O celular voltou a tocar, mais uma vez número restrito, as duas se entreolharam e Layza estendeu a mão, sem titubear Vitória entregou o aparelho, que prontamente foi atendido com irritabilidade e cinismo.

 

- Alô! Layza, quem fala?

 

- É o Gabriel.

 

- O que você quer?

 

- Falar com a Vitória...

 

- Este celular não é mais dela. A Vitória me vendeu este aparelho.

 

- Como? Estou feito louco tentando ligar para ela, então me passe o novo número.

 

- Eu não tenho e estou ocupada. Agora que você já sabe que este celular não é mais dela e que me pertence, não volte a ligar!

 

- Ok! Desculpa!

 

Layza ignorou o pedido de desculpas e encerrou a ligação.

 

- Lay, ele acreditou?

 

- Acho que sim. Vamos aproveitar que hoje é domingo e que estaremos juntas, se ele tentar ligar novamente eu atendo.

 

- Muito obrigada! Espero que agora ele pare de ficar ligando, ninguém merece!

 

- Ele pediu seu novo número, eu falei que não tenho e ele também se desculpou por ter ligado.

 

Em seguida o celular voltou a tocar.

 

- Lay, agora ele esta ligando do número dele (contou impaciente).

 

- Que cara insistente. Deixa-me resolver isso!

 

Vitória novamente entregou o celular e desta vez Layza deixou de lado toda a simpatia.

 

- Alô!

 

- Então, eu...

 

- Fala logo! Quem é e o que você quer?

 

- É o Gabriel e eu preciso muito falar com a Vitória.

 

- Cara, eu já te disse que este celular não é mais dela, eu comprei e pare de ligar.

 

- Espera não desliga! Não sei se você sabe, mas eu sou o namorado dela.

 

- Você é o ex-namorado! (falou ressaltando).

 

- Eu a quero de volta, vacilei, mas quero reatar.

 

- Tarde demais. Ela não tem interesse e cansou das suas palhaçadas. Inclusive por este motivo ela vendeu o celular, já que você não parava de ligar, muito inconveniente da sua parte.

 

- Você é amiga dela?

 

- Sim sou!

 

- Então me ajude!

 

- Nunca e entenda que acabou. Você a magoou muito e tudo que ela merece é ser feliz, portanto deixe-a em paz.

 

- Mas...

 

- Já chega! Não volte a ligar, não tenho paciência para patifarias.

 

- Eu já entendi. Peço desculpas e não ligarei mais.

 

- Ótimo e assim espero. Agora vá procurar o que fazer!

 

Com o desfecho desta ligação, Gabriel não voltou a ligar, acreditou que de fato, o celular passou a ser de Layza, contudo o rapaz ainda não tinha desistido de Vitória e começou a arquitetar formas para se aproximar da ruiva.

 

- Lay, desculpa por te fazer perder seu tempo com isso.

 

- Não se desculpe, acredito que agora ele entendeu (respondeu piscando para a amiga).

 

- Obrigada!

 

- Agora, vamos esquecer daquele chato. Mais tarde, vou num barzinho jogar sinuca e tomar uma gelada. Você me acompanha?

 

- Estou tão desanimada, não serei uma boa companhia.

 

- Para com isso, nada de baixo astral, vamos sair sim e espairecer.

 

- Mas nós já saímos ontem, que por sinal você me arrastou.

 

- Ruiva, não reclame, ontem nós só pedalamos um pouco.

 

- Você chama aquilo de pouco? Foi meu recorde viu!

 

- Eu não acredito! Desde quando pedalar por quarenta minutos pode ser considerado recorde?

 

- Na academia eu só faço trinta minutos e isso uma vez na semana.

 

- Eu vou te colocar na linha, aguarde! (provocou).

 

- Abusada! Mas agora falando sério, Lay, não estou a fim de bagunça hoje, em outra oportunidade vou contigo e jogamos.

 

- Você sabe jogar sinuca?

 

- Um pouco.

 

- Que legal, então formaremos uma dupla.

 

- Anjo, outro dia eu vou prometo.

 

- Irredutível? Não vai adiantar insistir?

 

- Desculpa, mas hoje não estou disposta para socializar (explicou abaixando a cabeça).

 

- Sem problemas. Ficaremos por aqui então. Podemos cozinhar juntas, assistir algum filme ou seriado, o que acha?

 

- Eu não quero te atrapalhar, você tem compromisso.

 

- Você não me atrapalha e eu posso deixar a sinuca para outro dia.

 

- Tem certeza?

 

- Absoluta!

 

- Então o que faremos de bom?

 

- Algo bem doce, vou procurar alguma receita bacana na internet.

 

- Você e os doces. Enquanto você pesquisa a sobremesa, vou preparando algo para jantarmos. Venha vamos para a cozinha.

 

Layza e Vitória, também formavam um excelente dueto na cozinha, prepararam para o jantar arroz à grega e frango grelhado. Já para a sobremesa fizeram um delicioso carpaccio de morangos com muito brigadeiro.

A semana começou harmônica para a dupla, além de jantarem juntas no domingo, também assistiram alguns episódios de um seriado e na segunda de manhã antes do trabalho tomaram café em uma padaria próxima do hospital.

Para Layza o início da semana transcorreu tranquila e sem novidades. Já para Vitória, somente segunda e terça foram calmas. Na quarta-feira a pediatra participou de três cirurgias, todas bem sucedidas e no final do expediente para o seu desespero Gabriel a aguardava no estacionamento.

 

- Vic, boa noite! Que saudade!

