Manuela estava com tudo pronto pra a viagem, mas teve uma visita inesperada naquela noite de sexta-feira. Félix havia aparecido sem avisar. Não que ele tenha que avisar, mas não era do feitio do rapaz agir assim. Manu notou que ele estava um pouco apreensivo... Então resolveu investigar, sutilmente.

- E então já está com tudo pronto? – Perguntou o rapaz ao ver a mala na sala.

- Sim, iremos sair ás sete da manhã.

- Pensei que seria pelas duas horas da tarde?

- Era, mas consegui adiantar o nosso voo. Como demorará cerca de nove horas para chegarmos no Brasil, pensei em adiantar o horário, para nos instalarmos melhor. – Respondeu normalmente para o noivo.

- Carolina que lhe pediu para adiantar?

- Não. Fui eu que tomei essa iniciativa. – Estava estranhando o questionário de Félix.

- E ela não se opôs? – Perguntou pensativo.

- Na verdade ela até preferiu que fosse esse horário.

- Claro que preferiu... – Falou baixo.

- Como disse Félix?

- E quem não iria preferir passar um tempo com você, meu amor! – Sorriu para a noiva. – Assim que você voltar, vamos aproveitar e passar o fim de semana juntos! Faz tempo que não viajamos...

- É faz... E então, o que te trouxe aqui? – Não iria se dar por satisfeita se não tirasse algo de Félix.

- Ora amor... Vim te ver antes de você ir viajar... Almocei com sua mãe hoje e conversamos sobre você!

- Malvina estava com você hoje? Falando de mim? – Manuela achou aquilo muito estranho.

- Sim.

- E, o que exatamente falaram?

- Que você está se dedicando demais a este trabalho... E está se esquecendo de sua vida. Me sinto meio de lado as vezes amor... – Confessou para Manuela.

- Ahã... E essa foi à conversa do almoço inteiro? – Manu duvidou que só houvessem falado disso.

- Bom... Sua mãe tem uma raiva particular pela Carolina e...

- O que a Carol tem haver com essa conversa de vocês?

- É que vimos Carolina no restaurante e sua mãe não quis ficar lá. – Respondeu lembrando-se do fato.

- E ela estava sozinha? – Manu não perderia a oportunidade de saber com quem Carol esteve.

- Não, estava acompanhada. Daquela amiga sem graça, que se acha a última bolacha do pacote! – Félix ficou um pouco irritado e Manuela notou a modificação do noivo.

- A Aninha? – Perguntou achando graça.

- De Aninha não tem nada... Não existe nada de angelical, para ter um apelido carinhoso desses...

- Nossa Félix... Você nunca falou de ninguém assim antes! – Manu estava estranhando esse sentimento de Félix por Ana.

- Mas também... O jeito que ela me olhou naquela noite! Não é pra menos, deve ser uma má amada, isso sim!

- Por que estas dizendo isso?

- Ora... Se agarrou com meio mundo aquela noite! Deve ser falta de um companheiro de verdade! – Félix estava um pouco vermelho, após aquela frase.

- Hum... E esse companheiro seria você, Félix? – Manu se divertiu com a cara do rapaz. Nunca havia visto Félix sem jeito, mas até para isso, existe a primeira vez.

- Manuela! Isso é coisa de se dizer?

- Só estou retribuindo a brincadeira... Não gostou? – Manu ria divertida, mas Félix ficou pensativo.

- Bom depois dessa eu vou embora... – Deu um beijo em Manuela. – Manu, posso te pedir uma coisa?

- Claro Félix... O que é? – Perguntou curiosa.

- Quando estiver na dúvida... Ouça seu coração!

Manu ficou olhando o rapaz fechar a porta. O que ele queria dizer com: “Quando estiver na dúvida... Ouça seu coração!”. Manu deitou no sofá e ligou o rádio, a música passou a invadir o ambiente.

- Ela almoçou só com a Ana! – Sorriu feliz ao constatar. – Você gosta de provocar né Aninha... Carol não poderia ter uma amiga melhor! Sem contar que me deixou enciumada... Mas saberei me vingar, na hora certa!

Manuela sorriu feliz. Ela estava feliz... Iria fazer uma longa viagem longe de todos, longe de tudo... Em um lugar novo para ambas! Ficou pensativa ao ver que incluiu Carol em sua jornada, mas não dava mais para negar... Pelo menos pra si mesma!

