Carolina foi direto para casa. Assim que adentrou percebeu que havia algumas malas perto do sofá da casa de seus pais. Algumas eram de sua avó e as outras... Eram suas! Sem entender o que estava acontecendo se aproximou do pequeno grupo que estava sentado.

Samira lhe recebeu com um abraço terno, carinhoso e cheio de amor. Os demais apenas lhe ofereceram um sorriso amoroso. Olhou para seu pai e a velhota, esperando que alguém falasse algo.

- Espero que seu passaporte esteja em dia! – Disse Hellen séria. – Odiaria ter que adiar a viagem! – Sorriu de lado pela reação de sua neta.

- Não entendi? – Fitou cada um dos três.

- Simples! Você vai viajar com a velhota! – A voz atrás de si chamou sua atenção.

- Sabia que você estava metida nisso Ana! Eu não vou viajar! Estou cheia de problemas para resolver! Uma empresa para cuidar! Funcionários para administrar! Projetos para criar! Sem falar que não tenho ideia alguma... Parece que minha criatividade foi pro mesmo lugar que a memória de Manuela! Já cansei de tudo isso... – Despejou tudo com tanta raiva e velocidade que todos os que estavam ali, não á reconheceram. Parecia outra pessoa... Não era mais aquela menina cheia de sorrisos e brincadeiras.

Robert mais que todos se sentiu culpado, por ter deixado tudo nas mãos de sua filha. Mas o problema não era a empresa, disso todos tinham certeza. O problema era a última frase que sua filha disse. Não deixaria mais que ela administra-se a empresa sozinha. E já tinha algo em mente, algo que Samira aprovava.

- Filha você escutou o que disse? – Falou todo preocupado. – Você está assim por causa de Manuela...

- Pai!

- Seu pai tem razão! – Samira apertou Carol em seus braços. – Será bom para você se distrair e conhecer pessoas novas, longe de tudo isso.

- Mas...

- Sem mais criança! – A velhota levantou. – Estamos a par de tudo! – Carolina olhou para Ana que respondeu com um lindo sorriso de culpada. – Você vai comigo e irá voltar com aquele sorriso de boba alegre!

- Pelo jeito não tenho como opinar... – Disse fazendo biquinho e recebeu uma resposta unanime de todos.

- Não! – Assim que terminaram de falar, Robert, Samira, Ana e Hellen sorriram juntos. Carolina sabia que estavam contra ela, mas nem ela sabia em que lado estava.

- Tudo bem... Tudo bem! Quando partimos velhota?

- Daqui á três horas! – Carol apenas levantou a sobrancelha e não disse mais nada.

Carolina despediu-se de Alfa e Bia. Pediu para que uma cuidasse da outra. Não sabia quando ia voltar, mas deixou claro para Bia que voltaria nadando se a menina precisasse dela. Deu um longo abraço em Joana e seguiu para o carro, onde estavam os quatro a esperando. Assim que se sentou entre Ana e Hellen perguntou:

- E então velhota, para onde vamos?

- Para um país de mulheres “calientes”! – Carol sorriu achando graça.

- Espanha?

- E onde mais seria?

§

As horas passaram lentamente para Manuela, que não teve notícias de sua chefe desde que ela saiu pela porta. Sorriu assim que acabou de organizar a estante, pois Carolina apenas tinha tirado os livros do chão. Assim que seu expediente terminou, Manuela seguiu para seu apartamento.

Tomou um longo banho, para ver se conseguia descarregar todos aqueles sentimentos que estavam lhe sufocando.

Estava nua em frente ao guarda-roupa sem saber o que vestir. Foi quando se lembrou de algo que estava em sua gaveta. Pegou a camiseta de tecido gostoso e vestiu. Na frente do espelho pode ver o número 24 e o quão grade aquela camiseta fica em seu corpo.

- Se já era grande nela, imagina em mim! – Riu ao recordar-se de Carolina usando aquela camiseta. – Nunca vi uma pessoa gostar tanto de números sugestivos... – Sorriu achando graça da situação. – Onde será que ela passou o dia...

Manuela encomendou sushi e arrumou as coisas para a janta, na mesa de centro da sala. Escolheu um filme e lá ficou até sentir o sono batendo. Ao deitar na cama abraçou o travesseiro e sem muito esforço acabou dormindo.

Eram dez horas da noite quando Félix chegou todo arrumado na porta do apartamento de Manuela.

