• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • EM BUSCA DO TAO
  • OMM

Info

Membros ativos: 9525
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,495
Palavras: 51,977,381
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Azra

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Entrelinhas da Diferença
    Entrelinhas da Diferença
    Por MalluBlues
  • A CUIDADORA
    A CUIDADORA
    Por Solitudine

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Minha professora de português
    Minha professora de português
    Por Vanderly
  • I'm
    I'm in Love With my Boss
    Por Sweet Words

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

EM BUSCA DO TAO por Solitudine

Ver comentários: 11

Ver lista de capítulos

Palavras: 13197
Acessos: 10377   |  Postado em: 02/01/2018

Notas iniciais:

Omm: transliteração da palavra árabe para mãe 

OMM

 

 

CAPÍTULO 28 – Coisas de Mãe

 

Amina e Zinara estavam na casa da astrônoma. Haviam acabado de lanchar.

 

 

--Tua casa é bunita, minina! -- a mulher mais velha dizia enquanto lavava a louça -- Fazia tempu qui eu num vinha aqui e já nem alembrava mais!

 

 

--Maama, deixe que eu lavo essa louça e vá descansar. -- pediu -- Ya sayyida (a senhora) chegou de viagem ontem, veio de ônibus... -- falava com preocupação

 

 

--Sê besta, minina! -- deu um tapa na mão da filha, que tentou pegar um prato -- Já viu caipira fazê corpu moli? Inda mais uma di Cedro! -- olhou para a outra -- Ocê saiu du hospitá hoji, tomi tentu! -- ralhou

 

 

--Mas, maama...

 

 

--Senti essi rabu ali e fica quéta! -- ordenou -- AHHa! -- reclamou

 

 

A professora achou graça e obedeceu. -- Então quer dizer que ya sayyida pernoitou na casa de Cláudia? -- sorriu

 

 

--Muitu boa essa dotôra, viu? -- balançou a cabeça confirmando -- E ela mi ixplicô us trem tudu! -- olhou rapidamente para a morena -- Eu tô sabendu di teu istadu!

 

 

Coçou a cabeça receosa. -- E... foi ela quem lhe contou que eu...?

 

 

--Foi Najla! Ela contô pra mim e Raed. -- respondeu de pronto -- Só nóis sabi, num dexemu teus irmão sabê.

 

 

Zinara nada respondeu. Amina acabou de levar a louça e começou a enxugá-la olhando para a astrônoma.

 

 

--Ocê vai si cuidá! E vai fazê o tar du tratamentu di choqui qui ela mi falô! -- afirmou com decisão

 

 

--Esse tratamento nada mais é que uma quimioterapia light... -- resmungou -- Se é que existe alguma quimioterapia light... -- olhou para o chão de cara feia

 

 

--Ocê vai fazê! -- repetiu -- E eu num tô pidindu, não! Tô mandandu! -- fez cara feia -- Num queru qui ocê morra! Nem eu, nem teu pai, nem tua tia e nem ninguém!

 

 

A astrônoma deu um suspiro profundo. -- Tudo bem, maama... -- concordou contrariada, permanecendo uns segundos calada até que se lembrou de algo: -- Ah, -- olhou para Amina -- eu trouxe uma coisa! -- levantou-se e saiu da cozinha

 

 

--O qui será? -- perguntou-se intrigada

 

 

Depois de alguns segundos Zinara voltava com um presente. -- Espero que goste! -- sorria -- É pelo dia das mães!

 

 

--Ô, minina! -- sorriu também e estendeu o pano de prato -- Ocê qui sempre mi dá presenti! -- beijou o rosto dela e recebeu -- Trem macio! -- desembrulhava -- Ih, qui capote bunitu! -- abraçou-se com o casaco

 

 

--Pra vestir nos dias de frio na roça! É bem fofinho! -- continuava sorrindo

 

 

--Tem um pinguí bunitinhu nas costa! -- olhava -- Gostei pur dimais da conta! -- abraçou a filha

 

 

--Fico feliz! -- beijou a cabeça da mãe

 

 

--Agora, chega di chamegu e vamo pru teu quartu! -- decidiu ao se afastar da filha -- Vem cumigu, minina! -- foi saindo da cozinha

 

 

--Ah, maama, eu não quero deitar, não... -- protestou

 

 

--Num qué, mas vai! -- decidiu -- Tem qui discansá! E num queru sabê di ocê trabaiandu, não!

 

 

--Mas maama... -- reclamou de novo -- Eu tenho que ler a tese da minha aluna e ainda tem os preparativos do congresso mundial...

 

 

--Faz issu dipois! -- parou na porta da cozinha -- Simbora, minina, tá isperandu o que? -- cruzou os braços de cara feia

 

 

--Ah, maama... -- seguiu de cabeça baixa e fazendo bico que nem criança

 

 

Foram para o quarto e a astrônoma arrumou a cama para se deitar logo após ter escovado os dentes. Nisso o telefone tocou e Amina prontamente atendeu.

 

 

--Olô! -- respondeu curiosa -- É, sim, e ocê quem é? -- Zinara prestava atenção -- Wernéquio?

 

 

--Werneck! -- Zinara se aproximou -- Deixa eu atender, maama! -- pediu

 

 

--AHHa! -- deu-lhe um tapa na mão -- Ocê num atendi é nada! -- cobriu rapidamente o bocal do telefone -- Deita lá! -- ordenou e voltou a falar com o homem -- Aqui, ô, moço, minha minina num vai trabaiá hoji não e ocê resolvi os pobrema pur tua conta!

 

 

--Maama! -- arregalou os olhos

 

 

--Ocê também num istudô um tantu? Intão há di sabê si virá! -- respondeu resoluta -- E basnoiti, viu? -- desligou

 

 

--Mas, maama, isso é coisa que se faça? -- sentou-se na cama contrariada -- Werneck é meu colega de trabalho e assumiu meu lugar na chefia do departamento. Na certa precisava de ajuda com...

 

 

--Eli qui si viri! -- interrompeu-a de imediato -- Num é chefi agora? Ocê quandu era chefa vivia procurandu um e ôtro pra arguma coisa? -- perguntou com as mãos na cintura

 

 

--Laa... (Não...) -- respondeu pensativa

 

 

--Intão! -- concluiu -- Eli si vira! -- bateu uma palma

 

 

--Mas maama, e a tese da minha aluna? Ela tem prazo pra defender e o estudante fica ansioso, sei como é isso!

 

 

--Amanhã ocê liga pra ela e diz qui ela vai tê qui isperá um pôco mais purque ocê teve uns pobrema di saúdi! -- devolveu de imediato -- Si ela num intendê é purque nunca ficô duenti!

 

 

--E o congresso, maama?

 

 

--Pedi ajuda prus ôtro! Essi povo num vivi ti pidindu os trem? Agora é a vez docê pidí!

 

 

Zinara acabou rindo. -- Tem resposta na ponta da língua, não é, maama?

 

 

--Tua saúdi é o mais importanti! Esses ôtros trem podi isperá! -- afirmou com decisão -- Ocê si importa dimais, dipois fica tudu praí e só ocê si dana! Aí, ninguém vai si alembrá qui ocê si sacrificava tantu pra resulvê tudu!

 

 

--É verdade... -- suspirou

 

 

--Agora vem. -- colocou um travesseiro encostado na cabeceira da cama e se sentou -- Deiti nu colu di sua maama! -- pôs um travesseiro no colo

 

 

--Sério?? -- perguntou animada

 

 

--E eu lá sô muié di brincadêra, minina? -- ralhou -- Vem deitá nu colu di sua maama! -- repetiu

 

 

--Eu vou! -- deitou-se toda prosa e se cobriu

 

 

--Eu vô cuidá docê, minha minina... -- fazia carinho na cabeça dela -- E ai di quem venha inventá trabaio pra ocê fazê!

 

 

Zinara fechou os olhos e sorriu. Estava adorando receber um carinho de mãe depois de tantos anos.

 

 

E pela primeira vez em muito tempo, a astrônoma logo adormeceu e dormiu tranquilamente a noite toda.

 

 

***

 

 

Aisha e Najla conversavam ao telefone.

 

 

--E aí eu decidi comprar a briga, mamii. -- acabava de explicar a motivação -- Vou questionar o caráter legal daquela venda e me aproveitar do momento de fragilidade do Ametista pra chegar rachando!

 

 

--Ai, filha, será que temos chances, hein? -- perguntou empolgada -- Eu absolutamente adoraria recuperar nossa amada fazenda! -- sorriu

 

 

--Seria o must, mamii! Aí a gente podia aproveitar a idéia do hotel e trabalhar um conceito mais acessível pro povo pagar! -- fazia planos -- Sem luxo ou frescura, só uma coisa rústica e gostosa pra quem curte natureza!

 

 

--E também poderíamos plantar e ir criando animais igual fazíamos antigamente! -- também sonhava -- Só que, claro, começando de um jeito modesto. Quem sabe no que daria, né?

 

 

--Muito hóspede até ia querer sentir como é isso de plantar, cuidar de animais...

 

 

--E poderíamos morar todos juntos sem perder privacidade! Você, Janaína, Raed, Amina, meus sobrinhos, suas esposas, as crianças, eu... -- estava quase pulando -- Claro que sem dar chance pra ninguém se aproveitar, mas tenho certeza de que todos gostariam!

 

 

--E essa casa de vocês aí podia ser alugada, sei lá. Da mesma forma essa nossa aqui. Ainda era uma fonte de renda extra! -- deu pulinhos -- Ai, mamii, eu já decidi que vou voltar a estudar administração de empresas! -- contava animada -- Foi a última graduação que eu abandonei e a que mais me será útil nos dias de hoje!

 

 

--Com certeza! -- concordou -- Aí você vai saber administrar os negócios como se deve!

 

 

--Vai ser um sufoco pagar a mensalidade, mas dá-se um jeito! Ainda mais que eu tô cheia de gás! -- sorriu

 

 

--Ah, habibi, eu não te ajudo porque não tenho renda... -- lamentou -- Dependo de Raed, Amina e da ajuda que Zinara dá a família. É já é o suficiente pra me deixar envergonhada... -- suspirou

 

 

--Tudo bem, mamii, não se lamente. -- respondeu com carinho -- Tudo bem.

 

 

--Mas vamos pensar em etapas, filha. Sonhar é bom, mas há que se ter os pés no chão pra poder chegar em algum lugar. -- advertiu -- Você vai fazer o que, como? Recorrer à Justiça gratuita?

 

 

--Sim, é o que dá pra fazer. -- balançou a cabeça positivamente -- Só liguei porque queria dividir a novidade e pedir pra que vocês todos aí orassem pela causa pra dar uma força! -- brincou

 

 

--Pode deixar. -- assegurou -- Também é bom falar com Zinara, porque pode ser que ela conheça alguém que possa dar uma olhada no processo com mais atenção, não sei. -- pausou brevemente e pensou na saúde da sobrinha -- Quer dizer, não deixe ela querer resolver isso, apenas pergunte se conhece alguém que possa ajudar.

 

 

--Sei como falar com ela, mamii, relaxa. Mas Zinara mora em Cidade Restinga, então muito provavelmente não deve conhecer ninguém que consiga interceder aqui. -- passou a mão nos cabelos -- Inclusive ainda tô procurando saber como pode ser isso de dar entrada no processo porque, afinal de contas, moro em Gyn e a fazenda fica bem longe daqui.

 

 

--Ah, minha filha, sua prima conhece gente como nem sei! -- achou graça -- Não duvido nada que ela possa indicar alguém!

 

 

--Caipira danada, né, mamii? -- riu brevemente

 

 

--E, meu bem, ore sempre por ela, tá? -- pediu mal disfarçando a preocupação

 

 

--Eu faço isso, mas por que me pede? -- ficou intrigada

 

 

--Porque... -- não sabia o que dizer -- porque ela é muito invejada e inveja é uma força muito negativa. -- respondeu o que primeiro lhe veio à mente -- "O que não deixa de ser verdade.” -- pensou

 

 

--Tem alguma coisa sobre Zinara que eu não esteja sabendo, mamii? -- perguntou desconfiada -- Afinal de contas, até hoje ainda não entendi aquela tal licença que ela tirou.

 

 

--Tem nada, não, menina. -- desconversou -- Bem, a conversa tá boa, mas é hora de cuidar da vida! Ainda tenho que terminar o almoço. -- preparou-se para desligar o telefone -- Beijo, meu amor! E que tudo dê certo nessa sua idéia de recuperar o que por direito ainda é nosso. Fica com Deus e manda lembrança pra Janaína.

