Capítulo 40
As Cores do Paraíso - Capítulo 40
No hospital Fernanda conversava com a recepcionista enquanto Talita e Alice entravam escondidas.
-- O Recife figura como a 13ª cidade mais violenta do Brasil.
-- Mas, nem se compara ao Rio e a São Paulo, lá sim eles vivem uma verdadeira guerra -- a recepcionista conversava enquanto organizava alguns papeis.
-- É verdade -- debruçou-se abusadamente sobre o balcão -- Lá de onde eu venho a população dorme de janela aberta.
-- De onde você é?
-- Brejo Santo.
A mulher olhou com cara de descrença.
-- É verdade. Fica próximo a Itapipoca no Ceará. A população é de 47.000 habitantes.
-- Que interessante -- falou fazendo pouco caso -- Com licença preciso arquivar alguns documentos.
-- Claro, fique à vontade. Eu cuido daqui pra você.
A funcionaria fez uma careta e desapareceu dentro de uma porta enorme de madeira maciça.
Assim que teve certeza que ela não voltaria, saiu correndo atrás das amigas.
No quarto Larissa seguia sua rotina de cuidar de Gabriela. Ela só ia em casa para tomar banho e trocar de roupa. Luísa e Samanta insistiam para que ela dividisse a tarefa com elas, mas a ruiva fazia questão de permanecer ao lado do seu amor. Estava sentada na poltrona, ao lado da cama quando as amigas entraram apressadas no quarto.
-- Como vocês três entraram aqui? Só é permitido entrar uma pessoa de cada vez.
-- Eu amarrei a recepcionista no banheiro -- Fernanda sentou na cama.
-- Sai daí... -- Larissa puxou a advogada pelo braço.
Talita aproximou-se da cama e beijou o rosto da amiga com carinho.
-- Gabi, minha irmãzinha querida. Você lembra quantas vezes, lá em Pomerode, a gente deitava na cama e ficava conversando na maior vadiagem e preguiça? Eram horas e horas falando abobrinhas e comendo Nutrella com os dedos, não é mesmo? -- uma lágrima silenciosa rolou-lhe pelo rosto. Secou-a com as costas da mão -- Naquela época a gente nem de longe imaginava que conheceríamos essas duas chatinhas... - Larissa e Alice olharam para ela de cara feia - Lindas, gostosas e inteligentes - completou antes que apanhasse - Na verdade, já havíamos nos conformado em se amontoar com uma daquelas alemoas boazudas que a gente conheceu nas boates de Blumenau, e ficar por lá mesmo - suspirou fundo e continuou -- Cara, quantas lágrimas nós derramamos.... Você, porque achava que a sua mãe havia te abandonado, eu porque havia perdido meus pais em um acidente e de certa forma também me sentia abandonada por eles.
Talita estava emocionada. Eram inseparáveis desde criança. Uma cuidava da outra, sempre fora assim.
-- Lembra quantas vezes eu te livrei de apanhar na escola? Eu te livrei de um monte de coisas né garota... só não consegui te livrar disso...
A recepcionista entrou na UTI trazendo o doutor Claudio consigo.
-- Hííí... sujou... - Fernanda chamou a atenção das amigas -- A Bruxa de Blair chegou.
-- Olha só doutor a bagunça que elas estão fazendo aqui - a mulher falou de cara feia e batendo com o pé no chão.
-- A gente só está conversando com ela doutor. A Talita só precisa de mais alguns minutos - Larissa pediu.
-- Vocês estão transgredindo as normas do hospital. Acho melhor saírem agora - a mulher apontou para a porta. Ela batia com o pé no chão com intensidade cada vez maior.
Doutor Claudio surpreendeu a funcionária com um discurso totalmente a favor da atitude das garotas.
-- A visita dos familiares é essencial para a humanização e recuperação do paciente internado na UTI, e, mesmo quando o nível de consciência deste paciente estiver alterado, a humanização deve ocorrer através de comunicação verbal e não verbal. Talita continua.
-- Mas doutor...
-- Sem, mas. Enquanto estamos aqui discutindo, a recepção está sozinha.
Sem escolhas, ela acabou retornando chateada para o seu local de trabalho.
Doutor Claudio voltou a sua atenção para Talita.
-- Talita termina logo isso. Daqui a pouco o médico responsável pela UTI chega, expulsa vocês eu vou junto na mesma balada.
