A fortiori por Bastiat
Capítulo 25 - A volta definitiva ao Rio de Janeiro
Camila
- Nem acredito que vou ver a minha mãe!
Um sorriso radiante estampa o rosto da minha filha Marina. Eu tinha acabado de falar que mais tarde ela poderia visitar a Laura.
- Sim, mas só mais tarde. Agora toma o seu café da manhã direitinho.
- Você também vai, Camila?
- Eu não, meu anjo. Vai você, sua irmã e a tia Vero.
- Por quê?
- Eu tenho algumas coisas para resolver.
- Domingo?
- Sim, domingo.
Era só o que me faltava agora, ter que ver a Laura. É sacrifício de mais, eu não estou disposta.
- Mas que coisas você tem que resolver no domingo?
Achei um jeito de escapar das perguntas da Marina quando vi a Diana entrar na cozinha com uma carinha de sono.
- Bom dia, Di.
Dei um beijo na minha outra filha e já comecei a preparar uma salada de frutas para ela.
- Bom dia, mamãe. Bom dia, mana.
- Bom dia não, ótimo dia! Diana, a tia Vero vai levar a gente no hospital hoje. Vamos ver a nossa mãe.
- Sério? - Balancei a cabeça confirmando para ela. - Que legal! Eu estou com saudade da minha outra mãe. Você vai também mamãe?
- Não - Marina começou a responder por mim. - Ela disse que tem algumas coisas para resolver.
- Que coisas? - Diana mandou logo sua cara de desconfiança.
- Coisas do trabalho.
- Você não trabalha no domingo.
Diana está começando a ficar questionadora como a Marina.
- Surgiu de última hora, coisas da profissão. Ainda bem que vocês têm uma tia bem legal e que vai acompanhá-las. Comportem-se, por favor. Não se esqueçam de que estarão em um hospital, não pode fazer muito barulho.
Laura
O delegado se ajeitava em uma cadeira na minha frente para colher o meu depoimento e dar continuidade na investigação. Ele precisava apenas disso para mandar prender aquele covarde.
- Então, podemos começar?
- Sim, senhor.
- Seu nome completo por favor.
- Laura Neves Dopollus.
- Qual a sua idade?
- 37 anos.
- Qual a sua profissão?
- Jornalista.
- Então, Laura, conte-nos o que aconteceu naquele dia. Se você percebeu algo de estranho.
- Bem, acordei, tomei banho, tomei café da manhã e fui para o trabalho como todos os dias. Foi um dia considerado tranquilo na redação. Como eu tinha uma conversa importante com a minha ex-cunhada no dia, saí mais cedo que o habitual do jornal. Eram mais ou menos duas horas da tarde quando peguei meu carro na garagem . Já na esquina da rua, me deparei com muitos homens fortemente armados. Eu pensei que fosse um assalto e imediatamente saí do carro com as chaves na mão para entregar. Quando um deles pegou no meu braço e me arrastou para o banco de trás, entendi que aquilo não era um assalto e comecei a pensar que fosse um sequestro. Eles arrancaram com o meu carro e em seguida colocaram um saco preto na minha cara.
Respirei fundo e olhei para a Patrícia que parecia preocupada e mordia seu lábio inferior de nervoso. Voltei minha atenção ao delegado para continuar o meu relato:
- Não demorou muito, cheguei a um prédio. Eu sabia que era prédio porque subi escadas. Incontestáveis degraus. Fui jogada no chão de um quarto e em seguida me amarraram. Eles tiraram o meu capuz e contei pelo menos dez homens. A maioria falava em espanhol, acho que dois em português. Foi assim que liguei os pontos e me lembrei do candidato à presidência da Argentina. Não era um assalto, não era um sequestro. Era uma retaliação pelo que eu estava divulgando.
Os olhos em lágrimas da minha mãe me chamaram atenção enquanto parei para respirar. Por um momento imaginei as minhas filhas passando por isso, o que me partiu o coração. Acho que ela se sentiu impotente por não estar lá para me proteger. É assim que eu me sentiria se escutasse tudo o que estou relatando da boca de uma das minhas meninas para um delegado.
- Eles saíram e voltaram cerca de uma hora depois. Foi então que começou a tortura. Ouvi um deles falar em espanhol que era para torturar, me matar aos poucos. Enquanto recebi alguns chutes, para me desarmar, eles falaram o nome da minha companheira, a Patrícia. Temi por isso e tentei convencê-los de que ela era só uma amiga, mas eles começaram a falar coisas horríveis. Dentre elas, o que poderiam fazer com ela assim que me matassem. Eles falavam isso toda hora, a palavra matar.
