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A fortiori por Bastiat

Ver comentários: 1

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Palavras: 4786
Acessos: 17023   |  Postado em: 17/08/2017

Capítulo 26 - Mudança

 

Laura

 

    - Bom dia.

    Saudei a Patrícia que tomava café sentada na poltrona do meu quarto no hospital. Pensativa, nem tinha notado que já estou acordada.

    - Bom dia, Laura.

    - Não mereço um sorriso? Ele alegraria muito mais meu dia neste hospital.

    Minha namorada sorriu, bebeu o último gole de café, largou a xícara em uma mesinha e se aproximou da minha cama.

    - Vou pedir para trazer o seu café da manhã.

    Assenti positivamente.

    Logo a enfermeira entrou com a bandeja.

    - Pode deixar que eu mesma dou a comida para ela.

    A enfermeira agradeceu e saiu para atender outros pacientes.

    - O suco está fraco, isso está horrível.

    - Por enquanto você não pode comer comida, digamos, normais.

    - Parece que você está me castigando. Custa contrabandear comida da cantina?

    Ela deu risada balançando a cabeça e tentando colocar um pedaço de mamão na minha boca. Foi bom ouvir aquela gargalhada sincera.

    Terminei de tomar o suco de gosto duvidoso e ainda comi alguns biscoitos. Olhei para a Patrícia que parecia receosa e ansiosa para uma conversa. Eu sabia que teria que conversar com ela sobre a minha permanência no Rio.

    - Patrícia, eu quero você aqui do meu lado. Você... você quer viver aqui comigo?

    Ela olhou mais para o nada do que para mim. Não demorou para que ela explodisse com total razão.

    - Como se tudo fosse fácil, não é? Eu simplesmente abandono meu trabalho, meu apartamento, minha vida, meus amigos. Por quê? Por que esta decisão? Por que morar no Rio de Janeiro agora?

    - Porque eu quero ficar perto das minhas filhas. A Camila nunca permitirá que eu leve as duas para passar um final de semana em São Paulo e sempre estarei acompanhada pela Verônica. Penso que me instalando aqui, tudo ficará mais fácil. Além disso, teve o atentado contra a minha vida.

    Ela não disse nada, então continuei.

    - Eu sei que deveria ter conversado com você antes de tudo. Sim, eu não deveria tomar a decisão sozinha. Somos um casal e tenho consciência disso. Mas eu não vou voltar para São Paulo. Não vou, Patrícia. Eu estaria sendo hipócrita se te dissesse que temos que tomar a decisão juntas, porque eu estou tomando a decisão de ficar perto das meninas. Você sabe que estou arrasada por deixar o meu trabalho, mas está na hora de colocar a minha vida pessoal na frente do trabalho.

    Patrícia se calou. Ela só me olhava profundamente.

    - Patrícia, quando aconteceu o primeiro atentado, meu sentimento foi de ser uma heroína e de que eu tinha que continuar fazendo o meu trabalho. Eu era nova e egoísta, achava que valia perder a vida para entrar na história da humanidade. Eu tentei, sabe? Prometi a Camila mesmo sabendo que seria difícil cumprir. Enquanto me recuperava e tentava me concentrar na minha vida pessoal, as pessoas me procuravam para fazer denúncias. Eu hesitei e tentei evitar na época, mas por fim aceitei. Hoje, se alguém me procurar, vou dizer não quantas vezes for necessário. Hoje, Patrícia, o meu sentimento é de que eu cheguei ao limite. A cada porr*da que eu recebia, pensava que estava cada vez mais longe de tudo que eu amo e do que é importante para mim. Dessa vez, minha querida, eu estou deixado o meu coração falar por mim. Pela primeira vez.

    Minha companheira tinha os olhos marejados, mas não deu sinal de que falaria alguma coisa.

    - Eu não quero terminar o nosso relacionamento. Juro que não quero. Patrícia, nem eu tinha a noção do quanto me faz bem a sua presença. Se quiser, pode voltar para São Paulo. Vou te visitar sempre que puder e você pode vir sempre também. Muitos casais fazem isso.

