Angélica e Helena: Amigas de infância.
Capítulo 2
O vento soprava do leste. De uma hora para a outra, o tempo mudou. O sol que castigava os cidadãos de São Paulo, não mais brilhava no céu. Já era noite, e o clima refrescante indicava que logo choveria. Lá de cima, Helena observava a rua, os carros, os pedestres e até mesmo alguns cães que transitavam de um lado para outro, andando nas calçadas, ao lado de seus donos, e outros, não providos da mesma sorte, se aventuravam atravessando sem rumo, entre os carros, no meio da rua. Por mais perigo que estivessem correndo, não pareciam se importar muito com isso. Por um lado, para eles, a vida era uma questão de sobrevivência. Por outro, sem casa, sem alimento e sem cuidado algum, a morte não parecia algo tão miserável.
A brisa tocava o corpo de Helena, fazendo-o arrepiar enquanto ela olhava vagarosamente os primeiros pingos de chuva cair. Lá de baixo, alguns pedestres olhavam estáticos, privilegiados pela visão que possuíam. Os mais jovens, esqueciam-se até mesmo de esconder-se da chuva. Seus longos cabelos castanhos pairavam ao vento, dançavam ao som de algum tipo de valsa hipnotizante. Seus olhos verdes brilhavam refletindo a luz dos faróis que acidentalmente atingiam sua sacada. Aquele vestido, ahhhhhhh, aquele vestido branco...tão delicado e provocante aos olhos alheios. Se ela possuísse cabelos brancos, alguns arriscariam dizer que naquele momento ela substituiria facilmente a personagem "Tempestade" da série animada X- Men: Evolution. Aos poucos, o fluxo da chuva foi aumentando e Helena retirou-se dali.
Ao deitar-se no sofá, depois da limpeza espiritual que aquele comportamento a causara, ela decidiu telefonar para uma antiga amiga de infância, enquanto ainda sentia calafrios pelo corpo, e o vento, suavemente, beijava sua pele.
- Oi, Angélica.
- Oi, Heleninha. Tudo bem?
- Heleninha, Angélica?
- Sim, minha doce Helenona. _Helena Gargalhou_
- Então, Angel... Como vão as coisas por aí?
- Tudo na mesma. _ Riu em voz alta_
- Já vi tudo. O tempo passa e você não muda mesmo, não é? _ Disse em tom descontraído_
- Mudar para quê, mulher? Sinto falta de quando você era tão divertida quando eu. Porque eu sou divertida demais, você sabe disso, não é?
Helena riu, levantou uma das sobrancelhas e respondeu:
- Claro, Angelzinha, você é a diversão em pessoa. _ Sorriu sarcasticamente_
- Qual é, Helena? Pode confessar, você me ligou porque está morrendo de saudades de mim!
- Nossa, como você é convencida! _ Gargalhou_
- Convencida e prática. Vou aí te visitar no final do mês. Espero que você descarregue toda a sua chatice nos seus queridos aluninhos, porque eu quero a minha querida amiga de volta, e dessa vez, com gás total. Falar nisso, como andam as coisas lá no colégio? Soube que a sua mãe deixou um deles sob sua total responsabilidade.
- Pois é! Na teoria seria tudo mais fácil. _Gargalhou_ Graças a Deus, ainda não tive problemas com nenhum aluno, a não ser com duas garotas que estavam aos beijos pelos corredores.
- Calma dona Helena, essas coisas acontecem... Lembra quando você estava na quarta série?
- Psiiiu, quietinha. Você quis dizer: "Quando a senhorita estava na quarta série, né?" Prossiga....
- Então, quando VOCÊ estava na quarta série, VOCÊ ficava matando aula no banheiro...
- Para jogar joguinhos. _ Angélica interrompeu-a_
- Não! Para beijar na boca dos meninos. E eu, como a virgem, inocente e pura que sou, apenas observava.
- Que calúnia, Angélica. Como você tem coragem de falar isso? _ Gargalhou_
- É, Helena... Bons tempos, velhos tempos. _ Gargalhou descontraidamente-
- Os tempos mudaram...
