Micaela

- Para de cutucar... – eu estava bêbada de sono. Sentia algo me tocando insistentemente. – Para, Juliane... – ouvi uma risada e não era dela. Abri meus olhos imediatamente, me deparando com o idiota do Fábio com uma varinha de selfie.

- Para Juliane... – ele me imitou.

- O que você quer, maninho? – olhei para o lado e minha deusa dormia tranquila.

- Só te encher mesmo. – ele deitou ao meu lado. – Cansei de ficar junto dos pirralhos.

- Mas, você é um pirralho... – ele revirou os olhos. – E virgem... – ri baixinho. O fedelho ficou vermelho.

- Cala a boca! Idiota... – ele cerrou os olhos. – Eu sei que você e a senhora gostosona aí. – apontou para a Juliane. – Não chegaram lá... – agora foi a minha vez de ficar vermelha.

- Anda nos espionando? – o puxei pela gola da camisa polo que ele usava. – Quer morrer?

Nesse momento a Juliane passou a resmungar alguma coisa incompreensível. Soltei o pirralho que não saiu do meu lado. Ela se virou e jogou a perna e o braço por cima de meu corpo. Escondeu o rosto na curva do meu pescoço, deixando sem querer, os meus pêlos eriçados.

- Mica... – senti seus lábios se moverem contra a minha pele. – Mica...

- Estou aqui... – a apertei contra mim.

- Aí... Tô sobrando... – ele levantou. Olhou para a cama que em que Camila dormia a quase meio metro de distância da Samantha.

 Adormeci abraçada àquela mulher que mais parecia uma criança indefesa em meus braços. Sonhei e quase todos os sonhos foram com ela. Inacreditável que até em um momento assim, brigávamos feito cão e gato.  

- Amor? - senti um carinho sendo feito em meu rosto.

- Hum... – meus olhos estavam pesados.

- Vamos, minha linda... Acorda... – sorri. Mesmo embriagada de sono, era impossível não sorri com aquele timbre de voz tão manso.

- Preguiça... – reclamei.

- Vem comer algo... Já passa das duas. – ela mordeu a minha bochecha. Abri os meus olhos.

- Quero um beijo... – falei manhosa. Ela sorriu daquele jeito que me deixa sem juízo.

- Com todo prazer...

Ela se colocou sobre mim, colocando uma perna entre as minhas e a outra ao lado do meu quadril. Colou a testa na minha, segurou o meu rosto com uma mão e a outra apoiava no colchão. Ela puxou o meu lábio inferior com os dentes, me fazendo soltar um pequeno gemido. A boca dela passou a explorar a minha em um beijo faminto, voraz. E nossa! Como essa mulher beija maravilhosamente bem. As coisas passaram a ficar um pouco mais quentes.

- Minha filha, eu... Oh meu Deus!

- Mãe? – empurrei a Juliane. Minha namorada foi parar no chão.

- Isso doeu... – coloquei a mão na boca.

- Eu... Eu volto depois... – ela saiu envergonhada. “Merda!”.

- Amor... Desculpe. Você tá bem? – desci e me agachei de frente a ela que passava a mão na parte detrás da cabeça.

- Precisava disso? De onde saiu tanta força?  - ela ficou emburrada.

- Precisa ser grossa assim? – me irritei.

Levantei e fui para o banheiro deixando à senhora mau humor lá.

- Idiota... – resmunguei enquanto passava o sabonete. – Eu toda preocupada e ela lá... Sendo grossa...

Ouvi duas batidas na porta, mas não liguei e continuei o que estava fazendo. A pessoa não desistiu e logo a porta foi aberta e fechada com força. Abri o boxe de vidro para ver de que se tratava e é claro, só podia ser ela.

- Não vê que tô ocupada? – ela tinha os olhos arregalados. Não entendi até olhar para o espelho a frente. Havia esquecido que estava nua e sai do boxe sem ao menos notar.