    - Eu fico.

    - Oi?

    - Eu vou ficar aqui com você. Vou ficar aqui para vivermos juntas, formar a nossa família e cuidar das meninas. Eu te amo Laura. Faria qualquer coisa por você. Eu pedi para você reagir e lutar pelas suas filhas, não foi? Então é isso que você está fazendo e eu estou orgulhosa da sua atitude. Você não foi egoísta de pensar no seu trabalho e não colocou o nosso relacionamento na frente de duas crianças que precisam de você. Eu te admiro ainda mais, Laura.

    - Mas e o seu trabalho?

    - Eu já tinha comentado com você que estava pensando em abrir uma filial aqui no Rio de Janeiro. Ela pode virar a sede. Eu só vou adiantar os planos, será uma boa para a empresa ter fixação em São Paulo e no Rio. Meus clientes gringos vão adorar tratar de negócios e depois curtir uma praia.

    - Você não existe Patrícia. Aliás, existe. Que corte a minha você existir. Eu te amo.

    - Eu também te amo Laura, muito.

    Ela deu um beijo em meus lábios e olhou bem fundo nos meus olhos.

    - Laura, eu estou fazendo tudo isso pelo amor que sinto por você. Mas não quero que você se sinta pressionada com a minha vinda para cá. Independente da minha vinda para o Rio, se algo de errado, pelo menos a minha empresa vai dar certo.

    Eu quero muito amar a Patrícia como eu amava Camila, mas meu coração não se permite. Já não me importo com isso. É diferente. Por ser diferente é que devo dar essa chance para que o meu amor pela Patrícia floresça. Eu tenho que fazer alguém feliz.

    - Eu não me sinto pressionada. Muito pelo contrário, sinto-me acolhida por você. Como sempre. Mas se isso te afeta, se os meus erros passados estão te afetando, por mais que eu queira que você fique, vou entender se quiser partir, dar um tempo.

    - Afeta um pouco, não vou negar. Mas eu gosto de você o suficiente para superar. É por gostar tanto que fico feliz em te ajudar com os seus erros. Vamos deixar o nosso relacionamento como rolou até hoje, dia a dia, sem pressão, sem cobrança. Vamos viver o momento apenas.

 

 

Patrícia

 

    Eu não me lembro de quando fiquei tão idiota assim. Por que a razão não conseguia ser mais forte que o meu coração? Como posso não imaginar mais a minha vida longe da Laura? O que essa mulher faz com as pessoas?

    A resposta está ali, sorrindo. A Laura tem poder de persuasão. Não posso mais fingir que não enxergo isso. Sou consciente de que ela exerce um poder sobre mim e que eu tenho que tentar controlar isso.

    Morar no Rio de Janeiro não é um absurdo, são coisas que as pessoas podem fazer por amor. Eu posso competir com outras mulheres, mas com as filhas dela nunca. No começo estava pensando que ela estava voltando para ficar perto da ex, mas ela deixou bem claro que é pelas meninas. Se Laura quer ficar, ficarei também. Só espero não me arrepender disso.

    - Quais são os planos para hoje? - Perguntei e os olhos cor de âmbar ficaram tristes.

    - Eu vou fazer aquela vídeo conferência que eu estava adiando e pedir demissão.

    - E está sendo difícil para você, não?

    - Quase como se estivesse pedindo a morte - ela sorriu brincando. - O Le Monde me deu tudo no momento que eu não tinha nada. Quando eles me ofereceram o comando da América Latina, pensei que tivesse chegado ao topo do mundo. Mas eu caí e vejo que vou ter que começar tudo do zero.

    - Você vai continuar sendo jornalista?

    - Não tenho outra profissão. Eu não sei fazer outra coisa.

    - Mesmo depois de tudo?

    - O tudo foi ter conseguido desmascarar o político filho da puta. Mas não vou mexer mais com jornalismo investigativo. Eu não sei ainda o que fazer, talvez eu vá para o lado mais leve do jornalismo.

    - Amor...

    - Antes de pensar em arranjar um novo emprego, primeiro eu tenho que sair deste hospital e alugar um apartamento para nós duas. Seria melhor uma casa, não? Com quintal para as meninas.

