DESENCONTROS - 2
CAPÍTULO 24 – Surpresas
Jamila andava pela rua quando recebeu um telefonema de Dimitrius, o correspondente internacional da BNN.
--Alô, querida, sou eu, Dimitrius! Como vai? Será que poderia falar agora? -- perguntou
--Vou bem e você? -- respondeu de pronto -- E sim, posso falar. -- continuava andando
--Preciso conversar com você sobre uma pessoa muito interessante: -- foi direto ao assunto -- Edgar Scowben, um ciberagente que realizou muitos trabalhos pra uma das contratadas da Agência de Segurança de Godwetrust.
--Prossiga. -- ficou curiosa
--Estou na cidade, será que me encontraria daqui a... meia hora? -- propôs
--Como sabe onde eu...? -- interrompeu o que dizia -- Claro, você tem ligações com aqueles que ajudaram a me esconder. -- deduziu -- Daqui a meia hora, então. -- olhou para o relógio
--Estarei em um boteco horrível chamado Bitucha’s. Fica perto do cemitério da beira rio.
--Sugestivo isso. -- achou graça -- Estarei lá. Até.
--See you soon, honey. (Vejo você em breve, querida.) -- desligou o telefone
“O que será que Dimitrius vai me contar sobre esse ciberagente?” -- pensava intrigada
***
--E é isso, Jamila. -- Dimitrius falava em voz baixa -- Não se sabe porque, mas Scowben decidiu abrir o bico e revelar informações e documentos secretos mantidos em seu poder pro mundo todo tomar ciência do que acontece por debaixo dos panos! -- olhava para ela -- Ele simplesmente vai dedurar todo o serviço de espionagem de Godwetrust, tem noção disso?
--E como você ficou sabendo em primeira mão dessa notícia bombástica? -- perguntou igualmente em voz baixa
--Scowben procurou um grande amigo meu, que é repórter e vive na Saxônia, e disse pro cara que planeja uma viagem pra Rossiya, por volta de julho, e vai ser lá que ele vai jogar a merd* toda no ventilador! -- bebeu um gole de chope -- Acredita que existe um tal de sistema PRYSMIAS que foi criado em 2007 pra controlar e armazenar senhas, imagens, voz, dados, vídeo, e-mail e bate-papo dos usuários de todos portais populares que existem por aí? -- riu indignado -- Os caras podem saber de tudo amiga, desde o teu histórico na internet até a senha do teu cartão de crédito!
--Isso não me surpreende nem um pouco! -- revirou os olhos -- Eles querem dominar o mundo a qualquer preço e o caminho mais óbvio é esse mesmo: controle e espionagem!
--Scowben já entregou uma série de documentos criptografados a vários de seus amigos, à mídia internacional e à ativistas de toda ordem. -- bebeu mais um gole -- Se ele for pego ou morrer, a merd* vai feder ainda mais!
--Deduzo então que ele tenha entregado tais documentos a seu amigo da Saxônia. -- bebeu o chope
--Você chegou aonde eu queria chegar. -- deu um tapa na mesa -- Estive com meu camarada e sabe o que descobri? Terra de Santa Cruz é um dos países mais monitorados por eles! -- afirmou enfaticamente -- Nada escapa, garota, sejam políticos, empresários, empresas, centros de pesquisa ou o que você puder pensar!
--Claro! Um país rico e cheio de recursos naturais, qual a surpresa?
--A surpresa, é que vi muita coisa lá que se relaciona diretamente às denúncias de seu cliente! -- apontou para ela e sorriu -- Eduardo Hamatsu e seu grupo de trabalho foi espionado também.
--Choo?? (O que??) -- perguntou admirada -- Mas isso é...
--Tudo que você precisava saber para pleitear proteção de verdade! -- complementou a fala dela -- Para você e ele!
--Caraca! -- riu empolgada -- Estamos prestes a testemunhar o maior vazamento de espionagem sobre cidadãos, empresas e governos em todo o mundo e o caso Hamatsu também tá no olho do furacão!
--Esse escândalo pode proteger os dois! -- argumentou -- E te ajudar a voltar pra Cidade Restinga em paz!
--Maravilha! -- exclamou empolgada mas logo se conteve -- Só que terei de esperar até julho, né?
--Calma, Jamila, abril daqui a pouco termina e quando você menos esperar julho chega aí! -- deu força para ela -- Tenho um esquema com meu camarada, que pode inclusive alavancar nossas carreiras de vez! -- explicava seu plano -- Quando Scowben jogar a merd* no ventilador, vamos revelar o que compete a esse país, -- apontou para o chão -- dando ênfase a três casos: um deles será o de Hamatsu! -- sorria -- Te adianto que Scowben vai frisar principalmente a espionagem que acontece em Godwetrust, Terra de Santa Cruz e Cina.
Suspirou. -- Acho que podemos agüentar até lá... -- respondeu pensativa -- A próxima audiência foi marcada pro final de junho, então... É, temos que saber esperar mesmo.
--Não conte isso pra ninguém, nem pro Hamatsu. -- pediu -- Vamos trabalhar com o fator surpresa!
--Fique tranqüilo. -- concordou -- Mesmo que eu quisesse desabafar, já não tenho mais uma pessoa discreta a quem confiar meus segredos... -- pensou em Zinara
(Nota da autora: baseado em http://www.qualicidade.org.br/blog-do-cidadao-independente/edward-snowden-heroi-ou-traidor/)
***
--Ai, mas eu tô tão feliz que você e Cátia finalmente se acertaram! -- Magali comentou empolgada -- Até que enfim! -- sorria -- Agora é aproveitar a vida, amiga! Xô tristeza! -- bebeu um gole de café
--Eu senti muita sinceridade nela, por isso dei uma chance. -- bebeu café também -- Vamos ver no que vai dar.
As duas conversavam na sala da paleoceanógrafa.
--E... vamos à parte picante da coisa! -- reclinou-se sobre a mesa da outra falando baixo -- Como ela é na hora H? -- perguntou assanhada -- Quente?
--Magali... -- abaixou a cabeça envergonhada e sorriu
--Vai, menina, me conta! -- insistiu -- Ela tem jeito de ser bem safadinha... -- pausou brevemente -- Com todo respeito pelo teu patrimônio, lógico!
Clarice achou graça. -- Ela é um arraso, isso posso dizer. -- sorriu olhando para o copinho de café -- Acho que entende tudo e mais um pouco no que se refere a dar prazer a uma mulher. -- pausou brevemente -- Nunca na minha vida eu...
--Gozou tanto? -- completou a frase da morena
--É... -- respondeu encabulada
--Mas diz aí, conta mais! -- Magali falou cheia de assanhamento -- Ela usa muito os dedos, vai mais na língua, tem acessórios...? Como é o barato dela, hein? -- perguntou curiosa -- Ela chegou a usar o tal pato de borracha?
--Que é isso?! -- arregalou os olhos -- Que perguntas são essas?
--Fala, criatura, deixe de onda! -- reclamou -- Cátia é mais do método coisa dentro da boca ou boca dentro das coisa?
--Eu, hein! -- respondeu espantada -- Eu não conhecia esse teu lado, não, viu? -- ajeitou-se na cadeira -- Além do mais isso não é conversa pra se ter aqui no trabalho!
--É, nisso você tá certa... -- concordou -- Mas depois eu vou querer saber de tudo! -- sorriu -- Seja como for, o que importa é que vocês se acertaram e isso é ótimo! -- segurou uma das mãos da amiga -- Olha, sinceramente eu desejo tudo de bom e tô mais que feliz em te ver com uma mulher bonita, interessante, inteligente e boa de cama!
--Obrigada, querida. -- sorriu para a outra -- Sei que torce por mim.
--Agora só falta você me dizer que tirou aquela astrônoma do seu coração que o problema se resolve de vez!
--Não é tão rápido assim, né? -- passou a mão nos cabelos -- Mas vai passar, eu sei.
--Pro seu próprio bem! -- advertiu ao se levantar -- Agora vou indo que o tempo voa! -- deu tchauzinho -- Até mais. -- despediu-se
--Até mais. -- acompanhou a outra partir com o olhar e voltou a se concentrar no trabalho -- Falta pouco pra fechar o artigo pro congresso mundial. -- falava consigo mesma -- Zinara mandou a parte dela hoje cedo e não iremos perder o prazo. -- ficou pensando -- Como será que ela consegue fazer tanta coisa ao mesmo tempo e nunca perder os prazos, hein? -- questionava-se -- Tudo bem que ela agora tá de licença mas quando não tava também era assim... -- balançou a cabeça pensativa -- Uma mulher que sabe deduzir todas as equações da eletrodinâmica e sabe de cor o nome de um monte de galáxias e formações estelares... Será que um dia eu vou esquecer essa criatura? -- suspirou -- Chega de conversa, Clarice. Volta pro batente! -- tornou a se concentrar no computador
***
Zinara apresentava sua palestra ao grupo de pesquisadores.
(Nota da autora: curiosidades sobre pesquisa astronômica. Quem não quiser saber pode pular sem problemas, mas eu recomendo a leitura)
--E com base no que expus aqui, vou apresentar ao grupo os projetos de pesquisa desenvolvidos em Terra de Santa Cruz na área de astronomia. -- mostrou uma lâmina no telão
--E vocês desenvolvem algum? -- Brightman perguntou surpreso
--Não somente um; são quatro grandes projetos estruturantes! -- afirmou enfática -- Vocês que pensam que no meu país só se sabe sambar e jogar futebol! -- retrucou -- Quero dizer, vocês não, apenas aqueles sem cultura geral. -- voltou a se concentrar no telão
--Gotcha! -- Karim comemorou consigo mesma adorando a resposta da namorada
--Este é o projeto IMPACTUS. -- olhava para os colegas -- Seu objetivo é acompanhar os asteróides já descobertos nas cercanias do planeta e avaliar os riscos que eles nos oferecem. Para isso, são estudadas todas as propriedades destes objetos, o que nos permite conhecer melhor a população deles. -- mostrou outra lâmina -- Estamos em contato direto com a União Astronômica Internacional, instituição máxima da área de astronomia. -- apontou para uma foto -- Apresento nosso telescópio instalado no sertão. -- sorriu
--Estou pasma! -- Tanja comentou consigo mesma -- Terra de Santa Cruz com esses recursos... -- Karim ouviu e se revoltou
--Este aqui é o projeto ASTROTECH, criado para dar suporte a nossa participação nos dois maiores projetos de investigação espacial do mundo. -- apresentava orgulhosa -- Através dele desenvolve-se a infraestrutura de hardware e software necessária para tratar, analisar, armazenar e tornar públicos os dados desses importantes mapeamentos do céu. -- mostrou uma imagem -- Sem nossa participação, os grupos de pesquisa internacionais não teriam condições de avaliar com segurança os resultados coletados pelos sistemas de observação.
--Será isso verdade? -- Mackenzi perguntou a Peterson -- Sei não... -- duvidava
Novamente Karim ouviu e se revoltou.
--O projeto ÁRVORE DE SANTA CRUZ nos representa numa colaboração internacional de nosso país com Castelhana, para o desenvolvimento de um preciso mapa tridimensional do universo. -- continuava explicando -- E, por fim, temos a Rede Santacruzense de Observatórios e Padrões, que agrega iniciativas que compreendam a aquisição contínua de dados geofísicos de caráter regional e seu processamento e armazenamento para uso da comunidade interessada. -- mostrou mais uma imagem -- Nossa rede monitora em tempo real as atividades sísmicas na região de maior densidade demográfica do país!
--Eles devem contar com a ajuda de técnicos de Urubba para poder conseguir fazer isso. -- Mackulloch cochichou com Brightman -- Ou então de Godwetrust.
Karim quase não conseguia conter a revolta. Sabia que Zinara não podia ouvir aqueles comentários.
--Temos também a Rede Santacruzense de Observatórios Magnéticos que é voltada ao monitoramento do campo magnético do planeta em áreas selecionadas do território nacional. -- apresentou as fotos -- Contamos com dois observatórios magnéticos no país: um no sudeste e outro no norte, e com mais um conjunto de observatórios magnéticos fixos e itinerantes em implantação.
--Inacreditável! -- Kenji resmungou consigo mesmo
--Inclusive, Zinara, se me permite, -- Karim interrompeu com educação -- o eletrojato equatorial e a anomalia magnética ao sul do oceano de Atlas são duas feições importantes do campo magnético do planeta. -- olhava para os demais -- Terra de Santa Cruz tem localização privilegiada para estudá-las e um corpo técnico respeitado pela comunidade científica. Pelo menos a parte SÉRIA dessa comunidade respeita! -- frisou a palavra ‘séria’ -- Igualmente não creio que nada do que nos apresentou aqui seja um exagero ou que vocês, no seu país, precisem da ajuda de técnicos de Urubba ou Godwetrust para chegar a algum lugar. -- jogou a indireta -- Um bom cientista sabe interagir com a comunidade e ao mesmo tempo caminhar com as próprias pernas, e um cientista ÉTICO sabe respeitar os colegas de todas as nações.
--Obrigada, querida, muito oportuna sua intervenção. -- sorria para ela -- Mas não creio que neste grupo hajam quaisquer cientistas sem ética. -- olhou para os demais -- Ou será que me engano? -- provocou
Um silêncio tumular se estabeleceu.