Mais uma pausa para recordar o momento mais sombrio.
- Eles saíram e me deixaram sozinha no quarto. Olhei uma janelinha que dava para passar. Com medo, cheguei a ignorar a altura, mas eu ia morrer de qualquer maneira então tinha que arriscar. Não deu quinze minutos e todos os homens entraram na sala de novo, me flagrando perto da janela. Foi imediato, eles me bateram até eu ficar neste estado aqui. Eu pensei que morreria ali, naquela hora, mas eles eram sádicos. Eles queriam me ouvir gritando de dor aos poucos. Então mandaram um dos caras ficar comigo. Eu fiquei muito tempo deitada, quando finalmente olhei para o cara e vi piedade nos olhos dele. Vi ali a minha chance. Implorei pela minha vida, pelas minhas filhas, contei um pouco da minha vida para o sequestrador que estava comigo.
Eu implorei também quando apelei e disse que tinha que ter o perdão da minha ex-mulher, a Camila. Foi exatamente isso que o tocou, a minha história de amor com a Camila.
"- Eu vejo amor em seus olhos. Você ainda a ama muito. Você está marcada para morrer entre hoje e amanhã. Droga! - já se mostrava nervoso por sentir compaixão. - Eu tive um amor assim, mas o destino não permitiu que eu vivesse esse amor. Hoje faz um ano que ela faleceu de leucemia. Essa maldita doença não permitiu nem o nosso filho nascer. Sim, ela estava grávida quando descobriu. Eu ainda a amo muito, sabe? E é por ela, por suas filhas e pela tal de Camila eu vou te ajudar a sair daqui. Fuja! Corra atrás do seu amor."
Nunca vou esquecer das palavras dele.
- Laura? Laura?
Ouvi a voz do delegado me chamando.
- Desculpe-me, fico muito emocionada ao me lembrar disso. Ele disse que eu estava marcada para morrer, mas que me soltaria por causa... por... por causa... das minhas filhas.
- Entendo. Quer parar? Tomar um pouco de água?
- Não, vamos continuar. Quanto mais rápido acabarmos com isso, melhor.
- Então vamos lá.
- Onde foi que eu parei?
- Você estava falando de um bandido que se apiedou de você.
- Ah sim. Ele sabia que tinha uma saída pelos fundos e com muita dificuldade e risco, conseguimos chegar até a porta. Ele me colocou em um carro, que provavelmente era dele e saímos em alta velocidade. Levou-me até quase no portão da garagem do meu prédio. Como eu não tinha condições de andar direito, levou-me até o elevador e me deixou lá. Eu consegui chegar até a minha casa. Arrastando-me, mas consegui...
Relatei até a hora do desmaio. Para finalizar, me perguntou se eu teria condições de fazer um retrato-falado do bandido, mas esclareci que a todo momento todos usavam máscara. Então, por fim, o delegado deu por encerrado o meu depoimento.
Sobrou no meu quarto os meus pais e a Patrícia sentada na poltrona, alheia a tudo.
- Acho melhor você descansar antes da esperada visita. Eu e o seu pai temos um almoço para ir, mas a noite voltamos para te ver.
- Está bem, mãe. Obrigada por tudo.
Meus pais saíram do quarto e a Patrícia continuava alheia a tudo.
- Patrícia?
- Oi.
- Está tudo bem?
- Sim - Patrícia sorriu, ou pelo menos se esforçou.
- Você está assim porque eu menti para o delegado? Querida, eu fiz o que tinha que ser feito. O cara me ajudou e eu o ajudei! Se eu não tivesse feito o acordo, talvez nem estaria aqui. Ele não pediu exatamente o dinheiro, sei que ele vai usá-lo para se proteger dos colegas dele também.
- Está bem Laura. Está ótimo. Daqui a pouco você vai falar que omitiu e não mentiu, tudo bem.
- Você não entende... por que você está tão irritada?
- Eu estou cansada. É isso, cansada.
- Vem aqui. Por favor.
Patrícia levantou-se da poltrona e chegou mais perto de mim na cama.
- Senta aqui, fica mais perto de mim. Eu estou tão feia assim?
- Feia? Você é a mulher mais bonita do mundo. Eu estou morrendo de saudade de você e dessa sua boca que eu apenas posso dar selinho. Não vejo a hora da sua boca melhorar, não vejo a hora de poder te abraçar bem apertado. Eu te amo.
- Hum... já entendi esse seu mau humor, um certo tipo de saudade.