     Eu fiquei emocionada. Falar de um apartamento, vindo da Laura, era uma grande prova de amor.

    - Eu adoraria ter uma casa com quintal. Podemos adotar um cachorro também.

    - Sim, a Marina vai adorar um cachorro em casa. Enquanto combinamos a nossa vida no Rio, me dá um beijo de verdade, minha boca já não está mais tão machucada assim Patrícia.

 

--2 semanas depois--

 

Laura

 

    - Doutor, eu não aguento mais ficar aqui. Eu já me sinto muito bem. O senhor entende que eu perdi o aniversário das minhas filhas semana passada? Elas só puderam me ver dois dias depois porque tive que fazer essa cirurgia com urgência.

    - Eu entendo, Laura. Todos os dias você me lembra que perdeu o aniversário das suas filhas e já disse que sinto muito. Graças a aquela gracinha de tentar andar até a cantina na semana passada, sua perna ganhou mais alguns dias de recuperação por conta da cirurgia de urgência que você foi submetida. Terá que ficar mais duas ou três semanas pelo menos. Vamos ser sinceros, você sabe que não está bem ainda.

    - Que saco!

    - Amor, duas semanas passam rápido... - Patrícia tentou me acalmar.

    - Passa rápido para você que pode andar, sair.

    - Ei, Laura - bronqueou.

    - Desculpa, querida. É que ficar deitada sem ter nada para fazer me deixa nervosa. Que horas são?

    - Meio-dia.

    - Ainda?

    Ultimamente, neste hospital, a minha única alegria é a visita das minhas filhas. Elas me visitam duas ou três vezes por semana. Hoje eu fiquei sabendo que elas virão, então minha ansiedade está a mil.

    Embora eu nem consiga mexer direito a minha perna, meu braço eu já consigo movimentar de leve. As dores já não são tão sentidas. Apenas a minha costela que causa dor em movimentos brutos.

 

 

Camila

 

    Acabei de desligar a ligação da minha irmã. Ela avisou que não pode levar as minhas filhas no hospital pois estava em uma reunião importante e não sabia que horas acabaria.

    Como vou contar isso para as meninas? Não faço a mínima ideia. Só sei que já estou atrasada para pegá-las na escola.

    Em meia hora cheguei na porta. O portão acabou de ser aberto. Depois daquela confusão com a Marina na outra escola, mudei as duas de colégio e elas estavam adorando a novidade.

    Várias crianças estavam saindo. Avistei as duas conversando com outras meninas, acenei e elas sorriram.

    - Mamãe! Cadê a tia Vero? - Diana sorriu perguntando.

    - A tia Vero está em uma reunião.

    - Ah, por isso que você veio buscar a gente. Vamos almoçar naquele restaurante perto do hospital?

    - Não, nós vamos para casa.

    Ajeitei as duas no banco de trás e segui para casa. A Marina está séria, na certa desconfia de alguma coisa.

    Assim que chegamos em casa, Marina questionou.

    - Camila, hoje é dia de visitar a minha mãe. Por que estamos em casa? A tia Vero sempre leva a gente para almoçar no restaurante lá perto.

    - Eu sei meu anjo, mas a tia de vocês não poderá levá-las.

    - Mas é dia de visita, combinamos assim.

    - Sim, mas imprevistos acontecem. Sua tia teve uma reunião no trabalho e vai passar a tarde toda lá.

    - E você? Você pode nos levar.

    - Eu não... eu... Marina, eu não posso levá-las.

    - Por quê? O que te impede?

    - Não posso meu anjo, apenas não posso.

    É claro que minha a gloriosa e detalhada explicação não fez a Marina compreender. Como imaginei, minha filha geniosa subiu correndo para o quarto e Diana foi atrás. Ouvi a porta bater com força duas vezes.

    Eu não quero ver a Laura, não quero!

 

 

Patrícia

 

    - Elas estão demorando hoje né?

    Laura ficava sempre na expectativa da chegada das filhas. Era o momento mais feliz daqueles dias no hospital.

