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EM BUSCA DO TAO por Solitudine

Ver comentários: 8

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Palavras: 17073
Acessos: 10431   |  Postado em: 02/01/2018

Notas iniciais:

Ab: transliteração de Pai

AB - 1

 

 

CAPÍTULO 49 – Decisões

 

 

Zinara e Clarice conversavam por telefone. Após ouvir o que a paleoceanógrafa tinha a dizer, a astrônoma contava suas novidades.

 

 

--Eu recebi dois telefonemas bombásticos, habibi. Vou começar pela notícia boa! -- sorria -- Salete me ligou pra agradecer e me dizer que ela e a filha já tão indo pra Gyn morar com o pai dela. -- comentava empolgada -- Podia ter recebido notícia mais maravilhosa?

 

 

--Ai, meu amor, que coisa boa! -- exclamou sorridente -- Você conseguiu que a família se reconciliasse! -- abraçou uma almofada -- Onde quer que esteja, Shamash deve estar orgulhosa de você!

 

 

--Nós conseguimos! -- corrigiu -- Sua ajuda foi fundamental! -- respondeu agradecida -- Não sabe o quanto você tem me feito bem, Sahar! Sob todos os aspectos!

 

 

--Sahar... Você e essa coisa de colocar apelidinhos nas mulheres... -- retrucou melosa

 

 

--Não são apelidinhos, habibi! -- protestou com delicadeza -- É o bem que a pessoa me faz e eu o associo a algo que seja especial pra mim. -- explicava -- Zahirah foi a verdadeira ar-rabiic, a primavera em meio à guerra. -- lembrava da ruiva -- Aisha foi al-seif, trazendo o calor do verão a uma juventude quase apagada. -- sorria

 

 

--Você me contou... -- colocou as pernas sobre a poltrona enquanto mexia na almofada

 

 

--Professora Olívia foi Shamash, o sol a brilhar na minha alma escura, e você... -- brincava com as pontas do cabelo -- você é Sahar, o meu amanhecer... O momento em que meu horizonte voltou a ter cor e beleza... -- suspirou -- "Mesmo que seja uma breve alvorada antes de minha morte...” -- lamentou em pensamento

 

 

Ficou toda prosa. -- Ah... -- continuava sorrindo -- Mas você teve outras namoradas, que eu sei... -- falava cheia de dengo -- Como chamava Jamila, por exemplo? -- queria saber

 

 

--As únicas mulheres que eu associei a figuras com tamanha força foram vocês, habibi. -- confessou -- Por mais que amasse Jamila, nunca consegui sentir algo desse tipo com ela.

 

 

--Nossa! -- surpreendeu-se -- Não imaginava ouvir isso...

 

 

--Não acredita quando eu digo que você é muito especial, não é, Sahar? Billadhi askara, ya habibi...

 

 

--Traduz, amor! -- pediu

 

 

--Minha amada intoxicante, minha querida... Em pouco tempo fiquei viciada em Clarice. -- sorria como boba

 

 

--Ai, Zinara, você me diz umas coisas... -- suspirou

 

 

“Eita, que lambição danada...” -- Leda pensava enquanto fazia seus bordados -- "Essas duas ficam numa coisa tão melosa que até minha glicose deve subir só de ouvir esse papo!” -- balançou a cabeça achando graça

 

 

--Mas não me enrola, não, viu, sua caipira danada? -- recompunha-se -- E o tratamento? Você foi na sua médica? Tá se cuidando como deve? -- perguntou preocupada

 

 

--Fui, habibi, e já teve até uma sessão ontem. -- revirou os olhos -- Coisa mais horrível não há! -- fez uma careta -- Acho que se não fosse Deus, as orações de todo mundo e o remédio de babosa que maama deixou pra mim, eu já tava toda derrengada!

 

 

--Derrengada... -- achou a palavra engraçada -- Mas continue se tratando, tá? Quero a minha caipirinha inteira pra mim! -- abraçou-se com a almofada

 

 

“Daqui a pouco Clarice vai tarar a almofada!” -- Leda pensou com vontade de rir

 

 

--Eu vou continuar... -- respondeu de má vontade

 

 

--E quando que sua mãe chega aí pra cuidar de você?

 

 

--Na verdade, ela não vem agora... -- sentou-se no sofá -- Ela tá querendo é ir pra São Sebastião... -- respondeu desanimada

 

 

--Vir pra cá?! -- surpreendeu-se -- Jura?

 

 

A idosa ligou as anteninhas e parou de bordar.

 

 

--Lembra que eu falei que recebi dois telefonemas bombásticos? A notícia boa Salete me deu e a notícia problemática foi dada por maama. -- passou a mão nos cabelos -- Ela disse que baba quer ver o Papa e me intimou a cuidar disso...

 

 

--Ver o Papa?! E eles decidiram isso quando? Assim, sem mais nem menos? -- não entendia

 

 

--A mãe dela quer vir pra cá pra ver o Papa?! -- Leda perguntou em choque -- Ela não tá sabendo dessa violência policial, não? Eles tão sentando o couro no povo por causa de protesto de rua! -- gesticulava -- E ainda tem os tais dos Blekiploks que vêm pra quebrar tudo!

 

 

Clarice olhou rapidamente para a mãe e continuou a conversa. -- Zinara do céu, seus pais não vêem o telejornal? São Sebastião tá quase em guerra civil! -- argumentou -- Você esteve aqui e sabe como as coisas estão tensas! Até mamãe ficou apavorada com essa notícia!

 

 

--E maama lá quer saber disso, habibi? -- respondeu de pronto -- Eu ainda tentei argumentar dizendo que não íamos encontrar hotel e ela nem ligou! Ainda falou que se eu acho estrelinha no céu, posso achar hotel sem dificuldade! -- acabou rindo -- Ai, ai... Eles vão praí de ônibus e levando Khadija, pra completar!

 

 

--Essa é a filha do seu irmão Nagibe, não é?

 

 

--É! -- balançou a cabeça positivamente -- Uma pobre criança de quatro anos que vai encarar uma viagem danada pra ver o Papa...

 

 

--Minha nossa! -- ficou preocupada -- Eu entendo e respeito que eles tenham essa fé, mas são pessoas do interior chegando em uma cidade grande que tá vivendo uma crise!

 

 

--Pois é, mas baba quer ver o Papa! -- gesticulava -- E Nagibe e Dora pediram pra ele trazer Khadija pra ser abençoada.

 

 

--E por que sua mãe não tenta convencê-lo a mudar de idéia? -- não entendia -- Meu bem, isso pode ser muito perigoso! -- levantou-se do sofá -- E se der confusão? Já pensou nisso?

 

 

--Maama quer ir pra São Sebastião também, Sahar. E quer porque quer!

 

 

--E por que ela quer tanto vir pra cá? -- perguntou intrigada -- Pra atender o marido?

 

 

Leda só prestava atenção.

 

 

--Porque ela quer ver a tal da Catitta: a funkeira fashion! -- esclareceu -- Disse isso pra mim e ainda cantou no telefone a música daquela doida!

 

 

Clarice paralisou na sala e soltou uma sonora gargalhada.

 

 

--Isso! Ri da desgraça alheia! -- acabou rindo também

 

 

--O que foi? -- Leda estava curiosíssima

 

 

--Ai, ai, num guento... -- continuava rindo -- Enquanto o pai dela quer ver o Papa, -- respondeu tapando o bocal do telefone -- a mãe quer ver Catitta, aquela funkeira. -- ria

 

 

Leda gargalhou também.

 

 

--Ei, eu tô ouvindo essa risadaria aí! -- fingia de zangada -- É mãe e filha me fazendo chacota!

 

 

--Ela é louca! -- balançou a cabeça achando graça -- Agora sei a quem Zinara puxou! Tudo doido esse povo de Cedro! -- ria

 

 

--Mamãe! -- ralhou sorrindo -- Ai, ai... -- respirou fundo para deixar de rir -- E você... você vem com eles? -- perguntou esperançosa

 

 

--Hum... Olha o foguinho no rabo aí... -- a idosa resmungou divertida

 

 

--Vou e tô até agora buscando um canto pra ficar. -- levantou-se e caminhou até a janela -- Cláudia já reclamou muito porque isso vai ser mais uma interrupção no tratamento. -- olhou para o céu -- Ô, coisa boa... -- sorriu

 

 

--Imaginei que você não tinha encontrado onde ficar. -- encostou-se na parede -- Mas... -- fazia um charme -- a única coisa boa dessa vinda pra cá vai ser ficar sem o tratamento?

 

 

--Rever você vai ser a maravilha em meio a essa loucura toda! -- respondeu melosa -- Ouvir sua voz doce pessoalmente, sentir seu cheiro gostoso, te beijar...

 

 

--Ai, Zinara, pára... -- mordeu o lábio inferior

 

 

--Hum... -- olhava para a filha -- Clarice tá rebol*ndo na parede que nem lagartixa, espia pra isso! -- resmungava achando graça

 

 

--Yali maleat aayamee hana, ya habibi... (Você enche meus dias de felicidade, minha querida...) -- falava como se cantasse

 

 

--Ai, Zinara... -- a morena se derretia -- Você fica falando essas coisas na língua Cedro só pra me deixar arrepiada...

 

 

--Menina, pára com essa resfolengo e convida logo essa mulher pra ficar aqui em casa! -- levantou-se e seguiu para a cozinha -- Pode vir com mãe, pai, papagaio... É até bom porque vai ter é gente pra fazer limpeza aqui!

 

 

--Mamãe!! -- ralhou cobrindo o bocal do telefone

 

 

--Fui! -- deu tchauzinho

 

 

--Que foi que ya Leda falou? -- perguntou curiosa

 

 

--Ah, ela... -- voltou a sorrir -- convidou vocês pra ficar aqui em casa. Tem espaço suficiente!

 

 

--Que é isso, Sahar? -- ficou com vergonha -- Com que cara eu vou chegar aí com mais três pessoas? É muita exploração!

 

 

--Não é nada! -- retrucou -- Seus pais e Khadija ficam no meu quarto, porque você sabe que minha cama é de casal, e quanto à você e eu... -- analisava possibilidades -- Podemos dormir na sala ou então... -- falou mais baixo -- numa barraca de camping pra ter privacidade... Tenho certeza de que você deve ter uma barraca....

 

 

--Tenho duas.

 

 

--Então? Traz uma? -- propôs -- Dá bem pra montar ela no quintal...

 

 

--Sahar, não pode isso! -- arregalou os olhos -- Além do mais não dá pra ser assim na sua casa, é falta de respeito! Tem ya Leda, usritii (minha família)...

 

 

--A gente só vai dormir, Zinara! -- esclareceu -- E eventualmente... -- esticou o pescoço olhando na direção da cozinha para ver se Leda ouvia -- dar uns poucos beijinhos. -- cochichou

 

 

--Não provoca a caipira que é pecado! -- brincou

 

 

--A caipira é que já tá pensando besteira, isso sim! -- respondeu dengosa -- Aceita, vai? -- pediu

 

 

Após pensar por alguns segundos, acabou cedendo. -- E dá pra dizer não? Tá decidido! -- sorria -- O coração tá até batendo mais forte! -- pôs a mão no peito -- Ave Maria!

 

 

--Ótimo! -- comemorou dando pulinhos -- Agora marque tudo certinho com seus pais e depois entre em contato pra gente saber quando vocês chegam!

 

 

--Aywah! (Sim!) -- balançou a cabeça concordando -- Ligo pra maama agora mesmo!

 

 

--Então tá. -- caminhou pela sala -- Tchau, minha querida! Rahimaka Allah! (Deus te abençoe!)

 

 

--Ai, que linda! -- ficou toda prosa -- Rahimaka Allah, ya habibi! -- sorria abobalhada -- Behebbik ya, Sahar! (Eu te amo, Amanhecer!)

 

 

--Também te amo, querida! -- suspirou -- Tchau. -- desligou o telefone

 

 

--Eu vou ficar de olho, viu, menina? -- Leda advertiu da cozinha -- Nada de pouca vergonha nessa casa! Não quero saber de ninguém acasalando aqui!

 

 

--Acasalando, veja só... -- reclamou e acabou rindo pouco depois -- E a gente nem acasala... -- respondeu baixinho para si mesma -- Ai, ai... -- sorria

 

 

E em Cidade Restinga, Zinara dançava abraçada ao telefone.

 

 

***

 

 

Cumprindo com sua promessa, o ciberagente Edgar Scowben havia acabado de revelar ao mundo boa parte do material sigiloso que mantinha em seu poder. Na sequência, o repórter Dimitrius e seu colega da Saxônia fizeram grande alarde quanto às questões envolvendo Terra de Santa Cruz e todos os mais importantes jornais do planeta noticiavam as denúncias em primeira página.

 

 

--Isso não podia ter acontecido em época melhor, doutora Jamila! -- Hamatsu exclamou empolgado -- Seu amigo Dimitrius fez um link perfeito entre as denúncias de Scowben e as minhas! -- sorria feliz -- O caso ganhou projeção internacional!

 

 

--Eu já sabia que isso ia acontecer. -- estava radiante -- Dimitrius me avisou que seria assim mas me pediu pra guardar segredo. -- sorriu -- Um brinde, doutor Hamatsu! -- levantou a tulipa de chope -- Podemos voltar pro lar doce lar!

 

 

--Tintim! -- brindaram -- Graças a Deus! -- bebeu um gole de chope -- Eu já não agüentava mais viver escondido!

 

 

--Nem me fale! -- revirou os olhos e bebeu um gole também

 

 

--Até a nossa empresa de petróleo foi espionada, veja só! -- deu um tapa na mesa -- Ninguém mais poderá dizer que advogo pela teoria da conspiração! Tá tudo exposto pra quem quiser ver! -- pausou brevemente -- E nenhum louco vai tentar nos matar depois dessa! Seria um escândalo absurdo demais, além do que, um crime desnecessário! -- olhava para a advogada -- Scowben e Dimitrius expuseram as provas da espionagem e da exploração indevida desse país pro mundo todo!

