--Carlos, despacha homem, para de contar histórias a essas crianças. O jogo é daqui a pouco.

 

--Nem ligue Carlos, essa velha não cansa de ser chata.

 

Risos.

 

--José, cala essa boca e me ajude com a louça.

 

--Nenê, o tio Carlos está muito feliz e ele disse que adorou Mindelo dessa vez e que queria ficar mais, mas com o jogo da minha mãe teve que voltar...

 

--Era segredo Arthur, tu falas demais garoto.

Luna puxou o cabelo do irmão que fez cara de vítima e de desentendido.

--Eu reparei o sorriso desse menino, mas como ele fez escola com a Nina e também não fala nada da vida dele eu nem me dei ao trabalho de perguntar.

Risos.

--Fofoqueira, deixe o menino em paz, ele merece ser feliz, todos nessa quinta merecem a felicidade.

--Eu não sou contra a felicidade de ninguém velho, pelo contrário, apenas gosto de estar a par das coisas...Carlos, vamos ter nova moradora na quinta?

--Irene?

Gargalhadas de Carlos e das crianças. Zé bufou batendo com a cabeça enquanto ajudava com a louça.

--Então Carlos?

--E ela não desiste...mulher, pelo amor de Deus.

--José o teu problema é falta de histórias para contar...

--Tu por acaso tens muitas, não tens?

Gargalhadas.

--Nenê...estou feliz porque daqui a dois meses vou ver minhas meninas nos EUA.

--Tio, elas não vêm nos visitar? Estou com tantas saudades da Carol e da Gabi...

--Eu também, muita saudade...

--Eu vou para lá agora, mas no fim do ano elas virão com fé em Deus. Minhas meninas estão tão crescidas.

--Já compraste a passagem tio? A América é outro país, não é?

--Claro que sim Arthur. Lembras que te mostrei no mapa a cidade onde a Skya e a Cathe moram?

--Sim...mas é longe...eu fico com saudades do tio...quem vai levar-me às costas para a ribeira?

--Ah se a Tashi ouve isso. Ela leva-te quase sempre, deixa e ser ingrato.

--Eu sei, mas o tio Carlos pula comigo na água, sobe em árvore para pegar azedinha e eu gosto de fazer coisa de meninos e a Tashi brinca mais contigo essas coisas leves de menina.

Gargalhadas altas.

--A Cassandra faz tudo o que fazemos Tujito...

--Eu sei tio, mas eu gosto de ti...

--Eu também meu menino, mas o tio não vai ficar muito tempo nos Estados Unidos e quem sabe vocês não vão também...

--Nós?

--Sim...há algum tempo atrás a Nina disse que adoraria levar-vos para a cidade onde ela estudou e que se encontrasse passagens baratas iriam todos para a América.

--Sério tio? Meu Deus, eu quero muito ir. Tujito lembras que a Cathe disse que lá tem muitas coisas diferentes para nós brincarmos?

--Sim, eu também quero muito conhecer a terra das nossas amigas e a terra onde a minha mãe estudou. Lá que fazem os filmes que eu adoro...tio, ainda tem passagens baratas?

--Tem sim. Mas se não for agora, vocês irão em outra ocasião...lembrem-se que a Nina tem muita coisa para fazer e nós dois não podemos sair ao mesmo tempo daqui...

--Eu ainda sirvo para alguma coisa...--Resmungou Zé.

--Devo concordar com o velho...estamos velhos mas ainda damos conta de muita coisa e duas semanas de ausência não vão causar a falência da quinta.

Risos.

--Vamos?

--Não sei Luna...

--Vou perguntar à minha mãe depois do jogo...quem sabe a Skya não a convence...

--E as nossas hóspedes onde estão?

--Estão no quarto delas, mas já vou chamá-las porque a Tashi chega daqui a pouco para levar-nos ao polidesportivo. Estou com muita vontade de ver minha mãe em quadra.

--Eu também. Vamos Luna, precisamos apressar nossas amigas.

O pequeno puxou a mão da irmã e saíram saltitando em direção aos bungalows.

********************

 

--Estás com bom aspeto mulher, essa roupa fica-te bem...

--Hã? Isso e um elogio? Ogros agora elogiam?

--Tu não sabes receber elogios criatura...e eu estou bem?

--Até estás, mas vamos ver um jogo, não precisavas de tanto perfume...

--A Nina merece que eu esteja bem e nem coloquei tanto perfume assim...

--Ok, cada um com o seu olfato. Mas Zé, que felicidade...elas estão bem Zé, muito bem.

--E voltamos a ser felizes Nenê, mais felizes...o sorriso de Cassandra, a leveza de Alanis...gargalhadas, crianças felizes, e a velha cumplicidade que salta aos olhos. Temos que agradecer a essas mulheres, a ajuda delas foi de grande valia.

--Eu sei Zé...e elas vieram de tão longe...e nem conheciam nossas meninas...

--A linguagem do amor é universal Irene...

--Hã? Tu às vezes tens a mania de filosofar...

--Sei bem o que digo...

--Às vezes sim...

--Assim como tu na tua loucura fazes coisas que dão certo...pedir o apoio das nossas hóspedes e agora amigas foi uma atitude muito louvável.

Risos.

--Dentro das nossas limitações, somos uma dupla e tanto.

Risos.

--Concordo.

--Mas Zé...e o Carlos?

--O que tem o Carlos?

--Ele não voltou igual...

--Lá vem a vidente...

--É sério homem...eu até percebi sorrisos furtivos...e os olhos?

--O que tem?

--Brilhantes...o Carlos não aparenta essa boa disposição há bastante tempo...

--Pensando bem...tens razão. Ele voltou bem-disposto, alegre, falante...

--Tomara que ele encontre uma boa mulher...há muito tempo ele não se relaciona, ele só sai com amigos e de vez em quando para fazer as coisas que eles gostam...ele é jovem, bonito, excelente pessoa e merece ser feliz...

--Mas não inventes histórias nessa tua cabecinha romântica, pode não ser nada disso. Pode ser tao somente a alegria por ir ver as filhas dentro de meses...

--Ah José, há coisas que essa tua mente fechada nunca vai entender...mulher consegue ver além do óbvio e garanto-te, o Carlos conheceu alguém interessante nessa viagem...

--Eu admiro essa tua vasta experiência de vida, vida amorosa mais concretamente...entretanto és uma solitária convicta.

--Ah cala a boca, velho atrevido.

Zé a abraçou rindo às gargalhadas.

--Vamos mulher, a Cassandra chegou e já está a buzinar lá fora.

 

********************

Como já era habitual nos jogos de volley da equipa de Nina, o recinto explodia numa batucada frenética acompanhada de gritos de palavras de ordem, palmas e muita alegria.

--Wow, que energia...- Skya disse animada quase dentro dos ouvidos de Cassandra já que o barulho era quase ensurdecedor.

--É sempre assim nos jogos das águias e elas ainda nem entraram na quadra.

--Adoro volley, já pratiquei na adolescência, mas a paixão pela música venceu-me.

Risos.

--A Nina arrasa em quadra, aliás a equipa dela é maravilhosa. A Luna não deixa a Catherine em paz.

Risos.

--Ela adora os teus filhos e é completamente apaixonada pela inteligência e meiguice de Luna.

--Minha menina é especial...o presente que a vida nos deu...vivo cercada de presentes...e só posso agradecer.

Cassandra transbordava felicidade e contagiada pela aura de alegria, Skya abraçou-a, beijando-lhe rosto efusivamente.

A equipa de Alanis entrou em quadra diante de uma enorme ovação. No aquecimento já era possível perceber a força que aquela mulher tinha e a impressionante elevação que tinha levantando a bola.

--Minha mãe parece uma gigante, não achas Cathe?

--Sim...estou impressionada.

--Ela é a melhor jogadora do mundo e a Tashi a melhor professora do mundo, não é Luna?

