Bárbara por Nyna Simoes
Capítulo 9 - A arte imita a vida
Carol levantou logo depois que Rodrigo saiu para trabalhar, abriu os olhos de repente, como se acordasse de um pesadelo, e para ela era isso mesmo o que a noite anterior tinha sito, um pesadelo. Levantou-se e foi tomar banho fazendo o menor barulho possível para não acordar Bárbara. Refletia sobre o que fazer, mas seus pensamentos não entravam em ordem. Que ideia a dele de levar a irmã insuportável para aquele jantar – pensava Carol. Saiu do banho ainda sem fazer barulho, colocou qualquer roupa, pegou as chaves do carro e saiu pé ante pé. Sabia muito bem para onde iria, precisava conversar com Bernardo e assim poder enxergar uma luz no fim do túnel de toda aquela situação. Assim que chegou no prédio dele, se deu conta que ainda era cedo e talvez ele não tivesse acordado ainda, arriscaria mesmo assim, como a porta sempre ficava aberta ela podia esperar e dormir mais um pouco no sofá. Assim que ela abriu a porta, deparou-se com Bernardo apenas de samba canção acendendo um cigarro, todo descabelado.
-Tá com companhia? - sussurrou ela.
-Ele já tá indo embora, pode ficar – sussurrou de volta para ela.
Carol entrou na cozinha e foi preparar um café para eles, já que ela havia saido de casa sem comer. A cozinha de Bernardo era incrível, além de ser super colorida, mas não cafona, ela era aberta para sala, separando os cômodos apenas por um balcão de mármore claro. A pia ficava de frente para o balcão então enquanto enchia a leiteira com água para ferver, viu um homem descalço, de calça jeans, camisa social lilás amassada, carregando seus sapatos na mão e dando um beijo de despedida em Bernardo. Cumprimentou Carol e foi embora. Assim que ele saiu, Carol comentou:
-Uau! Parece que sua noite foi ótima, hein?
-Quem? Esse? É o Tito, é antigo, miga.
-Ahhhh, ele é o Tito?
-Meu modelo favorito! - sorriu malicioso
-Dá pra notar o motivo
-Ih, sai pra lá que a senhora é do babado. Não vem ficar olhando meus boys porque ele não tem o que você gosta.
-Be, eu namoro um homem, lembra?
-Quem tá esquecida aqui é você. Mas me conta... Chegando essa hora... O que a Bárbara fez?
Carol serviu o café pra eles e começou a contar todos os detalhes da noite anterior, desde que ele a deixou em casa. Quando terminou de contar, o primeiro comentário dele foi:
-Então você merece o Oscar, pensei que não ia aguentar tanto tempo assim.
-É amigo, pois é, eu aguentei.
-Olha se eu fosse você despachava logo a Bárbara, ela não disse que ia embora?
-Ontem ela me prometeu que iria embora hoje, espero que vá mesmo.
-E se não for?
-Não sei
-Conversa com ela.
-Não aguento mais conversar com ela Be, ela só me confunde, mente, omite, esconde, sei lá, ela faz as coisas parecerem do modo que não são.
-E como são as coisas pra você?
-Não sei como são as coisas pra mim, na verdade essas coisas que estão acontecendo não são pra mim.
-Acho que você foi muito ruim na vida passada
-Você acredita nessas coisas?
-Bom, não tem contraindicação.
-Eu só queria saber o que ela quer de verdade. Que ela demonstrasse isso, sem falar. Porque falando eu não acredito.
-Nós dois conhecemos muito bem aquela mulher, e eu sei e você também sabe que isso é impossível.
-To começando a ficar estressada, sei lá, energia negativa, sabe?
-Carol... Sua energia negativa é a Bárbara.
-Ai credo
****
Bárbara acorda e ainda deitada na cama se espreguiça, consulta seu relógio de pulso que havia deixado ao lado da cama e dá um pulo ao constatar que já estava muito perto do meio dia. Não daria tempo de tomar banho, odiava sair sem tomar banho, mas tentava se confortar pensando que havia tomado antes de dormir e portanto, ainda estava limpa. Pegou o primeiro vestido que viu entre suas coisas, correu para o banheiro com seu novo estojo de maquiagem e tentou dar um tapa na sua cara de sono, mas desistiu, colocou seus grandes óculos de sol, passou um batom, passou os dedos entre os cabelos e achou que estava bem. Pegou sua bolsa, colocou seu salto e saiu às pressas.
Correu para o ponto de táxi que havia na mesma quadra, virando a esquina e deu o endereço ao motorista, frisando que fosse o mais rápido que pudesse, porque estava muito atrasada.
