Bárbara por Nyna Simoes
Capítulo 10 - O blefe
Carol estava na casa de Bernardo, o seu refugio. O único lugar que se sentia bem e à vontade para ser ela mesma falando ou fazendo o que quisesse. Seu amigo estava limpando a câmera e todas as suas lentes. Era admirável o carinho que tinha com seu material de trabalho. Enquanto isso, Carol estava deitada no sofá, fumando um cigarro e observando o teto, como se ele estivesse revelando coisas realmente incríveis.
-Tô pensando em voltar a desenhar, o que você acha? Perguntou Bernardo.
-Eu acho ótimo, Be!
-É, só não sei que horas, tô com a agenda lotada de trabalhos, graças à Deus. Mas é tanta coisa, que às vezes quando fico uns 2 dias sem fazer nada, parece que eu não tô produzindo sabe? Pensei que o desenho me tirasse disso.
-Vida ganha, né? Que inveja. E eu aqui apertada nos prazos da editora.
-Já falei mil vezes que você deveria ter a sua!
-Quem sabe um dia...
A conversa foi interrompida pelo interfone. Bernardo foi atender enquanto dizia pra Carol que com certeza não era nenhum boy, já que ele tinha tirado a tarde pra limpar seus equipamentos. Ele ficou um tempo em silêncio e olhou pra Carol com cara de surpreso e logo depois liberou a subida. Assim que colocou o interfone no gancho disse pasmo:
-É a irmã do Rodrigo.
-Aqui? Disse Carol sentando imediatamente no sofá
-É ela perguntou se você estava aqui e pediu pra subir.
-Meu deus, mas como essa mulher me achou aqui?
-Quando você não está em casa, você está aqui, é meio óbvio né Carol.
-Mas eu nem sabia que ela tinha o endereço.
-Vai ver o Rodrigo falou pra ela.
-Ou a Bárbara...
A campainha tocou e Bernardo recebeu Fernanda de maneira bem educada, afinal ele não tinha nada contra ela, pelo menos não de concreto. Sabia que Carol a odiava e ele também não gostava muito das suas matérias no jornal, mas o fato é que ela nunca havia feito nada a ele, pelo contrário sempre foi muito simpática e educada. Assim que fechou a porta deixou-a à vontade na sala, enquanto Carol sentada no sofá com cara de tédio não fez questão de cumprimentá-la. Ele fez sinal para que ela se sentasse, mas ela ignorou seu gesto e continuou de pé no meio da sala.
-Bom então acho que vou deixar vocês sozinhas.
-Por favor - disse Fernanda sorrindo.
-Não senhor, você vai ficar aqui - protestou Carol - Depois com certeza eu vou contar pra ele, pelo menos me poupe disso.
-Tudo bem... Carol, eu vim dizer que eu já entendi tudo.
-Entendeu tudo o que?
-Você tem alguma coisa com a Bárbara, é óbvio - disse Fernanda indignada - como pode ter algo com a sua própria prima?
-O que? Você ta bem louca?
-Olha Fernanda, seja lá o que tenha acontecido ontem - interviu Bernardo - você deve ter interpretado mal.
-Eu sei muito bem o que eu vi. E pelas coisas que o Rodrigo me contou fica bem deduzível.
-Mas de onde você tirou que eu tenho um caso com a minha própria prima?
-Ta na sua cara, eu vi como você fica irritada com a presença dela, e contradiz tudo o que ela fala. Ela tenta te agradar e você rejeita.
-E daí?
-Eu não sou idiota, Carol! Você acha que eu nasci ontem?
-Infelizmente não, Fernanda. E se você veio aqui tentar plantar uma sementinha do mal, perdeu sua viagem. Eu não tenho e nem nunca tive nada com a Bárbara.
-Pra cima de mim não, Carol. Olha, eu acho melhor você contar tudo pro Rodrigo, antes que eu conte, não quero meu irmão no meio do caso de vocês duas. O que você pensa que está fazendo com ele?
-Eu não estou fazendo nada com ele, eu não tenho caso com ninguém.
-Ah não? Então acho que você não vai se opor se eu ligar agora pra Bárbara e perguntar.
