Capítulo 14 Lembranças, confiança
CAPÍTULO 14: Lembranças, confiança.
-- Amor eu estou com fome -- Amanda quebrou o silêncio. -- vamos lá embaixo comer?
-- Ah vida eu não vou levantar daqui não, pelo menos não tão cedo.
Amanda ergueu as sobrancelhas com o que ouviu, o modo que foi chamada por Júlia, foi inesperado mas adorou, sorriu e a beijou apaixonadamente.
-- O que foi? -- Júlia indagou confusa.
-- Nada, você realmente é preguiçosa depois do sex* -- disse sorrindo.
-- Sexo não -- disse naturalmente -- amor, o que fizemos foi amor, não foi? -- perguntou em dúvida.
-- Com certeza foi amor – respondeu sorrindo -- o melhor de todos.
-- Agora amor vai buscar alguma coisa pra gente comer que me deu fome também -- disse sorrindo.
-- Você é muito preguiçosa -- falou dando um tapinha no ombro da loira – folgada, eu vou lá.
-- Antes me dá um beijo. – a puxou antes de sair da cama.
Se beijaram por mais um tempo até que a ruivinha vestiu um short e um camisetão e foi até a cozinha, pegou dois pedaços de bolo que tinha na geladeira, alguns morangos e suco de laranja, equilibrou tudo em uma bandeja e levou até o quarto.
-- Amor abre a porta aqui! -- disse do lado de fora.
-- Ah eu não acredito – resmungou preguiçosa – eu já não fui com você pra não ter que levantar, e agora tu me faz levantar de um jeito ou de outro.
-- Vai logo Júlia!
-- Tá bom, calma mal humorada -- disse emburrada.
Se cobriu com o lençol e foi abrir a porta com um bico no rosto.
-- Ah obrigada viu? Por abrir a porta -- Amanda disse provocando.
Júlia não respondeu e voltou pra cama deitando de bruços.
Amanda revirou os olhos com a pirraça de sua namorada e se aproximou da cama pondo a bandeja na cômoda, e passou os dedos desenhando a silhueta da loirinha, passava os dedos de leve da nunca até o começo do bumbum.
-- Da pra parar? – murmurou com uma suposta irritação.
-- Amor para com isso -- disse se abaixando e mordendo as costas da loirinha.
-- Sai Amanda -- disse com manha na voz.
-- Não -- sussurrou ao seu ouvido e mordiscou o pescoço -- Você viu que não dava pra abrir a porta bebê, precisei da sua ajuda, vai ficar emburrada comigo por isso?
-- Não estou emburrada -- disse ainda de bruços.
-- Então vira pra mim, você não estava com fome?
-- Não, e perdi a fome – a contrariou só para provocar.
Amanda sorriu com aquela birra e balançou a cabeça negativamente, pegou a loirinha e a virou a força quase a derrubando e causando um pouco de dor na cintura da loirinha.
-- Ai Amanda! Me machucou -- disse se sentando.
-- Amor, desculpa, mas você está brava ai comigo só porque eu pedi pra você abrir a porta, não dava pra abrir você viu.
-- Tá eu sei -- disse de bico com uma carinha de dor com a mão na cintura no local que estava dolorido e a voz manhosa -- me desculpa.
Amanda achou fofa pedindo desculpa e seu sorriso aumentou, beijou a loirinha e tirou as mãos dela de onde tinha machucado, beijou e pediu desculpa, depois deu o pedaço de bolo na boca da sua namorada, Júlia estava adorando todo o paparico.
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Após comerem Amanda deitou-se apoiada no corpo da loirinha passando a mão na barriga da mesma brincando de desenhar os traços dos pelinhos dourados que eram imperceptíveis, Júlia com um braço envolvia o corpo da ruiva e o outro alisava o braço da ruiva que lhe acariciava.
-- Amor, faz quanto tempo que você fez essa tatuagem? -- perguntou da tatuagem do bíceps direito da loirinha escrito seu sobrenome San'Germany abaixo da sua pequena marca de nascença.
-- Eu tinha 15 anos -- disse com desdém.