 

 

--Pois é, e era com essa imunidade que eu contava! -- passou a mão nos cabelos -- Não sei como vai ser daqui pra frente, mas teremos segurança por um bom tempo!

 

 

--Ah, com certeza! -- sorria -- E eu tô cheio de planos! -- comentou entusiasmado -- Vou pra Capital e buscarei refazer minha vida por lá. Acho que é o melhor lugar pra eu viver em virtude das circunstâncias.

 

 

--E eu volto pra casa e pro escritório. -- bebeu mais um gole -- Finalmente!

 

 

--Acho que vou guardar essa folha de jornal até meus últimos dias! -- Eduardo olhava para o papel em suas mãos -- A denúncia do ciberagente que salvou minha vida! -- sorria -- E agora, depois de tudo isso, pretendo recuperar o tempo perdido! -- olhou para a jovem novamente -- Obrigada, doutora! Bendito o dia em que decidi procurá-la! -- agradeceu com olhos marejados -- Após anos vivendo num inferno, graças a sua ajuda eu me sinto livre! Posso ter sido obrigado a me esconder, mas algo me diz que minha vida recomeça e eu lhe devo isso! -- derramou uma lágrima -- Muito obrigada!

 

 

--Ei, sem choro, por favor! -- respondeu envergonhada -- Eu quis encarar o caso, sofri as conseqüências e não me arrependo de nada. -- pausou brevemente -- Acho que coisas assim é que fazem a vida valer a pena! -- sorriu -- Gente honesta e honrada como o senhor, doutor Hamatsu, faz a vida valer a pena! -- deu mais uma batidinha no copo dele

 

 

--Seja muito feliz, doutora! -- desejou com sinceridade -- Seja muito feliz, porque sem dúvida é merecido!

 

 

--Vou me esforçar pra isso... -- respondeu pensativa -- E seguir o seu exemplo! -- bebeu um gole de chope -- Tá mais que na hora de recuperar o tempo perdido...

 

 

***

 

 

Amina e Leda proseavam no LivrodasFuça.

 

 

Siriema: Eu vô andá uns dia sumida, mais num istranhi, não!

 

Siriema: É qui nóis tomemu uma dicisão aqui im casa e vamo passá uns tempo fora, num sabe?

 

DonaBord: Também vou sumir um pouco porque vou precisar dar atenção a umas pessoas

 

DonaBord: Mas depois eu volto! ;)

 

Siriema: E eu! ;)

 

Siriema: Ó

 

Siriema: Quiria pidí uns conselhu pra sinhora purque discunfiu qui vô cunhicê a moça qui minha fia gosta

 

DonaBord: Ih! É a namorada dela?

 

Siriema: Num sei si elas namora, mas qui minha fia gosta dela eu notei qui gosta, num sabi?

 

Siriema: Eu vô bem oiá nus zóio dela pra vê si presta! E nu mais num sei o qui fazê!

 

DonaBord: Presta atenção pra ver se é malvada ou pistoleira!

 

DonaBord: E eu já lhe ensinei como é isso!

 

Siriema: Eu sei. Tumei atenção quandu a sinhora falô!

 

DonaBord: No mais, disfarça pra ninguém perceber o que se passa. A gente não quer expor nossas meninas, não é?

 

Siriema: Anêim!

 

DonaBord: E se você gostar da moça, diga isso. E se perceber alguma coisa errada ou estranha na tal, adverte sua menina!

 

Siriema: Tá bão!

 

Siriema: E eu digu mesmu, num sabi? Oiandu nus zóio, fuça cum fuça!

 

DonaBord: É isso aí! Você é das minhas!

 

DonaBord: Vou sentir sua falta, minha amiguinha!

 

DonaBord: Gosto de você!

 

 

--Najla, -- Amina chamou -- cadê aqueli cachorrinhu balançandu o rabu qui ocê colocô aqui nus emôxu?

 

 

--Tá aqui, olha só. -- apareceu no quarto e aproximou-se do laptop para mostrar

 

 

--Vô mandá pra minha amiga! -- clicou

 

 

--Clarice! -- Leda chamou -- Vem ver que cachorrinho lindinho que Siriema me mandou!

 

 

--Cadê? -- aproximou-se para ver -- Ai, que fofo! -- sorriu

 

 

--Eu quero um! -- olhou para a filha -- Onde tem pra eu colocar aqui?

 

 

--Ih, mamãe, não sei! -- beijou a cabeça da idosa -- Pergunta pra Siriema onde foi que ela arrumou. -- afastou-se e voltou a trabalhar -- Vocês entendem muito mais de LivrodasFuça do que eu!

 

 

--Humpf! -- fez um bico -- Essa menina só entende mesmo é de oceano! -- resmungava

 

 

DonaBord: Onde você arrumou esse cachorrinho aí? Também quero!

 

Siriema: Foi Qamar Celesti qui mi deu essis bichu!

 

Siriema: Peraí!

 

 

--Ô, Najla! -- chamou de novo -- Ondi foi qui ocê achô essis bichinhu?

 

 

--Foi Aisha que me deu. -- respondeu da sala -- Nem desconfio como foi que ela achou.

 

 

Siriema: Isso é coisa di Beryta, uma di minhas amiga di LivrodasFuça.

 

DonaBord: Eu não conheço ela, não.

 

Siriema: Ih, mais é moça boazinha pur dimais da conta! Qué sê amiga dela?

 

DonaBord: Eu quero!

 

Siriema: Vô sugerí intão! -- foi no perfil de Aisha e sugeriu a amizade

 

 

--Najla, sugeri Aisha pra sê amiga di Dona Burduada! -- comunicou -- O qui ocê acha? Fiz mar?

 

 

--Aisha e Dona Bordoada? -- achou graça e foi até o quarto novamente -- Imagine essas duas juntas! Vai ser divertido! -- sorria para a cunhada -- Aliás, você e Dona Bordoada já formam uma dupla do barulho!

 

 

--Eu gostu dela dimais da conta, num sabi? -- olhava para Najla -- Quiria cunhicê essa muié!

 

 

--Quem sabe um dia? -- piscou para a outra e voltou para a sala -- A vida tá sempre surpreendendo a gente, né mesmo?

 

 

***

 

 

Cátia estava aflita com a tonelagem de trabalho acumulado em sua mesa. Suas ousadias custaram-lhe caro e agora ela sentia a falta do tempo que usou para ir de última hora no congresso mundial, bem como para correr atrás de Clarice de outras vezes e sem sucesso.

 

 

--Como é que eu vou dar conta de tudo isso? -- coçou a cabeça -- Que merd*... -- reclamou ao se levantar -- Respira fundo, mulher, e se organiza! Nem que você tenha que sair daqui todo dia depois da hora, vai resolver essas demandas todas sem perder os prazos! -- falava sozinha -- Ou eu não me chamo Cátia Magalhães! -- gesticulou

 

 

Olhou para a própria mesa novamente e viu o retrato de Clarice. Uma pontada de tristeza alfinetou seu coração.

 

 

--Tenho que tirar isso daqui. -- pegou o porta retratos -- É castigo demais... -- abriu uma gaveta e o colocou lá dentro -- Mas isso não quer dizer que desisti de você, viu? -- olhou para a foto antes de fechar a gaveta -- Eu te amo, não te esqueço e não vou desistir! -- suspirou

 

 

--Com licença? -- uma voz de mulher despertou-a de seus pensamentos -- Professora Cátia?

 

 

A loura olhou para a porta e deu de cara com uma bela mulata que lhe sorria. “Gente, que deusa é essa?” -- pensou ao sorrir também -- Olá, querida! Sou eu mesma. -- aproximou-se -- Vem, entra, fica à vontade. -- convidou

 

 

--Obrigada. -- entrou timidamente

 

 

--Senta? -- pediu -- "Que gostosa!” -- pensou cheia de volúpia

 

 

--Não, obrigada. -- agradeceu -- Serei rápida e não quero incomodar. -- olhava para a geofísica -- Meu nome é Vanessa e eu sou geofísica recém formada pela Universidade Federal do Forte. -- não tinha coragem de manter o olhar sobre a outra -- Minha família vem morar aqui em São Sebastião e...

 

 

--Sim! -- ouvia com atenção

 

 

--A senhora é muito conhecida e respeitada na área, então eu... pensei em procurá-la pra...

 

 

--Fazer o mestrado comigo! -- completou a frase da outra

 

 

--E não é? -- olhou envergonhada para a loura -- Eu ainda vou me inscrever no programa, só que queria saber se a senhora poderia me orientar ou se já tem muitos alunos, se tá lotada...

 

 

--Lotada?! -- franziu o cenho -- Que negócio é esse de lotada, menina? -- protestou -- Cátia Magalhães é professora com P maiúsculo, não é Kombi! -- gesticulou revoltada

 

 

Vanessa ficou sem graça. -- Desculpe, professora Cátia, eu não queria ofender, não, Ave Maria. -- não sabia o que fazer com as mãos -- É que eu queria saber, antes de qualquer coisa, se a senhora teria disponibilidade e interesse em me pegar...

 

 

--Ah, se tenho! E como tenho! -- respondeu imediatamente -- Tô doida pra te pegar! -- pensou no que falou e se arrependeu -- "Ouve o que você tá dizendo, criatura!” -- pensou se recriminando -- Se você for aprovada no processo seletivo, -- falou em um tom mais sério -- eu te oriento, sim! -- balançou a cabeça -- E comigo não tem isso de lotada! Uma pesquisadora que se preze, honra os títulos que tem! -- falou com decisão -- Não lota como se fosse uma Kombizinha qualquer!

 

 

--Ai, que bom! -- sorriu entusiasmada

 

 

--Mas não se anime muito, não, moça. -- caminhou brevemente pela sala -- Sou muito exigente com meus alunos e comigo o estudante tem que ralar!

 

 

--Comigo não tem aperreio, professora! -- continuava empolgada -- Sempre fui estudiosa e trabalhadeira! Tô doida pra ralar com a senhora!

 

 

“Não provoca, menina, não futica a pantera!” -- pensou -- Bom saber, porque sou mesmo exigente. -- sentou-se na beirada da mesa e cruzou os braços -- Passo várias tarefas e peço muitas coisas.

 

 

--O que a senhora me pedir eu dou! -- respondeu de pronto

 

 

“A gente quer falar sério, mas ela induz à sacanagem...” -- pensou criticando a jovem

 

 

Sem saber o que mais dizer, Vanessa decidiu ir embora. -- Foi um prazer, professora. Se Deus quiser, serei aprovada no processo e dentro em breve a senhora terá uma nova aluna! Sou sempre muito disposta a aprender, tenha certeza!

 

 

“E eu já tô doidinha pra te ensinar um monte de coisa boa...” -- sorriu novamente. -- Boa sorte, querida!

 

 

--Tchau e obrigada! -- caminhou até a porta, deu tchauzinho e partiu

 

 

--Tchau... -- respondeu olhando a outra de cima a baixo -- Calma, Cátia, tem que manter a ética da coisa. -- aconselhava-se -- Se ela tiver competência e currículo pra passar no processo, ainda assim será sua orientada por um prazo de dois anos e meio. -- conjecturava -- E nesse meio tempo você tem que ser simplesmente orientadora dela, não pode levar pra cama... Depois disso é que dá pé. -- suspirou e se levantou -- Não se deixe levar pelo desejo porque trabalho e prazer são coisas diferentes e não devem se misturar! Suas decisões aqui dentro têm que ser sempre sérias! -- abriu a gaveta e olhou novamente para a foto de Clarice -- Viu o que você fez comigo? -- falava para imagem -- Antes de te conhecer eu não era tarada assim! -- fechou a gaveta de novo -- Simbora trabalhar, Cátia! Esquece mulher e foca no trabalho que é a melhor coisa que você faz! -- sentou-se diante do computador -- Mas que aquela Vanessa tem cada coxão delicioso, isso tem! -- sorriu ao se lembrar da jovem -- E uma bunda...

 

 

 

CAPÍTULO 50 – O Papa, O Pai

 

 

Após alguns pequenos tumultos e ligeiras confusões, Zinara e sua família acabavam de chegar na casa de Clarice. A paleoceanógrafa e sua mãe vieram juntas abrir o portão.

 

 

Raed tirou o chapéu e saudou respeitoso: -- As-Salamu Alaikum! (Que a paz esteja convosco!) -- as mulheres de sua família abaixaram a cabeça

 

 

--Alaikum as-Salaam! (E a paz também convosco!) -- Clarice respondeu para todos -- Entrem, por favor! -- deu passagem

 

 

“Ela aprendeu direitinho!” -- Zinara pensou orgulhosa e piscou discretamente para a amada, que lhe sorriu

 

 

--Como é que você sabia que era pra dizer isso? -- Leda perguntou em voz baixa com o canto da boca

 

 

Raed entrou na frente seguido por Amina e Zinara, que vinha de mãos dadas com Khadija. O grupo parou diante da porta da casa.

 

 

--Podem entrar. -- Leda falou ao se aproximar

 

 

--Ya Leda, Clarice, permitam-me apresentar usritii (minha família)! -- pediu formalmente -- Estes são abuuya (meu pai) Raed, ommii Amina e a pequena Khadija. -- sorriu ao indicar cada um deles -- Baba, maama, -- olhou para os pais -- estas são ya Leda e Clarice.

 

 

--Cum todu respeitu, ya Leda! -- Raed fez uma reverência e beijou a mão da idosa -- Sua bença! -- pediu

 

 

--Deus te abençoe. -- não esperava por aquilo

 

 

--Sua bença, ya Leda! -- Amina agiu como o marido

 

 

--Deus te abençoe também, minha filha. -- respondeu meio sem jeito

 

 

--A bença, ya Leda! -- Khadija pediu toda séria

 

 

--Ah, mas que gracinha! -- a idosa sorriu e se curvou para beijar a cabeça da menina -- Deus te abençoe, meu benzinho! -- olhou para Zinara -- E abençôo você também porque sei que vai me pedir isso! -- pôs as mãos na cintura -- Pode entrar gente, tá todo mundo abençoado! -- convidou

 

 

A astrônoma achou graça e beijou a mão de Leda.

