o que narrava -- e essa massagem relaxa bastante porque os corpos não estão mais em contato.

 

--Eu preferia quando você tava sentada em cima de mim... -- protestou fechando os olhos -- Tô toda molezinha...

 

A massagem prosseguiu assim por mais alguns segundos. -- Mas isso não vai durar por muito tempo, porque quando se sente que a pessoa relaxou demais...

 

--Faz o que?

 

A astrônoma deslizou os dedos com certa força pelas panturrilhas e uma dor incômoda despertou Clarice.

 

--Ai que maldade... -- gem*u

 

--E aí você segue apertando até as coxas, quando nesse momento se posiciona entre elas... -- removeu o lençol e abriu as pernas de Clarice devagar -- E novamente comprime os quadris, só que de forma brusca dessa vez! -- apertou

 

--Hummm que delícia! -- mordeu o lábio inferior e pendeu a cabeça para trás

 

Segurou-a pelos cabelos e seguiu com uma trilha de beijos, desde os quadris até o pescoço.

 

--Minha nossa, amor, vem, vem, que eu não agüento mais! -- pediu cheia de desejo

 

--E enquanto isso a outra mão procura abrigo... -- voltou a narrar no ouvido -- aonde você quiser, ya gamil (minha linda)... -- deslizava a mão pelo corpo dela

 

--E onde você quer se abrigar em mim? -- perguntou com voz gutural

 

--Aamal aeh? (O que eu deveria fazer?) -- lambeu-lhe o pescoço e roçou os dedos de leve no sex* da mulher

 

--Vem, amor!! -- pediu ofegante ao sentir o corpo da astrônoma pesando sobre o dela -- Eu quero você!!

 

Virou-a de frente para si, tirou a própria camisola e olhou nos olhos dela com desejo e amor. -- Ana aktar wahed... (Eu sou aquela que mais te ama...) -- beijou-a e se acomodou entre as pernas da namorada, segurando-a por uma das coxas -- Wala leila, kalbii ekhtarik... (Não é só uma noite, meu coração te escolheu...) -- beijou-a mais uma vez. Os sex*s roçavam-se em movimentos cadenciados -- Kida eini einik... (Desse jeito, olho no olho...) -- colou a testa na dela -- Behebbik ya, Sahar! (Eu te amo, Amanhecer!) -- declarou com paixão

 

--Ai, amor... -- sentia-se nas nuvens e puxou-a para um beijo intenso

 

Clarice envolveu o pescoço da amante com os braços e enroscou as pernas na cintura dela. Beijavam-se e movimentavam-se esfregando os corpos um no outro em uma espécie de rebol*do sensual e urgente.

 

Quando percebeu que beiravam o orgasmo, Zinara deslizou os lábios pelo corpo da amante até mergulhá-los em seu sex*. Clarice gem*u alto e em poucos segundos as duas explodiram em um orgasmo delicioso e ansiosamente aguardado.

 

***

 

Zinara e Clarice estavam deitadas de lado, uma de frente para a outra, acariciando-se mutuamente.

 

--Não sabe o quanto eu pensei em como seria você e eu... -- a astrônoma confessou -- Mas tinha tantos receios... e vergonha...

 

“Magali tinha mesmo razão.” -- pensou -- Não tem porque ter vergonha de mim, amor. -- beijou-a -- Eu te amo e não tô aqui pra te julgar. -- sorria -- Foi a melhor noite da minha vida...

 

--E da minha... -- confessou -- Você mudou tudo pra mim, Sahar...

 

--E você pra mim, meu bem! -- beijou-a -- Mas ainda quero te mostrar que meu amor por você supera tudo. -- mudou as posições e deitou-se sobre ela -- Você conheceu o amor refúgio, o amor desejo, agora quero que conheça o meu amor. -- beijou-a, mordendo-lhe o lábio inferior -- O amor aceitação... -- mordeu o queixo -- incondicional...

 

--Eu quero... Mihtagalik, habibi... (preciso de você, querida) -- fechou os olhos -- Zidini Eshqan… (Preencha-me com paixão...) -- pediu

 

A paleoceanógrafa seguiu beijando o corpo da namorada bem devagar, com carinho, respeito e desejo. A cada beijo e a cada toque buscava mostrar a ela que não se importava com aparências, com exterioridades. Clarice amava com a alma, com maturidade e total entrega.

