O que realmente é importante? O que iremos fazer ao levantarmos pela manhã? Quais serão nossas escolhas? E as consequências, realmente são consequências? Não se arriscar é o mesmo que não viver... Estavam sentadas uma ao lado da outra, mas ambas pareciam temer aquele contato. O receio do incerto era o aroma que emanava naquele avião... Minha mãe me disse uma vez: “Quando tiver vontade de abraçar ou falar algo a alguém, faça! Pois é exatamente isso que aquela pessoa precisa”. O tempo é incerto... Mas parece que Carol e Manu, não se deram conta disso... Muitas vezes o cedo se torna tarde.

Já aviam levantado voo, na verdade fazia mais de dez minutos que isso havia acontecido, porém nenhuma palavra foi trocada entre elas. Manu estava sentada ao lado da janela, tendo Carolina ao seu lado esquerdo, ambas olhando a cidade cada vez mais distante. Manu lembrou que pegou um livro para ler, afinal a moça não teria muitas coisas para conversar com sua chefe. Revirou a bolsa e o encontrou, não lembrava-se de telo lido, mas como estava na caixa que seu pai lhe tinha entregado, pensou ser uma boa oportunidade de lê-lo. Assim que Manu o teve em mãos, Carolina visualizou o livro, sorrindo de canto.

- Diário de uma paixão? – Disse olhando para o livro nas mãos de Manuela.

- É... Conhece? – Respondeu Manuela olhando para ela.

- Sim... – Respondeu pensativa – É uma história sensacional... Nicholas Sparks fez algumas pessoas chorarem... – Sorriu carinhosamente e Manu percebeu algo naquele olhar, algo que não soube identificar... Mas teve uma vontade contida de abraçar Carolina.

- Bom... É uma longa viagem e pensei que daria conta de ler tudo... – Foi interrompida.

- Sei que irá. Sendo assim, vou colocar meus fones, para não interromper. – Carol estava colocando o segundo fone no ouvido quando Manuela falou.

- Fiz algo de errado... Pois posso ler outra hora.

- Não Manuela. Eu sou sua chefe, não o seu carrasco... Não pretendo falar de trabalho, pode descansar. – Contudo, Manuela não entendeu a referência.

Carolina estava longe em seus pensamentos, em contraponto a Manuela que estava bem situada na história. As musicas só faziam aumentar as lembranças da jovem... “Entre todos os livros que ela tem, tinha que ser justamente este?”, pensava Carol, recordando da primeira vez que deu um presente para Manuela. Já se passavam mais de duas horas, quando Carolina levantou para ir ao banheiro. Mas antes de entrar, acabou chocando-se com a aeromoça, gentilmente se dispôs a ajuda-la.

- Você está bem? – Perguntou preocupada.

- Melhor agora! – Foi direta. Carolina notando o olhar da mulher, achou melhor, fazer-se de desentendida. Se tivessem se encontrado em outro momento, a conversa teria se estendido, mas Carol não estava a fim de jogar seu charme... Ela só queria ir ao banheiro e pousar logo.

- Que bom. Se me der licença. – Disse dando as costas para ela, mas antes de entrar escutou um: “toda”.

Com toda certeza foi uma longa viagem, para Carolina é claro, pois Manu nem via o tempo passar, estava devorando o livro. Assim como também não notou as investidas daquela mulher... Carolina estava pensando qual seria a próxima coisa que a aeromoça iria lhe oferecer, quando ouviu Manuela suspirar. A moça havia batido o recorde de leitura, sem duvidas.

- Manu você... – Mas não ouviu nada... Só sentiu quando um par de braços a puxou. Manu depositou sua face no pescoço de Carol e ali ficou... Em silêncio. No entanto essa atitude foi percebida por uma certa pessoa, que passou a observa-las.

- Nossa... Me desculpa, eu...

- Tudo bem Manu. Na verdade eu achava que você ia cair no choro, mas parece que não. – Sorriu de lado para ela.

- Eu ia, mas... Seu cheiro me acalmou... – Após falar isso Manuela ficou vermelha. Carol resolveu fazer o que fazia de melhor, contornar a situação!

- Isso que foi só o cheiro! Pensa então no resto... Ai! Manu! – Esfregou a mão nas costelas.

- É, parece que a tática da Aninha realmente funciona! – Fingiu estar séria.

