Boa noite meus amores!
Gostaria de avisar que esse capítulo pode conter vocabulário chulo e cenas de violência.
Capítulo 4
Lívia
- Me dá um beijo?
Céus, era tão difícil resistir a Nanda. Sabe o gato de botas? Então, ela era o gato de botas sexy! Eu não podia fazer isso, se eu fico com essa assanhada agora, nunca mais existiria a possibilidade d’eu namora-la.
Tapei os lábios dela com a mão e dei um beijo, ela revirou os olhos. Lembro do exato momento em que ela puxou minha mão e prendeu no chão, ficando tão colada a mim que nossas respirações se misturavam. Sim, eu sou mais forte, mas minha intenção não é medir forças e sim ensina-la sobre um relacionamento.
- Fernanda, eu não quero – minha voz saiu trêmula, ela riu, sabia que era mentira. Negou com a cabeça, se afastou e passou os dedos delicados em meus lábios!
- Quer sim! – riu e voltou a deitar-se sobre mim. Desprendi um dos meus braços e carinhosamente passei ao longo do rosto dela. Fernanda fechou os olhos, inclinou a cabeça e beijou a palma da minha mão.
- Sucumbir ao desejo carnal pode aniquilar a minha alma – ela arregalou os olhos – o fato da gente gostar de alguém não impede que sintamos desejo por outras pessoas, mas a gente tem que pesar o que é mais importante, um momento efêmero de luxúria ou o companheirismo, afeto e lealdade contínuos.
- Meu Deus, Lívia! A gente vive uma época de poliamor e você com essa cabeça fechada! – sério que ela disse isso gente? Meu sangue subiu, tenho certeza que ficou bem claro porque a lourinha me olhou assustada.
Empurrei a Fernanda, me levantei, fui ao quarto dela e peguei minhas coisas que estavam lá desde o dia que eu a levei ao hospital. Ela me olhou com uma sobrancelha arqueada.
- Se é isso que você quer Fernanda, continue sendo essa menina mimada, que gosta de usar os outros e de servir como objeto sexual alheio. – eu fitei bem os olhos verdes que a essa altura também já estavam irados – eu preciso de uma mulher ao meu lado não de um vibrador. – virei as costas para ir à porta, mas senti meu braço esquerdo ser apertado com força, as unhas dela penetraram minha carne.
- Eu não tenho culpa se você não conseguiu despertar nada em mim além de tesão – sussurrou baixo, mas com o claro objetivo de me ferir. E feriu, como uma pequena adaga incrustrada em meu peito. Eu olhei para os lindos olhos verdes, tão desprezíveis nesse momento.
- É verdade, Maria Fernanda, não é culpa sua ter nascido assim, oca por dentro, talvez tenha sido defeito de fabricação mesmo. – nossos olhares duelavam, ela engoliu com dificuldade, o maxilar claramente travado.
- É, mas só o defeito de fabricação aqui te satisfaz plenamente – cuspiu as palavras em minha cara. Ok, isso era verdade, mas ela não precisava ter tanta certeza, pior, falar dessa forma.
- Você se contenta com tão pouco – o ódio me subiu, e eu não consegui controlar as minhas palavras – sabe o que você é? Aquela secretária gostosa que o empresário contrata para foder, a baba que o pai de “família” vai ao quarto a noite para se aliviar, você é o estigma da mulher que serve como objeto sexual, mas se lembre que em todos os casos “eles” voltam para as esposas, porque elas que são importantes, até um vil adúltero sabe disso, enquanto as amantes ficam sozinhas, sabe por quê? Porque elas só servem para serem usadas, assim como você. – eu me arrependi no momento que eu proferi a última vogal, mas não podia voltar atrás.
- Vai embora daqui, agora. – ela falou com a voz rouca, estrangulada mesmo. Eu levantei minha cabeça, puxei meu braço com rapidez, senti o ardor, mas me neguei a mira-lo, virei as costas e fui embora sem olhar para trás. Antes de chegar ao elevador já tinha escutado a porta bater com força. E mais, tive a nítida impressa de ouvir coisas caindo e vidros quebrados. Comecei a me preocupar com a própria integridade física da Nanda.
