Estavam chegando na empresa, contudo, Félix e Malvina não saiam dos pensamentos de Carol. Aninha iria conversar com Fabio, tinha uns assuntos pendentes com o rapaz. Ana percebeu que Carol estava adiando ir para sua sala, mas deixou que a amiga encontrasse seu tempo. Despediu-se de Carol e foi em direção à área publicitária da empresa. Já Carol conversou brevemente com Marta e entrou. Encontrou Manuela com a cara no meio dos papéis, não sabia de onde haviam surgido tantos, mas resolveu continuar seu caminho, como Manuela queria... Profissional.

- Alguma coisa para mim esta tarde? – Passou pela mesa de Manuela e foi se sentar. Manu notou que ela mal lhe olhou, uma pena que Manuela não percebeu o tempo que Carol ficou a admirando até falar.

- Não Senhorita Portman. – Foi direta.

- Tudo bem então. Assim posso dar continuidade ao projeto “Mar Aberto”.

- Mas tem uma coisa que gostaria de perguntar... – Carol a olhou e Manuela lembrou-se do que Fabio e Jenny falaram... Carol não havia mais namorado sério, desde o acidente. – Por que você tirou a Dona Tina do comando da cantina?

- Como é?

- Você contratou um chefe francês para o cargo...

- Espera Manuela eu nunca fiz isso! Dona Tina está nesta empresa há anos... Muitos anos na verdade – as duas sorriam – jamais tiraria ela do comando da cantina. Que Joana não nos ouça, mas Dona Tina é uma excelente cozinheira.

- Mas parece que sua ex-assistente deu um jeito de tira-la da cozinha...

- Elsa... Sabia que não podia conviar nela. Encontra os registros para mim, sim Manu?

- Claro!

Carol analisou os papéis com muita cautela. E encontrou o que estava procurando. Elsa havia colocado os papéis da contratação dele em meio a outros documentos que havia assinado. E como Carolina sabia disso? Pela data que estava nos papéis.

- Sabe quando você senta uma raiva contida...

- Sei sim! – Manu não perdeu a oportunidade e Carol sabia ao que a moça se referia, mas preferiu ignorar.

- Bom a Elsa não foi despedida por nada... Ela adorava dar pequenos desfalques na empresa, mas isso passou dos limites! – Carol entregou os papéis a Manu – Olha o valor que nosso amado chefe recebe!

Manu folheou os papéis até encontrar o valor que o homem recebia. Arregalou os olhos ao constatar o quão absurdo era aquela quantia.

- Isso é...

- Você realmente acha que eu contrataria alguém por esse valor Manuela? Acha que eu tiraria a Tina de um cargo de anos, para ficar olhando as pessoas comerem? – Carol estava séria.

- Não...

- Então me acompanhe Manuela... Que o show vai começar!

Manu pode ver um leve sorriso se formando no rosto de Carolina. Não sabia o porquê, mas parecia que tinha um motivo por trás daquilo. Como se Carol fosse se vingar de algo.

Fazia anos que Carol não frequentava a cantina... Desde que Manuela sofreu o acidente ela não ia aquele local. Não por ter algo haver com a jovem, mas pelos olhares curiosos que recebia. Sentia como se todos quisessem saber os detalhes do acidente. E assim que adentrou, todos que ali se encontravam, olharam-na com curiosidade. Olhares que não passaram despercebidos por Carol e muito menos Manuela.

- Boa tarde Tina! – Sorriu para a senhora.

- Carolzinha como está minha menina? – a velha senhora de sessenta e oito anos sorriu feliz ao ver Carol na cantina.

- Muito bem Tina... E meu abraço... Não vou ganhar? Antigamente eu não precisava pedir! – Tina saiu de trás do balcão e foi abraça-la. E Manu as observava.

- Antigamente você vinha todos os dias! – Disse soltando Carol, mas foram interrompidas por um homem, com um sotaque mais que engraçado.

- Que está acontecendo na minha cantina! O que a Senhora está fazendo ai? Não lhe pago para abraçar os outros! – Manu e todos os outros olharam para Carol. Estava claro que o homem não conhecia sua própria chefe.

- Ah sim... Então você é o cozinheiro? – Disse Carol irônica.

- Cozinheiro não... Sou o Chefe Francês Louis Petit! – Respondeu desdenhando de Carol. – E você deveria voltar a seu trabalho, ao invés de dispersar minha empregada! – Louis não deveria ter dito isso, não para Carol... Não mesmo! (rs).

- Pois é exatamente isso que irei fazer agora! – Disse levantando uma sobrancelha – “chefe francês Louis Petit do Paraguai” passe no RH e assine seu pedido de demissão, sim?!

- Mas quem você pensa que é? Para falar com o Chefe Louis Petit assim! E, me demitir? Uma pirralha feito você... Saiba que fui contratado por seu o melhor Chefe do país! Sou amigo pessoal dos Portmans, vou chamar a Senhorita Portman agora mesmo e... – Todos olharam para o sorriso debochado estampado na face de Carolina.

- Deixe-me me apresentar, sim?! Carolina Hellen Portman! E não me lembro de ter tirado a Dona Tina de seu cargo!