- Ai Laura, só você mesma para pensar em sex* toda quebrada.
- Você quem está falando disso. Querida, você bem que poderia dar um jeito para eu ficar apresentável para as minhas filhas com um pouquinho de maquiagem e arrumar o meu cabelo.
- Claro. Eu já imaginei que você iria pedir isso e pedi para a sua mãe trazer algumas coisinhas de beleza.
Patrícia pegou uma bolsa que minha mãe tinha deixado e começou a me maquiar com cuidado. Seus rosto estava sério e ela parecia bem cansada. Me senti culpada.
Verônica
- Ei, silêncio vocês duas, estão me deixando louca! Não pode fazer bagunça no hospital. Se fizerem serão expulsas, estão avisadas!
- Não vamos fazer bagunça, né Marina?
- Claro que não, não quero ser expulsa. Tia, a minha mãe vai sair com a gente?
- Não, coisinha, ela vai ter que ficar no hospital mais algum tempo. Mas sempre que possível eu vou trazê-las. CHEGAMOS! - Gritei empolgada.
Acabei de contagiando com toda alegria que elas emanam pela visita que farão.
- Ebaaaaaaaaa - as gêmeas gritaram juntas.
Entramos no hospital e as minhas sobrinhas não continham a felicidade pulando ao invés de andar pelos corredores.
Antes de bater na porta, ajoelhei para ficar na altura delas.
- Di e Marina, a Laura não pode cansar muito, todo cuidado é pouco. Ela está bem, mas está machucada, não fiquem assustadas. Ela tem alguns machucados, mas está bem, entenderam?
- Sim, tia Vero. Vamos entrar logo! - Marina não se aguentava mais.
Bati na porta e abri em seguida com uma autorização. A Laura abriu um sorriso enorme. As meninas não ficaram paradas, Marina foi a primeira a chegar perto e teve que ser contida pela própria mãe que gem*u de dor no abraço.
Laura
- Calma meu amor, calma. Sua mamãe está dodói, abraça devagar e de leve.
Eu sorria e não segurei as lágrimas ao perceber que do lado direito está a Marina e do lado esquerdo está a Diana. Ambas sorriam e estavam emocionada.
- Que bom que você está aqui, Diana.
- Eu estou aqui porque eu te perdoei. Eu fiquei com medo de que você virasse estrelinha e eu não quero mais perder tempo me afastando de você.
Senti-me a pessoa mais feliz do mundo escutando aquilo. Em seguida a Diana me abraçou. Aguentei a dor, fingi não me importar com o desconforto que senti. Eu precisava daquele abraço como preciso do ar para respirar.
- Obrigada, Diana. Eu te amo muito, muito, muito, muito. Prometo fazer valer a pena a chance que você está me dando.
As duas me abraçaram juntas e meus olhos se encheram de lágrimas de emoção.
- Como vocês estão? - perguntei ao encerrar o nosso laço de braços.
- Eu estou bem. Mãe, você está toda machucada, seus lábios estão inchados. Mas você continua bem bonita. Ela não está bonita, Diana?
- Ela continua linda.
- Ah, obrigada! Vocês cresceram desde a última vez que eu te vi.
Nossa conversa continuou. Eu estou, finalmente, bem com as minhas duas preciosidades.
Verônica
Minhas duas sobrinhas estavam numa felicidade de dar gosto de ver. Laura, apesar de tudo, é uma grande mãe. Não tem como negar.
- Vamos deixá-las sozinhas? - perguntei para a Patrícia sorrindo.
- Sim, agora temos um policial à paisana no corredor, então posso sair um pouco. Preciso de um pouco de ar e luz. Vamos para fora do hospital?
Estranhei o jeito que Patrícia falou. Seu tom cansado só não é mais alarmante que sua cara fechada.
- Amor, vou dar uma volta com a Verônica e já volto.
Patrícia avisou a Laura que por estar tão entretida com as filhas, mal respondeu alguma coisa.
Seguimos para fora do hospital lado a lado e em silêncio. Quando chegamos na calçada, Patrícia se dirigiu a mim:
- Tem algum shopping aqui perto? Preciso comprar algumas coisas.
- Sim, tem aquele que a gente foi àquele dia.
- Ótimo! Vamos lá? Dá para ir caminhando?
- Sim, é aqui do lado.
Começamos a caminhar e falar amenidades, como o diagnóstico da Laura do dia. No caminho falamos também do depoimento. No shopping, finalmente pude ver um sorriso dela. Primeiro entramos na minha loja para comprar algumas coisas e compor seu guarda-roupa no Rio.
