*Confissão
Capítulo 16: Confessio
Diana argumentava com Pedro seus motivos para não ir ao aniversário de Ricardo.
-- Pepê, eu não estou no clima! Trabalhei ontem no casamento mais brega de todos os tempos, aquela gente sugou toda minha energia fashion, eu preciso ficar em casa, me refazendo, terça-feira enfrentarei Madimbú na arena!
-- Diana não inventa desculpas! Há três anos a gente vai a todas as feijoadas na casa do Rico, é aniversário dele poxa! E há séculos você não sai conosco, sempre nos programas com a Julia nos deixou de escanteio, agora que você está solteira vem com esse papo de ficar em casa recarregando energias? Você nem é bateria de celular!
Diana mostrou a língua, fazendo careta para a piada sem graça do amigo.
-- Pedro, você por acaso esqueceu quem vai estar lá?
-- Toda a galera! Seus amigos!
-- E a irmã do Ricardo! A Letícia voltou para o Brasil, ouvi o Ricardo comentando com os meninos.
-- E o que tem ela estar lá?
-- Pedro você está com algum problema de amnésia? A Letícia quase provoca um escândalo na frente de toda família dela, depois que nos agarramos no banheiro, só não fez isso, por que o Ricardo não deixou, já imaginou o que pode fazer me vendo lá na casa dela de novo?
-- Ah foi... Mas, já faz dois anos, ela nem lembra mais disso, estava bêbada também... Vamos lá.
-- Você acha que alguém é capaz de esquecer um beijo meu? Imagina! Nem em cem anos!
-- Tá bom gostosona então quem sabe ela queira outra dose do beijo, você está solteira mesmo, o que tem a perder?
Diana sabia que era impossível vencer Pedro na argumentação, ele vencia pelo cansaço, trocou de roupa e seguiu com o amigo para a casa de Ricardo.
****
Natália estava bastante à vontade com suas novas colegas de time, aos poucos se enturmava, especialmente pela popularidade de Lucas. Sua minissaia era o assunto entre os meninos, que não eram econômicos nos elogios às pernas da novata.
-- Olha lá quem chegou Lucas, seu genérico!
Todos olharam para a entrada de Pedro e Diana se aproximando pelo jardim. Cumprimentaram a todos, Diana com a simpatia de sempre desfez o sorriso quando avistou Natalia. A reação de Pedro foi exatamente contrária a da amiga, abriu um sorriso sincero e se adiantou em cumprimentá-la.
Perto de Lucas, Diana comentou sua surpresa de encontrar Natalia ali.
-- Quem convidou essa garota?
-- Eu! Ela veio comigo, por quê?
-- Que é isso agora? Ela virou acompanhante oficial de vocês agora? Quando não é o Pedro é você que arrasta essa caipira pros nossos programas?
-- Ai que coisa feia Di! Você está com ciúmes?
-- Que ciúme o que! Daqui a pouco estão vocês dois brigando de novo por causa dela.
-- Ah ela bem que vale a pena uma briga, olha aquele par de pernas Di! Muito gostosa ela viu... Se o Pedro não se garantir, entro no páreo pra valer!
-- Ah quer saber, fiquem aí vocês dois babando por ela, vou embora, não devia mesmo ter vindo!
-- Espera aí! Como é que é? Você vai embora por causa da Natalia?! Isso ta muito estranho... Qual é Diana?
Diana mastigava o misto de ciúme, raiva e a necessidade de se desviar da desconfiança do amigo. Tomou da mão de Lucas o copo de caipirinha, e ingeriu todo o conteúdo de um só gole e anunciou olhando na direção de Natalia:
-- Não vou dar esse gostinho a ela...
Lucas continuou com a mesma desconfiança no olhar, enquanto Diana buscava mais bebida, dificilmente conseguiria se manter ali, se não distraísse seus sentimentos e desejos por Natalia.