-- Nossa você era bem novinha, devia se orgulhar e gostar muito do seu sobrenome né -- disse agora contornando com os dedos a tatuagem.
-- Não gostava tanto a ponto de tatuar, eu odeio agulhas -- disse olhando para o teto com a voz seria.
-- Odeia agulhas e tem 2 tatuagens amor? -- perguntou lhe encarando -- por que tatuou?
Júlia respirou fundo e fechou os olhos como se revivesse aquele dia, todos os detalhes, assim que abriu os olhos suspirou soltando todo o ar dos pulmões e respondeu a pergunta da sua amada.
-- Eu não fiz porque eu quis, eu fui praticamente obrigada -- respirou fundo ainda encarando o teto e continuou -- na época eu tinha feito aniversário fazia alguns dias, Otton me disse que como não conseguiu comemorar o meu aniversário comigo queria fazê-lo agora, então tinha esse estúdio de tatuagem do amigo dele no qual todos meus irmãos já haviam feito a tatuagem, eu fiquei feliz pelo convite, já que eu queria passar um tempo com meu pai e meus irmãos como uma família -- disse com um sorriso um tanto doloroso ao se lembrar do dia.
Amanda escutava cada palavra que era dita e percebia as expressões faciais da sua loirinha que eram algo parecido com dor.
-- Bom, fui com eles e Otton me perguntou se eu queria fazer uma tatuagem com o nome do nosso clã, eu disse que não, eu tinha medo de agulhas e não sentia vontade alguma de ter meu sobrenome tatuado como todos da família, então ele disse que estava tudo bem, começamos a beber, eu e meus irmãos, Daniel e Luciano apostávamos quem virava a bebida mais rápido, eu estava ganhando é claro – disse sorrindo, um sorriso de deboche de si mesma -- eu não percebi nada de estranho tamanha minha alegria.
Parou de contar por um momento e seus olhos marejaram e ela se controlou para não chorar, se lembrava de cada sensação daquela noite, desde o momento de alegria plena ao momento angustiante e doloroso.
-- Em certa hora, quando Otton pensou que eu já estivesse bêbada suficiente, pediu para o amigo preparar os equipamentos para fazer a minha tatuagem, mas eu não estava bêbada, apenas um pouco tonta sabe? Alta... Me levantei e disse que não ia fazer, o amigo dele já tinha preparado tudo e quando eu dei um passo para ir embora, meus irmãos me seguraram e me forçaram a sentar na cadeira.
A essa altura já não conteve as lagrimas, Amanda sentia o sofrimento da loirinha ao narrar aquele dia, apenas a apertou um pouco mais forte a confortando, Júlia sentiu o abraço, respirou fundo e prosseguiu.
-- Daniel, Breno, Luciano e Lorena me seguraram me fazendo sentar, eu então percebi porque eles nunca ganhavam na competição de beber, Bryan apenas olhava junto de Rebecca, como se não estivessem concordando mas nada fizeram até que Otton ordenou a eles que ajudassem a me segurar, e assim eles fizeram, Bryan ficou no lugar de Daniel que segurava meus ombros junto de Lorena para que eu ficasse sentada, Breno, Daniel e Luciano seguravam meu braço para que eu ficasse parada, mas mesmo assim eu me mexia, eu gritava e chorava tentando sair daquele lugar mas eles eram bem fortes, Rebecca segurou meu rosto tentando me acalmar e dizendo baixo ao meu ouvido "Tudo bem Júlia, vai ficar tudo bem, apenas deixe que façam para acabar logo com isso" mas eu não aceitava, eu chorava e ainda me debatia, quando eu senti o rapaz começar a tatuar, nessa hora já estava com dor e chorava muito, mas no momento que ele fez a letra S eu parei de lutar, sabia que seria feito de qualquer jeito, eu apenas chorava e dizia que eles não podiam ter feito aquilo, eles continuaram me segurando até o fim para que eu não fugisse ou estragasse, e foi isso.
