Ester chega do trabalho e encontra algumas malas no meio da sala.

—O que está acontecendo aqui? —Perguntou e logo em seguida, Marina surgiu.

—Eu vou embora, Ester — Disse calmamente.

Ester fica surpresa — Como assim, embora?

—Não tenho mais nada a fazer aqui... Não quero atrapalhar a sua vida. Então resolvi voltar para São Paulo.

—Você não precisa fazer isto, Marina, você arranjou um bom trabalho aqui — Ester falou.

Marina abaixa a sua cabeça — Eu sei que sim, por isso irei ficar mais um mês aqui nessa cidade, para poder arrumar algumas coisas, mas nesse apartamento com você, acho melhor não ficar... Não quero acabar confundindo as coisas.

—Desculpa, por tudo — Ester passou por entre as malas e foi até Marina.

—Não precisa se desculpar, Ester — Marina fala um pouco triste.

—Você não merece passar pelo o que está passando.

—Eu sei que não — Forçou um sorriso — Mas também não posso ter tudo nessa vida.

—Você vai encontrar alguém que te faça feliz — Ester pousou as mãos sobre os ombros de Marina.

—Por que quando alguém não quer a gente sempre fala isso? —  Marina quis brincar.

Ester sorri — Você é uma mulher incrível, mas fui incapaz de te amar.

—Eu sei, e não fico chateada com você por isso, pois sei que você sempre amou alguém e fui eu, que mesmo sabendo disso, insisti... Espero que você consiga ficar com a Helena — Marina não guardava mágoas.

—Também espero... Hoje descobri algo — Ester fala pensativa.

—O quê?

—O Augusto trai a Helena — Ester responde.

—Isso é um bom sinal. Não quero dizer que seja bom para a Helena, mas acho que será mais fácil para você se aproximar dela.

—Pensei isso, mas fiquei pensando em algumas coisas também  — Ester e Marina se sentam no sofá.

—Pensando sobre?

—Acho que a Helena talvez seja muito infeliz, mesmo querendo ela para mim, eu não posso desejar isso a ela só para eu poder ter mais chances— Ester fala sentida.

—Eu sei, pois você a ama e a última coisa que quer é a infelicidade dela — Marina comenta.

—Sim, hoje me encontrei com ela e tive certeza, que ela ainda sente algo por mim... Isso me deixou feliz — Ester falou e de alguma forma mexeu com Marina. Queria ajudar Ester, mas ainda tinha coisas que ela não conseguia lidar.

—Isso é um bom sinal — Marina comenta.

—É sim — Ester fala e nota a loira se levantando.

—Preciso ir agora— Olhou para Ester, queria tanto ficar, mas não podia — Adeus, Ester.

—Não diga assim — Ester fica de pé.

—Tem que ser assim — Marina fala e logo em seguida as duas se despedem.

Mais tarde... Em um bar do centro...

Marina estava sentada a um balcão de um bar, quando ouviu uma voz desconhecida.

—Tão bonita e sofrendo assim por alguém? — Marisa se sentou ao seu lado.

—Às vezes acontece — Marina sorri ao olhar para a morena.

—Não deveria — Marisa chama o garçom, faz seu pedido, e logo em seguida o mesmo aparece com um copo de cerveja a oferecendo — Acredito que devem ter várias aos seus pés — Falou e piscou para a loira.

Marina balança sua cabeça da direita para a esquerda.

—Que foi? Acha que falei algo errado? — Marisa perguntou.

—Não, você está certa, mas as que me querem eu não quero — Marina respondeu.

—Mas é bom se distrair um pouco.

—Jovens! — Marina começa rir de Marisa.

—Não sou tão jovem assim — Marisa fala, pois não havia gostado de ouvir aquilo.

—Pode ser — Marina não quis contrariar a outra mulher.

—Poderia muito bem te conquistar —Marisa bebeu sua cerveja de uma só vez.

Marina começou a rir — Você se acha.

—E você se acha difícil demais — Olhou para a loira.

—Então tente me conquistar — Marina topou entrar na brincadeira — O que você faria para me conquistar? — Perguntou e Marisa pareceu pensar.

— Uma boa noite de amor, tiraria essa sua cara amarrada — Marisa fala e a loira cai na gargalhada. Por incrível que pareça estava gostando daquele jeito da morena.

—É só isso que tem a me oferecer? Sexo? — A loira perguntou.

— Eu gosto de sex* — Marisa fala.

—Eu também, mas sex* não é tudo. Um relacionamento vai muito além disso — Marina faz menção de se levantar.

—Espera — Tocou o braço da outra mulher — Me dê outra oportunidade —pediu.

Marina sorri e pede algo ao garçom — Tome, você tem um mês para me convencer a ficar contigo — Deu o número dela anotado em um papel.