 

 

--Vamos entrando! -- Clarice pediu mais uma vez -- É um prazer tê-los aqui! -- olhou para Zinara e sorriu -- E Khadija é linda! -- deu um tchauzinho para ela, que sorriu encabulada

 

 

--O prazer é todo nosso! -- a astrônoma respondeu com um sorriso bobo nos lábios

 

 

Clarice suspirou.

 

 

“Eita, lambição...” -- Leda pensou achando graça

 

 

Raed agradeceu sorridente e entrou seguido pelas mulheres. Leda e Clarice vieram atrás.

 

 

--Ô, Clarice, -- Leda cochichava com a filha -- que tanta bolsa é essa que esse povo trouxe? -- estranhava -- Eles ficam aqui até quando?

 

 

--Fala baixo, mamãe, eles podem ouvir! -- ralhou -- Que eu saiba não ficam por muito tempo, mas sei lá porque vieram com tanta bolsa. -- observava intrigada também

 

 

--Ya Leda, Clarice, -- Raed olhava para as duas -- nóis trôxemu uns presenti módi mostrá nossa gratidão pelu pouso aqui, num sabi?

 

 

--Que é isso, não precisava! -- a professora retrucou educadamente -- Vocês fizeram uma viagem tão longa, não deviam ter se preocupado com isso!

 

 

--Trôxemu umas saquinha di arrois, fejão, batata doci, mio... -- o homem falava mostrando o carregamento

 

 

Leda ficou boquiaberta.

 

 

--Trôxemu uma galinha caipira, -- Amina mostrou o bicho enrolado num jornal -- piqui, pra eu fazê a galinhada guayana, uns vidrinhu di moio... -- pegou um vidro -- É moio bão à moda di Cedro! -- mostrou toda prosa -- Bhar (pimenta síria), summac, zattar (dentre outras coisas, temperos para carnes), tomilhu secu, cuminhu, ... -- pegou outro vidrinho -- E mahlab (usa-se para fazer doces) im pó, mais maa’ ward (água de rosas) pra fazê a carda du doci!

 

 

--Dos nomes que ela falou, só conheço galinha e cominho. -- Leda cochichou para a filha, que se controlou para não rir

 

 

--E tem mais, ói! -- Raed mostrou outra bolsa -- Doci di piqui, bolo di mio... -- continuava citando -- E tem as fruta: tem gariroba, cagaita, araticum, buriti, curriola...

 

 

--Nossa! -- Clarice não conhecia aquelas frutas

 

 

--Eu trouxe goma pra fazer tapioca, feijão verde, queijo coalho, um quilo de lagostinha congelada, umas cocadas, bolinho de rolo... -- Zinara mostrou seus pacotes

 

 

Leda arregalou os olhos extasiada. -- Mas que maravilha! -- sorria animada -- Tem comida de todo tipo!

 

 

--Meu Deus, eu nem sei o que dizer! -- Clarice estava impressionada

 

 

--É a tradição. -- a astrônoma esclareceu -- Não podíamos vir pousar na sua casa sem trazer presentes!

 

 

--Di jeitu manêra! -- Amina concordou com a filha -- Num pódi chegá di mão vazia, não, uai!

 

 

--Sinão era vergonha pra nóis! -- Raed explicava -- Mar educação!

 

 

--Ô tradição boa, viu? -- a idosa estava eufórica -- Vamos indo pra cozinha pra dar destino certo pra isso tudo aí!

 

 

--Mamãe!! -- ralhou envergonhada

 

 

--Clarice, respeite a tradição alheia! Ai, ai, ai! -- repreendeu a filha -- Pra cozinha, minha gente! -- acenou chamando seus convidados -- Todo mundo comigo!

 

 

--Ya Leda, -- Khadija estendeu um pequeno buquê de caliandras -- eu truxi flô pra sinhora!

 

 

--Ela mesma qui coieu! -- Amina comentou orgulhosa

 

 

--Mas até criança me dando presente! -- recebeu o buquê toda prosa -- Obrigada, meu amorzinho! Eu adorei você, sabia? -- beijou a cabeça da menina mais uma vez -- Vem pra cozinha comigo! -- foi andando de mãos dadas com ela -- Clarice, ajuda a eles a carregar esse peso e vem também! Trabalha, mulher!

 

 

--É mole? -- resmungou indignada

 

 

Zinara seguiu levando o peso pesado junto com seus pais.

 

 

--Deixa eu ajudar, gente! -- Clarice correu até eles e pegou duas sacas -- Minha nossa! -- exclamou em choque -- Que coisa pesada! -- não conseguia levantá-las do chão

 

 

***

 

 

--Seu Raed e dona Amina vão ficar no meu quarto com Khadija. -- Clarice dizia -- Eu já deixei uma parte do meu guarda roupas vazia e vocês podem usá-la à vontade. -- abriu o armário e mostrou -- As roupas de cama estão ali -- apontou -- e também tem sabonete pra cada um. -- sorriu para eles

 

 

Estavam todos no quarto da morena.

 

 

--Ô, minha fia, muitu agradicida! -- Amina respondeu encabulada -- Nóis num quiria dá trabaio, não, uai!

 

 

--Tirá ocê di sua cama... -- Raed comentou envergonhado

 

 

--Tem ursinhu! -- Khadija apontou para o bicho de pelúcia

 

 

--É pra você dormir, meu bem. -- entregou o urso nas mãos da menina -- E não é incômodo algum, por favor! -- olhou para o casal -- Só quero mesmo que fiquem à vontade!

 

 

--Cumé qui si fala, minina? -- Amina olhou para a neta

 

 

--Brigada, tia Claíce! -- agradeceu

 

 

--De nada, meu amor. -- beijou a cabeça da menina

 

 

--E ocê vai dormí onde? -- Amina perguntou intrigada para sua anfitriã

 

 

--Ah... -- passou a mão nos cabelos e olhou de relance para a astrônoma -- Não se preocupe, dona Amina. -- sorriu para ela -- Eu durmo em qualquer lugar...

 

 

“Hum... muito suspeito esse sorrisinho de canto de boca!” -- Leda pensou desconfiada -- Zinara pode dormir no meu quarto. -- ofereceu -- Eu fico na sala com Clarice.

 

 

--Não, ya Leda, que é isso? -- retrucou respeitosa -- Não posso tirar a senhora de sua cama!

 

 

--E num podi, não! -- Amina interveio -- Ai docê, qui dêxi uma sinhora sem cama, viu, Zinara? -- ralhou dando um tapinha no braço da filha

 

 

--Ai docê! -- Raed deu força

 

 

--Mas eu posso dormir fora do meu quarto! -- a idosa argumentou -- Também não tô tão carcomida assim, né, gente? -- protestou

 

 

--Eu não posso permitir isso. -- balançou a cabeça negativamente -- Durma no seu quarto, ya Leda, por favor. -- olhava para a idosa -- E de mais a mais eu trouxe minha barraca de camping pra dormir lá fora, no quintal.

 

 

--Trouxe?? -- Clarice quase pulou de alegria

 

 

“Hum, que negócio é esse aí?” -- Leda continuava desconfiada -- "Sinto cheiro de sacanagem no ar!”

 

 

A morena percebeu a desconfiança da mãe e disfarçou: -- Muito bem lembrado, Zinara. -- comentou com seriedade -- Na sala você não teria muita privacidade. É lugar de entra e sai, né?

 

 

--Eu conheço bem o esquema do entra e sai... -- a idosa resmungou semi cerrando os olhinhos

 

 

--Vou aproveitar que não tá mais chovendo e vou lá fora montar a barraca. -- a astrônoma pegou uma bolsa -- Trouxe lona e tudo!

 

 

--Eu te ajudo! -- a paleoceanógrafa se ofereceu -- Nossa, é uma barraca grande! -- reparou na bolsa

 

 

--Pra quatro pessoas. -- Zinara esclareceu

 

 

--Ah, então... -- pegou a bolsa das varetas da barraca -- Durmo com você... Acampo com você, quero dizer. -- afirmou com ar de ingenuidade -- Ficar dormindo sozinha numa barraca dessas deve ser muito chato! Se ainda fosse numa montanha bonita, podia ser bom, mas no meu quintal...

 

 

--Sei... -- Leda balançava a cabeça descrente daqueles argumentos

 

 

--Eu dumo cum camma (tia paterna) Zina também! -- Khadija se ofereceu

 

 

--Nada dissu! -- o avô discordou -- Ocê dormi aqui mais nóis!

 

 

--Ocê vai durmí mais nóis, minina! -- a avó discordou também

 

 

--Eu tô logo ali, habibi. -- foi até a menina e curvou-se para abraçá-la e beijá-la -- Amanhã você vai lá fora me dar bom dia! -- sorriu para ela -- Tá bom, ya gamil (sua linda)?

 

 

--Tá! -- beijou a tia -- Basnoiti!

 

--Boa noite, albii (meu coração). -- beijou a criança novamente, ficou ereta e olhou para Clarice -- Vamos indo? -- chamou -- Boa noite, maama, baba e ya Leda. -- cumprimentou a todos

 

 

--Basnoiti! -- os pais responderam em coro

 

 

--Boa... -- Leda só olhava

 

 

Zinara e Clarice saíram do quarto e foram direto para o quintal.

 

 

--AHHa, -- reclamou -- esqueci do saquinho de specs! -- a astrônoma constatou enquanto desembrulhava a barraca

 

 

--Que é isso, meu bem? -- não sabia

 

 

--Aquelas varetinhas que a gente finca no solo pra prender a barraca. -- esclareceu -- Coloquei elas num saquinho roxo e tava com ele na mão. -- mexia nas bolsas -- Onde deixei?

 

 

--Eu vi um saquinho roxo no sofá. -- lembrou-se -- Espera aí que eu vou buscar.

 

 

--Obrigada, Sahar. -- soprou um beijinho para ela -- Enquanto isso vou arrumando tudo aqui.

 

 

--Já volto, meu bem. -- soprou um beijinho também e foi para a sala. Rapidamente encontrou o saquinho -- Eu sabia que tinha visto isso aqui! -- pegou-o

 

 

--Ei! -- Leda apareceu na sala -- Que negócio é esse de dormir em barraca no quintal, hein? -- cruzou os braços -- E logo por essa época, que tem chovido tanto?

 

 

--Ah, mamãe, se Zinara dormisse aqui não teria conforto nem privacidade. -- argumentou -- Tampouco eu. -- passou a mão nos cabelos -- Se ela trouxe uma barraca grande e impermeável e ainda se lembrou de trazer lona pra forrar no chão, qual o problema?

 

 

--Eu podia dormir na sala contigo sem frescura nenhuma! -- argumentou

 

 

--A senhora não me disse pra respeitar a tradição alheia? -- foi até a idosa e beijou-lhe a testa -- Tô respeitando! -- preparou-se para sair

 

 

--Humpf! -- fez um bico -- Clarice! -- chamou e a filha se virou para olhar -- Eu não quero ouvir nem um ‘ai meu Deus’, tá? -- advertiu -- Se for pra acasalar, morde a fronha pra não fazer barulho! -- recomendou e se dirigiu para seu quarto -- Fui!

 

 

--Morde a fronha? -- achou graça -- É mole? Ô, velhinha danada! -- voltou para junto de Zinara

 

 

***

 

 

Zinara estava deitada de lado observando Clarice, que ainda dormia. Fazia um delicado carinho nos cabelos dela. Estavam de frente uma para a outra.

 

 

--Hum... esse carinho tá tão gostoso... -- comentou com os olhos fechados -- Nem dá vontade de acordar... -- fez um dengo

 

 

--SabaaH il-kheer, Sahar! (Bom dia, Amanhecer!) -- cumprimentou gentilmente

 

 

--SabaaH in-nuur, habibi! (Bom dia, querida!) -- abriu os olhos e sorriu

 

 

Beijou-a orgulhosa. -- Eita, que ela já aprendeu um monte de coisa na língua de Cedro! -- beijou-a mais uma vez -- Que lindo!

 

 

--A professora é boa! -- aproximou-se mais e puxou a astrônoma pela gola do pijama -- E a aluna se dedica muito... -- beijaram-se demoradamente

 

 

--Tava louca pra ficar assim com você, Sahar. -- puxou-a pela cintura -- Tão cheirosa... -- deslizou o nariz pelo pescoço dela -- Macia... -- mordeu-lhe a orelha

 

 

--Ai... -- arrepiou-se -- Pára... -- beijou-a

 

 

--Manda parar e me beija? E agora, o que fazer? -- fingiu-se na dúvida

 

 

--Te... ajudo... a saber! -- respondeu entre beijos e sorriu -- Que horas são, amor?

 

 

--Ainda é bem cedo, mas daqui a pouco Khadija virá nos dar bom dia. -- acariciava o rosto da amada -- Criança da roça acorda cedo; pelo menos as que eu conheço. -- comentou -- Vamos esperar ela chegar, senão a bichinha fica triste. Ela é muito ligada comigo.

 

 

--Eu notei. -- acariciava o braço de Zinara -- Mas como não gostar dessa caipira, hein? -- mordeu o lábio inferior da outra

 

 

--Não provoca a caipira que é pecado! -- brincou e rapidamente mudou as posições deitando-se por cima da paleoceanógrafa -- Não provoca! -- beijou-a

 

 

--Hum... -- envolveu o pescoço da astrônoma com os braços -- É a caipira que tá me provocando agora! -- respondeu melosa

 

 

--Enti akher hob... (Você é meu último amor...) -- cantou baixinho -- Enti hayati we ebtisamati... (Você é minha vida e meu sorriso...) -- beijou-a rapidamente -- We enti al noor we li aini we albi... (E você é minha luz e os olhos e o coração...) -- continuava cantando

 

 

--Eu não entendo nada, mas acho lindo! -- beijaram-se languidamente

 

 

--camma Zina! -- uma voz de criança chamou do lado de fora -- Tia Claíce!

