Manu estava almoçando na cantina, quando Jenny e Fabio se aproximaram, sentando-se junto dela. Os dois notaram que o semblante da moça não estava dos melhores. E realmente, Manuela não estava tão feliz quanto pensava.

- Belas damas não deveriam almoçar sozinhas! – Fabio disse sentando-se ao lado de Jenny – Por isso farei a gentileza de almoçar com vocês duas.

- Acho que perdi o apetite... – Disse Jenny que já estava sentada de frente para Manuela.

- Vocês dois são sempre assim?

- Na maioria das vezes... – Jenny sorriu.

- Já eu diria sempre! – Completou Fabio. – Mas então Manuzinha por que não está almoçando com a chefinha? – Foi direto.

- Não quero que nossa relação se estenda além do necessário...

- Sabe você é a primeira pessoa, que conheço, que não quer estender a relação com a Carol. – Jenny olhou para o amigo, que não media as palavras, indo direto ao ponto.

- Bom... Sempre tem a primeira vez, Fabio! – Manu não fez questão de ser educada com o rapaz.

- Ok vocês dois... Podem parar. Não quero ter que separar os dois! – Jenny falou encarando-os.

- Desculpe Manu... Mas Carol é uma pessoa maravilhosa e não admito que ninguém fale dela. Sei que você não disse nada demais, mas não gostei do tom em sua voz. – Fabio se explicou.

- Tudo bem Fabio. Eu exagerei também. – Sorriu para ele.

- Oh! Que lindos... Já podem dar as mãozinhas e casarem! – Disse Jenny divertida.

- Sai pra lá! Bate com essa boca na madeira... Eu sou uma “bixa” de respeito! – As duas não conseguiram conter o riso, dá cara que Fabio fez, ao falar aquela frase.

- Não sabia que você era gay Fabio.

- Ele até tenta disfarçar Manu... Mas como vê é mais forte! – Fabio continuou com cara de poucos amigos, mas no fundo estava se divertindo com elas.

-Você não é de perceber as coisas né, Manuzinha? – Falou Fabio.

- Por que estas dizendo isso?

- Simples... Como não percebeu que sou gay? Ninguém nesse mundo é mais gay que eu! – Fingiu estar ofendido.

- Não me preocupo muito com a vida dos outros, Fabio. E você ser gay não muda em nada quem você é.

- Nossa Manu... Até eu fiquei impressionada agora. Sinceramente, quando contamos que a Carol era lésbica você ficou com uma cara... – Jenny foi interrompida por Fabio.

- Sim! Fizemos até uma aposta!

- Fabio! – Jenny deu um leve tapa no rapaz.

- Tudo bem Jenny, deixa ele falar. – Manu achou os dois engraçados e lembrou de Ana e Carolina.

- Viu! – Mostrou a língua para Jenny – Quer mesmo saber? – Lançou um olhar malicioso para Manu, que assentiu. – Tudo bem... Jenny apostou que você iria embora o mais rápido possível! – Gargalhou ao ver a cara de Jenny, vermelha, ao seu lado.

- E você? – Perguntou Manuela divertida.

- Simples... Eu disse que você se casaria com a chefinha! E então Manu, estou certo?

- Você está completamente louco! Como pode pensar uma coisa dessas? – Manu estava sem ação.

- Ora... Não é segredo pra ninguém o jeito que ela olha pra você. – Sorriu ao ver como ela havia ficado sem argumentos.

- Garanto que entre nós não há nada!

- Porque você não quer. Mas isso não significa que ela não esteja, digamos, encantada por você.

- Não vejo assim! – Disse Manu, mas foi à vez de Jenny se pronunciar.

- Fabio quer parar de ficar incomodando a Manuela.

- Obrigada Jenny.

- E Manu... Carolina com toda a certeza está encantada por você. A empresa inteira já notou como a chefinha te olha. – Manu continuou olhando para Jenny de boca aberta, enquanto Fabio ria com a mão nos lábios. – Mas fique tranquila. Conhecendo Carolina como conheço... Duvido muito que excederá os limites com você.

- Isso é verdade, tenho que admitir. – Fabio se pronunciou.

- Mas por que vocês tem tanta convicção disso? – Manu se arrependeu da pergunta após ver o olhar vitorioso de Fabio.

  - Você tem um anel de compromisso e isso já é motivo suficiente. Mas como todos sabem, a chefinha, não namora desde que sua noiva sofreu um acidente.

- Explica melhor Jenny... – Manu não estava mais se importando com o que Fabio ou Jenny iriam pensar.