    - Daqui a pouco elas estão aqui, meu amor.

    As duas últimas semanas serviram para me adaptar a minha nova vida. Fui para São Paulo duas vezes, fiz toda a mudança, coloquei os apartamentos para alugar e o mais difícil: nomeei uma diretora para comandar a empresa na capital paulista. Agora eu estou ajeitando um novo escritório no Rio de Janeiro. A Verônica me ajuda em tudo. Estamos tão conectadas que eu até aluguei o prédio vizinho do ateliê dela para a minha filial. Agora estou na fase de contratação de pessoas e até nisso ela estava me auxilia muito.

    A Vero acabou se tornando a minha melhor amiga. Tudo eu posso contar com ela. Aparentemente ela aceitou que teríamos somente amizade, embora ainda tenha momentos em que ela escapa, deixa seus instintos agirem e tentar uma investida leve.

   - Liga para a Verônica, elas estão demorando.

    - Eu já enviei uma mensagem amor, ainda nem visualizou. Vai ver estão presas no trânsito.

    - Certo.

 

 

Camila

 

    O que eu estou fazendo? Cedendo a vontade das minhas filhas. Dirigindo com pressa para o hospital com duas criaturinhas fofas no banco de trás sorrindo de orelha a orelha.

    Eu não pretendo entrar no quarto. Não vou ver a Laura. Não sei o que vou fazer ainda para que não ocorra nenhum encontro entre nós, mas farei de tudo.

    Estacionei na rua do hospital e segui com as meninas para dentro do hospital. Parei na recepção para pedir a visita e como sempre as pessoas achavam que eu era a Verônica.

    - Preciso de um documento com foto, Camila.

    Entreguei minha carteira de motorista e aguardei um momento.

    - Pronto, podem entrar.

    Cheguei mais perto da recepcionista e disse:

    - Conto com a sua discrição, não quero que ninguém saiba que estou ou apareci por aqui.

    - Certo. O hospital zela pela discrição e identidade de seus clientes, fique tranquila.

    Minhas filhas me levaram até a porta do quarto que a Laura ocupa e quando chegamos me recusei a entrar.

    - Escutem pequenas, eu vou ficar esperando vocês aqui fora, não demorem muito.

    - Por que você não quer entrar? Você ainda não visitou a minha mãe. - Marina indagou.

    - São coisas de adultos, meu amor.

    - Você não gosta mais da minha mamãe? Vocês foram casadas, então existia amor...

    - Quanto mais conversa aqui, menos tempo vocês terão juntas. E não digam para a Laura que estou aqui, sim?

    As duas balançaram a cabeça positivamente e entraram no quarto.

    Me vi sozinha no meio do corredor quando uma voz atrás de mim disse:

    - Até que fim você chegou, pensei que não viria hoje...

    Olhei para a tal da Patrícia me confundindo com a Verônica. Eu não consegui nem respirar para falar.

    - Você nem respondeu a minha mensagem. Ah, esquece, é que a Laura estava surtando com a demora e ficou me enchendo de perguntas. Sabe como ela. Conhece bem a peça. Ela está muito mal-humorada esse dias, como te disse ontem, só essas visitas que a acalmam.

    Tive que interromper.

    - É... Patrícia, não é? - Ela parou de falar e me olhou com curiosidade. - Eu não sou a Verônica, sou a Camila. A Vero não pode vir e me avisou na última hora, por isso demorei.

    Ela ficou muda, parecia que estava vendo um fantasma.

    - Você veio visitar a Laura?

    - Não. As meninas insistiram muito e eu tive que trazê-las.

    - Tem certeza?

    - Desculpa? Não estou entendo. Não estou aqui para visitar a Laura e se você quer saber de uma verdade, só estou aqui porque as minhas filhas insistiram muito, por mim eu não estaria nem perto daqui.

    - Desculpe-me. É... vou à cantina, depois eu volto, com licença.

    Que mulherzinha mais insuportável.