—Pode ter certeza que irei conseguir te conquistar — Marisa fala com convicção.

—Boa sorte então — Marina sai e deixa só o rastro de seu perfume no ar.

— Do jeito que você agiu ai, você nunca vai ter ela. Você é muito ruim — O garçom comenta ao pegar o copo.

—Você deveria fazer o seu trabalho e não se meter em minha vida — Colocou o dinheiro sobre o balcão —pode ficar com o troco — Saiu.

***

Era sexta-feira, último horário, aula da professora Michelle.

Naquela manhã, Ilara estava quieta, presa totalmente aos seus pensamentos.

Algumas vezes olhava para a sua professora e também notava olhares da mesma sobre si.

Havia momentos que chegava a pensar, que talvez Michelle sentisse a mesma confusão de sentimentos que ela, mas depois tentava não pensar nisso. Pois achava que seria impossível.

Em um determinado instante da aula, Michelle entregou as provas para os alunos. Ilara mal olhou para a prova e já a colocou entre as folhas de seu caderno. Sabia qual havia sido o resultado.

Michelle queria entender o que estava acontecendo com Ilara. Naquele dia ela estava determinada a saber o que se passava com a garota.

Quando bateu a sineta, Michelle pediu para que Ilara permanecesse na sala. Milena estranhou aquilo, pois a garota sempre se comportava nas aulas, como estava atrasada para um compromisso, resolveu não perguntar o porquê para aquilo.

Ilara ao todos saírem da sala, passou a se sentir desconfortável. Sabia qual seria o assunto, então ficou com medo do que sua professora pudesse falar.

Michelle ficou um tempinho organizando as suas coisas, para pensar melhor no que falar para Ilara e depois decide ir até a garota.

Enquanto sua professora andava até a sua carteira, Ilara sentiu o seu coração batendo muito rápido. Cada passo que Michelle dava, fazia as suas mãos suarem ainda mais.

—Eu sei que você pode estar estranhando toda essa situação, mas só quero conversar com você, Ilara — A forma como a sua professora pronunciou o seu nome, fez o corpo de Ilara se estremecer todo.

Michelle se sentou em uma cadeira ao lado de Ilara, que acabou sentindo o perfume da outra invadindo suas narinas.

A garota não soube o que falar, estava disposta a entender tudo que acontecia com ela e a conversar com sua professora. Todavia, havia planejado muitas coisas, mas não conseguia falar nada.

—Ilara, o que está acontecendo com você ? — Michelle colocou a sua mão sobre o encosto da cadeira da garota.

Ilara ficou em silêncio por um tempo. Aquela era a hora de dizer tudo. Mas sentiu medo. Suas mãos passaram a suar ainda mais. Ela esfregou uma na outra tentando amenizar aquele suor, mas foi em vão e Michelle notou.

—Se acalme. Só quero conversar — Michelle iria respeitar o tempo da garota.

—Eu não sei o que dizer — Ilara enfim falou e encarou aqueles olhos que lhe invadiam profundamente.

—Tente, Ilara, tente me falar... Eu sei que está acontecendo algo — Michelle segurou as duas mãos de Ilara com uma das suas. 

A garota abaixou a sua cabeça e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Ver essa cena fez Michelle pensar em tantas coisas. Seu coração doeu. Parecia que algo havia lhe ferido.

—Ilara —Por incrível que pareça Michelle chorou junto sem ao menos saber o que estava acontecendo.

Sem esperar por aquele ato, Michelle sentiu os braços de da garota lhe envolvendo. E depois de alguns instantes a professora fez o mesmo com o corpo da garota.

Aqueles corpos tão juntos fez Michelle perceber que ela não iria conseguir fugir de algo que estava surgindo dentro dela. Ilara estava entrando em sua vida aos poucos. Não tinha como evitar ou negar que existia algo.

Michelle acariciou as costas e os cachinhos de Ilara por um tempo até que a garota resolveu começar a se abrir.

—Meu pai... —Se afastou um pouco de Michelle e depois abaixou a cabeça.

Michelle tentava não demonstrar o quanto tudo aquilo estava doendo nela, mas era impossível. Levou a sua mão até o queixo da garota e fez a mesma olhar em seu olhos.

Aquela garota era linda demais. Seus olhos, o formato de seu rosto, as curvas de sua boca combinavam perfeitamente. Michelle poderia se recriminar por tais pensamentos, mas estava muito envolvida naquele momento.  Não conseguia nem pensar na possibilidade de alguém as pegar naquele momento, tão juntas e sozinhas.

—Me diga — Michelle pediu de uma forma calma enquanto deslizava um de seus dedos pelas curvas de seu rosto.

Antes que Ilara pudesse dizer o que estava acontecendo, o zelador do colégio apareceu e acabou atrapalhando todo aquele clima delas duas.

Fim do capítulo