--Sim, temos as melhores mães do mundo Cathe e eu vou ser jogadora como a Nina e vou ensinar os meus filhos como a Tashi faz na escola dela.

Catherine sorriu emocionada no momento em que Arthur pulou nas suas pernas segurando-lhe o rosto para não perder um detalhe do jogo da mãe que finalmente iniciara.

A equipa de Alanis passeou em cima da outra e ela mais uma vez deu o sangue na quadra.

Skya olhava admirada todos os movimentos de Alanis, não perdia um único detalhe. As duas jogadoras da rede também chamaram a sua atenção por ter sido essa a sua posição enquanto jogadora de volley. Elas pareciam gazelas na elegância e touros na força com que bloqueavam as bolas adversárias.

Ela e Cassandra conversaram o jogo todo, ora sobre tática, ora reclamando das decisões do árbitro.

--A Nina é maravilhosa, meu Deus, ela em quadra parece uma força brutal, é inteligente, parceira do time, a Nina é perfeita.

Skya falava num entusiasmo contagiante e Nenê seguiu o ritmo enaltecendo todas as qualidades da filha, em quadra e fora dela.

--Irene...menos.

--Ah chato, deixa-me ser feliz. Adoro esses momentos de jogo, ver minha menina fazer algo que a deixa feliz e sendo sempre brilhante...momento em que nos reunimos à volta dela, deixa-me ser feliz.

--Nada contra a tua felicidade mas a Alanis não joga sozinha e falas como se ela fosse a única jogadora desse time. As outras mães...

--Eu não tenho nada a ver com as outras mães, cada uma que defenda a filha. Lembras quando a Nina ficou sem jogar por causa da lesão?

--Claro.

--Essa menina ganha vida em quadra, e eu sou fã ardorosa...deixa-me em paz.

Catherine que ouvia a tudo com atenção não conseguiu evitar o riso, aquele quase casal era uma atração à parte no leque de coisas boas daquela gente simples e inesquecível.

********************

--Tashi, a Nina?

--Ela já vem amor, lembra que tem a sessão com as colegas e o treinador, ela já vem.

--Quero dar muitos beijos nela e dizer que ela foi perfeita...mais uma vez.

--Eu também guapa. E o almoço, estás a gostar de tudo?

--Delicia Tashi, escolheram o melhor restaurante para comemorar a vitória da Nina, aqui tem tudo o que eu gosto e o Tujito precisa parar de comer morangos.

Risos.

--Hoje podem comer à vontade, desde que não exagerem nos doces...

--Eu nem gosto tanto assim de doces, prefiro o bolo de cenoura da Nenê. Olha a minha mãe...

A menina correu em direção à porta do restaurante onde Alanis acabara de entrar.

Cassandra sorriu sentindo aquela velha e intensa felicidade.

 

********************

--O Carlos pode ir receber a vossa amiga, ele adora essa parte de receber os hóspedes e desde que voltou de Mindelo está numa boa disposição que dá gosto.

Risos.

--Nina assim a Skya e a Catherine vão pensar o quê de mim?

--Eu tenho a certeza que és um excelente anfitrião, mas faço questão de ir buscar a Kika, até porque estou com muita saudade dessa sumida que ao que parece perdeu-se de amores por Mindelo e quase não chega aqui a tempo de nos encontrar.

--São os encantos dessa terra Skya, eu sou suspeita...adoro Mindelo e já vivi lá e sempre que vou me apaixono mais e mais...

--Eu também gostei muito da cidade, embora tivéssemos ficado pouco tempo...Skya, tens a certeza?

--Claro.

Skya riu alto e Cathe revirou os olhos.

--O que foi?

--A Alanis sugeriu emprestar-lhe o carro e ela vai dirigindo...

--Ah, normal...vão pela estrada nova e chegam em pouquíssimo tempo.

--Vês? Nem vamos pelas alturas...

--Nem pensar...tu és doida e eu morro de medo.

Skya abraçou Catherine e beijou-lhe a cabeça.

--Confia em mim...

--Eu confio...mas ainda assim tenho medo de altura e dessas curvas sinuosas...

--Posso levá-las. - Ofereceu Alanis.

--Nem pensar, interromper vosso momento de relaxamento por causa de medo de altura da Catherine.

Gargalhadas.

--Não...vou tranquila, desde que o percurso seja o moderno, sem muitas montanhas.

--Vamos? A Kika não pode sentir-se desamparada no cais.

Risos.

--Vão com Deus e voltem logo.

--Sim...mas não vou correr porque...

--Nem ouses...

Risos.

********************

 

--Chegamos, sãs e salvas. Alguma reclamação?

Skya sorriu com um ar triunfal e recebeu um leve beijo na boca como resposta.

--Devo concluir que fui aprovada?

--Aprovadíssima. Eu estava a brincar para te provocar, sei que diriges muito bem...

--Como podes ter tanta certeza? Eu nem tenho carro em Boston.

--Sempre que te emprestei o meu, ele foi-me devolvido sem qualquer arranhão.

Gargalhadas altas.

--Vamos entrar no porto? Se a outra chega e não nos vê começa o drama...

Risos.

--Ela não é dramática...

--Promete alguma coisa e não cumpre para veres o grau de chatice que vais aturar.

Risos.

--Mas essa é outra história. Vamos logo então que não quero ser culpada de chatice alheia.

Risos.

 

********************

Catherine e Skya resolveram mostrar alguns lugares a Rebeka antes de dirigirem-se à quinta e ela não cansava de admirar tudo ao redor.

Paragem obrigatória, Ponta do Sol.

--Estou sem palavras...a minha alma está em paz, aberta para o novo e minha pele toda arrepiada.

--Eu não disse? Não costumo exagerar...

Risos.

--Mas Skya por melhor que sejas a descrever as coisas, as tuas palavras não chegam muito perto do que realmente sente-se aqui...estou encantada.

--Eu sabia que ias ficar assim, até comentei com a Cathe que essa ilha é perfeita para as tuas meditações, encontro com... com o quê mesmo?

Gargalhadas altas.

--Até agora estou maravilhada e estás certa, a ilha é perfeita para as minhas viagens internas.

Rebeka suspirou profundamente e sorriu com os olhos fechados tendo a face acariciada pelo sol.

--Kika...

--Hmmm...esse barulho do vento é tão bom...

--Kika...

Catherine sorriu pois já imaginava o que Skya queria saber.

--Rebeka?

--Sim, o que foi criatura? Posso curtir minha natureza em paz?

Risos.

--Será que podes contar às tuas amigas o motivo de quase teres mudado residência para Mindelo?

Gargalhadas altas.

--Cathe, a tua ponderação não é contagiosa...que pena.

Risos.

--Mas a Skya tem razão Kika...

Risos.

--Até tu?

--Vais contar ou vamos ter que te arrancar tudo à força?

--Que violência...

Risos.

--A zen aqui és tu, eu sou prática e gosto de saber o que está a acontecer ao meu redor e se for com amigos então...

--Há um certo exagero nessa indagação, passei três dias numa ilha onde supostamente ficaria um...

--Sim e esqueceste do detalhe que não conhecias ninguém na ilha e ela apenas serviria de passagem para outra onde amigas queridas estavam à tua espera.

Rebeka riu alto e com vontade.

--Cathe, o que fizeste com essa menina? De tão desprendida agora parece importar-se tanto com os amigos.

--Ah cala a boca Rebeka.

Gargalhadas altas e felizes.

Algum tempo depois...

--Eu nem sei por onde começar, até porque essa história ainda parece-me surreal...

--Ahhhhh então há uma história, eu não disse Cathe? Conheço esse olhar de quem está nas nuvens.

Risos.

--Mas como se nunca me viste nas nuvens?

--Eu sei e pronto. Conheceu um homem maravilhoso que balançou esse coração estranho e confuso?