 

 

Patrícia

 

    Eu estou morrendo de medo da Camila resolver entrar naquele quarto. Como é horrível essa sensação de que a Laura pode ainda gostar dela. É claro que eu tenho consciência de que a minha mulher tem uma história mal resolvida com a ex e que isso pode sim atrapalhar nosso relacionamento. Entretanto, eu preciso me postar ao lado da Laura para não dar chance nenhuma para aquela esnobe.

    A cantina já virou uma espécie de cozinha da minha casa. Já conhecia todo mundo. Os cozinheiro até sabem o meu café da manhã, almoço e jantar. Também conhecia quase todo mundo do hospital. O hospital virou a minha casa, essa é a grande verdade. Desde a recepção até a cantina, todos viraram meus amigos. O meu trabalho estava praticamente andando sem minha presença. Eu abandonei a minha vida para ficar com a Laura e é por isso que não posso deixar que a Camila a tire de mim. Nem ela e nenhuma outra mulher. Não sou possessiva, daquelas que aprontam alguma coisa para ferrar alguém ou que tem uma obsessão irracional. Mas eu amo a Laura. Amo muito. É como se ela fosse uma droga diária que eu preciso para satisfazer o meu vício dela.

    Fiquei de papo por mais de uma hora com alguns médicos na cantina. Eu estava com medo de voltar e dar de cara com a Camila dentro do quarto da Laura. Mas tenho que fazer isso, encarar as coisas de frente.

    Para a minha surpresa a Camila estava na mesma cadeira, no corredor do quarto da Laura. Me aproximei cautelosa e perguntei:

    - Ainda por aqui?

    Ela me olhou com aquele narizinho levemente empinado.

    - Acredite, eu não queria mesmo ter vindo. Você poderia, por gentileza, chamar as meninas para irmos embora? Diga que as aguardo na recepção em cinco minutos. Diga com firmeza, por favor, para que elas não enrolem.

    Que irritante essa mulher! Falando com esse nariz empinado, um ar de superioridade.

    Percebi que ela ainda estava na minha frente, observando o meu semblante que com certeza não deveria estar muito bem.

    - Sim, claro. Com sua licença.

    Girei os calcanhares, dei as costas e entrei no quarto.

    - Meninas, a Camila está esperando vocês na recepção.

    - Camila? - Laura perguntou surpresa.

    - Sim, a Camila. Vamos meninas, já passou do horário de vocês e não queremos que sua outra mãe te proíba de virem aqui, sim? Vamos lá.

    Vi elas acenarem e despedirem da Laura.

    Ficou um silêncio no quarto depois que as meninas saíram. A Laura me olhava de canto de olho, parecia receosa de fazer alguma pergunta.

 

 

Laura

 

    Parece que eu não ouvi direito. A Patrícia falou o nome da Camila? A Camila veio trazer as nossas filhas e nem ao menos entrou no quarto? Não entrou nem por curiosidade, para saber como eu estava. Nem mesmo para me xingar e dar um tapa na minha cara como ela fez da última vez que nos vimos.

    - Patrícia... a Camila...? - Minha namorada me olhou tão séria fazendo com que eu desistisse de finalizar a pergunta.

    Acompanhei o seu olhar analisador e sua respiração pesada para então me responder:

    - Sim. A Camila estava este tempo todo lá fora. Ela disse que a Verônica não pode vir e por insistência da Diana e da Marina resolveu trazê-las.

    - Você ficou este tempo todo falando com ela?

    - Não! Claro que não. Eu estava na cantina conversando com o pessoal da ala de enfermagem e alguns médicos.

    - Hum...

    Eu não tinha mais perguntas. Na verdade, não tinha o direito de fazê-las, não para a Patrícia.

    - Você vai almoçar agora? - Patrícia encerrou o assunto Camila.

    - Sim, estou morrendo de fome.

    - Então eu vou pedir para trazer o seu almoço. Você tem muita mordomia aqui, almoça a hora que quer, recebe visita a hora que quer...

    - Graças a minha companheira super comunicativa que conhece todo mundo no hospital.

    Patrícia sorriu e saiu do quarto para pedir para alguém trazer o meu almoço.