- Estou apaixonada por você, Senhorita Portman! Ou seria “ReApaixonada”? – Riu sozinha.

Manuela passou a noite naquele sofá. Não viu as horas passar, nem percebeu que pegou no sono com o rádio ligado. Mas pela primeira vez Manuela não teve um sonho conturbado e sim um lindo sonho. Nele Carolina a convidava para dançar, não ouvia que musica tocava, mas estavam lá dançando... Em meio às estrelas.

Ao acordar não saberia dizer se era um sonho ou uma lembrança. Estava tão animada com a viagem, que deixou para lá. Carolina passaria para lhe buscar ás cinco horas, para chegarem cedo ao aeroporto internacional de San Diego - Califórnia. Estava tomando seu café quando escutou a campainha. Sorriu ao pensar que Carol conseguia subir sem ser anunciada.

- Bom dia Senhorita Portman!

- Bom dia Senhorita Fernandes! – Carol retribuiu. – Já está pronta?

- Sim só estou terminando o café. Você já comeu? – Perguntou preocupada, pois conhecendo Carol, não havia colocado nada na boca.

- Não, mas estou bem assim...

- Vem tomar um café comigo. – Puxou Carol pelo braço – Se duvidar tá com esse chiclete na boca, desde que levantou!

- Eu escovei os dentes, se é isso que te preocupa! – Disse séria sentando-se na bancada, que ficava de frente para a pia.

- Sim isso me preocupa muito! Não quero ter uma chefe desnutrida e com os dentes cariados... – Falou objetiva.

- Ai Manu... Que maldade nesse coração! – Fez cara de cachorro que caiu da mudança e Manu não resistiu.

- Tudo bem... Mas come algo, tá.

- Sim Senhorita! – Carol pegou uma maçã e colocou na boca, enquanto ajudava Manuela com as malas.

- Serio isso Carolina! Uma maçã... – Carol assentiu com a cabeça, pois não tinha como tirar a maçã da boca, para responder. – Quantos anos você tem? Sete? – Carol serrou os olhos e saiu com as malas, deixando uma Manuela sorridente para trás.

Carol já havia guardado as malas de Manuela no porta-malas do carro, e a esperava com a porta de trás aberta. Assim que Manu se acomodou, Carol sentou-se ao seu lado. Manu olhou para sua chefe como se perguntasse quem iria dirigir, mas sua resposta foi respondida por outra pessoa.

- Uma ótima madrugada, para quem levantou ás quatro horas e meia da manhã e ficou mais de um ano esperando no carro. Sintam-se a vontade para comer e degustar a boa companhia. Já aviso que não estou sendo paga para ver amassos pelo retrovisor... Sendo assim, mantenham-se afastadas! – Carol quase engasgou com um pedaço de maçã, ao ouvir aquilo. Mas foi Manuela quem deu o troco.

- Bom dia pra você também Ana! Vejo como seus olhos ficam felizes em me ver... Ou seria expectativa de encontrar Félix, por acaso? – Disse Manuela sarcástica. Carol arregalou os olhos, os movimentando entre Ana e Manu.

- Bom... Vejo que ele não está com você, por isso, que seu dia está amanhecendo feliz! Pois ninguém poderia ser feliz ao acordar e ver aquela cara de “Mister M.” pela manhã. – Disse irritada.

- Acalmem-se mulheres! Pra que brigar por um homem quando eu estou aqui... Sexy sem ser vulgar! – A risada foi contagiante, ás três riram ao mesmo tempo.

- Já disse que você não faz o meu tipo Carol... E para de insistir! – Olhou nos olhos da amiga pelo retrovisor.

- Aff Aninha... Você é sempre difícil, ainda mais pela parte da manhã! – Sorriu brincalhona.

- Parte da manhã? Não sei pra quem... Agora é madrugada, hora de jovens moças como eu, estar... Em uma bela balada, com pessoas bonitas! E não sendo chofer da madame ai...

- Obrigada Ana. Te devo uma... – Disse Carol sorrindo para a amiga.

- Uma nada... Duas!

- Por que duas? – Manuela quis saber.

- Porque a velhota queria nos levar...

- E qual o problema da Hellen nos levar?

- Que você nunca descubra Manuela! – Respondeu Ana, fazendo o sinal da cruz, que foi acompanhada por Carol. Manu riu do gesto das duas, era impossível não faze-lo.

