As Cores do Paraíso - Capítulo 39

 

 

Uma semana havia se passado. Gabriela continuava em coma. Larissa decidira abandonar todos os seus compromissos na construtora para ficar ao lado dela no hospital.

Eram horas e horas de conversas, de leitura, de música. Doutor Claudio em uma das suas visitas comentou com os olhos brilhantes.

-- Esse é o tipo de amor que quero para mim e que vou dar a quem amar. Amor sem limites, amor de verdade, amor-doação, amor-entrega... Amor por amar...

Larissa olhou para a namorada que por muitas vezes parecia perder a batalha pela vida e começou a cantar, com sua voz aveludada.

 

Quando a gente ama alguém de verdade esse amor não se esquece.

O tempo passa, tudo passa, mas no peito o amor permanece.

E qualquer minuto longe é demais, a saudade atormenta.

Mas qualquer minuto perto é bom demais, o amor só aumenta.

 

Vivo por ela. Ninguém duvida

Por que ela é tudo. Na minha vida

 

Eu nunca imaginei que houvesse no mundo um amor desse jeito.

Do tipo que quando se tem não se sabe se cabe no peito.

Mas eu posso dizer que sei o que é ter um amor de verdade

E um amor assim eu sei que é prá sempre, é prá eternidade.

 

Nesse momento, Gabriela pareceu reagir. A pulsação começou a baixar e se estabilizou.

-- Continua Larissa... - doutor Claudio encorajou Larissa a continuar cantando.

 

Vivo por ela. Ninguém duvida

Por que ela é tudo. Na minha vida

 

Enquanto Larissa cantava, a respiração difícil de Gabriela foi se tornando suave.

-- Continue, querida! -- pediu doutor Claudio, emocionado.

 

Quem ama não esquece quem ama, o amor é assim.

Eu tenho esquecido de mim, mas dela eu nunca me esqueço.

Por ela, esse amor infinito, o amor mais bonito, é assim nosso amor sem limite.

O maior e mais forte que existe.

 

Vivo por ela. Ninguém duvida

Por que ela é tudo. Na minha vida

 

 Amor sem limite - Roberto Carlos

 

Larissa chorou e a beijou muitas vezes. Doutor Claudio pegou em sua mão e a puxou. A ruiva, sentiu-se abraçada.

-- Larissa -- falou ele carinhosamente -- Minha querida, não chore mais! Dias de tristeza... Dias de felicidade... São lições necessárias que, na Terra, passam, deixando no espírito imortal as experiências acumuladas. Assim, faça a sua parte o melhor que puder, sem esmorecimento, e confie em Deus, aproveite cada segundo, cada minuto que, por certo...também passarão...Tudo passa..........exceto DEUS! Deus é o suficiente! - Sorriu de forma compreensiva.

-- Aqui na parte externa do hospital, próximo a lanchonete preparamos um lugar especial. Lá é aonde as pessoas vão quando precisam conversar - colocou a sua mão no ombro dela e a encaminhou até a porta da UTI - Vá lá. E só volte quando estiver melhor.

Larissa pensou em recusar, mas doutor Claudio insistiu fazendo um sinal, apontando para a porta.

-- Ele está lhe esperando...

 

O lugar era realmente maravilhoso. Larissa encantou-se com a beleza. Procurou pela pessoa que o doutor havia falado, mas, não havia ninguém além dela.

-- Ele deve ter saído. Ainda bem.... Não estava muito a fim de conversar.

Sentou à sombra de uma árvore florida. Estava em um jardim. Não era grande, muito pelo contrário, mas era bem aconchegante. O único som escutável por perto era dos pássaros cantando nas arvores. Foi invadida por um incontrolável sentimento de paz e tranquilidade.

Ajoelhou-se e agradeceu a Deus. Lágrimas rolaram pelo seu rosto. Sentiu-se agradecida e deu graças. Conseguiu fazer orações as quais havia decorado, e outras fazia como se conversasse com Deus. E ao Pai Celeste pediu perdão por ter duvidado do seu amor.

Quando retornou para junto de Gabriela sentia-se leve e serena. Faria de tudo pelo seu amor, mas acima de tudo, a colocaria nas mãos de Deus.

Doutor Claudio foi ao seu encontro sorridente.

-- Então?

-- Ele não estava lá.

O simpático médico deu uma gargalhada.

-- Estava sim, o que quero saber é se você o encontrou.