 

Zinara respirou fundo quando a língua da outra invadiu seu sex* e arrepiou-se com os toques gentis e ao mesmo tempo firmes daqueles dedos que lhe buscavam o íntimo. Seu desejo aumentava e a excitação fazia-lhe respirar aceleradamente. Gemia baixo enquanto acariciava os cabelos da amante com carinho.

 

--Ya habibi... -- gemia -- Ya bajat al-rouh... (Você é o prazer da minha alma...)

 

Clarice interrompeu o que fazia, e seguiu beijando e mordendo o corpo da morena, detendo-se nos seios dela.

 

--Ah... -- gem*u

 

--Eu te amo, Zinara... -- deslizou uma das mãos para o sex* dela -- Nunca duvide! -- colou testa com testa -- Nunca!

 

--Ah!!! -- gemia -- Sahar... -- sentia-se pegando fogo

 

Tomada pelo desejo, a astrônoma rapidamente mudou as posições e deitou-se sobre Clarice, segurando as mãos dela por sobre a cabeça. Entrelaçaram os dedos e olharam-se nos olhos.

 

--Esperei você, habibi... -- esfregavam-se sensualmente -- tool omri... (por toda vida...)

 

--Ai, Zinara... -- beijaram-se

 

Ambas podiam sentir a pureza e a força daquele amor. Sentiam-se vistas, aceitas, amadas.

 

--Goz* comigo, Sahar... -- sussurrou --Tacaalii, habibi! (Vem, querida!)

 

--Ai, amor, não fala assim que eu fico louca...

 

Sentindo que o clímax se aproximava, abraçaram-se com força e deixaram-se invadir pelas vibrações de amor e prazer que lhes percorriam o corpo inteiro. Zinara e Clarice finalmente conheciam o amor em sua forma plena. Não era apenas uma noite sex*, uma fuga, um refúgio ou a busca do prazer por parte de pessoas que se gostam. Era uma fusão de energias que interferiam construtivamente, um encontro de almas que se buscavam sem saber... Para Zinara, era ainda um pouco mais; algo que desejava conhecer desde criança: a paz.

 

--Ai... -- segurou o rosto da amada -- Eu queria que... -- esperou a respiração se acalmar -- o tempo parasse... -- acariciava de leve -- só pra você ficar eternamente comigo...

 

--Prometi que vou ficar. -- respondeu carinhosamente -- Ana feek, wa anta fiyya, wa Allah fina... -- declarou -- Zahirah dizia que essa é a frase dos apaixonados... -- lembrava -- Será a nossa frase de hoje em diante!

 

--Traduz, amor? -- pediu sorrindo

 

--Eu em você... -- beijou-a -- você em mim... -- beijou-a novamente -- e Deus em nós... -- sorriu

 

 

أنا فيك، وأنت فيّ، والله فينا

 

(Nota da autora: frase Eu em você, você em mim e Deus em nós em árabe)

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Músicas do Capítulo:

Olivia cantarola:

Não Deixe o Samba Morrer. Intérprete: Alcione. Compositores: Edson Conceição / Aloísio Silva.

Baile de Amina e Leda:

Adaptação de Se Joga. Intérpretes: Naldo Benny ft Fat Joe. Compositor: Naldo

 

[a] Show das Poderosas. Intérprete: Anitta. Compositora: Larissa Machado. In: Anitta. Intérprete: Anitta. Warner Music Brasil, 2013. 1 CD, faixa 1 (2min30);

[b] Pai. Intérprete e Compositor: Fábio Jr. In: Fábio Jr. Intérprete: Fábio Jr. Som Livre, 1979. 1 disco vinil,  lado A, faixa 2 (5min02)

 


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Comentários para 17 - AB - 2:
Alexape
Alexape

Em: 31/12/2022

Por que os comentários tão sumindo? Esse capítulo me matou de emoção!!!


Resposta do autor:

Esse veio em dose dupla para compensar! rs

Beijos,

Sol

Responder

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Alexape
Alexape

Em: 31/12/2022

Por que os comentários tão sumindo? Esse capítulo me matou de emoção!!!


Resposta do autor:

Deve ser o fluxo de leitoras nas várias histórias do Lettera.

Que bom que o capítulo mexeu com você!

Beijos,

Sol

Responder

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Seyyed
Seyyed

Em: 19/09/2022

PUTISSIMA QUE SUPER PARIU!!! 