- Acho que eu não preciso de tanta roupa assim, estou planejando de no próximo final de semana para São Paulo - Patrícia disse diante de tanta roupa que eu estava mostrando a ela.
- Roupa nunca é demais.
- Como você é consumista! Não, sério, preciso só para a semana mesmo.
- Você vai voltar para cá? Ou você está pensando em ficar lá?
- É claro que vou voltar. Eu vou porque preciso resolver algumas coisas na minha empresa e pegar documentos, roupas, objetos.
- E como vai ser? Vai trabalhar de longe?
- O que a gente não faz por amor, não é?
Patrícia não parecia feliz com aquela decisão. É nítido que ela está com alguma coisa a incomodando e pode apenas ser ficar longe do trabalho ou até mesmo algo mais grave que não consigo entender.
- Acho que você deveria pensar mais um pouco, não me parece muito feliz com isso.
Patrícia mordeu o lábio inferior em uma demonstração de puro nervosismo. Minha mão, em um movimento automático, passou a fazer carinho no rosto dela. Ajeitei seu cabelo, colocando uma mexa atrás da orelha.
- Você é tão bonita - disse sem pensar.
Eu gosto de elogiá-la, mesmo com seus pedidos para parar. Patrícia sorriu e retirou a minha mão do rosto com delicadeza. Carinhosa, ela segurou a minha mão e sorriu.
- Já está bom de roupas, vamos agora para outra loja.
- Por quê? O que a concorrência tem que aqui não tem?
- Lingerie.
- Hum... gostei dessa ideia.
Demos risada e depois de uma pequena briga se ela deveria pagar ou não pela compra. Ela acabou vencendo e pagou tudo.
Se Patrícia soubesse o quanto ocupa a minha mente e o meu coração. Se ela soubesse como esses momentos são o que melhoram os meus dias.
Camila
- Ah, aí está você! Acho que já terminei de escolher. Nossa, que bonito esse sutiã vermelho, vai combinar com o seu tom de pele. Acho que temos o mesmo gosto, parece com essa que peguei.
Quem é essa mulher e do que fala comigo como se me conhecesse?
- O que foi, Vero? Que cara é essa? - Perguntou-me ao me ver estranhá-la.
- Eu não sou a...
- Camila! - avistei a minha irmã se aproximando.
A moça olhou assustada para nós duas. Com certeza é uma dessas ficantes da minha gêmea.
- O que você está fazendo aqui, Verônica? Não era para você estar no hospital? Cadê as minhas filhas?
- As meninas estão lá. Eu... eu resolvi deixá-las sozinhas, aproveitando a companhia da Laura sem ninguém para perturbar.
Olhei para a morena que está com a Vero, ela parecia assustada e sem graça.
- Hum... e não vai me apresentar a sua companhia?
Ela olhou para a Vero, que pareceu ponderar e pedir permissão com o olhar.
- Essa é a Patrícia... Patrícia, essa é a Camila.
Patrícia? A Patrícia da Laura? Não, não pode ser. Maldita hora que eu decidi passear no shopping.
- Hum. Certo. Eu já estava de saída, se vocês me dão licença... - as duas se afastaram para eu passar. - Tchau, Vero. Foi um prazer conhecê-la, Patrícia.
Nem ouvi direito a resposta, fui ao caixa para pagar e sair o quanto antes daquela loja.
A vida não pode cooperar comigo? Pelo menos uma ou duas vezes, para variar. Eu tinha realmente que cruzar com a tal de Patrícia? Era só um passeio. Só uma comprinha à toa. Maldita hora que eu fui entrar naquela loja de roupas íntimas.
E a lingerie vermelha que estava nas mãos dela? Com certeza comprou pensando em agradar a Laura, já que ela sempre gostou de lingerie vermelha, bem provocante. E daí que a Laura sempre gostou? E daí que a outra quer agradar a namoradinha dela? Eu não tenho que me importar com nada disso.
Cheguei no meu carro e joguei a sacola de compra no banco do passageiro. Caiu justamente o sutiã vermelho da sacola. Notei que aquela peça é realmente muito parecida com aquela que a tal de Patrícia tinha em suas mãos. Onde eu estava com a cabeça que inventei de comprar isso? Ao contrário da Patrícia que vai mostrar para a Laura, eu... eu... não sei nem porque comprei essas roupas íntimas tão chamativas. Quem vai ver? Eu não tenho ninguém. Ah, mas que bobagem! Eu compro para mim, oras! Para que me sinta bem, confortável, feliz.