--Zinara, certamente estamos todos impressionados com o que nos mostrou. Sabe que respeitamos seu país e seu trabalho. -- Peterson tentava quebrar o gelo -- Tenho uma pergunta a fazer que talvez se relacione com o projeto IMPACTUS. -- cruzou os braços -- E a questão do lixo espacial? Fale um pouco sobre isso, por gentileza.
--Boa pergunta! Imaginei que alguém fosse tocar no assunto. -- moveu a apresentação para a última lâmina -- Vejam isso, -- apontou para o telão -- essa é a distribuição do lixo espacial ao redor do nosso planeta segundo três níveis de órbitas.
--Meu Deus! -- quase todos exclamaram atônitos
--O que mais existe em volta do nosso querido planeta é lixo espacial! Partes de naves espaciais, satélites que já encerraram sua vida útil e miudezas como luvas, parafusos e ferramentas perdidas. -- ampliou os detalhes da imagem -- E tudo isso orbitando o planeta em velocidades que atingem 28 mil quilômetros por hora, ou seja, quase dez vezes mais rápido que uma bala de fuzil!
--Também pudera! -- Nicolai exclamou -- Lançamos engenhocas no espaço desde 1957!
--E continuamos lançando sem parar! -- respondeu olhando para o colega -- Cada lançamento deixa um rastro de rejeitos, que se não cai imediatamente de volta no planeta vira lixo espacial. -- explicava -- E ainda que todos os lançamentos parassem agora, a quantidade desse lixo não diminuiria nem um pouco. -- caminhou pela sala -- Peças grandes são monitorados pelas agências espaciais, mas não há como detectar toda a variedade de lixo orbital que existe. -- passou a mão nos cabelos -- E esse lixo representa um perigo real, mesmo que o componente seja da ordem de milímetros. -- foi até o flipchart e pegou uma caneta hidrocor -- Por uma questão de energia cinética, pequenas partículas podem fazer um buraco numa nave ou inutilizar um satélite. -- desenhava -- Alguma peça também pode cair em algum lugar do planeta e causar estrago considerável. Exemplos não faltam! -- voltou a olhar para os colegas -- Mas, a boa notícia é que até hoje ninguém nunca morreu por causa disso.
--E o que fazer para minimizar esse problema? -- Mackenzie perguntou preocupado -- São muitas questões para nós solucionarmos! -- reclamou dando um soco na mesa
--Quanto ao lixo que já está em órbita, levaríamos o dia todo aqui discutindo, mas como medida de prevenção, poderíamos investir em materiais de desintegração mais rápida para o projeto dos satélites. -- parou no meio da sala -- Só que todas as medidas, corretivas ou preventivas, implicam em gastar dinheiro e isso ninguém quer. -- esclareceu -- Nenhum país está interessado em normas internacionais muito rígidas! Na verdade, como em várias outras questões, estamos esperando que um acidente grave aconteça para então tomarmos uma atitude concreta!
--Acho que no próximo encontro vou promover sessões de reza e meditação! -- Peterson desabafou -- Vou dizer para vocês, estamos todos fu...
--Por favor, cavalheiro! -- Mackulloch tapou a boca do colega -- Palavrão aqui, não! -- repreendeu -- Afinal de contas, sou um lord! -- exibiu-se
(Nota da autora: baseado nas pesquisas conduzidas pelo Observatório Nacional, no Rio de Janeiro apresentadas em http://www.on.br e nas informações da página http://www.zenite.nu/)
(Nota 2: conheça a pesquisa conduzida pelos centros de pesquisas brasileiros e orgulhe-se dela! Somos muito mais que um país de foliões!)
***
Najla e Raed conversavam enquanto cuidavam do roçado.
--Ahmed num toma jeitu! -- o homem reclamava -- Mi ligô onti pra dizê qui acha qui Catiúcia tá prenha!
--Ih! -- revirou os olhos -- Será que vem aí Ahmed Mateus? -- perguntou olhando para o irmão
--Sei não... -- fez um bico -- Pôca vergonha! -- remexia a terra
--Ahmed é muito enrolado! -- balançou a cabeça negativamente -- Pelo que vocês dizem não pára com mulher e noto que não liga muito pros filhos! -- capinava um trecho do terreno -- Desde que vim pra cá só vi os meninos uma vez!
--Eu mesmu quasi num vi os bichinhu na minha vida! -- lamentou
--E ele é brigão, não pára em emprego, sempre pedindo dinheiro... -- interrompeu a capina e olhou para o irmão -- Perdoe dizer, mas entendo porque Zinara fala! Não desgosto de meu sobrinho, mas Ahmed é o fim da picada, né?
--Num diz issu! -- parou também e olhou para ela de cara feia -- Eli é um mininu...
--Menino, Raed? -- não o deixou concluir a frase -- Por favor, né? -- retrucou indignada -- Ele tem 26 anos, três filhos, não tem profissão e só dá problema! Até hoje vive na tua aba!
--Humpf! -- fez um bico e voltou a capinar -- Aisha também num tá cum essa bola toda, não! -- argumentou
--Acontece que ela trabalha, não me pede nada há anos e vai voltar a estudar no segundo semestre! -- respondeu orgulhosa e continuou o trabalho
--Claru qui ela num ti pedia nada! Ti largô pra lá e sumiu nu mundu! -- provocou
--Se tá querendo dizer que ela cometeu erros, é claro que sei disso! -- objetou -- Mas minha filha amadureceu e mudou pra melhor! De mais a mais, ela nunca foi como Ahmed, nem quando tínhamos dinheiro!
--Dêxi Ahmed quétu! -- pediu contrariado -- Eli num ti pedi nada!
--Estava apenas querendo abrir seus olhos, porque já é tempo de você ver a verdade! -- prestava atenção ao que fazia -- Você e Amina criaram muito mal esses filhos que nasceram aqui.
--AHHa! -- largou a enxada e olhou para a outra de cara feia -- Num semo nóis qui temu fio assim comu Aisha é! -- provocou desaforado
--Homossexual? -- riu brevemente -- Ela é sim, e eu não tenho o menor problema com isso, habibi! -- retrucou -- Reconheço que a criei mal porque não ensinei muita coisa, mas graças a Deus ela se encontrou sem precisar de mim. Com certeza esse não é o caso dos seus filhos! Não ainda!
--Possu sabê pur que ocê acha qui nóis criamu elis mar? -- cruzou os braços aguardando a resposta
--Pode! -- jogou o enxadeco no monte de terra e parou diante dele -- Ahmed é realmente um tremendo playboy da roça, Nagibe é super acomodado e Cid é outro que faz um corpo mole danado! Nenhum dos três quis saber de estudar e todos vivem sempre atrás de dinheiro! -- falava abertamente sua opinião -- Acho absurdo o modo como eles se comportam e você sempre protege, mesmo quando Amina briga e reclama! -- acusou -- Principalmente Ahmed! Como você passa a mão pela cabeça dele!
--Num é nada dissu! -- discordou revoltado
--Ah, não? -- perguntou achando graça -- Qual parte do que eu falei é mentira? -- desafiou -- Ora, Raed, não acredito que não perceba que esses rapazes nem de longe se parecem com Zinara, Youssef ou Khaled! -- pôs as mãos na cintura
--São tudu diferenti purque cada um é di um jeitu, num sabi?
--Você entendeu o que eu quis dizer, tá? -- gesticulou indignada -- Duvido que alguma daquelas três pobres criaturas agisse como Ahmed, ou que fizesse como Nagibe, que vive se alternando entre sua casa e a casa do sogro pra sempre ter alguém que pague as contas, banque as extravagâncias de Dora e cuide da menina! -- cruzou os braços -- Zinara só quebra o galho em algumas coisas por causa de Khadija, mas ela não dá mole pro irmão ou pra cunhada!
--Também num é assim! -- protestou
--Ah, não, eu sou cega! -- foi sarcástica -- Por isso que nem noto que Cid se pegou com Penha pra dar o golpe do baú e quebrou a cara porque a mulher não tem onde cair morta! Não passa de uma pobre auxiliar de enfermagem, dona de uma casa caída e de um carro comido por ferrugem! -- continuava falando -- Aí, quando ela cansa de levar o garotão nas costas, ele vem pra cá chorar miséria e pedir um troco pro baba!
--Óia, Najla, qué sabê? -- pegou a enxada de volta -- Ocê vai cuidá di sua vida e mi dêxi im paz! -- golpeou a terra com raiva -- E nunca mais fali mar di meus fio!
--Eu li o Yoom Kitaab de Zahirah e sei o que baba te recomendou antes de morrer. -- Raed paralisou -- Se você ainda tem um pingo de respeito por nossos ancestrais, reflita sobre o que vem fazendo e veja que usou de dois pesos e duas medidas com seus filhos! Você mesmo já me admitiu que falhou com Zinara, Youssef e Khaled! -- pegou o enxadeco de volta -- Perceba que aqueles três foram os mais lindos filhos que teve e dois você já perdeu. -- pausou brevemente -- Sabe que Zinara provavelmente não vai durar muito tempo. -- advertiu
--CALA A BOCA! -- olhou para ela e gritou com lágrimas nos olhos -- Ocê num podi dizê issu!
--Falo pro seu bem, homem! -- deu um tapa no ombro dele -- É hora de cortar os abusos desses rapazes e de ser justo pelo menos uma vez na vida! É hora de tratar Zinara como se fosse pai dela, porque isso você nunca fez! -- seu tom era um tanto ríspido -- Mas se não consegue enxergar nada do que te digo até hoje, -- apoiou a ferramenta sobre o ombro -- eu tenho mais é que me calar mesmo porque tô perdendo tempo! -- foi capinar em outra parte do terreno
Raed ficou parado pensando no que havia acabado de ouvir.
***
--Meu Deus, Zinara... -- Karim exclamou surpreendida -- Eu não imaginei que você fosse gostar tanto...
--Impossível não gostar, habibi! Esse sabor é maravilhoso e todo seu...
--Você fala de um jeito... -- sorriu -- Fico até arrepiada...
--O objetivo é esse! -- brincou
--Boba! Não sabia que era assim... tão faminta! -- falava cheia de dengo
--Há muitas coisas sobre mim que você ainda não sabe...
--Zinara! -- exclamou surpreendida -- Não põe o dedo assim... -- reclamou melosamente
--Ah, por que? -- fingiu que estava triste -- É tão bom... Além do mais quero sentir esse gosto melhor.
--Ai, você está enfiando o dedo todo!
--Qual o problema, estamos só nos duas aqui e ninguém vai ver! -- levou o dedo a boca -- Hum... que delícia!
--Safada! -- deu uma risadinha -- E você ainda diz que é caipira...
--Mas eu sou! -- retrucou -- Só que uma coisa deve ficar clara: nunca menospreze as caipiras! -- brincou novamente
--Coisa que nunca fiz foi te menosprezar! Ainda mais depois de ver o modo como você... ai! -- suspirou
--Posso colocar o dedo de novo? -- pediu com jeitinho -- Deixa?
--Está bem, mas coloca só um!
--Ai, mas é muito bom... -- afirmou inebriada
--Você... vai querer mais, não é?
--Se você puder me dar...
--É claro que posso dar! Apenas não sei se será o suficiente para saciar essa sua fome toda! -- riu brevemente -- Se eu soubesse que minha centolla iria te agradar tanto...
--Foi a centolla mais gostosa que comi na minha vida! -- elogiou
--Aposto que diz isso para todas as namoradas que arruma. -- respondeu melosa
--Eu não tive tantas assim. -- retrucou -- E nenhuma das que tive sabia fazer um caranguejo tão gostoso quanto esse! -- elogiou -- E com esse queijo derretido por cima, hum... -- lambeu-se -- Perdoe-me, mas vou colocar o dedo na travessa de novo. Esse molho é espetacular! Muito melhor que o de qualquer restaurante da região!
Zinara e Karim jantavam no quarto da geofísica.
--Agora que sabemos que o hotel nos permite usar a cozinha, podemos fazer uma comida diferente de quando em vez. -- servia a astrônoma com mais caranguejo -- Esse prato aqui foi bem rápido de fazer. Comprei o king crab já limpo e não levei nem meia hora para preparar!
--E eu amei a supresa desta noite de terça! Muito obrigada, querida! -- agradeceu -- Comprarei uns filés de merluza negra e no domingo preparo um peixe à moda caipira para você provar! -- prometeu -- Podemos beber aquele tal de Kirsh que você gosta e depois nos abraçar e cantar até cair! -- brincou -- Hum... Jayed! (Bom!) -- saboreava o prato
Achou graça. -- Boba! -- debruçou-se na mesa e apoiou o queixo sobre as mãos -- Mas por que no domingo e não no sábado? -- perguntou curiosa
--Bem... -- pensava em como falar -- No sábado eu planejava fazer um trekking pela região dos lagos com Hassan... -- comentou receosa --Vi umas fotos e você tem que ver que beleza! Cada paisagem tão linda! -- limpou os lábios com o guardanapo -- Antes das oito estou de volta! -- garantiu sorrindo
--Sei... -- fez uma expressão contrariada -- Bavati, aquele rapaz da recepção, me disse que há um templo hindu nas cercanias da cidade e haverá uma bela celebração festiva no domingo. -- pausou brevemente -- Fiquei interessada em ir, então acho que esse almoço vai ter que ficar para outro dia. -- falou com seriedade
--Posso fazer a caminhada no domingo! -- propôs -- Então almoçamos e ficamos juntas no sábado, que acha?