Podia escrever até morrer tantas emoções rolando dentro do peito mas falo só duas coisas Pai, Zi e Raed, lindo lindo maravilhoso eu pensei em tanta coisa puta merda ! Tu é muito boa pra trilha sonora Tb

Zi e Clarice foi romântico envolvente sensual e hot só me resta dar uma mãozinha pro destino tô solteira né? Hahaha


Resposta do autor:

kkkkkkkk Nunca vi um trem desse de super pariu! kk

Obrigada pela emoção que transpareceu aqui e por sentir tanto, deixando-se levar até pela música. É um prazer perceber as leitoras fazendo isso e se entregando tanto!

Mãozinha pro destino, kkkkkkkk Realmente, você me diverte!

Beijos,

Sol

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Zaha
Zaha

Em: 07/02/2018

Oie!

Desapareci, né?! Mas foi necessário e terei que fazer de novo, vou demorar pra chegar até onde li tudo, apesar que faltam poucos capítulos. Tinha lido tb os caps finais...enfim! 

Eu to desbordando de emocao,não sei se boas ou não , mas dói meu peito, tenho vontade de chorar, de alegria e "añoro" algo que nunca vivi, acho a essa palavra seria saudades...por isso vai demorar, da outra vez passou alguns dias até eu deixar de ter taquicardia e de ter vontade de xhorar, apesar de ter melhorado da minha DP, se leio essas coisas rebubina, ativa, mas não como antes, apenas necessito de alguns dia e como tenho medo, demoro a voltar...desculpa!

Primeiro :

Capítulo anterior e esse sobre Raed, tinha copiado, mas pelo celular n cola a frase, mas senti tanta emoção, n lembro meu pai pq a razão é diferente e há muitos anos o perdoei, na verdade nunca senti raiva, entendia, sempre entendi é assim fica mais fácil, mas entendo que alguns pais são mais didicesi, as reações de Raed pareciam MT duras, apesar que sempre busquei razões , a forma a foi criada, a cultura, mas o tempo cura e muda as pessoas ,mas isso n quer dizer q pra quem sofreu essas ações seja tão fácil, é um longo caminho, mas é certeza que pra quem foi perdoado a dor e a culpa continuam mais tempo..se perdoar por machucar alguém leva tempo tb e perdoar é liberdade, é reconstrução, dar novas oportunidades!

N entendi a parte q vc escreveu sobre o pai, se foi seu pai, as vezes vc coloca algo e n sei se é sobre vc ou um texto q vc parafrasea ou transcreve, mas que descreve suas experiências ! Óbvio que tudo q vc escreve aqui, são muitos sentimentos seus é que de forma poética ,como diz, tenta expurgar, n é nada pra se envergonhar por eu estar dizendo aqui,afinal vc deixou em Tão seu coração , ainda q possa parecer q n, n necessariamente foi sua experiência , mas experiência que te causou algo e a pode n ser sua, mas vc experimentou desde fora dói igual, n sei, são hipótesis e amo hipótesis!

A cena de amor de Clarice e Zinara foi poesía pura, eu n costumo ler cenas sexuais, mas essa n foi sexo , foi algo mais, algo delicada, poética e me causou ternura, n devia, mas foi linda...elas duas são lindas!!! 

A última frase, frase de amor..já disse q repito, tenho uma parecida, n é de amor, é pra acalmar minhas fobias, algo como" Deus comigo e eu com ele e n sei se termina em Deus em nós ", n sou MT de falar coisas de Deus, sempre me refiro aos espíritos de luz pq me sinto mais cômoda ,mas é uma linda frase...enfim!

Muitas coisas me passaram pq eu quis acabar logo c esses dois capítulos , deu vontade de pular, mas te prometi n pular..meu inconsciente sabia o q fazia qndo pulou, n tava pronta pra certas emoções...eu leio e é como que me vejo no personageme sinto as dores intensamente, é horrível , te digo q n poderei ler de novo..kkkk. Mas tô lendo c MT carinho por mais difícil que seja, ainda q n tenha vivido essas experiências nessa vida, certeza vivi em outras. O cérebro sente essa emoção e te leva Onde vc viveu essa emocao, pode ter sido c uma experiência parecida ou apenas a emoção intensa parecida...mas é bom enfrentar só assim passa, ainda q no meu caso exista uns fatores importantes ...rs

É isso, fica com Deus, que aí desse lado as coisas estejam melhores é que vc esteja aí nas passeatas da vida como esteve nas de libra por um país melhor é que não esteja sozinha e claro namorando pq vc anda MT da encalhada!!! Rs

Sorte aí é que os espíritos de luz te guiem sempre!

Beijos dourados!!!