 

 

--Beijo, mamii. Fica com Deus também e dá um beijo no pessoal daí. -- mandou um beijinho -- Tchau! -- desligou o telefone e ficou pensativa -- Será que mamii sabe de algo que eu não sei?

 

 

***

 

 

Era sábado de manhã cedo e Clarice cuidava do quintal de sua casa. Leda havia ficado até tarde vendo luta e por isso ainda dormia.

 

 

De repente a vizinha do lado debruça no muro e pergunta após cumprimentar: -- Filha, será que poderia me dar uma ajudinha aqui com minhas samambaias? -- pediu um pouco sem graça -- A ventania de ontem derrubou elas no chão e eu não agüento levantar e pendurar de volta no lugar. Pra dizer a verdade nem alcanço também.

 

 

--Claro, dona Elisa. -- respondeu sorrindo -- Eu não tenho lá essas alturas, mas a gente tenta, né? -- brincou

 

 

--Obrigada, querida. -- sorriu

 

 

A paleoceanógrafa abriu o portão e foi para a casa de Elisa ajudar. Como julgou que não haveria problemas e resolveria tudo rapidamente, deixou o portão aberto, mantendo-o apenas encostado.

 

 

E nisso Cátia chega.

 

 

--Hum, que droga, cheguei cedo demais. -- constatou ao olhar para o relógio do carro -- Sete da manhã não é hora de ir pra casa de ninguém, né, Cátia? -- ralhava consigo mesma -- Mas quem se agüenta de saudade, hein? -- abriu a porta do carro e saiu segurando um urso gigante -- Seja lá o que Deus quiser! -- respirou fundo antes de se aproximar do portão -- Hum... tá aberto! -- reparou com estranheza

 

 

--Nossa, mas foi terra pra todo lado, hein, dona Elisa? -- colocou as mãos na cintura -- Que bagunça que o vento fez!

 

 

--E olha que eu juntei a maior parte da terra ali no cantinho. -- apontou

 

 

--Vamos cuidar das pobres plantas porque ficaram estropiadas. -- abaixou-se sem ver que a loura aguardava diante de seu portão

 

 

--Você e Leda têm mão boa. -- abaixou-se também com certa dificuldade -- Ajuda pras minhas samambaias não morrerem? -- pediu -- Tá tudo aí: pazinha, remédio, vitamina de planta... -- apontou o que já havia levado para o quintal

 

 

--Vão morrer, não, fique tranqüila. -- começou a mexer nas plantas

 

 

--Clarice ou a mãe deve tá dando um trato no quintal! -- a geofísica viu a tesoura e o regador no chão -- Ela me disse que as duas gostam disso... -- continuava falando consigo mesma

 

 

--Ô, Leda, essa terra aqui tá boa? -- Elisa perguntou e Cátia ouviu -- Ih! -- aproximou-se da outra e se abaixou falando mais baixo -- Leda, não, tô doida! Clarice, desculpe!

 

 

--Tudo bem, dona Elisa. -- olhou para a terra -- Tá ótimo, não precisa de mais.

 

 

A loura não ouviu a última parte da conversa. -- Que maravilha, dona Leda tá lá na vizinha e por isso deve ter deixado o portão aberto! -- olhou para um lado e outro -- Vou entrar! -- desencostou o portão e entrou sorrateira -- A porta da casa deve estar aberta também. -- concluiu ao se aproximar -- Beleza! -- entrou na casa quase na ponta dos pés -- Onde será que Clarice tá? -- achou tudo muito quieto -- Será que ainda dorme? -- seguiu para o quarto da morena e viu alguém deitada na cama -- Perfeito! -- sorriu maliciosa

 

 

E Leda dormia despreocupadamente. Estava bem enrolada nos lençóis e deitada de costas para a porta.

 

 

Cátia abriu os botões da blusa e tirou as sandálias de salto. Caminhou até a cama e colocou o urso sentado no chão. -- "Vou pegar ela de jeito...” -- pensou antes de se deitar ao lado da outra -- Ei, minha gatinha gostosa... -- sussurrou no ouvido dela -- Tava morrendo de saudades de sentir esse teu cheirinho bom... -- deslizou uma das mãos pela cintura da mulher e posicionou uma perna entre as dela -- Doida pra ter você de novo... -- encaixou-se como uma colher na outra

 

 

Leda despertou achando que ainda dormia. “Que diabo é isso?!” -- abriu os olhos preocupada -- "Será que esclerosei de vez ou isso é um pesadelo infeliz?” -- pensava confusa

 

 

--Vem cá, minha delícia! -- abraçou-a pela cintura com força -- Tô louquinha pra comer essa tua... -- sussurrava com voz de cafajeste

 

 

--EEEEPA!!!! -- Leda gritou e se agitou impedindo que a mão da loura tocasse no seu sex* -- Que patifaria é essa aqui?? -- sentou-se na cama rapidamente -- Tarada!!! Tarada!!! -- gritava

 

 

--Dona Leda?! -- a geofísica arregalou os olhos e sentou-se também -- O que faz aqui?? -- sentiu o rosto queimar de vergonha

 

 

--Mas que negócio é esse, sua bicha descarada? Tô na minha casa e você pergunta o que eu faço aqui?? -- estava possessa -- E já tá até de blusa aberta??

 

 

--Ah, eu... -- tentava fechar a blusa nervosamente -- Eu não imaginava que... -- não sabia o que dizer

 

 

--Vai embora daqui, sua peste! -- viu o urso gigante no chão e o pegou -- Sai daqui, sua tarada, safada, invasora de domicílio!! -- começou a dar ursadas na outra -- Bicha sem vergonha, salafrária, cachorra! -- batia com força

 

 

--Calma, dona Leda! -- levantou-se da cama toda atrapalhada -- Calma! -- defendia-se das ursadas -- Eu pensei que era sua filha! -- tentava se explicar

 

 

--E isso não te dá o direito de invadir minha casa, bicha bandida! -- batia -- Some daqui! -- chutou as sandálias da outra para longe -- Some, diacha! -- e tome de bater

 

 

Clarice entrou na sala correndo e deu de cara com Leda espancando a loura com um urso gigante. Ela mal conseguia fugir, tropeçando toda hora nas próprias pernas. Estava descalça e com a blusa semi aberta.

 

 

--Cátia?! -- surpreendeu-se arregalando os olhos -- Mas o que é isso, gente? -- entendia nada

 

 

--Essa pilantra invadiu nossa casa! -- Leda golpeava furiosa -- E tentou me tarar cheia das mão pra cima de mim!

 

 

--Como é que é?! -- continuava pasma -- Cátia, como pôde??

 

 

--Eu pensei que era você! -- rastejava em direção à porta -- Pára, dona Leda!

 

 

--Apanha, bicha fuleira! -- não dava tréguas

 

 

--Como pôde não ter notado a diferença, Cátia? -- não aceitava

 

 

--Pra você ver como é salafrária! -- Leda respondeu sem interromper suas ursadas -- Já tarou tanta gente que não sabe nem mais qual é qual!

 

 

--Socorro, Clarice, me ajuda!! -- a geofísica pediu agoniada -- Eu explico, mas me salva!!

 

 

A morena estava bestificada olhando a cena.

 

 

--Filha de uma égua, bicha sem vergonha, salafrária, tarada! -- Leda continuava perseguindo a loura que fugiu pela porta da sala -- Corre, bicha, que eu corro atrás! -- saiu de casa também

 

 

--Isso não tá acontecendo, gente, será possível? -- Clarice foi para o quintal

 

 

--E leva esse traste junto contigo, loura do Cão! -- a idosa arremessou o urso por cima do muro -- Maluca, safada, tarada! -- gritou -- Demônia!

 

 

--Mas quem é essa aí?! -- Elisa correu para ver

 

 

--Inferno, puta que pariu, que vergonha! -- Cátia resmungava ao entrar no carro e conseguir finalmente abotoar sua blusa. Estava toda descabelada

 

 

--Eu vou chamar a polícia, viu? Eu vou chamar! -- Leda continuava gritando -- Tô danada! -- gritava -- Tô possuída!!

 

 

--Calma, mamãe, chega de confusão que já tem um monte de gente olhando! -- a paleoceanógrafa reparava que os vizinhos bispavam às escondidas -- Deixa que eu vou falar com ela pra entender o que houve!

 

 

--Entender o que, menina? -- deu um tapa no braço da filha -- Essa tarada veio aqui, encontrou a porta aberta nem sei como, e invadiu teu quarto achando que ia te pegar desprevenida! Só que não contava que eu tivesse lá no teu lugar! -- cuspia fogo pelos olhos -- Que ódio!!! -- gritou de novo

 

 

--Essa aí é quem, hein, gente? -- Elisa insistiu olhando para o carro da loura, que acabava de sair cantando pneus

 

 

--Uma prima doida que eu tenho. -- Clarice respondeu para disfarçar -- E ela faz umas brincadeiras que mamãe não gosta muito, né, dona Leda? -- olhou para idosa esperando que ela não negasse

 

 

--Humpf! -- a velhinha fez um bico -- Deixa eu ir pegar os sapatos daquela sem vergonha pra jogar no lixo! -- voltou para dentro de casa pisando duro

 

 

A morena abriu o portão e pegou o urso abandonado na rua. -- Coitado, tá todo danado! -- olhou penalizada para o bicho -- Perdeu até um olho! -- balançou a cabeça negativamente -- Ai, ai, é só na minha vida que acontecem essas coisas... -- suspirou

 

 

***

 

 

Zinara discou o número de Clarice e aguardava que ela atendesse. Enquanto isso, Amina limpava a casa, cantava e se requebrava.

 

 

--Prepari, qui agora, é hora, di show di poderosa, laiála, laialá... -- passava pano molhado no chão animadamente

 

 

A astrônoma achava graça. -- Ai, ai, maama... -- balançou a cabeça divertida

 

 

--Alô? -- a paleoceanógrafa atendeu desanimada

 

 

--Oi, Clarice. -- a morena sorriu -- Sou eu, Zinara, tudo bem?

 

 

--Oi, Zinara! -- sorriu espontaneamente -- Tudo bem, e você? Já tem um tempinho que você chegou, né?

 

 

Leda bordava e ficou só prestando atenção. -- Nossa, num instante desmanchou a carranca! -- constatou impressionada

 

 

--Há uma semana exatamente; cheguei no domingo de noite. -- sorria -- E sim, comigo tudo bem.

 

 

--Sorta o som qui vai mi vê, sambandu, pega uns trem qui ocê tá, babandu... -- continuava animada

 

 

--Parece que alguém na sua casa gosta da Catitta. -- comentou achando graça

 

 

--É a maama. -- olhou para Amina -- Ela é fã dessa funkeira e eu nem sabia disso! -- comentou achando graça -- Só ontem ela ouviu essa música umas três ou quatro vezes.

 

 

--Sua mãe tá com você? -- surpreendeu-se -- Que bom! Mesmo que seja ouvindo isso... -- riu brevemente -- E a letra que ela canta não é bem a certa, né? -- brincou

 

 

--Ah, mas ela troca um monte de coisa. Sempre foi assim. -- riu também

 

 

--Fica doidaaaa, laiála, laiá... -- dançava -- E fica doidaaa...

 

 

--E deixa eu te perguntar, como vai ya Leda? Manda um beijo pra ela!

 

 

--Ah, ela tá bem, tá fazendo os bordadinhos dela. -- olhou para a idosa -- Mamãe, Zinara tá mandando um beijo pra senhora. -- sorria para a velhinha

 

 

--Fica doidaaaa, laiála, laiála, laiála... -- e Amina dançava -- E fica doidaaa...

 

 

--Tô mandando outro! -- olhou para a filha -- Olha, aqui, ô, estrangeira, -- falava alto para a astrônoma ouvir -- Clarice tá solteira, viu?Aproveita enquanto pode! Depois que morrer já era!

 

 

--Mamãe!! -- cobriu o bocal do telefone e ralhou de cara feia

 

 

--O que ela falou, Clarice? -- Zinara não tinha entendido por causa da música tocando

 

 

--Te mandou um beijo de volta. -- mentiu e afastou-se rapidamente -- Foi isso! -- estava sem graça

 

 

--Ah, sim. -- pausou brevemente -- Bem, você vai me achar interesseira, mas... eu te liguei pra pedir um imenso favor. -- foi direto ao assunto -- E se tô fazendo isso é porque realmente preciso... -- estava um pouco envergonhada

 

 

--Nossa, você nunca me pediu nada, deve estar precisando mesmo. -- respondeu desconfiada -- O que foi?