- Nao, senhorita. Você mudou!
- Nós mudamos.
- Eu não, só para a sua informação, eu continuo morando no mesmo lugar. _ Sorriu sarcasticamente_
- Não estou falando desse tipo de mudança, senhorita Miller.
- "Tô ligada, mano".
Helena Gargalhou e em seguida retrucou:
- Onde você anda aprendendo essas gírias?
- Vai ver eu aprendi com uma linda morena dos olhos verdes na época do colégio
- E quem seria essa "linda morena dos olhos verdes"?
- Vai ver é você, né?
- Sinto falta dessa época.
- Eu sei que sente. Você me amava e agora "tá" sentido minha falta. Desde quando foi para a faculdade nunca mais foi a mesma. Parece que aquela Helena leve, descontraída e divertida morreu.
- Deve ter morrido mesmo. As coisa na faculdade exigiram um pouco mais de mim. Nossa! Aqueles cursos no exterior quase acabaram comigo.
- Nossa, Helena. Como você é exagerada.
- Exagero é o meu segundo nome. _ Gargalhou_
- Bobinha, quando eu chegar aí você vai ver. Aguarde-me!
- Tenho até medo de você, anjinho do mal!
- Do mal não, _Riu sarcasticamente_ do bem... Heleninha, agora vou ter que desligar. Tenho um showzinho marcado as 22:00 horas no Fox Longaime. Não posso me atrasar
- Tudo bem! Precisando, é só ligar.
- Eu sei, gatona. Beijo, beijo.
Helena e Angélica eram amigas desde o ensino fundamental. Na adolescência, as duas eram carne e unha. Angélica sempre foi assim, nunca mudou sua maneira de ser. Desde pequena, sempre foi extremamente alto astral. Por sua vez, apesar da beleza incomum, naquela época, Helena também não se comportava de modo diferente. Totalmente popular entre os alunos, as duas "tocavam o terror" na importantíssima escola em que estudavam. Seus pais nunca permitiram que ela se afastasse da amiga, apesar dos pesares, ambas eram extremamente estudiosas. Mesmo sendo filha de diretores empresários, a pequena Helena nunca foi beneficiada em nada. Desde cedo, a mãe exigia excelentes notas da filha. Quando finalmente concluíram o ensino médio, a vida das duas amigas seguiram rumos diferentes. Angélica, completamente apaixonada por moda, decidiu fazer faculdade fora do país. Se formou em Londres e voltou para o Brasil a pedido da mãe. Nas horas vagas, até hoje, ela ocupa o seu tempo com sua segunda paixao: a música. Durante o vestibular, Helena encontrava-se em dúvida. Por influência dos pais, principalmente da mãe, decidiu seguir os passos da mesma, optando por Pedagogia. Os anos se passaram e a amizade de ambas permaneceu inabalável. Atualmente, Angélica reside em Brasília, o que sem dúvida, dificulta o contato entre as duas.
6:00 da manhã o celular desperta. Helena ainda com sono, abre apenas um dos olhos, desliga o despertador, afunda o rosto no trevesseiro e diz apenas para si mesma:
- Só mais um pouquinho, sol... Segura o dia aí.
Em vão. Dez minutos depois, após se espreguiçar na cama, ela levanta, toma um banho, faz sua higiene matinal, veste um de seus terninhos pretos e vai até a penteadeira. Sentada de frente para o espelho, ela prende cuidadosamente seu cabelão castanho com um palito, fazendo com que o coque, flque ainda mais solto, espontâneo. Sem pensar duas vezes, atrasada, ela coloca seus óculos, passa um batom vermelho, pega suas pastas e segue em direção ao colégio.
Fim do capítulo
Mais um capítulo para vocês.
Espero que gostem.
Beijos. :*
Comentar este capítulo:
Rita
Em: 19/01/2017
Fiquei imaginando a Helena quando andava na quarta série Kkkkk pode ser que ela recupere um bocado de como era nesses tempos
Resposta do autor:
Assim que Angélica chegar, vocês descobrirão a verdadeira essência de Helena. Por trás dessa pose de boa moça existem muitos mistérios. Kkk
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]