 

 

Interromperam o beijo. -- Olha minha lindinha aí! -- Zinara falou ao sorrir -- Vou abrir a portinha pra você, habibi. -- respondeu em voz mais alta para a menina ouvir -- Deixa eu sair dessa posição maravilhosa! -- beijou Clarice novamente e se sentou

 

 

--Tô adorando essa visita do Papa, sabe? -- brincou e se sentou também

 

 

Zinara abriu o fecho da barraca e Khadija pulou para dentro agarrada com o urso de pelúcia.

 

 

--Bom dia, minha florzinha! -- abraçou a menina e beijou o rosto dela várias vezes -- Linda da camma!

 

 

--Bão dia, camma Zina! -- beijou o rosto da morena e abraçou-a pelo pescoço

 

 

--E eu? -- Clarice fingiu uma cara feia -- Não ganho beijo e abraço, não é? -- pôs as mãos na cintura

 

 

--Vai lá abraçar a tia, meu bem! -- deu um tapinha no bumbum da criança

 

 

--Bão dia, tia Claíce! -- abraçou a outra pelo pescoço e beijou o rosto dela

 

 

--Bom dia, minha menina linda! -- beijou a cabeça de Khadija --Dormiu bem, queridinha?

 

 

--Domí. Eu e mais meu ússo! -- mostrou o bichinho

 

 

--Ah, e já é seu, é? -- Zinara perguntou achando graça -- Vem cá, ya habibi, senta aqui no colo da camma! -- pediu e ela obedeceu

 

 

--É meu ússo, né, tia Claíce? -- olhou para a paleoceanógrafa

 

 

--É sim, minha querida. -- afirmou carinhosamente -- Eu dei de presente pra ela, Zinara. -- apertou levemente a bochecha da criança

 

 

--Viu? -- a menina falou vitoriosa

 

 

--Clarice! -- Leda chegava no quintal -- Tá vestida, menina? -- perguntou ao se aproximar

 

 

--Ih! -- Zinara acabou rindo -- "Tem base uma pergunta dessa?” -- pensou divertida

 

 

--Claro, mamãe, que é isso? -- retrucou envergonhada

 

 

--Tem que saber, né? Olha o exemplo pras criança! -- abaixou-se para olhar dentro da barraca -- Depois da estupradora da terceira idade e sua ousadia insana, não duvido de mais nada!

 

 

--AHHa, mas quem é essa, afinal, hein? -- perguntou intrigada

 

 

--Cátia. -- respondeu em voz mais baixa -- Depois te explico melhor!

 

 

A astrônoma riu gostosamente.

 

 

--Levantem daí que Amina já montou um verdadeiro banquete de café da manhã! -- afirmou satisfeita -- E antes de sair pra ver o Papa, Raed quer calcular o quanto de tinta e material que precisa pra pintar o muro dessa casa.

 

 

--Ele quer pintar nosso muro?! -- chocou

 

 

--Deixa, querida. -- pediu com delicadeza -- Se não deixar, baba vai se ofender.

 

 

--Respeita a tradição, minha filha! -- Leda ordenou ao se levantar -- Khadija, vem com a vovó pra tomar café! -- chamou

 

 

--Vamo, camma? Vamo, tia Claíce? -- levantou-se

 

 

--Yaalah! (Vamos lá!) -- Zinara se ajoelhou e olhou para a outra mulher -- Vamos, Sahar? Baba, Khadija e eu ainda temos um Papa pra visitar hoje! -- brincou e saiu da barraca com a sobrinha

 

 

--É... o dia promete! -- saiu engatinhando

 

 

***

 

 

Jamila aguardava no corredor do prédio onde se localizava o consultório de Cláudia. Era por volta de meio dia e a médica preparava-se para ir almoçar.

 

 

--Você por aqui? -- estranhou -- Há quanto tempo. -- estava desconfiada

 

 

--Imaginei que sairia pra almoçar por essa hora. -- respondeu naturalmente -- Será que posso te fazer companhia? -- propôs

 

 

--Pode. -- deu de ombros e apertou o botão do elevador -- Tá famosa, hein? -- olhou para a advogada -- Te vi na televisão por conta do caso Scowben – Hamatsu.

 

 

--E foi graças àquele escândalo todo que eu pude voltar pra casa. -- a porta do elevador abriu e elas entraram -- Tudo vai bem com você? -- perguntou para ser educada

 

 

--Graças a Deus e com você? -- agiu da mesma forma

 

 

--Vida entrando nos eixos. -- a porta se abriu e elas saíram -- Onde você almoça? -- perguntou curiosa

 

 

--É no Comida natural. -- caminhavam -- É aqui perto.

 

 

--Influências de uma certa astrônoma? -- sorriu

 

 

--Por que não me pergunta logo o que quer saber? -- olhou de relance para Jamila -- Não veio me procurar por outra razão senão por ela. -- afirmou tacitamente

 

 

--Vamos almoçar primeiro. -- colocou os óculos escuros -- Tô com uma fome danada!

 

 

--Como preferir. -- colocou os óculos escuros também

 

 

***

 

 

--Então quer dizer que Zinara foi pra São Sebastião pra ver o Papa?! -- estava em choque -- Ezzai? (Como pode?)

 

 

--Fala minha língua, por favor? -- pediu impaciente -- E ela não foi ver o Papa, ela foi levar o pai dela pra ver o Papa! -- repetiu de cara feia o que já havia dito

 

 

--E por que ya Raed cismou com isso? -- não entendia -- Ele não sabe que São Sebastião tá pegando fogo com manifestações, repressão policial...?

 

 

--Eu só sei que graças a isso, tome de tempo de Zinara longe do tratamento! -- reclamou

 

 

Limpou os lábios com o guardanapo. -- Me espanta que tenham conseguido hotel! -- admirou-se -- A cidade deve estar lotada!

 

 

--Eles não estão em hotel. -- afirmou -- Foi todo mundo pra casa de Clarice! -- fez questão de dizer

 

 

--Choo?? (O que??) -- revoltou-se -- Pra casa do Tatuí com doutorado?? -- tirou os óculos escuros -- Mas já tão nessa fosquinha toda, é? Que fuleiragem da porr*! -- sobressaltou-se

 

 

Cláudia teve que rir. -- Ai, ai... -- limpou os lábios com guardanapo também -- Você achava o que, habibi? -- falou a última palavra com ironia -- Que minha amiga ficaria a vida toda a seus pés? -- olhava nos olhos da outra -- E quanto a Clarice, -- enfatizou o nome da professora -- ela soube dar valor a Zinara, coisa que você não fez! Aí, meu bem, -- sorriu -- danou-se!

 

 

Jamila ficou triste com o que ouviu e gastou uns segundos em silêncio até que resolveu perguntar abertamente: -- Você não gosta de mim, né? Aposto que comemora porque acha que Zinara me esqueceu!

 

 

--Eu sei muito bem o quanto que ela sofreu por sua causa! Não espere que torça por você! -- pegou a bolsa -- E aceite um conselho que não pediu: deixe Zinara em paz! -- pegou os óculos e colocou no rosto -- Ela encontrou uma pessoa adulta, que a ama de verdade, que a valoriza, que se identifica com ela! -- levantou-se -- Cuide da sua vida e deixe minha amiga ser feliz, porque ela merece. Mesmo que seja por pouco tempo! -- fez um gesto de cabeça -- Passar bem! -- retirou-se

 

 

--AHHa! -- reclamava consigo mesma -- Ah, não! -- franziu o cenho -- Ela não pode me trocar por aquela baixota! -- cruzou os braços -- Não agora que eu tô realmente disposta a dar uma guinada na minha vida! -- balançou a cabeça negativamente -- Eu vou lutar por você, Zinara Raed! Ah, se vou! -- prometeu

 

 

***

 

 

Clarice trabalhava no computador e tentava não se sentir agoniada. Percebia que Amina a olhava fixamente e isso lhe era incômodo. Estavam na sala enquanto Leda tomava banho. Zinara já havia saído com o pai e a sobrinha.

 

 

“Assim não dá!” -- parou de trabalhar e olhou para a outra -- Algum problema, dona Amina? -- perguntou com jeito

 

 

--Não. Tô sô analisandu ocê! -- semi cerrou os olhinhos

 

 

--Isso eu já notei, mas... por que? -- não entendia

 

 

--Purque sim, minina! -- levantou-se e chegou mais perto olhando nos olhos dela. Parecia estudá-la

 

 

--E agora, o que foi? -- sentiu até medo

 

 

--Tô oiandu nus teus zóio pra vê si ocê presta! -- respondeu naturalmente -- Hum... -- coçou o queixo

 

 

Clarice teve vontade de rir mas se conteve. -- E o que descobriu? -- estava curiosa -- Presto ou não?

 

 

--Ocê num mi pareci pistolêra anêim marvada. Tem us modu di boa moça! -- concluiu -- E gosta di labutá qui nem minha fia! -- olhou para o laptop da outra -- É feriadu di Papa e ocê só na labuta!

 

 

“Ela é igual mamãe com essa história de pistoleira e malvada!” -- pensou achando graça -- Sim, Zinara e eu nos parecemos em muitas coisas. -- concordou

 

 

--Ela gosta muito docê, qui eu sei! As mãe sempri sabi, num sabi? -- colocou as mãos na cintura -- Até quandu as fia num fala.

 

 

Sorriu satisfeita. -- Também gosto muito dela. -- abaixou a cabeça envergonhada -- Muito mesmo! Zinara é uma pessoa especial pra mim...

 

 

Amina se afastou e caminhou até a janela. Criava coragem para falar.

 

 

“E o que será dessa vez?” -- pensou preocupada

 

 

Respirou fundo e resolveu falar. -- Eu façu gostu! -- balançou a cabeça positivamente -- Eu façu gostu di minha minina mais ocê... -- não tinha coragem de olhar para a mulher mais jovem

 

 

--Ai, jura?? -- levantou-se empolgada -- Que maravilha, não sabe como fico feliz em ouvir isso! -- sorria

 

 

--Mais, ói! Raed nem discunfia qui... -- olhou para Clarice

 

 

--Eu sei! -- aproximou-se e segurou as mãos dela -- Fique tranqüila! -- falou com carinho -- Da mesma forma, só mamãe sabe de mim!

 

 

--O que vocês falam de mim, aí? -- Leda chegava na sala -- Vão contando tudo que eu quero saber! -- ordenou

 

 

--Não falamos nada de mais, mamãe. -- soltaram as mãos -- Bom, deixa eu voltar pro trabalho! -- caminhou até a mesa e novamente se sentou

 

 

--Eu dissi a tua fia, ya Leda, qui ela faz jeitu di boa moça qui nem minha minina! E eu façu gostu, num sabi? -- esclareceu sem entrar em detalhes

 

 

--Também gosto de Zinara! -- aproximou-se da outra -- É boa menina! -- falava com sinceridade -- Não é malvada e nem pistoleira! E eu já andava farta desse tipinho na vida de Clarice! -- revirou os olhos -- Só me aparecia tarada, era um inferno!

 

 

Amina ficou intrigada. -- Sabia qui pur um momentu ya Leda mi alembrô minha mió amiga di LivrodasFuça? -- olhava para a idosa

 

 

Leda também cismou. -- Ei, pensando bem... -- apontou para Amina -- Meu Deus! Não me diga que você é Siriema Flor?

 

 

--Uai?! -- arregalou os olhos -- Dona Burduada?? -- sorriu

 

 

--AHAHAHAHAHAH, eu não acredito! -- abriu os braços -- Abraça aqui, amiguinha!!! -- pediu animada

 

 

--Oba!! -- abraçaram-se pulando

 

 

--Ué?? -- Clarice olhava para elas achando graça -- Gente, que mundo pequeno!

 

 

--Eu não acredito que a gente finalmente se conheceu! -- Leda olhava para a outra -- Pôxa, que alegria! -- sorria feliz

 

 

--Pois é agora mesmu qui eu façu gostu nas nossa minina, uai! -- sorria também

 

 

--E eu!! -- concordou -- Vem comigo pro computador que quero te mostrar umas coisas que tô aprontando! Só post rebelde nessa fase de manifestações!

 

 

--Vamo! -- gostou da idéia -- Dona Burduada, dexa eu ti contá também! Discubri um jogu chamadu fazendim filiz e minha fazenda tem vaquinha, muínhu, lagu e um monti di trem plantadu!

 

 

--Ah, eu quero ver! -- foram indo para o quarto -- Me ensina a jogar isso?

 

 

--Insinu, uai! -- balançou a cabeça positivamente -- A sinhora vai aprendê im dois tempu!

 

 

--Clarice, fica quieta aí que a gente vai brincar no computador! -- advertiu -- Fui!

 

 

--Fui também! -- sumiram da visão da morena

 

 

--Gente, eu posso com isso? -- riu -- Ai, ai ... -- passou a mão nos cabelos -- E o bom de tudo é que minha sogra me aprova, mamãe aprova Zinara e as duas ainda ficaram amiguinhas! -- riu de novo -- E pensar que eu reclamei da visita do Papa... -- suspirou e voltou a trabalhar

 

 

***

 

 

Zinara, Raed e Khadija caminhavam com dificuldade pela orla do bairro de Princesinha do Mar. A morena carregava a sobrinha no colo com medo de perdê-la no meio da multidão.

 

 

--Oh, Aba (Meu Pai), nunca vi esse lugar tão cheio! -- exclamou estupefata -- Por que a gente não fica quieto num canto, baba? -- seguia o homem -- Pra onde ya said (o senhor) quer ir?

 

 

--Vem cumigu e fica atenta, minina! -- respondeu simplesmente

 

 

--Humpf! -- fez um bico e continuou seguindo o pai

 

 

Após algum tempo a multidão começou a se manifestar. O Papa surgiu com seu veículo rumo ao palco montado na beira da praia.

 

 

--É ele!! -- Raed exclamou empolgado -- Corri, Zinara, vamu arcançá o Papa! -- começou a correr

 

 

--Eita pau! -- correu atrás dele

 

 

--Rápido, camma Zina! -- Khadija incentivava -- Corri! -- estava adorando

 

 

“Criança gosta...” -- pensava -- "E eu que já não sou mais aquela pra ficar correndo atrás de Papa!” -- sentia dificuldade em correr se desvencilhando das pessoas e com a menina no colo

 

 

--Santu Papa!!!! -- Raed gritava -- Santu Papa!!! -- segurava algo -- Óia eu!!! -- pedia -- Óia!!!