O táxi parou na frente do melhor restaurante da cidade, aquele que por dois anos consecutivos teve dois de seus pratos como destaque. Um principal e uma sobremesa. Bárbara já conhecia muito bem aquele lugar, já teve muitos almoços alí, nunca vingou um trabalho de visibilidade, mas sempre teve contatos incríveis com as pessoas que realmente mandam no artístico e no audiovisual da cidade. Aquela poderia ser a sua maior chance. Na noite anterior, durante o jantar recebeu uma ligação que a deixou muito feliz, talvez por isso tivesse se esforçado tanto para defender Carol, estava feliz. Estava entrando no restaurante e não costumava ser supersticiosa, mas lembrou que Carol era, e muito. Então trocou de pé rapidamente, a fim de pisar no estabelecimento primeiro com o pé direito. Assim que entrou um garçom veio em sua direção e pediu que ela o acompanhasse, nunca cairia do salto, mas se dependesse do seu coração disparado, jamais conseguiria se equilibrar. Ainda mais quando viu Chico Gabriel sozinho na mesa esperando por ela. Chico era um diretor de cinema muito famoso, ele era alto e gordo, tinha cabelo bem cortado grisalho e usava óculos de armação prateada, vestia uma camisa social branca com listras verticais vermelhas e uma calça preta. Bárbara mal sabia o que dizer quando chegou na sua frente. Até que ele mesmo falou, abrindo os braços e levantando enquanto o garçom se retirava:
-Bárbara Morais! Que prazer conhecê-la.
-Imagina – disse Bárbara abraçando-o – o prazer é todo meu!
Os dois se sentaram e então Chico começou a falar:
-Então, conversamos rapidamente pelo telefone ontem, creio que você queira saber um pouco mais sobre o assunto.
-Claro, sou toda ouvidos.
-Bom, eu sou um grande fã do livro da Carol Marques, acredito que você também seja, já que o livro foi dedicado à você. Você leu o livro, não?
Enquanto Chico falava, Bárbara acenou para o garçom e pediu uma água.
-Sim, claro!
-E o que você achou?
-Eu adorei, quer dizer, adorei a dedicatória, mas a personagem não sou eu.
-Como?
-A personagem que trai a protagonista...
O garçom interrompe e serve a água para Bárbara.
-Beatriz?
-Sim, ela mesma, aquela não sou eu.
-Mas... Eu sei disso.
-Não, o que eu quero dizer é que a personagem foi inspirada em mim, mas a Carol exagerou, e colocou coisas que não condizem com os fatos.
-Você está dizendo que vocês tiveram um caso?
Bárbara engasgou com a água, a pergunta não veio em boa hora. Mas ainda sim, conseguiu se sair bem.
-Não, claro que não, eu tive um caso com uma mulher e contei pra Carol, ela tentou detalhar a história e acabou fazendo errado.
-Mas isso que você está me dizendo é ótimo.
-É?
-Claro, isso significa que você não tem preconceito algum, acho que vai ser fácil agora.
-Não to entendendo.
-Olha Bárbara, eu estou querendo fazer um filme desse livro. É uma história muito boa, que vende bastante e acredito que o filme será um grande sucesso, o Maurício me falou que você era atriz e estava atrás de uma oportunidade, me mostrou trabalhos seus, muitos bons, inclusive. E você é amiga pessoal dela, o que facilita muito as coisas também, não vou ser hipócrita. O que você acha de aproveitar essa oportunidade que não vai aparecer duas vezes?
-Nossa, com certeza, por mim eu começo as filmagens agora.
-Mas isso depende da Carol, precisamos que ela aceite essa filmagem, mesmo porque a história é dela, e a Stella que será responsável pelo filme, quer a Carol ao seu lado, ajudando na seleção dos atores e outras coisas, queremos ser muito fieis ao livro.
-Nossa, mas tudo isso é maravilhoso. Não sabia que você conhecia o Maurício também.
Na verdade, Bárbara sabia sim, e só por isso deu um jeito de se tornar amiga dele e mostrar alguns de seus trabalhos como atriz. Ela fingia muito bem, era atriz desde criança, sempre foi, já estava imaginando a fama, os flashes, as entrevistas, quando Chico interrompeu seus pensamento:
-Mas como eu já disse, tudo isso só será possível se a Carol aceitar que seu livro vire filme. Você como amiga pessoal dela, acha que consegue convencê-la? Na verdade estou falando isso porque imagino que seja, já que ela te dedicou o livro não? Mas não faço ideia, sinceramente do nível de estreitamento, se quiser clarear as coisas pra mim...
-Claro. Eu e a Carol somos amigas desde adolescentes, infelizmente a vida nos separou algumas vezes, mas sempre que podemos estamos juntas. Atualmente eu estou hospedada na casa dela, vim para cá resolver algumas coisas e ela me ofereceu seu apartamento para ficar. Consigo convencê-la com certeza e sem problemas, mas preciso de um pouco de tempo, qual é o tempo limite?
-Amanhã. Marcamos um café à tarde eu, você, ela e Stella.
-Uou, pouquíssimo tempo. Mas tudo bem, acho que eu vou conseguir.
-Você está hospedada na casa dela, isso facilita as coisas, não?
-É que ultimamente ela não anda nada fácil, crise de escritora, sabe como é...
-Perfeitamente, um saco. Mas boa sorte.
-E... uma curiosidade. Que papel eu faria?
-Ainda não sabemos, agora que sabemos que você de fato era a personagem Beatriz isso altere as coisas. Podemos ver isso amanhã, ta bom? Sinto muito, mas não vou poder almoçar com você, ainda tenho coisas a resolver.
Chico se levantou e despediu-se de Bárbara que se sentiu imediatamente disposta, sentou-se e abriu o cardápio, estava morrendo de fome.
Fim do capítulo
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