Sentados em roda, na calçada em frente a escola, cinco alunos conversavam amigavelmente. Uma delas, Beatriz, nutria algum tipo de sentimento muito bizarro pela diretora. Ela dizia o quanto a desejava, dizia que dentro dos seus olhos existia um oceano profundo e que mergulharia nua caso precisasse. Os amigos sorriam e debochavam da perversão de Beatriz. Pedro, seu melhor amigo, era ninja em hilariar cada palavra da amiga.

-- Nossa, Bia... "Cê' é tão besta, velho. Nem se "cê" fosse nadadora pofissional, conseguiria mergulhar tão profundo.

- Verdade, Bia. É muita água para o seu "mergulinho". _ Retrucou Erick_

- Como vocês são chatos, "cara". Na moral. _ Respondeu ela_

- Calma, Bia. Não dê idéia para os meninos. Eles mal sabem admirar a beleza de uma mulher.

- Como é, Valquíria? _ perguntou Erick_

- Isso mesmo, Erickzinho. Até seu pai, casado com a sua mãe, pega mais mulher do que você. _ Valquíria falou aos risos_

- Até o Papa pega mais mulher que eu, Valzinha. Eu namoro e sou fiel a minha namorada. _ Falou fingindo seriedade_

- Claro! É a única que te quer. _ Cutucou o amigo debochando_

- Vamos parar com isso, "ceis" dois? "Ceis" não valem nada, gente. Na moral mesmo. _ Falou Pedro_

- Mas aqui, Erick... É sério, seu pai pega mais mulher do que você mesmo, sem dúvidas. _ Beatriz falou gargalhando alto_

- Ahhhh é, Bia? Então você é a "fodona", né? Vai lá e pega a diretora de jeito então, joga ela na mesa e mergulha no tal "oceano profundo". _ Erick falou sarcasticamente_

- Meu sonho, cara. _ Respondeu dando uma piscadinha.

Nicole, que até então estava em silêncio, manifestou-se dizendo:

- Olha lá gente, quem "tá" chegando.

- Caramba, Erick. Olha lá que espetáculo. Vai dizer que não é mil vezes mais bonita do que a sua namoradinha? _ Falou Beatriz deslumbrada_

- Namorada. _ Respondeu ele franzino a sobrancelha e dando um sorrisinho meio de lado_

- Que seja! _ Riu e continuou falando_ Fim de papo, gente. Vamos entrar, daqui a pouco o sinal vai bater.

- Espera, Bia. Ela vai passar aqui agora. Vamos continuar sentados. Não perco a visão daquelas pernas por nada nesse mundo.

- Nossa, Erick. Você é tão safado!

- Agora que "cê" percebeu, Bia? "Cêis" dois são muito safados. _ Falou Pedro gargalhando_

- Triste isso! _ Respondeu Bia_

- O que é triste, Beatriz?

Ao ouvir a pergunta, olhar para o lado e ver a dona da voz que lhe interrogara, Bia ficou estática, deu um sorrisinho sem graça e quando ia responder, Pedro com seus fones de ouvido, respondeu cantando:

- Te ver e não poder te tocar... La laia laia. 🎶🎶

Virando-se para Pedro, Beatriz altera a voz furiosa:

- Peeeedro. _ E continua_ Desculpa, diretora Helena. Esse Pedro não bate bem da cabeça.

Antes que Helena respondesse, Bia sai revoltada. Ambas adentraram o portão do colégio. Em seguida, Valquíria diz:

- Nossa, Pedro. Desnecessário.

- Verdade, Val. Agora ela deve estar com uma vergonha do "caralh*". _ Nicole falou indignada_

-Relaxa, gente. Para uma mulher feito a senhorita Rezende, isso tudo não passou de uma brincadeira de adolescente. Ela deve estar acostumada a ser cantada todos os dias, por todos os tipos de pessoas. Ela não se ofenderia com tão pouco.

- Não mesmo, Erick, mas a Bia saiu daqui bem chateada. Parece que ela gosta mesmo da diretora.

- De uma mulher daquelas, qualquer um gosta. Até eu que sou mais bobo. _ Falou rindo_

- Até eu que sou mulher, concluiu Nicole. Agora é sério, vamos entrar.

Na diretoria, Helena conversava com Érica, professora de Biologia, a respeito do conteúdo didático que estava sendo ministrado. Sua sala era bastante arejada, possuía largas janelas de vidro. Todas as paredes eram brancas, com exceção de uma que apresentava um tom esverdeado. As prateleiras exibiam vários troféis do colégio, livros, artefatos, entre outros objetos. À direita, encontrava-se um enorme armário repleto de compartimentos. Nas paredes, quadros, fotofrafias e diplomas espalhados por todos os lados. À esquerda, estava a sua mesa, cuidadosamente planejada, completando a arquitetura do local. A porta localizava-se em sentido oposto às duas janelas que davam de frente para o pátio. Era dali que ela observava atentamente o comportamento dos alunos.