Natalia por sua vez, ao avistar Diana, teve que se controlar para não soltar o copo que segurava. As reações que a presença da loirinha provocava em Natalia eram intemperantes, e mesmo com tal resposta do seu corpo, ela não conseguia evitar acompanhar cada passo de Diana com o olhar. Foi fria às investidas de Pedro, frustrado, o rapaz se afastou, buscando o conforto da melhor amiga.
-- Natalia nem me deu atenção... Ainda deve estar chateada comigo! Diana você tem que me ajudar!
-- Pedro para por aí ta?! Já disse que não quero e não vou ter contato nenhum com essa menina, mesmo que fosse o amor da sua vida!
-- Caraca Diana...
-- E não me enche mais com isso, por que já está ficando chato!
Enquanto Diana permanecia cultivando seu mau-humor e acumulando copos vazios de caipirinha, na roda das meninas do time de vôlei, onde Natalia estava alheia aos assuntos, por estar mais preocupada em monitorar os movimentos de Diana, o conteúdo da conversa subitamente mudou com a chegada de uma jovem baixa, magra, de cabelos longos, mais parecia desfilar do que caminhar em volta da piscina.
-- Olha só quem deu as caras meninas... – Comentou Fernanda.
-- É a Letícia? – Perguntou Mônica surpresa.
-- A própria! Mais magra, está mais bonita, estava fazendo intercâmbio na Austrália. – Respondeu Fernanda.
-- Quero só ver a cara dela quando encontrar a Diana aqui. – Cochichou Marília.
Ao ouvir o nome de Diana, instintivamente Natalia voltou seu rosto para a colega, curiosa acerca do comentário da menina.
-- O que tem ela com a Diana? – Mônica indagou curiosa.
-- Ai Mônica, como sempre você é a última, a saber, né? – brincou Fernanda.
-- Ai não me matem de curiosidade! – Suplicou Mônica.
-- Há uns dois anos, as duas se pegaram no banheiro, a Letícia fez um escândalo quando o Ricardo as flagrou acusando a Diana de tê-la agarrado à força ameaçou expulsar a Di da casa, foi um bafafá... – Narrou Marília
-- Mas eu estava aqui nessa festa, não vi nada disso!
-- Mônica você estava dormindo dentro do carro bêbada, não lembraria nem se a Diana te agarrasse! – Brincou Fernanda.
-- E isso da Diana ter agarrado à força, foi verdade? – Natália perguntou tímida.
-- Ah eu duvido... A Diana não dá ponto sem nó... A Letícia provocou, eu estava perto quando ela ficou se oferecendo pra posar pra Diana fotografar. – Defendeu Fernanda.
-- Pois eu não duvido, sabe como são essas sapas né? Já levam tudo na maldade, interpretam qualquer gesto como paquera... – Retrucou Marília.
Natalia ficou pensativa, e agora, o alvo do seu olhar se multiplicou, passou a monitorar não só Diana, mas também, Letícia, motivada por um ciúme irracional.
-- Olá Diana, não esperava te encontrar por aqui.
Letícia surpreendeu Diana que quase se engasgou com a porção de farofa que comia.
-- Letícia! Oi... Tudo bem com você?
-- Tudo ótimo e você?
-- Tudo bem, o intercâmbio foi bom pra você?
-- Foi mais do que eu esperava. E como anda sua carreira de fotógrafa?
-- Caminhando a passos lentos, fazendo muita festa de criança, casamento, batizado, funeral... Mas, pelo menos dá pra comprar equipamentos, fazer cursos.
-- A oferta de posar pra você continua de pé...
Letícia falou mordendo os lábios jogou os cabelos pro lado e saiu distribuindo charme, deixando Diana estupefata, de queixo caído, com a repetição da cantada anos depois.
De longe, Natalia observou o reencontro de Letícia e Diana. Remoendo o ciúme, teve até a intenção de ler os lábios de Diana, obviamente não conseguiu, supôs em sua mente fértil desde trocas de insultos e até a troca de cantadas.