Cheguei em casa bufando. Gustavo. É, eu preciso falar com o Guga.
Patrícia
- Acho que a sua irmã não gostou muito de me conhecer.
Resolvi tocar no assunto com a Verônica voltando para o hospital.
- Bobagem, não por isso. Ela não gostou mesmo foi de eu ter deixado as meninas sozinhas.
- E qual o problema de deixá-las com a Laura? Ela é mãe delas.
- Ah não, o problema não é deixar com a Laura, é as meninas ficarem sozinhas e aprontarem alguma coisa. Pensando aqui, acho que minha irmã está certa, um hospital e uma Laura acamada é um perigo. Já estou imaginando a bronca que vou levar quando chegar em casa.
- Você mora com a sua irmã?
- Uhum.
- Por quê?
- Minha irmã precisava de ajuda para criar a filha depois de uma separação tão... digamos... ah, você sabe. Fui para morar por um tempo e acabei ficando.
- Entendi.
Que hora para sair e dar de cara com a ex da minha Laura. Eu tinha que ir juntamente na mesma loja que ela? Ainda sinto o seu olhar tão indiferente quando ouviu o meu nome. Olhou-me de cima para baixo e depois empinou seu nariz para cima. Assim como a Verônica, ela é bem elegante e bonita. Só falta nela a simpatia da Vero. Como a Laura se casou com uma pessoa tão esnobe? Esnobe, foi exatamente essa impressão que tive dela.
- Onde vocês estavam?
Laura perguntou assim que coloquei as sacolas na cadeira.
- No shopping, comprei algumas coisinhas.
- Fiquei preocupada.
- Tia Pati, você também vai morar aqui no Rio? - Diana perguntou sorrindo.
- Enquanto sua mãe estiver no hospital, sim.
- Não tia, a minha mãe disse que vai morar aqui mesmo depois de receber alta. Não é, mãe?
- Shiu Diana, vamos mudar de assunto. Vocês até agora estão me enrolando para dizer como estão na escola.
Me senti uma completa idiota. Quando a Laura decidiu que vai morar no Rio? Essa história não vai ficar assim. Eu deveria ser comunicada dessa decisão tão importante.
Depois de meia hora, com muita insistência da Verônica e muita resistência das meninas, Laura decidiu que era hora de as filhas irem embora. Saíram depois da promessa feita pela tia de que elas visitariam amanhã a mãe.
- Tchau, tia Pati - abracei a Diana e dei vários beijos
- Tchau, princesa. Até amanhã.
A Marina fingia que eu não existia e isso não passou desapercebido pela Laura.
- Marina, foi assim que te eduquei? Se despeça da Patrícia direito e não quero ver essa sua cara feia para ela nos próximos dias, entendeu?
- Tchau, Patrícia.
- Tchau, Marina. Te vejo amanhã também.
Vi ela revirando os olhos. Definitivamente, Marina ainda não gosta de mim. Despedi-me também da Verônica e elas foram embora. Enfim, sós.
- O que você comprou no shopping?
- Algumas coisinhas.
- Eu estou com fome.
- Você não almoçou?
- Sim, mas comida de hospital é horrível! Não tem como você contrabandear alguma coisinha gostosa da cantina?
- Não. Sua dieta faz parte da sua recuperação.
- Já vi que você não melhorou o seu humor.
- Dá para parar de desviar o assunto? Dá para discutimos o que aconteceu aqui?
Cheguei bem próxima da Laura bufando.
- Patrícia, eu estou muito cansada, tive um dia agitado. Se for pelo que a Diana disse, depois conversamos com mais calma.
- Você está ótima para dar depoimento, ótima para receber suas filhas e cansada agora. Vai para o inferno, Laura!
- Opa, o que está acontecendo aqui? - O doutor perguntou assim que entrou no quarto.
- Acho que você está em boas mãos. Vou para a casa dos seus pais.
- Ei, a Laura não pode ficar completamente sozinha, ela inspira cuidado.
- Ela está ótima, doutor.
- Patrícia, ela precisa de alguém aqui.
Eu entendi o doutor, a saúde da Laura realmente inspirava muito cuidado ainda.
- Desculpa, acho que estou estressada.
- Vai tomar uma água, vou ficar aqui até você voltar.
- Obrigada.
Laura
- Sua companheira parece bem estressada. Seja lá o que esteja acontecendo, acho melhor resolver.
- Eu vou resolver.
- Sabe Laura, a Patrícia esteve do seu lado esse tempo todo. Ela parece te amar muito.
