Capítulo 41
As Cores do Paraíso - Capítulo 41
Era noite. Larissa estava dormindo na poltrona ao lado da cama aonde Gabriela estava. A ruiva acordou mesmo com o pouco barulho que a loirinha havia feito.
-- Gabi, meu amor - falou em meio a muitas lágrimas que estavam descendo do seu rosto - Que bom que você acordou, meu anjo - colocou a cabeça sobre o colchão e o choro saiu desenfreado. Toda a angustia e dor que sentiu por todos esses dias parecia estar se liberando através das lagrimas.
Mesmo sem abrir os olhos, Gabriela sabia que estava em um hospital. Ouvia vagamente o som de choro, vozes masculinas e femininas falando baixinho, portas batendo. Tentou abrir um pouco os olhos, mas o brilho era forte demais e fez suas pupilas se contraírem e arderem.
Tentou erguer-se da cama, mas sentiu uma mão tocar delicadamente o seu ombro e sussurrar em seu ouvido.
-- Calma amor. Eu estou aqui.
Larissa respirou fundo e tentou controlar-se. Estava deixando Gabriela agitada com o seu choro.
-- Está tudo bem agora - beijou sua boca, seus olhos, seus cabelos - Eu vou ficar aqui com você o tempo todo.
Gabriela sentia-se perdida. Parecia no deserto em meio a uma tempestade de areia, morta de sede e tentando encontrar um caminho. Seu coração estava disparado. Sua cabeça doía de maneira insuportável. Levantou os braços arrancando parte dos fios que a conectava aos aparelhos.
Larissa chamou pela enfermeira, que correu assustada e parou na porta.
-- Ela acordou - falou sorrindo.
-- Chama o doutor Claudio, ela está muito agitada.
Doutor Claudio apareceu em menos de minuto. Estava radiante de alegria.
-- Uma ampola de Rivotril no soro - falou para a enfermeira - Então você finalmente acordou - sorriu - Mas já vai dormir novamente.
-- Pensei que agora ela fosse voltar em definitivo para a gente - Larissa falou decepcionada.
-- E vai - ficou observando Gabriela voltar a dormir profundamente - No momento ela está perdida, assustada. Sabe que está em um hospital, mas não sabe o motivo. Não lembra quem é, enfim está completamente desorientada - deu a volta ao redor da cama e pegou a prancheta de evolução - Vamos transferi-la para o quarto. Assim todos poderão vê-la e mima-la. Garanto que nessa semana mesmo ela já vai estar incomodando para ir para casa.
-- Sério? - Larissa colocou as mãos sobre o rosto emocionada.
-- Sério. Vamos fazer o possível.
Na praia do Encanto.
-- Amor eu juro que não escondi o seu sutiã - Fernanda já havia procurado pela casa inteira e não havia encontrado o sutiã de Laura.
-- Há tá, está querendo me dizer que ele saiu para dar uma voltinha pela praia? Agora fiquei preocupada, será que ele passou protetor solar?
-- Não seja irônica Laura. Eu não faço a mínima ideia... será que você podia voltar para o quarto e colocar algo para cobrir a sua nudez?
Laura deu de ombros.
-- Enquanto você não encontrar o meu sutiã, não coloco roupa nenhuma.
-- Bom dia pessoal! - Talita entrou na sala com um pacote enorme de pão francês.
-- NÃOOOO... - Fernanda empurrou Laura para trás da cortina.
Talita colocou a mão sobre o peito e caiu sentada no sofá.
-- Chama o SAMU.... Acho que estou enfartando.
-- O que é isso? - Laura foi enrolada na cortina por Fernanda - Está maluca é? Pareço uma lagarta dentro do casulo.
-- Nunca deixarei a Talita ver você nua. Fica aí - cruzou os braços emburrada.
-- Quem disse que eu quero ver a gostosa, boazuda, da sua namorada, nua?
-- Se você olhar de rabinho de olho para ela, eu te mato.
-- Eu mereço. Deixa a namorada andar nua pela sala da MINHA CASA e depois não quer que eu olhe - saiu em direção a cozinha.
-- Vou ficar aqui enrolada na cortina por quanto tempo? - Laura perguntou de mal humor.
Fernanda foi até a cozinha tirou a toalha da mesa e entregou para Laura.
-- Pronto. Agora vai para o quarto se vestir.
Laura obedeceu bufando.
-- Sua namorada vai ficar com a bunda cheia de farelinhos de pão.
-- Não provoca Talita.
-- A festa deve ter sido grande essa noite. Para ela estar peladona aqui na sala.
-- O sutiã dela sumiu e a gente estava procurando.
-- Kkkkkk...-- Talita caiu na gargalhada - Eu vi o Tobias passeando com ele na boca, lá na praia.
O celular de Talita tocou e ela atendeu ainda rindo.
-- Oi... Larissa... O que? A Gabi acordou do coma?
No Hospital.
Gabriela tentou abrir os olhos, mas novamente aquela ardência horrível. Após alguns segundos tentou novamente. Piscou várias vezes para que ela entrasse em foco e com olhar ainda hesitante enxergou Larissa com aqueles olhos verdes lindos a fitando preocupada.
