Cheguei ao apart e informei o quarto, eles me liberaram para subir, ela estava à minha espera, vestia apenas um roupão preto e pelos cabelos molhados percebei que tinha acabado de tomar banho provavelmente para tentar disfarçar os olhos vermelhos, mas eu notei assim mesmo. Olhei bem para ela e me condenei mentalmente por todas as vezes que eu a xinguei, humilhei, hostilizei e denegri sua imagem, seja para mim mesma ou para outras pessoas. Se havia uma coisa que eu odiava no mundo era injustiça, e isso fazia com que fosse boa em minha profissão, pois quando acreditava em uma coisa a defendia enfaticamente sem medir esforços, porém eu havia sido destrutivamente despótica com ela, e isso também estava acabando comigo.

- Oi Ana, por favor entre.

- Obrigada.

Fomos direto para a sala, onde pude notar que sua noite também não tinha sido boa, havia diversas pontas de cigarro no cinzeiro, um copo e uma garrafa de uísque pela metade na mesinha de centro. Ela me indicou uma poltrona e sentou-se no sofá de frente a mim.

- Ana, - começou ela - antes que diga alguma coisa quero te pedir perdão, sei que deve estar me odiando por eu ter entregue a carta só agora. Talvez não mereça que me desculpe, porém não queria sequer tê-la entregue a você. Eu estava em uma posição em que nunca consegui decidir o que seria pior a fazer. Ter te causado sofrimento foi insuportável pra mim. – Nesse momento as lagrimas começaram a cair de seus olhos. – Me perdoa por favor, eu te imploro de joelhos se for preciso. Eu só fiz isso por que te ver defendendo a Clara tão fielmente como se ela fosse uma santa e saber que ela nunca a amou de verdade e que provavelmente te feriria de novo me deram a coragem que precisava pra te mandar as fotos e a carta, que vinha mantendo escondidas por tanto tempo. Porque de qualquer modo você sofreria novamente, e talvez nunca conseguisse se afastar dela, que te usaria sempre que quisesse.

Enquanto ela falava o choro foi aumentando até que se calou com os braços apoiados nos joelhos e as mãos no rosto soluçando inconsolavelmente. Levantei e ajoelhei-me em sua frente, segurei suas mãos delicadamente e com a ponta dos dedos fiz com que olhasse para mim.

- Alicia, me ouça por favor, não chore, não quero te ver assim nesse estado, isso está acabando comigo. Se há alguém aqui que deve pedir perdão não é você e sim eu, por todas as vezes que te tratei mal, por todas as palavras duras, pelo pouco caso que fiz quando tentou falar a verdade sobre ela, pela crueldade dos meus atos. Eu fui uma escrota, imbecil e cega. Não consigo aceitar calmamente que eu te fiz sofrer com tantas humilhações. Saiba que você pode até me perdoar um dia, mas eu nunca vou conseguir desculpar a mim mesma pelo mal que te causei.

-Não fala assim amor, - Disse segurando meu rosto – eu nunca senti raiva de você pelo que me falava ou fazia, ou quase nunca, porque dessa vez que fui a seu escritório tive um pouquinho sim. Mas você é e sempre foi a parte inocente nessa história. Acreditou em tudo o que ela quis que acreditasse. Pra você eu era a vilã, havia destruído seu namoro. Por isso sempre aceitei tudo o que me falava quieta. Você a ama muito, não mereceu nada disso. Sei que devia ter mostrado a carta antes, mas sempre fui tão apaixonada que não suportei a ideia de te machucar com uma verdade tão desumana.

- Sério Alicia? Você foi muito apaixonada por mim?

- Não eu não fui, eu sou. Nunca te esqueci durante todos esses anos. Eu me interessei assim que te vi, e também percebi que vocês estavam juntas, sua fisionomia enamorada não deixava dúvidas. Então soube que minha prima era como eu, lésbica, pelo menos era o que eu pensava na época. Quando ficamos sozinhas eu perguntei pra ela que me confirmou, mas disse que era só um namorico sem importância. Como ela me disse isso resolvi dar em cima, mas você nunca me deu bola. Então comecei a frequentar mais a casa dela, vi algumas coisas que achei estranhas, como um telefonema que peguei um dia onde estava toda carinhosa com outra menina, então fui percebendo que ela realmente não te amava, mas você era toda carinhosa, atenciosa, sempre cuidando dela e quando dei por mim estava completamente apaixonada. Tentei te mostrar o que estava sentindo, só que você não queria ouvir, estava cega de amor, sua vida era Clara, mas eu desejava tanto um beijo seu que não resisti e acabei roubando. Se eu soubesse tudo o que aconteceria não o teria feito, eu juro. Jamais teria colaborado com um plano tão cruel.

