Em meio a tantas confusões aquela noite estava sendo desastrosa. A todo momento, Augusto discutia com seus pais e tios. Ilara que estava quieta em sua cadeira, tentava de todas as formas não direcionar o seu olhar para onde sua professora estava.

Ester ainda não havia chegado e isso estava deixando o clima nada agradável. Helena que tentava não falar nada durante aquele jantar e nem fazia questão de acalmar o seu marido, estava sentindo uma ansiedade muito grande dentro de si. Iria rever um grande amor do passado... Isso fazia as suas mãos suarem e o seu coração bater em um ritmo acelerado.

Quando já se passava das 8:30 da noite, Ester surgiu acompanhada por uma bela mulher loira. Aquelas duas mulheres chamaram a atenção de todos.

Ao ver Ester ao lado de uma outra mulher, Helena sentiu o seu coração falhar uma batida. Ainda mais porque a mulher que estava ao lado de Ester era muito bonita, bem cuidada, não era como ela, uma mulher que vivia só para cuidar dos filhos e do marido.

— Boa noite — Ester se aproximou da mesa de seus familiares, e falou com um tom rouco, que mexeu com a imaginação de Helena.

Naquele momento todos ficaram de pé, para poder cumprimentar a morena de 43 anos, magra, que tinha uma bela aparência.

Ao se deparar com Helena, Ester não foi capaz de emitir nenhuma reação, parecia que ela considerava Helena apenas como uma pessoa que havia feito parte de seu passado.

— Vejo que está acompanhada por uma bela mulher, hein, filha — Fagundes falou ao olhar para Marina ­— uma mulher loira, 42 anos de idade, magra e era arquiteta.

— É uma amiga, pai — Ester ficou olhando para todas as pessoas presente, que ainda não haviam trocado nenhuma palavra com ela.

— Amiga sei ... — Augusto cruzou os seus braços ao resmungar.

— Filho — Amélia, mãe de augusto, falou.

— Deixa, tia Amélia, eu sei que o Augusto estava morrendo de saudade de mim — Ester quis provocar o seu primo.

— Saudades de você? Eu não sinto saudade de vadia não — Augusto começou a ficar irritado.

— Augusto, se acalme — Helena levou a sua mão até um dos braços de seu marido. Ao ouvir aquela voz de Helena, Ester a encara, e isso deixa Helena um pouco constrangida.

— Bom, como sei que meu primo é muito mal educado, nem vou respondê-lo — Ester falou e depois sorriu — Quem são esses dos jovens? Seus filhos, Helena?

— Meus filhos e quero que você fique longe deles — Augusto falou e seus pais reprovaram aquele comportamento.

Não demorou muito para todos voltarem a se sentar. Ilara se permitiu encarar a prima de seu pai por um tempo. Queria saber o porquê de sua mãe ficar tão estranha ao falar daquela mulher.

Ester notou os olhares de Ilara e acabou retribuindo algumas vezes... Ver aqueles dois filhos de Helena de alguma forma a fez sentir inveja de Augusto. Tentava fingir que Helena não a importava mais, que não pensava mais na mesma, porém aquilo em um determinado momento não foi mais possível.

Marina ao notar, o que estava acontecendo com Ester, segura a mão da mesma, e sorri gentilmente para a morena. Sabia o que estava se passando com a mesma, então queria confortá-la.

Helena ao ver aquela troca de caricias entre as duas mulheres, abaixa a sua cabeça, porém não demorou muito para sentir o braço de seu marido evolvendo-lhe os ombros.

Augusto queria mostrar para Ester e seus parentes presentes, que ele tinha uma família de verdade.

O jantar estava sendo uma completa tragédia, a todo momento havia discussão. Ilara e Gustavinho não estavam mais aguentando aquele clima.

Michelle que acabou ouvindo boa parte das brigas da família de Ilara, se deu conta que a família de Ilara não era tão unida assim e que o pai da garota era um completo estupido.

— Já conheci homens chatos, mas igual aquele homem da mesa ao lado não... Ele parece querer se achar o macho alfa — Marisa comentou ao olhar para a mesa ao lado.

— Alguns homens se comportam dessa forma, mas nem todos — Michelle diz.

— Sim, mas aquele dali está batendo recorde — Marisa fala e Michelle abaixa a sua cabeça. Ela estava pensativa, querendo entender o que tanto acontecia com Ilara, que a deixava tão pensativa durante suas aulas... Será que tinha problemas em casa. Do jeito que o pai era estupido poderia ser isso mesmo que estava acontecendo.

Quando viu uma oportunidade de conversar com Ilara, Michelle não pensou em nada, somente se levantou de sua cadeira e seguiu Ilara até ao banheiro.