- Bom... O que sabemos é que elas iriam casar. Carol era uma pessoa completamente feliz. Se você acha que ela é esse poço de alegria agora, deveria ter visto antes... Nossa, como tudo muda rapidamente. Ninguém sabe realmente o que aconteceu, as pessoas adoram criar histórias, uns até dizem que a moça perdeu a memória, outros que ela morreu... Mas o que sabemos é que a Carol ficou um tempo sem falar com ninguém. A única companhia era a Alfa, uma cadela que ela tem. Mas ai do nada a Ana deu uns belos tapas na chefinha e a levou embora do pais. Não sei pra onde, nem o que fizeram, mas a chefinha voltou com um gás... Que alavancou de vez a empresa.

- Ela deve ter sofrido...

- Sofrido? – Fabio interrompeu Manuela – “Sofrido” foi pouco! Uma pessoa que mesmo depois de todos esses anos, não namorou mais ninguém... Deve no mínimo ser completamente apaixonada pela “ex”! E convenhamos que, Carolina, é uma mulher encantadora, poderia ter qualquer um... Mas pelo jeito, prefere sofrer a vida inteira. É Manuzinha, parece que você nem ninguém é páreo para essa mulher misteriosa. Fico pensando se sua rival é tão bela quanto você...

- Bom... Chega de falar da Carol. Vamos comer antes que isso aqui esfrie. – Jenny quis parar com o assunto, pois Manuela não estava com uma cara muito boa, parecia que estava sofrendo em ouvir aquilo.

Manuela não estava sabendo se portar. Ver como as pessoas se preocupavam com Carolina a deixava muito feliz. Mas ao mesmo tempo, perceber que não sabia nada de sua chefe a entristecia. Não sabia exatamente quais eram seus sentimentos, naquele momento... Queria estar com Carol. Mesmo que Sara estivesse almoçando com ela... Queria poder olhar naqueles olhos profundos e ver o carinho que sempre lhe era direcionado.

- Sou minha própria rival... – Falou num sussurro, que Jenny e Fabio não puderam escutar.

- Meu deus! Isso aqui tá uma gororoba...

- Ai Fabio! Não está tão ruim assim...

- Qual é Jenny... Alguém tem que falar com a Carol, não dá pra continuar assim!

- Sempre foi assim? – Manu perguntou, para tentar distrair sua mente.

- Não! Era a melhor comida do mundo!

- Não exagera Fabio!

- Era sim Jenny, e você sabe! Dona Tina era a cozinheira chefe...

- E não é mais? – Manuela indagou.

- Não... Ninguém sabe o porquê da chefinha ter contratado o francês ridículo. Dona Tina ficou triste, mas não teve muito o que fazer.

- Mas por que a Senhorita Portman faria isso?

- Olha Manu, ninguém sabe... Na verdade dizem que foi a ex-assistente dela, e que a Carol nem sabe, mas ninguém mais interferiu... – Jenny foi interrompida por Fabio.

- É que naquele dia que Marta foi contestar essa decisão... A Carol não estava muito bem... Ela não aceitava que ninguém falasse nada. Na verdade ela nem ouvia. Então deixamos por isso mesmo, acho que ela nem sabe que Dona Tina não está no comando da cantina.

- Falarei com ela. Se algo foi feito sem seu consentimento, tenho certeza que a Senhorita Portman não será injusta.

Jenny e Fabio trocaram olhares, Manu poderia negar eternamente, mas os dois notaram como ela se referiu, com admiração para sua chefe. Tudo bem, admirar alguém não quer dizer que a ame, mas que você tem um motivo a mais para amar...

Ao saírem do restaurante Carolina e Ana avistam ao longe duas pessoas conhecidas dentro do carro. O rapaz estava elegante como sempre, o que fez Ana reparar além do que queria. Já a mulher que lhe acompanhava estava imponente, como se o mundo foi feito para lhe venerar.

- Eu sabia! – Disse Ana Brava – Eu sempre te disse Carol, que estes dois estão envolvidos em algo...

- Ana eu não acho que o Félix seja mau caráter, muito pelo contrário... Eu vi o jeito que ele olha para Manuela. Ele a ama!

- Sim e dai?! A “Marvada” ali é quem comanda os espetáculos...

- “Marvada”? – Disse Carol divertida.

- Devo ter ouvido em algum lugar...

- Aha... Sei muito bem os lugares que você frequenta... – Gargalhou da cara de Ana.

- Você é uma pessoa muito má Senhorita Portman! – Olhou com ironia.

- Há não Ana! Você também não!

- Vamos que não quero ter o desprazer de ver a cara do engomadinho...

- Me engana mais Aninha – Riu sem parar – só mais um pouquinho!

- Quero ver esse seu sorriso durar quando você entrar naquele escritório hoje! – Carol arregalou os olhos e depois os serrou, ao lembrar de quem havia há colocado naquela situação.

- E de quem é a culpa?

- Minha culpa... Minha máxima culpa! – Riu enquanto Carol ligava o carro.

Fim do capítulo