--Talvez eu não esteja interessada em ficar com você no sábado. -- levantou-se da mesa e foi para o banheiro
A professora deu um suspiro e abaixou a cabeça decepcionada.
-- Droga! -- resmungou no idioma de Terra de Santa Cruz -- Ela fica chateada quando sabe que eu vou montanhar! -- levantou-se para recolher a louça e saiu do quarto levando tudo para a cozinha
Minutos depois, a astrônoma batia na porta do quarto de Karim.
--Pensei que tivesse ido embora. -- respondeu ao atender
--Fui apenas lavar a louça e arrumar a cozinha. -- cruzou os braços e se encostou no portal -- Posso entrar rapidamente para conversar com você? -- pediu
--Claro que pode. -- deu passagem à outra e fechou a porta
--Olha, Karim, eu sei que ficou chateada porque planejei uma atividade sem você pela segunda vez, mas não gostamos exatamente das mesmas coisas. Eu adoro esportes de aventura e você não. -- falava com delicadeza -- Temos um convívio diário juntas, estou adorando te namorar, valorizo você e sua presença, mas isso não significa que tenhamos de abrir mão daquilo que gostamos de fazer. -- argumentava -- Eu não fiquei chateada porque você falou que tem interesse em ir na cerimônia do templo hindu.
--Certamente não. -- respondeu sarcástica -- Para você é até bom porque poderá fazer sua caminhada sem culpa! -- sorriu
--Isso nem me passou pela cabeça! -- discordou
--Muita coisa não te passa pela cabeça! -- retrucou de cara feia
--Ficaria satisfeita comigo apenas se ficasse do seu lado o tempo todo?
--É o que se espera de uma boa namorada! -- cruzou os braços
--É o seu ponto de vista! -- objetou de cara feia -- Eu não espero tão pouco! Valorizo muito mais o carinho, o respeito e o companheirismo de quem esteja comigo. -- passou a mão nos cabelos -- Amanhã é dia de trabalho, -- olhou para o relógio -- e já está tarde. -- olhou para a namorada novamente -- Agradeço pelo maravilhoso jantar, pela sua dedicação ao prepará-lo e repito que, se estiver interessada, faço um almoço para nós no sábado. -- foi até a porta e a abriu -- E gostaria muito de ficar com você no sábado! Até amanhã.
Karim não respondeu e ficou olhando para a astrônoma com a cara feia.
--Uma noite tão gostosa terminar desse jeito! -- resmungava sozinha enquanto ia para o quarto -- Odeio quando esse tipo de coisa acontece! -- passou a mão nos cabelos -- Dah mumill... (Isso é um saco...) -- sentia vontade de chorar -- Chora não, Zinara! -- ralhou consigo mesma -- Sê besta, caipira!
***
Minutos mais tarde Zinara se despedia de Regina no Êmail e percebe que Clarice havia acabado de entrar.
--Acho que vou puxar uma prosa com ela pra quebrar aquele clima ruim que ficou da outra vez. -- decidiu
Zina: Oi! Como vai?
Clari: Oi! Tudo bem e vc?
Zina: Graças a Deus!
Zina: Ó, queria me desculpar com você. Acho que fui meio rude contigo naquele dia
Clari: Não se desculpe! Eu não tinha o direito de ser tão invasiva. É a sua vida e você sabe o que está fazendo
Zina: Então vamos esquecer! Tá tudo bem!
Clari: Ótimo!
Clari: E então? Como vão as coisas aí? Muito trabalho?
Zina: Ô! Vou ficar acordada noite afora pra concluir umas atividades de coordenação. E você? O que conta de novo?
Clari: Muito trabalho também. E finalizei nosso artigo!
Clari: Já até submeti
Zina: Eita, que ela só me dá orgulho!
Zina: Queria ter uma namora -- parou -- Ô, Zinara, olha o que você tá escrevendo! -- repreendeu-se -- Zina: Queria ter uma colega de departamento assim!
Clari: kkkkk
Clari: E então? Quais os programas do final de semana?
Zina: Vou fazer um trekking meio muito pesado no domingo. Sábado é que ainda não sei.
Zina: E você?
Clari: Ainda não sei também. Cátia prepara um final de semana romântico mas não sei o que vai na cabeça dela
Zinara sentiu uma dor no coração ao ler aquilo.
Zina: Ah, que bom. Espero que se divirtam!
Gastou uns segundos sem digitar.
Zina: Olha, eu tenho que ir. Ainda tenho um trabalho a finalizar. Só queria te dizer um oi
Clari: Obrigada!
Clari: Estou conversando com Chandra também. Ainda vou ficar por aqui
Clari: Beijos, minha querida!
Zina: Beijos e boa noite!
Zina: Macasalaama!
Clari: Boa noite e até a próxima!
A astrônoma saiu do Êmail e sentiu-se ainda mais triste. O desentendimento com Karim havia mexido com ela e saber que a paleoceanógrafa se preparava para um programa romântico deixou-a decepcionada.
--Quem é você pra exigir qualquer coisa, mulher? -- perguntava-se -- Não invente mais problemas! Já basta Jamila a infernizar seus pensamentos... -- chacoalhou a cabeça -- E Karim pra reclamar quando você quer ir pras montanhas... -- suspirou -- Ô, mulherada difícil da minha vida...
***
Clarice e Cátia chegavam na casa da paleoceanógrafa de carro. A loura vinha dirigindo.
--Chegamos! -- estacionou perto do meio fio e sorriu
--Obrigada, querida! -- sorriu para a namorada -- Embora a exposição tenha sido um horror, adorei sair com você essa noite!
A geofísica riu gostosamente. -- Um horror mesmo, né? -- concordou -- Um único quadro da Frida Kahlo, um monte de obras sem sentido e uma arara doida no meio do salão! -- balançou a cabeça negativamente -- O que valeu foi o pretexto de te convencer a sair em plena quarta à noite. -- sorriu
--Você me encontrou em Maurítia na quarta à noite! -- segurou uma das mãos dela -- Aliás, me diz uma coisa... -- brincava com os dedos da outra -- Naquela noite você tava realmente sozinha e sofrendo com cistite ou havia mais alguém? -- perguntou com jeito
--Ah, Clarice, assim não dá! -- recolheu a mão e cruzou os braços olhando para frente -- Você sempre me põe em dúvida, que droga! -- fez cara feia -- Olha, é melhor você entrar e eu vou pra minha casa! -- olhou para a morena
--Desculpe, meu bem, não tá mais aqui quem falou. -- beijou o rosto da outra
--Confia em mim? -- pediu com cara de choro
--Tudo bem, me perdoe! -- desculpou-se novamente -- Mas é melhor que eu entre mesmo e você se vá, porque tá tarde e não se pode dar mole batendo papo dentro de carro! -- olhou para fora, procurando tipos suspeitos
--Relaxa, minha linda. -- achou graça -- Pra que tanto medo e pra que a pressa? -- aproximou-se com um sorriso sedutor -- Eu tinha outros planos... -- mordeu o pescoço da namorada
--Cátia, pára com isso... -- pediu cheia de dengo
--Por que? -- beijou-a
--Ah... -- soltou um gemido abafado pelo beijo
--Você tá... com... calcinha? -- perguntou entre beijos
--Hum! -- olhou para a outra indignada -- Que é isso, criatura, vê lá se eu vou trabalhar desprevenida?
Cátia riu. -- Ah, mas você podia ter tirado quando a gente chegou no centro cultural... -- deslizou a mão por dentro do vestido da morena -- Não me importa de tirá-la agora... -- beijou-a novamente
--Ei... -- deu um tapa na mão da loura -- Eu não vou ficar de agarramento no teu carro na porta da minha casa! -- protestou
--Vidros filmados, benzinho... -- mordeu-lhe o queixo -- Ninguém vê... -- pulou em cima da outra
--Ai... pára... com isso... -- pediu entre beijos -- Ai, Cátia... -- gem*u ao sentir as mãos dela apertando-lhe os seios
--Vamos dar... -- seguia mordendo o pescoço da morena -- uma rapidinha, hein? -- puxou o decote do vestido dela para baixo e começou a sugar-lhe um seio
--Ai, não... -- gemia -- Menina, que é isso? -- fechou os olhos -- Ui!
--Vem cá! -- girou o ajuste do banco do carona e empurrou-o para baixo
--Gente! -- Clarice levou um susto quando o banco ficou quase totalmente na horizontal
--Melhor assim! -- sorriu provocante -- Vem, gostosa! -- meteu a mão por baixo do vestido da outra e introduziu um dedo sem que ela esperasse
--Ai! -- levou um susto -- Cátia, não, não! -- lutava para resistir ao desejo
--Sim, sim! -- beijou-a novamente e introduziu um segundo dedo
--Não! -- empurrou-a pelos ombros -- E tira essa mão daí! -- deu-lhe um tapa no braço -- Sai de cima de mim, criatura! -- tentava se desvencilhar da outra
--Ah, gatinha, pára com isso, vai? -- agarrava a morena -- Vamos dar uma rapidinha? -- mordeu a orelha dela
--Cátia, eu moro nessa rua! -- inverteu as posições e sentou em cima da outra -- Nem rapidinha, nem lerdinha! Não vou ficar de agarramento dentro de carro! -- fez cara feia -- Ai! -- bateu com a cabeça no teto
--E tá fazendo o que agora, hein? -- sentou-se também e puxou a calcinha da namorada para baixo -- Se agarrando comigo! -- sorriu
--Pára de puxar minha calcinha! -- reclamou de cara feia
--Quero ela pra mim! -- mordeu-lhe o seio novamente
--Ai, mas que... -- empurrou a loura e ajeitou o decote do vestido -- Que coisa, parece tarada! -- ralhou -- Eu vou embora! -- tentou abrir a porta do carro
--Vai não! -- puxou a calcinha dela mais para baixo -- Quero você! -- sussurrou
--Me dá minha calcinha! -- remexeu-se para sair do colo de Cátia e descer do carro -- Pára! -- puxou a roupa para cima -- Eu vou embora! -- abriu a porta e caiu com metade do corpo na calçada, apoiando-se pelos antebraços -- Mas que inferno! -- reclamou
A geofísica tirou a calcinha dela e agarrou-a pela cintura. -- Volta pra dentro! -- ordenou cheia de desejo
--Mas que diabo é isso aqui?? -- uma voz de mulher ecoou revoltada
--Mamãe?! -- Clarice arregalou os olhos
--Dona Leda?! -- Cátia chocou também e escondeu a calcinha como pôde
--Que patifaria é essa aqui na porta de casa, menina? -- perguntou de cara feia
--Ah, é que... -- a morena começou a tatear o meio fio -- perdi meu anel e não consigo achar... -- respondeu sem graça
--Vê por ali, querida! -- Cátia apontou -- Também tô procurando esse teu anel e não acho! -- disfarçou
Olhou para a loura e respondeu de cara feia: -- Sei bem o quanto você persegue esse anel... -- jogou o lixo fora e voltou para dentro. Clarice morreu de vergonha
--É... -- ajudou a namorada a se sentar novamente -- é melhor você ir, né, querida? -- sorriu e voltou para o assento do motorista -- Tua mãe vai ficar falando... -- coçou a cabeça
--E minha calcinha? -- perguntou enquanto ajeitava a roupa -- Ai, ralei o cotovelo! -- olhou para o pequeno ferimento
--A calcinha perdeu! -- beijou-a no rosto -- E do cotovelo eu posso cuidar se você for dormir lá em casa hoje! -- ofereceu
Olhou para a geofísica e acabou rindo. -- Você é impossível! -- beijou-a também -- Mas eu quero dormir em casa!-- saiu do carro
Cátia buzinou antes de partir e manobrou para ir embora.
--Ai, ai... -- a paleoceanógrafa suspirou se endireitando toda -- Que foi aquilo, gente? -- sorriu -- Não fazia essas coisas na adolescência pra fazer agora? -- riu brevemente -- Ih, arranhei o outro cotovelo também... -- constatou
--Clarice, eu tô esperando! -- Leda gritou de lá de dentro
--Já vi que mamãe vai falar muito no meu ouvido! -- revirou os olhos
***
Zinara bateu na porta do quarto da geofísica, que atendeu desconfiada.
--Nós vamos resolver isso agora, Karim! -- falou com firmeza -- Você me evitou ontem e hoje o dia todo! -- olhava nos olhos dela -- Assim não dá para continuar!
--Eu... -- não sabia o que dizer
--Deixa eu entrar, pára de se sentir insegura só porque eu vou fazer um trekking e me beija, -- aproximou-se mais -- porque eu já ando doida para beijar essa sua boca maravilhosa! -- falava com voz rouca
--Ai... -- ficou arrepiada e puxou a outra para dentro
A astrônoma fechou a porta, abraçou-a pela cintura com força e beijou a namorada com paixão.