--Mas...- Rebeka olhou para Catherine que riu com gosto e piscou para Skya.

--É uma dupla unida.

--Umhum. - Responderam em uníssono.

--Ok...bom, cheguei em Mindelo e tive a certeza que deveria ficar mais algumas horas, não me perguntem a razão, apenas senti...

--Sim...e?

--No hotel onde me hospedei, encontrei um grande amigo saxofonista Francês que não via há muito tempo. Foi uma alegria sem fim e ele convidou-me para um show de jazz que aconteceria naquela noite. Na realidade seria mais um encontro de saxofonistas e outros instrumentistas porque ele já conhecia bem a ilha e seus amantes do sopro.

--Hmmm...

--O encontro era na realidade uma espécie de reunião de membros, apaixonados por sax, quase uma confraria, com regras, rituais, simbologia...

--A tua cara.

--Sim...completamente. Eu fiquei responsável pelo controle da entrada dos membros, porque é tudo muito bem elaborado, informatizado, enfim, a coisa é séria...

--Mas o teu amigo francês vive cá?

--Sim, longa história...mas ele roda o mundo trabalhando, mas a base atual é a ilha de São Vicente...

--Entendo...deve ser mais um que perdeu-se de amores pelas ilhas...

--Síndrome da Cassandra.

--Quem é Cassandra?

--Vais conhecer, aliás tens tanta gente maravilhosa para conhecer, mas prossiga com a confraria dos saxofonistas.

Risos.

-- A coisa é tão organizada que ninguém entra sem ter permissão. Todos os membros têm um cartão eletrónico que é validado à entrada e eu fiquei responsável pela validação, auxiliada por uma máquina, obviamente. Ah, eu pedi para fazer essa tarefa porque o músico responsável não pôde comparecer. Ainda estava um bocado receosa e desenquadrada e preferi ficar na porta...

--E onde entra o homem maravilhoso?

--Calma Skya. - Catherine apertou o braço da namorada rindo da expressão dela.

--Ok, não digo mais nada, mas quero ouvir tudo.

--Tudo corria muito bem, até que um homem todo esbaforido tentou convencer-me que era membro e que tinha esquecido o cartão. Gentilmente sugeri que ele fosse buscar pois sem cartão não entraria. Ele ficou levemente irritado e disse que o cartão tinha ficado em outra ilha. Mantive minha calma...

--A célebre calma irritante...

Gargalhadas.

--Exatamente, e ele ficou a ponto de quebrar a porta, parecia muito interessado em entrar e alegou muita coisa para me convencer, mas em vão...até que o Cédric, meu amigo Francês e um dos responsáveis pelo encontro, apareceu à entrada para certificar-se de que eu estava bem e ficou felicíssimo por esse tal homem estar ali. Ele era simplesmente um dos mais aficionados por sax, membro de ouro e etç...mas eu não poderia adivinhar...o que chamou a minha atenção é que ele em momento algum disse que estávamos com problemas e que eu tinha sido intransigente...passou por mim rumo ao interior e acenou-me com a cabeça. Eu fiquei vermelha, claro.

--Ele é bonito?

--Naquele instante não reparei nada, apenas que cheirava muito bem...estava envergonhada embora tivesse disfarçado bem...

--Ok, e mais?

--A reunião foi perfeita...Cédric fez-me tocar e eu adorei. De repente, eramos todos amigos e eu não poderia estar mais feliz...

--Gostei...continua.

Risos.

--Onde entra o tal homem...

--O maravilhoso, membro de ouro da confraria...

--Sim...

--Nome?

--Engraçado...eu não sei...

--Não? Como assim?

--Na confraria, cada um tem um código e todos respondem por ele...o homem misterioso é o 017.

--Wow, adorei...017.

--Interessante...agora eu sou a mais curiosa. - Disse Catherine rindo.

--Não consegues meu bem, eu estou aflita...conhecendo essa doida nem sei o que esperar...

--Eu vou contar...a noite terminou às tantas da madrugada, tocamos, comemos, rimos, bebemos...todos amigos.

--E a língua?

--Inglês para todos e a língua universal...música.

--017?

--Sim...cheguei ao hotel às tantas da madrugada e não conseguia abrir a porta do quarto por nada nesse mundo. Passei mais de quinze minutos especada à porta sem saber o que fazer...até que para a minha alegria ouvi passos nas escadas em direção ao meu andar e corri para pedir auxílio.

--Era o 017, ai eu adoro a vida.

Risos.

--Em carne, osso, charme e timidez.

Risos.

--Ele também pareceu surpreso ao me ver toda atrapalhada e imediatamente aceitou ajudar-me. Ah meu nome na confraria passou a ser "diamante".

--Adorei! Diamante...meio bruto, mas sim és um diamante.

Gargalhadas.

--Deixa a Kika falar...

--Sim, claro.

--O hotel onde fiquei é uma construção antiga e de charme e o sistema de chaves é o tradicional e o rececionista simplesmente tinha-me dado a chave errada. 017 percebeu imediatamente e controlou-se para não rir da situação. Mas eu ri, fartei-me de rir. A minha risada amenizou o clima entre nós e ele sorriu...vi tanta verdade naquele sorriso, simplicidade...sei lá, senti-me atraída e como estava sem sono e o dia já amanhecia, convidei-o para tomar café comigo...

--Sério? Kika...maravilhoso.

--Concordo com a Skya...maravilhoso.

--Sim...não sei por qual razão fiz aquilo, mas deu vontade e estava numa terra estranha, ele era estranho...porque não? Fomos tomar café, conversamos muito mas apenas sobre música...ele contou-me da paixão por sax, mas que era apenas um apaixonado frustrado porque não tocava profissionalmente porque na altura de estudar, musica ainda era visto como boémia na terra dele e teve que estudar outra coisa, mas que era feliz na profissão, ainda mais porque tinha a chance de cultivar sua paixão por sax.

--E ele faz o quê da vida?

--Ele trabalha com negócios, mas não sei de quê...falei muito de mim, ele ouvia tudo com atenção e até interesse...

--Tu és encantadora menina...encantadora.

--Sim...foi o que ele disse...conversamos muito, ele o 017 e eu a diamante...o tempo todo. Muito interessante...Skya...Cathe...passei o dia todo com ele, não dormimos...do café, fomos à praia, mas não uma praia da cidade, repleta de gente, fomos a um lugar lindo, com pouquíssima gente...adorei. Ele é tímido e quase falo sozinha mas ele me ouve com tanta atenção que dá prazer falar...passeamos e ao final da tarde ele disse-me que deveria ter partido logo cedo para casa mas...

--Ele não mora em Mindelo? Ou em São Vicente?

--Não...estava de passagem...eu fiquei feliz porque mesmo de forma pouco clara, ele disse que não tinha regressado a casa mas que a decisão tinha sido a melhor...

--Agora entendo essa súbita paixão por Mindelo...

Gargalhadas.

--Ele é de onde?

--Não sei...

--Como não Kika? E como vais fazer para vê-lo mais uma vez?

--Ela não vai fazer meu amor, a Kika acredita que esses encontros acontecem uma vez e é isso...tanto que ela nem quis saber onde o 017 vive...ai eu não entendo essas coias, juro que não entendo.

Kika sorriu e olhou para longe...

--Rebeka?

--Sim...passamos o dia juntos. Depois do almoço eu dormi na praia e acordei revigorada...ele nadava...ele é lindo Skya, já sei que a próxima pergunta será sobre a beleza do 017.

Gargalhadas.

--Lindo...beleza rustica, com braços e pernas fortes, um sorriso perfeito...mistura de timidez com sensualidade...um mistério no olhar...

--O que é isso Rebeka? Paixão por um código?

Gargalhadas.