- Tinha medo de te deixar a sós com ela... E pelo visto eu tinha razão! – Fez biquinho.

- Quer parar de me olhar com essa carinha...

- Só se eu ganhar um beijo! Ai! Tudo bem... Sem beijo. – Mas assim que os olhos se encontraram a risada se fez presente.

- Senti falta das suas brincadeiras... – Confessou para a morena.

- Sou irresistível, né? – Brincou, mas a resposta não foi no mesmo tom.

- Talvez! – Sorriu de lado para Carol, que a olhava com um ponto de interrogação na cara. Nisso uma linda mulher ao fundo chamou a atenção de seus olhos, mas não era pra ela que a mulher olhava, e sim, para a morena. Manuela só voltou sua atenção para Carolina, quando ela reclamou de estar roxa, onde Manu havia lhe beliscado duas vezes.

- Não é pra tanto...

- Não?! Olha pra isso... E eu pensando em desfilar meu lindo corpo sexy na piscina... – Carol estava com a camisa levemente levantada.

- Nada que um gelo não resolva... – Uma voz lhe interrompeu.

- Talvez isso você aceite! – Falou a aeromoça estendendo uma bolsa com gelo, no entanto Manuela foi mais rápida.

- Obrigada! Mas pode deixar essa parte comigo. – Sorriu forçada para a mulher.

- Claro... Você gostaria de mais alguma coisa? – Em nenhum momento ela tirou os olhos de Carol, que apenas agradeceu.

- Não. O gelo é o suficiente, obrigada. – Manu se impressionou com a postura de sua chefe.

- Disponha! – Disse a mulher com um sorriso safado no rosto, piscando levemente para Manuela, em uma nítida provocação, que Carolina notou.

- Quando sairmos, vamos reclamar da falta de profissionalismo! – Disse sentindo sua face aquecer.

- Mas ela só está fazendo o trabalho dela. – Tentou amenizar.

- Ahã... E te comer com os olhos é o trabalho dela? – Falou encarando a sua chefe. Não percebeu que havia posto força demais na mão, o que fez Carolina se afastar um pouco. – Desculpe, não era pra doer dessa vez.

- Eu sou solteira Manuela... E mesmo se estivesse com alguém, eu não poderia fazer nada em relação aos olhares. – Disse olhando para Manu, que não tirou os olhos da lateral do abdômen, fixos no gelo, que estava segurando.

- Eu sei... – Falar isso, e ouvir aquilo de Carol, apertou seu coração.

- Ei... – Sentiu a mão quente de Carol sobre a sua, que segurava o gelo. – Não se preocupa, não foi tão ruim assim, além do mais eu posso segurar.

- Claro.

- Há não ser... Que você queira ficar com a mão no meu corpinho... – Sorriu irônica para ela.

- Vou colocar ela num lugar que você não vai esquecer!

- Tenho certeza disso! – Manu deu um leve tapa no ombro de Carol, enquanto as duas riam.

Manuela pegou novamente o livro, já tinha terminado de ler, mas não de folhear as últimas páginas. Paralisou ao ver que havia uma prevê dedicatória: “A mais bela história é aquela que escrevemos... Que você possa preenchê-la com seus sonhos.”.  E logo abaixo tinha as inicias “C.H.P.” juntamente com a data. Contudo Manuela não precisava ver as iniciais para reconhecer a letra.  Assim que se situou, fechou o livro rapidamente, olhando pela janela. Carol percebeu toda a movimentação, e já sabia o que a moça havia encontrado, a questão era, Manuela iria ignorar? Porém Carolina havia prometido que não iria mais remexer naquela história, era o que Manu queria... E ela iria respeitar.

- É, parece que chegamos! – Falou Carolina.

- Não vai dizer que está triste, em deixar sua admiradora para trás? – Comentou erguendo a sobrancelha.

- Que isso! Estou feliz... Pois conquistarei muitas mais agora! – Gargalhou, mas assim que Manu cerrou os olhos, um frio passou pela sua espinha. - Acho que vou precisar de uma coisa maior que essa bolsinha de gelo. – Entregou a bolsa para a aeromoça, que arregalou os olhos e falou para Carol:

- Eu não queria estar na sua pele!

- Nem eu... – Respondeu com um sussurro.

Manu deixou o aeroporto sendo seguida por Carolina. Havia um carro a espera delas, que as levaria até o destino final.

Fim do capítulo