    Sozinha, fiquei pensando e tentando entender a atitude da Camila. Eu pensei que a autorização das visitas das meninas significa uma bandeira branca. Que é um sinal de que a guerra estava finalizada em que as nossas meninas são as verdadeiras vencedoras. Mas pelo jeito viveríamos uma guerra fria. Camila não quer me ver, vai prosseguir com os acordos de longe e mesmo assim, estes acordos não eram conversados, apenas falados.

 

 

Verônica

 

    No final da tarde recebi um convite surpresa da Patrícia para jantar. No começo estranhei, mas aceitei por imaginar que queira conversar sobre a empresa dela. Nos últimos dias ela só tem falado nisso e é bom ajudá-la. Assim eu fico mais tempo próxima dela e com uma boa desculpa.

    Eu ainda estou esperando essa paixão louca eu sinto por ela passar. Primeiro que Pati é louca pela Laura. Segundo que eu gosto tanto dela que quero que ela seja feliz, mesmo achando que a Laura não a mereça.

    Cheguei no horário no restaurante que ela marcou. Fica perto do hospital que a Laura está internada. A arquiteta já ocupa uma mesa. Linda como sempre.

    - Oi, faz tempo que você está esperando?

    - Oi, Vero. Acabei de chegar, não se preocupe. Tudo bem com você?

    - Sim, sim e você?

    - Tudo bem.

    Ela sorria e meu coração palpitava. Como queria que você me amasse como eu te amo Patrícia.

    - ... Verônica?

    - Oi? - Eu estava completamente distraída.

    - Eu perguntei se já podemos pedir.

    - Ah sim, claro, viemos para isso.

    Durante o jantar falamos dos últimos detalhes da empresa. Ela estava feliz com a nova sede, mas algo nos olhos dela dizem que algo a incomoda. Não demorou muito para que ela fosse ficando tímida, parecia que queria perguntar algo. Deixei tudo bem à vontade, não irei forçar nada.

    - Verônica... posso te fazer uma pergunta? Na verdade, é uma pergunta-favor.

    - Não entendi, mas pode perguntar e pedir o que quiser.

    Dei meu melhor sorriso que foi desmanchando aos poucos conforme escutei a pergunta.

    - Quero saber se... como... como foi que a Laura e a sua irmã terminaram? Na verdade, quero saber como era a relação delas, sua visão de tudo isso.

    Demorei um minuto esperando que eu tivesse entendido errado.

    - A Laura não te contou como foi?

    - Contou meio por cima que a sua irmã nunca aceitou o trabalho dela e que depois daquele primeiro atentado piorou. Também falou algo de brigas constantes, que as coisas foram acontecendo e a Camila pediu a separação.

    - Foi isso mesmo. Por que a pergunta?

    - Porque eu quero outra visão e você é a pessoa mais indicada para isso. Por favor, Vero...

    - Patrícia, isso é assunto de vocês. Eu não posso jogar a minha opinião assim.

    - Vero, eu não estou pedindo para que poupe a Laura ou me poupe. Eu quero saber como era. Quero me proteger. Por favor.

    Patrícia parecia desesperada, respirei fundo e comecei:

    - Elas eram jovens. Jovens demais para viverem um amor tão profundo. Laura era imatura, egoísta e workaholic. Camila era insegura e muito ciumenta. Eu acho que na relação delas, a Laura meio que tinha um domínio sobre a minha irmã. Tudo tinha que ser do jeito e no tempo da Laura. Por uma relação anterior, desde sempre notei que a minha irmã sempre teve tendência de ser a boba nos relacionamentos. Deixava passar as coisas para não perder a pessoa. Ela era completamente apaixonada e dependia muito da Laura para ser feliz. Definitivamente não era uma relação saudável. Não estou aqui afirmando que não via amor por parte da Laura, ela tem aquele jeito fechado, aquele jeito durão, entretanto ela amava a Camila. Mas algo me dizia que esse jeito da Laura faria a minha irmã sofrer e infelizmente eu estava certa. A verdade é que elas tinham tudo para dar certo. Se gostavam como poucos casais se gostam de verdade. Porém, algo conspirou para elas não ficarem juntas.