--Sim...provavelmente por saber que nosso encontro seria apenas ali...aquele momento tornou-se perfeito...nadamos juntos, ele carregou-me às costas...contou-me vivências mas nunca entrando em detalhes mais profundos...provavelmente tem alguém, mulher, filhos...um ser assim não vive só...eu contei muita coisa da minha vida, falei com orgulho da minha família, da luta de todos para que eu pudesse seguir meu sonho em ser saxofonista...às vezes ficávamos em silêncio e parecia que a comunicação continuava...chegamos ao hotel à noite depois de muitos passeios. Ele convidou-me para jantar e eu não queria outra coisa...jantamos, fomos a um bar ouvir musica...convidaram-me a tocar porque mais uma vez encontramos Cédric...toquei com alma, estava feliz...voltamos ao hotel perto das 3 da manha, eu estava quase sem dormir mas a disposição não combinava com a falta de sono...ele deixou-me à porta do meu quarto, o seu andar era mais acima...

--E?

--Quando ele despediu-se...esqueci minha timidez e sei lá mais o quê e beijei-o na boca...

--Yeeeeees! - Skya pulou e beijou Catherine no ombro abraçando-a em seguida.

Gargalhadas.

--O beijo foi bom?

--Não sei dizer...ele pareceu ter ficado espantado e não correspondeu logo de imediato...ou não quis...

--Não quis? Impossível...depois de toda essa envolvente? Impossível.

--Foi estranho...mas eu gostei...muito. Ele abraçou-me bem apertado, disse alguma coisa que não entendi, abriu a porta do meu quarto, colocou-me dentro e foi embora...Skya, contrariando um bocado minha maneira de encarar a vida...

--Eu sei...irias dormir com ele...

--Sim, se ele quisesse, iria sem pestanejar...

--E depois?

--Depois nada...no dia seguinte, ou algumas horas depois, fui procura-lo e ele tinha desaparecido. No hotel, ninguém soube ou quis informar-me algo sobre ele...mas também eu não sabia muita coisa, nem sequer o nome...

--E ele sabe o teu?

--Não...porquê?

--Se soubesse seria fácil descobrir-te na internet...

--Ah, foi apenas um encontro bom...único.

--Já tens a tua aventura nas terras de Cabo Verde...garanto que vais ter muitas mais, apesar do pouco tempo que nos resta nesta ilha fantástica...

--Posso ficar mais alguns dias...vai que eu me apaixono loucamente pelas belezas todas que ainda não vi, já estou encantada pelo que vi e se dizem que há muito mais...quem sabe?

Risos.

--Ah, uma coisa é certa...vais morrer de amores pelas pessoas. Kika, nós estamos num paraíso com pessoas maravilhosas, inesquecíveis, afáveis...crianças lindas, mulheres intensas, pessoas ímpares e uma beleza da natureza...ahhh, vamos para casa?

--Vamos...- Cathe sorriu apaixonada. - Ela é exagerada mas tem razão...vais adorar Kika.

Seguiram felizes rumo à quinta.

********************

A forma como Rebeka foi recebida na quinta superou qualquer relato feito pelas amigas. Ela ficou sensibilizada com tamanha amabilidade, ainda mais que não passava de uma estranha. Teve até jantar especial em sua homenagem e pôde comprovar que as amigas não tinham exagerado em nada. Por falar espanhol, não teve qualquer dificuldade em se comunicar com aqueles que não falavam ou entendiam tão bem o inglês.

--A Skya já tinha falado de ti, ela contou-nos que tocas saxofone. Sabes quem adora saxofone?

--Quem?

--O tio Carlos.

--E onde está o tio Carlos?

--Sabes que eu nem sei...mãe, onde está o tio Carlos? Oh mãe...

A menina chamou em vão porque Alanis estava conversando algo que parecia sério com Cassandra e sequer ouviu.

--Ele é irmão da tua mãe?

--Não minha filha, o Carlos é o braço direito da Nina aqui nos negócios. Infelizmente ele teve que ausentar-se às pressas para resolver um problema, mas amanhã cedo estará de volta e poderás conhecê-lo. - Disse Irene toda sorridente.

--Rebeka...eu gosto do teu nome, ensinas-me a tocar saxofone?

--Ah, tu nem sabes tocar bateria que já treinas há seculos...

Risos.

--Ensino sim Arthur, como muito prazer. E tu Luna, tocas alguma coisa?

--Flauta. Também quero aprender saxofone, mas quando crescer quer ser jogadora de volley como a minha mãe Nina. Rebeka, sabias que eu e o Arthur temos duas mães?

--Hmmm...

--Sim, temos duas mães e somos as crianças mais felizes do mundo. Eu pareço com as duas e o Arthur é a cara da Tashi...eu não pareço tanto assim com ela mas temos os mesmos olhos e tenho o corpo como o da minha mãe Nina e vou ser grandona como ela.

Rebeka sorriu feliz com a estranha sensação de estar em casa...tão longe de casa mas em casa.

Ela foi levada por Zé e as crianças para um passeio noturno pela quinta.

********************

--E essa carinha de quem está com saudade de alguma coisa, ou de alguém...

--Saudades do Scoutie...

--Mas ele está bem...

--Eu sei, mas tenho saudades...esse gato é muito importante, membro da minha família...

--Eu sei...tu cuidas tão bem dele. Por não ter tempo tive que devolver o meu gatinho poucos dias depois de adotá-lo...

--Eu também não tenho muito tempo, mas adapto tudo para que ele não se sinta tao só, embora Scoutie seja independente e até de certa forma arrogante.

Risos.

--Sim, mas ele adora-te. E acho que gosta de mim...um pouco...

Risos.

--Gosta sim e adora a casa da Susan...lá ele é rei absoluto. Tu não tens saudades de nada?

--Hmmm...talvez dos concertos, da adrenalina...mas estou de férias e devo aproveitar este momento e estou com a melhor companhia e cercada de gente linda e de uma natureza exuberante...ah, quero apenas isso agora.

--Linda...

--Linda és tu...descobri que sou apaixonada por duas mulheres diferentes...

--Como assim? - Catherine franziu a testa.

--Já disse que adoro quando franzes a testa e fazes essa cara de insegurança?

--Não e eu não fiz cara de insegurança...

--Fez sim...e eu adoro.

Skya beijou-a rapidamente na boca mas não conseguiu desfazer aquele enorme ponto de interrogação na cara de Catherine.

--Sou apaixonada por uma mulher sóbria, elegante, que se veste muito bem e que vive de salto alto e com os melhores perfumes, mas também sou apaixonada por uma mulher mais simples, que vive de saias curtas, shorts, vestidos soltos, cabelos ao vento, sem maquiagem, que usa chinelos e ténis...elas são a mesma pessoa, sorte a minha.

Risos com beijos.

--Aqui és mais leve...solta, inteira, sem stress, mas eu também adoro minha Cathe confusa, stressada, frenética...

--É...um pouco confusa, mas aqui sinto-me em paz, são as férias, elas servem para descomplicar a mente, desacelerar...pena que já estejam a terminar...

--Vou ser igualmente feliz em Boston...se quiseres, claro...

--Se eu quiser?

Ela sorriu de forma enigmática e beijou Skya devagar, deixando sua marca na alma da musicista que correspondeu da melhor forma...

--Sabes o que quero agora?

--Hmmm... - Skya já metia a mão dentro da blusa de Catherine arrancando-lhe gemidos abafados com beijos.

--Quero...quero fazer amor...

--A noite toda...até ficarmos sem forças...até...

--Vem.

Catherine pulou do banco de pedra e puxou Skya para dentro do quarto fechando a porta com o pé. Riram às gargalhadas antes de se renderem ao amor que as preenchia cada vez mais...

********************

Mais um dia que começava feliz à volta da mesa de café da manhã de Irene. As gargalhadas ouviam-se ao longe, o frenesi dos pratos, o cheiro inconfundível do café de Nenê.

--Que bolo maravilhoso dona Nenê, meu Deus não canso de comer. - Disse Rebeka de boca cheia.