Olhei meu celular esquecido no banco do carro. Várias ligações da Bruna, com certeza irritadíssima com o meu sumiço, ou não. A Bruna era outra que eu não entendia a cabeça, sei lá, talvez eu que não saiba lidar com as mulheres mesmo. Retornei a ligação, precisava conversar com alguém mesmo.
- Onde você está, Lívia? – me perguntou séria.
- Saindo da casa da Fernanda – respondi com a voz rouca. Ela percebeu que alguma coisa não estava bem. – você ainda está com o Pedro na praia?
- Não, já está quase escurecendo, fomos embora a um tempo. O que houve?
- Talvez a Fernanda precise de um amigo, para falar mal de mim, inclusive! – disse com um nó na garganta. – a gente brigou e eu explodi, você sabe. Sempre dá ruim nesses casos. – encolhi os ombros e suspirei rendida. Ela pareceu soltar uma lufada de ar da boca, mas com paciência me perguntou:
- E você como está?
- Não estou bem, mas com certeza estou melhor que ela. – suspirei, passei a mão nos cabelos desgrenhados e continuei – vou para casa, acho melhor ficar sozinha para pensar melhor.
- É, é bom mesmo. Vou ligar para o Pepê, fica tranquila. – respirou fundo – o seu problema é esse Liv, você vai guardando as coisas e quando explode...voa merd* para tudo quanto é canto. – ralhou de leve, com a voz doce, como quem repreende uma criança.
Desliguei o celular e fui para casa.
Um mês era o tempo que eu tinha sem vê-la. Eu a evitava passar pelo estúdio de dança, e ela pela área de musculação, ao menos no horário que eu frequentava, sequer nos encontrávamos pelos corredores.
Mas as fofocas, nossa! Essas me encontravam fácil. Parecia que a todo momento alguém falava da Nanda, as vezes comentários bobos sobre a nova coreografia que ela postou, no entanto, muitas, muitas vezes, eram sobre a agitada vida sexual da lourinha.
Olha, vou dizer uma coisa, a Fernanda é ninfomaníaca, tenho certeza! Óbvio, que muita coisa não era verdade, mas, se apenas 10% do que falaram fosse real, já seria o suficiente para indica-la a um profissional competente para realizar algum tratamento, não era normal aquilo. Até o senhorzinho da portaria sobrou nessas histórias.
A verdade é que a Fernanda realmente aprontava, mas dessa vez ela passou dos limites, pior que eu também.
Eram 04:00 horas da manhã quando meu celular tocou. Não sabia o que era, mas com certeza coisa boa não seria. Não reconheci o número. Só faltava ser trote de presidiário.
- Alô, quem é? – atendi ríspida. Não sou obrigada a ser gentil com quem atrapalha meu sono.
- Lívia? – uma voz masculina meio aflita ressoou do outro lado da linha. – é o Pepê. – não preciso nem dizer que me deu uma taquicardia na hora, porque bem, para o Pedro me ligar, ainda mais aquele horário, alguma merd* colossal a Fernanda tinha feito.
- O que foi que aconteceu, Pedro? – perguntei aflita e impaciente.
- Eu não sei mais o que fazer com a Fernanda. – falou triste. Eu suspirei, se ele não sabia imagina eu. – naquele dia que vocês brigaram eu estive no apartamento dela, ou no que restou dele. A casa estava uma bagunça, cacos de vidro para todos os cantos, cadeiras no chão, fora o estado da própria né?! Nunca soube o que você disse para ela, mas acho que está na hora de você limpar sua bagunça! – Como? Não entendi.
- Cada uma, a Fernanda apronta e a culpa é minha? – rosnei ao telefone, que audácia!