- Lindo como sempre! – Félix não estranhou o elogio, mas sim o longo beijo que Manu lhe deu. Desde que a moça havia cruzado o caminho de Carolina ela estava diferente com ele, mesmo que não fosse proposital da parte de Manuela.

- E você está deslumbrante! – Entrou e foi sentar-se no sofá. – Mas então ao que devo a honra do convite para sair? – Estava curioso.

- Há nada! Não posso passar um tempo com meu noivo? – Disse séria.

- Manu... E a Carol? – Félix notou a feição da moça mudar.

- O que tem ela? – Não estava a fim de estragar a noite.

- Eu não sei, diga-me você?

- Ok! Serei breve... Carolina fez parte das memórias que esqueci! – Disse sem muita animação.

- E você fala isso assim? Como se não fosse nada? – Estava incrédulo.

- Olha Félix... Eu e Carolina não temos mais nada! E o que tivemos ficou no passado. Hoje somos apenas colegas de trabalho... Posso te garantir isso. Com o tempo eu te conto tudo que quiser saber, pode ser? Mas agora eu adoraria aproveitar a noite. – Disse dando um beijo na bochecha do rapaz.

- Ok! Mas vou querer saber tudo... – Já que uma bela parte eu sei! Pensou. – Espera um pouco Manuela... Você lembrou? Recordou-se de tudo? – Não foi difícil associar as palavras da noiva.

- Sim! Mas isso não importa... Vamos? – Estava querendo esquecer de Carolina e Félix não estava ajudando.

- Carolina sabe que você lembrou? – Realmente Manuela estava muito revoltada.

- Não... E não pretendo falar! Porque Félix está amiguinho dela agora? Quer terminar o noivado? Não está feliz comigo? – Félix arregalou os olhos, realmente Manu estava possuída por alguma coisa. E por mais que doesse ele amava aquela mulher.

- Não meu amor, só queria compreender tudo...

- Outra hora, pode ser? – Félix notou que Manu não estava querendo falar sobre aquilo.

- Tudo bem então...

Félix estendeu o braço que logo foi engatado por Manuela. O caminho até o restaurante foi feito em meio uma conversa divertida. Em nenhum momento o assunto Portman foi abordado. Após o jantar resolveram esticar a noite e o local já era obvio, a boate “TwoNights”.

Estavam em uma mesinha bebendo quando foram surpreendidos por Fabio e Jenny. Os dois sentaram-se junto ao casal e ali ficaram conversando. Manuela percebeu que após o seu acidente não tinha muitos amigos, na verdade somente socializava com os amigos de Félix, outra coisa que o acidente prejudicou em sua vida, mas já estava se readaptando.

Já passava das duas da manhã e ninguém estava querendo ir para casa.

- Esse lugar é muito bom! – Fabio falou olhando para um rapaz todo tatuado.

- Claro, ainda mais pra você que adora lugares cheios de homens! – Jenny falou reprovando Fabio com o olhar.

- Que culpa tenho eu... Se homens são retrato dos Deuses Gregos!

- Oh Hércules da modernidade, você poderia disfarçar só um pouco... A baba tá escorrendo!

- Eu queria era que escorresse por todo aquele corpinho ali! – Sorriu apontando para o rapaz com tatuagens e Jenny cruzou os braços em reprovação. Manu e Félix apenas davam risadas dos dois.

 Quando a música passou a ficar mais agitada, Manuela avistou Dani, a garota estava sensualmente linda. Percorreu seus olhos pela extensão e logo encontrou Ana indo em direção da irmã. Sentiu seu coração disparar só de imaginar encontrar com Carolina. Começou olhar para os lados, mas nada da jovem aparecer. “Ela deve estar ‘comendo’ alguém no banheiro!”. Pensou já sentindo seu sangue ferver.

Ana encontrou o olhar de Manuela sobre si, caminhou em direção da moça. Fitou Félix por um tempo antes de falar:

- Boa noite! – Sorriu e beijou os quatro.

- Vejo que está aproveitando! – Félix referiu-se ao copo na mão de Ana.

- Sempre! E vocês? – Devolveu a pergunta.

- Estamos maravilhosamente bem! – Félix sorriu em resposta.

- Senta conosco Ana... Chama a Dani também, eu há vi. – Mas o que Manuela queria era ver outra pessoa. Sabia que Ana e Carol jamais saiam uma sem a outra, então Carolina estaria por ai... Mal sabia Manuela que Carol já estava a quilômetros de distância.