Ouvi batidas na porta e autorizei a entrada.
- Oi, filha!
- Oi, mãe.
O doutor finalizou o exame e saiu do quarto.
- Então, como foi?
- Foi revigorante! Foi bom receber o carinho das minhas filhas, eu estou tão feliz.
- Que bom, meu amor.
Conversamos mais amenidades, falamos principalmente da visita das minhas filhas. Até a Patrícia entrar no quarto.
- Oi, dona Andreia.
- Oi, norinha linda. Tudo bem?
- Sim, tudo.
Minha mãe começou a conversar com a Patrícia, o que me levou há um momento daquela tarde.
"- Mãe, quando ficar boa, você vai voltar para São Paulo? - perguntou Marina ansiosa
- Eu não sei ainda, meu amor.
- Sabe o que é... é que eu estou me dando bem com a Camila sabe? Ela é legal... e ela é a minha outra mãe também. Agora eu tenho a minha irmã, a tia Vero... como a gente vai ficar se você voltar para São Paulo?
- Eu já estava pensando nisso. Acho que eu vou morar no Rio.
- Sério?
- Sim. Não quero ficar longe mais, nem quero separar vocês. Acho que a melhor solução é eu ficar aqui em definitivo, não é mesmo?
- SIM! - as duas gritaram ao mesmo tempo.
- Se eu tinha alguma dúvida com esse sim eu tenho certeza..."
- ... né Laura?
- Oi?
- Eu estava dizendo para a Patrícia ir um pouquinho lá para casa, jantar, tomar banho bem relaxante de banheira. Depois ela volta.
- Sim. Aproveita Patrícia, minha mãe vai cuidar de mim.
- Certo. Obrigada, dona Andreia.
Patrícia despediu-se e saiu.
- É impressão minha ou a Patrícia foi fria com você?
- Ela está fria comigo.
- E por qual motivo?
- Depois de conversar com as meninas e elas mostrarem um desejo de estar mais perto de mim, falei para as minhas filhas que vou morar aqui no Rio de Janeiro em definitivo. Quando a Patrícia retornou para o quarto, a Diana deixou escapar que vou morar aqui e perguntou se ela também iria. Claro, foi pega de surpresa e obviamente está com raiva.
- Você vai voltar? - Minha mãe parecia que iria explodir de felicidade.
- Sim, dona Andreia. Pode comemorar.
- É motivo de comemoração mesmo, fico muito feliz. Mas e a Patrícia?
- Não sei, vamos conversar ainda.
- Você tomou a decisão por você, é isso? Se ela não aceitar, dane-se?
- O que posso fazer? É claro que eu gosto dela e adoraria que nossa relação continuasse. Quem sabe ela vem para cá também.
- E é justo ela abandonar toda a vida dela para ficar com você? Ela tem o trabalho , a rotina, a casa dela. A empresa dela é lá. A vida dela é São Paulo.
- Mas eu não posso ficar longe das minhas filhas depois de tudo que aconteceu. Calma, eu vou falar com a Patrícia.
- Acho bom mesmo, não cometa o erro de machucar outra pessoa que se relacionou com você.
Camila
Não é de impressionar que Gustavo já tenha perdido a paciência com as minhas lamúrias. Depois de reclamar mais uma vez, o mesmo conselho de sempre veio dele:
- Você precisa sair, tentar encontrar alguma mulher. Como você diz que quer seguir a sua vida se você vive trancada em casa? Pior, vive de olhos fechados. Pelo amor de tudo que é mais sagrado, para e olhe ao seu redor. Ninguém consegue se aproximar de você.
- Eu não estava com cabeça para isso.
- Lembra daquela de Brasília? Você recusou todos os convites que ela te fez, a coitada até pediu transferência de cidade. A dispensou porque é uma completa idiota.
- Era muito recente, Gu.
- Quatro anos era muito recente? Quatro anos de separação?
- Minha filha estava pequena - continuei tentando argumentar.
- Você já deu essas desculpas na época. Mas agora seja sincera com o seu amigo, por que essa agora de que você tem que encontrar alguém? Agora que está caindo a ficha?
- É... - falei sem jeito.
- É... você sabe que isso não me convence, não é? Anda, fala a verdade.
- Estava no shopping hoje e encontrei a tal da Patrícia por lá.
- E quem é Patrícia?
- A mulher que está com a Laura agora.
- Ridícula! Você encontrou a atual da Laura e percebeu que você perdeu tempo esperando-a?
- Eu nunca esperei pela Laura!