--Hum... -- interrompeu o beijo com falta de ar -- O que aconteceu com você, hein? -- envolveu o pescoço da morena com os braços -- Andou bebendo Kirsh? -- brincou
--Não... -- olhava para Karim -- Na verdade eu... -- ficou com vergonha -- vi uma cena parecida em um filme e treinei para fazer igual! -- confessou -- Beijei até o travesseiro...
A geofísica riu gostosamente. -- Sua boba... -- beijou-a com carinho -- Você é muito fofa, sabia? -- beijou-a novamente e sorriu -- Acho lindo esse seu jeito!
--Ainda está zangada? Vai querer ficar comigo sábado? -- perguntou insegura
--Claro que quero! -- beijou-a -- Impossível não querer, especialmente depois dessa cena cinematográfica! -- sorria -- E minha zanga passa rápido.
--Que bom! -- sorria também -- Que bom! -- puxou-a para um beijo demorado
--Isso... foi... ensaiado também? -- perguntou entre beijos
--Não... -- sorriu -- Mas, não sei se você reparou que vim toda arrumada! -- sorriu -- Quero te levar para um lugar especial! -- beijou-a de novo
--E onde seria esse lugar, hein, Zinara Raed?
--Confie em mim! -- beijou-a -- Não vai se arrepender.
***
--É tão lindo, não é? -- Karim exclamou maravilhada -- Um mosaico de cores que vão do verde ao lilás... -- olhava para o céu -- As auroras são lindas!
--Sabia que ia gostar de ver. -- abraçou-a pela cintura -- Conheci esse lugar quando voltei da escalada e queria dividi-lo com você, apesar do frio... -- beijou o rosto dela -- E aquela casa de chá nos espera. -- indicou o lugar com a cabeça
--Outras pessoas também gostam de ver as auroras com essa amplitude toda, não é? -- sorriu para a namorada -- Sorte a nossa, do contrário não teríamos um chá quentinho para tomar.
--Eu não iria trazê-la em um lugar que fugisse muito do que você gosta. Sei que não é tão louca e aventureira quanto eu. -- brincou -- Mas antes do chá, -- ficou de frente para ela e segurou-lhe as mãos -- vamos esquecer que conhecemos os fenônemos físicos que explicam as auroras e vejamos essa dança de cores celestiais como uma imensa pintura de Deus. O pano de fundo para esses momentos especiais que temos vivido aqui. -- olhava nos olhos dela -- Quer orar comigo? -- pediu -- Gostaria de agradecer a Deus por tê-la conhecido!
Karim emocionou-se. -- Quando me chamou para um lugar especial cheguei a pensar que você tentaria algo mais... íntimo. E tive receio... -- sorriu mordendo os lábios -- E você me surpreende com esse lugar e essas palavras. -- colou testa com testa -- Ninguém nunca me fez um convite assim! Saiba que estará em minhas orações enquanto eu viver! -- prometeu
--Você também! -- prometeu -- E não se sinta insegura comigo. Acho você o máximo!
--Não tenha idéia do quanto me faz feliz ao dizer isso! Prometo que não vou mais me sentir insegura! E se sentir, farei um esforço para passar por cima. -- fechou os olhos -- Agora vamos orar, meu amor.
“Gostei desse ‘meu amor’!” -- pensou toda prosa
***
--Filha, presta atenção! -- Leda advertia -- Vai passar final de semana com a tarada, tem que ficar esperta! Cuidado com os homofóbicos! -- observava a paleoceanógrafa arrumar a mala -- Muito cuidado!
--Que conversa é essa, mamãe? -- achava graça -- O que tem a ver meu final de semana com essa gente?
--Ora, menina, você não sabe porque não quer! -- gesticulou -- A taradice da outra lá é tanta que te contaminou! Nunca imaginei que ia surpreender você acasalando dentro de carro na porta de casa!
--Que é isso?! -- arregalou os olhos -- Eu não tava acasalando! -- protestou
--Ah, não? -- cruzou os braços -- Saio pra jogar o lixo fora e surpreendo você numa cena pra lá de comprometedora! E Cátia só em cima, querendo teu anel!
--Mamãe!! -- ficou ainda mais sem graça -- Ora bolas... Aquilo foi... -- não sabia o que dizer
--Um misto de pouca vergonha com fogo no rabo, mas a questão não é essa! -- interrompeu a fala da outra -- Se fosse algum seguidor daquela peste do Otaviano vocês podiam ter levado uma surra! Sabia que tem até uma musiqueta que eles cantam?
--Musiqueta? -- não entendia
--É assim ó, deixa eu seguir o ritmo! -- preparou-se para cantar
"Nossa, nossa,
tem Satanás na praça,
vem, que eu te pego,
vem, vem, que eu te pego,
é cu,
é cu,
é cu– ra gay com raça,
vem, que eu te pego,
vem, vem, que eu te pego, bicha!”
--Eu hein! -- acabou rindo -- É cada coisa que me deixa surpresa... -- voltou a arrumar a mala -- Música santa com letra indecente! -- riu de novo
--Pode ser absurdo mas a homofobia tá por aí, menina! -- insistiu -- Não se exponha, porque não quero que preconceituoso nenhum te faça mal! E nem a tarada eu quero que maltratem! -- pausou brevemente -- Também não exponha o seu coração pra uma mulher que você não sabe se merece! -- aconselhou com carinho -- Nem todo mundo sabe dar valor a um tesouro quando o recebe! -- emocionou-se -- Você é uma menina maravilhosa, minha filha, e apesar de ter se convertido em La Enviadita eu a amo muito e tenho orgulho da pessoa que é!
--Ai, que lindinha, minha velhinha fofa! -- largou tudo e correu para abraçar a mãe -- Também amo a senhora, meu tesouro maravilhoso! -- beijou a testa dela repetidas vezes
--Me solta, menina! Deixe de chamego! -- protestava da boca para fora -- Eu não disse que a taradice da outra te contaminou? Agora quer agarrar todo mundo!
--A senhora eu sempre quero apertar e dar beijinho, minha fofíssima! -- continuava beijando a testa da mãe -- Minha Dona Bordoada do LivrodasFuça! -- brincou
--Fica esperta, viu? Entrei naquele troço outro dia e agora já tenho mais de cinqüenta amigos!
--E quem não quer ser amigo de uma coisinha dessas, gente? -- mimava a idosa que ficou toda boba
(Nota da autora: Musiqueta inspirada em sucesso de Michel Teló) [a]
***
--Que almoço maravilhoso! -- Karim exclamou ao terminar a refeição -- O seu peixe à moda caipira estava ótimo! -- limpou os lábios com o guardanapo -- E o bolo, com certeza delicioso!
--Fico feliz que tenha gostado! -- sorriu orgulhosa -- Eu não tinha todos os ingredientes que uso quando estou em casa e por isso me esforcei ainda mais para que ficasse bom. Já o bolo confesso que comprei pronto, mas sabia que era coisa boa! -- limpou os lábios também
--Maravilhoso! -- repetiu sorridente -- Eu me senti uma rainha!
--Ah, mas tem que caprichar, não é? Afinal de contas, agradar uma geofísica renomada não é nada fácil! -- piscou para ela
--Você não tem dificuldade alguma em me agradar! -- sorriu -- Do contrário.
--Depois que eu cuidar da louça, quer ver umas fotografias comigo? -- convidou -- Meu laptop está cheio delas!
--Claro que quero! -- aceitou -- Mas deixe-me cuidar da louça com você! -- pediu
--Já viu rainha lavando louça? -- brincou -- Nada disso! -- levantou-se e começou a recolher tudo -- Estou toda a sua disposição!
--Meu Deus, assim você vai acabar me deixando apaixonada! -- apoiou o queixo sobre uma das mãos e ficou olhando para a astrônoma, que lhe sorriu -- Se é assim mesmo, tratamento de rainha, então... -- afirmou titubeante -- logo mais eu queria que me fizesse uma massagem... -- sorriu -- Queria relaxar um pouco...
Zinara sentiu as bochechas queimarem e nada respondeu. Entendia que Karim estava disposta a algo mais. Em seguida saiu com a louça para lavar na cozinha do hotel. Karim acompanhou-a com o olhar e suspirou.
“Será que eu tô preparada pra me envolver mais intimamente?” -- pensava receosa -- “Se eu fizer amor com ela, isso quer dizer de fato que desistirei de Jamila de vez...” -- suspirou -- “O cérebro já desistiu, será a vez do coração...”
***
A astrônoma havia ligado o aquecedor e o quarto encontrava-se a uma agradável temperatura de uns 25ºC. Karim estava deitada nua e de bruços, tendo um lençol dobrado sobre suas nádegas. Zinara estava sentada sobre ela, massageando. Vestia um pijama.
--Ai, você tem um toque firme... -- comentou com os olhos fechados, rosto de lado apoiado sobre as mãos cruzadas -- Ai... -- gem*u
A professora estimulava um ponto na lateral do pescoço. -- Dolorido?
--Sim... ai... -- sorriu -- Mas é uma dor gostosa...
--Esse ponto corresponde aos seus olhos. -- continuava pressionando -- Excesso de uso de computador! -- deslizou as mãos para as vértebras na base do crânio
--Excesso de computador e o peso da idade... -- complementou
--Você está ótima para a idade! -- elogiou -- E que pele maravilhosa... -- reclinou o tronco e deslizou o nariz suavemente ao longo da nuca da outra
--Hum... -- arrepiou-se -- Ai... -- sorriu
Voltou a massageá-la na nuca. -- Você anda muito tensa, doutora Karim bint Abdullah. Precisa relaxar mais...
Respirou fundo. -- Foi por isso que pedi a massagem. -- brincou
--No que fez muito bem! -- começou a massagear os ombros da outra -- É tensão demais aqui. -- apertou um ponto abaixo das omoplatas
--Oh, my God... -- gem*u -- I felt like an electrical discharge was imposed over me… (Eu senti como se uma descarga elétrica fosse imposta sobre mim…)
--Quem sabe, hein? -- deslizou as mãos para a nuca novamente e seguiu massageando vértebra por vértebra ao longo da coluna -- Quem sabe... -- ao chegar na altura do cóccix, pressionou-o com força para baixo
--Ai... -- gem*u novamente
A morena deslizou as pontas dos dedos pelas costas da outra até a nuca e repetiu a massagem anterior ao longo das vértebras.
--Hum, isso é tão gostoso... -- sorriu -- Compressões fortes da nuca para baixo e esse roçar de dedos da cintura para cima... -- suspirou -- Adorando...
--A alternância é o segredo de um bom estímulo. -- comentou -- Confia na caipira! -- pressionava com força -- Estimular as reações do corpo... -- arranhou lentamente a pele da geofísica até a nuca -- é essencial para relaxar... -- falava com voz hipnótica
--Essa massagem é tudo, menos relaxante. -- sorriu
--Hum, está reclamando? -- fingiu-se indignada e reclinou-se novamente -- Vou ter que caprichar mais, então. -- sussurrou no ouvido e seguiu lambendo com a ponta da língua a pele da namorada desde a orelha até as nádegas
--Oh, my God! -- arregalou os olhos excitada
--Ainda reclamando? -- deslizou as mãos ao longo da lateral do corpo dela até os braços -- Oh, que mulher difícil de agradar! -- segurou-a pelos braços e os levantou puxando para trás. Karim espontaneamente ergueu um pouco o tronco para trás e gem*u -- Relaxa, minha querida. -- deslizou as mãos cuidadosamente ao longo dos braços dela fazendo-a se deitar -- Não pense em coisa alguma. -- masseava-lhe os ombros e o pescoço -- Não pense... -- segurou-lhe os cabelos como se fosse fazer um coque e puxou com força bem dosada -- apenas sinta... -- reclinou-se mais uma vez para beijar e morder orelha e pescoço da parceira
--Ah... -- gem*u alto -- Oh. Zinara, please... -- sua respiração estava ofegante
A astrônoma seguia beijando e mordendo a pele da geofísica ao longo da coluna, enquanto lentamente aliviada a força com que lhe segurava os cabelos. Com a outra mão arranhava a lateral do corpo dela em um movimento descendente.
--AHAH!!! -- gem*u alto
Chegando próxima à cintura, sentou-se sobre as coxas de Karim e começou a massagear a região dos quadris, comprimindo-a e apertando-a com força.
--Isso é enlouquecedor... -- falava sofregamente
--Gosta assim? -- deslizou as mãos para as nágedas da namorada, ainda por cima do lençol -- Será que me permite? -- pediu respeitosa
Karim não respondeu, apenas puxou o lençol e o jogou no chão. Em seguida Zinara começou a massagear suas nádegas, alternando-se entre compressões vigorosas e toques suaves.
--Ah... -- continuava gem*ndo -- Oh, my... hare baba...
A astrônoma prosseguiu a massagem, descendo ao longo das coxas.
