"Não há nada que conduza à verdade. Temos que navegar por mares sem roteiros para encontrá-la." (J. Krisnamurti)
Capítulo 7
Acordei assim que os primeiros raios de sol penetraram no quarto pelas frestas da persiana. Olhei para as janelas para ver a luminosidade do novo dia que começava e evitei me mover. Ao meu lado, Marina ainda dormia suavemente. Seria um pecado acordá-la.
Senti a boca seca, o que não era nada estranho para alguém que passara mais da metade da noite realizando todas as suas fantasias sexuais.
Fizemos amor como se o mundo fosse acabar e fosse necessário descobrir todos os possíveis prazeres que um mortal pudesse sentir. Aquela mulher que deliciosamente dormia a meu lado tinha uma doçura e um encanto que me mostrava que o ato de amar, além da satisfação carnal, é um ato terno, profundo e que se o sentirmos com o coração, então sim, é um ato completo.
Lógico que estava sendo uma experiência nova e estranha para mim. Afinal, eu tinha passado a noite toda fazendo amor com uma desconhecida. Marina era uma mulher formidável, adorável, inteligente, bonita, fogosa, mas ainda assim, uma desconhecida. E isso era o "estranho" para mim, que muitas vezes não me importei nem em dizer tchau às garotas "sem-nomes" que acabavam a noite comigo.
- Hummm... - ela murmurou, espreguiçando-se entre os lençóis.
Senti meu coração disparar ao olhar para aquele corpo delicioso, jovem e cheio de vida...
Fitei seus olhos e percebi que ela também revivia as lembranças de cada detalhe daquela noite.
- Que horas são? - ela me perguntou.
- Bem cedo! - informei-lhe deitando-me sobre ela, acariciando-lhe os cabelos. - Isso é tudo o que tem a dizer?
- Há mais... - ela sussurrou sorrindo com os olhos e buscando um beijo. - Você sempre acorda animada assim?
Sorri e, com ar provocativo, respondi:
- Só quando acordo ao lado da mulher da minha vida!
Marina abriu mais o seu sorriso, mas uma leve sombra turvou seu olhar.
- Hummm... isso você deve dizer a todas! - ela murmurou explorando minhas costas com dedos macios e leves. - Estou com fome! Você não está?
Beijei-lhe os lábios, os ombros, o pescoço...
- Hum-hum! E muito! - resmunguei sugestiva.
Marina riu abrindo suas pernas e me enlaçando pela cintura. Senti sua quentura e o desejo voltou forte.
Pressionei meu sex* de encontro ao dela e, lentamente, fui aumentando o contato numa dança erótica. Não demorou muito a possuí com vigor e, como se estrelas explodissem ao nosso redor, chegamos juntas a um dos melhores orgasmos de minha vida.
Lentamente nossa respiração foi se acalmando, se acalmando...
Senti os lábios deliciosos de Marina encostando nos meus, num beijo que era uma verdadeira carícia. E foi neste mesmo mágico instante que passei a sentir um imenso vazio. Era como se Marina estivesse me roubando algo que eu não pretendia dar. Ou melhor, que eu não estava preparada para dar!
- Ainda é cedo, princesa... - sua voz estava sonolenta. - Vamos descansar um pouco mais!
Então ela me abraçou pela cintura e, encaixando seu corpo ao meu, senti sua respiração se acalmar de vez e eu, ainda me sentindo confusa pela sensação de vazio, adormeci!
Quando abri meus olhos novamente, estava sozinha na cama imensa. Olhei ao redor tentando ouvir algum som, mas tudo estava em silêncio.
Sentei-me na cama tentando imaginar onde Marina estaria.
Levantei, caminhei até o banheiro, onde encontrei tudo o que eu precisava para um banho. Feliz, entrei sob o forte jato do chuveiro.
Quinze minutos depois, quando terminava de escovar meus dentes, o telefone tocou. Corri para atender sem poder ocultar um sorriso nos lábios.
- Marina? - perguntei.
Não era Marina. Mas uma outra mulher, com voz cheia de suspeita no carregado sotaque inglês.
- Quem está falando? - ela perguntou.
Achei melhor não dizer meu nome.
- Uma amiga de Marina. - respondi simplesmente.
- Uma amiga? Amiga de Marina? - ela parecia não acreditar. - E onde ela está?
- Saiu.