 

 

--Prepari, qui agora, é hora, di show de poderosa, laiála, laialá... -- ouvia a música novamente

 

 

--Eu vou começar um tratamento que vai acontecer toda segunda-feira e minha médica me alertou que posso estranhar a medicação no começo... -- passou a mão nos cabelos -- O congresso mundial se aproxima e eu... eu receio não dar conta do que tenho de fazer... -- pausou brevemente -- Será que eu poderia contar com você pra... -- não sabia como dizer

 

 

--Quer minha ajuda na organização do congresso? -- perguntou em antecipação -- Ai, eu quero! Nunca organizei um evento mundial! -- estava empolgada

 

 

--Nossa! -- achou graça -- Se eu soubesse que você ia gostar tanto da idéia já tinha te explorado antes! -- brincou

 

 

--Exploração nenhuma! -- respondeu de imediato -- Juro que será um prazer! É só me dizer o que devo fazer e eu faço. -- sentou-se no sofá -- Além do mais, depois do que fez e faz por mim, eu jamais te diria não. -- cruzou as pernas -- Até faço parte de um seleto grupo internacional agora! -- brincou

 

 

--Hum... olha só a alegria de Clarice... -- Leda resmungava consigo mesma reparando na filha -- Toda serelepe...

 

 

--Sorta o som qui vai mi vê, sambandu, pega uns trem qui ocê tá, babandu... -- e tome de cantoria

 

 

--Faz parte porque merece! -- a morena respondeu enfática -- Quando ao que falta fazer na organização do evento, vou te passar tudo por e-mail daqui a pouco. Mas se prepara pra esquentar a cabeça, porque a gente se aborrece! -- sorriu

 

 

--Fazer o que, né? São os ossos do ofício...

 

 

--E fica doidaaaa, fica doidaaaa... -- e Amina dançava -- E fica doidaaa...

 

 

--Mas, me diz, Zinara. -- ficou séria -- Que tratamento é esse que você vai fazer? O que é que você tem, afinal? -- perguntou preocupada -- Sua mãe nunca vai na sua casa e ela tá aí...

 

 

--Nada de mais. -- mentiu -- É só uma infecção que tem me dado um trabalho, mas é galho fraco. E você sabe como são as maamas: sempre de olho na saúde das filhas. -- não queria se prolongar no assunto -- Acha que se fosse troço grave ela tava aqui cantando Catitta? -- brincou

 

 

--Pergunta se ela tá solteira, mulher! -- Leda colocava pilha -- Age, menina! Fala que a tarada já era!

 

 

Clarice fez sinal para a mãe ficar quieta. -- É... -- não sabia como dizer -- creio que eu deva entrar em contato com determinadas pessoas pra dar continuidade à preparação do congresso... -- caminhou até a janela -- Aquela sua amiga, a Karim... -- mexia na cortina -- ela também é da comissão organizadora?

 

 

“Mas ela tem uma cisma com Karim!” -- pensou intrigada -- Ela nem vai participar. Acho que eu só a verei daqui a dois anos no próximo evento. Aí vocês se conhecerão. -- mexia na barra da saia -- "Como se eu fosse sobreviver até lá...” -- pensou com tristeza

 

 

--Nossa, deve ser difícil namorar assim, sem se ver por tanto tempo... -- arrependeu-se no mesmo instante por ter dito aquilo -- "Criatura, tá dando bandeira demais!” -- pensou se recriminando

 

 

--Laiála, laiála, laiálaiálaiála... -- Amina foi para a cozinha cantando

 

 

--Ela tá namorando ainda? -- Leda perguntou intrigada

 

 

--Mamãe!! -- ralhou aos sussurros

 

 

--A gente não tá mais namorando. -- a morena respondeu em tom mais baixo, para a mãe não ouvir -- Ela nem quis ficar mantendo contato algum comigo. -- pausou brevemente -- Tô mais solteira do que nunca... -- riu sem graça

 

 

--Ah, é?? -- perguntou mal disfarçando a animação -- Tá solteira??

 

 

--Hum... olha só o fogo de Clarice! -- Leda falava consigo mesma -- Minha filha também tá solteira, mulher! -- gritou novamente -- Aproveita enquanto tem saúde!!

 

 

--Mãe!! -- morreu de vergonha

 

 

--Sua mãe tá falando mas eu não entendo. -- Zinara comentou -- É por causa da música e da cantoria de maama. -- riu brevemente

 

 

--Ah, ela tá só me dizendo pra dar uma olhada no fogo do feijão. -- disse a primeira coisa que lhe veio à mente -- Não pode queimar, já pensou? -- brincou

 

 

--Humpf! -- Leda fez um bico -- A gente quer dar uma força, mas não adianta... -- resmungou consigo mesma -- Ô, duas mulher inteligente e lesa! -- reclamou

 

 

--E você, Clarice? -- a astrônoma pensava em como perguntar -- Como vai a namorada? Vão sair hoje?

 

 

--Não, a gente... -- andava pela sala -- A gente terminou...

 

 

--Até que enfim você falou! -- Leda bateu uma palma e a filha fez sinal para que se calasse

 

 

--Ah, é?? -- arregalou os olhos entusiasmada -- "Ô, Zinara, disfarça!” -- recriminou-se -- Quer dizer... nossa, que chato...

 

 

--Cátia não era bem a pessoa que eu pensava, embora não seja uma mulher ruim. -- suspirou -- É que... acho que temos expectativas diferentes.

 

 

--Não era bem a pessoa que pensava, pois sim! -- a idosa reclamava -- Eu sempre soube que aquela tarada não valia o traque de uma gata, só não sabia que era invasora de lares e estupradora de inocentes!

 

 

--Mamãe!! -- ralhou de novo

 

 

--Zinara! -- Amina gritou da cozinha -- Vem tomá o remédio, minina! -- ordenou -- E vem botá o pêxi nu fornu, qui eu num sei mexê nessi trem!

 

 

--Querida, tenho que desligar... maama me espera. -- sorriu -- Logo mais tarde te mando o e-mail, tá bom?

 

 

--Tá, eu vou ficar esperando. -- sorriu -- Boa sorte na segunda e se cuida!

 

 

--Obrigada! Tudo de bom pra você e pra sua maama. -- estava com pena de desligar

 

 

--Zinara!! -- Amina insistiu

 

 

--Vai lá, querida. Sua maama tem pressa! -- Clarice brincou

 

 

--Tá. -- pausou brevemente -- Rahimaka Allah, habibi! Macasalaama! (Deus te abençoe, querida! Até logo!)

 

 

--Ala halik, habibi! (Cuide-se, querida!) -- respondeu melosa -- Macasalaama! -- desligou o telefone

 

 

--Ih, meu Deus, mas já fala até a língua da outra! -- Leda resmungou consigo mesma -- Ô, Clarice, que mudança, hein? -- olhava para a filha -- Nem parece que até bem poucos minutos você tava aí toda jururu, especialmente depois do papelão que a estupradora fez hoje!

 

 

--Eu não entendo a senhora, mamãe! -- ficou sem graça -- Se eu sofro por causa de Cátia, reclama, e se converso animadamente com uma amiga, reclama também! -- fez cara feia -- Que coisa!

 

 

--Amiga? Sei... -- respondeu descrente -- Aproveita que tá de bobeira aí e vai lá ver o almoço, que já tô roxa de fome! -- ordenou

 

 

A paleoceanógrafa nada respondeu e foi para a cozinha.

 

 

--Essa mulherada lésbica é um tal de gosta de uma, fica com outra, e chora e deixa de chorar... -- falava consigo mesma -- Eu hein? -- voltou a se concentrar nos bordados -- Que diacho!

 

 

Enquanto colocava o peixe no forno, a astrônoma pensava em Clarice. “Ela tá solteira... Será que eu tenho chances?” -- acendeu o fogo -- "Chance de que, né, Zinara? Tá com o pé na cova e o rabo pegando fogo, eu hein!” -- ralhou consigo mesma -- "Ela certamente não tem o menor interesse em caipiras, muito menos em caipiras derrengadas como você!”

 

 

--Fia, agora acha pra mim no TeuTubo a música di Simona e Simoninha? -- pediu -- Quero oví aquela du Bom dia meu nenê!

 

 

--Tudo bem, maama. -- achou graça -- Vamos procurar!

 

 

***

 

 

Era domingo e Zinara e Amina terminavam o almoço na casa de Ritinha. A idosa havia feito o convite para que pudesse conhecer a mãe da astrônoma.

 

 

--Qui cumida danada di boa! -- Amina elogiou limpando os lábios no guardanapo -- Minha fia num ixagerô quandu mi dissi qui a sinhora cuzinha um bucado bem! -- sorriu -- Muitu agradicida pelu cunviti!

 

 

--Ah, que é isso? -- agradeceu encabulada -- Essa sua menina é que é um amor! -- segurou a mão da morena -- E é um prazer conhecê-la, Amina! -- sorriu também -- Fiz esse almoço com muito gosto em sua homenagem!

 

 

A mulher ficou toda prosa. -- Pra mostrá meus respeitu, -- levantou-se da mesa -- vô lavá sua lôça!

 

 

--Eu lavo, maama! -- levantou-se também -- Por favor, fique aqui conversando com ya Ritinha, que eu lavo. -- pediu enquanto recolhia a louça -- Min fadlik! (Por favor!) -- insistiu

 

 

--Zinara sempre insiste pra cuidar da louça e eu até acostumei com isso. -- Ritinha falou -- Fique aqui comigo, querida, vamos conversar. -- pediu -- Afinal de contas não é sempre que temos sua companhia, não é mesmo?

 

 

Amina concordou e se sentou novamente. -- Vamu prosiá. -- olhava para a idosa -- Será qui a sinhora mi insinaria a fazê essa cumida? Eu gostei pur dimais da conta!

 

 

--Ah, claro, mulher! Presta atenção que eu vou te explicar!

 

 

A morena foi para a cozinha achando interessante o modo como as duas outras mulheres logo se entrosaram. “Que bom!” -- pensou satisfeita

 

 

Minutos depois a campanhia tocava e Zinara pôde ouvir Ritinha falando animadamente ao abrir a porta: -- Adamastor, que surpresa agradável!! Você não vai adivinhar quem está aqui!

 

 

“Mas que praga!” -- reclamava mentalmente -- "Ya Ritinha pegou essa mania feia de viver me fazendo falseta!”

 

 

--Venha, querido, deixe eu te apresentar a Amina. Ela é ninguém mais, ninguém menos que a mãe de Zinara! -- pausou brevemente -- Este é meu sobrinho! Um rapaz de ouro!

 

 

--Oh, mas que honra! Finalmente conheço tão distinta senhora!

 

 

--Incantada!

 

 

--E agora, como é que vai ser isso? -- a astrônoma estava como barata tonta na cozinha -- E se até maama entrar na onda de querer me casar com esse cara? -- passou a mão nos cabelos -- Ô, meu Pai, me defenda!

 

 

--Zinara! -- Ritinha chamou -- Venha para sala, filha, temos uma visita que você vai amar!

 

 

Respirou fundo. -- Já vou, só um segundinho! -- tentava ganhar tempo -- Ai, minha Sagrada Omm (Mãe)... -- suspirou -- E seja lá o que Deus quiser! -- seguiu para sala como quem vai para a jaula dos leões

 

 

***

 

 

--Intão qué dizê qui ocê pensa em casório cum minha fia? -- Amina estudava o rosto do homem

 

 

--Sim, senhora! Comigo a coisa é séria! -- respondeu resoluto -- Casamento na igreja e no civil, com tudo direitinho!

 

 

--Viu que rapaz de ouro? -- Ritinha alcovitava -- Tem mais homem assim, não! Só se vê bêbado e fanfarrão por aí!

 

 

“Ô, meu Pai, manda um raio, uma rajada de fogo ou qualquer peste pra me livrar desse mal!” -- a astrônoma clamava aos Céus

 

 

Amina olhou para a filha e depois para Adamastor. -- Iscuti aqui, seu moçu, -- falava com seriedade -- fiqui sabendu qui Zinara é moça direita e num gosta di patifaria!

 

 

--Nem eu, fique certa! -- garantiu

 

 

--E fiqui sabendu qui nossa famia é muitu tradicioná! Si quisé fazê parti dela, vai tê qui siguí o figurinu!

 

 

--Ah, mas ele segue! -- Ritinha continuava na alcovitice -- É só dizer como funciona que ele vai acatar, não é, querido? -- olhou para ele

 

 

--Claro, claro! -- balançou a cabeça concordando

 

 

--Ocê vai tê qui í na roça, modi pidí a pirmissão dus irmão e du pai dela! -- explicava -- E dexá claru qui ocê tem boa intenção!