- Obrigada pelo convite Manu... Mas eu estou em uma aposta e não posso perde! – Disse convicta. Manu sorriu ao conhecer bem o castigo de limpar a piscina, mas logo fechou a cara quando se lembrou do que significada a palavra aposta.

- E o que você e a Carolina apostaram desta vez? – Por um instante Ana visualizou o olhar ferino de Manuela... Mas será? Não podia ser... Podia? Seus olhos se voltaram para Félix, que em resposta apenas ergueu os ombros.

- Dessa vez a aposta é entre eu e Dani. Apostamos quem beija mais e claro que estou no frente por dois. – Riu da cara que os quatro fizeram e Félix se deteve em apenas estreitar os olhos.

- Claro que está ganhando! Mulheres são mais difíceis que homens! – Dani falou chateada.

- Hã, Hã! Sonha meu amor. – Ana piscou para a irmã.

Acabou que as duas se uniram ao quarteto e depois de Dani ter ganhado um lindo e belo fora de Jenny, encerraram as apostas. Já fazia mais de meia hora que elas estavam na mesa de Manuela e nada de Carolina aparecer, isso já estava deixando a moça apreensiva. Ana cutucou Félix por baixo da mesa e o rapaz pareceu entender.

- Vou buscar bebida! – Ana disse já se levantando.

- Eu ajudo. – Disse Félix prestativo.

Assim que estavam afastados o suficiente, Ana lhe encarou e falou rapidamente sem dar brechas para o rapaz.

- Ok, o que está acontecendo? – Viu que Félix ficou sem saber o que falar. – Desembucha Félix... A Manuela recuperou a memória? Sim ou não! – Foi objetiva não tinha tempo para perder.

- Sim...

- Como é que é? – Estava revoltada. – Ela recupera a memória e não fala nada para a minha amiga? É isso? Quem essa garota tá achando que é para brincar com a Carol desse jeito! – Estava enfurecida.

- Calma Ana...

- Como, calma Ana? Calma nada! Eu vi minha amiga quase morrer de triste... Por causa dela... – Foi interrompida.

- A Carolina também teve a sua parcela de culpa. – Defendeu a noiva.

- Sim eu sei! Mas Manuela não deveria estar agindo que nem uma criança birrenta! Quer saber Félix? Manuela irá se arrepender amargamente pelo jeito que estás levando essa situação... Carol é uma mulher incrível tem muitas qualidades, mas quando souber que Manuela recuperou a memória e não se dignou ao menos de lhe falar... Ela vai mostrar um lado tão negro quanto o que Manuela esta utilizando!

- Não é pra tanto Ana...

- Não? Não mesmo? – Baixou a cabeça lembrando-se de tudo que aconteceu desde aquele acidente. – Sabia que se não fosse pela minha amiga, a Manuela poderia ter morrido naquele acidente! Sabia que Carol tem uma cicatriz nas costas por conta disso? Sabia que Carol também ficou hospitalizada e quando teve alta encontrou a namorada em coma... E o pior quando Manuela saiu do coma a confundiu com uma enfermeira, por causa da roupa? Sabia que você nem ninguém sabe o que ela passou... É muito fácil para vocês verem somente Manuela como a vitima, mas te garanto que Carolina sofreu tanto quanto ela... – Ana respirou fundo.

- O que pretende fazer? – Félix estava preocupado e nem sabia por quem...

- O mesmo que ela! – Ana sorriu e pegou as bebidas.

O restante da noite transcorreu tranquilo, Ana sabia jogar qualquer jogo... Não perderia para ninguém. Daniela percebeu que a irmã tinha algo de diferente, mas nada falou. Já passava das quatro da manhã e ninguém saiu de lá, a bebida estava fazendo um excelente serviço.

- Bom e a pergunta que não quer calar é... – Fabio fez suspense. – Onde está a minha chefinha linda! – Manuela voltou à atenção para Ana.

- Foi viajar. – Disse como quem não quer nada. Imediatamente Manuela lembrou-se que Malvina estava viajando e não conteve a raiva.

- Deve estar se divertindo com alguma mulher por ai! – Ana levantou a sobrancelha direita.

- Conhecendo minha amiga... Mulheres não faltam! – Disse irônica.

- Disso não tenho dúvidas! – Respondeu sem tirar os olhos de Ana.