--Dói aqui? -- pressionou subitamente um ponto atrás dos joelhos
--AI!!!! -- quase gritou -- Deus, o que é isso? -- reclinou a cabeça para trás e mordeu o lábio inferior
--Isso é tensão! -- seguiu pelas panturrilhas até chegar aos pés -- Você anda muito tensa... -- pressionou as solas
--Zinara, chega! -- pediu excitada
--Quer que eu pare? -- acariciava as panturrilhas dela
--Quero você! -- deitou-se de barriga para cima e olhou receosa para a namorada -- Sei que já não sou jovem e bela, mas quero... -- respirava com sofreguidão -- quero compartilhar com você o meu corpo, a minha essência e tudo de mim! -- falava como se tivesse vergonha de si
--Sabe que fazer amor com alguém é uma coisa sagrada. -- tirou a blusa -- Não se envergonhe, querida! -- olhava para ela -- É uma das mais belas mulheres que conheci na vida. -- tirava a calça -- Por dentro e por fora.
--Quero você! -- repetiu com mais segurança
--Também te quero! -- segurou-a por um dos pés e começou a beijá-lo com desejo e carinho
--Take me... -- fechou os olhos
Zinara seguia uma lenta trilha de beijos e mordidas pela perna da geofísica enquanto sua outra mão comprimia e arranhava a outra perna dela.
--Ah... -- segurou-se nos lençóis com ansiedade
A astrônoma continuou seu caminho, propositadamente evitando o sex* da outra. Apenas deixou que os dedos roçassem de leve e sentiu o corpo da parceira estremecer.
--Está me enlouquecendo... -- agarrou-a pelos cabelos ao sentir que a morena vinha beijando e mordendo seu abdômem -- Aha baba di... -- gem*u alto
--Quero você bem louca... -- mordiscou-lhe um mamilo -- e solta... -- sugou-lhe o seio
--Hum... -- gem*u novamente -- Ai, meu amor...
--Você me quer mesmo? -- mordeu o queixo dela -- Não vai se arrepender, ya habibi? -- roçou os lábios sobre os lábios da outra
--No regrets! (Sem arrependimentos!) -- beijou-a com paixão
As duas entregaram-se em um gostoso amasso, roçando sex* contra sex* cada vez mais aceleradamente, até que Zinara interrompeu o que faziam e mergulhou entre as pernas da namorada.
Karim gem*u ainda mais alto, gritou coisas sem sentido e atingiu o orgasmo rapidamente.
***
--Eu não canso de dizer que você nada tem de caipira. -- acariciava os braços da outra -- E sua massagem nada tem de relaxante... -- sorria -- Não passa de uma tática muito bem urdida para seduzir mulheres inocentes... -- brincou
Zinara achou graça. -- Eu não te seduzi, apenas massageei. Não tenho culpa que você logo quis se aproveitar de mim. -- beijou a cabeça dela
--Ah, é... -- beijou o pescoço da morena -- Você é muito perigosa, Zinara Raed.
Estavam na cama, nos braços uma da outra. A geofísica repousava sobre a amante, que estava deitada de barriga para cima.
--Que nada... -- segurou uma das mãos de Karim -- Que nada...
--Sabe... -- levantou a cabeça para olhar para a professora -- lá no Punjab, tem umas músicas cujo refrão é mais ou menos assim: lililililililili. -- fez movimentos rápidos com a língua, cantando com voz fina
--Nossa! -- achou graça
--Sempre tive curiosidade como seria fazer esse movimento de língua... -- mordeu o lábio inferior e baixou os olhos -- Bem...
A astrônoma entendeu a intenção. -- Pesquisadores são curiosos... Como boa pesquisadora, não fujo à regra.
--Sendo assim... -- mordeu o queixo da morena -- Vamos pesquisar... -- arranhou de leve a pele dela
--Ai... -- sorriu -- Adoro isso! -- exclamou excitada
Karim prosseguiu mordendo, beijando e sugando o corpo da amante, enquanto uma de suas mãos se alojou no sex* dela.
--Ah!!! -- gem*u novamente
--Será que... você... vai... -- perguntou entre beijos -- gostar? -- levantou a cabeça e olhou para a astrônoma -- Será? -- encostou o queixo na virilha dela
--Já estou gostando! -- respondeu muito excitada
--Lililili... -- começou a cantar até que mergulhou entre as pernas da namorada e repetiu os movimentos de língua para estimulá-la
--AHAH!!! -- gem*u alto -- "Minha nossa!” -- pensou -- "Eita, que hoje ela me mata!!” -- fechou os olhos inebriada
CAPÍTULO 25 – Algumas Dores
Amina e Raed estavam no quarto, sentados na cama e encostados na cabeceira. A mulher acabava de desligar seu computador.
--Agora qui ocê disligô o léptópio será qui nóis pudia prosiá? -- ele perguntou
--Num pricisa isperá eu disligá o bicho módi falá cumigu. -- colocou o equipamento na mesinha e olhou para o marido -- Qui foi?
--Najla mi dissi umas coisa e fiquei matutandu... ocê acha qui nóis criemu os fio mais novo cum menos rigô? -- olhava para ela -- Qué dizê, qui acustememu elis mar?
Amina gastou uns segundos calada e respondeu com tristeza: -- Claro qui sim, né, homi? -- admitiu -- Ocê deu muita moleza prus mininu mais novo e eu vi acunticê e fiquei quéta. -- suspirou -- Nóis dois temo curpa!
--AHHa, mais Ahmed, Nagibe e Cid também tivéro qui trabaiá! -- protestou -- Desdi piquenu foi tudu acustumadu nu batenti! Si num quiséru istudá foi ôtra coisa!
--Mas nem si compara ao modu como Zinara, Youssef e Khaled foro criadu, né? -- argumentou -- Nóis era mais duru cum elis, os tempo era ôtro! E nóis cunhecemo Cedro sem guerra! Já elis nascero num mundo di violença. Desdi piquenu os bichinhu sofrêro... Nasceru nu sofrimentu!
--Verdadi... -- balançou a cabeça pensativo
--E dipois qui Ahmed nasceu, ocê num ligô mais pra elis. -- seus olhos marejaram -- Os bichinhu sintiru...
--AHHa! -- reclamou e olhou para as mãos -- Fala comu si eu num gostassi dus mininu! -- protestou -- Num sabi di minha dô di tê vistu dois fio morrê! -- emocionou-se também -- Num bastô maama, baba, meus irmão, subrinhu e cunhada, num bastô Leila e os meninu dela, tinha qui perdê Youssef e Khaled... -- balançou a cabeça com tristeza -- É muita dô prum homi só!
--E eu? -- derramou uma lágrima -- Também pirdi famia, vi a tua morrendu na guerra e vi dois fio morrê! Num há dô pió pra uma muié! -- passou as mãos nos olhos -- Hassan e Jamal também era como si fossi meus mininu...
Depois de uns segundos em silêncio, Raed perguntou de repente: -- Alembra di quandu nóis cumecemu a aprendê a língua daqui? -- sorriu olhando para a mulher -- Ô trem difíci! -- riu -- Alembra comu qui Zinara aprendia ligêra? E ela qui já sabia a língua dus galego da Gália...
--Ela era o orguio di professora Fátima! -- Amina lembrou -- E qui criatura abençuada aquela muié! -- pensava na professora -- Boa dintista qui era, cuidô dus denti meu e dus mininu... -- sorriu -- Alembru qui ela me dizia: “Tua fia vai sê professora, podi cunfiá!”
--E é professora, né? Desdi minina... -- respondeu com orgulho -- Dia dessi, eu tava mi alembrandu qui Zinara cismô purquê cismô di dá aula pra minina ispeciá di ya Tereza! Num si conformava da pobre num sabê lê e contá!
--E foi graças a isso qui hoji nóis tem essa casinha! -- Amina reconheceu -- Graças a essa cisma di nossa fia im querê insiná!
--Zinara num sussegô inquanto inté Youssef num aprendeu os trem! -- olhou para a mulher -- Ocê alembra qui quandu ela e Khaled vortaru a istudá, Zinara tantu qui feiz qui discubriu um homi qui insinô Youssef a lê cum uns trem cheio di furinhu? -- perguntou -- Eu peguei o livru e num intendi nada! Só furinhu! -- riu brevemente
--Youssef... -- respirou fundo e olhou para um ponto perdido -- Nunca qui oví eli mardizê di tê ficadu cego... Nunca... -- deu um sorriso triste -- Eli era diferenti, pur issu qui no centro di mãe Dézinha, todu mundu respeitava nossu fio! Curô tanta genti... Num sei purque tevi di morrê cedu...
--Nunca qui vi tanta genti num interro, quantu nu dia que Youssef... -- não conseguiu completar a frase -- Inquantu issu Khaled sempri achô qui ceguêra du irmão era curpa deli... Aqueli mininu nunca qui tinha paz... -- lembrou-se do outro filho -- Quandu nóis cumecemu a aprendê a língua daqui, eli ficô tão aguniadu qui o irmão num pudia lê, qui tentô rancá os própriu zóio cum a faca! Eu qui num dexei! -- comentou com tristeza
--Coitadu di nossus fio... -- lamentou
--Alembra du primeru natar quandu Aisha mandô os mininu isculhê presenti? -- sorriu -- Zinara pidiu uns dicionáriu, Youssef quis uma gaita e Khaled um porcu... -- riu -- E cada bichu da fazenda ganhô nomi qui Khaled botô!
--Nossus mininu mais novo nunca qui ia pidi umas coisa tão simplis... Duvidu qui Ahmed, Nagibe e Cid si conformassi cum tão pôco... -- Amina observou -- A criação, né? E os valô di cada um...
Raed não teve coragem de comentar a respeito e continuou rememorando o passado. -- Zinara vivia cum os dois irmão fazendu istripulia pelus matu dispois di trabaiá. -- riu brevemente -- Eu batia mais num dava jeitu! Dispois disistí di batê.
--Elis era apaxonadu pela irmã. E ela pur elis... -- olhou para o marido e gastou uns segundos calada -- Nóis devi muito a Zinara, homi... -- respirou fundo antes de falar: -- E agora... num sei... ela tá morrendu, né? -- não queria aceitar
--Num diz issu! -- levantou-se agoniado
--Nóis tem qui falá cum ela, homi! Nóis erremu dimais da conta, mas inda tem tempu di cunsertá e falá o qui nóis senti e ela num sabi! Najla diz qui nóis num podi isperá mais!
--Tem tempu di cunsertá mais nada, não... -- andava de um lado a outro -- Ocê inté qui tem, eu não...
--AHHa, homi custoso di uma pesti! -- reclamou dando um soco no travesseiro -- Inda é tempo di ocê si torná um baba decenti pra sua fia!
--Eu num sô, muié? -- perguntou desaforado
--Nunca foi! -- exaltou-se e calou a boca por uns segundos -- Ocê nunca foi um bão baba pra ela! -- acusou -- Sei qui fez muita coisa qui ela num sabi, mas bão baba... -- balançou a cabeça negativamente -- nunca foi!
Andou até a janela e encostou a cabeça no vidro. -- Num dá mais pra mudá nada, muié. Zinara cresceu, num é mais minina. E ela mi odeia... -- falava com tristeza
--Ô bicho custoso! Intão si dani sozinhu, purqui eu vô falá cum minha minina! -- preparou-se para deitar -- Basnoiti! -- virou-se de lado -- Só num venha chorá nus meu zôvidu!
Raed olhava para fora sem ver o exterior e sem saber o que fazer.
***
Zinara e Hassan remavam em um lindo lago de águas cristalinas. Cada um seguia em um caiaque.
--Mantenha o ritmo, -- ele disse ao olhar rapidamente para o lado -- e chegaremos ao cume com meia hora de antecedência.
A astrônoma se limitou a balançar a cabeça. Embora agüentasse o esforço, sabia que sua resistência já não era a mesma.
Minutos depois eles deixavam os caiaques na outra margem do lago e seguiram caminhando em ritmo puxado. Após 40 minutos, atingiram o cume da montanha que buscavam.
--Smallah!! (interjeição de admiração) A visão do cume é magnífica! -- a professora dizia impressionada -- Pode-se ver os lagos e os glaciares! -- sorria -- Veja como parecem imensas paredes brancas! -- sorriu
--Je savais que vous aimeriez! (Eu sabia que você ia adorar!) -- respondeu animado
--C'est magnifique! (É lindo!) -- continuava devorando a paisagem com os olhos
--Está com fome? -- pegou a garrafa térmica -- Vamos beber chá de menta? -- ofereceu -- Só que nesse cume não tem gelo de glaciar para colocar na caneca... -- brincou
--Vamos ao chá! -- concordou ao tirar a mochila das costas -- Mas ainda não tenho fome. O lanche que fizemos antes de cruzar o lago ainda me sustenta. -- pegou a caneca
--Podemos passar uns vinte minutos aqui. -- serviu chá à morena -- Nesse meio tempo talvez a fome desperte.
--Obrigado. -- sentou-se e começou a beber
--Zinara, eu estive pensando naquela história que me contou sobre o menino, o seu primo. -- sentou-se ao lado dela -- Confesso que não tirei aquelas crianças do pensamento. -- bebeu um gole -- Hassan e Jamal...
--Nem eu tirei. -- bebeu um gole também
Olhou receoso para ela. -- Eu seria muito inconveniente se... perguntasse como conseguiram ir para Terra de Santa Cruz?