- Eu vou embora antes que... – os olhos dela queimavam em minha pele. Meu sex* reagiu imediatamente. A forma que seu olhar me devorava, fazia com que o meu ego fosse às alturas.

- Gosta? – usei o meu melhor tom de voz.

- Eu... Eu... – sorri. Ela saiu correndo. Voltei para o boxe gargalhando e muito excitada também.

Demorei mais alguns minutos no banho, sai para buscar a minha roupa e trocar no banheiro. O quarto estava vazio, mas um barulho vinha lá de fora. Não queria olhar para a minha mãe depois que ela me pegou... Bom. Quase aconteceu.

“Espero que goste”.

O bilhete que estava ao lado de um prato coberto por um pano de prato. Só poderia ser ela a fazer aquilo. Sentei e trouxe aquilo que estava com cheiro maravilhoso. Retirei o guardanapo e havia um empadão de frango.

- Como... – sorri. – Fábio...

- Oi? – a mãe da Juliane sentou à minha frente.

- Oi, dona Maria Luiza. – ela sorri simpática e eu retribuo. – Posso conversar com você?

- Claro! – “O que será que ela quer?”. Fiquei bastante curiosa.

- Minha filha gosta muito de você... – sorri. – Você conseguiu algo que há muito eu não vi nela... – meu coração acelerou.

- O que? – ela segurou as minhas mãos.

- Alegria verdadeira. – franzi o cenho e ela riu. – Minha filha se mostrava sempre dona de si. Estava sempre rodeada por mulheres... – ok! Essa parte eu não precisava saber. – Vazias e superficiais. Ela achou que um coração partido deveria se curar assim. Eu já havia notado um brilho diferente nos olhos dela. Passei a encontra-la mais vezes em casa e queria muito conhecer o motivo que a deixava assim... – me desmanchei. Minha deusa! – Foi quando ela disse que havia convidado alguém para vir conosco. Nunca a vi tão ansiosa, minha filha. – rimos.

- Se ela souber que a senhora tá contando isso... – ela gargalhou.

- E eu não sei? – dei uma risada. – Aquela garota me deu tanta dor de cabeça... Depois do primeiro namoro dela, a menina vivia se metendo em confusão com os pais de outras garotas. Meu Deus! A Juliane era terrível... – ela me olhou. – Você a faz sorrir de verdade, minha filha. Só saiba que além de uma sogra, ganhou uma grande amiga. – ela levantou e eu fiz o mesmo. Dona Maria Luiza me abraçou com força. Retribui o gesto tão gentil da minha sogrinha. – Cuida bem dela...

- Pode deixar... – o abraço foi desfeito.

- Mãe, tá querendo roubar a minha namorada? – ela fez uma cara de séria.

- Fica esperta! Pode ser que aconteça. – dona Maria Luiza entrou na brincadeira.

- Se não me abraçar agora, eu troco você por ela... – rimos.

- Não seja por isso... – ela me abraçou forte.

- Juízo meninas! – minha sogra falou e foi saindo.

- Pode deixar! – falamos juntas.

- O que ela te falou? – Juliane sentou e me colocou sobre suas coxas.

- Não seja curiosa... – mordi o lábio inferior dela.

- Agora vão ficar cheias de segredinhos... – ela fez bico e eu quase morri com tanta fofura.

- Exatamente! – sorri.

- Amor? – ela passou a mão em meu rosto. Adorava aquela palavra quando saia da boca dela.

- Oi... – admirei o rosto tão lindo.

- Me desculpa por mais cedo... – ela fez uma carinha tão fofa. – Eu agi como uma idiota...

- É... Agiu mesmo... – ela cerrou os olhos e eu gargalhei.

- Eu aqui me desculpando e você fica me zoando... – falou brava.

- Mas, amor. Foi você quem disse... – continuei rindo.

- Eu sei! Mas, não precisa confirmar, oras... – gargalhei.

- Vem cá...