 

- Gabriel, boa noite!

 

- Você demorou a sair, estou te aguardando há horas.

 

- Meu dia foi corrido, acompanhei várias cirurgias e estou cansada. Por favor, desencoste do meu carro e quero chegar logo em casa.

 

- Eu te acompanho.

 

- Não! (respondeu enfática).

 

- Preciso conversar contigo.

 

- Não tenho mais nada para falar com você.

 

- Minha linda, seja mais maleável, me escuta!

 

- Não quero te escutar e estou exausta (falou desanimada).

 

- Foi um exagero da sua parte vender seu celular.

 

- Gabriel, me deixe em paz! (falou entrando no carro).

 

- Eu quero e vou falar contigo. Você vai me ouvir e nós vamos reatar.

 

- Muita petulância a sua, não volte mais aqui.

 

- Você me bloqueou nas redes sociais, nossos amigos me viraram as costas, todos acham que você esta certa e que é a dona da razão. Nem no celular você me atendeu, minha única alternativa, foi vir até aqui.

 

- Eu exijo respeito, não me procure no meu ambiente de trabalho.

 

- Ok! Então vamos para a minha casa ou para a sua, precisamos conversar.

 

- Eu já disse que estou exausta.

 

- Então me passa seu novo número, eu te ligo para marcarmos algo.

 

- Eu não tenho.

 

- Você não comprou outro celular?

 

- Não.

 

- Então eu compro um para você.

 

- Para! Eu não quero nada que venha de você.

 

Neste instante Vitória começou a chorar, sentada no banco do seu carro.

 

- Vic, calma! Não fique assim, eu te procuro outro dia.

 

- Já te falei que não te quero aqui.

 

- Eu te procuro em outro local.

 

- Não!

 

- Você quer uma água?

 

- Eu só quero que você me deixe em paz. Quero distância de você! (bradou; em seguida fechou a porta, ligou o carro e deixou o estacionamento).

 

Naquela noite Vitória não conseguiu jantar, apenas chorou muito, tomou banho e calmante. Nem mesmo ouviu a torcida dos irmãos Alviverde, que estavam no apartamento ao lado acompanhando ao jogo do Palmeiras.

 

- Lay, o que está pegando entre você e sua vizinha? (Luiz questionou durante o intervalo do jogo).

 

- Luiz, lá vem você com esta história.

 

- Você nunca me escondeu nada e eu sei que você esta pegando ela.

 

- Eu não estou pegando coisa nenhuma, ela é minha amiga.

 

- Eu só não entendo uma coisa, a ruiva namorava homem, então ela é heterossexual? Você diz ser amiga dela, porque ficou toda enciumada quando eu falei em investir?

 

- Luiz, eu já te avisei, não tente nada e nem chegue perto dela (falou com raiva).

 

- Lay, você esta apaixonada por ela?

 

- Irmão, você é mais louco do que eu pensava (falou dando risada tentando disfarçar o nervosismo).

 

- Você nem tem saído comigo, prefere ficar com ela.

 

- Ciúmes?

 

- Não, já você tem se mostrado muito ciumenta ultimamente. No domingo você nem foi jogar sinuca com a galera, quando eu te ligo chamando para sair você esta com ela e manda uma mensagem com uma desculpa muito mal elaborada. Irmã, eu te conheço e nunca te vi desta forma.

 

- Deixa de bobagem. Quer outra cerveja?

 

- Sim! Eu vou lá pegar.

 

Quando Luiz voltou da cozinha, Layza digitava algo no celular e nem prestou atenção quando o irmão estendeu a lata na sua direção. O rapaz ficou observando e com curiosidade expiou a mensagem.

 

- Lay, sério isso, desde quando você manda mensagem de boa noite para alguém?

 

- Seu bisbilhoteiro (reclamou).

 

- Irmã, isso só comprova o que eu estava dizendo.

 

- Para com isso. Eu só mandei mensagem porque não vi a Vitória hoje, o dia dela foi corrido.

 

- Vocês costumam se encontrar todo dia né, já que são vizinhas e trabalham no mesmo local (sondou).

 

- Sim.

 

- Lay, você encontra com ela quase todos os dias, parou de sair comigo com frequência, fugindo do nosso habitual, quando a Vitória saiu conosco você não ficou com nenhuma mulher. Aposto que da mesma forma que ela não tem ficado com ninguém depois que terminou o namoro, você também não.

 

- Luiz, chega! Você já esta chato com isso.

 

- Quanto tempo faz que ela terminou o namoro?

 

- Não sei.

 

- Ok, eu pergunto para ela.

 

- Você não precisa falar com ela só para perguntar isso, tem cerca de um mês que ela acabou tudo com o babaca do Gabriel.

 

- E você ainda fala mal do cara.

 

- Claro ele traia ela, é um idiota.

 

- Entendi e você vai assumir que esta apaixonada por ela quando?

 

- Melhor este intervalo terminar logo, não aguento mais você com este papo.

 

- Relaxa o jogo já vai voltar e vamos vencer. Minha cunhada respondeu sua mensagem?

 

- Não e ainda nem visualizou (respondeu conferindo no celular).

 

Segundos depois Layza percebeu o que o irmão tinha acabado de dizer.

 

- Cunhada, seu nariz e fique quieto, o verdão voltou para o campo.

 

Os irmãos encerraram o assunto, terminaram de assistir ao jogo e comemoraram a vitória.

 

Layza, não recebeu nenhuma resposta e estranhou. Foi dormir pensando em Vitória.

 

Fim do capítulo