A astrônoma gastou um tempo calada antes de responder: -- Graças a uma médica que visitou o acampamento, mandei uma carta para minha camma Najla, que já morava em Terra de Santa Cruz, e ela batalhou arduamente para viabilizar nossa ida. -- estendeu a caneca e Hassan serviu mais chá -- Eu não sabia, ela só me contou neste ano, mas camma chegou a ter uma audiência com o Ministro do Exército daquela época, pedindo apoio na nossa causa. O marido dela era um fazendeiro influente e ele se movimentou para que a esposa chegasse nas pessoas certas. -- bebeu um gole
--Ulalá! -- exclamou surpreso -- E como vocês souberam que receberiam asilo?
--Ela mandou uma carta para mim dizendo que podíamos ir. -- pegou uma barra de cereal na mochila -- Mas ainda havia um problema: como ir. -- deu uma mordida e mastigou um pouco -- Aconteceu que depois que o governo da Gália moralizou o acampamento, nós conseguimos fugir de Al Maghrib escondidos em um barco. E vou dizer: que viagem infernal... -- bebeu mais chá
--Imagino! -- revirou os olhos -- E o menino Jamal...? -- perguntou com jeito -- Desculpe, Zinara, mas eu fiquei realmente condoído com aquelas crianças! -- justificava-se -- Com todos vocês, mas os dois irmãos... eles me pareceram tão indefesos... -- bebeu o chá até o final
A astrônoma respirou fundo e respondeu: -- Jamal sentiu muito a morte do irmão, mas ele foi levando a vida como todos nós. -- bebeu mais um gole -- No entanto, depois de um tempo, ele passou a sonhar com mil coisas e fugia da realidade projetando um futuro cheio de esplendor e beleza... Engraçado que talvez ele fosse quem mais fantasiasse com Terra de Santa Cruz, mas nem sequer chegou a pôr os pés lá... -- suspirou -- Queria muito que ele tivesse visto aquilo que tanto desejou ver... -- mirou um ponto no infinito
--O que aconteceu? -- perguntou penalizado -- Se não quiser responder...
Zinara terminou de comer a barrinha, bebeu o último gole de chá e guardou o lixo em um saco plástico. -- O navio era imundo, especialmente no compartimento no qual viajávamos. -- voltou a contar a história -- Haviam muitos ratos e hoje deduzo que Jamal deve ter contraído... -- pensou -- Não sei dizer isso em gálio, mas na minha língua é leptospirose.
--Eu sei que doença é. Transmitida pelo rato, como a peste negra! -- concluiu
--Isso. -- balançou a cabeça -- São especulações minhas, mas acho que foi o que aconteceu.
--E essa doença o vitimou? -- concluiu pesaroso
--Sim... -- a morena perdeu-se em recordações
--Gidda? -- Jamal despertou cansado
--Maama esteve com você por todo tempo, mas agora dorme. Zinara não tem sono e fica aqui. -- respondeu ao colocar a mão na testa dele -- Ainda tem Humma (febre). -- constatou
--Sudaagh... (Dor de cabeça...) -- reclamou em voz baixa
Estavam em um compartimento sujo e empoeirado cheio de sacos de fosfato. As roupas de cama improsivada eram os sacos vazios e rasgados.
--Vai passar... -- respondeu com pena do menino -- Em Terra de Santa Cruz você melhora! -- tentava ser otimista
--Eu sonhei com o lugar onde camma Najla mora. -- falava com voz cansada -- Era bonito, cheio de árvores, tinha al-nahr (um rio) uHayawaanaat ( e animais)... -- sorriu
--Ela vai dar al-Hayawaan (um animal) para você! -- sorriu -- Qual vai querer? -- tentava entretê-lo
--Al-Himaar! (Um camelo!) -- sorriu -- E kilaab (cachorros)! Eu vou ser um caçador e vou pegar todos os junuud (soldados) maus!
--Isso! Nenhum vai sobrar!
Jamal fez uma cara feia de repente.
--MaraD? Saghara? (Enjôo? Sente dor?) -- perguntou preocupada
--Eu nem sei o que sinto... -- ajeitou-se mais dentro dos sacos
Zinara reparava no menino e não lhe passava despercebido que a pele dele era uma mistura de uma tonalidade amarelada com vermelha. Seus olhos também viviam vermelhos. “O que será que ele tem?” -- pensava agoniada
--Já imaginou uma coisa? Maama pode estar lá, na casa de camma Najla esperando por nós! -- sorriu esperançoso -- Ela vai aparecer e me abraçar e dizer que enganou os supervisores e fugiu antes de todo mundo! -- riu brevemente -- E Hassan vai aparecer todo pintado de azul e nos dar um susto!
A morena teve vontade de chorar. -- Aywah, Jamal... (Sim, Jamal...) Ya Leila e Hassan vão fazer uma surpresa. -- mentiu -- E nós vamos passear de Himaar (camelo).
--E vamos nadar, pular bem do alto e cair no nahr (rio). -- fazia planos -- E vamos ter muita, mas muita maa’ (água) para beber, sem precisar fazer conta! E taghaam (comida), de todo tipo! -- empolgou-se -- E nossas roupas serão novas e limpas e vamos poder ir na escola e vamos poder brincar sem precisar trabalhar duro.
--Vamos! -- concordava
--E nunca mais vai ter harb ahliyya (guerra civil)! -- olhou para cima -- E quem sabe, giddu Raja também volte, não é?
--Quem sabe... -- não tinha coragem de discordar
--Zinara, canta para mim? -- pediu olhando para ela -- Você canta tão bonito...
--Os outros dormem... -- advertiu -- Como cantar?
--Ghanili shwaaye... (Cante para mim, suavemente...) -- insistiu falando devagar
--Tudo bem. -- concordou -- Já sei o que cantarei. -- acariciou a cabeça dele -- Feche os olhos e pense em ommak (sua mãe). -- ele obedeceu e Zinara respirou fundo para começar a cantar -- Salamit-ha oum Jamal, meil ein weil meil hassad (Deus a abençoe mãe de Jamal, do olho do mal e da inveja), -- continuava fazendo carinho -- wei salamtak ya Jamal, meil reim sheilee hassad (e Deus abençoe você Jamal, do chicote que te invejou) -- chorava por dentro -- Salamit-ha, salamit-ha (Deus abençoe, Deus abençoe), -- percebeu que ele adormecia -- Salamit-ha, salamit-ha oum Jamal (Deus a abençoe, Deus a abençoe mãe de Jamal), -- recolheu a mão -- salamit-ha, ya Leila... (Deus a abençoe, senhora Leila...) -- parou de cantar e derramou uma única lágrima
(Nota da autora: adaptada da canção Salamit-ha oum Hassan, de Farouk Salamah - http://www.shira.net/music/lyrics/salamet-ha-umm-hassan.htm) [b]
--Quando o dia amanheceu, ele já estava morto. -- Zinara narrava a história -- Então baba e eu cuidamos do corpo e depois o jogamos no mar.
--Mas você era uma criança! -- surpreendeu-se
--Sempre cuidei dos mortos. -- levantou-se -- E sempre sofri muito por não tê-los ajudado quando ainda viviam.
--Ei, não diga isso! -- levantou-se também -- Você fez o que podia e era apenas uma criança! -- olhava para ela -- É de se admirar que tenha chegado onde chegou! -- segurou uma das mãos dela -- Em Al Maghrib existe uma montanha chamada Toubkallya e nós acreditamos que todas as dores podem ser entregues a ela. -- sorriu -- Eu acredito que todas as dores podem ser entregues a qualquer montanha onde haja paz! -- apontou para o ambiente ao redor -- Veja que lugar maravilhoso! Entregue suas dores para a montanha e desça daqui livre delas! -- aconselhou
--E como faço isso? -- perguntou com os olhos marejados
--Grite! -- sugeriu -- Eu fico aqui com você! Pense no que te machuca e grite. A montanha receberá suas dores e o vento as levará para bem longe!
Zinara afastou-se dele e subiu em uma grande pedra. Olhou para o céu e pensou em seus parentes e amigos mortos em Cedro. Respirou fundo e gritou com vontade: --AHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!!
--Isso! -- Hassan apoiou -- Esvazie seu coração! Pense em todas as coisas que estavam muito além de sua capacidade de ação e ainda te causam dor! Livre-se delas!
Pensou em Farida e na maldade dos soldados, pensou em Zahirah e no que sentiu quando saiu de seu país.
--AHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!! -- sua voz era espalhada pelo vento
Pensou em Leila, seus filhos e em todas as crianças órfãs, sem brilho no olhar.
--AHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!! -- chorava
--Grite, Zinara! -- Hassan dava força -- A montanha recebe suas dores e o vento as leva embora!
“Youssef, Khaled...” -- vislumbrou os rostos dos irmãos em sua mente -- AHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!! -- continuava gritando
--Você vai deixar passar! -- o guia falou
“Jamila, eu desisti de você! Pra sempre!” -- pensou com muita tristeza -- AHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!!!!!! -- chorava mais
--Liberdade! -- o guia falava -- Liberdade! -- emocionou-se
***
--Nossa, Cátia, que fome é essa? -- Clarice perguntava enquanto era imprensada sobre a mesa da cozinha -- Calma, ui! -- deu uma risada -- Ai... -- gem*u
--Saber que você... foi aceita... no tal grupo... internacional... -- mordia e beijava o pescoço dela -- me deu um tesão danado... -- mergulhou repentinamente entre as pernas da outra
--Ahahah!! -- deitou-se na mesa e arqueou as costas -- Ai...
A loura estimulava a namorada usando a língua de todas as formas.
--Ai, amor... -- sentia que estava próxima ao orgasmo -- Ah! -- a respiração acelerava -- AHAHAHAH!!!! -- gritou extasiada
Cátia puxou a namorada pela cintura de modo a novamente erguer seu tronco e seguiu beijando-a e mordendo-a até chegar nos seios. Sentindo que Clarice ainda estremecia da prazer, introduziu dois dedos pressionando por dentro.
--Gente, mas o que...? -- surpreendeu-se e gozou de novo -- AHAHAH!!! -- gritou mais uma vez
--Você parece até... -- ainda provocava o seio da parceira -- menina... -- mordiscou um mamilo -- apertadinha...
--Ai... -- parecia não ter controle sobre o próprio corpo -- meu Pai... -- suspirou quase sem fôlego
--Vou deixar você... -- lambeu a pele da morena desde o seio até o queixo -- se recuperar... -- abraçou-a com força pela cintura -- gostosa... -- sussurrou no ouvido
--Ai... -- continuava se sentindo em alfa
--Linda! -- beijou-a rapidamente e se afastou em direção a pia -- Quer água? -- ofereceu ao pegar um copo
--Não... -- deitou-se na mesa de novo -- Gente, parece que fiquei toda molinha... -- fechou os olhos
--Que pena que primeiro de maio caiu numa quarta. -- reclamou enquanto bebia água -- Do contrário faria amor contigo até amanhecer. -- sorriu maliciosa contemplando o corpo da amante
--Meu Deus... -- sentou-se e respirou fundo passando a mão nos cabelos -- Eu posso ter disposição, mas você tem uma libido que não dou conta. -- sorriu meio encabulada -- E parece saber tudo e mais um pouco... -- abaixou os olhos
--Não vou mentir pra você, -- deixou o copo na pia -- sou uma mulher experiente.
--Ah, mas isso é notório! -- sorriu e saiu de cima da mesa -- Você é ótima... -- ficou sem saber o que fazer
--Ei, fica com vergonha, não. -- foi até a morena segurou o rosto dela e beijou-lhe a testa -- Não quero que tenha vergonha de ficar nua diante de mim seja lá onde for! -- sorriu
--Eu... -- olhou para a geofísica -- não sou muito acostumada com certas coisas e ainda fico um pouco encabulada... -- confessou -- Mas acho que é só uma questão de tempo...
--Certamente é! -- concordou -- Mas fica aí que vou te buscar um roupão pra você se sentir mais à vontade. -- beijou a testa dela de novo e saiu da cozinha
Clarice acompanhou a loura com o olhar e suspirou.
***
Cátia estava em sua sala quando ouviu alguém bater e cumprimentar: -- Oi, gatona!
--O que faz aqui? -- olhou para a garota com a cara feia -- Você não estuda, não, Lilian? -- perguntou sem muita paciência
--Nossa, que maneira de falar comigo! -- respondeu contrariada ao fechar a porta -- O que foi? -- aproximou-se da mesa da outra
--O que foi é que esse é meu lugar de trabalho, se é que ainda não percebeu! -- cruzou os braços olhando para a ex aluna
--Ah, é? -- respondeu debochada -- E você descobriu isso quando? Agora há pouco? -- debruçou-se sobre a mesa
--Escuta aqui, garota! -- levantou-se e foi até ela -- Eu não quero mais saber de você vindo aqui me procurar. -- segurou-a pelo braço -- Será que não percebe que já acabou? Já era! -- olhava nos olhos da moça
--O que foi, hein? -- desvencilhou-se com brutalidade e elevou o tom de voz -- Tá fodendo com outra?
--Eu não vou te dar satisfações! -- rosnou revoltada -- E fala baixo na minha sala! -- andou até a porta -- Vai embora, garota! Cuida de tua vida, arranja outra e me esquece! -- abriu a porta -- Vai! -- ordenou
Lilian cruzou os braços e abaixou a cabeça com tristeza. -- Por que me trata assim agora? Nós vivemos momentos tão bons e nunca te fiz nenhum mal... -- falava como se fosse chorar -- Ninguém nunca soube de nós e se eu fosse outra garota, teria contado pra todo mundo...