- Vamos fingir que não. Mas me diz uma coisa, essa Patrícia é bonitona?
- Bonitona? Bonitona é pouco! A mulher estava sem maquiagem e estava perfeita.
- E como você sabe que era ela?
- Ela é amiga da Vero. Quer dizer, a Vero está de quatro pela mulher, mas parece que ela não tá nem aí para a minha irmã. Então, as duas estavam no shopping e ela me confundiu com a Verônica em uma loja que coincidentemente estávamos.
- Caracas! E que história é essa da Vero estar a fim da atual da Laura? Um babado desse e você conta assim, como se fosse sem importância?
- A Verônica diz estar apaixonada por ela. E você sabe que eu acho que ela está mesmo? Nunca vi a Vero ficar tão louca assim por ninguém. Ela faz de tudo pela tal de Patrícia, inclusive ficar ao lado dela esse tempo todo, sem a mulher dar nenhuma chance.
- Que bizarro. Nem conheço, mas já me apiedo pela Patrícia. Está com a louca da Laura, que tem uma história mal resolvida com a ex, que no caso é você, e ainda por cima tem a maior pegadora aos seus pés que com certeza não vai desistir até levá-la para cama.
Ouvimos barulho de alguém abrindo a porta da sala. A Verônica e as minhas filhas entraram dando algumas risadas em casa.
- Mamãe... - Diana correu na minha direção.
- Meu amor, que saudade! Parece que você ficou meses fora.
- Não exagera mamãe. Oi tio Guga!
- Oi Di, vem cá e dá um abraço bem apertado no tio.
Marina se aproximava cautelosa, dei um beijo nela e sorri.
- Deixe-me te apresentar um grande amigo da mamãe. Marina esse é o Gustavo, mas pode chamá-lo de tio Guga.
Guga nem esperou eu terminar a apresentação e já foi logo tentando abraçá-la.
- Até que fim conheci você. Nossa, você é mesmo parecida com a sua irmã.
- Somos univitelinas. É isso que esperam de gêmeas univitelinas, uma a cara da outra.
- É... Marina e Diana subam e vão tomar banho para o jantar.
- E ele vai jantar aqui com a gente? - Marina perguntou olhando o Guga de cima a baixo.
- Façam o que eu pedi, sim?
Diana se despediu do Guga e Marina saiu atrás da irmã.
- Acho que a sua filha não gostou de mim.
- Puxou a Laura, você ainda não viu nada! - Verônica disse e sentou-se ao meu lado.
- Ela é uma criança, meu querido, assusta quando conhece gente nova.
- Bom, tenho que ir.
- Já? Não vai ficar para o jantar?
- Eu não, se eu receber mais uma olhada daquela nunca mais volto aqui.
- Gustavo!
- Estou brincando, meu amor, vou ter que ir mesmo. Tenho um jantar com um carinha que eu estou saindo.
- Bom jantar, divirta-se. Vou falar com a Marina, a próxima vez ela será gentil.
- Não conte com isso - Vero disse.
Nos despedimos e voltei minha atenção para a minha irmã.
- Você quer parar de falar que a Marina parece com a Laura como se isso fosse grande coisa? Além disso, pare também de falar dela como se a conhecesse mais do que eu!
- Ih, o que foi? Anda Camila, sem rodeios, o que aconteceu?
- Nada. Do que você está falando?
- Você está toda estressadinha com essa brincadeira boba que eu fiz.
Respirei fundo e fui para a cozinha. Que mania irritante da Vero conhecer todo mundo.
Ela me acompanhou e começou a me ajudar no jantar, tudo em silêncio.
- Vero, como foi lá no hospital?
Verônica sorriu e respondeu:
- As meninas estão felizes, elas precisam da outra mãe.
- Eu sei. Como a Laura está?
- Essa visita trouxe um gás para a recuperação dela. Apesar de tudo, ela está bem.
- Que bom.
- Você está chateada por ter deixado as meninas sozinhas com a Laura?
- Não, só não quero que isso se repita. Principalmente quando a Laura estiver andando.
- Andando?
- Claro, ela pode levar as minhas filhas para longe de novo.
- Acho que ela não faria isso de novo, Cah.
- A Laura não é santa, Verônica. Esqueceu-se de tudo que ela fez? Quem me garante que não vá levar uma das meninas ou as duas novamente? Quem diria que aquela Laura faria isso há 8 anos? Eu não diria, ninguém diria. É melhor prevenir do que remediar. Se acontecer alguma coisa do tipo, eu nunca vou te perdoar.
