Quando a voz do zelador tomou conta daquela sala, as duas mulheres trataram de afastar os corpos. Parecia que estavam fazendo algo tão errado. Mas elas sabiam, que o que estavam sentindo pela outra as outras pessoas não iriam entender.

—Pensava que não tinha ninguém nas salas — O zelador, um homem de uns 40 anos, moreno, falou.

—Eu estava conversando um pouco com ela, a respeito do resultado da última prova — Michelle encarou Ilara, que retraiu o seu corpo na cadeira.

O zelador sorriu — Não precisa me explicar nada professora. Só estava fechando as salas.

—Já estamos indo. Não quero atrapalhar o seu trabalho — Michelle se levanta, olha para o zelador, mas depois encara Ilara. Ainda queria saber o que estava acontecendo com a garota.

—Não tenha pressa — O zelador falou e depois saiu.

Quando voltou a ficar sozinha com Ilara, Michelle se abaixou para poder ficar da altura da aluna.

—Ainda não desisti da nossa conversa — Tocou a face da garota levemente.

Ilara apenas fez sinal afirmativo com sua cabeça.

—Eu sei que é difícil para você se abrir com alguém, mas eu quero que você confie em mim, Ilara, quero ser sua amiga — Segurou a mão de Ilara e a notou molhada — Não tenha medo de mim — Olhou para o rosto de Ilara, que estava abaixado.

—Eu não sinto medo de você — Ilara encarou os olhos de sua professora. Por muitas vezes havia fugido. Tinha medo da forma com Michelle lhe invadia apenas com o olhar, porém naquele momento, estava se sentindo muito segura com Michelle.

—Isso é bom sinal — Michelle sorriu — Acho que é melhor irmos. Já está ficando tarde — Ficou de pé.

Ilara naquele momento coloca o seu caderno na mochila e depois se levanta.

—Quer carona? — Michelle queria passar mais tempo com a garota. Então teria que achar uma forma de fazer isso.

—Obrigada, mas eu ainda tenho que buscar meu irmão no colégio — Ilara responde e Michelle a encara.

—Podemos buscá-lo — Michelle sugeriu.

—Não, professora, eu já estou lhe dando trabalho demais hoje — Ilara diz um pouco sem jeito e Michelle passa a achar que a garota queria fugir dela.

A morena respira fundo — Não tenha medo de mim. Não quero te fazer mal. Eu sei que é difícil deixar eu entrar assim em sua vida, mas pode confiar em mim, Ilara — Michelle segurou um dos braços da garota, que de imediato se arrepiou toda.

O que Michelle tinha que causava todas aquelas sensações nela?

—Preciso pensar um pouco — Ilara confessa. Não queria fugir, mas somente entender o que estava acontecendo com ela.

—Tudo bem — Michelle solta o braço de Ilara e depois anda até a sua mesa. Ao se virar para poder olhar para a garota, ela nota que a mesma não estava mais ali — Por que você faz isso comigo, Ilara? —Perguntou-se.

***

Ilara ao sair da sala, começou a andar de forma apressada. Não queria que sua professora lhe alcançasse. Precisava pensar um pouco sozinha.

Estava disposta a se abrir com sua professora, mas algo estava acontecendo com ela. Toda vez que Michelle se aproximava, ela sentia coisas. Será que estava gostando mesmo de sua professora? Mas como ela poderia ter certeza disso? Ela nunca havia se interessado por alguém.

—Isso é confuso — Ilara levou as suas duas mãos até o seu rosto. Se ela estava interessada por Michelle, ela iria sentir vontade de beija-la... Ao pensar nisso, Ilara arregalou os seus olhos. Como assim beijar? Nunca havia beijado. Será que iria conseguir fazer isso? Será que ela sabia beijar? — Eu tô ficando louca — Disse para si. Ela nunca havia se imaginado beijando alguém. Será que iria começar a fazer isso.

Quando chegou ao colégio de seu irmão, Ilara o encontrou nervoso.

—Será que estava namorando e se esqueceu de mim?— Gustavinho indagou ao olhar para a irmã.

Ilara fica assustada com aquela pergunta. Como assim namorando? — Eu.. Não... Estava... Na... Namorando — Foi difícil falar aquela frase. Gustavinho deixou a cara amarrada de lado e começou a rir.

—Hum... Vou contar tudo para mamãe viu... Vou contar — Gustavo ficou todo saltitante.

—Pare com isso, Gustavo — Ilara ficou irritada.

—Ilara tá namorando... Ilara tá namorando... Ilara tá namorando — Gustavo começou a pular na frente de sua irmã.

—Eu não tô namorando — Ilara segura as alças da mochila com as mãos.

Após ouvir aquilo, Gustavo ficou pensativo. Sua irmã estava muito estranha nos últimos dias e sempre se atrasava na hora de buscá-lo.

—Qual o nome dele? —Gustavo perguntou e Ilara arregalou os seus olhos. Será que seu irmão não iria parar com aquilo?

—Pare com isso! — Ilara estava com cara de poucos amigos.