-- Ele não es... - Larissa então compreendeu. Ele estava lá sim e transbordou o seu coração de otimismo e força.

 

 

Samanta acompanhada de sua advogada Fernanda, havia se apresentado a justiça. Após o depoimento foi liberada e de volta a praia do Encanto, contavam a novidade para Luísa.

-- Ela vai responder ao processo em liberdade. Réu primário, têm endereço fixo e profissão definida. Agiu em legitima defesa. Risco zero - Fernanda falou confiante.

-- Graças a Deus! Se você fosse presa amor, teria que cometer um crime para ficar junto a você - Luísa falou divertida.

-- Claro que não. Quem levaria cigarro para mim na cadeia?

-- Você não fuma amor...

-- É verdade... Chocolate, então.

Talita entrou na sala de mãos dadas com Alice.

-- Tenho um comunicado a fazer.

-- Aiii... - Alice gem*u de dor.

-- O que foi amor?

-- Não precisa quebrar os meus dedos.

-- Desculpa.... Estou nervosa - beijou a mão da namorada.

-- Fala aí, pau de sushi.

-- Olha aqui sua Testa de amolar facão... - Talita levantou a mão.

Fernanda se encolheu de medo.

-- Talita! Mantenha o foco, amor - Alice sentou no sofá e cruzou as pernas - Não me deixe nervosa.

Talita deu uma encarada em Fernanda.

-- Te pego depois. Me aguarde.

-- Talita qual é o comunicado que você tem a fazer? Eu e a Samanta estamos de saída para o hospital.

-- Dona Luísa, eu e a Alice decidimos que vamos noivar.

-- Sério? - Fernanda deu um risinho irônico.

-- Sério. Porque? Algum problema? Se tiver já te meto a mão na cara.

-- Cruzes. Tem certeza que você vai querer um relacionamento sério com essa mulher das cavernas, Alice?

-- Hóóó... - Talita partiu pra cima de Fernanda com a mão fechada.

-- CHEGA! - Alice berrou, se recompôs e voltou a falar baixinho - Desculpa dona Luísa. Tali...Fê... - chamou as duas para perto - Abraços.

-- NUNCA - Talita berrou - Eu não vou abraçar essa cara de areia mijada.

-- Então, nosso noivado acabou por aqui - Alice pegou a bolsa e colocou no ombro.

-- Poxa, acabou antes de começar - Fernanda falou e levou um cutucão de Luísa.

Talita bufou e abriu os braços com uma raiva descomunal.

-- Vem...

Fernanda passou as mãos nos olhos. Estava morrendo de medo. Se havia uma coisa que temia era das mãos de Talita. A garota era alta e forte. Respirou fundo e foi de braços abertos piscando o olho várias vezes.

As duas se abraçaram fazendo Alice sorrir de felicidade.

-- Gugu Liberato do Agreste - Talita falou no ouvido de Fernanda dando dois tapas bem fortes nas costas dela.

-- Pescoço de garrafão - respondeu baixinho fingindo uma emoção comovente.

-- Pronto. Agora sim - Alice colocou a bolsa no sofá e abraçou a namorada - Continua amor.

-- Bem... A Alice vai para os Estados Unidos semana que vem.  A mãe dela vai iniciar um tratamento experimental contra o câncer - sorriu - A Larissa praticamente impôs essa viagem.

-- Não queria aceitar, mas é a minha mãe, e além do mais, Larissa me fez ver que amigo é aquele que nas horas difíceis estão sempre presentes e não só na hora da alegria.

-- Você fez bem em aceitar a ajuda dela. Essa atitude estará fazendo um bem enorme mais a ela do que a você e a sua mãe.

-- Sabe Samanta, Larissa mudou muito, nem parece a mesma empresária fria e egoísta de outros tempos. Hoje ela respeita as pessoas até mesmo na construtora, com os funcionários, com os clientes. Seus negócios são realizados de forma justa, sem pressão, sem estresse.

-- Então... - Talita falou ansiosa - É por isso que estamos antecipando o nosso noivado. Não quero a minha gata solta pelas street dos gringos.

-- Você vai colocar uma aliança nela, ou um cinto de castidade?

-- Fernanda! Não começa - Luísa falou chamando a atenção dela - Vocês deveriam esperar a Gabi voltar do coma. Com certeza ela adoraria estar presente a esse momento tão importante na sua vida.