Resposta do autor:

Talvez você ache que estou com preguiça, mas estes comentários são tão completos (você tem escrito verdadeiras análises do conto) que me deixam sem saber o que escrever em resposta. Só posso felicitá-la e me encher de orgulho, além de pedir que na sua imersão não se detenha tanto nos aspectos de emoções que desequilibram, mas naquelas que fazem sorrir e aliviar.

Encalhada... kkk fique tranquila quanto a isso, sadikii.

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sonhadora
sonhadora

Em: 18/05/2021

Cá estou novamente...." pai, o senhor nunca leu nada que eu escrevesse e certamente nunca lerá estas palavras. Mas eu escrevo assim mesmo. Descubro que gosto disso..." Esta passagem no capítulo parece demais comigo! Também já perdoei o meu pai, mas provavelmente jamais serei amiga dele!!! Hoje, depois que fui mãe, entendo melhor algumas atitudes dele, mas não faria nada como ele me fez!!! 

Menina, que momentos lindos! A conversa franca e direta, a rodoviária, o pedido de namoro e a noite de amor entre elas!!! Uma boa dose de romantismo para aliviar nossas almas tão solitárias e encarecidas de amor e paixão!!!

"Escrevo para espalhar amor! Escrevo para dizer que o amor existe! Escrevo porque tudo que minha alma pede é mais respeito e amor!"

Beijos!

P.s. continuo lendo...lentamente, mas com muita alegria no coração por cada capítulo vencido por mim!????????????


Resposta do autor:

Boa noite,

Tudo bem? 

Estes capítulos são bem especiais. Você tem sentido cada um deles, ao que me parece, de forma intensa. Fico lisonjeada. 

Beijos e muito obrigada. 

 

Sol

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Gabi2020
Gabi2020

Em: 15/05/2020

Oiee tudo bem por aí? Usando máscara? Ai ai 

 

Ainda estou impactada com esse últimos capítulos, quando fala de pai... Mexe bastante.

Falando nisso, sonhei com o meu baba essa noite, não lembro muito, mas pra variar ele estava reclamando da roupa, ele estava de terno e gravata e detestava... kkkkkk... E era meu casamento, um lugar bem bonito, mas na hora que abria a porta pra entrarmo eu acordei... Que pena, queria ver quem estava me esperando... Mas é sempre bom sonhar com ele.

 

Beijosss

 

Ps. Meu vestido era tão lindoooo


Resposta do autor:

Gabinha!!

É sempre bom sonhar com nossos amados; entendo perfeitamente!

Você tem falado em casar. Já não é a primeira vez. De repente, daqui a pouco se casa mesmo.

E seu pai te ama como é. Sempre foi assim e sempre será.

Beijos,

Sol

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Gabi2020
Gabi2020

Em: 14/05/2020

Olá!

 

Muito bonito o sonho de Zinara com a Shamash dela.

 

 

Cátia fica difícil te defender mulher!

 

 

Você passa uma emoção tão grande em cada frase, que é impossível não se emocionar. Essa conversa de Raed e Zinara... Ai ai ... Coração ficou apertadinho.

 

Assim você acaba comigo, essas lembranças de Zinara com o pai e essa música de fundo não dá!

 

Magali finalmente deu uma dentro! Hahahahahahaha...

 

 

A famosa massagem de Zinara Raed, quem resiste? Se bem que a minha Ju faz uma massagem maravilhosaaaaa... 

 

 

Clarice sabe ser fofa, romântica, quente... Perfeita para Zinara... Aliás as duas juntas, são fofas!!

 

 

"Para Zinara, era ainda um pouco mais; algo que desejava conhecer desde criança: a paz." Sem mais... Perfeito!

 

 

Beijos Solzinha!

 

 Ps.  Esses dois útimos capítulos me tocaram de uma forma que não sei explicar,  falar  de pai mexe demais comigo, isso até hoje... Você tem o dom de me emocionar.

 

 

 


Resposta do autor:

Olá Gabinha!

Eu me envolvi demais em Maya e no Tao. E vocês conseguem perceber. CONVIDE não teve este apelo emocional, o momento e o objetivo eram outros e por isso adverti que perceberiam uma diferença. Mas o Tao me "custou" muito mais. Não sei se me faço clara. E concluí-lo vai me exigir o que não posso ainda proporcionar, daí a demora.

Você também sente porque tem suas próprias lembranças queridas, saudades e nostalgias.

Como te falei: são as massagens que salvam a pátria desta caipira! kkkk  Se a Ju é boa massagista, aproveite (e aprenda tudo para retribuir).

Clarice é um par perfeito. Samira é que não gosta dela. Deve ser a única! kkkk

Eu imaginei que você se sentiria assim, mesmo depois de tanto tempo.

Há ausências que são muito presentes na vida.

 

Beijos,

Sol

 

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Sem cadastro
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Em: 07/02/2018

Oie!

Desapareci, né?! Mas foi necessário e terei que fazer de novo, vou demorar pra chegar até onde li tudo, apesar que faltam poucos capítulos. Tinha lido tb os caps finais...enfim! 

Eu to desbordando de emocao,não sei se boas ou não , mas dói meu peito, tenho vontade de chorar, de alegria e "añoro" algo que nunca vivi, acho a essa palavra seria saudades...por isso vai demorar, da outra vez passou alguns dias até eu deixar de ter taquicardia e de ter vontade de xhorar, apesar de ter melhorado da minha DP, se leio essas coisas rebubina, ativa, mas não como antes, apenas necessito de alguns dia e como tenho medo, demoro a voltar...desculpa!

Primeiro :

Capítulo anterior e esse sobre Raed, tinha copiado, mas pelo celular n cola a frase, mas senti tanta emoção, n lembro meu pai pq a razão é diferente e há muitos anos o perdoei, na verdade nunca senti raiva, entendia, sempre entendi é assim fica mais fácil, mas entendo que alguns pais são mais didicesi, as reações de Raed pareciam MT duras, apesar que sempre busquei razões , a forma a foi criada, a cultura, mas o tempo cura e muda as pessoas ,mas isso n quer dizer q pra quem sofreu essas ações seja tão fácil, é um longo caminho, mas é certeza que pra quem foi perdoado a dor e a culpa continuam mais tempo..se perdoar por machucar alguém leva tempo tb e perdoar é liberdade, é reconstrução, dar novas oportunidades!

N entendi a parte q vc escreveu sobre o pai, se foi seu pai, as vezes vc coloca algo e n sei se é sobre vc ou um texto q vc parafrasea ou transcreve, mas que descreve suas experiências ! Óbvio que tudo q vc escreve aqui, são muitos sentimentos seus é que de forma poética ,como diz, tenta expurgar, n é nada pra se envergonhar por eu estar dizendo aqui,afinal vc deixou em Tão seu coração , ainda q possa parecer q n, n necessariamente foi sua experiência , mas experiência que te causou algo e a pode n ser sua, mas vc experimentou desde fora dói igual, n sei, são hipótesis e amo hipótesis!

A cena de amor de Clarice e Zinara foi poesía pura, eu n costumo ler cenas sexuais, mas essa n foi sexo , foi algo mais, algo delicada, poética e me causou ternura, n devia, mas foi linda...elas duas são lindas!!! 

A última frase, frase de amor..já disse q repito, tenho uma parecida, n é de amor, é pra acalmar minhas fobias, algo como" Deus comigo e eu com ele e n sei se termina em Deus em nós ", n sou MT de falar coisas de Deus, sempre me refiro aos espíritos de luz pq me sinto mais cômoda ,mas é uma linda frase...enfim!

Muitas coisas me passaram pq eu quis acabar logo c esses dois capítulos , deu vontade de pular, mas te prometi n pular..meu inconsciente sabia o q fazia qndo pulou, n tava pronta pra certas emoções...eu leio e é como que me vejo no personageme sinto as dores intensamente, é horrível , te digo q n poderei ler de novo..kkkk. Mas tô lendo c MT carinho por mais difícil que seja, ainda q n tenha vivido essas experiências nessa vida, certeza vivi em outras. O cérebro sente essa emoção e te leva Onde vc viveu essa emocao, pode ter sido c uma experiência parecida ou apenas a emoção intensa parecida...mas é bom enfrentar só assim passa, ainda q no meu caso exista uns fatores importantes ...rs

É isso, fica com Deus, que aí desse lado as coisas estejam melhores é que vc esteja aí nas passeatas da vida como esteve nas de libra por um país melhor é que não esteja sozinha e claro namorando pq vc anda MT da encalhada!!! Rs

Sorte aí é que os espíritos de luz te guiem sempre!

Beijos dourados!!!


Resposta do autor:

Talvez você ache que estou com preguiça, mas estes comentários são tão completos (você tem escrito verdadeiras análises do conto) que me deixam sem saber o que escrever em resposta. Só posso felicitá-la e me encher de orgulho, além de pedir que na sua imersão não se detenha tanto nos aspectos de emoções que desequilibram, mas naquelas que fazem sorrir e aliviar.

Encalhada... kkk fique tranquila quanto a isso, sadikii.

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