Capítulo 4: Ainda não terminou o dia
Como não poderia deixar de ser, nem ao menos tinha me recuperado do susto tanto da batida, como de novamente estar frente a frente com a linda estressadinha, ela já foi logo disparando, sem nem respirar nas pontuações ao longo das frases:
-- Qual o seu problema afinal? Já é a segunda vez no mesmo dia que tenta me matar, sua maluca! Não é possível, alguém tem que te interditar. Você é um perigo para a humanidade! Sua doida varrida. Como é que pode? Não olha pra onde anda não? Vou pedir para o meu pai te investigar e mandar cassar sua carta de motorista. Você não pode sair livremente assim por aí destruindo postes, carros e atropelando pessoas inocentes na calçada. Se prepare porque isso não vai ficar assim não, viu garota?
Tudo o que pude fazer foi fechar os olhos e aguentar mais um pouco toda aquela explanação nervosa, afinal ela tinha certa razão ao me esculachar. Eu realmente não era uma motorista muito confiável, mas só pra deixar claro não tinha comprado minha carteira não. Só sou um pouquinho distraída.
Acho que ela deve ter ficado sem ar pra ter parado finalmente de falar, mas eu não estava no meu normal, pois senão já teria desferido tantos impropérios pra cima daquela garota insuportável que ela certamente já teria corrido pra bem longe.
Sai momentaneamente da minha letargia ao me deparar com o horário. Tinha exatamente um minuto para chegar à minha sala a tempo, senão o metódico professor não me deixaria mais entrar. Por isso mesmo, fui logo pegando meu cartão de visita na mochila que estava no banco de trás do carro e jogando em cima da garota, que me olhou como se eu fosse um ser de outro planeta.
-- Olha só, garota. Não tenho tempo para ladainhas agora, estou atrasadíssima. Me procure amanhã por esse telefone ou endereço que a gente resolve esse negócio da batida, viu? Até mais.
Pela cara que vislumbrei por apenas alguns segundos certamente que ela teve certeza nesse momento que eu era totalmente desequilibrada. Ri desse pensamento mórbido, mas logo coloquei minhas pernas pra correr de novo, pela quarta vez. Deixei meu carro parado lá mesmo no meio do caminho, todo destruído e impedindo o trânsito dentro do campus, mas não dei a mínima pra falar a verdade, estava realmente com pressa. Pelo menos valeu a pena, porque cheguei a tempo na sala antes de impedirem minha entrada.
A apresentação do trabalho ocorreu dentro da normalidade embora tenha percebido muitos olhares sobre minha pessoa. Nem liguei, certamente deveria ser por causa do gesso ou pela minha facilidade para falar em público. Assim que terminou aquela aula me despedi dos meus colegas novamente apressada, afinal estava atrasada mais de uma hora para minha comemoração com minha loira.
Nove e dez da noite e eu realmente estava acreditando que Murphy finalmente me daria um descanso, mas claro que ele ainda não estava satisfeito com todas as minhas desgraças e me aprontou mais uma.
Cheguei ao local da segunda batida e não encontrei carro algum. Como assim? Quem iria roubar meu possante todo destruído daquela forma? Só podia ser uma brincadeira de mau gosto. Não consegui evitar a sucessão de palavrões que saíram da minha boca sem nenhum arrependimento.
Um senhor que passava por lá ao me ver xingando até a última geração de todas as famílias do mundo me interpelou:
-- Moça, por acaso aquele carro batido que estava aqui até agora pouco é seu?
Novamente esperançosa com a oportunidade de recuperar meu carrinho, já fui logo disparando sem dar chance para que proferisse outras palavras.
-- É meu sim. O senhor viu pra onde ele foi?
-- Vi sim moça. Como ele estava atrapalhando a passagem dos carros, tive que chamar um reboque para levá-lo. Você sabe que não deveria o ter deixado ali no meio da estrada né?
Eu deveria estar igual àqueles personagens de desenho animado nesse momento, que ficam com a cabeça totalmente vermelha ao se depararem com algo que não os agradam. Ao me ver bufando de raiva, o senhor já foi logo completando, de uma forma calma demais para o meu gosto.
-- Não tive culpa moça, apenas fiz o meu trabalho. – ele disse isso com uma serenidade que me deu mais raiva ainda que sua ação anterior. Vai dizer que você também não fica ainda mais possessa quando está toda nervosa e a outra pessoa com a qual está discutindo fica lá, toda calma e nem se digna a responder seus desaforos?
Tive vontade de esganar aquele pescoçinho até retirar o último indício de sangue do seu corpo, tamanha a minha ira naquele instante. Não consegui mesmo evitar meu momento Cruella de Vil! Mas, contrariando as expectativas, apenas respirei fundo pela enésima vez naquele dia e o deixei sozinho antes que cumprisse minha verdadeira vontade. Só me controlei porque pensei a tempo que ir pra cadeia seria ainda mais atormentador que meu dia.
Sentei em um banco depois de andar um pouco, fechei os olhos e fiquei pensando no que faria agora. A faculdade era a pelo menos oito quilômetros da cidade e estava a pé. Além disso, na pressa havia esquecido meu celular e, portanto, não dava para chamar um taxi. Poderia ir de ônibus, mas este só sairia às onze horas quando acabassem as aulas e aí já seria muito tarde para chegar à casa da minha namorada.
Quando pensei em namorada, quase desfaleci. Comecei a tossir descontroladamente. Simplesmente voltei a estaca zero. Calma, já vou me explicar. Acontece que o meu lindo presente de aniversário de namoro, a gargantilha de ouro branco, estava no maldito do carro, que estava sei lá aonde uma hora dessas.