-- E estará - Talita falou cheia de segredos.

-- Como? Vai trazer a cama dela lá do hospital e colocar aqui no meio da sala?

-- Não Fernanda. Ela não pode vir até aqui..., mas, nós podemos ir até lá.

Talita abraçou Alice e sorriu com jeito de quem iria aprontar. Não podia adiar o noivado, então, arrumaria uma maneira da irmãzinha fraterna participar mesmo que fosse no hospital.

 

 

Gabriela acordou. Deu uma olhada no local onde estava. Era um quarto estranho. Somente mexeu os olhos. Estava num leito com lençóis brancos. Do lado esquerdo havia uma janela fechada, por onde entrava tênue claridade. Do lado direito, duas portas, uma mesinha de cabeceira e uma poltrona.

Estava bem, tranquila e se sentindo confortável. Sem saber o que fazer resolveu ficar quieta.

Momentos depois Larissa entrou no quarto. Olhou-a e sorriu. Como amava a sua presença.

-- Oi guti-guti! Como está hoje? -- ela a cumprimentou com um beijo na testa e um carinho no rosto.

-- Bom dia, meu amor! Estou bem! - Respondeu, mesmo sabendo que ela não a ouviria.

Como era delicioso ouvir a voz dela. Sentia que sua ruivinha querida estava em plena evolução espiritual. Falava de amor não só da boca pra fora. Falava de amor com os olhos, com o sorriso, com os gestos.

Gabriela achava que suas almas haviam reencarnadas para resolverem pendências passadas e que agora já resolvidas, partiria em paz. Mas, segundo Munique, ainda havia algo muito forte que elas teriam que vivenciar juntas.

Gabriela, amou. Pois qualquer coisa que passasse ao lado de sua alma gêmea valeria a pena.

 

Larissa entrou no quarto com um vasinho de flores e uns pacotes de bolachas.

-- Oi guti-guti! Como está hoje? -- cumprimentou-a com um beijo na testa e um carinho no rosto.

Falou por minutos dando notícias dos amigos e de pessoas conhecidas.

-- Seu avô tem vindo te visitar todos os dias. Ele até que é legal -- sentou em uma poltrona ao lado da cama e segurou a mão da loira - Você tinha razão amor, em não desistir dele. Valeu a pena a sua insistência, mesmo que tenha sido através da dor, ele parece ter aprendido que somos todos iguais perante Deus.

Larissa tirou um livro de dentro da bolsa.

-- Amor, hoje vamos começar a ler o livro Treze Almas.  Neste livro o renomado escritor espiritualista Marcelo Cezar, inspirado por seu mentor Marco Aurélio, irá narrar a história de Lina uma das 13 pessoas que desencarnaram dentro do elevador, uma das 13 almas.

Em 1º de fevereiro de 1974 aconteceu um terrível incêndio no Edifício Joelma, na cidade de São Paulo que provocou a morte de 191 pessoas e deixou mais de 300 feridas. Dentre os mortos foram encontrados 13 corpos carbonizados dentro de um elevador e até hoje nenhuma dessas treze almas foram identificadas.

Os 13 cadáveres foram enterrados lado a lado no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina e desde então o local atrai peregrinos que passaram a atribuir supostos milagres às 13 almas do edifício Joelma.

 

 

Nota.

Um homem que esteve inconsciente por cinco anos conseguiu se comunicar com seus médicos usando apenas seus pensamentos. Esse novo estudo indica que a comunicação com pessoas em coma profundo é possível.

O paciente, que teve dano cerebral causado por um acidente de carro, conseguia responder perguntas simples com "sim" ou "não" do tipo "o nome do seu pai é Thomas? ". Os especialistas dizem que isso significa que o procedimento deve ser tentado em todos os pacientes em coma.

Após detectar sinais de que ele estava, de certa forma, alerta, os médicos pediram que o paciente tentasse responder sim ou não para as perguntas. A comunicação "tradicional" foi impossível, mas eles puderam ler as respostas nas ondas cerebrais da pessoa.

O paciente respondeu corretamente a todas as perguntas dos médicos, surpreendendo a todos. O método usado pelos cientistas, chamado FMRi, tem 100% de acerto no cérebro de uma pessoa normal, mas nunca havia sido usada em uma pessoa em estado vegetativo.

http://hypescience.com/27504-comunicacao-coma-comunicar-se-com-pessoa-em-coma/

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo