Capítulo 2
– Desculpe, eu posso entrar? Eu queria falar com você um minuto. – Ela parecia extremamente sem jeito, mas eu estava irritada e a ultima coisa que eu queria era a deixar entrar para pedir desculpas de algo que já aconteceu e não tinha mais volta.
– Olha é... – Eu ainda não sabia o nome dela.
– Lizy, meu nome é Lizy. – Ela disse apressada.
– Lizy. Eu estou com dor e não estou a fim de visitas. – Eu tava sendo super grossa com ela e sabia disso, eu só queria que ela fosse embora e se possível não falasse mais comigo.
– Eu... – Ela parecia extremamente envergonhada e triste, baixou a cabeça e engoliu em seco, parecendo tomar coragem e voltou a me encarar. – Você não precisa me tratar de maneira tão grossa, eu só queria saber o que aconteceu ontem à noite eu... Eu não me lembro.
– Você não se lembra? – Disse de forma sarcástica. – Ontem eu cheguei e a encontrei na frente da sua casa sendo agarrada por um idiota, você estava obviamente bêbada, mas não parecia querer aquilo, eu sendo a idiota que sou resolvi interferir e mandei o sujeito ir embora. Você estava caindo de bêbada então te trouxe para o meu apartamento e te dei um banho, logo em seguida te pus pra dormir e hoje de manha você como pagamento me atirou o despertador trincando duas costelas minhas, foi isso que aconteceu. – Eu tinha sido grossa durante toda a conversa e não tinha me importado com aquilo, mas depois que terminei de falar ela me olhou quase chorando e aquilo me deixou com peso na consciência fazendo eu me sentir um monstro, mas de repente senti uma dor nas minhas costelas que não deu pra disfarçar, durante a conversa eu comecei a respirar rápido por conta da irritação e isso me fez sentir mais dor.
Ela percebeu e mudou o olhar de ferido pra extremamente preocupada.
– Você esta bem? Que pergunta idiota é claro que não tá – Ela discutiu consigo mesma e isso me tirou um sorriso quase que imperceptível e dolorido. – Eu acho melhor você entrar, vem eu te ajudo.
– Não precisa, só... – Olhei pra ela. – Só fecha a porta e me ajuda a sentar.
Ela pareceu concordar fechando a porta e quando eu cheguei ao sofá me ajudou a sentar. Eu odiava depender de alguém, mas surpreendentemente a ajuda dela até ali não estava me deixando incomodada.
– Você esta melhor? Isso é por causa do que eu fiz hoje cedo? – ela se sentou ao meu lado e levantou minha blusa de repente, eu fiquei sem ação – Meu Deus, eu quebrei sua costela.
– Não, só trinquei. – Ela percebeu que agiu por impulso e se afastou.
– Não se preocupa fui ao médico hoje cedo e eles imobilizaram, só vai me limitar em algumas coisas e terei que ficar 30 dias de licença.
– Desculpa por isso, pensando bem, você já tinha me dito isso mais cedo. Acho que apenas esqueci. – Ela falou encabulada e segurou minha mão.
Foram raros os momentos em que paralisei assim, normalmente não me importo ou simplesmente tomo uma atitude que repila a pessoa a afastando de mim de uma forma nada gentil, mas a proximidade dela me deixou sem ação.
– Me desculpa a forma como te tratei mais cedo e a pouco. – Disse ainda sem saber como agir.
– Tudo bem.
– Eu... – Pigarreei e encarei sua mão. – Só preciso tomar meu remédio.
Lizy percebeu sua mão ainda segurando a minha e soltou meio sem jeito.
– Onde esta? Eu pego pra você. – Ela disse se levantando.
– Não precisa, esta aqui na bolsa. – apontei pra bolsa que estava ao lado do sofá. – Mas você poderia pegar um copo com água na cozinha. – Apontei o local.
Ela foi pegar a água e eu fiquei sentada pegando o remédio na bolsa e o celular, ainda não tinha comido nada e senti vontade de comer uma pizza, liguei e pedi uma pizza de mozarela grande enquanto ela chegava à sala e me encarava enquanto eu fazia o pedido.
– Aqui! – Ela me estendeu o copo com água quando terminei a ligação.
– Senta. – Eu disse enquanto tomava o remédio.
– Desculpa ter causado tantos danos em você.
Ter ela ali, se desculpando, me deixou com uma gama de sentimentos estranhos.
– Vamos fazer assim! Me conta ate que parte do seu dia você se lembra, e depois eu preencho as lacunas... Aliás, eu me chamo Paula não sei se já cheguei a ti dizer meu nome, apesar de sermos vizinhas não é comum nos encontrarmos. – Dei um breve sorriso.
– É... – ela também deu um breve sorriso. – Eu trabalho como DJ então passo o dia quase todo dormindo e quando não estou dormindo de dia estou trabalhando no meu som, ou em alguns casos em algum festival. Foi o que aconteceu ontem, eu fui chamada a um festival de música eletrônica que começou às 6 da tarde e ia até às 6 da manhã. – Ela parou pra respirar. – eu fui a DJ de abertura e quando terminei fiquei por lá curtindo o festival. – Ela enrugou a testa, pareceu tentar lembrar os detalhes. – Lembro que tava com uns amigos, mas no decorrer da noite eles se dispersaram. Um cara se aproximou de mim, e eu tentei me afastar dele, mas ele era insistente demais. – Ela colocou a mão nas têmporas e as massageou parecia que se esforçava ainda mais pra lembrar. – Não me lembro de ter bebido tanto a ponto de esta com amnesia alcoólica, até porque sei de meus limites, mas após isso realmente só me lembro de flashes desse cara me agarrando e alguém tirando minha roupa. Quando acordei estava em um local desconhecido. Sentindo a cabeça doer. Fiquei com medo e quando percebi que alguém estava prestes a entrar no quarto peguei a primeira coisa que eu vi e arremessei.
– E que pontaria você tem. – Tentei brincar e ela deu um sorriso totalmente envergonhado.
– Desculpa. – Ela me falou.
Olhei pra ela tentando decidir por onde começar, ela pareceu ficar meio sem jeito com a forma que eu a olhava, mas não disse nada.
– Ontem quando saí do elevador eu vi um cara te agarrando. – Comecei a contar a história do que tinha acontecido na noite passada, ela pareceu ficar extremamente vermelha quando contei sobre o banho e a forma como coloquei a roupa nela.
– Nossa acho que ti dei um baita trabalhão e ainda te atirei um despertador, e trinquei suas costelas. – Ela não se cansava de se desculpar.
A campainha tocou era provavelmente o entregador de pizza alcancei minha bolsa e peguei o dinheiro.
– Eu acho que é a pizza que eu pedi, você poderia atender? – Entreguei o dinheiro a ela que prontamente foi a caminho da porta.
– Tá aqui a pizza. – Ela disse e se aproximou com a caixa. – Acho melhor eu ir embora.
– Ou você poderia sentar e comer comigo. – Ela me olhou em dúvida. – A menos que não goste de pizza de mozarela.
– Tudo bem, eu ainda não comi muita coisa hoje.
– Você só precisa ir à cozinha pegar refrigerante. – Dei um meio sorriso pra ela que quando voltou sentou e começamos a comer.
– Então você é sempre tão agradável como foi de manhã ou foi um caso extraordinário?
Eu parei de comer e olhei pra ela de repente, ela pareceu ter medo de que eu me irritasse e possivelmente eu teria sim, mas estranhamente não me irritei, até me surpreendi, na verdade senti até vontade de me explicar.
– Ontem eu não tinha tido um dia muito bom, na verdade meu mês não esta lá muito agradável. – Resolvi começar explicando pra ela um pouco do motivo do meu estado de espírito. – E a noite eu tinha levado um chute nas costelas enquanto treinava na academia, então meu humor esses dias, tá pior que o de costume. – disse tentando o máximo ser simpática pôs de alguma forma ela tinha feito um pouco do meu estresse natural diminuir.