O bip do seu celular anunciou uma mensagem e percebi que ela se sobressaltou e tentou esconder um leve tremor, mas não foi verificar quem era.

- Alicia não pense assim, não foi sua culpa. Uma hora, como ela mesma disse na carta, arranjaria um jeito de me dar um pontapé. Eu sofreria de qualquer maneira, talvez não tanto como sofri me culpando pelo fim do relacionamento, mas a dor seria tão grande quanto. Não vamos ficar remoendo isso ok? O que passou, passou, não podemos mudar os fatos. Temos que seguir adiante. – Levantei e sentei-me ao seu lado no sofá, nesse instante outro bip soou.

- Você tem razão meu amor, ela teria se separado de você, mas não teria escrito essa carta horrorosa. Eu sei que temos que seguir em frente, mas eu gostaria muito de poder mudar algumas coisas do passado. – Disse segurando minhas mãos

- Infelizmente não temos esse poder, como bem me disse meu pai há pouco tempo atrás. Bom não vamos mais falar sobre isso, o que aconteceu teve seu lado ruim, mas também seu lado bom, e é isso que importa. Hoje eu estou aqui primeiro para te pedir sinceras desculpas, não tenho nem palavras pra te dizer o que estou sentindo e quanto estou arrependida por tudo o que fiz.  E segundo pra te pedir um grande favor, não quero que conte a ela que me entregou a carta e as fotos.

- Não diga que você vai continuar com ela mesmo depois disso tudo? – Perguntou espantada

- Não, claro que não. Não suporto nem me lembrar daquela maldita carta. Estou indo viajar sem data pra voltar. Preciso de um tempo pra acertar a minha cabeça. Só quero que não diga a ela nada do que aconteceu. – Ouvi outro bip e comecei a ficar intrigada com o fato dela sequer olhar quem estava mandando as mensagens. – Posso te perguntar uma coisa?

- O que você quiser, não tenho mais nada a esconder.

- Você não estava morando aqui no Brasil, não é verdade?

- Não estava.

- Por que decidiu voltar agora?

- Há mais ou menos um mês atrás liguei para minha mãe para saber notícias de casa. E ela me contou que Clara estava de volta. Imaginei que te procuraria e não queria que isso acontecesse. Não podia deixar ela te machucar de novo. Peguei o primeiro voo, mas quando cheguei era tarde. Ela estava aqui há mais tempo e vocês já haviam se encontrado. Consegui o endereço de Clara com minha tia e vim falar com ela.

- E como ela reagiu ao te ver?

- Riu da minha cara. Zombou de mim por não ter conseguido te conquistar. Disse que nem pra puta eu servia, visto que não conseguira fazer você se interessar por mim estando sem mulher pra te consolar.  

- Meu Deus que coisa baixa para se dizer. Ela estava sozinha?

- A namorada dela estava em casa, e eu a conheci também.

- Jaqueline?

- Sim. Mas logo ela saiu pra trabalhar. Aí eu implorei para Clara deixar você em paz, mas foi inútil.  Me disse que você ainda estava apaixonada por ela, e que queria se divertir um pouco. Nós brigamos e eu ameacei entregar a carta. Não adiantou, ela deu de ombros. Afirmou que você nunca acreditaria em mim.  Então avisou que já estava até com uma viagem programada para ir a chácara de sua mãe. E que se eu tentasse estragar seus planos, ela acabaria comigo. Não sei se você sabe, mas meu pais desconhecem que sou gay. E não podem descobrir de jeito nenhum. Eu tenho medo que ela conte tudo pra eles, não sei se ela tem alguma carta na manga contra mim. Clara é cruel. Torci para que não desse certo, mas infelizmente correu tudo como ela queria não é mesmo?

- É, infelizmente sim. E como você descobriu o meu endereço?