-- E aí, está curtindo a festa gatinha?
Lucas se aproximou abraçando Natalia por trás.
-- Está ótima Lucas! Mas, meu copo está vazio!
-- Não seja por isso!
Lucas logo reapareceu com mais uma bebida pra moça que virou a dose rapidamente.
-- Natalia você está acostumada a beber assim?
-- Não dizem que é na faculdade que se aprende a beber?
-- Opa, mas as lições não são dadas de uma vez só!
-- Lucas... Não aja como seu irmão careta vai...
-- E por falar nele... Amarrou o bode naquele canto e não sai por nada... Você deu outro fora nele?
-- Não dei fora nenhum, só não quero dar falsas esperanças pra ele, seu irmão já se sentiu com direitos sobre mim por que ficamos algumas vezes, imagina que inferno seria minha vida com os ciúmes dele se namorássemos.
-- É o Pedro vacilou mesmo, mas ele gosta de você, é um cara legal.
-- Eu sei que é, mas não daria certo, já não deu certo.
Lucas acenou em acordou, entregando mais uma dose de vodca para Natalia. A moça mais desinibida, e disposta a atrair a atenção de Diana, puxou Lucas para dançar junto com os outros casais que improvisaram uma pista de dança no deck.
Natalia abusou da sensualidade nos movimentos de samba, não se importando com os olhares de censura de Pedro, enciumado pela proximidade dela com seu irmão. O que ela queria afinal conseguiu o olhar fixo de Diana.
A loirinha olhava hora com cobiça, hora com ciúme, hora com raiva. Uma coisa era certa: Natalia mexia com ela muito mais do que qualquer outra mulher, diante dela, Diana não conseguia antever seus próximos passos, estar perto dela, era provocar a imprevisibilidade do seu corpo, o desejo era maior do que as razões que as afastavam, o sentimento era tão intenso que jogava por terra todas as defesas que mentalmente Diana preparou.
O som parou, de repente, a mãe de Ricardo aparecia com um bolo, pedindo que todos cantassem “Parabéns a você” para seu filho. Em meio à distração de todos, Letícia cochichou algo ao ouvido de Diana, se afastou, sendo seguida segundos depois pela loirinha. Natalia não deixou que isso passasse despercebido, aproveitando-se da mesma distração trilhou o mesmo caminho das duas em direção ao jardim lateral da casa.
-- O que você quer Letícia? – Diana perguntou.
-- Você nem suspeita?
Letícia falou empurrando Diana contra uma árvore.
-- Letícia olha só, se você está querendo outra confusão, vou te avisando que...
-- Confusão? Não quero confusão sua boba, quero você!
-- O que?
-- Por que a surpresa? Nunca me esqueci dos seus beijos, cada loira que beijei na Austrália, era você que eu via...
Letícia se aproximava faiscando desejo por Diana que tentava se esquivar.
-- Você está louca Letícia alguém pode passar por aí e sermos pegas de novo! E aí você vai dizer que te ataquei!
-- Mas você me quer não quer?
Dessa vez a moça não deixou alternativa a Diana, prendendo seu corpo, arrancando-lhe um beijo faminto.
Natalia que escondida escutava e via tudo, sentiu seu coração apertar ao testemunhar a boca que ela tanto desejava, sendo invadida por outra mulher. Deu dois passos para trás, e o barulho das folhas secas pisadas, chamou a atenção do casal que se beijava.
Diana ficou pálida, olhos fixos nos olhos de Natalia, marejados, estranhamente a loirinha sentiu-se culpada, empurrou se desvencilhou de Letícia e fez menção de correr atrás de Natalia, mas antes que alcançasse a moça, Letícia lhe puxou com violência.
-- Diana o que você tem com essa garota? Aliás, quem é essa garota?