-- La....ri...é você? - falou em meio a muita tosse.
-- Sim, meu amor sou eu...não fala muito. O médico pediu que evitássemos, ao menos por enquanto.
-- O que...acon...teceu? - Sussurrou. Sua garganta doía e estava com muita sede - O que...estou fazendo aqui?
-- Você estava em coma, amor - a ruiva falou carinhosamente passando as mãos pelos cabelos loiros - Mas agora está tudo bem.
-- Estou com muita sede - fechou os olhos estava com dor de cabeça e náuseas.
Doutor Claudio entrou no quarto abrindo as cortinas. Os olhos de Gabriela apesar de ainda um pouco embaçados conseguiram focalizar o simpático doutor sorridente.
-- Que dia estamos Gabi?
-- Sexta-feira?
-- Segunda-feira. 15 de setembro de 2015.
Gabriela respirou fundo.
-- É claro que você deve estar muito confusa - colocou a mão sobre a dela - Isso é normal. Você esteve muitos dias em coma.
Gabriela pensou por alguns instantes, levantou a mãos e olhou nos dedos.
-- Eu não sou casada? - Perguntou confusa.
-- Opa. Isso muito me interessa - Larissa colocou o braço sobre o seu peito e a beijou no rosto - Se você casou, não foi comigo, amor - fingiu estar brava.
Gabriela sorriu.
-- Se você fizesse isso, eu mesmo te faria entrar em coma novamente - Doutor Claudio falou demonstrando o bom humor de sempre - Essa garota aí é guerreira. Não saiu do lado da sua cama durante todo o tempo em que esteve em coma.
-- Eu sei... - falou sem muita convicção.
-- Sabe? - O médico estranhou a afirmação dela.
-- Não tenho certeza...acho que sim...
A porta do quarto foi aberta e o senador Davi colocou a cabeça branca para dentro.
-- Posso entrar para ver a minha neta preferida? - Entrou no quarto com um Minions de pelúcia na mão - Olha o que eu trouxe...sei que você adora essa coisinha feia.
-- Gosto mesmo, vô. Ele é muito fofo. Obrigada.
-- Por nada - falou orgulhoso e beijou a testa da neta.
-- Aonde está a vó?
-- Está lá fora conversando com suas mães. Daqui a pouco ela entra.
Na recepção.
-- Talita, eu e a Laura entramos primeiro.
-- Não. Eu entro primeiro. As pessoas sem sutiã entram depois.
-- Se você mencionar esse fato mais uma vez, não me responsabilizo pelos meus atos.
-- Você é tão mal-humorada, Fernanda - deu de ombros e caminhou em direção ao quarto - Entramos todas juntas, então. A bruxa está distraída.
-- Promete que não vai mais falar sobre o que aconteceu hoje de manhã.
-- Prometo. Até já esqueci...
-- Oi guti-guti - Talita correu até a amiga e deu vários beijos em seu rosto - Tenho um babado muito engraçado pra te contar... Hoje de manhã a mente brilhante e a...
Depois de mais uma semana, Gabriela foi liberada para voltar para casa.
-- Mãe, não exagera. Eu estou bem.
-- Não Gabi. A sua mãe tem razão - Larissa puxou a loirinha para o seu colo e a abraçou - Você não pode ficar aqui sozinha com a Talita. Vocês não se alimentam direito.
-- Eu não posso simplesmente sair e deixar a Talita aqui sozinha, amor.
-- O que é isso guti-guti? A Alice já, já está voltando. Vai lá, fica com a tua deusa. Ela vai cuidar melhor de você. Além do mais eu tenho o Tobias para me fazer companhia.
-- A mamãe vai ficar mais tranquila, bebê - Samanta segurou o rosto da filha com as duas mãos e deu um selinho carinhoso - Quando eu e a Luísa voltarmos de Pomerode você volta para ficar com a gente.
-- Está bem mãe. Cuida bem da vovó e diz que assim que eu puder vou visita-los.
-- Falo sim, filha. Não se preocupe ela vai melhorar.
-- Então vamos pegar as suas coisas, amor. Você precisa descansar.
Naquela noite Gabriela teve um sonho.
Estava em um lugar aberto, parecia um deserto. Gabriela viu uma pessoa de costas, imediatamente reconheceu, era sua avó. Foi correndo ao encontro dela e perguntou:
-- Por que você está aqui vó? As mamães foram visitar a senhora lá em Pomerode.
-- Estou aqui porque amo muito você. Te criei desde pequena.
Mas ela estava com a cara triste, ela não era assim.
-- Você está triste vó?
-- Estou.
-- Por quê, vó?
-- Não consegui te visitar no hospital, meu anjo. Queria tanto ter me despedido de você, mas estava tão doente, tão fraca.
-- Não fica assim triste vó. Prometo que assim que for liberada, vou visitar vocês lá em Pomerode.
-- Não, meu anjo. Você não precisa ir até lá... - um flash de luz iluminou aonde a avó estava -- Cuida do seu avô, ele está muito deprimido - uma densa neblina caiu sobre o lugar.