 

 

Outras pessoas corriam também e muitas esbarravam em Zinara ou pisavam em seus calcanhares. A professora teve medo de cair no chão com a criança e ser pisoteada.

 

 

“Ave Maria, que eu só me meto em roubada!” -- tentava correr mais rápido

 

 

--Santu Papa!!! Santu Papa!!! -- continuava gritando -- Avi Maria!!

 

 

Devido ao grande número de pessoas que cruzavam a pista o carro do religioso reduziu um pouco a velocidade. Ele tentava dar atenção aos que o buscavam e mostrava-se solícito.

 

 

--Zinara! -- olhou rapidamente para trás e acenou para a filha -- Dá Khadija pru Papa!! -- ordenou -- Ele vai benzê ela!

 

 

--Oh, meu Pai, dai-me forças! -- tentava chegar mais perto -- AHHa, que esse carrinho não pára de andar! -- reclamou

 

 

--Corri, minina! Sebu nas canela, uai! -- acenava nervosamente

 

 

--Corri, camma! -- continuava se divertindo

 

 

--Oxi! -- reclamou -- Ya said (senhor) Papa! -- gritou -- Benze a menina, min fadlak (por favor)! -- os seguranças impediam que ela se aproximasse -- "E pára esse carro em nome do Pai!” -- já não agüentava mais correr

 

 

--Olha Zinara e seu Raed ali! -- Clarice levantou-se de um pulo, apontando para a TV

 

 

--São eles?? -- Leda se aproximou para ver melhor

 

 

--Corri, meu povu, corri! -- Amina levantou-se também -- Simbora, genti, corri cum fé!! -- estimulava batendo palmas -- Vai, vai!! Arre égua!!

 

 

“Ela fala igual quem vê corrida de cavalo!” -- Clarice pensou achando graça

 

 

--Me dá ela que eu apresento pra você! -- um dos seguranças do Papa propôs estendendo os braços

 

 

--Dá ela, Zinara! -- Raed gritava

 

 

--Vai com o moço, Khadija! -- entregou-a nas mãos do segurança e a menina se desesperou

 

 

--Zinara entregou a menina pro segurança do Papa! -- Clarice olhou para as outras mulheres

 

 

--Avi Maria! -- Amina pulava nervosa

 

 

--Não!!!!!!! Não!!!!!!! -- Khadija começou a chorar esticando os braços para segurar a tia -- Não!!!! camma!!! camma!!!! -- gritava

 

 

A morena sentiu um impacto ao vê-la daquele jeito. Corria mais devagar, pois estava sem forças, e em seu coração uma agonia a perturbava. -- Calma, habibi! -- falava sofregamente -- Você volta pra mim!!

 

 

--AHAHAHAHAHAH!!!!!!! -- Khadija se contorcia desesperada

 

 

--Nossa, a menina ficou desesperada! -- Leda observou -- Tadinha, ela não entende e tá com medo!

 

 

--Carma, minina! -- Amina gritava para a TV -- É pru teu bem!

 

 

--Carma, minina! -- Raed pedia sem entender a reação da neta -- O Papa vai ti benzê! -- explicava

 

 

O segurança não sabia o que fazer com a menina, que se contorcia e chorava demais.

 

 

--Calma, habibi.... -- Zinara pedia emocionada. Tentava correr mais rápido e sem sucesso -- Deixa o Papa te benzer!

 

 

Subitamente uma cena do passado lhe veio a mente.

 

 

“--Ya Leila!! -- a pequena Zinara segurou a mão dela -- Tacaalii! (Vem!) -- gritou

 

 

Os homens separaram as duas e Zinara sentia a dor dos golpes que recebia. De repente parecia-lhe que o mundo progredia em câmera lenta e não conseguia ouvir mais nada. Percebia o desespero de Leila e sabia que ela gritava, sem no entanto entender qualquer palavra.”

 

 

--AHAHAH!! -- a astrônoma gritou com os olhos marejados e tirou forças de onde não tinha para correr mais rápido e pegar sua sobrinha volta

 

 

--Dios te bendiga, niña! (Deus te abençoe, criança!) -- o Papa tocou a menina e sorriu para ela, fazendo o sinal da cruz

 

 

--Khadija!! -- a professora se aproximava

 

 

--Toma, senhora! -- o segurança devolveu-lhe a criança

 

 

Khadija se abraçou no pescoço de Zinara com força e continuou chorando. A professora parou de correr e também a abraçava apertado.

 

 

--camma Zina tá aqui, habibi! -- beijou repetidas vezes a cabeça dela -- Nunca vai deixar nada de mal te acontecer! -- tentava tranqüilizá-la -- Aquele homem é bom, ele não queria tirar você de mim. Ele só queria ajudar pro Papa te benzer, só isso. -- sentia que ela se acalmava -- Tá tudo bem... -- acariciava a cabeça dela

 

 

--Graças a Deus, o Papa benzeu Khadija!! -- Amina ajoelhou-se diante da TV -- Agora corri, homi, cumpri tua promessa! -- gritava para o marido

 

 

Leda e Clarice tinham pontos de interrogação na cabeça.

 

 

Enquanto isso, Raed tentava entregar uma fotografia ao Papa.

 

 

--Toma santu Papa!!! -- mostrava a foto -- Leva cum o sinhô, pur piedadi! -- pedia emocionado -- Tem pena di um homi ignoranti e pecadô!!

 

 

O Papa olhou para ele e pegou a fotografia dando um beijo nela. Fez o sinal da cruz e acenou para Raed.

 

 

--Lôvadu seja Deus! -- parou de correr exausto -- Leva ela cum o sinhô santu Papa... -- falava sozinho e sentindo o ar lhe faltar -- Pedi a Deus pur ela... -- pôs a mão sobre o coração -- Faz o milagri... -- tentava se recompor

 

 

--Consiguiu, consiguiu!!! -- Amina olhou para cima -- Lôvadu seja Deus!! Obrigada minha Virgi! -- agradeceu

 

 

--O que ele deu pro Papa? -- Leda perguntou intrigada

 

 

--Uma fotu! -- olhou para a Clarice e Leda ao se levantar com os olhos marejados -- Reza mais eu? -- pediu humildemente

 

 

--Claro, querida. -- a idosa segurou uma das mãos da amiga. Entendia aquele coração de mãe

 

 

Clarice também concordou e segurou a outra mão de Amina. -- Oremos. -- fechou os olhos

 

 

--Vamos procurar o giddu Raed? -- olhava para a menina -- Hein, Khadija? -- sorria

 

 

--Vamo. -- concordou balançando a cabeça

 

 

Continuava com Khadija no colo e seguiu caminhando atenta. -- E agora pra encontrar com ele no meio de tanta gente? -- mirou o carro do Papa bem mais adiante -- E já tá escurecendo... -- preocupou-se

 

 

--Giddu!!! Giddu!!! -- a menina gritava

 

 

--Baba!!! -- resolveu gritar também -- Baba!! -- não via nem sinal -- Jayed jedan! (Muito bom!) -- resmungou chateada

 

 

***

 

 

--Baba, pelo amor de Deus!! -- discutia com o pai -- A gente levou mais de uma hora pra encontrar ya said no meio da multidão! -- olhava para ele -- Como pôde ter saído correndo daquele jeito? Já pensou se tivesse ficado perdido? -- franziu o cenho

 

 

--Khadija tinha qui sê binzida e eu tinha um trem pra intregá pru santu Papa! -- argumentou -- Si num tivessi curridu aqueli tantu, nada tinha dadu certu!

 

 

Voltavam de ônibus para a casa de Clarice. Khadija dormia no colo da tia.

 

 

--A menina ficou desesperada com medo de se perder da gente e eu mesma... -- lembrava do episódio -- Eu mesma nem sei o que me deu! -- olhava para as ruas através da janela -- Veio a lembrança de ya Leila e... -- balançou a cabeça como se quisesse espanar as idéias -- Ah, eu nem gosto de falar!

 

 

--Eu vi qui a minina chorô, qui ocê ficô nervosa e parô di corrê dispois qui pego ela di vorta, mas eu tinha qui continuá! -- explicava-se -- Sinão o santu Papa num ia recebê o qui eu tinha di dá a eli.

 

 

--E o que era afinal? -- olhou para o pai de cara feia

 

 

--Uma fotu. -- respondeu simplesmente

 

 

--Pra ya said se esforçar daquele jeito, devia ser foto de Ahmed. -- comentou chateada -- Bem, pelo menos tudo deu certo e a gente assistiu a cerimônia toda, como era de seu desejo. -- voltou a olhar para as ruas

 

 

--A fotu era di Ahmed, sim! -- afirmou chateado

 

 

A professora nada respondeu e permaneceu olhando para fora. “Com toda certeza seria uma foto dele!” -- pensou cheia de mágoa -- "O filho preferido que sempre mereceu todos os esforços possíveis!” -- sentiu uma dor no coração -- "E eu sempre fui a idiota que resolvia os problemas e cuidava de tudo. Só que isso baba nunca viu...”

 

 

***

 

 

Clarice acordou bem cedinho e estranhou que Zinara não estava na barraca. Abriu a entrada e esticou o pescoço para fora, percebendo que a astrônoma estava debruçada no muro olhando para o céu.

 

 

Arrumou suas coisas e saiu da barraca.

 

 

--SabaaH il-kheer, habibi! (Bom dia, querida!) -- beijou o ombro da outra -- Olhando o céu, pensando na vida ou ambos? Senti sua falta dentro da barraca. -- envolveu o pescoço dela com os braços

 

 

--Sahar! -- sorriu e virou-se de frente para abraçá-la -- SabaaH in-nuur, ya helu! (Bom dia, minha linda!) -- olhou para ela -- Eu diria que olho o céu e penso em coisas da vida. Algumas coisas.

 

 

--E não quer dividir esses pensamentos comigo? -- perguntou carinhosa -- Vocês chegaram tarde ontem, não falaram quase nada... -- segurou as mãos da amada -- O que aconteceu?

 

 

--O de sempre. -- olhava para as mãos da paleoceanógrafa -- Baba e eu somos um capítulo à parte. -- respirou fundo -- Eu nunca lidei muito bem com o fato de ser prioridade nenhuma na vida dele.

 

 

--Será que é mesmo? -- beijou o rosto dela -- Por que não volta pra barraca comigo, deita nos meus braços e me conta tudo, hein? -- propôs

 

 

--Não há como negar uma proposta dessa! -- sorriu para a amada

 

 

--Então vem, minha caipira preferida! -- puxou-a pelo braço

 

 

--Você tem outras caipiras, é? -- brincou

 

 

Entraram na barraca e Clarice deitou de barriga para cima com a astrônoma em seus braços. Fazia um carinho bem vindo nos cabelos dela.

 

 

--Nós vimos um pouco da cerimônia na TV. -- comentou -- Princesinha do Mar tava abarrotada de gente como nunca vi! -- exclamou

 

 

--Pense num lugar cheio! -- deleitava-se com o cafuné -- Eu andei com Khadija no colo o tempo quase todo com medo de perdê-la no meio do povo!

 

 

--Fez bem. -- beijou a cabeça dela

 

 

--Baba queria encontrar um lugar bom pra ficar e a gente seguiu andando na maior dificuldade. -- contava -- Aí, de repente, o Papa surgiu no carrinho dele e o povo ficou eufórico. Foi um tal de gente correr atrás do carro que só você vendo! Baba passou sebo nas canelas e foi só pena que voa! -- aconchegou-se mais -- E eu tive que correr também, né? Já não me sinto mais tão disposta a fazer muito esforço, mas corri que nem uma égua maninha atrás de baba e com Khadija no colo!

 

 

Achou graça. -- Sabia que a televisão mostrou o momento em que você entregou Khadija pra um dos seguranças do Papa? O repórter até falou que a menina foi benzida. -- acariciava os cabelos da astrônoma -- E também vimos seu pai correndo pra entregar uma foto. -- comentava -- Dona Amina vibrou tanto! Ela chorou e tudo, tadinha!

 

 

Arregalou os olhos e levantou a cabeça para ver o rosto de Clarice. -- Smallah! (Interjeição de admiração) -- Sério??

 

 

--Verdade! -- confirmou -- E foi bem emocionante! Pra todas nós!

 

 

Deitou-se novamente no colo da outra e gastou uns segundos calada. -- Khadija ficou muito nervosa, sabe? Vocês devem ter visto que ela chorou a beça pensando que seria tirada de nós.

 

 

--Sim, a gente viu e ficou com peninha dela.

 

 

--Quando o segurança me devolveu a menina eu parei de correr e fiquei acalmando ela. -- continuava contando -- Também tava exausta, não agüentava mais correr. Aí você sabe que baba continuou correndo pra entregar o retrato e nisso nós nos perdemos um do outro.

 

 

--Nossa! -- surpreendeu-se -- E como se encontraram no meio de tanta gente?

 

 

--Foi por Deus, só assim pra explicar! Depois de um tempão procurando por ele, acabei encontrando baba parado num cantinho prestando atenção à cerimônia. Aí ficou todo mundo junto e no final viemos embora. -- fechou os olhos -- E que sufoco pra conseguir voltar!

 

 

--E vocês... discutiram por causa disso? -- continuava acariciando a morena

 

 

--Ah, eu reclamei, ficou um clima ruim... -- abriu os olhos novamente -- A verdade é que eu fico danada porque baba sempre se vira em mil por causa de Ahmed e eu é que pago o pato! -- afirmou com mágoa -- Tô sempre lá pra ajudar usritii (minha família) mas ele não dá a mínima pra isso! -- reclamou

 

 

--E o que Ahmed tem a ver com o que aconteceu ontem, amor? -- não entendeu o desabafo

 

 

--A foto que baba queria tanto entregar pro Papa era dele, né, Sahar? -- desvencilhou-se com cuidado e se sentou -- Quem mais consegue de Raed Raja tanto sacrifício? -- mexia no lençol

 

 

Clarice também se sentou e segurou o rosto da outra com as duas mãos. -- Aí é que você se engana, amor! A foto era sua!

 

 

--Choo?? (O que??) -- ficou pasma

 

 

--Dona Amina nos contou que seu pai fez uma promessa pra você se curar e fazia parte dela entregar sua foto pro Papa. -- contou -- E também disse que ele vem se modificando bastante, que tem colocado disciplina nos filhos, que tem sido justo... -- sorria -- Ela até convidou a gente pro casamento de Ahmed! Só ainda não sabe quando vai ser!

 

 

Zinara estava boquiaberta.

 

 

--Ela também disse que seu pai deseja ardentemente o seu perdão e que hoje em dia ele enxerga um monte de coisas... -- falava com carinho -- Será que não é hora de você parar de julgá-lo pelo passado e tentar perdoá-lo?

 

 

--Mas... -- sentia-se envergonhada pelo julgamento precipitado -- Quando eu disse a ele que a foto devia ser Ahmed, baba confirmou que era!

 

 

--Porque na certa ficou chateado com você! -- tentava explicar as atitudes do homem -- Mas a foto era sua! Depois que foi entregue ao Papa, sua mãe até nos pediu pra fazer uma oração por você e nós fizemos. -- contava

 

 

--Eita... -- abaixou a cabeça encabulada -- Acho que fui injusta... -- reconheceu

 

 

--Daqui a pouco vocês dois vão continuar a jornada com o Papa. -- levantou o rosto dela delicadamente segurando pelo queixo -- Converse com seu pai, fale o que nunca foi dito, jogue fora toda mágoa acumulada por tantos anos e fique livre disso! -- aconselhou -- Nós vamos dar privacidade pra vocês! -- prometeu

 

 

Balançou a cabeça sem nada responder.

 

 

--Agora me responda, minha caipira fofa... -- beijou-a -- O que seria uma égua maninha? -- achou graça -- Nunca ouvi falar nisso! -- riu brevemente

 

 

Riu também. -- É uma égua com os quartos caídos. De tanto parir ficou derrengada e virou maninha! -- explicou

 

 

--Ah, mas eu não tô vendo nada caído aí! -- sentou-se no colo da outra, envolvendo a cintura dela com as pernas -- Nem os quartos... nem as salas... nem as cozinhas... -- brincou, falando entre beijos

 

 

--Não provoca a caipira... -- brincou também e rapidamente deitou-se sobre a outra -- Não me faz perder a linha, menina... -- beijou-a

 

 

--Eu tô doida pra ver isso acontecer... -- mordeu o lábio inferior da astrônoma

 

 

--Ave Maria! -- beijou-a com desejo

 

 

--Clarice!! -- Leda chamou ao se aproximar da barraca -- Acordando e levantando!

 

 

--camma Zina!! -- Khadija chamou também -- Acordandu e levantandu! -- imitou a idosa

 

 

Interromperam o beijo. -- Ya Leda tá sempre ligada... -- achou graça

 

 

--Ai, mamãe... -- deu um suspiro profundo

 

 

***

 

 

Cátia circulava pelo shopping quando percebeu que uma pessoa conhecida admirava uma vitrine.

 

 

--Magali? -- abordou a professora -- Que surpresa boa! -- sorriu -- Tudo bem? -- parou diante dela

 

 

--Oi, Cátia! -- cumprimentaram-se com beijinhos de comadre -- Vou bem e você? -- sorria também

 

 

--Indo, né? -- passou a mão nos cabelos -- Um coração ferido demora a cicatrizar...

 

 

--Pois é... é a vida. -- não sabia o que dizer

 

 

--Tem visto Clarice? -- perguntou interessada -- Será que ela aproveitou o feriado pra viajar? -- sondou

 

 

--Não, ela e a mãe ficaram em casa. Além do mais que convidaram Zinara e a família pra se hospedar lá... -- calou-se repentinamente, arrependida por ter contado

 

 

A geofísica ficou decepcionada. -- Já tão assim, de levar família pra casa uma da outra, é? -- perguntou com despeito -- E no mais, pensei que aquela gente de Cedro fosse muçulmana! -- deduziu que visitariam o Papa

 

 

--Não, eles não são. -- não queria continuar aquele assunto -- Mas e você? Quais são os planos pro feriado?

 

 

--Amanhã eu vou com um grupo de patriotas protestar contra os leilões do petróleo. -- comentou -- Tô juntando gente pra avolumar a luta contra o leilão do Campo de Balança!

 

 

--Ah, eu não queria te desanimar, só que acho que será uma luta perdida. -- opinou -- O Governo tá comprometido a fazer isso e vai fazer! Você sabe que historicamente esse país sempre foi governado por e para o capital internacional, né?

 

 

--Não se pode pensar assim, Magali! -- argumentou -- Você tá certa no que falou, mas tudo pode mudar! A gente tem que aproveitar o escândalo das denúncias de Scowben e cair rachando pra impedir esse leilão! -- olhava para a outra -- Chega de viver entregando o patrimônio nacional desse jeito!

 

 

--Revolta, né? -- franziu o cenho -- E eles ainda querem vender o campo de Balança, que como você bem sabe equivale a nosso país em reservas de petróleo provadas, mais barato que o aeroporto internacional de São Sebastião, que também vai ser vendido! -- fez um bico -- Eu já não noto mais a diferença entre governo de direita ou de esquerda, sabia? Tá todo mundo encantado com o maravilhoso mundo das privatizações! -- ironizou

 

 

--Pois é, isso me revolta demais! -- concordou -- Quem ganhar o leilão vai pagar algo em torno de 15 bilhões de reales! É como se cada barril de petróleo fosse vendido a um reale, veja que absurdo! -- gesticulou indignada -- E uma riqueza dessa valer menos que um aeroporto! Só aqui acontece isso, vou te contar!

 

 

--E essa visita do Papa? -- tocou rapidamente no braço da loura -- O Governo tá gastando uma fábula! E tudo isso pra que? Pra melhorar a cidade pra população? -- balançou a cabeça negativamente -- Que nada! É só pra gastar dinheiro usando o Papa como pretexto! Pouca vergonha! -- revirou os olhos

 

 

--É por essas e outras que eu protesto! -- justificou-se -- Esse país tem que mudar e eu dou minha vida por ele!

 

 

--Se é uma coisa que admiro em você é esse patriotismo! -- ajeitou a alça da bolsa tira colo -- Sabia que leio tudo que você escreve sobre política? Posso não ir nas passeatas mas tô sempre ligada e tento colocar alguma coisa de civismo na cabeça dos meus alunos.

 

 

--Você lê, é? -- surpreendeu-se -- “Hum...” -- olhou a colega de cima a baixo com malícia -- "Sabe que eu nunca tinha reparado nela e até que essa Magali dá um caldo bom?” -- pensou -- Olha só, -- caprichou na voz -- que acha da gente sair hoje à noite pra falar de política, realidade nacional, faculdade, pesquisa e... -- aproximou-se um pouco mais -- outras coisinhas...?

 

 

--Tá me convidando pra sair? -- estranhou

 

 

--E por que não? -- sorriu sensual -- Somos solteiras, desimpedidas e... -- olhou-a de cima a baixo novamente -- Você é uma mulher tão interessante...

 

 

--Ah! -- ficou pasma e colocou as mãos na cintura desaforada -- Cátia, quer deixar de ser cara de pau? -- fez cara feia -- Você vive chorando pelos cantos por causa de Clarice, sabe que eu sou amiga dela, acabou de me dizer que ainda sofre por amor e tem a audácia de me convidar pra sair?

 

 

--E qual o problema? -- não entendeu aquela reação -- Que mal há em duas mulheres adultas e solteiras viverem uma noite gostosa? -- lançou um olhar sedutor -- E eu te garanto que seria muito gostosa... -- falou com voz rouca

 

 

--Faça-me o favor, viu? -- fez um bico -- Bom final de semana e cuidado lá quando for protestar, porque a polícia tá usando um spray que não é mole! -- preparou-se para sair -- Tchau! -- foi embora

 

 

--Puta merd*! -- resmungou chateada -- Até as amigas de Clarice são complicadas! -- voltou a circular pelo shopping

 

 

***

 

 

Clarice, Leda e Amina conversavam sentadas no gramado dos Quintos do Imperador. Zinara e Khadija brincavam de pega pega, enquanto Raed se confessava. Por aqueles dias, havia sido montado um imenso confessionário no local e um grande número de fiéis se concentrava lá.

 

 

--Peguei! -- abraçou a menina e caíram na grama -- Agora você tá presa! -- brincou

 

 

--Eu fujo! -- fazia cócegas na tia

 

 

--Ah, mas eu também sei fazer cosquinha! -- rolaram na grama se divertindo

 

 

--Zinara adora Khadija, né? -- Clarice comentou reparando nas duas

 

 

--Minha fia gosta muitu di criança! E as criança gosta dela. -- Amina comentou -- Cidmara, a fia du meu fio Cid, também é doida pur ela!

 

 

--Cidmara, que nome... -- Leda resmungou

 

 

--E os filhos do Ahmed? -- a paleoceanógrafa perguntou

 

 

--Essis aí nunca qui tiveru muitu contatu cum nóis, num sabi? -- olhava para a outra -- Agora qui Ahmed tá tomandu tenência é qui us mininu tão começandu a ficá mais lá im casa.

 

 

--Deve ser bom ter contato com neto... -- a idosa comentou pensativa -- Eu tive três filhas e só um neto! Veja só que baixa produtividade! -- gesticulou -- E o menino foi nascer justo de pai ogro... -- fez um bico -- Aí eu quase não vejo o bichinho, só quando meu genro tá “cuns pobrema”! -- reclamou

 

 

--Pai o que? -- Amina não entendeu

 

 

--Deixa pra lá, dona Amina! -- Clarice aconselhou achando graça -- Deixa pra lá...

 

 

--camma, quandu eu crescê, queru sê professora iguar a sinhora! -- falou empolgada

 

 

--Mata camma Zina de orgulho, ya habibi! -- beijou a cabeça dela -- Linda de minha vida! -- sorria toda boba -- Diz pra mim o nome daqueles bichos bem grandões que você viu lá no museu? Aqueles que eu te expliquei que nem existem mais?

 

 

--Dinussauru! -- respondeu empolgada

 

 

--Menina inteligente! -- ficou toda prosa

 

 

--Seu Raed vem ali. -- Clarice indicou -- Que tal levarmos Khadija pra passear no pedalinho e deixar Zinara e ele conversarem em particular? -- propôs às demais

 

 

--Raed qué qui Zinara rezi o terçu mais eli. -- Amina falou -- Eu tenhu isperança qui pur causa di passá essi tempu juntu essis dois cunsiga si intendê, num sabi? -- olhou para as outras duas -- É pôcu tempu, mais quem sabi?

 

 

--Eu tenho conversado com ela sobre isso e tenho orado a Deus pra que os dois se entendam. -- segurou uma das mãos de Amina

 

 

--Vai dar tudo certo, minha amiga! E tem que ter fé! -- Leda se levantou e sorriu -- Vamos pro pedalinho, minha gente!

 

 

***

 

 

Zinara e o pai acabavam de rezar o terço. Levantaram-se, ele se benzeu e os dois seguiram caminhando lentamente pelas alamedas ladeadas por grandes árvores.

 

 

Após alguns segundos em silêncio a morena resolveu se desculpar. -- Baba, eu queria lhe pedir desculpas. -- olhou rapidamente para ele -- Clarice me contou que a foto que ya said entregou pro Papa era minha. -- estava envergonhada -- Queria me desculpar por ter reclamado e pelo que disse em relação a foto ser de Ahmed.

 

 

--Tá bão. -- respondeu simplesmente

 

 

Continuaram caminhando calados até que Raed quebrou o silêncio. -- Pur que ocê tem tanta raiva di Ahmed?

 

 

--Laa! (Não!) Eu não tenho raiva dele. -- protestou

 

 

--Comu não? -- discordou -- Ocê sempri criticô, falô mar... Nunca qui ti oví dizê uma palavra boa sobri eli!

 

 

--Não é isso! -- defendeu-se -- Eu sempre reclamei porque Ahmed foi mal acostumado a vida toda e se transformou num sujeito acomodado, aproveitador e irresponsável! -- falou sua opinião -- E ya said sempre passou a mão pela cabeça dele!

 

 

--E ocê pur acasu gosta deli? -- perguntou descrente

 

 

Pensou antes de responder por nunca ter se questionado quanto a isso. -- Confesso que guardei mágoa de uma série de coisas. -- passou a mão nos cabelos -- Como todas as vezes que apanhei ou fui injustiçada por causa dele. Tanto eu quanto Youssef e Khaled. -- pausou brevemente -- Mas isso não quer dizer que eu não goste de akhuuya (meu irmão).

 

 

Raed parou de caminhar e olhou para a filha. -- Mais di mim ocê num gosta mesmu, num é?

 

 

A professora parou também e olhou nos olhos dele. -- Não o odeio se é o que pensa.

 

 

--Mas ocê mi dissi qui mi odiava! -- seus olhos marejaram -- Nunca isquici aquilu! -- falava com certo rancor

 

 

Achou graça. -- Já parou pra pensar em tudo de horrível que me disse? Em tudo de horrível que me fez? -- emocionou-se também -- Eu também não esqueci! -- pausou brevemente para se conter

 

 

Bombas começaram a explodir...

 

 

“--Meu Rachid!!!!! -- Elmira gritava ajoelhando-se no chão -- Zogii!!! (Meu marido!!) Que desgraça, meu Deus, que desgraça!!! AHAHAHAH!!!!!!!!!! -- berrou

 

 

--Matha? Ayn? (O que? Onde?) -- Farida colocou os baldes no chão e começou a gaguejar -- Kha... kha... -- tremia nervosamente

 

 

Parecia que todos estavam fora de si.

 

 

--La afham... ( Não entende...) -- Zinara sentia-se perdida

 

 

--Não entende? -- Raed segurou-a pelo braço -- Quer entender? Vai entender agora! Yaalah! (Vamos lá!)