As duas passaram horas conversando. Naquele dia, a professora de Biologia ministrara apenas duas aulas e cumprira sua carga horária semanal com excelência. Ambas eram novatas no colégio. Antes de lecionar ali, suas aulas eram ministraras em uma pequena escola pública no centro da capital. Érica era uma pessoa agradável, possuía um belo par de olhos azuis, cabelos negros um pouco acima dos ombros, pele clara como a neve e nos lábios um sorriso fácil, gostoso, descontraído. Ela era um amor. Costumava usar os cabelos soltos, hora ou outra, prendia-os com alguma presília. Vestia-se muito bem, sempre bem maquiada. Seus movimentos eram leves, quase que involuntários. Ao andar, pairava no ar. Desde que fora apresentada a Helena, naquele exato momento, estava ciente que uma grande amizade surgiria ali.

Longe dali, Beatriz conversava com Nicole sobre o comportamento de Pedro:

- Nossa, Nick! Passei uma vergonha danada hoje, tudo por culpa do Pedro. _ Falou franzino a sobrancelha e apoiando o cotovelo sobre os joelhos_ Sério mesmo, meu coração quase saiu pela boca aquela hora.

- Imagino, Bia. Você fez uma cara. _ Gargalhou aproximando-se mais da amiga, que até então, fitava-a nos olhos sem desviar o olhar_ Mas você sabe que isso é coisa do Pedro, né? Ele é assim mesmo, brinca com tudo, parece um diabinho, mas te adora.

- Eu sei amiga, mas não é isso o que me assusta. _ Falou desviando o olhar de Nicole e olhando para o chão_ Ele tem razão, Nicole. Eu já estou ficando obsecada pela diretora. Vejo ela em meus sonhos todas as noite. Outro dia, sonhei que estava ficando com ela no estacionamento do colégio. Ela havia acabado de chegar, portava um monte de livros nos braços, e eu, acidentalmente, derrubei todos eles. _ Com carinha de safada, olhou para Nicole_

- Que isso, Bia? Sério mesmo? _ Falou incrédula_

- Pior que é! No sonho, ela estava estupidamente linda. Eu mal conseguia me controlar ao olha-la. Tem alguma coisa nela, que sei lá, me desmonta... Ela usava mais um de seus terninhos pretos. Seus cabelos estavam presos em um magnífico coque, deixando a mostra toda a extensão de seu pescoço. Olhando por trás, eu avistava perfeitamente sua nuca. Era sexy _ Fez carinha de levada_ Um pequeno cordão de ouro, atraía ainda mais minha atenção. Ele envolvia exatamente o que os meus lábios adorariam tocar naquele momento.

- Bia, você anda lendo muito conto gay, sério mesmo! Isso "ta" pervertendo a sua mente. _ Falou interrompendo-a_

-Nossa, Nicole. Deixa eu terminar de te contar primeiro, depois você opina. _ Franziu as sobrancelhas ao responder a amiga_ Voltando ao sonho maravilhoso que caso você interrompa outra vez levará um soco... Então, fica quieta e deixa eu falar_ Olhou para ela com cara de poucos amigos e continuou_ Ela havia acabado de descer do carro, estava esplêndida...

- Isso você já falou, só que com palavras diferentes_ Caiu na gargalhada piscando um dos olhos para a amiga_

- Cala a boca, Nicole. Também não vou te contar mais nada. _ Falou levantando-se e indo em direção a alguns colegas que conversavam não muito longe dali.

-Beatriz, volta aqui, "cara". Eu só estava brincando. _ Ajeitou o cabelo, levantando-se e indo atrás dela_ Qual é, Bia?

- Me erra _ Respondeu dando as costas.

- Nossa, "cara". Essa diretora "tá" mexendo mesmo com os hormônios da Bia. Espero que não seja contagioso. _ Pensou alto e foi embora._

Enquanto isso, em sua sala, Helena terminava de juntar as últimas coisas para ir embora. O dia havia sido bom, nenhum problema com alunos ou coisas do tipo. Ela estava acostumando-se rapidamente com aquele colégio, já havia pegado o ritmo e estava tranquila em relação às suas responsabilidades. Não era difícil dirigir uma instituição com alunos tão educados. Mesmo sem um maior contato com eles, sabia que profissionais maravilhosos sairíam dali.

Rumo ao estacionamento, Helena andava em passos largos. Apressada. Em seus braços, muitos livros e uma elegante bolsa de marca. Sofisticaçao fazia parte daquela mulher. Muitos alunos, olhavam-a admirados, outros, hipnotizados. Se havia algum juízo na cabeça de alguns, perderiam no exato momento em que ela sutilmente retirasse seu blazer preto. Intuição confirmada. Incomodada com o calor, ela retirou o mesmo colocando-o em seu braço direito, apoiando novamente seus livros sobre ele. Continuou o percurso até seu primeiro destino: o estacionamento.

Ao deparar-se com Beatriz, olhou-a brevemente, sorriu e saiu. Beatriz enfeitiçada, seguia-a com os olhos. Costumava ficar ali todos os dias esperando até o momento em que a bela diretora entrasse em seu carro e fosse embora.

Fim do capítulo