- Ela me deu, junto com o número do seu telefone. Sexta feira de manhã vim novamente conversar com ela. Estava exultante porque tinha conseguido te enganar de novo, e excitada por ter trans*do com você, segundo ela, você está mais tesuda. Então me disse que estava indo para a Patagônia a trabalho, e se eu quisesse poderia tentar a sorte novamente. Mas me avisou que caso eu conseguisse te levar pra cama não era pra me empolgar, pois queria foder com você mais um tempo depois que voltasse e quando se cansasse me avisaria.

Outro bip e meu coração começou a descompassar, eu comecei a ter uma vaga ideia de quem devia estar mandando as mensagens. E ela continuou a falar:

- Me contou que sabia até onde você trabalhava, pois tinha pesquisado na internet. Caso o plano da chácara não tivesse dado certo estava montando um plano B. Além disso me passou o número celular dela pra eu poder ligar se precisasse de alguma ajudinha, caso eu não fosse vadia o suficiente pra conseguir te levar pra cama. Fiquei morrendo de ódio, minha vontade foi dar um tapa em sua cara, mas achei melhor não provocar. Sai com o papel na mão, pois queria muito te ver de novo. Estava com saudades. Achei que com o passar do tempo sua raiva podia ter diminuído.

O bip tocou de novo, e dessa vez não me contive.

- Alicia, seu telefone não para de apitar. Não vai nem olhar pra ver quem está te mandando as mensagens? Deve ser uma coisa urgente.

- Não é nada. Tenho certeza. Não se preocupe. – Falou rapidamente

- Eu faço questão que você olhe. Depois podemos voltar a conversar - Argumentei

- Ana eu sei que não é importante. - Insistiu

- As mensagens são de Clara, não é mesmo?

Ela simplesmente abaixou os olhos.

- Por favor, se não se incomodar gostaria de ler.

- Não! Ana não me peça isso.

- Me deixe ver Alicia, estou te pedindo.

- Para que? Você não precisa se machucar ainda mais.

-Por favor – E estendi a mão

Tremula ela levantou, pegou o celular, desbloqueou e me entregou.

Ao todo eram sete mensagens, e todas do número que reconheci imediatamente já que ficara gravado a ferro em minha mente depois de tanto ligar para ele. Isso significava que ela havia recebido minhas ligações e apenas ignorado cada uma delas. Como devia ter rindo da minha cara, do desespero em minha voz, dos recados aflitos que deixei na caixa postal. Comecei a abrir as mensagens.

“Oi Lici querida, e aí já correu pra procurar a Ana? Vai com calma viu, porque eu precisei inventar uma estória sobre umas fotos que você teria me mandado de vocês trans*ndo. Não é que ela acreditou? ” – Sexta-feira- 22:00hs

“Oi prima. E aí, está mais calminha? Conseguiu reverter a história das fotos que eu inventei? Ou ainda não teve coragem de ir atrás dela? Pode ir bobinha, quem sabe dessa vez ela não acredita em você” – Sábado - 13:00hs

“Está brava comigo? Deixa disso. Da pra gente dividir a Ana de boa. KKKK. Menina ela está uma delícia. Incansável. Olha eu não estou atendendo a nenhuma das suas ligações. Fica tranquila que estou te ajudando”- Domingo - 16:00hs

“Deixe de ser turrona, me responda, você foi ou não consolar a coitadinha? Aproveita que ela está precisando de colo. KKKKK. Ela até desistiu de me ligar” – Domingo - 16:05hs

“Olha se você ainda não foi até lá está perdendo tempo porque posso te garantir que a foda é de primeira. Mas como você sabe no momento eu tenho a Jaqueline, que preciso manter ao meu lado pra me ajudar na profissão, e não quero arranjar problemas. Vai até lá tirar uma casquinha. ” – Domingo - 16:10hs

“Bom parece que não vai me responder mesmo. De duas uma, ou seguiu meus conselhos e está dando uma trepadinha, ou ainda está chorando na cama que é lugar quente. Já eu vou fazer o que te aconselhei, vou dar uma relaxada na boca de Jaqueline, se é que me entende. KKKKK. Tente fazer o mesmo, você está precisando, se não conseguir com Ana (o que será uma pena pra você), tente com outra. ” – Domingo  - 16:20hs

“Ah só mais uma coisa, nada de ir achando que eu estou te dando a Ana. Ela é meu brinquedinho sexual, só estou te emprestando. Tchauzinho” – Domingo  - 16:25hs

Eu pensei que nada mais que viesse dela poderia me ferir, mas estava enganada. Clara estava me oferecendo para a prima. Como se eu fosse uma mercadoria de pouco valor para ela. Li as mensagens de Alicia e vi que tinha uma mensagem cobrando explicações sobre as fotos. E nenhuma outra.