-Mas é intrometida além de chata, hein? Olha por mais que eu queira que você vá embora logo, faço questão que você ligue pra ela e pergunte.
Carol estava bufando e percebeu o olhar de reprovação do Bernardo, fez um gesto pra ele que significava "Deixa essa louca ligar". Ela começa a ligar e falar com Bárbara:
Fernanda:
"Alô, oi Bárbara, é a Fernanda irmã do Rodrigo, tudo bem? (pausa) Tudo bem sim, então, eu te liguei pra te fazer uma pergunta. (pausa) Bom não é uma pergunta muito normal de se fazer...(pausa). Eu estive com a Carol, e ela me disse que vocês têm um caso, pediu pra que eu não contasse para o Rodrigo, mas você sabe como ela é, queria confirmar essa história com você, pra ver se é algo que eu deva guardar mesmo ou apenas rir; (pausa) Contou, é verdade? (pausa) Ah sim, não, tudo bem, pode deixar que eu não vou contar nada pro meu irmão. (pausa) Queria saber, porque a principio não acreditei, e quero ajudá-la. (pausa) Bom, conte com a minha discrição, querida. Obrigada pela atenção, viu? Um beijo".
-E? Perguntou Carol debochada.
-Ela confirmou.
-É mesmo? Então me dá aqui o seu celular.
-Pra quê?
-Quero ver uma coisa...
-Não vou te dar meu celular.
-Ué, então liga pra ela de novo e coloca no viva-voz.
Bernardo dá risada, e isso faz com que Fernanda fique muito brava.
-Ela acabou de confirmar tudo. Você acha que eu estou blefando?
-Acho, acho inclusive que você nem tem o número dela.
-Ela me passou no jantar.
-Ah, é? Deixa eu ver então, se é o mesmo que eu tenho aqui ou se ela te passou um número errado.
-Bom, Carol, eu não preciso te provar nada. E você tem 2 dias. Se você não contar pro meu irmão, eu mesma vou contar
-Me poupe - disse Carol levantando e abrindo a porta - e cai fora. Você não é bem-vinda aqui.
-Bom - bufou Fernanda - Se pra você é tão importante assim ter uma prova, então olha
Fernanda estendeu o celular e Carol pôde ver o número de Bárbara. E realmente era o número dela nas últimas chamadas. Levou a mão na boca de espanto e soltou bem baixinho, mas ainda audível:
-Puta que pariu...
-Pra você ver como são as coisas.
Bernardo então viu a gravidade do que estava acontecendo e se intrometeu na conversa.
-Você não tem o direito de se intrometer assim na vida das pessoas!
-A Bárbara que não tinha o direito de contar Bernardo. Por que ela fez isso? Eu falei pra ela que ninguém podia saber.
-Ah então é verdade mesmo?
-A vaca da Bárbara acabou de te contar isso, agora que você já sabe vai embora da minha casa.
-Engraçado - disse Fernanda se divertindo - A Bárbara não me contou nada.
-O que?
-Eu não liguei pra ela, na verdade... liguei sim, mas coloquei meu celular na opção "mudo", ela realmente atendeu e não me ouviu, ficou dizendo alô, e desligou.
Carol não se conteve e partiu pra cima de Fernanda, sendo contida por Bernardo.
-Ah sua cadela, filha da puta eu vou te matar!
-Fala logo o que você quer e vai embora Fernanda!
-Já disse, quero que conte em 2 dias, senão eu mesma vou contar.
-E o que você ganha com isso? perguntou Bernardo
Fernanda não respondeu e apenas sorriu. Saiu pela porta que já estava aberta e os dois ainda puderam ouvir uma risadinha sarcástica perto do elevador. Bernardo correu e trancou a porta, enquanto Carol desmoronava no sofá.
-Calma Carol, calma, nós vamos dar um jeito nisso.
-Que jeito Bernardo? Essa maldita já sabe de tudo, sabe lá o que ela vai fazer agora.
-Ela não pode fazer nada.
-E se ela contar pro Rodrigo?
-O Rodrigo não vai acreditar nela.
Fim do capítulo
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