 

 

--Certamente, é só marcarmos um dia e eu vou! -- respondeu empolgado -- Não vejo a hora! -- sorriu para Zinara

 

 

“Acho que esse lobisomem do Bicho Ruim pensa que eu não sei que esse fogo todo pra casar comigo é de olho no dinheiro que ele imagina que eu tenho!” -- pensou contrariada

 

 

--E fiqui sabendu qui é tudu homi brabu! Muitu brabu! -- advertiu

 

 

--O que quer dizer, Amina? -- Ritinha perguntou desconfiada

 

 

--Qui si quarqué dus trêis irmão num gostá di Adamastô, vai metê-lhi um socu no meiu das fuça! -- mentiu -- E si um fizé issu, us ôtro tudu faz também! -- cruzou as pernas

 

 

--O que?? -- tia e sobrinho perguntaram apavorados

 

 

Zinara teve vontade de rir. “Valeu, maama!” -- pensou

 

 

--E si elis dé pirmissão, Adamastô vai intão pudê falá cum meu maridu. -- olhava para eles -- E aí é qui tem qui tê mais cuidadu!

 

 

--Por que?? -- o homem estava com medo

 

 

--Humpf! -- fez um gesto com as mãos -- Nem quêra sabê o qui acuntéci quandu o pai da moça num gosta du pretendenti! -- pausou brevemente -- É a tradição di Cedro dus tempu qui nóis morava lá! -- continuava mentindo -- Num tem jeitu, tem qui siguí!

 

 

--Nossa! -- Ritinha exclamou estupefata -- Então é por isso que Zinara é solteira até hoje!

 

 

--É por isso, viu? -- a morena continuava com a mentira -- Nunca ninguém agrada a família e volta da roça tudo desdentado!

 

 

--E si acunticê delis todu gostá docê, -- Amina continuava -- si prepari pru rituá di preparação pras núpcia!

 

 

--Que ritual?? -- Adamastor passou a mão na cabeça suada

 

 

--É um testi di macheza qui só podi participá o pai e us irmão da noiva e mais o noivu. Num sei cumé qui é, purqui os homi tem di guardá segredu, mas Raed gritô qui nem um condenadu quandu nóis casemu! -- mentia -- Deu inté pena!

 

 

--Bem, então... -- não sabia o que dizer -- A gente conversa mais tarde e vai vendo isso direitinho. -- olhou para o relógio -- Por agora, -- levantou-se de um pulo -- lembrei que tenho um compromisso urgente! -- olhou para as mulheres -- Sinto muito, mas não posso ficar pro lanche! -- desculpou-se

 

 

--Que pena, querido! -- Ritinha lamentou

 

 

--Ah, é, que pena! -- a professora lamentou com vontade de rir mais uma vez

 

 

--Dona Amina, foi um prazer! -- fez um gesto de cabeça, o qual a mulher retribuiu -- Vou indo, tia! -- soprou um beijo para a idosa e saiu quase correndo

 

 

--Calma, menino! -- levantou-se também -- Deixa eu abrir a porta pra você poder voltar! -- foi atrás dele

 

 

--Maama! -- chamou baixinho -- Chukran! (Obrigado!) -- piscou para ela

 

 

--Essa dona Ritinha é muitu boazinha, -- respondeu falando baixo também -- mas num queru sabê di fia minha si pegandu com quarqué marmota! -- fez cara feia -- Sê besta, sô!

 

 

--Minha heroína... -- suspirou

 

 

 

CAPÍTULO 29 – Provações

 

 

Jamila continua em seu esconderijo. Havia ido buscar uma encomenda que Dimitrius mandou para ela, após mil malabarismos que pudessem evitar que a advogada fosse localizada por seus perseguidores. Tomada pela curiosidade, abria o envelope ansiosamente.

 

 

--Hum, devem ser cópias de alguns dos documentos que o tal ciberagente andou divulgando! -- falava sozinha -- Que temos aqui? -- começou a ler: -- “A complexa rede de espionagem de Godwetrust conta com a ativa colaboração do Kanatá, especialmente no que diz respeito à investigações sobre os recursos minerais dos outros países.” -- olhava algumas fotos -- "Dados eletrônicos e telefônicos de funcionários do Ministério de Minérios e Fontes de Energia de Terra de Santa Cruz foram monitorados por parte do Kanatá. Destaca-se que três de cada quatro grandes empresas de mineração têm sede naquele país.” -- parou de ler e ficou pensando em voz alta -- Ah, mas isso tem tudo a ver com aquela história que Hamatsu me contou recentemente da maracutaia de mapear reservas indígenas exatamente sobre as jazidas de minérios que interessam ao capital internacional! -- levantou-se da cadeira -- Tenho que pensar um jeito de relacionar as coisas! -- gesticulava -- Índios assentados sobre minérios e o aqüífero de Cima do Chão, -- contava nos dedos -- ONGs intermediando a venda de terrenos estratégicos à empresas que pretensamente querem créditos de carbono por preservação ambiental -- andava pela sala -- e espionagem sobre minérios bancada por um país cheio de empresas mineradoras! -- deu um soco na mesa -- Pensa, Jamila! O quebra cabeças é fácil de montar!

 

 

E de repente o laptop emite um alerta de chegada de e-mails.

 

 

--Quem me escreveu? -- olhou para a tela -- Zinara! -- sentou-se para ler

 

 

A astrônoma perguntava pela ex namorada, dizia palavras de incentivo e pedia ajuda no caso de Aisha e a briga para reaver a fazenda.

 

 

--Pensei que ela seria mais romântica, que me diria que sente saudades... -- suspirou decepcionada -- É, Jamila, ela não te quer mais... realmente não quer... -- cruzou os braços e ficou pensando -- Aceite isso, porque você perdeu... -- fechou os olhos e rememorou uma cena que já havia se repetido em seus pensamentos:

 

 

“-- Acho que você pensa que apenas os seus sentimentos contam! -- a astrônoma acusou -- Você não se importa em me magoar, não é?

 

 

--Não faça drama, Zinara! -- reclamou -- E não deveria ter vindo aqui a essa hora da noite! Sabe que é perigoso!

 

 

--Ouça o que te digo, habibit! -- afirmou com lágrimas nos olhos -- Quando eu desistir de você, será em definitivo! -- prometeu"

 

 

--Mas a gente tem que ser profissional, né? -- continuava falando sozinha -- Infelizmente eu não vou poder ajudar, mas... conheço uma pessoa... -- lembrava-se de alguém -- E olha só, uma pessoa que até pagaria pra ver o Ametista indo a nocaute! -- clicou para encaminhar o e-mail -- E essa pessoa mora em Gyn! -- começou a digitar -- Usritik (sua família) tá com sorte, hayati! -- sorria

 

 

***

 

 

Zinara acordou de madrugada passando muito mal. Sentia um enjôo muito forte, tontura, dor de cabeça e uma cólica desesperadora. Não tinha conforto para permanecer deitada e tentou se levantar. Não conseguindo se manter de pé, caiu no chão e seguiu se arrastando pelo quarto. Não sabia para onde queria ir, mas desejava se movimentar. A agonia que lhe dominava era intensa demais.

 

 

Uma onda de calor invadiu seu corpo e a morena começou a suar frio. A boca ressecou, a respiração tornou-se dificultosa e o coração acelerou repentinamente.

 

 

--Ah... ah... -- gemia baixinho enquanto se arrastava -- Aba... (Meu Pai...) Sagrada Omm... (Sagrada Mãe...) -- clamava por ajuda

 

 

--Fia?! -- Amina apareceu desesperada -- Oví um baruio! -- ajoelhou-se perto dela -- Que qui ocê tem? -- segurou o rosto da astrônoma

 

 

--Gatayaan, sudaagh... Ana mareed, maama... (Enjôo, dor de cabeça... Estou mal, mamãe...) -- respondeu angustiada

 

 

--Carma, minina! -- sentou-se no chão e abraçou a filha em seu colo -- A dotôra dissi qui ocê ia sintí uns efeitu ruim mas qui dipois ia passá! -- acariciava a cabeça dela -- Vai passá, minha fia... -- seus olhos marejaram -- Vai passá...

 

 

--Ana xaafa, maama... (Estou com medo, mamãe...) -- abraçou-a com força -- Eu não queria passar por isso...

 

 

--Ô, minha minina... -- Amina chorava -- Si eu pudessi, tirava essi trem di dentro docê e butava eli im mim, modi num ti deixá sofrê mais... -- beijou a cabeça da professora -- Cunfia im Deus, minina! -- pediu esperançosa -- Cunfia!

 

 

Zinara sentia suas dores abdominais se intensificarem e não mais conseguia falar. Fechou os olhos e pensou em Deus.

 

 

--Cunfia minina! -- continuava chorando -- Tua maama vai cantá procê durmí! -- começou a se balançar como se ninasse a outra mulher -- Yalla tnam, Zinara, yalla yijeeha elnoum, (Oh, Senhor, ajude Zinara a dormir, que ela possa adormecer) -- cantava com carinho -- yalla tHib elSala, yalla tHib elSoum, (ela pode crescer amando orar e jejuar) -- desejava tomar para si aquela dor -- Yalla tjiha elghawafi kul youm byoum... (Oh, Senhor, faça-a saudável a cada dia...) -- fechou os olhos e começou a orar com fervor

 

https://www.youtube.com/watch?v=kPFBEVKUXco

 

A astrônoma ainda sofria muito, mas sentia-se protegida e amparada.

(Nota da autora: baseada na canção de ninar Yalla tnam, da cantora Fairuz)

 

***

 

 

Clarice preparava-se para voltar para casa após mais um dia de trabalho, quando foi surpreendida por Cátia, que a abordou no corredor.

 

 

--Querida! -- segurou no braço dela de leve -- Por favor! -- falava humildemente

 

 

--Ui, que susto! -- arregalou os olhos -- Chega de repente me pegando pelo braço! -- ralhou -- Pensei até que fosse outra coisa!

 

 

--Perdão. -- parou diante da outra -- Escuta, Clarice, deixa eu te dar uma carona pra casa? -- ofereceu -- A gente precisa conversar...

 

 

--Precisa? -- olhou para a loura seriamente -- Não há mais o que conversar, Cátia! Além disso, depois do que fez no sábado passado você deveria passar os próximos cem anos longe da minha casa! -- respondeu de pronto -- Mamãe não quer saber de te ver por lá, sabia? -- cruzou os braços -- Eu tampouco! -- preparou-se para ir embora

 

 

--Minha querida, por favor! -- insistiu detendo-a com delicadeza -- Eu não vou entrar na sua casa, te deixo na esquina, mas por favor! Você não é dura assim, Clarice! -- parecia a ponto de chorar -- Me dá um pouco do seu tempo pra gente conversar, por favor! -- olhava nos olhos da morena -- Eu preciso! Preciso muito!

 

 

A paleoceanógrafa se comoveu com aquela súplica. -- Tudo bem... -- passou a mão nos cabelos -- Mas sem gracinhas, viu? -- advertiu

 

 

--Tem minha palavra! -- garantiu

 

 

***

 

 

--E aí eu acabei ficando uma pessoa muito medrosa. Fiquei com medo de amar... -- Cátia desabafava -- As pessoas que mais amei na vida morreram todas quase de uma vez só e de repente me vi sozinha no mundo. -- olhava para o volante do carro -- Pouco tempo depois de formada, comecei um namoro com uma garota que fazia meu coração disparar apenas com um sorriso... -- relembrava -- E eu me apaixonei de verdade... Só que... -- pausou brevemente -- Ela morreu num acidente de ônibus... foi no dia do meu aniversário, e ela voltava correndo de uma viagem só pra ficar comigo... -- derramou uma lágrima

 

 

--Oh, querida... -- Clarice ficou penalizada -- Eu sinto muito... -- olhava para a loura

 

 

--Eu fiquei com esse medo, entende? -- virou-se de lado e ficou de frente para a ex -- Todo mundo que eu amei de verdade morreu e saiu da minha vida cedo demais! -- justificava-se -- Então eu não quis mais saber disso! Não queria mais sofrer e me sentir daquele jeito! Saudade e solidão maltratam demais!

 

 

--Entendo a sua dor, mas ela não te dá o direito de brincar com os sentimentos dos outros! -- retrucou -- Você se tornou uma pessoa capaz de jurar uma mentira olhando nos olhos de alguém! E faz isso sem o menor pudor, a menor culpa! -- balançou a cabeça negativamente -- Chega a ser psicótico!