Contei pra ela boa parte das coisas que estavam me estressando, a pizza terminou e continuamos conversando, conversar com ela era realmente fácil. Descobri que ela tinha 24 anos era 3 anos mais nova que eu, morava ali a dois anos, estava a menos tempo, mas mesmo assim nunca aviamos trocado mais que bom dia na verdade eu quase não a via e não me importava com isso antes. Quem diria que nos tornaríamos amigas, ou será que era mais que isso? Acho que seria melhor começarmos com colegas.
O tempo foi passando e ela todos os dias aparecia no meu apartamento, eu fazia o almoço coisa que não acontece quando estou trabalhando, mas sempre gostei de fazer minha própria comida, admito gosta de comer besteira, mas a comida caseira eu não dispenso. Lizy vinha quase sempre pra almoçar comigo, e já que ela tinha péssimos hábitos alimentares uma vez que ela era uma negação na cozinha, poucas vezes ela deixava de aparecer, mas sempre passava no meu apartamento. Conversávamos enquanto ela me ajudava a pegar coisas que eu não conseguia pegar sem sentir dor. Me acostumei com sua presença, passei o mês em sua companhia, quando não tinha nada pra fazer eu ia na praça que era ali perto ou ao cinema, não era muito chegada em festa, ia sim, em uma semana ou outra, mas não era sempre.
Nesse período acabei indo visitar minha família, minha mãe como sempre não gostava muito do meu trabalho e quando me via principalmente nesse estado ressaltava os inúmeros motivos pelos quais eu deveria ser uma advogada de verdade ou escolhido medicina, o grande X da questão é que ela nunca aceitou bem minha bissexualidade, mas apesar de eu respeitá-la muito não iria passar por cima de mim para fazê-la feliz à custa da minha felicidade. Evitávamos entra nesse assunto ela preferia ignorar e fingir não saber eu por minha vez preferia deixar assim, se ela não queria ver as coisas eu não poderia força-la não é mesmo. Já meu pai preferia não se pronunciar sobre minhas escolhas de sexualidade, era a suiça, nunca me tratou diferente, acho que ele preferia não se meter na mihna vida, e na profissional não era diferente, em alguns momentos podia se notar que não era do seu agrado a forma como eu vivia, mas era só.
Naquela manhã eu tinha acabado de sair do banho e me vestir, uma camisa larga de botões e um short jeans. Faltava 4 dias pra que eu voltasse a trabalhar e já não sentia nenhuma dor nas costelas, ouvi a campainha tocar e apesar de achar cedo, pensei ser a Lizy.
– ENTRA!!! – Gritei enquanto chegava a sala.
E quando a porta abriu não era a Lizy e sim a Rebeca que me olhou de forma curiosa.
– De todas as vezes que vim aqui, essa é a primeira vez que encontro você com o humor decente. – Ela disse fechando a porta, – O normal é você abrir a porta que costuma esta trancada. – Ela pôs a bolsa em cima da mesinha de canto. – Com um humor que deixa até os outros de mal com a vida, e uma cara totalmente fechada, muito parecido com essa que você esta começando a ficar. – Eu fiz uma careta pra ela revirando os olhos enquanto falava. – Então? Quem você estava esperando.
– Não acho que seja da sua conta, o que você faz aqui uma hora dessas? Deveria esta trabalhando! – Disse ligando a TV e indo pra cozinha.
– Respondendo minha pergunta com outra? – Ela me olhou desconfiada. – Eu realmente não posso demorar, mas seu sumiço me deixou preocupada, normalmente você ligaria reclamando que estava entediada tentando voltar a trabalhar mesmo não podendo e você não fez isso nenhuma vez, então vim ver se estava viva, pensei que te encontraria em estado de putrefação no sofá morta com varias moscas em cima. – E começou a rir da cara nada amistosa que eu fiz.
Ela chegou perto de mim e beijou meu pescoço, ato que me fez automaticamente me afastar.
– Não dá. – ela me olhou curiosa com a minha negativa, nós duas já tínhamos ido pra cama, na verdade tínhamos uma amizade colorida, não tinha muita coisa de sentimento envolvido, era tudo muito carnal. Satisfação sexual. – É melhor não.
Beca sentou em cima da bancada e me encarou com os olhos estreitos.