 

 

Raed seguiu arrastando a filha por um braço, enquanto segurava o balde que ela trouxe com a outra mão. Chegaram a uma pequena vala recém cavada no chão e pararam sobre um monte de terra.

 

 

--Onzori, Zinara! (Veja, Zinara!) Se não entende, é isso aí! -- apontou para baixo -- Estão mortos! Isso é a guerra: dor, sofrimento e morte! Isso é a guerra! -- estava descontrolado -- Gaatak niila, Dar-ulharb!! (Vá para o inferno, Dar-ulharb!!) -- gritava como se estivesse possuído -- Gaatak niila!! Gaatak niila!!

 

 

A criança olhou para baixo e viu os cadáveres em estado deplorável. Sem que pudesse pensar, ajoelhou-se no chão e vomitou.”

 

 

--Se eu fosse outra, -- exaltou-se -- teria lhe abandonado faz tempo!

 

 

--E num feiz issu pur que?

 

 

--Por causa de maama! -- respondeu de pronto -- E porque eu sou uma idiota que não consegue abandonar ninguém! -- derramou uma lágrima e se afastou ficando de costas para ele

 

 

Algumas pessoas que passavam olhavam para os dois com desconfiança.

 

 

Raed respirou fundo como se criasse coragem e perguntou com voz embargada: -- Quantu di mágoa inda tem nu seu coração pur minha causa?

 

 

Zinara riu brevemente e virou-se de frente para o pai. -- Quer mesmo que eu diga? -- aproximou-se de cara feia -- Quer mesmo saber de cada lembrança amarga, revoltante e triste que tenho dentro de mim? -- bateu no peito -- Quer mesmo que eu exponha toda frustração que sinto por ser aquela que ya said rejeitou desde o nascimento? -- falou mais alto e se calou para conter as lágrimas

 

 

--Não diga isso! -- pediu angustiadamente na língua de Cedro -- Ana abuuik! (Eu sou seu pai!)

 

 

Respondeu na língua de Cedro: -- Abuuya (meu pai) apenas por laços de sangue! -- bateu no braço indicando as veias -- Acha que eu não sei do que aconteceu? -- falava alto -- Estava tudo escrito no Kitaab (diário) de Zahirah!

 

 

Apesar de ser apenas um bebê, Zinara sentia-se capaz de visualizar o triste episódio baseada apenas no que houvera lido.

 

 

“--Choo? (O que?) -- Raed perguntou desconfiado -- O que houve, Amina? -- desmanchou o sorriso -- Porque vocês querem nos deixar a sós? -- olhou para as mulheres e não as deixou passar

 

 

--Ya Raed... -- Warda começou a falar

 

 

--Eu fiz uma pergunta, Amina!! -- repetiu em voz alta

 

 

--Não é um varão, Raed... -- a mulher afirmou como quem pede desculpas -- Mas uma menina...

 

 

--O que?? -- estava incrédulo -- O QUE???? -- gritou furioso ao socar a porta com violência. O barulho fez o bebê chorar -- Ralã! (expressão de desprezo) Eu não quero uma menina, eu não quero! -- gritava -- E faça ela se calar agora! -- apontou para a criança com desgosto

 

 

--Eu, eu... -- Amina abraçou a filha assustada e começou a chorar contidamente -- Mas ela é saudável, forte e vai ser boa para o trabalho...

 

 

--EU NÃO QUERO UMA MENINA E VOCÊ SABIA DISSO O TEMPO TODO!!! -- gritou encolerizado”

 

 

O homem derramou uma lágrima dolorosa. -- Sua fala tem tanta raiva, tanto pesar... Ma byilbaklik... (Isso não combina com você...)

 

 

Indignou-se e respondeu com ironia: -- Bitichkii min eh? (Qual é o problema?) -- secou os olhos com as mãos -- Como pode dizer o que combina ou não comigo, se nunca se deu ao trabalho de me conhecer? -- acusou -- Como queria que fosse diferente para mim?? -- lutava para não explodir

 

 

--Eu sei que errei... Ana a’arfa... (Eu sei...) -- reconheceu com muito sofrimento

 

 

--Ya said zalamt albii, baba… (O senhor feriu meu coração, pai…) -- afastou-se mais uma vez -- A vida inteira... -- voltou a andar

 

 

--Mas eu me arrependo, Zinara! -- falou mais alto -- Fouk ma yitsawar khayalik... (Mais do que você possa imaginar...) -- seguiu atrás dela -- Eu me arrependo tanto, mas tanto, que me dói na alma! Tanto que me fere a honra! Tanto, que tenho vontade de morrer!

 

 

--Talvez seja tarde demais para nós! -- afirmou sem parar de andar -- Não sou mais uma menina que precisa de um baba. -- continuava falando na língua de Cedro -- E poucos dias me restam. Não há mais tempo. -- chorava contidamente -- Wi alli garra (E quanto ao passado), esqueça! -- deu a conversa por encerrada -- Esqueça-me!

 

 

Raed correu e segurou-a pelo braço virando-a de frente para si. -- Wallah in jaboolo almaaz wi yakout, wallah ma astaghna a’na enti! (Eu juro por Deus que mesmo se me dessem jóias e safiras eu não deixaria você!) -- olhava-a nos olhos -- Laou amoot! (Mesmo se eu morresse!)

 

 

--Por que isso agora, baba? -- desvencilhou-se -- Ana la afham! (Eu não entendo!) -- tentava sufocar as lágrimas

 

 

--Diga para mim tudo que sente! -- pediu com aflição -- Fale todas as suas mágoas, deixe-me saber! Eu agüento ouvir! -- segurou-a pelos ombros -- Min fadlik, bintii! (Por favor, minha filha!) -- chorava -- Diga, Zinara, osad ainy (em frente aos meus olhos)!

 

 

--Foi camma Najla quem lhe orientou a falar assim? -- perguntou ao se desvencilhar mais uma vez -- Ela me abordou desse jeito quando me pediu perdão. -- lembrava

 

 

--Em Cedro, nós resolvíamos nossos problemas assim: com a verdade! -- passou as mãos nos olhos -- Baba nos ensinou desse jeito!

 

 

Zinara sentia-se perdida e confusa. Queria dizer muitas coisas. Desejava derramar sobre ele todas as frustrações e palavras amargas que sufocou na garganta por tantos anos e tantas vezes. Porém, lá no fundo, sentia pena do pai. Diante de si estava um homem mal tratado pelo sofrimento de uma vida difícil e ela não conseguia associar aquela imagem tão frágil à brutalidade que marcou seu passado.

 

 

--Diga, Zinara! -- insistiu -- Eu estou lhe pedindo! Min fadlik!! (Por favor!!) -- pausou brevemente -- Eu preciso!

 

 

A morena gastou uns segundos calada, apenas mirando os olhos do pai. Seu coração batia acelerado e bombas explodiam dentro de sua alma. -- A vida inteira ya said me desprezou! -- voltou a chorar -- Nunca me deu carinho ou amor ou mesmo um pouco de atenção! -- acusou com rancor -- Ya said nem mesmo queria que maama fosse capaz de me amar! -- pausou brevemente para se conter. Raed chorava com pesar -- Ana ‘aomry ma Had kan zalelny, aw kaser ‘aeiny... (Ninguém nunca me humilhou ou me deprimiu tanto...) -- soluçou -- quanto ya said...

 

 

--Oh, a’akli a’aar... (Oh, minha alma se envergonha...) -- sentia-se muito mal

 

 

--Nunca vou esquecer do modo frio e cruel como abandonou Youssef e Khaled quando Ahmed nasceu! -- chorava

 

 

--Bintii (minha filha), eu... -- tentou se explicar

 

 

--E quando eu disse que queria estudar em Gyn, -- interrompeu-o magoada -- nunca recebi nenhum incentivo seu! -- continuava acusando -- Do contrário! Ya said bateu no meu rosto e me chamou de mahdia (prostituta)! -- cobriu o rosto com as mãos

 

 

--Aasif... (Sinto muito...) -- não conseguia dizer mais que isso

 

 

Olhou para o pai com muita dor. -- Ya said nunca foi capaz de enxergar nada de bom que eu fizesse! -- a cabeça doía -- Eu sempre fui invisível diante de seus olhos! -- gesticulava -- E depois que Youssef e Khaled morreram, fiquei como testemunha das lembranças que não quer ter! -- passou a mão no pescoço. A nuca doía

 

 

--Laa! (Não!) -- segurou-a pelos braços em desespero -- Eu não quero que você morra, bintii -- soluçava -- Ana laka, bintii!! (Estou aqui por você, minha filha!) -- queria convencê-la de seu engano -- Ana ha bayt w’albii! (Eu sempre te amei com meu coração!) -- segurou o rosto dela com as duas mãos -- Acredite, Zinara! Acredite e me perdoe! -- suplicou

 

 

--Ya said tem um estranho jeito de demonstrar seu amor! -- acusou secamente -- E me solte porque há um monte de gente prestando atenção em nós! -- queria se ver livre daquele contato

 

 

--Macleech! (Não se preocupe!) -- afastou-se envergonhado e olhando ao redor -- Não serei motivo de vergonha para você.

 

 

--Não tente reverter a situação! -- advertiu exaltada e se calou -- La mo'axza. (Desculpe.) -- pediu envergonhada e respirou fundo -- Vamos embora. -- secou os olhos com as mãos -- Essa conversa me faz muito mal. -- olhou para o homem -- Não quero mais dizer coisa alguma. -- sentia-se no limite do emocional

 

 

--Nem quer me ouvir? -- perguntou com tristeza

 

 

--Laa! (Não!) -- deu as costas e foi embora

 

 

--Zinara!! -- chamou por ela

 

 

A morena acelerou o passo e espontaneamente deu vazão às lágrimas que ainda teimavam em escapar de seus olhos. Queria ir para longe, queria ficar sozinha, queria sumir.

 

 

“Corra Zinara!!” -- a voz de Raja ecoava dentro da mente

 

 

E as bombas não haviam deixado de explodir desde que começaram.

 

 

--AHAHAHAH!!! -- gritou e começou a correr desesperada

 

 

Clarice brincava com Khadija perto de Amina e Leda quando sentiu um aperto no peito. -- Zinara?

 

 

Amina segurou a mão de Leda angustiada -- Minha fia tá correndu prali, ói! -- apontou -- Ela tá indu simbora! -- seus olhos marejaram -- Ya Leda...

 

 

--Calma, minha amiga! -- tocou o rosto dela -- Calma!

 

 

--Pra ondi camma Zina tá indu? -- a criança não entendia -- Giddu (vovô) tá chorandu? -- olhava na direção do homem

 

 

Raed caiu de joelhos na grama, chorando copiosamente.

 

 

--Clarice! -- Leda olhou para a filha preocupada

 

 

--Sua camma precisa fazer algumas coisas, meu bem. Mas ela vai voltar. -- tentava não alarmar a menina -- E o giddu ficou emocionado por causa do Papa. -- deu um beijo na testa dela -- Dona Amina, mamãe, -- olhou para as duas ao se levantar -- fiquem com Khadija que eu vou tentar falar com Zinara. -- pediu procurando o celular na bolsa

 

 

--Num dêxi minha minina fazê uma bestagi, Clarice! -- Amina pediu chorosa -- Vai simbora mais ela!

 

 

--Ela não vai fazer nada errado, dona Amina. -- pegou o celular -- Fique com sua neta e seu marido que eu vou ajudá-la.

 

 

--Vem cá, vem, meu anjo? -- Leda chamou Khadija que veio segurar sua mão

 

 

Olhou para Leda. -- Mamãe, a senhora...

 

 

--Pode ir, menina. -- balançou a cabeça positivamente -- Eu cuido deles. -- prometeu

 

 

Clarice afastou-se andando apressada e tentou ligar para Zinara. -- Atende, meu amor! -- falava consigo mesma -- Atende! -- estava agoniada

 

 

Zinara não percebia o telefone tocando. Em sua cabeça, apenas os estrondos das bombas e os gritos de dor se faziam ouvir. Já estava fora do parque e continuava correndo. Naquele momento, como em alguns outros, desejava morrer.

 

 

 

CAPÍTULO 51 – Um Colo

 

 

Cátia chegava no apartamento de Lilian esbanjando sensualidade. Vestia uma saia de tecido fino que lhe margeava os joelhos e uma blusa justa ostentando um generoso decote. Bem maquiada e perfumada, preparava-se para uma abordagem irresistível.

 

 

--Você aqui? -- a ex amante se surpreendeu ao abrir a porta -- Nossa! -- olhou para a outra de cima a baixo

 

 

--Certos endereços nunca saem de moda, meu bem. -- piscou para a outra e entrou sem cerimônia

 

 

Lilian fechou a porta e parou diante da loura. -- Escuta, Cátia, eu...

 

 

--Escuta você, por favor! -- pediu colocando dois dedos sobre os lábios da outra -- Tenho pouco a dizer, mas você vai gostar de ouvir. -- caprichava na voz -- Sei que não fui legal com você, que não agi do modo como esperava, mas... -- aproximou-se sensualmente -- nunca é tarde pra se encontrar o amor!

 

 

--Encontrar o amor? -- afastou-se meio perturbada -- E a professorinha do coração, cadê? -- cruzou os braços

 

 

--Let bygones be bygones! (Deixe o passado ser passado!) -- aproximava-se em câmera lenta

 

 

--Olha, Cátia, eu não tô... -- subitamente foi arremessada sobre o sofá

 

 

A geofísica sentou-se sobre a jovem e segurou-a pelos cabelos da nuca. -- Acho que já falamos demais por hoje! -- inclinou-se para beijá-la

 

 

--ÊÊÊÊpa, mas que putaria é essa aqui?? -- uma voz estridente se fez ouvir

 

 

--Calma, Angel! -- Lilian se agitou rapidamente fazendo Cátia cair sentada no chão -- Eu posso explicar! -- levantou-se de um pulo

 

 

--O que essa coroa assanhada tava fazendo montada em cima de você? -- pôs as mãos na cintura -- Quem é essa? -- falava alto

 

 

--Coroa?! -- a loura levantou-se revoltada -- Fique sabendo que no auge dos meus quarenta tô muito melhor que você, sua escandalosa! -- ajeitou a roupa -- Hum! -- fez cara feia

 

 

--Eu não sabia que ela vinha aqui, amor! -- aproximou-se da namorada -- Ela chegou de repente e já veio me atacando! -- apontou para a outra

 

 

--E você tava gostando e bem! -- sorriu vitoriosa

 

 

--Fora daqui, sua sirigaita! Periguete da geriatria! -- Angel gritou

 

 

--Onde foi que você achou esse tipinho aí, hein, Lilian? Deixaram em alguma encruzilhada, foi? -- provocou

 

 

--Eu tentava te dizer que tava namorando sério e que não tô mais a fim de você! -- olhava para ex -- Não fiquei chorando e esperando você voltar! A fila andou! -- falou desaforada

 

 

--Essa é que é a tal da tua ex? -- olhou para a geofísica com desdém -- Mau gosto!