Verônica pareceu refletir e continuou me ajudando no jantar. Sei que meu trauma pode não interferir tanto assim na convivência das minhas filhas com a outra mãe dela. Mas não vou me permitir falhar novamente.
Fim do capítulo
Por hoje é isso :).
Comentar este capítulo:
Bia08
Em: 13/08/2017
Que coisa boa, a Marina dando abertura pra Camy. Mas que bichinha esperta tbm, Jesus!!!!
A Di com ciúmes muito fofa, quando ela diz que perdoa a Laura só mostra o quanto ela é sensível e amorosa .
Coitada da Pati,por causa desse amor está se perdendo no caminho...
E será que a Camy vai realmente se dar a chance de conhecer alguém? Bem que seria interessante kkkkkk
Bjs e foi incrível esses dois capítulos, parabéns.
Resposta do autor:
Sim, a Marina é muito esperta! Uma é sagaz, a outra é sensível. Que bela dupla de irmãs hahaha.
Você quer ver a Camila com alguém para o circo pegar fogo, não é? hahahaha Difícil, mas vai saber.
Obrigada!!!
Beijos.
patty-321
Em: 13/08/2017
A Camila não consegue confiar mais na Laura, ela não.acrefita q a Laura mudou. E compreensível. Vai demorar. A Laura teria q mostrar com atitudes, um longo processo pra se ganhar uma confiança perdida. Patrícia tá se cansando, ela saca q ama mais besta relação. Boa semana. Valeu. Bjs
Resposta do autor:
Exatamente, bem colocado. Mas também para a Laura mostrar as atitudes, Camila precisa estar disposta a ver.
Boa semana para você também. Obrigada, beijos.
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Ada M Melo
Em: 13/08/2017
Camila precisa se desarfarmar e da um voto de confiança a laura
Resposta do autor:
É aquele clichê da confiança ser como cristal, uma vez que quebra, não se consegue juntar os pedaços... Camila tem passar por todo um processo para isso acontecer.
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Suzi
Em: 13/08/2017
F, que coisa boa receber dois capítulos num dia, e posso dizer por mim que foi melhor ainda pois chove horrores desde sexta-feira então haja criatividade para ter o que fazer.
A Marina não pode ter somente 8/9 anos que menina Sr, ô bichinho terrivel. Imagina adolescente que dor de cabeça kkkkkkkkk
Laura tomou uma decisão sem conversar com Patricia, sendo que esta já estava com um mal humor danado, talvez pela reviravolta que foi sua vida nestes dias em que Laura está hospitalizada, ou tem mais alguma coisa incomodando??
Quando Camila irá ao hospital visitar Laura??
Resposta do autor:
Gosto de postar dois quando vejo que um capítulo completa muito o outro. Nem fala em chover, parece que essa semana vai ser de chuva onde eu moro.
Como ela diz, quase 9 anos hahaha. É muito esperta mesmo.
Laura foi um pouquinho egoísta, mas ela agiu como mãe e quer ficar perto das filhas.
Patrícia pode estar incomodada com a possível presença da Camila.
Camila visitar a Laura? Hum... esse spoiler eu não posso dar hahahaha.
Abs.
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Mille
Em: 13/08/2017
Oi autora
Hum será que o Sérgio é apaixonado pela Laura?????
Patrícia não está gostando de deixar a empresa e ficar no Rio e cada vez que ela não dar entrada da Verônica fico com pena dela.
Diana com ciúmes da mãe, para ela que era acostumada só com ela, mae e tia.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá!
Já pensou?? Será que a Verônica quis dizer isso do Sérgio?
É uma mudança de vida, Patrícia está deixando tudo para trás e ainda não tem segurança do seu relacionamento com a Laura. É, Patrícia é fiel, não quer dar abertura para a Verônica.
Ainda mais com a Camila dando mais atenção para a irmã, não evitou o ciúme.
Beijos, até quinta-feira.
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NovaAqui
Em: 13/08/2017
Acho que esse casamento da Laura com a Patrícia está com os dias contados
Acho que Patrícia não vai sair de São Paulo não. Mesmo amando Laura, ela vai ficar com sua vida Sampa.
Será que Laura falou isso para o bandido mesmo?
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
É, parece que as coisas estão começando a pesar para a Patrícia. É uma decisão difícil se mudar para o Rio, mas já vamos ver no próximo capítulo qual será a decisão dela.
Se a Laura contou a história dela com a Camila? Sim, contou. Isso ajudou a salvar a sua vida.
Abs para você também.
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