—Vou contar para a mamãe viu — Ficou todo sapeca — Duvido ela gostar dessa novidade — Ficou com cara de Mal.

—Você pare com isso, Gustavinho — Ilara falou brava.

—Você vai fazer o que se eu não parar? — Gustavo perguntou e antes de ouvir a resposta de sua irmã, já começou a correr — Socorro —gritou.

Ilara correu atrás do mesmo, mas não iria bate-lo. Era somente para assustar.

***

Helena estava na cozinha terminando de aprontar o almoço, quando a porta da sala se abriu com brusquidão.

— Mamãe, socorro —Gustavo chegou na cozinha e se escondeu atrás da mãe.

—O que tá acontecendo aqui? —Tentou olhar para o filho, que estava segurando firme no seu vestido.

—Ilara, tá querendo me bater. Só porque descobri que ela tá namorando —Gustavo fala choroso.

—Namorando? —Helena fala e nesse momento Ilara surge toda envergonhada. Será que até a mãe iria ficar falando daquilo também —Que história é essa filha?

—Gustavinho, tá mentindo —Ilara tenta se defender.

—Tô nada... Agora sei porque você fica parecendo uma bobona, toda pensativa pelos cantos — Gustavo falou de trás da mãe.

Ilara após ouvir aquilo fica sem saber o que dizer. Ela sempre ficava pensativa mesmo. Pensando em Michelle.

—Olha ai, mamãe, é verdade — Gustavo ficou todo saltitante.

Naquele momento, Ilara sai da cozinha e vai direito para o seu quarto. Uma confusão passou a surgir dentro dela. Parecia que naquele momento tudo estava confirmado. Ela estava gostando de Michelle. De sua professora.

***

Após ver a filha saindo daquela forma, Helena pede para Gustavo se trocar para poder almoçar e depois vai até o quarto de Ilara.

—Filha? — Bateu na porta e depois de algum tempo ela foi aberta — O que houve? —Ficou preocupada com sua menina. Ela parecia estar abatida. Os olhos estavam vermelhos. Parecia ter chorado.

—Estou confusa, mãe —Ilara envolveu a cintura de sua mãe com seus braços.

—Meu amor —Helena tocou os cachinhos de sua filha.

Após as duas se sentarem na cama da garota, Helena resolveu perguntar:

— O que o seu irmão falou é verdade?

Ilara olhou um pouco sem graça para sua mãe, pois mesmo aquilo não sendo verdade, ela estava gostando de alguém. De uma mulher. Naquele momento ela percebeu que gostava de outras garotas como a prima que seu pai odiava, por esse mesmo motivo.

—Não, mas eu... 

—Você tá gostando de alguém — Helena sorri naquele momento, tentando acabar com o clima pesado.

—Não tenho certeza.

Helena tenta entender a sua filha. Havia a notado estranha nos últimos dias. Poderia ser por conta das brigas constantes que estava havendo em sua casa, mas Helena sentia que tinha algo a mais naquilo tudo.

—Como saber se a gente gosta mesmo de alguém, mãe? —Ilara indaga.

—Não sei, filha. Só sei que nos sentimos diferente quando estamos com a pessoa — Helena nesse momento, se lembra de Ester. Na forma como o seu corpo reagiu. Queria tanto voltar a estar nos braços daquela morena. Se pudesse voltar no tempo, nunca teria desistido de Ester, para poder fingir ser o que não era, todavia, agora já era tarde demais para pensar nessas coisas. Estava casada com Augusto e teria que respeitar seu casamento, mesmo querendo outra pessoa em sua vida.

—Sinto muita vergonha quando estou com ela — Ilara fala e Helena a olha assustada. Como assim ELA. Ilara notando o estranhamento de sua mãe, tenta corrigir a sua fala. Ainda não estava preparada para se abrir com alguém a respeito disso— Com a pessoa mãe!

Neste momento, passou na cabeça de Helena tudo o que ela havia passado no passado. Quando se descobriu apaixonada por Ester, ela agia daquela mesma forma. Sentia muito medo. Principalmente de sua família.

Não tinha certeza, mas talvez sua filha estivesse gostando de uma mulher. Poderia perguntar a mesma a respeito disso, mas sabia que Ilara iria acabar mentindo se caso fosse verdade. Então a única coisa que poderia fazer naquele momento, era mostrar a filha, que a mesma poderia contar com ela para tudo.

—Filha, eu sei o quão é complicado lidar com tudo que está sentindo. Sei que não está preparada para falar a respeito — Helena coloca um cachinho de Ilara atrás da orelha da mesma — Mas pode ter certeza de algo. Você pode contar comigo para tudo. O que você está passando eu já passei.

Ilara olha para sua mãe e a abraça em seguida. Para Ilara, sua mãe não sabia o que ela estava sentindo, pois a garota estava gostando de uma mulher e para Ilara, sua mãe gostava de homem.

Só que não sabia ela, que sua mãe era apaixonada pela prima de seu pai.

Fim do capítulo