 

 

--Humpf! -- fez um bico -- Eu sei que você ainda me quer, Lilian! -- afirmou ao se dirigir para a porta -- Quando cansar de se esfregar com essa boneca vudú sabe onde me procurar! -- abriu a porta

 

 

--Nunca mais eu quero saber de você! -- Lilian afirmou decidida -- Saia daqui e não volte mais!

 

 

Cátia foi embora sufocando uma inexplicável vontade de chorar. “Eu não devia ter vindo!” -- pensou ao entrar no elevador -- "Mas eu queria...” -- pressionava o botão repetidas vezes como se pudesse acelerar a descida -- "Só um colo...” -- saiu apressada quando a porta se abriu

 

 

***

 

 

Zinara e Clarice estavam em um quarto de motel, mas não havia qualquer sensualidade naquele momento. A astrônoma estava deitada no colo da amada, que lhe acalentava como se fosse um bebê. De olhos fechados, recebia o carinho da outra mulher e aos poucos sentia seu espírito inquieto se acalmando.

 

 

--Tenho muito que agradecer a Deus, por me permitir tê-la conhecido. -- aconchegava-se mais -- Não sei o que faria se não estivesse aqui, Sahar.

 

 

--Também agradeço a Ele por ter colocado você no meu caminho, meu amor. -- beijou a cabeça dela -- Meu bebê...

 

 

--Um bebê todo derrengado... -- sorriu -- E cheio de conflitos dentro de si...

 

 

--Não tem derrengação nenhuma aqui! -- ralhou

 

 

--Derrengação... -- achou graça e abriu os olhos -- Essa palavra não existe, não, uai! -- brincou

 

 

--Se você pode falar essas palavras doidas que eu nunca ouvi, eu também posso! -- brincou também -- Já se sente melhor? -- perguntou com delicadeza

 

 

--Depois de receber esse colo? -- levantou a cabeça para olhar para Clarice -- Impossível não estar. -- beijou-a -- Você me faz tão bem, habibi...

 

 

--Então vamos conversar um pouquinho? -- propôs -- Hum? -- acariciava o rosto da astrônoma -- Você já chorou, já descansou... Que tal conversar um pouco? -- falava com carinho

 

 

--Não há muito o que dizer. -- desvencilhou-se com jeito e se sentou na beirada da cama -- Baba quis que eu expusesse minhas mágoas em relação a ele, eu falei, sofri, me senti mal e depois não quis mais saber. -- resumiu -- Tava sofrendo demais e quis ficar sozinha. -- olhou para a amada -- Só que uma mulher maravilhosa conseguiu transpor minhas barreiras e me tirou da solidão. -- deu um sorriso triste

 

 

--E me sinto lisonjeada por isso, meu bem. -- sentou-se ao lado da morena -- Mas... você não ouviu o que ele tinha a dizer?

 

 

--E o que ele teria a dizer? -- levantou-se e caminhou até a janela -- Que ele fez o que fez por ser ignorante e agora se arrepende? -- debruçou-se no vidro e ficou olhando para fora -- Eu não preciso ouvir isso!

 

 

--Nossa, amor! -- espantou-se -- Nem parece você falando desse jeito!

 

 

Olhou para ela e se apoiou no parapeito da janela. -- Desculpe, Sahar. -- pediu -- Laa acrif... (Eu não sei...) Eu não sei porque a lembrança do meu passado com baba ainda me deixa tão alterada. -- passou a mão nos cabelos

 

 

--Você fez tudo que podia pra Salete e o pai se reconciliarem. -- levantou-se e caminhou até ela -- Você mostrou a ela a importância do perdão. -- segurou as mãos da outra -- Não acha que é hora de colocar isso em prática no caso do seu pai?

 

 

--Eu sei que preciso perdoá-lo! E sei que preciso limpar meu coração de tanta dor e tristeza, mas... -- olhava nos olhos da paleoceanógrafa -- É muito difícil! Sa'ban ‘alay... (É difícil para mim...)

 

 

--Perdoá-lo não é uma escolha pra você, amor! -- argumentava -- É uma necessidade!

 

 

--Clarice...

 

 

--Por favor, eu te peço! -- envolveu o pescoço da astrônoma com os braços -- Tente, Zinara! -- insistia -- Eu tenho orado pra que você consiga perdoar e vou continuar orando pra que Deus ajude você e ele, porque os dois sofrem demais! Tinha que ver como seu pai ficou quando você foi embora. -- a morena abaixou a cabeça envergonhada -- Não tô te criticando, minha querida, tô só falando pra você o que eu vi! -- beijou a testa dela -- Olha pra mim, por favor! -- pediu com delicadeza e Zinara obedeceu -- Quando liguei pra mamãe pra dizer que tava tudo bem ela me disse que seu pai precisou tomar remédio pra se acalmar. E dona Amina também ficou muito transtornada.

 

 

--Maama sempre pediu muito a Deus e à Virgem pra que baba e eu nos déssemos bem. -- falava timidamente -- Acho que é o maior desejo dela.

 

 

--Exatamente como sua Shamash desejava pra Salete e o pai. -- comentou

 

 

--Vergonha, né? -- envolveu a cintura de Clarice com os braços -- Insisti tanto com Salete pra realizar o sonho da mãe dela e não sou capaz de realizar o da minha!

 

 

--É porque quando a dor não é nossa parece mais fácil, amor. -- acariciava os cabelos dela

 

 

--Aposto que te decepcionei, não é, Sahar? -- perguntou como criança envergonhada

 

 

--Não seja tola! -- beijou-a -- Eu te acho admirável, porque no seu lugar a maioria das pessoas nem se importaria com seus pais. Não sei o que EU faria se fosse você. -- deslizava as mãos pelos ombros da morena -- Mas sabemos o que é o melhor a fazer. E esse melhor é perdoar!

 

 

--Eu sei... -- concordou

 

 

--Só que não adianta insistir no assunto, vou deixar você pensar. E quando orar, peça a Deus forças pra conseguir perdoá-lo e jogar toda essa carga fora!

 

 

--Não sabe o quanto eu peço!

 

 

--Imagino! E creio que não haverá chance melhor pra você e seu pai do que esse momento aqui. -- beijou-a novamente -- Vem, vamos pra cama de novo! -- puxou-a por um braço

 

 

--Eu queria dormir aqui. -- pediu -- Não tenho clima pra voltar pra sua casa. -- falou timidamente -- Não hoje.

 

 

--Mamãe já foi avisada. -- fez a astrônoma se sentar na cama -- Eu imaginei que você e seu pai precisariam de um tempo por hoje. -- parou diante da outra

 

 

--E Khadija? Ela ficou bem? -- perguntou preocupada

 

 

--Mamãe soube lidar com a situação. Khadija tá bem. -- garantiu

 

 

--Clarice e ya Leda! -- abraçou-a pela cintura e beijou a barriga dela -- Minhas heroínas! -- sorriu -- Que seria dessa caipira sem Sahar? -- tentava descontrair

 

 

--Agora deite bonitinha aí pra dormir nos meus braços, minha caipirinha. -- apertava os ombros dela

 

 

--Warana ay? ( Que mais se pode fazer?) Apenas dizer sim! -- posicionou-se no meio da cama e deitou-se de barriga para cima

 

 

Clarice deitou-se ao lado de Zinara e também ficou de barriga para cima. -- Vem aqui, meu bem. -- pediu com carinho -- Como é que fala? Tacaalii? (Vem?)

 

 

--Eita, que assim que eu gamo de vez, viu? -- deitou no colo da outra e fechou os olhos -- Behebbik ya, Sahar! (Eu te amo, Amanhecer!) -- abraçou-a pela cintura

 

 

--Também te amo, Zinara! -- beijou a cabeça dela e fechou os olhos

 

Fim do capítulo


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Comentários para 16 - AB - 1:
Samirao
Samirao

Em: 07/10/2023

Parei nesse masssss

A luta continua companheira huahuahua 


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Sempre! kkkk


Responder

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Samirao
Samirao

Em: 01/08/2023

Eu queria entender o que acontece nesse site que de vez em quando um comentário some gentem. Será que essa fase nunca vai ser superada? Quantos deletaram eu sempre vou repor! Huahuahua


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
Foi isso que fez você comentar com tanta raça? O sumiço dos comentários?
Eu confesso que também fico chateada quando o site apaga comentários respondidos. Mas não vamos brigar com ninguém por causa disso e nem você precisa ficar repondo. rs
Eu te agradeço.
Beijos,
Sol


Responder

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Femines666
Femines666

Em: 16/03/2023

Além de ler os seus contos maravilhosos tenho lido também os comentários que são ótimos e percebi que geral temos problemas com o pai, né? O meu é uma lástima! Te entendo Zinara!


Resposta do autor:

Olá querida!

Sim, recebo sempre ótimos comentários.

Acho que muitas gerações têm problemas com o pai. Homens ainda despreparados por causa de tanto machismo. Porém, isso está mudando e vejo uma geração de pais conscientes surgindo.

Beijos,

Sol

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Alexape
Alexape

Em: 31/12/2022

Jurava que tinha postado o comentário. Eu falei que relação com pai é complicado. Muita identidade aqui


Resposta do autor:

Minha relação com pai é desse jeito. Se é que se possa dizer que existe relação! rs

Outras moças comentaram sobre perder o que escreveram. Também já passei por isso.

Beijos,

Sol

Responder

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Seyyed
Seyyed

Em: 19/09/2022

Amei khadij ela é linda!!!


Resposta do autor:

Concordo plenamente!!

Beijos,

Sol

Responder

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Seyyed
Seyyed

Em: 19/09/2022

Comentários 400 é meu!! Hehe

Zi e Raed é um tremendo vespeiro se fosse eu, sei lá... morri com Leda zoandp os namoros da filha haha Cátia é muito cafa mas me diverte! Haha pegando ou querendo pegar todas  Eu quero receber a família da Zi aquihaha


Resposta do autor:

Você está que nem Samirão! kkk

Verdade, esse relacionamento de pai e filha é um vespeiro. Mas tem que ser resolvido. Melhor nessa vida que numa próxima.

Ya Leda é danada! Deixar passar absolutamente nada!

Cátia é uma figurinha!

Sabe que mais de uma amiga aqui do site me disse isso? A família é disputada! rs

Beijos,

Sol

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sonhadora
sonhadora

Em: 16/05/2021

Oie!!! Este capítulo foi como uma grande montanha russa de emoções. .... Uma hora consigo sorrir, dar umas risadas divertidas e na outra choro de emoção! Consigo sentir na pele a dor da Zinara quando conversa com o pai! Clarice é aquele anjo que abre os olhos, a mente e o coração de todas nós que estamos lendo! Só o perdão é capaz de lavar a alma! É difícil, mas ele só faz bem à quem consegue perdoar mesmo!!!

Continuo lendo....

Beijos!


Resposta do autor:

Olá Sonhadora!

Tudo bem?

Você é uma pessoa de alma literária, acredito plenamente no envolvimento que tem com o que lê. Fico feliz que a história consiga tocá-la.

Este capítulo tem de fato um grande peso emocional. São muitos fantasmas a exorcizar. 

Espero que continue gostando. Volte para me dizer o que vem percebendo, por favor. 

Eu acredito muito na força e na necessidade do perdão. 

Beijos,

Sol

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Gabi2020
Gabi2020

Em: 14/05/2020

Sol!

 

"Há pessoas que são como o sol... Mesmo de longe, irradiam luz e calor. Shamash, bahlam beek..." Fala sério hein?

 

 

Momento ownnnn... Zinara e Clarice no telefone...

 

“Daqui a pouco Clarice vai tarar a almofada!” -- Leda pensou com vontade de rir... Kkkkkkk.... Quem riu fui eu!"--Hum... -- olhava para a filha -- Clarice tá rebolando na parede que nem lagartixa, espia pra isso! -- resmungava achando graça"... Kkkkkkkkk.... Passo mal de tanto dar risada!

 

 

Jamila excelente advogada, agora na vida pessoal... 

 

 

Ô amizade bacana de dona Leda e Amina.

 

 

Cátia ô mulher sem vergonha!!

 

Ô Sol você podia mandar a família de Zinara pra cá me visitar, é tanta comida que deu água na boca.

Como você mesmo disso , dona Leda pega as coisas no ar e percebeu a intenção de Clarice com Zinara na barraca.

 

Lembro bem desse capítulo e lembro desse período... Caramba te confesso que as lembranças voltaram com tudo... Fazia exatamente um ano que eu tinha perdido o meu baba... 

 

Essa conversa de Zinara com o pai foi dolorida para ambos, mas necessária. O que seria de Zinara sem sua Sahar?

 

Beijosss

 

 

Ps. Confesso que esse capítulo me trouxe uma carga emocional muito grande.



Resposta do autor:

Gabinha!

Fico feliz que se divirta. Fiz um comentário na resposta anterior que não sei porque não apareceu. Você está arrasando na língua de Cedro, viu? Gostando de ver!

Jamila ainda estava se acertando, você sabe. :P  E até Cátia! kkk

E quem não quer receber esta família caipiresca? kkkkk

É... creio que este e o outro capítulo te tragam muitas coisas. Espero que só as boas, mas não as dores.

Beijos,

Sol

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