-- Letícia, de boa, não rola ta? Não quero ficar mal com o Ricardo de novo, além do mais, não engoli ainda o fato de você pra ficar limpa na história ter me acusado de te agarrar à força.
Diana deixou a garota falando sozinha e saiu apressada procurando Natalia, esta, como se quisesse apagar o que acabara de ver, tomou uma dose de vodca atrás da outra velozmente.
-- Você não acha que já bebeu demais não?
-- Não enche Pedro.
-- Natalia você está tão agressiva comigo... Sei que está chateada, mas, não é pra tanto!
-- Você ainda não me viu ser agressiva, me deixa em paz, por favor!
Natalia andou até onde Lucas estava e avisou:
-- Lucas, eu vou embora.
-- Mas, já gatinha?
-- Não estou me sentindo bem, melhor eu ir.
-- Vou te deixar então, deixe-me pedir o carro ao Ricardo.
Enquanto esperava o amigo, Natalia continuava a beber, quando viu Diana, ao perceber a moça vindo em sua direção, caminhou em direção à saída. Diana a seguiu apressada, conseguindo alcançar perto da garagem da casa.
-- Espera! Nossa você não estava me escutando te chamar?
-- Tenho um nome, não atendo por assobios, não sou cadela!
Diana segurou o braço de Natalia que tentava continuar seu percurso até a saída da casa.
-- O que é garota? Por que você não volta pra se agarrar com aquela patricinha?
-- Por que você está indo embora?
-- Não te interessa, vá atrás daquela magrela antipática matar as saudades vai!
A voz arrastada de Natalia denunciava seu exagero na bebida. Por mais que o ciúme evidente da moça satisfizesse à loirinha, Diana não conseguia esquecer-se do que ouvira de Natalia no último encontro.
-- Você está bêbada caipira! Deixa de falar besteira, fique aqui, vou chamar o Lucas pra te levar pra casa.
-- Não quero que ele me leve pra casa! Não quero que você saia daqui!
Diana arqueou as sobrancelhas surpresa.
-- Fato: você está bêbada.
-- Por que diz isso?
-- Há poucos dias você disse que tinha nojo de mim. Agora você não quer que eu saia de perto de você?
-- Eu menti! Não tenho nojo de você! Eu desejo você! Cada pedaço do meu corpo quer o seu encaixado nele! Menti por que eu tenho medo do que sinto perto de você! Diana você invade meus pensamentos, meus sonhos, eu não quero esse sentimento, não quero! Não quero, mas eu sinto pela primeira vez na minha vida a necessidade de estar com alguém, que droga, eu preciso ficar perto de você!
Diana sempre tão decidida, sempre tão senhora de qualquer circunstância, se viu sem palavras, e anestesiada por ouvir isso de Natalia que extravasou toda emoção hesitando na pronúncia das palavras, mas absolutamente segura do que revelava.
-- Eu sei que sou só mais uma... Que não tenho a experiência das mulheres que você tem, sou só uma caipira que não significo nada pra você, mas, eu precisava que soubesse que não tenho nojo de você e me envergonho muito de ter dito aquelas coisas.
Diana tentava formular uma sentença lógica que fosse honesta e incontestável o suficiente para convencer Natalia de que ela estava enganada, e que todo aquele sentimento relatado por ela era recíproco.
-- Se você não significasse nada pra mim Natalia, eu não estaria aqui na sua frente, segurando minha vontade de te beijar porque toda experiência que você julga que eu tenha não se compara ao que sinto quando minha boca toca a sua.
Natalia andou lentamente em direção a Diana, com os olhos cintilando, encarou-a e segurou seu rosto, quase sorrindo disse:
-- Você me chamou pelo meu nome...
Diana sorriu tímida.
-- Chama de novo...
-- Natália... Natália...
Enquanto Diana repetia seu nome, Natalia aproximava seus lábios dos lábios da loirinha, até as bocas se encontrarem absolutamente absortas no desejo.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]