Após ter saído às pressas do colégio, Milena anda em direção a uma pracinha, que ficava perto de sua casa. Ao chegar no lugar se depara com várias folhas secas pelo chão. Uma leve brisa bate em seu rosto e seus cabelos se movimentam levemente, mas alguns fios vão de encontro o seu rosto. A garota os retira da cara e a passos apressados anda até o seu destino.

Quando se deparou com uma garota loira, sentada em um banco, concentrada lendo algo que estava no celular, Milena sentiu o seu corpo se retrair um pouco e apertou fortemente as alças de sua mochila.

Quanto mais chegava perto de Mia mais sentia coisas.

—O que você quer comigo? — Perguntou já na defensiva. A garota loira para de olhar para o celular e encara a morena.

—Senta — Deu espaço para a outra, mas a mesma permaneceu de pé. Fica em silêncio por um tempo e diz: Queria saber o porquê de você andar para cima e para baixo com aquela garota — Mia se referiu a Ilara.

Milena respira fundo e olha para os lados — Não é de sua conta, mas ela é só uma amiga.

—Não é da sua conta? — Mia se levanta e encara a morena — Como não é da minha conta? Até poucas semanas éramos namoradas.

—Você disse muito bem, Mia, éramos namoradas... Passado — Milena apertou com força as alças de sua mochila. Demonstrando o nervosismo que estava sentindo.

—Não faça isso com a gente...

Milena força um sorriso.

— Às vezes fica parecendo que fui eu, que acabou com nosso relacionamento.

—Mas foi você mesmo que terminou comigo.

—Terminei, porque você estava querendo namorar um garoto só para se fingir de boa moça, na frente de sua família.

Mia respira fundo. Gostava de Milena, mas tinha muito medo de seus pais, ainda mais porque a mesma pertencia a uma família evangélica e muito preconceituosa.

—Eu gosto muito de você.

—Me poupe disso tudo, Mia, se gostasse se mim nunca iria propor uma coisa dessas — Milena ia dar as costas para a loira, mas foi impedida.

—Fica...

—Pra quê? Pra você tentar me convencer a viver essa loucura sua? —Encarou a loira, que se aproximou.

—Não, eu quero que fiquei, pois estou com muita saudade de você e estou morrendo de saudade de seus beijos.

Milena fica espantada e sem esperar, sua boca é invadida pela a da loira. Uma mão macia foi colocada sobre a sua nuca. Ela estava sem saber o que fazer, mas não podia negar que estava sentindo falta de Mia, mas não podia deixar a loira brincar com seus sentimentos.

Mesmo gostando muito da loira, não poderia compactuar com aquele plano, pois não suportaria pensar na possibilidade de Mia ser beijada por outra na sua frente.

—Não faça mais isso — Empurrou a loira e passou a sua mão na boca, suja de batom rosa — Nunca mais faça isso! — Falou e saiu a passos largos.

Mia volta a se sentar e fica aos prantos.

***

Já era noite e Ester foi se encontrar com Marina em um restaurante conhecido da cidade. Mesmo depois de tudo continuavam sendo amigas, mas na realidade sempre havia compartilhado uma amizade, mas com benefícios.

—Pensava que não viria — Marina falou ao cumprimentar Ester com dois beijos. Um de cada lado da face.

—Desculpa, você sabe como está o trânsito ultimamente.

—Sim, eu sei muito bem — Encarou a morena — Alguma novidade?

—As mesmas de sempre. Nada mudou — Ester respondeu, enquanto olhava para o cardápio.

—Como está sendo sua estadia como diretora do hospital?

—Uma experiência nada agradável. Todos me olham torto— Ester fala e força um sorriso.

—Quer mais outra prova de que você ama muito a Helena? — A loira comentou.

—Se fosse em outro lugar já teria largado tudo e voltado para São Paulo ne?

—Sim!

Ester respira fundo.

—Não quero sair daqui. Ainda mais, porque eu passei a ter esperanças de que ela sente o mesmo por mim.

—Que bom — Marina abaixa o seu campo de visão e fica pensativa.

—Droga! Te deixei triste? — Ficou preocupada.

—Não, pois eu sei que mesmo gostando de você, o seu amor sempre será dela. Não vou mais tentar te conquistar. Pois irei só me magoar. Tentarei partir para outra.

—Já tem alguém atrás de você?

Marina nesse momento se lembra de Marisa, parecia ser divertida. Mas mesmo aparentando ter mais de 25, parecia muito imatura. Achava que tudo se resolvia com sex*.

—Apareceu uma doida não minha vida — Marina falou e Ester riu. Conhecia sua amiga, a mesma não era de ficar ou dar esperanças para qualquer uma.

—O que aconteceu com a Marina, que gostava de mulheres mais ajuizadas?

—Está aqui, mas é que a moça estava tão empenhada em querer me conquistar. Que não pude deixar de dar uma oportunidade — Disse sem graça.

—Eu a conheço?

Marina ri — Acho que não... Nem eu a conheço direito.