– Você estava esperando alguém que com toda a certeza não era eu. Esta de certa forma bem humorada, já que ainda não ouvi nenhum xingamento ou palavrão. – Ela dizia e ia enumerando no dedo – Me recusou, aliás, isso feriu meu ego. – ela disse, mas continuou. – Então minha pergunta é: quem é ela ou ele? Como você teve tempo de conhecer alguém nesse estado, ou será que foi antes? É sério? Como é o sex*? Há quanto tempo estão namorando?
– Uou, respira criatura! – eu disse de certa forma divertida. – Não estou namorando ninguém. Calada. – Disse quando percebi que ela ia dizer alguma coisa. – Sim eu estou esperando alguém, mas não tive nada com essa pessoa e não sei se vou ter, digamos que ainda é confuso, acho que gosto dela, mas eu não sei se ela gosta de mim e até agora tudo que temos é uma amizade que começou de forma bem complicada.
Contei pra ela tudo que tinha acontecido até ali, enquanto fazia a comida. De como ganhei as costelas quebradas, como o ódio virou amizade e logo depois algo mais.
– Ui, alguém pra derreter o iceberg Paula não é pouca coisa. – Ela disse rindo da minha cara.
– Rebeca! Estamos na cozinha e tenho varias facas que podem parar no seu corpo sem querer. – Disse de forma ameaçadora enquanto mexia a panela no fogo. – Não me provoque.
– Credo. Com essa última vou embora, mas acho que você deveria falar isso pra ela, alguém que atura as barbaridades que você disse pra ela no inicio dessa “amizade” é por que gosta. – Ela disse indo ate aporta.
Desliguei a panela e a segui até a porta, quando ela saiu do apartamento se virou de repente e me beijou, eu retribui ao beijo, mas a Lizy me veio a cabeça e o pensamento de que eu queria que fosse ela que estivesse me beijando. Me afastei dela e perguntei:
– Por que fez isso?
– Pra saber de uma coisa. – Ela disse sorrindo.
– Que coisa? – Cruzei os braços e me escorei a porta.
– Em que você pensou quando me beijou? – Ela me perguntou.
– Eu não te beijei você me beijou. – Afirmei
– E você retribuiu, agora responde! – Ela ordenou.
– Pensei que queria que fosse ela. – disse suspirando e olhando para o alto.
– Você esta perdida minha cara amiga. – Ela riu da minha cara. – Diga a ela que quer mais que amizade e me apresente, só aceito te perder se ela for mais bonita que eu. – Piscou e foi embora.
Balancei a cabeça e entrei no apartamento.
As horas foram passando e a Lizy não apareceu, fui ate seu apartamento mais ninguém atendeu. Senti um aperto no peito, mas decidi ignorar, ela provavelmente tinha algo para resolver.
Passei o dia assistindo filme e até cerca de 1 da manhã quando estava quase dormindo no sofá e escutei um barulho de baque e risada vindo do corredor, achei estranho para o horário e a rizada parecia ser da Lizy. Abri a porta e me deparei com a seguinte cena: Lizy caída no chão e rindo com uma bela ruiva em cima dela, aquela cena não me foi nada agradável aos olhos, senti uma raiva homicida.
Fim do capítulo
Espero que tenham gostado do capitulo, então comentem criticas construtivas são sempre bem vindas ;)
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Mille
Em: 17/07/2016
Acho que a Lizy viu o beijo trocado entre a Paula e Becca e deva estar com ciúmes, a deixou esperando tomou algumas e voltou bem acompanhada o que fez a Paulinha sentir seu uma raiva dela.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
muito interessante sua teoria, sera se a Lizy seria tão vingativa assim? pensando bem é bem provável rsrsr no próximo capitulo vc terá sua resposta ;)
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line7
Em: 17/07/2016
Eeee! Logo agora que coração da marrenta estava querendo derreter..rss.. Dueu né paula😅! E lizy? Até logo linda😘
Resposta do autor:
É, a Paula ta em maus lençóis, talvez se ela tivesse mostrado que queria algo mais não estaria presenciando essa cena ou talvez sim não sei rsrsrs acho que teria muita raiva também se tivesse no lugar dela.
bjs ;)
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