 

 

--Eu sei que me tornei uma canalha, uma verdadeira máquina de fazer sex*! -- segurou uma das mãos da morena -- Mas acabou acontecendo o que eu não queria: me apaixonei de novo! -- tocou o rosto da outra -- Posso ter me dado conta disso tarde demais, posso ter errado, mas a verdade é uma só, Clarice: -- olhava nos olhos -- eu te amo!

 

 

--Cátia... -- sentia-se perturbada

 

 

--Não tive coragem de me desmascarar e te contar toda verdade, não tive a decência de ter agido com Lilian com um mínimo de consideração, assumo tudo isso! Mas eu sou humana! -- aproximou-se mais -- Sou falível, sou vulnerável e você desmanchou todas as minhas defesas sem fazer esforço! -- segurou o rosto da paleoceanógrafa com as duas mãos -- Me dá uma chance, só mais uma última! Dou minha palavra de honra que nunca mais vou te decepcionar!

 

 

A morena sentia-se balançada.

 

 

--Juro pela memória de minha mãe e avó, -- emocionou-se -- que não vou mais te trair, mentir ou fazer qualquer coisa que te magoe! -- prometeu -- Eu te amo, eu te quero e tô disposta a me entregar de verdade! -- falava com paixão

 

 

--Ai... -- suspirou

 

 

A loura cobriu os lábios da ex namorada com os seus e beijou-a intensamente.

 

 

--Não! -- Clarice interrompeu o beijo e se afastou -- Não, Cátia, chega! -- passou a mão nos cabelos nervosamente -- Acabou e não tem mais volta! Você já teve chances demais comigo e eu não quero mais isso!

 

 

--Por favor, não diz isso! -- insistia quase em desespero -- O que existe entre nós é muito forte pra terminar assim!

 

 

--E o que existe entre nós além de mentiras e mal entendidos? -- questionou -- Você não me ama, apenas é demais pra sua vaidade levar um fora!

 

 

--Não fala assim comigo! -- pediu agoniada -- Eu te amo, sim, o que preciso fazer pra te convencer?

 

 

--Nada, Cátia. -- abriu a porta do carro -- Agradeço pela carona, desejo tudo de bom pra você e espero que conheça o amor de verdade! Mas será com outra mulher, não comigo! -- saiu -- Boa noite! -- fechou a porta e seguiu andando para casa

 

 

--Droga! -- deu um soco no assento do carro -- Eu não vou desistir de você, Clarice! -- ligou o carro -- Vou lutar por esse amor e não desistirei enquanto não tiver você comigo de novo! -- manobrou para sair -- Eu te amo e vou te convencer disso! É só uma questão de tempo! -- foi embora

 

 

Clarice entrava em casa nervosa.

 

 

--Chegou cedo! -- Leda estranhou olhando para a filha -- Hum... já vi tudo! -- cruzou os braços contrariada -- A estupradora da terceira idade trouxe você pra casa, te passou uma conversa e te deixou assim, toda balançada! -- concluiu

 

 

“Gente, mas mamãe é incrível!” -- pensou abestalhada -- Ai, por favor! -- pediu arremessando a bolsa na poltrona -- Não briga comigo, mamãe, tô muito perturbada! -- seguiu andando para o quarto

 

 

--Mas é uma praga mesmo! -- a idosa reclamava consigo mesma -- Aquela tarada parece que fez mandinga pra prender minha filha, que a menina sempre fica nessa agonia quando encontra com ela! -- deu um soco na poltrona -- Que coisa!

 

 

A professora despiu-se rapidamente e entrou no box para tomar banho. Fechou os olhos e pôde sentir ainda o perfume da loura.

 

 

--Ai, Clarice, deixa de ser besta, viu? -- brigava consigo mesma -- Cátia é sedutora, envolvente, interessante, mas muito perigosa! Ela pareceu convincente, mas depois de tanta mentira não dá pra sair confiando assim! -- abriu os olhos -- E Zinara, hein? Ela tá solteira... -- continuava falando consigo mesma -- Mas é uma criatura tão complicada, não vê um palmo diante do nariz... Será que ela tem algum interesse em mim? -- balançou a cabeça contrariada -- Que mulheres esquisitas essas da minha vida! -- abriu o chuveiro e começou a se molhar -- Vou te contar! -- pegou o sabonete -- Vou te contar... -- ensaboava-se

 

 

***

 

 

Raed estava sozinho em casa e preparava-se para cuidar do roçado. Najla havia ido no mercadinho comprar tempero para usar no almoço.

 

 

--Baba! -- Ahmed apareceu batendo na porta da cozinha -- Bão dia! -- sorriu meio sem graça -- Sua bença? -- pediu

 

 

Encostou enxada e facão na parede. -- Deus ti abençoi! -- olhava para o filho

 

 

--Tem um minutinhu modi gastá mais eu? -- perguntou humildemente

 

 

--Senta aí, mininu. -- apontou para a mesa da cozinha -- Eu tava indu pru roçadu, mas possu isperá um pôcu. -- puxou uma cadeira para si

 

 

--Tamu sozinhu? -- reparou no ambiente antes de se sentar

 

 

--Najla foi nu mercadinhu. -- continuava olhando para o jovem -- E intão? -- queria saber do que se tratava

 

 

--É, baba... -- coçou a cabeça -- Pirdi o impregu... -- confessou sem jeito -- E Catiúcia tá mesmu prenha...

 

 

--AHHa! -- deu soco na mesa -- Quartu fio, Ahmed? -- fez cara feia -- E ocê disimpregadu?

 

 

--Pois é... -- debruçou-se na mesa -- E achu qui Catiúcia fez issu modi mi prendê. -- falou mais baixo -- Eu qui já tava querendu di terminá...

 

 

--Quandu qui ocê vai tomá jeitu di homi? -- perguntou rispidamente -- Já passô du tempu!

 

 

Ahmed se surpreendeu com a atitude do pai. -- Baba, eu... -- abaixou a cabeça -- Num é fáci incontrá a muié certa, né?

 

 

--E nem o empregu certu, né, Ahmed? -- retrucou seriamente -- Ocê pareci qui faz questão di num fazê nada pelu direitu!

 

 

--Ah, baba, essis impregu qué tudu rancá nosso côro! -- reclamou

 

 

--Eu é qui divia di tê rancadu teu côro quandu ocê era mininu piquenu! -- levantou-se -- Si veiu mi pidí dinheru vorta nu mesmu pé qui chegô!

 

 

O rapaz não conseguia acreditar no que ouvia. -- Mas, baba, eu tô cum pricisão di...

 

 

--Num mi interessa! -- interrompeu-o rispidamente -- Tua pricisão é di uma coisa só: vergonha na cara! -- pegou a enxada, o facão e o chapéu

 

 

--Qui foi qui acunticeu, baba? -- perguntou sem entender -- O sinhô nunca qui mi tratô assim!

 

 

--Acunticeu qui eu abri us zóio! -- colocou o chapéu na cabeça -- E num vô dá mais moleza nem procê e nem prus teus irmão!

 

 

--Baba, eu vô tê um fio! -- levantou-se revoltado

 

 

--Quandu ocê cumeçá a si comportá comu pai, comu sujeitu homi, eu vô tá du teu ladu! -- falava com o dedo quase no rosto de Ahmed -- Inquantu não, isqueci qui tem eu aqui! -- saiu da cozinha

 

 

--Diacho! -- reclamou sozinho -- Que qui deu neli?

 

 

 

CAPÍTULO 30 – O Que Nunca Foi Dito

 

 

Zinara e Werneck apresentavam seu departamento para Amina, que estava impressionada com o trabalho que a morena fazia na faculdade.

 

 

--Veja quanta coisa que sua filha fez aqui, dona Amina. -- ele dizia -- Quando Zinara chegou neste departamento nós estávamos no começo da construção do curso de graduação em astronomia e astrofísica, -- sorria para a mãe da colega -- e hoje somos líderes pioneiros no projeto dos Observatórios Virtuais!

 

 

--E issu devi di sê importanti! -- exclamou toda prosa

 

 

--São ferramentas de computador que nos ajudam a entender o universo melhor, maama. -- a morena explicou

 

 

--Nosso curso já formou bons alunos, temos evoluído muito, mas ainda temos um longo caminho pela frente. -- Werneck continuava -- Eu conto muito com Zinara pra nos ajudar a continuar progredindo mais e mais! -- olhou rapidamente para a astrônoma -- Conto os dias pra ela voltar a trabalhar!

 

 

--Mas ela vai vortá, num é, fia? -- olhou para ela

 

 

--Se Deus quiser. -- respondeu sem acreditar na possibilidade

 

 

--Espero que a senhora tenha gostado da visita! -- Werneck parou de caminhar ao final do corredor -- Infelizmente não posso continuar acompanhando as duas porque tenho uma reunião com um colega daqui a pouco. -- olhou para o relógio -- Zinara conhece a universidade tanto quanto eu, então não precisa de mim pra continuar lhe apresentando o que fazemos aqui.

 

 

--Gradicida! -- Amina respondeu sorridente -- Eu gostei dimais da conta di sabê o qui ocês faz e di ver essis trem todu qui ocês usa modi insiná us alunu!

 

 

“Ele tá tão formal! Aposto que tá desse jeito pra impressionar minha maama!” -- pensou achando graça -- Obrigado, Werneck! -- agradeceu -- Foi muito gentil de sua parte, senhor chefe de departamento. -- brincou com ele

 

 

--Não me agradeçam, foi um prazer! -- olhou para a colega -- De atual chefe pra eterna chefe de departamento. -- piscou para ela -- Tudo de bom pra vocês! -- fez uma pequena reverência e saiu

 

 

--Gostei dessi moço! -- exclamou balançando a cabeça

 

 

--Ele é legal. Dos poucos em quem se pode confiar. -- deu o braço a mãe -- Vamos lá fora ver os telescópios, maama? Quando escurecer um pouco mais podemos até dar uma olhadinha no céu noturno. -- ofereceu

 

 

--Oba!! -- ficou empolgada -- Eu queru vê as istrela cum us telecópiu! -- foram seguindo para o observatório -- Najla mi dissi qui ocê mostrô o céu pra ela e qui tinha cada coisa das mais linda lá im cima!

 

 

--Ela gostou bastante e olha que nós estávamos com binóculos! -- lembrou -- Com telescópios dá pra ver bem mais. Vou lhe mostrar estrelas e planetas.

 

 

--Ah, mas eu queru vê é tudu! -- olhou para a filha -- Dá pra tirá fotu?

 

 

--Podemos tirar. -- sorriu -- Quer foto pra guardar de recordação?

 

 

--Queru colocá é nu meu LivrodasFuça! Ninguém vai tê, só eu! -- parecia criança -- Quero fotu dus planeta, dus cometa e das istrela!

 

 

--É mole? -- achou graça

 

 

***

 

 

Zinara e Amina caminhavam pela ciclovia na beira mar. Era noite, haviam acabado de lanchar e conversavam sobre a visita à universidade.

 

 

--Eu fiquei cheia di orguio, fia! -- comentou com sinceridade -- Quandu mi vem na cabeça qui ocê foi uma minina qui nasceu im condição tão difíci, qui morô na roça e foi tão pobri pur tantus anu... Ave Maria, é orguio pur dimais da conta!

 

 

--Não foi fácil chegar até aqui... -- respondeu pensativa -- Mas valeu por cada passo dado.

 

 

--E issu torna as coisa inda mais bunita!

 

 

--O cavalo azarão deu certo, né, maama? -- perguntou com uma pontinha de mágoa -- Cavalo não, égua. -- riu brevemente -- Pra tristeza do baba.

 

 

--Ocê nunca qui foi azarão! -- parou de andar e olhou seriamente para a filha

 

 

--Não? -- parou também olhou nos olhos da mãe -- Tem certeza? -- saiu da ciclovia e seguiu sozinha pela areia da praia, aproximando-se do mar

 

 

--Pur que diz issu? -- foi atrás dela

 

 

--Maama, por favor! -- parou de andar e respondeu sem olhar para trás -- Eu nunca fui o que ya sayyida e baba queriam! Nunca fui e não sou, sejamos sinceras. -- olhava para o mar -- O que aconteceu foi que ambos se acostumaram comigo e com a minha existência.

 

 

Amina parou do lado dela e ficou igualmente olhando para o mar. -- Num fali du qui num sabi, minina. -- respondeu mansamente -- Ocê num podi vê o coração dus ôtro!

 

 

--Não vejo, mas as atitudes falam por si só. -- respondeu secamente -- Sei muito bem que baba não queria uma filha, e sei que por isso nunca tive maama.