Carol havia ido checar se estava tudo certo com as passagens, deixando Manuela e Ana a sós. Manu não perdeu tempo, queria falar sem que Carolina as ouvisse.

- Você adora colocar lenha na fogueira, né Aninha? – Encarou a mulher a sua frente, que já considerava uma boa amiga.

- Claro! Alguém tem que fazer... – Respondeu Ana, calmamente.

- Por que mentiu sobre á Sara? Já sei que eram só vocês duas, no almoço.

- Você sabe o porquê eu fiz, Manuela! Você agiu da mesma forma há alguns anos atrás. Só que eram situações diferentes... Olha Manu, eu te adoro, demais mesmo... Mas Carol é uma pessoa maravilhosa e merece alguém que a ame. Você já a amou muito, mesmo que não lembre, mas não apoiarei a minha amiga a continuar sofrendo por esse amor.

- O que você disse a ela? – Perguntou Manuela angustiada.

- Olha Manuela, não vou mentir, ok. Disse para ela viver á vida, pois conhecendo do jeito que a conheço, não irá se meter entre você e o Félix... É simples Manu, deixei claro para Carol, que ela lhe ama, mas não depende apenas dela. Acho que Carol compreendeu o recado... Pois ao julgar pelo modo que ela agiu no carro, ao falar aquela brincadeira, de pararmos de brigar pelo Félix... Ela está, finalmente, seguindo em frente. Sabe, fazia muitos anos que não há via brincar divertida.

- Eu não sei o que dizer... – Manu olhou sem jeito para Ana.

- Nem o que fazer! – Ana respondeu encarando-a.

- Por que eu deferia fazer algo? Você mesma disse a ela para esquecer, não foi? – Disse Manu irônica.

- Sim Manu, disse! Mas a diferença é que sei que Carol te ama... Já você...

- Eu o que? – Questionou.

- Quer mesmo saber minha opinião? – Perguntou e olhou se Carol estava voltando.

- Quero Ana...

- Ok. Você a ama! – Manu a olhou surpresa – A ama tanto ou mais que antes! E sabe o porquê... Por que você já estava apaixonada pela minha amiga, antes mesmo dela lhe confessar a verdade. Mas você está doída com tudo que aconteceu... E não lhe tiro a razão Manuela! Quer fazer a Carol sofre... Vai em frente continua assim, mas deixa eu te dizer uma coisa... – Manu não desviou o olhar de Ana por nenhum momento – Vai chegar um momento que este sentimento, dentro de você, vai ser insuportável! Vai ser maior que tudo... E eu, realmente espero que ninguém tenha roubado o coração de Carol até lá! – As palavras de Ana atingiram Manuela como um raio. A moça sabia que Ana estava certa em tudo... Mas realmente estava cada vez mais confusa, e não lembrar dos fatos, só a impedia mais de agir.

- E ai, vamos? – Carol notou a feição das duas – O que eu perdi?

- Uma longa conversa sobre como as mulheres são mulheres! – Respondeu Ana fugindo do assunto.

- Hum... Falando sobre mulheres? E não me esperaram? Isso é uma afronta... Então em que parte pararam? – Disse Carol divertida. E Manu percebeu como ela realmente estava diferente, primeiro em sua casa, depois no carro e agora isso... Será que Ana havia conseguido? Era a pergunta que Manuela não parava de pensar.

- Vai ter que ficar pra outra hora... O avião de vocês está saindo. – Ana apontou para o portão de embarque. – Se cuida Carol! Pois eu não estarei lá para fazer isso... – Abraçou fortemente a amiga.

- Que isso Doutora? Não se preocupa que volto inteirinha pra você! – Sorriu feliz para Ana.

- Isso mesmo, pois não quero ter que fazer uma cirurgia nesse corpinho sexy sem ser vulgar! – Todas riram.

- Até depois Aninha. – Manu a abraçou.

- Cuida dela... A Carol é uma desatenta, em tudo, Manu... – Falou no ouvido da moça, para Carolina não escutar.

- Cuidarei... Pode confiar...

- Eu sei... Ninguém melhor que você para fazer isso! – Ana soltou Manu e piscou sutilmente para ela.

- Ei vocês duas... Parecem um casal de velhas! Vamos indo que a lésbica aqui sou eu, pelo que me lembro. – E foi em meio ás risadas que elas seguiram seus caminhos.

E agora, o que irá acontecer entre ás três... Só o tempo dirá.

Fim do capítulo