Bárbara por Nyna Simoes
Capítulo 4 - As primeiras mentiras de verdade
Rodrigo entrou e já foi se explicando.
- Oi amor, esqueci a chave de casa lá no carro...
- Oi amor
Os dois se cumprimentaram com um selinho, como é de costume. Carol adorava aquele momento em que Rodrigo chegava do trabalho e a primeira coisa que fazia era beijar a sua boca, como se tivesse esperado o dia inteiro para fazer aquilo. Como se fosse morrer se um dia chegasse e não encontrasse sua namorada em casa, ou pelo menos sua boca. Poderia cumprimentá-la, mesmo que ela estivesse de saída, mas o selinho era fundamental na vida do casal e Carol também, fazia questão de estar em casa sempre para aquele momento, entretanto, havia se esquecido que estava, obviamente com bafo de cachaça, o que foi imediatamente reconhecido por Rodrigo enquanto ele entrava pelo corredor de sua casa.
- Você bebeu?
- Bebi
- E nem me esperou... Poderíamos ter bebido juntos, eu me atrasei um pouco porque passei na casa do... – notou uma moça sentada no sofá - Oi.
- Oi.
- Amor, essa é a Bárbara.
- Oi Bárbara, tudo bem? – Virou-se para Carol - Você não me falou que alguém viria aqui hoje.
- Nem eu sabia, amor. Ela chegou sem avisar, ela... Ela é... É... Minha prima.
Como assim “Ela é minha prima”? Carol sentia-se a pior das piores do mundo. Nada lhe restava a não ser abaixar a cabeça, sentar-se no sofá e rezar pra que Bárbara não falasse besteiras.
- Eu resolvi fazer uma surpresa, vim matar a saudade e aproveitar pra conhecer o namorado da Carol.
Rodrigo sentando-se ao lado de Carol, mesmo tomado pela surpresa, não deixou de ser simpático com aquela moça, que afinal era prima da mulher que ele amava.
- Prazer, Rodrigo. Nossa, quantas malas... São todas suas? Meu deus.
- É, eu vou me hospedar em algum hotel por aqui.
- Mas, como assim? Carol você não vai convidar sua prima pra ficar aqui? Cadê a solidariedade com a família?
- Não é isso é que não tem cama pra ela, só tem o sofá-cama, eu acho que ela ficaria melhor num hotel e...
- De jeito nenhum, temos o outro quarto que está sendo reformado, mas tem um colchão lá ainda, além do sofá cama. Ela dorme lá.
- Imagina, que isso. Eu vou pra um quarto de hotel mesmo.
- É Rodrigo, pra ela vai ser melhor.
- Não! Você fica aqui e está decidido. Assim vocês vão poder conversar o quanto quiserem, a Carol precisa ter alguém aqui pra conversar, e confesso que sendo alguém da família eu ficaria mais aliviado. Pretende ficar quantos dias?
- Parece que só dois dias é o tempo pra comprar a passagem de volta pra Minas.
- Dois dias só? Carol, ela é sua prima. Por que não fala pra ela ficar mais?
- Já falei, mas Rodrigo ela não quer, para de ser inconveniente – disse Carol dando dois tapinhas na perna de seu namorado e sorrindo um sorriso sem graça.
- Acho que dá pra ficar uma semana Carol, se não for incomodo pra vocês, claro.
- De jeito nenhum, pode ficar aqui.
Dizendo isso, Rodrigo aconchegou-se melhor no sofá e, como homem nunca repara nada, apenas ele não sentia a tensão de sua namorada, enquanto sua suposta prima se divertia como uma gatinha com um novelo de lã. Assim, era mais que normal que puxasse algum assunto com sua nova hóspede.
- Mas então você é a Bárbara, a Carol me falou qualquer coisa sobre você, depois que lançou o livro dela.
- É mesmo? – Bárbara era mesmo uma perfeita atriz, é claro que ela já devia imaginar que a Carol tivesse o costume de falar sobre ela - E o que ela disse?
- Não lembro exatamente, mas que esperava que você lesse pra saber o que você ia achar da personagem.
Bárbara mais uma vez saiu-se melhor que a encomenda, mas como sempre, tem uma carta na manga para surpreender e deixar a Carol encurralada.
Sorrindo falsamente, com a cabeça apoiada em uma das mãos despejou uma frase como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- O livro foi inspirado em mim.
- É mesmo? Isso você não tinha me contado, Carol. Quer dizer que a personagem do livro é baseada na Bárbara?
Por pouco Rodrigo ao se virar não pega os olhos arregalados de Carol antes de sua explicação:
- Mais ou menos, não tanto. A Bárbara é assim, ela gosta de pensar que tudo é feito pra ela.
- Bom, mas pelo que eu li parece que a personagem teve um romance com uma mulher, não seria você né Carol?
- Claro que não. A Bárbara é minha prima, nunca nem pensamos numa coisa dessas.
- Ah, mas sabe como é né, a velha relação de primas. A curiosidade, a paixão.
- Eu já tive uns rolos com outros primos, até tentei com a sua namorada, mas ela não quis.
Rodrigo então soltou uma risada simpática aliada ao seu sorriso cativante, olhando com ternura para Carol e dizendo as seguintes palavras “Com certeza, a Carol jamais ficaria com uma mulher” – Carol sentiu-se, novamente, a pior das mulheres.
- Pode apostar nisso – disse Bárbara descaradamente.
- Aposto e aposto mais – Rodrigo levantou-se – Aposto uma pizza. Vou tomar banho e ir lá buscar. Que tal? Vocês não estão com fome?