Terminou de contar com o rosto molhado pelas lagrimas, Amanda secou seu rosto com delicadeza, era um carinho, deu um beijinho em seus lábios e voltou a se aconchegar nos braços da loirinha que a apertou de leve.
-- Sua mãe não disse nada amor? -- perguntou em quase um sussurro, pois não sabia que devia continuar com esse assunto que a machucava tanto, mas queria conhecer mais da sua namorada.
-- Ela não soube, nunca soube, naquele dia ela estava viajando a negócios, como sempre, e quando voltou pensou que eu tinha feito por minha vontade -- disse fungando -- Paul soube quando eu cheguei em casa, mas eu também não disse nada de início, mas quando ele me viu entrar chorando foi atrás de mim e me interrogou até que eu falasse o que tinha acontecido, eu contei, e ele ficou muito bravo, queria ir tirar satisfações com Otton só que eu o impedi, de nada adiantaria, já estava feito.
-- Eu sinto muito amor -- disse fazendo carinho em seus cabelos. -- Você e seu irmão Paul eram bem unidos não é?
-- Éramos bem ligados, ele me protegia de tudo, sempre ele e Carol me tiravam das confusões que eu me metia quando queria chamar a atenção dos meus pais -- disse sorrindo. -- E a outra tatuagem do par de asas eu fiz quando estava muito, mais muito bêbada, só assim não senti tanta dor e perdi o medo, mas a tatuagem foi pensada, uma vez eu conversei com Paul sobre poder fazer o que quiséssemos sem ninguém da nossa família para nos julgar, então disse que queria ter asas, Paul disse que também queria, e desenhou esse par de asas e me deu, eu peguei e guardei esse desenho, um dia fui até uma amiga que tinha aberto um estúdio e disse que queria fazer aquele desenho, mas antes bebi bastante.
-- Não queria que se lembrasse disso tudo, me desculpa.
-- Está tudo bem amor -- disse suspirando e fazendo carinho nas costas da ruivinha -- isso já faz muito tempo.
Amanda a beijou e ficou fazendo carinho na sua loirinha, tentando faze-la se distrair e esquecer de tudo, ficaram assim durante um tempo até Júlia quebrar o silêncio.
-- Sabe de uma coisa amor? -- Júlia perguntou de olhos fechados sentindo o carinho de sua namorada.
-- O que?
-- Eu antigamente adorava a minha marca de nascença, mas depois do dia da tatuagem eu parei de gostar, porque toda vez que eu olhava para ela, a tatuagem estava ali para me lembrar daquele dia.
-- Eu sinto muito amor, queria que não tivesse tido que passar por nada disso.
-- Eu também, mas já foi, virou passado -- disse beijando o topo da cabeça de sua ruivinha.
Amanda mudou de assunto, conversaram um pouco sobre a infância da ruiva, ela narrava que era uma criança bem quieta, antes de sua mãe se casar novamente ela morava com Regina e seu pai, tinha mais contato com seus avós maternos, eles eram bem rígidos, com os avós paternos ela quase não tinha contato, não se lembrava muito deles.
-- Eu odiava o Olávo, você não tem ideia, um dia eu comecei a chorar e me fingi de doente só para minha mãe dormir comigo.
-- E agora vejamos, o ódio se tornou amor -- disse dando risada -- Você quase me matou de ciúmes.
-- É verdade, depois de muitas tentativas Olávo conseguiu me conquistar e eu vi que ele não era tão mau assim, ele não queria roubar o lugar do meu pai, apenas queria ser meu amigo.
-- E quando ele se tornou seu pai? -- perguntou e a ruivinha beijou seu pescoço para lhe responder.
-- Depois de um tempo eu quis que ele fosse meu pai, já que longe da manipulação dos meus avós eu percebi que meu verdadeiro pai não ligava muito pra mim, não é à toa que foi embora, Olávo pareceu gostar bastante quando eu o chamei de pai pela primeira vez -- disse sorrindo -- ele sempre gostou de crianças, tenho certeza que ele sente muito não ter te tido por perto.
O comentário fez Júlia sentir um leve desconforto, por um momento seu subconsciente pensou que ela também queria ter tido ele como pai, mas logo afastou esses pensamentos.