- Como disse... Você é a Senhorita Portman? – O homem estava sem saída. Caminhou até ficar cara á cara com Carol – Mas que blasfêmia! Conheço a Carol há muitos anos... Você é uma farsante!

- Sério isso? Você está na minha empresa... Olha ao seu redor, quer mesmo me ofender? - De repente todos levantaram das cadeiras e cruzaram os braços olhando seriamente para o homem, que estava suando.

- Ninguém ofenderá a nossa chefinha! – Fabio, que tinha recém chegado, falou. Manu viu como todos adoravam aquela garota.

- Conheço os meus direitos!

- Claro que conheces... Por isso irá se demitir! Ou prefere que eu lhe processe por fraude? Sabe... Querer se passar por Louis Petit... Não será uma causa ganha na justiça! Ou você realmente achas, que não conheço Louis Petit pessoalmente? – O homem engoliu grosso e se entregou sem querer.

- Claro que não conhece o Louis Petit, porque ele não existe! Não tem como você conhecer... – Carol sorriu vitoriosa deixando o homem sem palavras.

- Sugiro que passe no RH. Seja lá quem você for! Há não ser que prefira enfrentar um tribunal... E te garanto que lhe tirarei até essa sua postura de machão!

Carol sorriu para o homem, enquanto Fabio o acompanhava até o RH. O clima se tornou descontraído, por que, Fabio chegou gritando que o “Chefe Louis” estava á caminho de um bom curso de francês. Os funcionários presentes começaram a comemorar e gritar “chefinha”. Manuela estava estática com a postura de Carol, mas ver como todos ali a defendiam... Gerou um sentimento de admiração, que já existia, mas se fortaleceu.

- Bom sendo assim... Tina a cantina é toda sua! – Todos comemoraram, e alguns até gritaram “aleluia”. – Peço desculpas a você, Tina, e á todos... Não sabia que havia um clandestino na cantina. O erro foi meu, por assinar sem ler... Então, estão todos convidados há permanecerem o tempo que desejarem na cantina para comemorar! – Nada mais era audível naquele lugar, parecia que tinham ganhado o prêmio de empresa do ano. Imagina quando ganharem! Era assim que eles trabalhavam, unidos, como se fossem uma família. Esse era o ambiente de trabalho dos sonhos de qualquer pessoa.  – Tina, posso fazer uma encomenda?

- Já até sei... Daqui a pouco estarás pronta. Devo fazer duas?

- Deve! –Carol sorriu e voltou ao escritório.

Assim que entrou Carol foi em direção a estante de livros, enorme, e escolheu alguns. Só quando se sentou é que notou a presença de Manu.

- O convite é para você também Senhorita Fernandes...

- Eu prefiro ficar aqui Senhorita Carolina Hellen Portman... – Frisou o “Hellen”, pois não sabia que Carol tinha o nome da Avó. – Vai que você decide despedir mais alguém? Eu é que não vou perder! – Carol riu de constatação de Manu e apenas assentiu. Mas Manu sabia que queria era a companhia de Carol. Meia hora depois dessa conversa, Carol levantou e entregou o documento para Manu.

- Pode guardar, por favor. – Sempre educada, Manu pensou.

- Como você o contratou sem saber?

- Bom... Elsa me entregou uns documentos que eu estava esperando. E assinei.

- Sem ler?

- Não é um dia do ano apropriado pra mim vir trabalhar... E bem... Assinei sem ler. Acabou que naquele dia fui grossa com todos! Não me orgulho nem um pouco disso, mas aconteceu...

- E que dia era esse?

- Bom... – respirou fundo e pensou “profissional” – Assuntos particulares Manu. Vou buscar uma encomenda, já volto.

Assim que deixou a sala Manu abaixou a cabeça, “particular”... É Manuela ai está o seu profissionalismo! Pensou e sentiu uma raiva de si. Quando estava guardado os documentos, lembrou de algo e folheou-os. Encontrando a data...

- Então esse era o dia... A data do meu acidente...

Manuela estava sentada quando ouviu a porta abrir e um cheiro maravilhoso se instalou no local. Carolina passou pela mesa de Manuela e depositou um pedaço de torta de amora, e continuou em seu trajeto sentando em sua cadeira.

- É a melhor... Tina tem um dom para os doces.

- Pelo cheiro parece que sim...

- Tem que sentir o gosto... Não tem explicação! – Carol sorriu sapeca.

- É impressão minha ou isso foi uma cantada, Senhorita Portman? – Manu entrou na brincadeira.

- É impressão Manu, pois quando for uma cantada... Você saberá!

- Você é muito convencida né? Ninguém nunca te deu um fora, não?

- Eu convencida? Imagina Manu... Jamais! E sim, já ganhei um fora na minha vida, foi há muitos anos. – O clima estava descontraído.

- É... E onde está esse ser magnifico?

- Na minha frente! – Carol sorriu e piscou para Manuela, que ficou vermelha.

- Essa foi uma cantada... – falou baixo desviando os olhos, mas Carol ouviu.

- Eu disse que você saberia. – As duas sorriam levemente.

Manuela recebeu o mais encantador dos sorrisos e não teve como não sorrir de volta. A conversa se encerrou por ai. As duas voltaram os olhos para seus trabalhos, mas nenhuma delas estava focada no nele...

Fim do capítulo