- Espero que ela aproveite este tempo, para repensar em certas coisas... – Manuela estreitou os olhos.

- Porque você não diz o que está entalado na garganta? Ana!

- Ótimo! Realmente espero que a Carol siga em frente... Pois já esteve aprisionada por cinco anos!

- Você sempre com as respostas prontas... Sempre acobertando a sua amiguinha! No fundo você gostaria de ser muito mais... – A bebida já tinha feito todo o estrago e Manuela arrependeu-se no mesmo instante que terminou de falar aquela frase. Ana por um instante ficou estática, balançou a cabeça levemente, desacreditando que havia escutado aquilo.

- Espero sinceramente que Carolina encontre uma mulher que a ame... – Olhou no fundo dos olhos de Manuela. – E quer saber Manuela? Ela vai! Pois tem uma família que a ama! Tema amigos que a amam! Tem funcionários que a ama... E tem uma irmã que a protege a cima de tudo, que sou eu! Então não será tão difícil de superar você... Ainda mais quando ela olhar no fundo dos seus olhos. – Ana não quis mencionar que sabia sobre a memória de Manuela, mas para um bom entendedor, aquelas palavras bastavam.

Ana retirou-se da mesa, pois aquelas palavras de Manuela a feriram profundamente. Dani a seguiu sem nada dizer. Sabia que sua irmã e Carol jamais tiveram algo, não gostou da forma que Manuela falou aquilo para Aninha. Já estavam andando pelas ruas, no Jeep de Ana, quando Dani falou:

- Não fica assim Ana...

- Você também pensa a mesma coisa que ela? – Perguntou triste.

- Não loira! – Disse puxando o cabelo da irmã. – Eu sei como vocês duas se amam, é reciproco e verdadeiro. Não liga para a Manu, ela já estava alterada e tenho certeza que se arrependeu do que disse.

- Tudo bem... Só espero que Carol se encontre.

Dani fez questão de dormir no apartamento da irmã, pois não queria deixa-la sozinha. E aproveitou a deixa.

- Ana... Porque você não deixa a Carol se aproximar de mim? – Ana fitou a irmã, não esperava uma pergunta daquelas.

- Como? Bebeu demais né!

- Me diz?

- Dani olha... A Carol ama a Manuela e você sairia machucada dessa história. E tenho certeza que Carol te respeita! Pois se ela não te respeitar eu corto os dedinhos dela... Aí sim ela não tentará mais nada! – Disse séria.

- Cruzes Ana! – Dani a repreendeu, mas assim que notaram o que Ana havia falado caíram na gargalhada.

- Se bem que ela ainda teria a língua... – Ficou pensativa.

- E pela cara, ela deve saber usar muito bem! – Riu da feição de Ana.

- Nossa! Eu podia ter dormido sem essa...

- Ana me promete que você não vai interferir... Eu gosto muito dela. Sei que quer apenas me proteger, mas eu quero muito ver onde isso nos levará... – Ana olhou nos olhos da irmã e viu sinceridade.

- Ai! Não acredito que vou dizer isso, mas tudo bem... Não posso te proteger para sempre. E se você gosta tanto assim dela... Quem sou eu para proibir. – Ana foi contemplada com o mais lindo dos sorrisos e um beijo estalado.

§

O domingo passou rapidamente. Ana e Dani almoçaram na casa dos Portman. Manuela e Félix foram para a casa dos pais da moça. Para desagrado de Manuela sua mãe estava lá. Não comentou com ninguém de sua família sobre sua memória, não sentiu que era a hora e Félix pareceu entender, pois nada comentou. Já Carolina estava se aventurando com a velhota pelas ruas de Madrid. Hellen realmente não perdia tempo quando o assunto eram corpos...

- Feminino ou masculino? – Estava olhando um belo casal que passava na rua. – Não faz diferença, quero os dois! – Apontou para o casal.

- Velhota! – Carol a repreendeu. – Respeita as pessoas pelo menos...

- Eu não! Você já respeita por nós duas! – Encarrou a neta. – Tá na hora de largar a batina e viver... Bora! – Levantou puxando o braço da neta.

- Mas para onde? – Perguntou preocupada.

- Não se preocupe, que sua avó aqui, conhece muitos caminhos...

 Carolina e Hellen sumiram no meio da multidão... Tudo que posso dizer é que Carol viria a ter alguns hematomas pelo corpo...

Fim do capítulo