- Saiu para onde? - seu tom de voz era impaciente.
Eu já tinha ouvido demais daquela mulher, que nem ao menos havia se identificado.
- E quem gostaria de saber?
A voz se tornou diplomática, apesar de continuar impaciente.
- Sou uma das representantes do príncipe Yasser Raschid, e ele quer saber se a senhorita Cintra já conseguiu adquirir a peça rara que ele ansiosamente espera.
Quase desliguei o telefone tamanha a surpresa de saber que Marina negociava com um príncipe.
- Eu não tenho ideia de onde ela está... - resmunguei.
- O príncipe está pagando uma verdadeira fortuna de comissão à senhorita Cintra e, obviamente, deseja receber serviços à altura de seus gastos. Acho que ele, o príncipe, não gostaria de saber que, em vez de trabalhar, Marina Cintra está gastando seu dinheiro com seus casinhos amorosos em Veneza.
Respirei fundo lembrando da máxima que diz: "O cliente tem sempre razão!"
- Não há outra pessoa que possa resolver o problema no momento?
Um breve momento de silêncio do outro lado da linha.
- O príncipe só negocia com a dona da empresa, não com funcionários. Adeus! - disse a voz impaciente, desligando o telefone na minha cara.
A dona da empresa? A empresa que paga o hotel? Vi alguns papéis sobre a mesa e andei até lá. Não precisei tocar em nada, lá estava, numa folha de papel timbrado: "Marina Cintra", negociadora de artes raras... E, abaixo, o endereço de uma das ruas mais famosas e exclusivas de... Londres?
Ela havia mentido. Uma pequena mentira, mas ainda assim, uma mentira. Teria sido a única? E por que a mentira? Acaso ela achava que eu, Valentina, seria uma interesseira?
Mal acabei de me vestir, o telefone tocou novamente. Mais uma vez resolvi atender:
- Marina Cintra, por favor! - pediu uma voz masculina com sotaque italiano.
- Ela não está!
- Poderia lhe dar um recado, por favor?
- Claro. - respondi.
- Aqui é da Air Executive, do aeroporto de Veneza. Precisamos que ela confirme sua presença no voo desta tarde para Londres. Conseguimos reserva no voo das duas e meia, como ela pediu...
Marina iria partir para Londres naquela tarde?
- Eu avisarei. - disse sem conseguir esconder meu tom choroso.
Deus! Como ela era mentirosa! Ela havia me dito que ficaria mais alguns dias em Veneza. Mas talvez estivesse em seus planos partir assim que conseguisse me levar para sua cama. Porque, certamente, eu era um de seus "inúmeros" casos amorosos, como aquela voz feminina havia me dito.
O pior é que a sempre doce e suave Marina não tinha tido nem a delicadeza de me esperar acordar e isso demonstrava quão pouco ela se importava com meus sentimentos.
Bom, também o que eu esperava? Marina era uma mulher experiente e em nenhum momento demonstrou nenhum outro interesse que não fosse sex*! Eu que, até então, não havia conhecido nenhuma mulher tão doce e tão decidida, criei a ilusão do amor dentro do meu coração imaturo e infantil. Melhor era sair enquanto ainda tinha um pouco de orgulho.
Engoli meu choro, tranquei a dor que ameaçava invadir meu peito e saí silenciosamente em direção ao elevador.
Desci até a recepção, ignorando a expressão da jovem ao meu lado no elevador, que observava as lágrimas que, silenciosamente, lavavam minha face.
Saí rapidamente a passos largos para ver, com absoluto horror, que Marina estava sentada em um sofá no elegante saguão falando ao celular, e com um sorriso radiante, na companhia de uma loira.
Estava linda numa roupa toda branca, de cabelos presos. Diferente da mulher com os cabelos soltos que eu havia passado a noite fazendo amor loucamente. Senti meu coração apertar no peito e uma espécie de alarme soar: Hora de esquecer!
Assim que ela desligou o celular, levantou-se e, aproximando-se do balcão, conversou rapidamente com o atendente. Me escondi atrás de um grosso pilar de mármore, afinal, não queria que ela me visse naquele estado, então... Esperei
Ela voltou para junto da loira, acariciou sua face e, sorrindo, caminharam em direção ao elevador, de mãos dadas. Assim que a porta se fechou, saí em disparada do hotel.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]