 

 

--Nunca mais mi diga issu! -- retrucou enérgica ao posicionar-se de frente para a professora -- Ocê nunca mais si atreva a dizê qui nunca tevi mãe! -- levantou o dedo em riste

 

 

--E eu tive? -- alterou-se também -- Me diga quando eu tive, porque não sei!

 

 

Amina sentiu suas emoções turbilhonarem mas se conteve. -- Ocê tevi mãe desdi o dia qui eu mi entendi prenha! -- controlava a emoção -- A'aleem illah bilma yinqaal! (Deus sabe o quanto meu amor é por você!)

 

 

--Então por que nunca senti esse amor? -- perguntou derramando uma lágrima -- Por que sempre me vi como um fardo que se deixa pra outros carregarem?

 

 

--PORQUE EU ERA UMA MULHER QUE MORRIA DE MEDO DE UM MONTE DE COISAS! -- quase gritou, falando na língua de Cedro -- Porque tudo que eu não queria era que você tivesse uma vida como a que eu tive! -- começou a chorar de forma contida -- Porque eu era, como ainda sou, uma burra ignorante que não tinha nada para lhe dar! -- olhava nos olhos -- Nada além desse amor que você nem consegue perceber!

 

 

Zinara se surpreendeu com o que ouviu e nada falou.

 

 

--Eu nasci no sul de Cedro e mulheres como eu, -- bateu no peito -- tinham direito a quase nada! Tive dez irmãos e fui criada como empregada de todos eles. -- contava sua história -- A primeira a se levantar e a última a dormir. A última a comer, a última a tomar banho e a primeira a ser castigada por qualquer coisa... -- balançou a cabeça negativamente

 

 

“Oh, Aba (Meu Pai), que vida!” -- pensou penalizada

 

 

--Abuuya (meu pai) vivia pensando em como me arrumar um zog (marido) em tempos de guerra. -- lembrava -- Porque a guerra, Zinara, lá no sul, já havia começado muito antes de 1975! -- pausou brevemente -- Aalbi shaaf elwail, yaama shaaf il-wail... (Meu coração testemunhou misérias, quantas vezes testemunhou misérias...) -- pausou brevemente -- Quando Raed apareceu, foi como se um problema de família tivesse terminado: Amina ia ser dada em casamento! -- abriu os braços rapidamente -- Eu não tive direito nem de falar nada! Meu pai aceitou o pedido dele, mesmo sem ter conhecido ya said Raja, e isso era suficiente!

 

 

“E abuuya (meu pai) nunca que foi um homem carinhoso... que tristeza!” -- continuava refletindo sobre o que ouvia

 

 

--Eu fui criada para servir, bintii (minha filha)! Não me era permitido sequer pensar por mim mesma! -- continuava chorando -- Você leu o yoom kitaab (diário) de Zahirah, então sabe do que houve quando você nasceu... Acha que foi fácil para mim? -- cobriu os lábios rapidamente e andou um pouco em círculos -- Não foi! -- afirmou emocionada -- Mas eu nunca, NUNCA, desisti ou abandonei você! Se lhe deixei aos cuidados de Zahirah e Farida foi para lhe proteger da ignorância! -- a astrônoma entendeu que Amina se referia a Raed -- Foi porque sabia que elas podiam lhe ensinar a ser inteligente como as duas eram! Elas podiam te mostrar um mundo que eu nunca conheci...

 

 

--Maama... -- queria falar mas não conseguia

 

 

--E quando ya said Raja e elas já não estavam mais conosco, eu fiquei sem saber o que fazer com você! -- parou diante da morena mais uma vez -- Porque eu queria me aproximar e não sabia como!

 

 

--Não sabe o quanto eu desejei que se aproximasse... -- respondeu na língua de Cedro -- Eshtaqto elaiki katheeran... (Senti tanto a sua falta...) -- derramou uma lágrima sentida

 

 

--Mas eu não soube o que fazer... -- lamentou -- E achava que você não gostava de mim...

 

 

--Eu pensava a mesma coisa a seu respeito! -- secou os olhos com as mãos -- Nunca entendi porque via o mal acontecer e nada fazia!

 

 

Amina passou as mãos nos olhos também. -- Não me culpe pelas atitudes de abuuik (seu pai)! -- pediu

 

 

--Ya sayyida não fez coisa alguma quando Ahmed nasceu e baba nos abandonou como se não tivesse outros filhos! -- acusou -- Sua vida era cuidar dele e depois de Nagibe e Cid!

 

 

--Ma hatha?! (O que é isso?!) -- perguntou revoltada -- Eu não deixei de cuidar de nenhum de vocês! Nunca deixei! -- discordou -- Mas seus outros irmãos eram crianças pequenas e eu tinha que dar mais atenção! Especialmente a Ahmed, que ficava doente demais!

 

 

--Depois que eles nasceram, sempre me pareceu que nada nosso fazia mais a menor diferença para ya sayyida (a senhora) ou baba! -- continuava acusando -- E mesmo antes, nada meu parecia lhe interessar...

 

 

--Quando Najla disse que não ia mais pagar a professora Fátima para nos ensinar a língua daqui, eu me humilhei implorando a ela que deixasse que pelo menos você, Youssef e Khaled continuassem aprendendo! -- contou o que a filha não sabia -- E foi por isso que Raed e eu deixamos de ter aulas e vocês não! -- lembrava -- E eu andei por quatro horas debaixo de sol para chegar naquela primeira escola onde você e Khaled estudaram, só para pedir para matricular vocês, porque eu sabia que era importante e sabia que era o que você mais queria! -- cruzou os braços como se estivesse na defensiva -- Aisha já tinha ido embora para estudar e eu não queria esperar ela voltar de férias para que vocês pudessem freqüentar uma escola. -- pausou brevemente -- Voltei a pé aquilo tudo de novo e quando cheguei em casa, seu pai brigou muito comigo porque saí escondido. -- riu brevemente -- Você não sabe o que uma atitude daquelas significava para uma mulher criada como eu! -- balançou a cabeça negativamente -- Você não sabe... -- respirou fundo -- Como também não sabe o quanto que lutei para que nenhum daqueles supervisores de Al Maghrib se aproveitassem da sua inocência... Eu morreria, mas eles não colocariam um dedo em você!

 

 

A astrônoma se surpreendeu com aquilo. -- Eu ainda não consigo entender! Laa acrif... (Eu não sei...) -- passou a mão nos cabelos e olhou para o chão -- Eu não entendo ya sayyida (a senhora), maama.

 

 

--Por que não entende?! -- ficou agoniada -- Por que não consegue ver que sua mãe é apenas uma mulher ignorante que lhe deu o melhor que podia dar? -- sentia-se muito triste

 

 

--Por que não fez nada quando baba me expulsou de casa? -- cobrou como se não tivesse ouvido o que ela disse -- Eu estava indo estudar e fui tratada como um lixo! -- sentia uma dor no peito

 

 

--Posso ter errado por não ter tido coragem de dizer o que tinha vontade, mas a dor que senti... -- voltou a chorar novamente -- Quem acha que colocou aquele dinheiro na sua bolsa? -- perguntou emocionada -- Quem acha que escondeu aquele lanche na sua mochila? Lissa faker? (Você lembra?) -- cobrou também -- Era tudo que eu tinha, Zinara... Era o que eu podia fazer... Além de implorar à Virgem, todo o santo dia para que protegesse você! -- secou os olhos com a roupa -- Depois que você foi embora, foi como se nunca mais o sol tivesse nascido para mim!

 

 

A professora se deu conta que o gesto de sua mãe havia ficado no esquecimento. Nem se lembrava mais do dinheiro e do lanche que encontrara em sua pequena bagagem quando seguia para estudar em Gyn.

 

 

--Acuse sua mãe do que quiser! De burra, de medrosa, passiva, ignorante, do que for! -- chorava mais -- Mas nunca diga que não me importo, nunca diga que sou indiferente porque não é verdade! -- tentava se conter -- Ana behebbik, bintii! (Eu te amo, minha filha!) -- declarou com muito sentimento -- E muito lamento por nunca ter sido a mãe que você queria e merecia ter! -- olhava nos olhos -- Se eu pudesse, ficava com sua doença para mim e não te deixava sofrer nunca! Daria minha vida pela sua sem pensar duas vezes! -- falava com verdade -- Howa dah elhobbi elha! (Esse é o amor verdadeiro!) O amor da mãe pela filha que tem! -- aproximou-se receosa -- Eu amei e amo cada filho que tive, mas a verdade é que você sempre foi a mais especial para mim! -- a morena sentia o coração disparar -- Se o preço a pagar por Zinara Raed ter se tornado a mulher que é... -- não conseguiu continuar a frase -- Se o preço a pagar é ter de você o seu desprezo, o seu desgosto, eu pago... -- cada lágrima lhe parecia pesada demais -- Porque você é a pessoa mais linda que eu conheço e... -- segurou uma das mãos dela -- Eu repito: behebbik ya, bintii! (Eu te amo, minha filha!)

 

 

--E será que continuaria amando se soubesse... -- decidiu dizer toda a verdade -- que sou como Aisha e Janaína? -- não tinha idéia de como afirmar que era lésbica na língua natal -- Eu não vou me casar com um homem, não vou engravidar, não vou formar família como meus irmãos fizeram!

 

 

--E se eu disser que no fundo sempre soube disso? -- respondeu sem pestanejar -- E se eu disser que percebia que você amava Zahirah de um jeito bem mais especial do que a uma irmã? -- soltou a mão da morena -- E se eu disser que notei que você se apaixonou por Aisha quando era moça? -- mordeu o lábio inferior -- Só não tinha coragem de dizer que sabia e nem queria aceitar que era verdade, porque tinha medo do que pudesse te acontecer.

 

 

A professora ficou estupefata e muda.

 

 

--A’arfah innouh dah khayrait hayatik... (Eu sei que essa é sua escolha de vida…) -- segurou o rosto da outra -- E a minha é continuar te amando à despeito de qualquer coisa!

 

 

Zinara não se agüentou e abraçou a mãe com força e emoção. -- Behebbik ya, maama! (Eu te amo, mamãe!) -- chorava muito -- Não há desgosto ou desprezo de minha parte! Nunca houve -- fechou os olhos -- Eu só quero ser sua menina... É tudo que eu sempre quis...

 

 

--Sempre foi! -- fechou os olhos também -- E sempre será! -- abraçava-a como se quisesse parar o tempo -- E, por favor, não desista de viver, porque sem você... Ya sheen theek izziwaya? (O que será de mim?)

 

 

Parecia possível que anos de dor, insegurança e frustração pudessem ser resolvidos em um simples abraço.

 

 

Às vezes é...

 

 

Dias depois, Kitaabii (Meu Livro), maama e eu estávamos naquela mesma praia, bem cedinho, tomando banho de mar.

 

 

À princípio ela morreu de vergonha de usar o maiô que lhe comprei, mas depois esqueceu de tudo e pulava as ondas comigo como se fôssemos duas crianças brincalhonas conhecendo o mar pela primeira vez.

 

 

Aquelas águas verdes e mornas testemunhavam nosso acordo de paz, nossas promessas de que tudo de mal e triste havia ficado no passado. Não nos interessava perder mais tempo com coisas que não conseguíamos mudar; queríamos apenas viver o presente e fazer dele o melhor que poderia ser.

 

 

De repente uma onda traiçoeira nos surpreendeu e caímos sentadas. Instintivamente nos abraçamos e acabamos achando graça da situação. Maama se levantou e jogou água no meu rosto. Corri atrás dela, que mergulhou rapidamente para fugir de mim, mas consegui alcançá-la e a segurei no colo. “Mi larga, minina!”, ela gritou divertida, e nada pude fazer além rir.

 

 

Rindo e brincando naquela bela praia de Cidade Restinga, nós nos permitíamos ser o que por uma vida inteira desejamos: simplesmente mãe e filha.

 

 

Oh, Aba (Meu Pai), agradeço de joelhos que Tua bondade me permitisse viver isso antes que a doença destruísse meu corpo ou que minasse minhas forças. Não sei o que será de mim, mas sinto que albii (meu coração) aos poucos se esvazia de suas dores profundas e isso é o que de melhor poderia me acontecer. Louvado seja, Allah! Akbar, Akbar! (Grande, Grande!).

 

 

***

 

 

Maama, ya habibi,

 

 

Quanto mais o tempo passa, mas eu sei o quanto que é preciso ser muito mulher para assumir de fato este papel de mãe. Especialmente para ser mãe de uma filha que o pai não queria. Hoje vejo com clareza o que significa criar uma filha sozinha, seja esta solidão causada pela ausência emocional e/ou física do companheiro. Hoje sei que mulheres no seu lugar são, mais que tudo, nobres e abnegadas guerreiras que lutam contra todas as coisas em nome do mais sublime amor que possa haver: o amor de mãe!