A geofísica se arrependeu e fechou a porta novamente. Passou a mão nos cabelos e se aproximou da jovem. -- Desculpe, meu bem. -- pediu com sinceridade -- Me perdoe, fui realmente uma grossa desnecessariamente. -- reconheceu
--O que houve? -- olhou para a loura -- Arrumou alguém pra namorar sério? Você nunca teve isso de ser fiel!
--Mas agora é diferente. -- respondeu com calma -- Eu percebi que tava sendo uma babaca e quase perdi a mulher mais maravilhosa que conheci na vida por causa disso!
--E por que eu não sou essa mulher? -- perguntou magoada
--Ah, Lilian... -- andou um pouco pela sala -- Quem manda no coração, né?
--Tá apaixonada? -- não acreditava
Pensou antes de responder. -- Acho que sim... -- olhou para a jovem
--Quem é? -- aproximou-se de cara feia -- Me diz, quem é ela? -- exigiu
--Eu não vou dizer! -- respondeu com firmeza e gastou uns segundos calada -- E não quero ser rude de novo, garota. Será que poderia ir embora daqui? -- pediu -- Acabou, Lilian! Não vai mais acontecer! Nunca mais!
--Por que?? Você já namorou um monte de mulher e a gente nunca deixou de trans*r por causa disso! -- protestou
--Acabou, Lilian... -- repetiu quase em um sussurro
A moça olhou para Cátia de cima a baixo com desdém e falou: -- Você é uma canalha, babaca, puta imbecil! -- seus olhos marejaram -- Vai se arrepender! -- foi embora revoltada e batendo a porta com força
A geofísica cruzou os dedos por trás da nuca e fechou os olhos. “Ai, meu Deus, que essa garota não me cause problemas!” -- desejou
***
Era sexta-feira e o dia de trabalho chegava ao final. Clarice preparava-se para sair de sua sala quando foi surpreendida por uma jovem. -- Professora?
--Sim? -- perguntou desconfiada -- Nos conhecemos? -- estava de pé arrumando a bolsa
--Não necessariamente. -- entrou na sala e encostou a porta -- Mas temos alguém em comum. Alguém que conhecemos... intimamente. -- olhava para a morena
--E quem seria? -- não entendia aquela conversa
--Cátia Magalhães! -- afirmou com firmeza -- Será que gostaria de ouvir o que tenho a dizer? -- cruzou os braços
A paleoceanógrafa interrompeu o que fazia e sentiu um aperto no peito. -- Não sei no que essa conversa possa me interessar. -- respondeu mal disfarçando sua agonia
Lilian não se importou com aquela resposta. -- Cátia me dispensou dizendo que tá namorando uma mulher maravilhosa e blábláblá. -- começou a contar a história -- Fiquei pensando em quem seria e me lembrei do jeito dela com a senhora no dia da palestra. Conheço aquela mulher e sei como fica melosa quando quer alguém. -- pausou brevemente -- Acho que matei a charada, não? -- aproximou-se da outra -- Se tem medo de confessar que é a queridinha da loura por não ser assumida, não precisa se preocupar. Eu também não sou assumida e ninguém nessa universidade imagina que Cátia e eu fomos amantes por três anos... até ontem.
--Meu Deus! -- desabou sentando-se na cadeira
--Será que posso? -- puxou uma cadeira para si
--Pode... -- não sabia o que fazer -- E não precisa me chamar de senhora.
--Tudo bem. -- cruzou as pernas -- Cátia me deu aula e depois que o período terminou nos encontramos sem querer em uma festa LGBT na zona sul. Acabamos ficando e nos tornamos amantes. -- passou a mão pelos cabelos -- Nesse meio tempo ela saiu com várias outras mulheres e nunca foi fiel.
Clarice balançou a cabeça estupefata.
--No dia daquela palestra, ela se atrasou porque fomos trans*r em um banheiro recém reformado e acabou que umas garotas chegaram lá e ficaram batendo papo. -- dedurava a ex -- Ficamos presas na cabine esperando as miseráveis irem embora.
--Meu Deus! -- estava pasma -- E ela disse que sofreu uma tentativa de assalto! Foi capaz de jurar!
--Ela é capaz de jurar qualquer mentira olhando nos seus olhos e sem qualquer pudor! -- achou graça -- Eu já testemunhei isso várias vezes! -- olhava para a professora -- Cátia é muito ética e séria no trabalho, mas na vida amorosa não passa de uma canalha!
--Bem que mamãe sempre suspeitou... -- resmungou consigo mesma
--Se está se envolvendo seriamente com ela, -- levantou-se -- cuidado. -- advertiu -- Aquela mulher sabe fuder muito bem, mas é só isso que a interessa. Não tem coração. -- foi até a porta e a abriu -- Recado dado. Cabe a você saber o que fazer. -- deu tchauzinho e foi embora
Clarice permaneceu sentada e inerte. Estava arrasada.
***
--Ai, mamãe, como Cátia pôde ser tão desonesta comigo? -- chorava no colo de Leda -- Como pôde ser capaz de mentir olhando nos meus olhos? -- lamentava -- Agora tenho certeza que a senhora tem razão! Ela me traiu com alguém em Costa Azul e também não tava sozinha naquele bar em Maurítia!
--Eu lamento por isso, mas não pode dizer que não te avisei. -- acariciava a cabeça da filha
--Acho que eu não queria ver... -- continuava chorando
--Pelo seu desespero em esquecer da estrangeira nos braços de alguém! -- afirmou compreensiva -- Sabe que não é assim que se faz...
--Ai, mamãe... -- aninhou-se mais no colo da idosa
--Mas chega disso aqui! -- decretou -- Já faz horas que você tá chorando e eu não criei filha pra ficar se danando por causa de qualquer tarada!
A morena achou graça.
--E de mais a mais, aprenda a lição: passarinha que dorme com morcega acorda de cabeça pra baixo!
A professora riu. -- Ai, mas a senhora me inventa cada uma. -- sentou-se e passou a mão nos olhos -- Eu hein! -- riu de novo
--Esquece aquela bicha fuleira! -- aconselhou -- Cátia só é boa pra falar de trabalho, saiu disso, não presta! -- deu um soco na mão
--Até que ela vinha sendo uma boa namorada... -- olhou para as mãos -- Que pena... -- lamentou
--Humpf! Que pena o que, menina? -- revoltou-se -- Graças a Deus que a ex da tarada abriu o jogo logo e esse namoro só durou 15 dias! -- postou as mãos para o alto -- Mas sabe o que foi isso? -- olhou para a filha -- Minhas reza! Eu botei tudo que é alma no encalço dela pra desmascarar aquela uma!
--E desmascarou... -- suspirou -- Pôxa, e eu toda boba com nosso relacionamento... Vinha sendo tão bom...
--Ah, Clarice, faça-me o favor! Diz isso apenas por causa da sacanagem!
--Que é isso, mamãe? -- perguntou envergonhada
--Acho que você pensa que eu sou lesa! -- levantou-se -- Tenho certeza que aquela bicha deve saber o beabá completo da sacanagem! -- olhava para a filha -- Mas não se engane, um relacionamento é muito mais que uns ‘ai meu Deus’ bem gritados.
--Mamãe?! -- espantou-se e depois riu -- Mas que velhinha! -- olhava para ela
--Sabe que daqui a pouco ela vem te procurar, até porque você desligou o celular e ninguém mais atende telefone nessa casa hoje. -- foi andando para o quarto -- Vê se fica esperta e procura por ela amanhã pra dizer umas verdades e dar um bom pontapé no rabo daquela tarada da praia! -- deu tchauzinho -- Só quero ver se vai ficar toda derretida se ela vier cheia de papo pra te dar um créu! -- sumiu no corredor -- Fui!
--Me dar um créu... -- repetiu achando graça -- Ai, ai... acho que vou me aposentar desse negócio de relacionamento... -- resmungou desanimada
***
--Aqui amor, ouve essa: -- Janaína lia o jornal -- "O mega empresário Mike Ametista vive inferno astral no mundo dos negócios.”
--Lê por favor, querida! -- sentou-se ao lado da esposa -- Tô curiosa! -- prestava atenção
--“Não é de hoje que Mike Ametista parece viver dias de amargura.” -- continuou a leitura -- "A empresa Obelix, operadora do grupo Asterix, experimenta sucessivas quedas em seu valor de mercado, atingindo um mínimo histórico na tarde de ontem, 4 de maio, quando suas ações chegaram a ser cotadas em 35 centavos.”
--Gente! -- arregalou os olhos -- Continua, o que mais? -- pediu ansiosa
--“Especialistas afirmam que a empresa teria que se valorizar em 4000% para se recuperar e que a essa altura as ações da Obelix sofrem muito com especulações: basta um leve rumor para que os papéis oscilem abruptamente.” -- dobrou o jornal -- “A melhor saída para Mike Ametista, afirma o consultor financeiro Fabio Lernerst, seria focar na atividade fim do grupo Asterix e se desfazer de negócios que nada acrescentam em valor ao seu portfólio. Do contrário, não se sabe se a Obelix poderá respirar aliviada no curto e médio prazos.” -- encerrou a leitura
--A fazenda! -- Aisha levantou-se de um pulo -- O homem tá mal das pernas com sua principal empresa e... -- andava pela sala -- talvez ele queira vender a fazenda! -- concluiu -- Duvido que o tal hotel que Zinara disse que ele fez dê muito dinheiro. Ainda mais com as diárias que cobra!
--Tá pensando em comprar a fazenda de volta? -- perguntou surpresa ao colocar o jornal sobre o sofá -- Com que dinheiro, mulher?
--Que comprar o que, menina? -- olhou para a esposa -- Tô pensando em tomá-la de volta questionando o caráter legal da venda! -- explicou -- Mike Ametista não foi desonesto ao comprar nossa fazenda, mas papi não agiu de boa fé, isso com toda certeza!
--Entendi... Aí você quer aproveitar a má fase do Ametista pra chutar cachorro morto? -- achou graça
--Morto não tá, mas tá dodói! -- cruzou os braços e mirou um ponto no infinito com um sorriso nos lábios -- Quero entrar nessa briga aí, meu amor! E acho que já demorei tempo demais pra fazer isso...
--Se quer bancar um processo contra Mike Ametista pra recuperar sua fazenda de volta, -- levantou-se e foi até sua mulher -- tô dentro! -- sorriu -- Tem que aproveitar que teu pai fez tudo errado e que o momento do Ametista é de fragilidade!
***
Cátia chegava na porta da sala de Magali. -- Será que poderíamos conversar por alguns minutos? -- pediu envergonhada -- Não pretendo tomar muito do seu tempo.
--Entra, Cátia. E pode se sentar, por favor. -- ofereceu desconfiada -- Sobre o que seria essa conversa? -- sabia a resposta mas queria ter certeza
--Deve saber que Clarice terminou comigo no sábado. -- sentou-se -- Já fazem cinco dias que tenho procurado por ela pra gente conversar mas é em vão! -- contava com cara de choro -- Tenho sofrido muito e queria pedir sua ajuda...
--Minha ajuda?! -- não entendeu
--Sim! -- afirmou enfática -- Vocês são amigas, Clarice te ouve...
Magali ficou sem graça. -- Cátia... olha, eu acho que...
--Convence ela a voltar pra mim? -- pediu nervosamente -- Acho que você pode fazer isso e sei que você sempre deu força pra gente ficar junta!
--Ah, mas isso foi antes!
--Antes de que? -- debruçou-se na mesa da outra -- Eu amo aquela mulher, não tem antes, nem depois!
--Ah, mas não é bem por aí! -- discordou -- Eu dava força, sim, mas antes de saber que você é uma tremenda 171!
--Que é isso? -- ajeitou-se na cadeira indignada
--E não é? -- cruzou os braços revoltada -- Você trai minha amiga na praia, sai com outra em Maurítia e fica fazendo teatrinho, vai se pegar com ex aluna em banheiro no dia da tua palestra e nega tudo isso na maior cara de pau! Não acha que isso é coisa de 171, não? -- perguntou à queima roupa -- Perdoe a franqueza, mas você é safada e fingida! O tipo de gente em quem não se pode confiar!
--Ah, Magali, você tá me ofendendo! -- reclamou -- Eu errei, mas quem não erra?
--Me poupe tá? -- fez um bico
--Eu amo Clarice! -- deu um soco na mesa da colega -- Posso ter errado um pouquinho, mas agora é pra valer! Tô apaixonada como nunca estive!
--Errado um pouquinho? -- riu -- Se você tá apaixonada, meu bem, ninguém acredita, principalmente Clarice! -- afirmou com seriedade
--E por que não??
Levantou-se. -- Você me surpreende por não saber e me choca na cara de pau de vir aqui me pedir pra interceder! -- achou graça -- Clarice merece, e muito, uma companheira bem além do que você pode ser! -- pôs as mãos na cintura -- E agora, se não se incomoda...