-- Você sentia então que seus avós te manipulavam? -- perguntou mudando de assunto.
-- Sim, eles gostavam muito do meu pai, era o melhor genro deles, sempre fazia o que eles queriam, então eles me diziam que eu não podia gostar de qualquer outro cara que minha mãe se envolvesse pois iria tomar o lugar de meu pai.
-- Que horrível -- disse franzindo o cenho.
-- É sim, não é? -- falou rindo e abraçando mais a loira -- acredita que eles fizeram minha mãe me pôr no balé quando eu tinha só 3 anos?
-- Nossa amor que monstruosidade -- disse com ironia na voz brincando com a ruiva.
-- Não ri, eu odiava o balé, eu era um bebê -- disse revirando os olhos e viu a loirinha rir e a apertar mais.
-- É, mas agora é uma ótima dançarina viu só? Não foi de todo mal.
-- É mais ou menos -- disse dando-lhe um selinho.
Ficaram em silêncio por algum tempo, Amanda fazia carinho na loirinha, Júlia se despreguiçou e acabou trocando de lugar com a ruivinha, agora era ela quem abraçava a ruiva com uma perna por cima dela, seus pensamentos eram de não querer se afastar dela nunca.
-- Amanda?
-- Oi amor -- disse beijando seu rosto.
-- Sabe hoje, quando falei o nome da Sophia? -- perguntou ponderosa e viu a cara de desagrado da ruiva.
-- O que tem ela?
-- Olha, eu quero que você escute tudo o que tenho a te dizer antes de qualquer coisa ok?
-- Fala logo Júlia -- disse sem paciência, soltando o corpo da loirinha e se sentando na cama.
-- promete primeiro que vai escutar tudo?
-- JÚLIA FALA LOGO -- falou pausadamente cada palavra, irritada se levantando da cama.
-- Calma eu vou falar -- disse puxando-a para a cama novamente -- Sophia era uma garota que eu conheci após a morte do Paul, nós nos envolvemos e...
-- Sua ex namorada? Você falou o nome da sua ex namorada dormindo?! -- disse irritada e se levantou indo em direção a porta, mas foi impedida por Júlia.
-- Espera Amanda, deixa eu terminar...
-- Terminar o que? Vai me dizer que ela não é sua ex? Deixe-me adivinhar ela é ainda sua namoradinha que você deixou pra trás?
Júlia riu do nervoso e ciúmes da ruivinha, e a pegou no colo levando novamente para a cama, recebeu alguns tapas durante o trajeto quando a sentou na cama segurou suas mãos.
-- Chega de me bater, ok? Agora me escuta! Sophia foi sim uma ex namorada, mas nós terminamos, por uma traição, eu vou te contar tudo porque eu não quero segredos entre nós entendeu? -- começou a narrativa de tudo que aconteceu, Amanda conforme a ouvia se acalmava e soltou seus pulsos e por fim Júlia concluiu toda a história com uma certa tristeza na voz, mas a ruivinha entendeu o porquê. -- foi isso, e quando eu falei o nome dela foi porque acabei tendo um pesadelo com ela, não porque eu gosto dela, entendeu?
-- Ela então te traiu com o seu irmão e você os pegou no flagra? -- perguntou tentando assimilar tudo o que escutou, achava a história horrível demais.
-- Exatamente, no dia que eu faria uma surpresa pra ela -- disse sorrindo de forma sarcástica -- mas quem teve a surpresa foi eu.
-- Posso imaginar, toda essa história é terrível amor -- falou acariciando os cabelos de Júlia que estava sentada do seu lado.
-- Pra você ver sua ciumenta, é essa a história.
-- Me desculpa amor, prometo que a partir de agora vou confiar em você, e sempre te ouvir antes de tudo está bem?
-- Esta ótimo, agora vem aqui porque eu estou com saudade do seu corpo -- disse pulando em cima da ruivinha lhe arrancando gargalhadas.
Diante de carinhos e risadas se amaram mais algumas vezes, com a promessa de confiança.
Fim do capítulo
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