Ela fez um sinal com a cabeça, como se fosse para ela olhar para trás. Quando Gabriela se virou, viu o avô todo encolhido, sentado, chorando.
Ela então entendeu.
-- Não sofra por mim. Para a maior parte dos homens, a morte continua a ser o grande mistério, o sombrio problema que ninguém ousa olhar de frente. Para mim, ela é a hora bendita em que o corpo cansado volve à grande Natureza para deixar à Psique, sua prisioneira, livre passagem para a Pátria Eterna.
Ela foi desaparecendo devagar...
-- Por isso, não digo adeus, digo apenas até logo!
E desapareceu por completo.
Gabriela estava chocada. Acordou chorando. Larissa, como sempre estava ao seu lado para acalma-la. Contou tudo para ela e ela falou que era apenas um sonho, que sua avó a ama muito e veio visita-la. Disse para ela dormir tranquila que ficaria tudo bem. E foi isso que ela fez...
Pela manhã sua mãe Luísa ligou avisando que a avó havia morrido por complicações no pulmão.
-- Querida avó, toda a minha vida você foi mais mãe do que avó. A você eu devo muito, e grande parte daquilo que hoje sou, o sou graças a você.
Foi você quem me criou, que me amou como uma mãe, e eu te amo como se realmente o fosse. Você foi uma grande mulher, um exemplo e uma inspiração. É para mim um orgulho te chamar de avó e te amar como a uma mãe. A razão por que a despedida nos dói tanto é que nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham sido e sempre serão. Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes desta e, em cada uma delas, nós nos encontramos. E talvez a cada vez tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos. Isso significa que este adeus é ao mesmo tempo um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio do que virá.
Até logo vovó...
Fim do capítulo
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gui
Em: 16/09/2015
Oi autora, não sou da doutrina, mas me simpatizo muito e gosto muito quando inclui a doutrina em suas historias. esse capítulo mexeu um pouco comigo, pois perdi um irmão depois que ele ficou 3 mesês em coma, não me despedi como queria, como deveria. mas depois lembrei que ele se despediu de mim e eu não soube reconhecer no momento. pois dias antes do acidente ele foi a minha casa muito diferente, me deu um retrato dele e me pediu que guardasse de lembrança, ainda fico triste com isso. .. sinto muito por sua perda, que bom que pode se despedir... fique bem! um grande abraço dessa fã. (desculpe pelo desabafo)
Resposta do autor:
Meu anjo. Independente de qual seja a nossa crença, somos todos filhos do mesmo pai celeste.
Se a saudade, a distância e o vazio te atormentam o espírito, ora, como sabes e como podes, desejando a paz e a segurança dele. Lembra que ele não desapareceu para sempre, e sim está ausente.
Chora, quando não puder evitar o pranto. No entanto, converte quanto possível as próprias lágrimas em preces de esperança. Tudo o que você desejava falar para ele naquele dia, fala agora. Porque pode ter certeza, ele te ouve. Sinta-se abraçada por mim. Fique em paz.
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Silvia Moura
Em: 16/09/2015
Ai autora você é show de bola...adoro essa estória... adoro suas estórias de temáticas espirituais...acho que as novelas deveriam ser feitas com essas temáticas do espiritual, amor e mulheres se amando...seria bem legal...kkkkkkkk.... fica com Deus e os anjos que nos acompanham...bjs...
Resposta do autor:
Nossa doutrina é linda Silvia. Lei de amor e caridade. Você conhece está passagem na vida se Chopin?
Conta-se que Chopin em seu primeiro encontro com a escritora George Sand, o amor de sua vida, não poderia ter sido pior. Escreveu ele: "Como é antipática essa Sand! Será mesmo uma mulher? Estou começando a duvidar."Afinal, sua nova amiga comportava-se como um rapaz: vestia-se com roupas masculinas e fumava charutos. Certa vez, num dia de chuva, apareceu uma goteira na cabana onde eles estavam. Chopin inspirou-se com a goteira e compôs a música Gota d'água. Assim que terminou, sua esposa subiu no telhado para acabar com a goteira.
Podemos encarnar várias vezes num corpo masculino e quando trocamos de corpo numa nova encarnação, guardamos a lembrança de quando éramos um homem. Por isso vemos mulheres masculinizadas e homens afeminados. Quando aprendermos isso, veremos que todo racismo, preconceito e discriminação são bobagens.
Abraços fraternos.
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patty-321
Em: 16/09/2015
Gabysinha acordou. Guti guti. Essa tali e uma no cega. Kkkk. E a vozinha se foi. Vc perdeu sua vo vandinha? Bjs linda.
Resposta do autor:
Perdi sim Patty. E como descrevi. Ela somente partiu após se despedir. Mas sem problemas. Daqui a pouco a gente se cruza novamente. Faz parte. Bjã meu anjo. Até.
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Mille
Em: 16/09/2015
Que bom que a Gaby acordou, imaginou ela ficar com a Tali ah essa não perde nada que nem Tobias se deixar fácil ele faz um assalto, que o diga a Laura e Fernanda.
Bjus
Resposta do autor:
O Tobias ainda vai terminar a história como caixeiro. Bjs Mille.
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