Ilara que não estava mais aguentando aquele clima estranho, vai até o banheiro, precisava ficar um tempo sem ouvir o seu pai discutindo com Ester... Aquela situação já estava ficando chata, seu pai não conseguia ficar muito tempo sem falar sobre a sexualidade de sua prima.

Isso já estava deixando Ilara incomodada, pois isso queria dizer que seu pai não aceitava homossexuais e isso lhe atingiu de alguma forma, pois ela a cada dia estava tendo certeza que ela estava sentindo algo por sua professora, ela ainda não havia conceituado o que estava sentindo, mas sabia que era algo que não seria bem visto pelo seu pai.

Ao chegar no banheiro, Ilara se olha no espelho... Ela não conseguia se ver bonita, mesmo sendo. Tentando ajeitar o seu cabelo, ela coloca algumas mexas atrás da orelha. Após terminar, ela abre a torneira e de lá a água sai forte... Lava as suas mãos e após terminar, ela nota a presença de Michelle naquele ambiente.

Como Ilara, Michelle estava confusa, não conseguia conceituar o que estava sentindo... Os olhos castanhos de Michelle invadiram os de Ilara. Será que elas estavam querendo dizer algo a outra que não poderia ser dito por palavras?

— Ilara? — Michelle chamou ao se aproximar, sua voz saiu rouca, isso fez os pelos do corpo de Ilara se arrepiarem.

Ilara ficou sem saber o que fazer, Michelle estava se aproximando, aquilo estava lhe causando um desespero muito grande... Seus batimentos se tornaram rápidos... Será que poderiam ser ouvidos por Michelle?

— Preciso ir, professora — Ilara queria fugir, queria sair dali para poder acalmar o seu coração, todavia, Michelle a impediu... Segurou o braço da mesma em um gesto impensado.

Ilara olhou para aquela mão em seu braço e depois encarou Michelle, seu olhar percorreu os olhos da mesma. Aqueles olhos castanhos a sua frente a perturbava tanto. Lhe invadia com tanta intensidade e isso a deixava com medo.

— Tá tudo bem? — Michelle perguntou ao perceber que estava se passando uma confusão dentro de Ilara.

            — Eu não sei — Ilara tenta se afastar de Michelle, que se mantem em seu lugar.

            — Vi que está com a sua família— Michelle tenta puxar assunto com sua aluna.

            Ilara se vira de costas para Michelle e encara a mesma através do espelho do banheiro... Ela estava querendo saber o porquê de sua professora ter se aproximado dela daquela forma... Mesmo ela sabendo que estava sentindo algo ao estar com sua professora, aquela aproximação não era algo que ela estava desejando naquele momento. Ilara precisava entender o que estava acontecendo com ela. Precisava entender o porquê de seu coração bater tão forte ao estar perto daquela mulher.

            Michelle ficou parada e se recriminando mentalmente... O que ela estava fazendo? Ilara parecia não querer ter contato com ela fora do colégio — Eu só posso ser muito idiota mesmo — Pensou.

            —Ilara, desculpe-me — Michelle abaixou sua cabeça e fez menção de sair daquele lugar, todavia foi impedida pela mão ágil de Ilara, que foi ao seu encontro e segurou-lhe o braço.

Michelle assustou-se com aquele ato e Ilara também, pois havia sido algo sem pensar, quando ela viu já estava virando o seu corpo e andando de uma forma apressada até Michelle.

            —Não... Precisa... Se desculpar — Naquele momento a fala de Ilara saiu com dificuldade. Lentamente, Ilara tirou a sua mão do braço de Michelle, que acompanhou, com os seus olhos, aquela mão macia sendo tirada de cima de sua pele.

            Depois disso, elas ficaram sem saber o que dizer... Tudo estava confuso naquele momento... Elas se encararam... Olharam-se nos olhos, por um tempo incapaz de ser cronometrado.

Perdida em divagações, IIara sentia um aperto no peito. Uma coisa estranha que a confundia a cada vez que via Michelle. Sentia um medo, uma confusão de emoções. Não sabia como definir, nem entendia como em tão pouco tempo acabou por ficar tão aturdida. Mas, Michelle mexia com algo dentro dela. Havia nela algo que a atraia e ao mesmo tempo queria fugir. Queria de fato esconder-se. Talvez não voltar a vê-la nunca mais. Um medo estava consumindo Ilara naquele momento e isso a fez sair correndo daquele bainheiro. Deixando, Michelle naquele lugar sem saber o que pensar, mas com um arrependimento aparente...

CONTINUA...

Fim do capítulo