Devo ter deixado a dor transparecer em minha expressão, porque Alicia tirou o celular das minhas mãos, e me abraçou puxando minha cabeça para seus ombros. Me deixei ficar em seus braços por um tempo, depois levantei o rosto para falar com ela, que colocou os dedos em meus lábios e então delicadamente me beijou. Eu correspondi ao beijo, que foi se tornando mais quente e intenso. Até que empurrei suavemente seu rosto.

- Não Alicia. Não posso deixar que isso aconteça.

- Por que não? Eu te quero tanto. Durante todos esses anos eu desejei você.

- Mas eu não te amo. Eu sinto muito. Não posso mentir. Você não merece isso.

- Eu sei que você não me ama. Eu não me importo. Por favor faça amor comigo, pelo menos uma vez. Eu quero ser sua mulher.

Levantou-se e deixou o roupão deslizar para o chão, ela estava nua e sentou-se em meu colo, de frente para mim, uma parte da minha consciência me dizia que aquilo era errado eu não devia deixar acontecer, mas uma parte de mim queria dar a ela o que havia me pedido. Depois de tudo o que tinha feito de mal eu acreditava que ela tinha o direito de receber um pouco do meu carinho. Quando ela começou a tirar minha roupa me deixei levar por aquilo. Logo estávamos trans*ndo loucamente, minha boca percorrendo seu pescoço e seios, mordendo e marcando seu corpo, enquanto meus dedos penetravam sua carne quente e completamente empapada de tesão, eu estava num misto de raiva, excitação, tristeza, não estava sendo nem um pouco delicada, ao contrário estava agindo de uma maneira selvagem, metendo cada vez mais forte e fundo, arrancando gritos altos de Alicia que parecia não se importar com meus modos brutos.  Ela estava retribuindo com um entusiasmo tão grande que me deixava ainda mais passional. Mexia, rebol*va e pedia mais.  Eu queria que ela goz*sse muito e fiz com que isso acontecesse umas três vezes sem parar, até que esgotada ela se deitou em meus ombros. Foi nesse momento que a minha ficha caiu de vez. O que eu tinha feito? Ela era apaixonada por mim e eu tinha me aproveitado disso. Estava me tornando o que? Canalha?

- Alicia, me desculpe, isso não deveria ter acontecido. – Estava transtornada

- Psiu, não fala nada. Foi ótimo. Só quero ficar aqui em seus braços mais um pouco.

- Mas eu preciso falar. Não posso deixar você pensando que eu tenho alguma intenção...

- Ana, eu não sou criança. Eu sei muito bem o que fiz. E sei também que você não me ama. Você foi muito transparente comigo. Não imagine que se aproveitou de mim, pois eu queria muito isso. Há vinte anos que eu espero para poder te sentir. Eu estou realizada.

- Eu me deixei levar pelo momento. Estou confusa, chateada.

- Ei sei. Fica tranquila. Não estou te cobrando. Ao contrario fui eu quem te buscou. Não diga mais nada por favor. Me deixa triste te ver assim depois de fazer amor comigo.

- Desculpe não era a minha intenção.

- Tudo bem.

-  Gostaria de poder ficar mais, porém tenho que ir embora, meu voo sai daqui a pouco.

- Hum hum. Eu entendo – Respondeu enquanto levantava pra pegar minhas roupas que estavam espalhadas no chão.

- Eu te ligo quando estiver mais tranquila.

- Vou esperar por isso.

Me vesti apressada, minha calcinha não estava com o resto das roupas, mas precisava ir, se fosse com ou sem calcinha isso não teria importância. Antes de sair lhe dei um beijo de despedida, o beijo que ela sempre me pediu e eu nunca havia dado.

Fim do capítulo