-- Gabi, não vou mais falar de momentos tristes. Vou falar só de alegrias. A gente sempre dividiu esses momentos uma com a outra. A minha alegria é ver a sua alegria, e sei que, a sua alegria é ver a minha. Enfim, é por isso irmãzinha, que eu estou aqui hoje. Para que você participe, mesmo sem poder falar umas de suas piadinhas sem graça, desse que é o momento mais feliz da minha vida.
Após se ajoelhar, Talita pegou a caixinha em seu bolso e a abriu diante de Alice. Os olhos da garota brilhavam tanto quanto as alianças.
-- Parece cedo demais para a gente noivar, mas eu não aguentava mais. Desde a primeira vez que te vi eu me apaixonei - levantou e tocou o rosto de Alice com as pontas dos dedos - Juro por todo o meu coração - sorriu - Vamos ser o casal mais feliz do mundo, eu prometo para você que seremos felizes para sempre.
-- Eu também prometo amor - se olharam com carinho.
Colocaram as alianças e se beijaram novamente.
-- Posso falar uma coisinha? - Fernanda levantou a mão pedindo a palavra.
-- NÃO! - Responderam juntas.
-- Credo, gente. Só queria dizer que estou muito feliz e desejo toda a felicidade desse mundo pra vocês.
Larissa também estava muito feliz e emocionada abraçou e beijou as amigas.
-- Tenho certeza que a Gabi está vibrando de felicidade - beijou a testa da namorada e fez um carinho em seu rosto.
-- Pessoal, agora vamos sair daqui - doutor Claudio abraçou Talita e Alice - Vocês serão felizes. O amor e a felicidade sempre andam juntos, não importa como ou o lugar. Se existe amor em nós, superamos e suportamos tudo.
Gabriela ficou em coma por cinquenta e dois dias. O coma não é sentido igual para os que passaram por essa experiência. Para muitos, o espírito fica no corpo físico sem se afastar, sentem como se dormissem, não se recordam de nada. Temos muitos relatos de pessoas encarnadas que saíram do coma, umas não se recordam, outras se lembram de muitos fatos.
Para ela ficou claro que a amizade é um tesouro e que o amor cobre multidões de pecados. Mesmo sem pedir socorro ela foi socorrida. Outros pediram por ela, que fez por merecer. Amizade sustenta-se com compreensão e tolerância, e a fortalecemos quando fazemos aos amigos o bem carinhosamente e espontaneamente, e que às vezes nem notamos. Que bem precioso é a amizade!
Certo dia, que ela não sabia identificar se era dia ou noite, abriu os olhos e viu Munique sentada na poltrona ao lado de sua cama.
Munique depois de um tempo olhando tudo ao redor, passou a mão pela cômoda e pegou um porta-retratos com fotos de Gabriela e Larissa, olhou-as com carinho e perguntou baixinho:
-- Porque você voltou Gabriela?
-- Voltei porque quis muito e fui impulsionado pela vontade de meus amigos e parentes.
-- Vocês tinham sonhos em vidas passadas, mas quando estavam perto de realiza-los sempre algo trágico acontecia.
Nem o tempo, nascimento, morte ou reencarnação podem separar aqueles que formaram um profundo elo emocional, espiritual ou físico em seu passado.
Em muitos casais a afinidade e o entrosamento são tão grandes que basta um olhar para que o outro saiba o que quer.
Não precisam de muitas palavras para se entenderem. Há felicidade nesses relacionamentos porque ambos aprenderam suas lições do passado e estão nesta encarnação para outras experiências de crescimento e de evolução.
Portanto, essa felicidade de vocês não veio por acaso, mas como fruto de várias encarnações juntas, muitas vezes traumáticas, pelas quais adquiriram sabedoria e amor em seus relacionamentos.
-- E como saberei que dessa vez dará certo e não errado como nas outras reencarnações?
-- Simples. Porquê dessa vez você resolveu escutar o seu mentor espiritual que as ajudou a planejar as lições necessárias à vida presente. Quer saber o que aconteceu?
Gabriela fez um gesto de sim com a cabeça.
-- Feche os olhos e veja.
Gabriela viu um bebê...estava em casa deitada na cama...
-- Meu filho! Eu quero o meu filho... Levaram o meu filho. Levaram embora o meu filho.
Morava num lugar simples, numa casa simples. Estava num quarto, só tinha uma cama e uma mobília com gavetas. Ele era um bebê, não sabia por que o levaram? (Chorava convulsivamente).