Mergulhei meus lábios sedentos nos dela e me surpreendia como cada beijo era melhor que o anterior. Poderia passar a vida toda beijando a boca maravilhosa daquela mulher. Ela não sabia o que me causava.

 

Paloma

- Ainda tá brava comigo? Amor? – cruzei os braços.

Estávamos debaixo da mangueira em que minhas irmãs e eu brincávamos quando crianças. Cássia estava emburrada comigo desde cedo. Simplesmente porque não a ajudei com o banho de urina de cavalo que ela levou.

“Bem feito mesmo! Quem mandou não me chamar pra participar! Rum!”.

- Amor... – ok. Eu não conseguia ficar indiferente a ela. Deus! Ela fica muito gostosa com essa expressão seria. Sinto vontade de gritar para ela tirar a minha roupa ali mesmo.

- Que? – mordi meu lábio. Ela me olhou de canto.

- Olha pra mim... – abri alguns botões da minha blusa xadrez. – Olha...

Ela finalmente virou e vi seus olhos irem de encontro ao decote que plantei ali. Sorri a vendo morder o próprio lábio. Abri mais um botão e os olhos se encheram de um fogo que queimava em mim também.

- Ainda tá brava? – minha voz saiu rouca, mas não foi de proposito.

- Paloma... – ela tocou o meu colo. – Aí! Que droga... – respirei fundo.

- Toca... Com a boca... – ouvi um gemido que mexeu com minha intimidade.

- Que pouca vergonha... – levamos um tremendo susto. – Quanto fogo...

- Vocês! – abotoei a minha blusa. Cássia pareceu voltar a respirar, pois puxou com força o ar.

- Imagina se a Nicole pega vocês nesse clima todo... – Emily e Flávia se jogaram na grama fofa sem serem convidadas.

- Não tem suas namoradas para encher? – falei e revirei meus olhos.

- Elas foram correr... – Flávia respondeu.

- Ainda bem que a Becca encontrou outra pessoa pra torturar... – riram.

- Vai ficar com essa cara de bobona? – Flávia olhou para a Cássia.

- Amor, olha ela... – olhei feio para a minha irmã que levantou as mãos em rendição.

- Deita aqui... – a encostei em meu peito e me escorei na árvore.

- Olha nós aqui de novo... – minha namorada falou.

- Igualzinho quando estivemos aqui pela primeira vez... – Flávia tinha os olhos fechados e um sorriso.

- Aquele dia a Emily havia fugido dos pais dela... – gargalhamos. Continuei. – Esse dia todas levamos bronca...

- E como levamos... – Flávia sorriu.

- Ainda guardo aquela foto... – Emi deitou no ombro da Flávia.

- Aqui estamos as cinco? – Cássia pergunta.

- Sim... – Emi responde.

- Nós também... – falamos juntas.

- A Nick vivia olhando a dela quando você foi para Londres... – falei. Emi deu um pequeno sorriso.

- Pensei em vocês todos os dias... – ela falou. Flávia ficou seria.

- Sabe... Acho incrível a relação de vocês... – Cássia falou para as duas.

- Como assim? – Emi quis saber.

- Vocês se amaram muito... Vimos e sofremos juntas com a Flávia quando você se foi, Emi. – Flávia lagrimou. – Agora você voltou e o amor de mulher se tornou de amizade... Isso é muito louco.

- Emily é importante... Nunca deixaria de ama-la. Antes como namoradas e agora como amigas, irmãs... – ela apertou uma Emi chorosa em seus braços. – Nosso amor é eterno... – sorriram entre lágrimas.

- Você disse tudo... – Emi tinha a voz embargada. – Eterno...

- Acho que somos almas gêmeas... – Cássia soltou e rimos. – Não... Serio. Parem para analisar e vejam como tudo aconteceu. Tem pessoas que tem uma alma gêmea. Somos as fodonas e cada uma tem 13... – gargalhamos.

- Deve fazer sentido... – falei.

- Acredita em alma gêmea, Cássia? – Emily perguntou e ela me olhou.