--Minha menina, sem dona por favor. Esse velho rabugento quer me envelhecer a todo o custo mas não o ajude pelo amor de Deus.

Gargalhadas altas.

--Eles são assim, o casal sem casamento mais fofo do mundo. - Segredou Catherine a Rebeka.

--Nenê, tu estás na flor da idade, na melhor idade e com esse talento para agradar paladares vais viver muitos anos.

--Ouviu velho?

--Zé, tu és o melhor anfitrião. Ele mostrou-me tudo ontem, com a ajuda dos meus amiguinhos, conheci a quinta toda.

--Nãooooo Kika, ainda tem muita coisa para ver. Nós só andamos por aí, a quinta é enorme e tem outras coisas, Ribeirão, a casa azul e tem outros lugares para passearmos. - Disse Luna quase clamando pela atenção de Rebeka que sentia-se parte de uma família que acabara de conhecer.

--Nós vamos ter todo o prazer em mostrar-te tudo Rebeka, pena que tenhas tão pouco tempo...- Alanis dirigiu-se à amiga das amigas num tom cordial deixando-a ainda mais animada.

--Obrigada Nina...quem sabe eu não fique mais uns dias...

--Será uma sábia decisão que nos dará muito gosto. - Foi a vez de Cassandra falar com a mesma simpatia e naturalidade de todos.

--Skya, elas são tão lindas. A Nina é linda com essa pele morena, esse ar de mulher forte e ao mesmo tempo tão doce e a Cassandra...dá vontade de encher de beijos e perder-se no olhar cálido e misterioso.

--Hã? Estás sofrendo de paixonite pelas deusas da montanha? Olha que isso pega.

Risos abafados.

--Deixa de ser doida...eu gosto de homens mas tenho olhos na cara e sensibilidade na alma. Quero beijar a bochecha da Cassandra, ela transmite coisas boas...assim como a Catherine tem um certo mistério que encanta, atrai...gente do bem, entendes?

--Ah se entendo...deixa de ser dramática e aceita as minhas brincadeiras.

Risos.

--O que as moças tanto riem? Ou é segredo de Estado?

--Essa louca que ainda não aprendeu que adoro brincar, provocar...

--Sim...e para de me provocar com esse olhar...estamos numa mesa de família...

Risos abafados.

--Ok...calei-me e virei a cara para o lado.

Risos.

--Rebeka, já vais conhecer o Carlos, ele chega daqui a pouco e com boas notícias Nina.

--Graças a Deus e ao talento do meu amigo-irmão.

--Ah, ele vai levar os meninos para passear na floresta e disse que se quiserem ir estão todas convidadas. - Gritou Zé quase deixando a cozinha.

--Vamos Skya, Rebeka...por favor? - Pediu Luna com os olhos brilhando.

--E a mim não convidas Luna? - Perguntou Cathe fingindo tristeza.

--Tu tens medo de altura Cathe e lá é muito alto e verde e lindo. Queres vir? Vou gostar muito...

--Obrigada meu amor, mas estás certa, não gosto muito de altura...a Skya com certeza vai adorar o passeio.

--E eu também. - Disse Rebeka ganhando um abraço de Arthur que não entendia muito bem mas sabia que falavam de coisa boa.

--A Nina sei que vai trabalhar porque já ouvi uma conversa mais cedo entre ela e a Tashi e ela disse que tinha muita coisa para fazer e a Tashi vai preparar uma viagem de trabalho. Eu gostaria que fossemos todos juntos ao piquenique. Contei que o tio Carlos faz piqueniques maravilhosos connosco? Ele é o melhor tio do mundo e pai também...mas a Gabi e a Carol não moram mais aqui...

A menina falava pelos cotovelos demonstrando sua satisfação.

--Carlos chegou Nenê. - Gritou Zé da entrada do casarão.

--Graças a Deus. Já tenho tudo preparado para o piquenique.

--Mas ele não estará cansado?

--Não, ele quando promete algo às crianças nunca falha e elas aguardam esse passeio há dias. Mas ele não esteve a trabalhar a noite toda, apenas pernoitou porque a estrada à noite é perigosa. Olha o meu menino aí...

--Bom dia pessoal, estou cheio de fome.

Rebeka acreditou estar num sonho ou tendo uma privação de sentido. 017 era o homem de confiança de Alanis? A menos que ele tivesse um irmão gémeo idêntico...

As crianças correram para os braços do tio Carlos que as ergueu ao ar. Ganhou beijos e mil perguntas feitas a uma só voz.

--Calma, vamos sim ao nosso piquenique. Alguma vez falhei?

--Nunca. Vem cá tio, precisas conhecer a nossa hóspede nova. A Rebeka é muito simpática e amiga da Skya e da Cathe. Tio ela toca saxofone...

--Olá. - Rebeka antecipou-se com um grande redemoinho no estomago.

Carlos pestanejou algumas vezes, olhou para os lados, para o chão e depois conseguiu balbuciar algumas palavras.

--Olá, seja muito bem-vinda.

As crianças salvaram os adultos do embaraço, enchendo Carlos de perguntas, mas ele não parou de olhar para Rebeka que sentia o corpo todo tremer e uma vontade quase incontrolável de rir alto.

********************

--Olá...posso interromper um pouco a tua leitura? - Alanis perguntou com aquele seu eterno ar tímido e que era um charme à parte.

--Claro Nina, nem estou a prestar tanta atenção à leitura...

--Porquê? Algum problema?

--Senta. Não...apenas equacionando o fim das minhas férias e pensando algumas coisas...

--A vida voltando ao normal...

--Sim, só não sei ainda como será o meu normal depois desses dias...

--Não entendi...

--Deixa para lá, loucuras de Catherine mas sempre acabo por encontrar soluções...e tu, esse olhar de quem tem a mente em polvorosa...

--Ah, em tão pouco tempo e já me decifras...

Risos.

--Então...em que posso ajudar?

--Nem sei por onde começar...

--Diga qualquer coisa...Cassandra...

--Sim...

Risos.

--Ela...eu queria fazer alguma coisa por ela, por nós...sinto que chegou a hora e não vejo mais motivos para ter duvidas, inseguranças....medos...

--Umhum...

--A Cassandra quer casar comigo.

--Wow, mulher de muito bom gosto.

Gargalhadas.

--Ela já me disse isso várias vezes. Antes da nossa última crise, estávamos a planear ir a Espanha e casar mesmo, legalmente...aqui não se pode fazer isso e nem sei se algum dia será possível, mas quero fazer algo simbólico, apenas nós daqui que já somos muitos - risos - alguns amigos nossos...uma festa simples, um almoço na nossa casa na Ponta do Sol...podes ajudar-me?

--Claro. Muito obrigada por confiar em mim e pedir ajuda para algo tão importante e especial...obrigada.

--Gostei de ti, gostei muito da Skya, mas identifiquei-me muito contigo e tenho a certeza que saberás ajudar-me a fazer algo lindo para o meu amor, para o nosso momento...amo muito essa mulher e jurei a mim mesma fazê-la feliz cada minuto que ela viver ao meu lado...

A emoção tomou conta de Alanis e os olhos brilharam carregados de lágrimas.

--Vamos fazer uma surpresa?

-Sim...ela vai viajar hoje ao final da tarde e ficará um dia e meio fora...será que dá tempo para organizar alguma coisa?

--Claro que sim. Bom, nós vamos embora na quinta à noite...

--Mas...

--Calma, organizamos tudo, não será um almoço?

--Sim, nós gostamos de atividades com a luz do dia e tem o por do sol de lá que ela adora...

--Então, fazemos tudo e ao final da tarde nós partimos...temos que dormir na capital e pegar o voo às sete da manha para Boston. Conseguimos um voo direto, graças a Deus.

Alanis sorriu animada.

--A Xanda adoraria estar presente, mas infelizmente ela está longe...