 

 

Patrícia

 

    Eu ouvia atentamente aquelas palavras. Via que a Verônica estava tentando me poupar. Escolhia as palavras enquanto tentava disfarçar seu desconforto.

    - Tudo era do jeito da Laura. Ela dominava a sua irmã... Não entendo, Vero - eu queria saber mais.

    - A Laura era muito impulsiva e minha irmã não controlava ou não sabia como fazê-lo. Toda vez que elas tinham alguma briga ou entravam em uma crise, Laura envolvia a Camila e levava a minha irmã para a sua posse. Quando ela achou que iria perder a minha irmã pela primeira vez, a Laura insistiu que elas deveriam casar. É claro que a Cah pensava em se casar com a Laura, mas ela tinha outros planos na época e de repente mudou tudo para fazer a vontade da amada, para se casar no tempo que ela queria. Depois foi a gravidez, a mesma história: briga, medo de perder a Camila, decisão por impulso e Laura queria ter um filho. A Camila teve coragem de negar? Claro que não! Minha irmã sempre quis ser mãe, mas planejava para depois dos trinta anos. A Laura nunca tinha tocado no assunto, se tocava era de forma negativa. Você entende o que quero dizer? Acho que o amor delas era grande sim, mas que elas se atrapalharam com suas decisões e com a pressão de fora. Quando eu digo pressão de fora você sabe, a Laura era, ou é ainda, fanática pelo trabalho. Meu Deus, decidir ter filhos por impulso, com as duas carreiras em ascensão, um casamento recente... mesmo as duas sentindo intensamente aquele amor louco que uma sentia pela outra, foi tudo rápido demais. Eu amo as minhas sobrinhas, jamais vou dizer que elas foram um erro, muito pelo contrário, foram as coisas mais lindas que elas poderiam fazer. Errada foi a minha irmã por deixar-se controlar pela Laura. Errada também foi a Laura por nunca saber o que quer da vida. O único foco dela é o trabalho, o resto dane-se! Sabe, Pati, eu nunca imaginei que ela seria capaz de fazer o que fez. Quando a minha irmã chegou desesperada dizendo que a Laura sumiu com a Marina, eu não acreditei até ler a carta escrita pela própria Laura. Que loucura aqueles primeiros meses, esses anos todos. Mas aconteceu, não foi? Nada disso foi um pesadelo e nunca se apagará. Foi isso que aconteceu, Patrícia, essa é a minha visão de tudo.

 

...

 

    Depois do jantar com a Verônica, resolvi caminhar um pouco pela praia. Fiquei impressionada com todas as palavras. A Vero me mostrou uma Laura que eu ignorava que existia, que talvez eu não queira enxergar. Por mais que ela tenha mudado, como eu acho que mudou, algo daquela Laura ainda está nela, faz parte da sua essência.

    Já estávamos fora do restaurante esperando pelo carro dela quando fiz uma pergunta que a resposta ficou pela metade:

    "... - Você acha que ainda existe amor entre as duas, Verônica?

    - Da parte da minha irmã existe mágoa, muita mágoa. Boa noite, Patrícia - disse entrando no carro"

..."

    E pela parte da Laura? Será que ainda existe amor? O que eu sou para ela? Um brinquedo? A segunda opção? Meu caminho todo para o hospital foi assim, cheio de perguntas sem resposta. Dei graças a Deus quando entrei no quarto e ela já estava dormindo. Me acomodei na poltrona e fechei os olhos. Laura, Laura... por que você fez tudo isso com a sua vida? Você poderia estar casada, com suas filhas e uma carreira estável. Laura tem o poder de destruição dela própria. Destrói a si mesma e todos que a rodeiam. Isso pode acontecer comigo e eu tenho que me prevenir.

 

Fim do capítulo


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Comentários para 26 - Capítulo 26 - Mudança:
rhina
rhina

Em: 07/03/2019

 

Mágoas. ....muias mágoas. ....

Vero sofrendo pela Pat.

Mas a vida não para 

Rhina

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cidinhamanu
cidinhamanu

Em: 15/04/2018

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