- Lívia, entenda, eu não sei o que você falou para aquela maluca, mas ela está parecendo outra pessoa. Quase possuída. Ui. Chega me deu uma coisa aqui – veado é uó viu?! – ela sempre foi descarada, assanhada, dada mesmo, mas não do jeito que está. – eu suspirei.
- E venha cá, isso é hora de você discutir a minha relação com a Fernanda por telefone?
- Ui, tá toda trabalhada na grosseria hein?! – cheio de gracinha. – Eu estou te ligando porque não sei onde a Nanda tá. Quer dizer, na verdade até sei, mas não posso entrar lá. É uma casa de diversão para mulheres, na verdade, alguns homens conseguem entrar, mas eu não tenho esse cacife! – falou meio sem graça – mas vá por favor, Lívia, você é a pessoa que melhor tem controle sobre ela. – juro que eu gargalhei no telefone – não estou brincando! Esse lugar é barra pesada, rola muita droga, prostituição, você não quer a lourinha num lugar desses né?!
- Sinceramente? Eu quero que a Fernanda se lasque! – ele ficou mudo no telefone – mas vou fazer isso pela família dela que não merece passar por esse sofrimento por conta dessa irresponsável!
Anotei o endereço, realmente era um buraco perdido em lugar nenhum. Só reconheci pelas luzes vermelhas, parecia um bordel. Os seguranças mal-encarados permitiram a minha entrada após uma longa analisada no meu perfil. Dentro do local era pior ainda, homens e mulheres se esfregando no palco, alguns até despidos com o público, majoritariamente feminino, passando a mão. Um nojo! O cheiro então...muito desagradável, uma mistura de suor, cigarro e mofo.
Em razão da penumbra do local tive dificuldade em encontra-la, as vezes penso que seria melhor não a ter visto. Nanda estava em um canto se pegando com duas mulheres, sentada em cima de uma mesa, uma delas sugava os lábios da garota e a outra o seio já desnudo. Mas a voracidade do ato me dava arrepios, a dançarina parecia vidrada olhando para o teto, só então eu vi um pozinho branco em uma das cadeiras. Desde quando a bailarina usava essas porcarias? Não, não mesmo. Inaceitável isso.
Eu cheguei a mesa e as mulheres me olharam, eram gêmeas. Igualmente nojentas diga-se de passagem. Sorriram para mim com lascívia, eu fechei a cara.
- Olha só, essa garota é minha namorada, eu vou leva-la para casa e não quero problemas. – puxei a Nanda pelo braço que me olhou surpresa. Tentou se desvencilhar das minhas mãos, no entanto, eu era mais forte. Senti meu braço sendo puxado.
- Ela só vai se ela quiser – as gêmeas com dois pedaços de pau nas mãos me miravam. – Ok, eu ia apanhar feio por conta dessa maluca.
- Eu quero ir com ela – falou a Nanda, provavelmente para me poupar dessa surra.
- Tem certeza? A gente pode resolver por aqui. – uma delas me mirou de cima a baixo.
- Tenho sim, estávamos brigadas, mas se ela veio aqui é porque me ama. – me abraçou e selou nossos lábios. Foi um momento rápido mas suficiente para trepidar meu coração.
Saímos daquele circo dos horrores com os seguranças desconfiados nos olhando. Eu ainda carreguei uma garrafa de água fechada que vi pelo caminho. Assim que entramos no carro eu o arrastei ferozmente.
- Joga água nessa sua cara que está horrível – ela jogou a água em mim.
- Eu faço o que eu quiser da minha vida, caralh*! E você não tem nada a ver com isso. Enfie seu moralismozinho barato no seu cú! – me respondeu arredia.
- Uma puta drogada foi isso que você se tornou, Maria Fernanda? – eu a olhei de relance – seus pais teriam vergonha se te vissem agora.
Os segundos seguintes passaram muito rápido, a Nanda meteu a mão no volante, o carro por um fio não se chocou com um caminhão que passava na mão oposta. Eu parei o automóvel no acostamento, tentando controlar minha respiração descompassada, ela também estava assustada. Arriscar nossas vidas era a gota d’água.