Ester fica surpresa.

—Como assim? 

—Eu não sei nada dela... Nada, nem o nome —Levou a sua mão até o seu cabelo, demonstrando nervosismo.

—Se você não sabe nada dela, como ela vai te conquistar? — Ester não consegue não rir e Marina faz o mesmo.

—Não sei... Dei o meu número para ela, mas ela ainda não me deu sinal de vida.

Ester começa a rir sem parar.

—Ester? — Marina tenta fazer a outra parar de rir.

—Desculpa!

—Mudando de assunto. Quais são seus próximos passos?

Ester para de rir e fica pensativa.

—Vou alugar uma casa próxima a de Helena. Quero ver ela fugir de mim agora. Vou ficar sempre em cima dela — Fala com convicção — Nem o Augusto e nem ninguém vai me impedir de ter essa mulher novamente em minha vida.

***

Já estava prestes a dormir, quando Ilara se lembrou de tudo que havia acontecido naquele dia. Na conversa que havia tido com Michelle e também sobre suas suspeitas estarem se confirmando. Estava gostando de Michelle.

Nesse momento não teve como não ficar com medo. Tudo o que estava sentindo ao mesmo tempo que vinha de uma forma boa, também poderia lhe fazer mal. Pois, Michelle era sua professora, mais velha e também mulher. Por que a gente não consegue se apaixonar por pessoas menos complicadas?

Ilara estava tão confusa. Se deitou de lado na cama e encarou a porta de seu quarto.

Isso de se apaixonar estava se tornando algo tão complicado. Será que não tinha como se desfazer disso? Será que não tem um botão que desliga tudo isso?

O que mais estava deixando Ilara confusa era isso, mal conhecia Michelle. Era sua professora, mas não tinha contato com a mesma. Como poderia passar a gostar de alguém assim? Uma troca de olhar rápida e pronto tudo parece que muda. Vários sentimentos passam a nascer dentro de nosso peito tudo de uma vez. Será que não poderia ser mais devagar? 

Ilara se remexeu na cama muitas vez. Não estava conseguindo dormir. Encarou o teto, as paredes, a porta, seus móveis e nada do sono vir.

Aquela noite em sua casa estava mais tranquila. Seu pai não havia ido dormir em casa. Parecia que teria que ir a uma outra cidade resolver algumas coisas do hospital, mas voltaria no dia seguinte, pois de acordo com seu pai, Ester era incompetente e não sabia fazer nada sozinha. Se sentiu mais aliviada por isso, pois seria menos uma preocupação. 

Em sua casa tudo estava calmo, mas nada dentro de seu peito esquerdo estava.

Não aguentava mais se remexer na cama, quando olhou para cima do criado-mudo e notou o seu celular vibrando. Estranhou aquilo, pois não era costume receber mensagens àquela hora da noite.

Querendo ver do que se tratava, esticou o seu braço e pegou o celular. Ao destravar a tela, notou uma notificação do facebook. Era uma mensagem. Pronto! Seu coração começou a bater em um ritmo forte. Poderia achar que estava com algum problema de saúde, mas era somente uma mensagem de sua professora. No entanto, àquela hora da noite?

***

Depois daquela conversa com Ilara de manhã, Michelle não conseguiu fazer mais nada direito. Ficou perdida nas explicações. Estava muito preocupada com a garota.

O que o pai de Ilara fazia com a mesma? Tantas coisas ruins lhe veio à mente e isso a deixava muito angustiada.

—Droga! — Falou quando havia terminado sua última aula naquele dia. Encarou os vários matérias sobre sua mesa e ficou sem saber o que fazer. Queria falar novamente com a garota, porém a mesma aparentava querer manter distância.

Precisava achar um jeito de marcar um encontro com a garota. Não iria conseguir ficar um final de semana inteiro sem saber como Ilara estava.

Voltou para casa naquele dia mais cansada que de costume. Sorte que Marisa estava concentrada olhando algumas coisas no notebook e nem ligou muito para ela naquela noite. Sua irmã parecia bem concentrada em frente a tela, mas Michelle não fez questão de saber o que a outra estava fazendo.

Como precisava muito repor suas energias. Michelle se deitou mais cedo. No entanto, não conseguiu dormir. Pensava em Ilara constantemente. Nem fazia mais questão de tentar entender o que sentia. 

A todo momento, pensava na imagem de Ilara chorando. Isso lhe doía demais. De alguma forma aquele ato lhe feria. Se revirou na cama várias vezes. Não estava conseguindo dormir, mesmo estando cansada.

Não tendo uma outra escolha, Michelle mesmo sabendo que já estava um pouco tarde, pegou o seu celular e mandou uma mensagem para a aluna. De alguma forma queria dizer tudo o que o seu coração estava mandando. Ao digitar uma simples mensagem tanta coisa passou por sua mente, mas não podia dizer o que seu coração pedia para dizer. Disse somente o necessário para acalmar o seu coração por aquela noite.

Fim do capítulo