 

 

Tudo que já ouvi de seus lábios, tudo que já lhe disse, todas as coisas que vivemos, cada sorriso, cada lágrima, cada gesto de carinho e os milhões de sentimentos nunca verbalizados, mas vivenciados com a intensidade que nos caracteriza, constituem meu mais precioso tesouro. Aquele tesouro que ladrões não pilham e roubam e que as traças ou a ferrugem não consomem. Aquele tesouro que nunca sairá de meus pensamentos nem do meu coração.

 

 

Cada degrau que subi, cada vitória conquistada e cada luz que se acendeu em minha mente deve-se ao que você me deu, sob as bênçãos de Deus. Deve-se ao que aprendi sob seus cuidados. Sua tão falada ‘ignorância’ a respeito do meu mundo acadêmico foi, e é, a sabedoria que mais me ensinou, acima de qualquer coisa que a Academia tenha me dado. Títulos servem apenas para atestar o aprendizado racional e impressionar aqueles que se prendem à matéria passageira. O verdadeiro conhecimento é o que torna a vida mais bonita, mais leve, mais significante; este foi o conhecimento que me ensinou, aquele que realmente interessa.

 

 

Há uma enorme montanha em minha alma, esperando ainda que eu chegue em seu cume, mas essa escalada é somente minha. No entanto, posso lhe dizer que as ferramentas que uso para vencer os obstáculos, me proteger dos ventos frios e tempestades, e evitar as quedas, me foram dadas por suas mãos. E, certamente, pelas mãos de Deus, O qual aprendi a amar e respeitar sob sua orientação.

 

 

Poderia escrever por dias, meses ou pela vida toda, mas isso me basta. Sei que, muito provavelmente, estas letras nunca serão vistas por seus olhos, mas o que deveria lhe dizer, meus lábios e meu coração já lhe disseram inúmeras vezes: eu te amo, mamãe!

 

 

E o amor é assim... não se explica, nem se entende; apenas se sente.

 

 

“Torno a ver, nos meus dias de criança,

O teu regaço, a lamparina acesa,

O pequeno lençol que trago na lembrança,

A oração da manhã e o pão à mesa...

 

Varro o chão, a fitar-te as mãos escravas,

Afagando o fogão, de momento a momento...

A roupa e o batedouro em que cantavas

Para esquecer o próprio sofrimento...

 

(...)

 

Cresci... A mocidade me requesta,

Ante a cidade de qualquer maneira...

Parti... -- eu era a rosa para a festa,

Ficaste... -- eras a rústica roseira.

 

De tudo vi na estrada grande e nova,

As flores do prazer, o brilho, a fama,

A malícia dourada e os suplícios da prova

Marcando a pranto e fel os passos

de quem ama...

 

Hoje, volto a buscar-te, mãe querida,

Dá-me de tua paz sem ilusão,

Guarda-me em ti, amor de minha vida,

Alma querida de meu coração.”

 

Pelo espírito de Maria Dolores, psicografia de Chico Xavier

 

 

(Nota da autora: e você? Já disse a sua mãe, ou a quem quer que seja que tenha lhe criado, o que sente? Mesmo que a resposta seja sim, repita depois de um abraço apertado: “Eu te amo!”)

 

 

 

CAPÍTULO 31 – Preparando-se Para o Congresso

 

 

--Então, sua mãe foi embora ontem? -- Cláudia perguntou para a amiga -- Isso não quer dizer que você vai deixar o tratamento, não é, Zinara? -- ficou preocupada -- Afinal de contas só fizemos quatro sessões!

 

 

--Quatro horríveis sessões, você quer dizer! -- afirmou enfática -- Olha minhas veias como tão! -- mostrou o braço -- Qualquer movimento com esse braço dói como nunca doeu! -- reclamou

 

 

--É assim mesmo, depois você se acostuma e não vai sentir tanto.

 

 

--Só não tô pior por conta do remédio caseiro de babosa que maama fazia pra mim. -- ajeitou-se na cadeira

 

 

--Se não for assim, se não se tratar, será pior! -- olhava nos olhos da professora -- E seu corpo não vai resistir por muito tempo!

 

 

--Eu não vou abandonar, Cláudia, prometi isso a maama. -- garantiu -- Só que junho já chegou e o congresso mundial começa na semana que vem. -- cruzou as pernas -- Não vai ter sessão na segunda que vem, porque viajo no sábado.

 

 

--É só uma semana de congresso. Não tem problema perder uma sessão. -- respondeu tranquilamente

 

 

--Na verdade... -- pensou antes de falar -- vou perder mais que uma sessão porque pretendo ficar três semanas fora.

 

 

--Três semanas?! -- arregalou os olhos -- O que vai ficar fazendo três semanas em Paulicéia, posso saber? -- cruzou os braços revoltada

 

 

--Em Paulicéia só fico uma semana por causa do evento. As outras duas passarei em São Sebastião.

 

 

--Fazendo o que?? -- insistiu

 

 

--Tenho que resolver uns assuntos pendentes. -- foi o que se limitou a dizer

 

 

--Mas que diabo de tanta pendência é essa que você tem, hein, mulher? -- perguntou de cara feia

 

 

--Eu volto, doktuur. -- respondeu sorrindo -- Confia na caipira.

 

 

--Confia na caipira, pois sim! -- levantou-se -- Acho bom você não inventar muita estripulia por lá, porque senão eu te como viva! -- ameaçou

 

 

--Eita, que mulher braba! -- brincou

 

 

--Tô brincando, não, hein, Zinara! -- pôs as mãos na cintura -- E eu que acreditei que dona Amina fosse te botar na linha! -- balançou a cabeça contrariada

 

 

--Ela fez muito mais que isso, Cláudia. -- levantou-se também -- Ela me disse tudo que eu precisava ouvir.

 

 

--E eu também vou te dizer tudo que você precisa ouvir, sua bicha sem vergonha! -- gesticulou com raiva -- Palavrões de A a Z, cada um pior que o outro! -- aproximou-se da amiga -- Não me tira do sério de novo, não, viu? Você não sabe do que sou capaz!

 

 

--Ave Maria! -- achou graça -- Começo a ter pena de seu marido, viu?

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Músicas do Capítulo:

Amina cantou:

Show das Poderosas. Intérprete: Anitta. Compositora: Larissa Machado. In: Anitta. Intérprete: Anitta. Warner Music Brasil, 2013. 1 CD, faixa 1 (2min30);

Yalla Tnam. Intérprete: Fairuz. Composição: tradicional canção de nina libanesa. Sem informações sobre os compositores. In: Bent El Hares. Intérprete: Fairuz. Randa Phone-Modissa, 1967. 1 disco vinil, faixa 3 (2min24)

 


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 12 - OMM:
Samirao
Samirao

Em: 07/10/2023

Eu amo esse CAPS!


Solitudine

Solitudine Em: 11/11/2023 Autora da história
É fofinho, não?
Tudo de maama é fofo!
Beijos,
Sol


Responder

[Faça o login para poder comentar]

Alexape
Alexape

Em: 29/12/2022

Muita emoção! Lindo!!!!!! Amo Zinara e tô shippando! Clarice acorda e age!!!


Resposta do autor:

kkkkkkkkkk

Vai dar certo!

Beijos e obrigada!

Sol

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Seyyed
Seyyed

Em: 17/09/2022

Embora tu não dê as caras, não resistir! E que capítulo incrível! O sofrimento da Zi , o colo de mãe chegando agora na vida adulta, a conversa que tava devendo acontecer há anos.... lindo lindo lindo! E Leda me fazendo ri a ponto de chorar! Hahaha Essa história é mará!


Resposta do autor:

Sim, eu dei as fucinhas!!!! Ói eu aqui, sô! É que a caipira não consegue acompanhar o ritmo aqui.

Cada comentário seu me alegra! Obrigada pela recepção tão positiva e empolgada!

E concordo: o momento de Zinara com a maama foi inesquecível!

Beijos,

Sol

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Zaha
Zaha

Em: 25/01/2018

Não poderia deixar de escrever meus sentimentos dps de ler esse capítulo, tenho q soltar...a parte de Zinara e a Amina...que bonito! Fiquei pensando na minha. Apesar que a situação é bem diferente,me fez sentir algo grande e há pouco me passou algo parecido. . Recebi, presenciei e senti, um recado dela. Foi tanta emoção , passei mal antes de acontecer...e qndo terminou fiquei tremendo de emoção e refletindo...ela e voinha. Ela não estava com o emocional como esperava, fiquei MT preocupada, mas dizem que ficará bem, tá em tratamento, minha vó tá cuidando dela..

Falar de algo que vai te dar câimbras de tanto sorri. Astronomia!!!! Se segura caipira, Tô lendo um monte, mas tôtriste pq cancelaram o curso à distância do "Sistema Solar" no ON, acredita que não revisaram bem o material. Agora Deus é quem sabe qndo vao disponibilizar outro curso....tava esperando o curso de astrofísica intergaláctica e nada tb. .  
Mas entendi a parte de astronomia (pular, cê tá loucaaa!!) . Te digo q continuo amando, mas confesso que sou apaixonada pelos buracos negros  e matéria escura, gosto das nebulosas, supernovas, enanas brancas TB. 
Tô lendo a " A Luz das estrelas" muito bom!!!   
Li outras coisas tb, como a Teoria das cordas...é tanta coisa interessante! 
Mas n entendi no capítulo a relação entre nosso padrao de pensamento com o eixo planetário e campo magnético....  ano passado pensava: como posso juntar minhas duas paixões? Psicologia e astronomia... será q algo do universo afeta nosso comportamento... 
É  o processo que n entendo. Entendi tudo  sobre o campo e eixo e pq a mudança, mas n pq isso afetaria nosso padrao mental.. acho que perdi algo pelo caminho!! 
Nao acredito que pulei algo nesse capítulo, gente!!! Atrasei meus conhecimentos..rumm!!! 
Achei lindo a psicografia, lindo, lágrimas nos olhos... 

Esse Tao..se n mata, fortalece kkkkkk. 
Beijos 
Ps: Tô deixando poucos recadinhos e apenas em alguns capítulos... sorry


Resposta do autor:

Olá queridíssima!

Fico aqui pensando em como posso ter demorado tanto a responder... Que vergonha! Perdoe-me.

Achei bonito, tocante e interessante o que falou sobre sua maama e a gidda. Que estejam bem e plenas, cheias de amor e muita luz. Ore por elas sempre!

O ON está com alguns problemas. Faz tempo que estes cursos abertos ao público estão em modo de espera. Fico feliz que ande lendo (até sobre teoria de cordas!!) e isso me enche de muuuuito orgulho. Hawking escreveu vários livros bem acessíveis e interessantes. Como especialista em buracos negros, ele deixa algumas coisas bastante claras, inclusive suas frustrações com a Força Divina, em função dos males imensos que a ELA fez com seu corpo. É um poço de conflitos dentro da ciência e uma riqueza única.

"Se não mata, fortalece" é ótimo! kkk

O campo magnético da Terra se modifica num processo cíclico, inclusive, agora no sentido de facilitar a mudança da inclinação do eixo, que trará imensas mudanças físicas e muitas dores. O padrão de pensamento, que tem trazido maus fluídos e más companhias no campo astral, aumentam a necessidade destes grandes cataclismos no planeta, até para sanear tudo.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Zaha
Zaha

Em: 25/01/2018

Acho que já entendi sobre essa mudança de padrão mental..tem um livro "O ser uno" que fala q tamos infectados e tal.Eu n li todo, mas lembrei...mas se um dia quiser explicar , ótimo pq vc tem uma ótima metodologia de ensino Mara!!

Que Deus te proteja!!

Beijos


Resposta do autor:

Pense que o padrão mental dominante ajuda a "sujar" o planeta. E quanto mais sujo, maior será o esforço para deixá-lo limpo. Parte deste esforço é extra físico e parte é físico, expresso na forma das grandes convulsões da Terra. A mudança de inclinação do eixo, desperta convulsões.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

sonhadora
sonhadora

Em: 04/05/2021

Sabe, demorei tanto pra terminar de ler este capítulo, mas quando cheguei na parte da conversa séria da mãe da Zinara me derramei em lágrimas. Queria tanto que minha mãe tivesse esta humildade da Amina e eu conseguisse soltar tudo que tem dentro de mim...me divirto muito com a Dona Leda! Esta Cátia podia deixar a Clarice em paz não é...no mais estou saboreando sua história e lendo no compasso da tartaruga, mas com muito respeito e admiração!!! 