--Mas podemos trazê-la com as novas tecnologias, ela grava um vídeo e exibimos no almoço, ou então ela entra ao vivo na hora exata, ela pode até seguir tudo...nisso a Skya ajuda, ela é expert nessas lides.

-Sim, claro. A Ludmila e a Tati estão de férias, logo não poderão estar presentes...a Viki e o Jorge sim, e a Cassie vai adorar... o padrinho de Luna e a esposa, tio Lelo, algumas meninas do volley, meu treinador, Joaquim e a família, o Nando está na Alemanha, a Marília e a Catarina infelizmente só vêm mais para o final do ano, Balta, Lena, Filipe, enfim, nós daqui...ah tem a Sílvia e o Salvador, amigos da Cassie da universidade...

--Então será uma festa bem íntima, certo?

--Sim, nós não gostamos de muita confusão e nem será um casamento real, apenas quero mostrar que estou aberta a isso e que sim, ela é a pessoa com a qual quero estar enquanto nossos corações baterem em sintonia...

--Assim eu vou às lágrimas...logo eu que tenho a fama de seca...

Risos.

--Fama injusta...vejo tanto sentimento nesses olhos...

--Vamos focar. Tu cuidas dos convidados, eu vou organizar o almoço, com a ajuda da Nenê...

--Sim, ela vai adorar e vai querer varar a noite preparando o que há de melhor. O Zé também ajuda se precisares de alguma coisa para decoração...o Carlos não tem muito jeito para essas coisas mas ele resolve qualquer problema e tem as melhores ideias e é muito rápido.

--Perfeito. Eu tenho uma ideia simples e linda...ah se quiseres a Skya e a Rebeka podem tocar...

--Se eu quiser? Claro que quero, a Cassie vai amar...eu ia pedir que a Skya tocasse mas estava com receio...

--Deixa de ser boba, elas vão adorar...

--Tem alguma sugestão de música para a entrada dela?

--Vai ter entrada?

--Claro, tudo na mais perfeita harmonia e beleza...deixa comigo, ideias pipocam na minha mente...

--Eu estou excitada, emocionada...doida...

Gargalhadas.

--Mas temos de conseguir manter segredo.

--Sim, a Nenê não fala nada, o Zé pior ainda e para nossa sorte, a Cassie vai viajar porque se meus filhos desconfiam de alguma coisa, adeus surpresa.

Risos.

--Mas lembra de avisar aos amigos dela que estão na outra ilha que será uma surpresa.

--Sim, claro.

Continuaram a desenvolver a ideia por algumas horas sempre com sorrisos nos lábios e o coração de Alanis aos pulos.

********************

--Não estás a gostar desse paraíso? Não me diga que tu também tens medo de altura...

--Não é nada disso, quem em sã consciência não gostaria de um lugar desse?

--Então desamarra essa cara e venha respirar ar puro e ser feliz. Eu adoraria ter a Catherine aqui, mas se ela tem medo, não posso fazer nada, além de ver, sentir, fotografar e depois relatar tudo com o coração. Rebeka?

--Skya...

--Sim?

--Esse homem...

--Que homem?

--Só tem um aqui no nosso meio...mais para cima há mais, mas aqui só tem um...

--Sim...o Carlos, o que tem ele?

--Carlos...

--Sim, ele chama-se Carlos e ao que parece é uma excelente pessoa...aliás eu acho que sim, ele trata tão bem essas crianças e elas adoram-no...o que tem o Carlos?

--O Carlos...esse Carlos é o 017...eu não acredito nisso...

--Hã? 017? O maravilhoso da confraria?

--Grita mais alto.

--Desculpa Kika, juras?

--Sim...dios mio...

--Mas o Carlos...esse Carlos tem esse mistério todo? Pensando bem até que ele é charmoso e...claro.

--O quê?

--A Luna disse-me claramente que o tio Carlos adora saxofone...meu Deus...é muito engraçado...

--Estou sem saber o que fazer...

--Ele disse-te alguma coisa? Claro que não...nem tiveram tempo...

--Exatamente...

--Mas tu vais falar com ele.

--Estou anestesiada...

--Meu amor, eu sei que és zen, calmíssima e etç, mas não tens muito mais tempo...e se ainda estás encantada pelo homem com quem partilhaste o melhor silêncio da tua vida, corra.

Gargalhadas.

--Mas aqui?

--Agora. Eu vou lá distrair as crianças, vou levá-las la para dentro da mata, perto do miradouro e tu vê lá o que fazes.

********************

Rebeka viu quando Skya levou as crianças para longe dali e teve a certeza que ela disse alguma coisa a Carlos pois ele permaneceu de costas olhando o horizonte, como que à espera que ela chegasse. E ela foi, com as pernas tremulas mas certa de que precisava agir.

--017...

--Diamante...

--A vida é muito engraçada...

--Cómica...

--Sim...Carlos?

Eles finalmente olharam-se nos olhos. A troca de olhares foi intensa e o silêncio mais uma vez disse muitas coisas...

--Rebeka, muito prazer.

Risos e muita timidez.

--Carlos...que além de apreciador de saxofone e praias selvagens, é um homem simples, do campo, que tem duas filhas lindas que vivem com a mãe nos Estados Unidos, que adora a Alanis e a vida que tem aqui, adora a família que tem aqui nesse recanto...que morre de saudades das filhas mas sabe que com a mãe e num país muito mais desenvolvido, elas terão um futuro melhor...um homem que trabalha muito e adora tudo o que faz, que já fez algumas asneiras na vida mas que está sempre disposto a aprender...um homem pacato, simples...

--Muito charmoso, encantador...misterioso. Eu me abri em poucas horas e tu conseguiste manter o mistério e deixar-me á flor da pele...017...

--E agora que me conheces...o encanto acabou?

--Não sei...

Mais uma intensa troca de olhar e uma vontade mutua de preencher o silêncio com um beijo.

--Minhas filhas vivem em Providence...

--E eu vivo em Boston...não estamos longe...

--Vou visitá-las daqui a dois meses...

--E eu não preciso ir embora daqui a dois dias...

Carlos sorriu e Rebeka teve a certeza que não acompanharia as amigas.

--Afinal nosso destino era o mesmo e tínhamos mais tempo...--Disse Carlos sorrindo sedutoramente.

--Pois é...o pensamento agiu depressa dessa vez...o meu...

--O meu também...quis tanto ver-te mais uma vez só não sabia como...

--Foste embora sem despedir...

--Baralhaste a minha cabeça...achei que não te encontraria de novo e sinceramente não acreditei que uma mulher assim daria corda a um bronco...

--Assim?

--Estrangeira...do mundo, linda, sensível... - Carlos fez menção de acariciar o rosto de Rebeka mas retraiu-se.

Rebeka sorriu e ela sim acariciou o cabelo dele.

--Quero conhecer-te melhor Carlos...gostei do teu nome...

--Eu quero muito conhecer-te melhor...

--Então posso mesmo ficar mais alguns dias?

--Claro.

--Gostei do entusiasmo...és tímido mas sabes o queres...

Risos felizes.

--Normalmente sim...fiquei com vontade de saber mais...

--Mais?

--De ti...do beijo que não me saiu da cabeça...

Rebeka não se importou de estar ao ar livre e com algumas pessoas por perto...beijou Carlos com vontade e teve a certeza que queria ficar...

Um pouco mais abaixo, Skya riu feliz e pulou com as crianças que distraídas com aves, não viram nada.

********************

Cassandra estranhou o fato de não ver Zé à entrada da quinta para recebê-la. A cena já era um ritual, ele sempre vinha dar-lhe as boas vindas quando regressava das inúmeras viagens que fazia. Mas o que a deixou intrigada foi o absoluto silêncio no casarão. Ninguém por perto, nem sequer o cheiro de café de Nenê.