- Estou nos braços da minha... – sorri e lhe dei um beijo de leve. – Então sim! Eu acredito...

- Oh, amor... – a apertei.

- Quero ser madrinha dos futuros filhos... – ouvi minha irmã dizer.

- Eu também...

“Imagina essas loucas como madrinhas dos meus filhos?”.

- Vou pensar e muito no caso de vocês... – elas arquearam as sobrancelhas.

- Qual o preconceito? – as duas levantaram.

- Preciso mesmo responder? – Cássia riu.

E uma discussão sem fim por meus futuros filhos começou. As duas usavam vários argumentos para me convencer que elas são as melhores candidatas iniciou. Minha namorada apenas ria de Emily e Flávia. Expulsei as duas depois de um tempo, pois queria ficar sozinha com a minha namorada. Queria mostrar a ela uma música que havia feito.

- Até que enfim... – respirei.

- Amor, ainda tem as outras... – ela ria.

- Eu sei amor... Mas, uma de cada vez... – peguei o violão. Havia mandado por o nome dela gravado nele.

- Você quer me fazer ficar convencida. – ela passou a mão sobre seu nome.

- Só faço questão de mostrar que eu tenho dona... – ela sorriu lindamente.

- Quero fazer amor com você... – me arrepiei.

- Não provoca. – ela gargalhou. – Quero te mostrar uma coisa...

- O que? – ela ficou animada.

- Promete que vai ser sincera? – perguntei nervosa.

- Prometo! Agora me mostra logo...

- Tudo bem... – montei o acorde de LÁ. – Fiz pra você...

A vi ficar com uma expressão de surpresa. Queria que ela guardasse para sempre essa música. Pois seria a nossa música. Respirei bem fundo, dedilhei a primeira parte e então passei a cantar.

 

Eu sempre esperei por seus beijos

Sempre os quis somente para mim

Egoísta

Sei que sou sim

Não me culpe por te amar assim

Te quero pra mim

 

Suas palavras eu guardei e decorei

Em seu olhar me reencontrei e respirei

Então, não me culpe

Sou dependente de você

Pois nos meus dias secos

Amor, você faz chover

 

Lembra daquela menina?

Sim, ela cresceu

Meu coração te escolheu

Preciso de você

Virou o meu vício

Eu quero viver

Mas, somente com você

 

Lembra daquela menina?

Sim, ela cresceu

Meu coração te escolheu

Preciso de você

Virou o meu vício

Eu quero viver

Mas, somente com você

 

Sim, sei que hoje valeu

Valeu cada minuto de espera

Cada canção de amor no escuro

As lágrimas e os suspiros

Eu sei que valeu

 

Porque hoje és minha

 

Lembra daquela menina?

Sim, ela cresceu

Meu coração te escolheu

Preciso de você

Virou o meu vício

Eu quero viver

Mas, somente com você

 

Lembra daquela menina?

Sim, ela cresceu

Meu coração te escolheu

Preciso de você

Virou o meu vício

Eu quero viver

Mas, somente com você

 

Quando eu terminei, olhei para ela que tinha lágrimas nos olhos. Coloquei o violão de lado e envolvi meus dedos em seus cabelos e a trouxe para um beijo. Um beijo calmo, afinal, não tinha mais a menor pressa. Ela era minha e eu dela. Somente nós, ela, eu e esse sentimento que já não me cabia mais no peito. E que eu não cansava de dar a ela. Eu a amava, a desejava, a queria.

- Eu te amo... Amo muito, muito... – montei em seu colo. Enlaçando minhas pernas em seu quadril. Eu também tinha lágrimas em meus olhos.

- Eu te amo, Paloma. Eu nem que eu tenha que viver várias vidas, vou te mostrar isso... – ela me apertava. – Eu vou te amar a cada segundo... Prometo-te... Vou te fazer feliz...

Já faz... Amor...

“Não tem a menor noção do quanto me faz feliz...”

 

 

Fim do capítulo