As duas concordaram e Rodrigo logo se dirigiu para o quarto. Carol percebendo no que havia se metido, afundou no sofá e sussurrou:
- Uma semana de você.
- Pra quem não me queria nem por uma noite, uma semana eu acho que está de bom tamanho.
- O Rodrigo não pode nem desconfiar ouviu?
- Bonito ele, hein?
- É um cara lindo e simpático, debaixo do mesmo teto que você.
Carol já estava com raiva ao pronunciar estas palavras e nenhuma outra recebeu em troca, apenas um sorriso de Bárbara. O bastante para ameaçá-la
- Nem pense nisso!
- Relaxa, eu não sou desse tipo.
- Eu sei muito bem de que tipo você é.
- Você ama o Rodrigo?
- Amo.
- Ama nada, se amasse não teria traído.
- Fala baixo. Eu traí contigo, e isso não vai mais acontecer.
Agora era a vez de Bárbara relaxar no sofá como um lençol que cai sob a cama - 1 semana... É... – Percebendo a volta de Rodrigo sussurrou para Carol - São 7 dias.
- Amor, eu fui pegar roupa no quarto, e ta tudo quebrado, o que aconteceu?
- Nada amor.
- Como nada, Carol? Tá tudo quebrado lá dentro e você diz que não aconteceu nada?
Bárbara que era ótima em sair de saias-justas, resolveu ajudar sua antiga amante com mais essa desculpa esfarrapada:
- A Carol teve um ataque histérico depois de um telefonema e quebrou tudo.
Carol resumiu-se a um olhar de ódio pra Bárbara, voltando a focar imediatamente no que seu namorado dizia.
- Porr* amor, você ta louca?
- Agora não Rodrigo, sério. Depois a gente conversa sobre isso.
- Como agora não? Você quebra o quarto todo, e me diz agora não?
- É amor, depois te explico o que aconteceu.
- Olha não é pelas coisas quebradas, mas se está acontecendo alguma coisa eu quero que você me diga, quem sabe eu não possa te ajudar.
- Depois a gente conversa, eu já vou limpar aquilo lá.
- Com certeza nós vamos conversar – intimou Rodrigo dirigindo-se para o banheiro.
Em tom ameaçador, Carol virou-se para Bárbara
- Você vai limpar agora tudo que você quebrou.
- Eu não. Já pensou se o seu namoradinho sai do banho e me pega limpando as coisas que ele acha que foi VOCÊ que quebrou? A Carol fazendo a “prima” limpar o que ela quebrou, que coisa feia. Olha, adorei essa história de prima. Poderíamos ser primas mesmo.
- Que ódio de você Bárbara!
Carol seguiu para o quarto a fim de limpar as coisas, enquanto Bárbara ficou assistindo TV na sala. Já estava quase prestando atenção na novela que passava quando Rodrigo saiu do banho e foi sentar-se ao lado dela para conversar. Ele estava de bermuda e camiseta com a toalha pendurada no ombro, daquela forma nada se parecia com o homem que havia chegado. “Bem o tipinho que a Carol gosta” pensou Bárbara enquanto ele sentava-se ao lado dela.
- E então Bárbara, o que você faz?
- Nada.
- Nada?
- É, cansei de trabalhar, e como a minha família tem dinheiro eu resolvi me acomodar e fazer cursos só.
- Faz curso?
- Fazia.
- De que?
- Teatro.
- Olha só que legal, e por que não faz mais?
- É muita realidade pra mim.
- Sei. Sabe que isso parece com as coisas que a Carol diz...
- É mesmo?!
- É, às vezes ela diz coisas que nem eu entendo.
- Normal, a Carol fala coisas pra uma só pessoa entender, mas às vezes esquece que essa pessoa nem sempre está perto dela.
- Como assim?
- Além do livro, você já viu as outras coisas que ela escreve?
- Já dei uma olhada em alguns textos, poemas...
- Nunca reparou que ela está sempre falando da mesma pessoa? Todos os personagens dela têm um resquício de uma pessoa só?
- Não, nunca tinha reparado nisso, mas foi bom você falar, eu vou procurar compreender melhor.
- Tá bem visível só não enxerga quem não quer.
- E você sabe quem é essa pessoa? Tipo, algum cara do passado?
- Sei, mas não me sinto no direito de falar, é uma coisa muito pessoal sabe? Foi uma pessoa muito importante na vida dela.
- Entendo, bom, então só me resta perguntar à ela.
Rodrigo levantou-se conformado, deixando a toalha no sofá, calça o chinelo e quando está indo em direção à porta ouve Bárbara:
- Mas Rodrigo... Não interrompe o processo criativo dela. As letras são tudo que ela tem.
- Ok, vou buscar a pizza.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
rhina
Em: 12/08/2016
Olá.
Li este capítulo ontem mas não consegui comentar.
Sua escrita mexe comigo.
Tem muito bom gosto. E nota-se um elevado grau de sabedoria e veracidade nele.
Gostando muito.
Até.
Rhina.
Resposta do autor:
Poxa, muito obrigada, Rhina!
Espero que continue acompanhando :)
Beijos ;)
patty-321
Em: 10/08/2016
Q cara de pau essa mulher tem. E o Rodrigo? Mala. Típico dos homens não enxergam um elefante. Kkk. Quero ver como a Carol vai sair dessa saia justa. Bjs
Resposta do autor:
Patty,
Será que a Carol vai ter seu momento de glória? E se tiver, será que vai aproveitar?
Beijos ;)
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