Ele estava enrolado num lençol. Agora ele não estava mais com ela. Estava sozinha. É muito ruim ficar sozinha. Eu queria o meu bebê de volta! (Gritava, chorava copiosamente).
-- Você sabe quem pegou o seu bebê? -- Munique perguntou-lhe.
-- Ele tinha nascido há poucos dias. Eu mal o peguei nos braços. Meu pai me disse que eu não tinha condições de criá-lo. Ele não queria que eu andasse na cidade com um filho nos braços, sem marido. Ele não queria ouvir comentários de que sua filha criava um filho com outra mulher. Foi por isso que ele me mandou para essa casa, distante da cidade. Antes eu morava com ele e as minhas duas irmãs.
Quando ele descobriu, me mandou para esta casa, longe dos olhos dos moradores da cidade. Logo que o meu bebê nasceu, ele foi me visitar. Estava deitada e acabei dormindo. Ao acordar, não os vi mais. Fui implorar para que ele devolvesse o meu filho. Disse-lhe que não iria depender dele para criá-lo, mas ele não me ouviu... Eu nunca mais tive notícias de meu filho.
-- Avance nesta cena anos depois, Munique pediu-lhe.
-- Após 20 anos é que vi o meu filho. Quando estava andando na cidade, vi um rapaz muito parecido com minha mulher. Alto, cabelos escuros, pele morena, muito bonito. Ele estava conversando com outros dois rapazes aparentando a sua idade. Ele despertou a minha atenção. Eu o segui e ele entrou numa casa grande, um jardim enorme com muitos empregados. Reconheci a casa porque uma das empregadas me conhecia. Pedi para que ela informasse e descobrisse se ele era realmente o meu filho. Ela ficou atenta nas conversas que escutava dentro desta casa. E numa dessas conversas, ela soube que ele era filho adotivo. Os donos desta casa eram pessoas de posse e foram eles que o criaram. Eu o observava de longe. Tenho medo de me aproximar dele. Ele não sabe que é filho adotivo. Se eu lhe contasse a verdade, tinha medo de sua reação, de não compreender o que aconteceu. Mas me sinto feliz por ele estar vivo; por outro lado, me sinto triste por não poder me aproximar dele. Sou muito pobre e ele foi criado por uma família abastada. Ele não iria me aceitar. Por isso, eu só ficava observando-o.
Avance nessa cena bem mais para frente, anos depois.
-- Meu filho está mais velho, ele está com 37 anos. Há 37 anos que não o abraço. Ele constituiu uma família. Sua esposa e seu filho são muito bonitos. Eu o vejo passeando com o seu filho pela cidade. Meu neto é lindo! Tem os cabelos claros, deve ter por volta de 6 anos. Ele é bonito, se parece com o pai... Vejo-me agora velha, cansada, meus cabelos já estão grisalhos. Não consigo mais andar direito. Não tenho mais forças para ir até a cidade para ver o meu filho.
-- Vá agora para o momento de sua morte -- Munique pediu-lhe.
-- Estou deitada na minha cama. Sofrendo muito. Estou só. Fico pensando que se eu tivesse contado toda a verdade para ele, não estaria só. Eu vou morrer e não irei mais vê-lo (chorava copiosamente). Sinto muita solidão, medo de não o ver mais... Acabei morrendo. Sozinha e mergulhada em tristeza.
-- Agora entendeu? Você e Larissa reencarnaram para consertar tudo.
-- Só não entendi uma coisa.... Aonde estava Larissa?
-- Ela morreu após dar à luz ao filho...
http://osvaldoshimoda.com/2015/02/18/voces-reencarnaram-para-ficar-juntos
Fim do capítulo
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cellynha23
Em: 16/09/2015
Itapipoca-CE hahahaha..
Amando a evolução da história. Gabi acorde logo.
Resposta do autor:
Bjs. Cellynha.
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Mille
Em: 14/09/2015
Lindo quando fala em reencarnação. Um complemento que só da certo com a nossa alma gêmea, fico fascinada por essa história.
Tenho duas manias e uma é olhar as estrelas lá parece que meu ser amado está a olhar por mim. E outra é pegar uma flor e jogar no rio, como se fosse ao encontro no meu amor.
Bjus e ótima semana
Resposta do autor:
"Não procure felicidade na superfície, ela está enraizada nas miudezas, dos pequenos gestos de ternura". Que sua semana seja iluminada. Bjs.
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