- Desce do carro, Fernanda – sussurrei. Ela visivelmente me olhou assustada, acho que até o efeito da droga passou.
- Lívia aqui é estrada, se você me largar aqui vai ser difícil d’eu chegar em casa.
- Desce do carro, Maria Fernanda! Agora! – gritei. Ela me obedeceu com o medo nos olhos. – coloca as mãos no capô. Ela sorriu, provavelmente pensando besteira. – eu vou te dar uma coisa que seus pais nunca deram. O sorriso dela alargou, principalmente quando eu abaixei a sua saia juntamente com a calcinha fio dental branca.
- Eu sabia que você não resistiria tanto tempo sem mim. – se gabou.
- Eu quero que você aguente tudo em pé, ouviu? – sussurrei fria em seu ouvido enquanto segurava os fios louros com força.
Retirei meu cinto, e bati na nádega esquerda dela, ela gritou tentou se soltar, mas eu continuei, desferir uma série de cintadas na bunda dela, até meu braço cansar, ela não aguentou e se ajoelhou no chão, com as lágrimas já rolando em seu rosto vermelho.
- Isso é para você aprender a ser uma mulher, não uma menina mimada e irresponsável! – sussurrei para ela que se escorava no carro, tentando ficar em pé. – entra, agora! – gritei e a loura com dificuldade se pôs em pé. Assumo que bati mais do que o suficiente, mas não me arrependia.
Fernanda entrou no carro e tentou em vão sentar de uma forma confortável. Vez ou outra me olhava de soslaio cheia de ressentimento. As lágrimas ainda caiam de seus olhos quando estacionei na garagem do meu prédio.
- Vai me levar para uma sessão de tortura agora? – perguntou magoada.
Não respondi nada. Abrir a porta do carro e a fiz descer, ela andava com muita dificuldade. Pegamos o elevador e enfim chegamos ao meu apartamento. Ela olhou sem entender.
- Você está em minha casa, pode tomar banho um banho no meu quarto, ali à esquerda. – apontei o cômodo – pode usar todos os produtos que quiser, mas tire esse odor de puteiro do seu corpo.
Ela me olhava ainda com um certo receio. Encaminhou-se para aonde eu indiquei. Eu fui para o banheiro de visitas, tirei a roupa e tomei um banho gelado, o melhor remédio nesses momentos. Após cerca de vinte minutos fui ao meu quarto enrolada em uma toalha, a mulher se encontrava deitada na minha cama, nua, em posição fetal, parecia chorar ainda.
Meu coração apertou, no final das contas eu a amava. Me vesti, peguei uma pomada no banheiro e me sentei ao lado dela na cama. A loura se encolheu mais.
- Eu vou passar uma pomada, a dor vai diminuir, eu prometo – falei baixinho e com carinho.
Ela deixou eu passar a pomada, eu sentia o seu corpo estremecer de dor, doía em mim também vê-la desse jeito. Terminei e me deitei ao seu lado. Dormimos rapidamente daquele jeito, lado a lado, o cansaço emocional realmente nos derrubou.
Apesar disso, no meio da noite senti um peso no peito, olhei para baixo e vi a Fernanda com a cabeça sobre meus seios e um dos braços na minha cintura, com certeza naquele momento eu só poderia ter os melhores sonhos.
Fim do capítulo
Minhas princesas,
Eu estou numa fase pessoal meio difícil então perdoem se eu pesei a mão.
Agradeço de coração a todos os comentários, vocês me fazem muito feliz ao demonstrarem esse carinho!
Um beijo a todas!
Comentar este capítulo:
mtereza
Em: 06/03/2017
Nossa surra de cinto é sério a Lívia descarregou mesmo toda sua raiva e mágoa nesse ato sei que talvez possa argumentar que ela mereceu mais violência física sempre me choca nunca é sustificada afinal ela não é mãe dá Fernanda é nem que fosse.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]