Andou com a passada rápida em direção a casa já com o coração aos pulos na ansiedade de ver os filhos e Alanis.

Mais uma frustração, a casa estava vazia. Procurava o telefone na mochila para ligar a Alanis quando viu um bilhete em cima do balcão da cozinha. Correu para ler.

"Cretcheu, venha ter connosco à casa azul como os nossos filhos chamam a nossa casa da Ponta do Sol. Estamos à tua espera...

Obs. Venha com um vestido lindo...

Nina."

Cassandra sorriu sem entender muita coisa. Correu para o banho já pensando na roupa que usaria.

********************

--Calma Nina, ela chega daqui a pouco...

--Mas eu quero que seja uma surpresa...

--E será minha filha, o velho está lá baixo de sentinela e dará o sinal assim que ela aparecer na estrada.

--Vês Nina, calma...vai dar tudo certo e estás linda.

--Lindíssima Cathe, minha filha está uma princesa...

--Mãe...princesa de calças?

Gargalhadas.

--A Nenê tem razão Nina, estás linda...essa roupa caiu-te muito bem, mas não é difícil...

Risos.

--A cassandra adora quando visto calças retas com blusas de alça coladas ao corpo...ela sempre diz que fico sexy, irresistível...

--Concordo...muito sexy, uma mulher linda...e por falar em mulher linda, onde andará a minha namorada maravilhosa?

--Ela e a Rebeka estão lá para dentro...vão aprontar não sei o quê. A Skya já descobriu que música tocar, ela é muito querida...tens muita sorte.

--Eu sei...eu sei.

--Nina...nina, o Zé disse que a Cassandra começou a subir.

--Escondam-se todos. A Xanda esta on?

--Sim, não te preocupes com nada...vá recebê-la e deixa o resto por nossa conta.

Alanis correu em direção à entrada da casa Azul.

********************

--Nina...

Cassandra beijou Alanis com tanta saudade que ela sentiu o coração bater contra o seu.

--Estás linda meu amor...

--Cassie...

Alanis não conseguiu falar porque era beijada na boca, no pescoço, abraçada, apertada...tonta, embriagada de amor, correspondia da melhor forma.

--Estás linda...minha mulher mais linda...

--Tu também...

--Esse vestido que adoras...o que vamos comemorar? E o povo?

Nina engoliu a emoção e esforçou-se para não chorar.

--Preciosa? Nina...

--Eu sei que vamos ter outra ocasião em que as coisas serão mais sérias e oficiais mas...

Ela respirou fundo e teve as mãos entrelaçadas por Cassandra que sorria mesmo sem entender muito bem...

--Eu quero...eu...

--Fala...com calma...queres?

--Eu quero me casar contigo e viver aqui ou noutro lugar qualquer...pelo resto das nossas vidas...enquanto olhar para ti e sentir meu coração dar risadas e enquanto olhares para mim assim...

--Ah Nina...

Cassandra chorou, não conteve as lágrimas...

Nina soltou-lhe as mãos e correu para mais perto da casa onde todos aguardavam ainda que escondidos.

--Nina...Alanis...ei...

--Vem meu amor...vem...

Cassandra correu rindo às gargalhadas e segurando o vestido para não voar.

Alanis era atleta e correu depressa. Cassandra chegou à entrada da imensa varanda da casa e ouviu silêncio...de repente, sua música favorita ao som inconfundível de um sax...Purple Rain...Prince.

Mais lágrimas, muitas...mais ainda quando viu suas pessoas queridas aparecerem...todos, ou quase todos. Lágrimas...muitas...

Sax com violino e rostos felizes...e o mais feliz de todos, o dela.

Xanda apareceu num telão abraçada à filha e com Nando atrás desejando toda a felicidade do mundo. O avô dela...muita emoção...

Os filhos abraçaram-na querendo saber se tinha gostado da surpresa. Ela mal conseguia balbuciar palavras, mas sentia com todos os sentidos em alerta...olhava para Alanis...quanta emoção...tanto amor...

Olhou para o lado, tinha um banquete preparado...tio Lelo, Viki e Jorge...ah por isso eles não tinham aceitado almoçar com ela em Mindelo...sorrisos. Skya e Rebeka tocando de forma magistral...Nenê e Zé com sorrisos abertos, Carlos abraçado a Alanis, Dr. Gustavo, padrinho de Luna e a esposa, pessoal de Ribeirão, todos os empregados, colegas de Nina do volley...ah e os amigos Sílvia e Salvador...sentiu saudades da avó mas teve a certeza que ela ficaria muito feliz...

--Obrigada. - Finalmente conseguiu emitir algum som.

Alanis correu para abraça-la e foi recebida com mais um beijo na boca.

Palmas foram ouvidas e a música parou por instantes.

--Eu preciso agradecer aos nossos amigos por estarem aqui presentes numa ocasião simbólica mas que representa muito para nós...não sou muito boa com as palavras e a minha mulher está a tremer...

Risos felizes de todos.

--Ela está emocionada e eu também...minha melhor amiga...ei Xanda...

--Oi Nina...finalmente o juízo fez morada nessa cabeça...

Gargalhadas altas e Alanis mandou beijos no ar à amiga que acenava no telão.

Ela beijou as mãos de cassandra e ao ouvido dela prometeu ser sempre a melhor para ela.

-- Sou tímida, não tenho jeito para essas coisas mas preciso dizer algumas palavras...

Suspirou e teve o apoio de Cassandra que a abraçava pela cintura.

--Primeiro agradecer pelos amigos que quiseram estar connosco nesse momento, agradecer à melhor família que alguém pode ter na vida, agradecer a Deus pelos filhos lindos e saudáveis e pelo presente em forma de mulher, minha companheira, a melhor pessoa do mundo...

Mais uma interrupção para enxugar as lágrimas que aliás já inundavam os olhos de todos os presentes.

--Cassandra que chegou para mudar tudo, devagar, às vezes com fúria, mas sempre de uma forma que não deixava pontos para retorno, eu fui...dei cambalhotas, caí, mas sempre aprendendo que o amor dela e por ela, era maior do que tombos, quedas, tropeços. Medo...tinha tanto medo e com esse olhar...não chora meu amor...
Cassandra não segurava mais as lágrimas que caiam em enxurrada por sua face. Nina limpava tudo com a costa da mão e sempre com um olhar perfeito, cúmplice...

-- Com esse olhar não há medo que resista...obrigada meu amor, pela paciência, pela coragem, pela loucura, pelos nossos filhos...obrigada pelo amor, muito obrigada.

Palmas foram ouvidas, abraços foram trocados, crianças foram levantadas ao vento...risos felizes...muitos.

Depois de mais um beijo intenso e carregado de amor, Cassandra pediu a palavra.

--Sei que estão todos ávidos pelas delicias da Nenê, mas preciso dizer algumas palavras também...

Todos a incentivaram e Nina a olhou com ternura.

--Agradeço a todos...agradeço à vida que me colocou nessa ilha, à minha amiga Marília que infelizmente não pôde estar presente...à Catarina, tanta gente...a Nina já falou quase tudo e ela sempre tem melhor memória...

Risos.

--Mas Nina, não podemos esquecer de agradecer a pessoas especiais...somos muito abençoadas por pessoas especiais e nos últimos dias, duas pessoas aumentaram ainda mais esse nosso leque...Skya e Cathe, mulheres maravilhosas, magnânimas, e que simplesmente deixaram-se contagiar por nosso mundinho nas montanhas e em tão pouco tempo conseguiram a proeza de ficarem gravadas para sempre em cada coração que bate nessa quinta. Obrigada Rebeka...tão especial também...obrigada.

Catherine e Skya abraçaram as duas mulheres que sim, ficariam gravadas para sempre nos seus corações e no canto das boas recordações da vida.

Ali, todos tinham contribuído de alguma forma para o melhoramento do outro enquanto ser humano...algumas mudanças eram óbvias e saltavam à vista, outras viriam com o tempo...