Abraços!!!


Resposta do autor:

Boa noite, querida, tudo bem?

Espero que esteja bem.

Eu não conheço a sua mãe mas talvez o que sirva de barreira seja o medo, preconceitos, inseguranças... A verdade é que muitos pais têm medo das consequências sociais para um (a) filho (a) que se assume LGBT. E com medo, fazemos muitas bobagens. 

Ya Leda é uma velhinha terrível mas fofíssima! kkk

Cátia está sendo infantil e orgulhosa mas ela crescerá. Aconselho que você não leia os comentários das outras amigas, pois senão vai perder muitas surpresas. 

Leia o conto no seu ritmo. Só tenho a agradecer!

Beijos,

Sol

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Gabi2020
Gabi2020

Em: 14/05/2020

Solzinhaaaa!!

 

Então fui pegar minha gata que estava aprontando e ela deu uma bela arranhada nos meus dedos, pegou bem  nas articulações sabe? Dói demais da conta, essa madrugada acordei com dor, mas estou cuidando , passando pomada, ainda dói bastante, porque os cortes foram fundos. Mas logo melhora.

 

O rebuceteio é algo parecido com aquelo poema do Drummond (Quadrilha), versão lésbica e hot... Kkkkkk...

 

 

Beijos

 

Ps. Estpa tudo bem por aí? Se cuidando? Usando máscara quando precisa sair? 


Resposta do autor:

Olá Gabinha!

Eita, que essa gata que estava com a macaca! Cuide destes cortes, use álcool 70.

Eu tive a curiosidade aguçada e fui procurar esse trem. Em suma, achei que o termo denotaria "correntes de relações em que lésbicas ficam umas com as outras" ou a "possibilidade de estar ou ter estado sexual ou romanticamente ligada a uma ou várias pessoas que continuam fazendo parte de sua vida". E existe até um movimento de congregação artística feminina com esse nome. Mas em suma, nunca vivi essa realidade. kkkk  Só você mesmo, Gabinha!

 

E sim, está tudo bem e sempre como diria Lady: "Nossa, que coisa mascarada!"

Só trabalho demais da conta à décima potência. Queria férias, mas estão longe que chega dói! kkkkk

Beijos,

Sol

"corrente de relações em que lésbicas ficam umas com as outras". Essa frase deixa tudo parecendo uma franquia de Sodoma e Gomorra, mas não é bem assim. Estamos falando de relações humanas, interpessoais e extremamente emocionais em que o sexo é consequência. Prefiro traduzir o "rebuceteio" como essa clássica e praticamente inevitável possibilidade de estar ou ter estado sexual ou romanticamente ligada a uma ou várias pessoas que continuam fazendo parte da sua vida. A vida sapatônica é cheia dessas questões…... - Veja mais em https://blogdamorango.blogosfera.uol.com.br/2017/10/10/sabe-o-que-quer-dizer-rebuceteio-a-vida-sapatonica-e-cheia-deles/?cmpid=copiaecola
"corrente de relações em que lésbicas ficam umas com as outras". Essa frase deixa tudo parecendo uma franquia de Sodoma e Gomorra, mas não é bem assim. Estamos falando de relações humanas, interpessoais e extremamente emocionais em que o sexo é consequência. Prefiro traduzir o "rebuceteio" como essa clássica e praticamente inevitável possibilidade de estar ou ter estado sexual ou romanticamente ligada a uma ou várias pessoas que continuam fazendo parte da sua vida. A vida sapatônica é cheia dessas questões…... - Veja mais em https://blogdamorango.blogosfera.uol.com.br/2017/10/10/sabe-o-que-quer-dizer-rebuceteio-a-vida-sapatonica-e-cheia-deles/?cmpid=copiaecola
"corrente de relações em que lésbicas ficam umas com as outras". Essa frase deixa tudo parecendo uma franquia de Sodoma e Gomorra, mas não é bem assim. Estamos falando de relações humanas, interpessoais e extremamente emocionais em que o sexo é consequência. Prefiro traduzir o "rebuceteio" como essa clássica e praticamente inevitável possibilidade de estar ou ter estado sexual ou romanticamente ligada a uma ou várias pessoas que continuam fazendo parte da sua vida. A vida sapatônica é cheia dessas questões…... - Veja mais em https://blogdamorango.blogosfera.uol.com.br/2017/10/10/sabe-o-que-quer-dizer-rebuceteio-a-vida-sapatonica-e-cheia-deles/?cmpid=copiaecola
"corrente de relações em que lésbicas ficam umas com as outras". Essa frase deixa tudo parecendo uma franquia de Sodoma e Gomorra, mas não é bem assim. Estamos falando de relações humanas, interpessoais e extremamente emocionais em que o sexo é consequência. Prefiro traduzir o "rebuceteio" como essa clássica e praticamente inevitável possibilidade de estar ou ter estado sexual ou romanticamente ligada a uma ou várias pessoas que continuam fazendo parte da sua vida. A vida sapatônica é cheia dessas questões…... - Veja mais em https://blogdamorango.blogosfera.uol.com.br/2017/10/10/sabe-o-que-quer-dizer-rebuceteio-a-vida-sapatonica-e-cheia-deles/?cmpid=copiaecola

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Gabi2020
Gabi2020

Em: 13/05/2020

 

 

 

 

 Oi Sol!

Estou bem obrigada, ainda é ruim pra escrever (dói um pouco), mas nada demais! Como você mesmo diz, rodopeio, mas não caio... Kkkkk...

 

 

Então rebuceteio é difícil explicar...  Kkkkkk...

 

 

 

Beijos querida!

 

 

 

Ps. Tá se cuidando direitinho?


Resposta do autor:

Olá Gabinha!

Cortou a mão? Cuide-se e olha o curativo!

Eu juro que nunca ouvi falar nesse trem de rebuceteio. Eu hein! kkkk

Beijos,

Sol

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Gabi2020
Gabi2020

Em: 12/05/2020

Olá Sol!
Antes de mais nada, Ju mandou beijos pra você.

Agora vai, chegou dona Amina pra por ordem nas coisas e colocar Zinara na linha.

Gente lembrava da dona Leda descendo pau na Cátia... Kkkkkkkkkkk... Foi demais!
Zinara foi inventar de ficar surda bem na hora que a dona Bordoada falou que Clarice estava solteira... Culpa da Catita! Kkkkk...

"Ô, duas mulher inteligente e lesa! -- reclamou". Perfeito!!!

"--Essa mulherada lésbica é um tal de gosta de uma, fica com outra, e chora e deixa de chorar... -- falava consigo mesma -- Eu hein? -- voltou a se concentrar nos bordados -- Que diacho!" Kkkkkkk... Isso é o famoso rebuceteio dona Leda!

Dona Amina se redimindo (não sei se é bem essa palavra) com Zinara, muito bonotinha a interação delas e sem contar que dona Amina foi a salvadora da pátria, conseguiu dar um jeito eem Adamastor em dois tempos... Kkkkk...

Jamila ficou um bom tempo sentidndo remorso pelo que fez com Zinara... Pena que ela aprendeu pela dor e não pelo amor.

Por um segundo cheguei a pensar que Clarice cederia aos apelos da estupradora da terceira idade... Ufa!! 

Essa conversa de Zinara  com a mãe, foi para aparar as arestas... Tenso e emocionante! "-- Depois que você foi embora, foi como se nunca mais o sol tivesse nascido para mim!" Assim você acaba comigo, que linda esse "acerto" de contas delas.
Quando acho que não tem mais como ficar emocionada, você faz esse desfecho lindo das das na praia, num  lindo momento entre mãe e filha... Sacanagem viu?

Beijosss

Ps. A ideia era ler alguns capítulos hoje (pois essa história é demais), mas sofri um pequeno acidente doméstico e tá meio ruim pra digitar.

Resposta do autor:

Boa noite, Gabinha!

Qual foi o acidente doméstico? Espero que esteja bem.

Agradeça a Ju por mim, por favor.

E Cátia apanhou foi muito! kkk

"Isso é o famoso rebuceteio dona Leda!" Oxe! Eu nunca nesta minha vida de caipira sequer ouvi esta palavra. Não tenho ideia do que esse famoso termo signifique ao certo. Nem Samira conhecia, porque fiz questão de perguntar! kkkk

Toda maama que se preze sabe salvar a pátria.

Estes momentos praianos em família estão vivos em minha mente. Não aconteceram exatamente como no conto, mas foram tão lindos quanto.

A vida é bonita. Basta vê-la com olhos mais românticos.

Beijos!!!

Sol

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 25/01/2018

Acho que já entendi sobre essa mudança de padrão mental..tem um livro "O ser uno" que fala q tamos infectados e tal.Eu n li todo, mas lembrei...mas se um dia quiser explicar , ótimo pq vc tem uma ótima metodologia de ensino Mara!!

Que Deus te proteja!!

Beijos


Resposta do autor:

Pense que o padrão mental dominante ajuda a "sujar" o planeta. E quanto mais sujo, maior será o esforço para deixá-lo limpo. Parte deste esforço é extra físico e parte é físico, expresso na forma das grandes convulsões da Terra. A mudança de inclinação do eixo, desperta convulsões.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Sem cadastro
Sem cadastro

Em: 25/01/2018

Não poderia deixar de escrever meus sentimentos dps de ler esse capítulo, tenho q soltar...a parte de Zinara e a Amina...que bonito! Fiquei pensando na minha. Apesar que a situação é bem diferente,me fez sentir algo grande e há pouco me passou algo parecido. . Recebi, presenciei e senti, um recado dela. Foi tanta emoção , passei mal antes de acontecer...e qndo terminou fiquei tremendo de emoção e refletindo...ela e voinha. Ela não estava com o emocional como esperava, fiquei MT preocupada, mas dizem que ficará bem, tá em tratamento, minha vó tá cuidando dela..

Falar de algo que vai te dar câimbras de tanto sorri. Astronomia!!!! Se segura caipira, Tô lendo um monte, mas tôtriste pq cancelaram o curso à distância do "Sistema Solar" no ON, acredita que não revisaram bem o material. Agora Deus é quem sabe qndo vao disponibilizar outro curso....tava esperando o curso de astrofísica intergaláctica e nada tb. .  
Mas entendi a parte de astronomia (pular, cê tá loucaaa!!) . Te digo q continuo amando, mas confesso que sou apaixonada pelos buracos negros  e matéria escura, gosto das nebulosas, supernovas, enanas brancas TB. 
Tô lendo a " A Luz das estrelas" muito bom!!!   
Li outras coisas tb, como a Teoria das cordas...é tanta coisa interessante! 
Mas n entendi no capítulo a relação entre nosso padrao de pensamento com o eixo planetário e campo magnético....  ano passado pensava: como posso juntar minhas duas paixões? Psicologia e astronomia... será q algo do universo afeta nosso comportamento... 
É  o processo que n entendo. Entendi tudo  sobre o campo e eixo e pq a mudança, mas n pq isso afetaria nosso padrao mental.. acho que perdi algo pelo caminho!! 
Nao acredito que pulei algo nesse capítulo, gente!!! Atrasei meus conhecimentos..rumm!!! 
Achei lindo a psicografia, lindo, lágrimas nos olhos... 

Esse Tao..se n mata, fortalece kkkkkk. 
Beijos 
Ps: Tô deixando poucos recadinhos e apenas em alguns capítulos... sorry


Resposta do autor:

Olá queridíssima!

Fico aqui pensando em como posso ter demorado tanto a responder... Que vergonha! Perdoe-me.

Achei bonito, tocante e interessante o que falou sobre sua maama e a gidda. Que estejam bem e plenas, cheias de amor e muita luz. Ore por elas sempre!

O ON está com alguns problemas. Faz tempo que estes cursos abertos ao público estão em modo de espera. Fico feliz que ande lendo (até sobre teoria de cordas!!) e isso me enche de muuuuito orgulho. Hawking escreveu vários livros bem acessíveis e interessantes. Como especialista em buracos negros, ele deixa algumas coisas bastante claras, inclusive suas frustrações com a Força Divina, em função dos males imensos que a ELA fez com seu corpo. É um poço de conflitos dentro da ciência e uma riqueza única.

"Se não mata, fortalece" é ótimo! kkk

O campo magnético da Terra se modifica num processo cíclico, inclusive, agora no sentido de facilitar a mudança da inclinação do eixo, que trará imensas mudanças físicas e muitas dores. O padrão de pensamento, que tem trazido maus fluídos e más companhias no campo astral, aumentam a necessidade destes grandes cataclismos no planeta, até para sanear tudo.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web