--Já entendi! -- levantou-se de cara feia -- Tudo bem, senhora perfeita! Gente como vocês não erra nunca, né? -- andou até a porta e parou mirando o rosto da outra -- Você é uma mulher muito dura que não se comove com a dor de uma apaixonada! Pensei que tivesse coração! -- balançou a cabeça contrariada -- Passar bem! -- saiu furiosa
--E ainda se acha no direito de se fazer de vítima e ficar com raiva! -- sentou-se novamente -- Cara de pau é pouco! -- revirou os olhos
CAPÍTULO 26 – Despedida
Zinara e Karim estavam no quarto da astrônoma. Vestiam roupões do hotel e olhavam uma para a outra. Aquela seria a última noite que teriam juntas.
--Amanhã, por essa hora, já estaremos à caminho de casa. -- Karim falou com certa tristeza -- Eu sinto saudades por antecipação... -- sorriu com cara de choro
--Eu também. -- acariciou o rosto dela -- Especialmente depois que você me disse que não quer manter nenhum contato... -- afirmou pesarosa
--Moramos muito longe, querida. -- fechou os olhos para sentir melhor o carinho da outra -- E eu sei que sofreria demais...
--Talvez esteja certa. -- recolheu a mão -- Mas vamos viver o agora, porque afinal de contas ainda não acabou. -- caminhou até o laptop -- Há uma música que eu acho que fala muito sobre nós, -- mexeu no equipamento -- especialmente nessa terra em que as auroras austrais nos permitem ver “noites com sol”. -- fez aspas com os dedos antes de apertar o play -- Você não vai entender a letra, por estar na língua do meu querido país, mas isso não importa. -- caminhou até a namorada e parou diante dela -- Apenas sinta a música.
--Com você, estou sempre sentindo algo de bom! -- puxou-a para um beijo delicado
“Ouvi dizer que são milagres,
Noites com sol...”
Lentamente, a professora abriu o roupão da amante e despiu a outra mulher enquanto beijava-lhe os lábios.
“Mas hoje eu sei não são miragens,
Noites com sol...”
A geofísica deslizou as mãos pelos ombros e braços da morena e abriu o roupão dela também. Mordia-lhe a orelha e sussurrava coisas em sua língua natal.
“Posso entender o que diz a rosa,
Ao rouxinol...”
Zinara abraçou Karim com firmeza e o contato dos corpos nus fez com que as duas estremecessem de prazer por antecipação. Beijaram-se com mais calor.
“Peço um amor que me conceda,
Noites com sol...”
Caminharam até a cama, sem interromper o beijo.
“Onde só tem o breu,
Vem me trazer o sol,
Vem me trazer amor...”
A geofísica deitou-se sobre sua parceira e sorriu quando a morena percorreu seu tórax com as duas mãos antes de beijá-la novamente.
“Pode abrir a janela,
Noites com sol e neblina,
Deixa rolar nas retinas,
Deixa entrar o sol...”
Rolaram na cama por mais de uma vez, brincando, acariciando-se com carinho e cumplicidade. Sentiam-se bem, sentiam-se vistas, queridas e desejadas. Abandonaram-se em um gostoso amasso.
“Livre será se não te prendem,
Constelações,
Então verás que não se vendem,
Ilusões...”
--I’ll never forget you, ya habibi... (Eu nunca vou te esquecer, minha querida…) -- a astrônoma prometeu antes de seguir beijando e lambendo a pele da outra em direção aos seios
--Neither will I... (Nem eu...) -- sussurrou com os olhos fechados ao sentir que dentes e língua provocavam seu mamilo -- Ah! -- gem*u
“Vem que eu estou tão só,
Vamos fazer amor,
Vem me trazer o sol...”
Karim inverteu as posições novamente e beijou a namorada desde o pescoço até a barriga. A astrônoma fechou os olhos e se entregou àquele prazer. Sentia que seria pela última vez.
“Vem me livrar do abandono,
Meu coração não tem dono,
Vem me aquecer nesse outono,
Deixa o sol entrar...”
A geofísica deslizou as mãos até as coxas da amante e mergulhou entre suas pernas sem qualquer pudor.
--AHAH!! -- Zinara gem*u alto e pensou em nada mais
“Pode abrir a janela,
Noites com sol são mais belas,
Certas canções são eternas,
Deixa o sol entrar...”
Flávio Venturini - Noites Com Sol [c]
CAPÍTULO 27 – Despertando de um Sonho
Zinara acordou sentindo-se mal e cansada. Abriu os olhos lentamente e não reconheceu o lugar onde estava. -- Uai? -- foi o que conseguiu dizer
--Uai que a senhora já passou mal de novo! -- Cláudia aproximou-se com expressão séria -- Sorte a sua que já estava na sua terra! -- cruzou os braços
--Eita pau... -- ajeitou-se na cama -- Cheguei a esquecer que já tinha voltado. -- fez uma careta -- Parece que despertei de um sonho...
--Pois eu me lembro muito bem da senhora me ligando na segunda à noite e se danando toda! -- olhava para a amiga -- Já pensou se isso tivesse acontecido lá? -- estava zangada -- Você fez tudo que podia naquele fim de mundo: -- enumerava nos dedos -- trabalhou como doida, comeu bem, escalou em gelo, caminhou, remou e... -- deu um tapa no ombro da outra -- namorou muito! -- acabou achando graça -- Na véspera de uma viagem cansativa, tava lá, só no bem bom! Aí deu no que deu, né? O corpo não agüentou!
--Uai... foi você que me mandou namorar... -- justificou-se coçando a cabeça
Deu um suspiro. -- O seu mal, é que você vai com muita sede ao pote! -- cruzou os braços novamente -- Tem que pegar leve, mulher! -- ficou séria de novo -- Você sabe a doença que tem e sabe que não se trata como deveria!
--Ah, Cláudia... Sabe o que eu penso... -- descobriu-se -- Calor... -- reclamou dos lençóis
--Sabe que vai ter que abrir mão dessa postura pelo menos pra um tratamento de choque, não sabe? -- passou a mão na cabeça dela -- Do contrário, não chega viva nem até julho!
--Humpf! -- fez um bico -- E levo alta daqui quando?
--Amanhã. -- caminhou até a porta -- Mas eu tomei medidas drásticas pra garantir que você não vai fugir do tratamento. -- abriu a porta -- Por favor? -- acenou para alguém
--Tá chamando quem? -- sentou-se com dificuldade
--Eu! -- Amina entrou decidida
--Maama?? -- arregalou os olhos espantada
--E fica quéta aí, minina! -- aproximou-se de cara feia -- Eu tô sabendu du qui ocê tem! E agora ocê vai andá na linha! -- deu um soco na mão
A astrônoma ficou desconsertada. “Quem será que contou a ela? Cláudia ou camma Najla?” -- pensou
--E vô ti botá pra cumê, qui tá muito seca! -- apertou as costelas da filha -- Espia!
--Sempre acha que tô seca, maama! -- achava graça
--Se posso lhe garantir uma coisa, dona Amina, -- Cláudia aproximou-se novamente -- é que essa criatura come! -- achava graça -- Não engorda de ruim!
--Hum... -- apertou as bochechas de Zinara -- Tá amarela! -- constatou
--Onde eu tava não fazia sol, maama... -- justificou-se com um sorriso no rosto
--Seji comu fô, -- pôs as mãos na cintura -- quandu nóis chegá im tua casa, vamu tê um proseadu muito du sério, viu, Zinara Raed?
“Zinara Raed?!” -- pensou com preocupação -- "Quando maama me chama pelo nome completo, é sinal de que vem chumbo grosso por aí...” -- engoliu em seco -- Ave Maria... -- resmungou consigo mesma
Fim do capítulo
Música do Capítulo:
[a] Ai, Se eu Te Pego. Intérprete: Michel Teló. Compositores: Sharon Acioly / Antônio Dyggs / Karine Vinagre / Aline da Fonseca / Amanda Grasiele da Cruz. In: Michel na Balada. Intérprete: Michel Teló. Som Livre, 2011. 1 CD, faixa 1 (2min50)
[b] Sallamit-Ha oum Hassan. Intérprete: Farouk Salamah. Composição: sem informações sobre os compositores. Intérprete: Farouk Salamah
[c] Noites Com Sol. Intérprete: Flávio Venturini. Compositores: Flávio Venturini / Ronaldo Bastos. In: Noites Com Sol. Intérprete: Flávio Venturini. Velas, 1994. 1 CD, faixa 3 (4min14)
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Samirao
Em: 07/10/2023
Eu lembro muito bem de quando vc foi pro Polo sul
Solitudine
Em: 11/11/2023
Autora da história
Também lembro! kkkkkkkk
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Samirao
Em: 03/05/2023
Amoreee, comp sempre arredondando huahuahua
Solitudine
Em: 15/05/2023
Autora da história
Agora que vi isso! kkk
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Alexape
Em: 29/12/2022
Concordo com a leitora que fala que real e ficção casam perfeitinho nos seus contos! Amando muito e empolgada pra devorar!! E devorar tudo entendeu? O.o Clarice vai acordar quando? Amina e Leda, pode dá um jeito nisso?
Resposta do autor:
Obrigada! Fico feliz em perceber essa animação.
Confia que Clarice tarda mas não falha!
Vá devorando aí! rs
Beijos,
Sol
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Seyyed
Em: 17/09/2022
Adoro o jeito como real e ficção se misturam nos teus contos! E a Leda tá do meu lado então vou ganhar essa parada. Foi bom pra Zi viver esse romance no Polo sul. Dá um up na autoestima né? Mas agora é vida real e a maama chegou. No que vai dar? Acorda Clarice!!!
Resposta do autor:
Eu gosto muito de fazer essa misturinha! rs
Do seu lado? Uai, deixou de ser Seyyed e virou Zinara? rs
Verdade, aquela temporada no frio austral deu uma revigorada na caipira de Cedro!
Maama chegou para botar a caipira nos eixos! kkk
Clarice vai acordar. Tenha calma. rs
Obrigada por continuar lendo e comentando!
Beijos,
Sol
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Gabi2020
Em: 11/05/2020
Olá Sol!
Ai não gostava e continuo não gostando da Clarice e da Cátia juntas! E Magali é muito curiosa!
Curti o new casal Karim e Zinara, muito fofas e inteligentes.
Eita que Najla colocou os pingos nos is e deixou Raed sem saber o que responder.
Essa conversa de Zinara e Karim no quarto tem duplo, triplo, quádrulo sentido... Kkkkkk... E eram carangueijos...E dá-lhe brigas por causa de esportes radicais!
Dona Leda apareceu na hora h e bem feito acabou com a pouca vergonha de Cátia e Clarice... Kkkkkk...
Não canso de dizer o quanto Zinara é fofa!
"--Um misto de pouca vergonha com fogo no rabo..." Kkkkkkkkkkkkkk.... Sem mais!
Agora sim o quarto tremeu e a temperatura subiu! Essas massagens da Zinara...
Zinara criou um laço com Hassan e com certeza ele foi uma pessoa importante no seu processo de cura. Acho que todo mundo precisa de uma montanha para gritarmos nossas dores e o vento levar pra bem longe.
Cátia aprendeu que o mundo dá voltas e da pior forma possível.
"--E de mais a mais, aprenda a lição: passarinha que dorme com morcega acorda de cabeça pra baixo!" Kkkkkkk... Dona Leda me faz ter crises de risos homéricas!!
Caraca queria ser racional igual a Karim, mesmo sofrendo ela é pé no chão. No fundo ela tem razão, mas vai dizer isso pro coração.
Até hoje quando mamis fala meu nome e sobrenome sei que tô f.
Beijos
Ps. Mais um capítulo belíssimo, a descrição de cada ambiente, de cada lugar é tão perfeito, que me senti transportada para cada cantinho descrito. Parabéns sempre!
Resposta do autor:
Gabinha!!!
"Ai não gostava e continuo não gostando da Clarice e da Cátia juntas!" E nem a sua Ju Jujuba. Ela me cobrava sempre por uma "definição"! kkkk Aliás, mande beijos para ela.
"Essa conversa de Zinara e Karim no quarto tem duplo, triplo, quádrulo sentido... Kkkkkk... E eram carangueijos..." Menina... vida real: AMEI aqueles tais de centollas com queijo! Ô trem bom!!!
Dona Leda sempre chega na hora certa. Velhinha antenada!
"Essas massagens da Zinara." É o que salva a pátria! kkkk
Sim, Gabinha. Eu já gritei muito por estes cumes. E sempre oro lá em cima. Vale muito a pena.
"--E de mais a mais, aprenda a lição: passarinha que dorme com morcega acorda de cabeça pra baixo!" Filosofia que me ensinaram! kkkk
"Caraca queria ser racional igual a Karim, mesmo sofrendo ela é pé no chão. No fundo ela tem razão, mas vai dizer isso pro coração". É...
"Ps. Mais um capítulo belíssimo, a descrição de cada ambiente, de cada lugar é tão perfeito, que me senti transportada para cada cantinho descrito. Parabéns sempre!" Tento fazer isso para ajudá-las a ver. O Tao é um conto muito cênico e eu me lamento de não poder gerar imagens, então... vamos às imagens mentais!
Beijos,
Sol
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Solitudine Em: 14/06/2024 Autora da história
Olá querida!
Fico feliz em ver que você está se envolvendo com as emoções do conto!
Cátia é uma trapalhona. kkkk
Vamos ver!
Beijos,
Sol