--Vamos comer?

--Sim, até porque nós precisamos ir embora daqui a pouco e estamos com muita fome. - Gritou Skya.

--Essa é a pior parte...mas faz parte da vida.

--Será apenas um até breve, lembra do que me prometeste...o nosso segredo.

--Claro. - Piscou Cassandra para Skya que sorriu.

A festa decorreu a tarde toda, regada a comida boa, música alegre e gente muito feliz.

********************

--A Kika fica mais uns dias...

--Ainda bem...assim a conhecemos melhor, mas vamos ter tantas saudades vossas...

--Foi apenas a primeira visita mas nunca a ultima e vocês estão todos convidados a visitar-nos nos Estados Unidos.

--Ouviste mãe? E eu quero muito ver todas as coisas que a Cathe diz que tem lá e quero muito ver a Gabi e a Carol.

--Eu também. - Reforçou Arthur.

--Nós vamos...um dia nós vamos.

--Luna, um dia quer dizer quando?

--Não sei...mas não é muito perto.

--Ah...que chato.

As adultas fartaram-se de rir do raciocínio dos pequenos.

Já estavam quase entrando no carro, quando Irene, sempre na companhia de Zé, fez questão de abraçá-las e agradecer por tudo.

-- Nós não fizemos nada extraordinário, o amor delas é forte o suficiente para renascer quantas vezes forem necessárias.

--Obrigada e voltem sempre. As portas desta quinta estarão sempre abertas.

--Zé, vê lá se convidas a Nenê e juntos fazem uma viagem aos Estados Unidos. Serão sempre muito bem-vindos.

Risos com resmungos.

--Nenê, dê um beijo na Rebeka por mim...

--Ela não está cá...

--Ela e o Carlos ficaram na Ponta do Sol para arrumar as coisas...

--E tu vieste para cá quando o teu lugar era lá...

Mais brigas e muitos risos.

Finalmente elas partiram com a promessa de que voltariam.

Algum tempo depois, ainda do lado de fora do casarão...

--Zé...

--Hmmm...

--Nós poderíamos fazer essa viagem...

--Nós quem?

--Nós...

--Eu vou porque tenho dinheiro para isso, já tu...

--Atrevido, e por acaso vives na minha conta poupança?

--E tens?

--Cala a boca José. Vamos para dentro ver se as meninas precisam de nós...

--Lua de mel Irene, querem é distância de velhos...

Riram e Zé abraçou Irene enquanto caminhavam para dentro do casarão.

********************

Alanis acalentava o filho que queixava-se de dores de cabeça. Desde mais cedo ele estava febril mas não parara o dia todo. Ele finalmente adormecera mas era sempre um sono agitado. Já estava medicado e o Dr. Gustavo tinha garantido que não era nada grave, apenas uma virose que estava atingindo as crianças mas sem deixar sequelas.

Cassandra entrou no quarto que estava na penumbra e abraçou Alanis.

--Que bela maneira de passar a primeira noite de lua-de-mel...

Cassandra riu abafando o riso nas costas de Alanis para não acordar o pequeno.

-- A Luna já dormiu...

--Estou cansada...

--Vá dormir que eu fico com ele...

--Nem pensar...vou ficar aqui e se quiseres ficar comigo...

Cassandra sorriu e beijou-lhe a boca levemente. Nina a prendeu e intensificou o beijo deixando claro que estava com muita vontade de fazer valer a primeira noite de lua-de-mel.

A blusa de Cassandra já estava no chão do quarto quando Arthur acordou chamando pela mãe...

Cassandra recuperou rapidamente o controle, vestindo a blusa sem que o pequeno notasse que estava quase nua e Nina o abraçou beijando a testa levemente febril.

Cassandra deitou-se ao lado de Nina e a abraçou.

--Temos o resto das nossas vidas para fazer amor...vamos cuidar do nosso menino.

--Eu te amo minha espanhola linda...minha mulher...minha.

--Tua...te amo...te quiero mucho.

********************

A viagem em direção a Boston já decorria há algumas horas e Skya permanecia na mesma posição, dormindo com a cabeça apoiada no ombro de Catherine.

Na cabeça de Catherine, muitos pensamentos...

Tentou distrair-se ouvindo música, mas Promise de Bem Howard não a ajudava quase nada...perdia-se nos contornos de Skya e uma sensação completamente nova insistia em permanecer...

Ela dormia, parecia tranquila, descansada...as férias tinham sido maravilhosas, bem mais do que perfeitas e Susan tinha razão, como quase sempre...alguma coisa mudara, ou muita coisa mudara...sim, estava diferente mas não sabia até que ponto e muito menos as consequências de sentir-se tão diferente.

Skya gem*u e aninhou-se mais nos braços dela. Sorriu estreitando o abraço e beijando a cabeça dela.

********************

Catherine aguardava a sua mala que nunca mais chegava enquanto tentava não perder Skya de vista que falava ao telefone há alguns minutos. Ela parecia muito envolvida na conversa e algumas vezes sorria e gesticulava.

Catherine não conseguia entender a sensação estranha no seu peito, estava feliz, muito feliz, então aquela ansiedade sufocante significava exatamente o quê?

--Cathe...

Ela quase gritou correndo em direção a Catherine.

--Preciso ir... - Disse quase ofegante.

--Para onde? - Foi a vez de Catherine quase gritar.

--Trabalho meu amor...preciso ganhar dinheiro para poder passar dias a fio nos paraísos que esse mundo esconde. Vou sair em turné e precisam de mim imediatamente no conservatório para definir planos, enfim, coisas do meu mundo que não entendes...

--Mas vais agora?

--Imediatamente. Só estavam a aguardar que meu voo chegasse...lembra que passei mais tempo do que deveria, mas não me arrependo, só que agora preciso recuperar...e confesso que estou com alguma saudade do meu mundo...desse lado do meu mundo.

--Mas...

--Vou correr meu bem, não tenho mais tempo...ainda tenho que arrumar as minhas coisas em casa...eu ligo daqui a pouco...ok, daqui a algumas horas, é mais sensato e honesto.

Skya beijou Catherine na bochecha e correu com a mala de rodinhas pelo saguão do aeroporto.

Catherine não conseguiu dizer uma única palavra. A saída intempestiva de Skya causara um desconforto no peito, confusão na alma...vazio.

Vagou pelo aeroporto arrastando a mala até sentir a necessidade de sentar-se para tentar ordenar as ideias.

Raramente ficava na posição em que estava, completo desnorte...

Ligou ao pai, ouvir a voz alegre dele deixou-a um pouco mais calma. Fingiu uma descontração que seria natural depois de dias de férias, tentou empregar à voz uma leveza que não sentia, ou que tinha sido usurpada...

Bill estava bem...graças a Deus.

Susan...claro.

--Eiii moça, saudades. Já sei que a reciproca é mais do que verdadeira.

Risos dos dois lados.

--Sim...muita saudade.

--E admites assim?

--Parva. O Scoutie?

--Muito bem cuidado, feliz, esguio e atrevido como sempre...

--Morto de saudades minhas...

--Um pouco.

Risos.

--Já estás refastelada no teu sofá maravilhoso? Curtindo o vídeo mental das tuas férias maravilhosas?

--Não...estou no aeroporto...

--Aeroporto? Como assim? Chegaste há mais de duas horas...tudo bem Cathe?

--Estás em casa?

--Sim. Ia sair mas...

--Posso falar contigo?

--Que pergunta, venha logo. Estás bem?

--Não sei...

--A Skya está contigo?

--Não...ela foi chamada para trabalhar e foi embora...

--Venha agora, estou à tua espera com um chá e torradas.

--E ouvidos e coração...

--Puxões de orelha também se for necessário.

Gargalhadas dos dois lados.

--Eu te amo.

--Eu também. Venha logo.

 

Fim do capítulo