Totalmente desolada com minha “sorte” me deixei ficar ali inerte e completamente down ao que me acontecia ao redor. Naquele momento perdi todas as minhas forças, não tinha mais condições de continuar em frente com aquele dia, tudo o que eu queria era dormir e não acordar jamais. Ou também, tudo bem pra mim se eu dormisse e verificasse que todo aquele pesadelo não passou de um sonho ruim.
Mas sabia que isso não aconteceria, pois era só me enxergar naquele momento. No meu braço estava um gesso meio amarronzado devido ao banho de lama que tomei a tarde, meu cabelo desgrenhado que na pressa nem penteei, minhas roupas estavam totalmente amassadas. E pasmem! Estava com uma blusa dos ursinhos carinhosos! Era do meu pijama de uns cinco anos atrás, que não conseguia me desfazer. Como pude me vestir desse jeito? Que vergonha. Como olharei para a cara dos meus amigos novamente?
Agora estou entendendo porque todos na sala me olhavam tanto, achava que estavam admirados pela minha desenvoltura na apresentação do trabalho, mas suas atenções eram apenas devido a minha trágica aparência. Eu sei que nesse momento vocês estão sentindo vergonha alheia pela minha pessoa. Entendo perfeitamente e, acreditem, não as culpo.
Ainda estava me lastimando por todas as minhas desgraças e vergonhas do dia, quando sinto alguém colocar a mão em meu ombro. Virei-me assustada e fiquei surpresa ao me deparar com o senhor portador das más notícias em relação ao meu carro. Ele me olhou compreensivo com meu estado e disse:
-- Moça, estava te procurando. Fiquei mal por ter receptado seu carro. Se tivesse carro juro que lhe levaria onde quisesse, mas como não tenho só me resta me desculpar e entregar-lhe este cartão que é do local para onde o seu carro foi levado.
Me comovi com a sinceridade e desprendimento daquele adorável senhor. Ele era realmente encantador, eu é que estava num dia terrível, mais perdida que cachorro que caiu do caminhão da mudança e se perdeu do dono, e não conseguia enxergar as coisas boas que existiam ao redor.
Ele foi se distanciando e assim finalmente sai da minha inércia e corri atrás dele.
-- Obrigada. – Foi tudo o que pude dizer naquele instante.
-- Era o mínimo que poderia fazer. – Foi o que me disse antes de partir novamente, dessa vez sem minha interrupção.
Até esbocei um pequeno sorriso ao pensar que existem pessoas verdadeiramente bondosas nesse mundo. O que aquele senhor fez por mim não tem preço. Ele devolveu minha esperança novamente, me fez acreditar que as coisas poderiam ser diferentes a partir de agora e foi com essa certeza no coração que parti rumo à estrada disposta a vencer andando mesmo os oito quilômetros que me separavam da minha amada.
Fim do capítulo
Estamos aqui mais um dia. Quero agradecer a todas pelo carinho nos comentários, a opinião de vocês é muito importante. Quem ainda não se manifestou, fique à vontade, prometo não morder. rs. Até amanhã!
Comentar este capítulo:
rhina
Em: 09/03/2017
Quem disse que as tragédias encerram. ...Não mesmo no caso de Sophia.....
amando a história
rhina
Resposta do autor:
Calma que as tragédias acabam ainda, não criemos pânico. Mas no caso de Sophia, filha preferida de Murphy, elas demoram um pouco mais, para o azar dela. Mas tenho dó, sério kkkkk
Que bom que está gostando dessa história insana. Valeu pela constante participação aqui. beijoo
Amanda Oliveira
Em: 16/09/2015
Adorando as trapalhadas da Sophia. Vamos ver o que mais Murphy vai aprontar. Até o próximo. bjos
Resposta do autor:
Que legal, Amanda! Sophia e suas tragédias são um caso a parte de desgraça murphética e promete piorar, Murphy ainda vai aprontar muitooo. Espero que volte mais vezes e continue acompanhando esse conto insano. beijoo
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 15/09/2015
Ah o próximo capitulo ela vai ser mega castigada pelo Murphy. Acho que vou mandar para ela uma amoleto. kkkkk
Aguardando até amanhã
Bjus
Resposta do autor: Kkkkkkk Mande mesmo, Mille, que a coitada está precisando. Pode providenciar também trevo de quatro folhas, serviços macumbeiros, qualquer coisa é bem vinda pro azar reinante da Sophia. Verá que Murphy é como bicho de pé endiabrado, não larga mesmo. Obrigada pela participação e carinho. beijoo
[Faça o login para poder comentar]
jessicabarbosa
Em: 15/09/2015
To amando a história. Parabéns
Resposta do autor: Que bom, Jessica! Espero que continue apreciando e se divertindo com as trapalhadas insanas da Sophia e do Murphy. Obrigada pelo comentário e opinião. Um abraço.
[Faça o login para poder comentar]
Van Rodrigues
Em: 15/09/2015
kkkkkkkkk Que capítulo foi esse? kkkkk Essa mulher nasceu no dia do azar não é possível.... Coitadinha gente, ela sofre viu e tem uma azar que nem se fala! Com certeza eu nem passaria perto dessa mulher, vai que pega kkkkkkk Querida autora tava pensando aqui, acho que quando você escreveu esse capítulo você morreu de rir de algumas partes, porque falando sério essa personagem mata a gente de rir com as tragédias dela kkkkkk Parabéns! Estou adorando a sua história!
Resposta do autor: Se acostume que por aqui só temos capítulos bem desequilibrados. rs.
Olha que se existir isso de dia do azar, pode colocar a Sophia nascida na data, com certeza ela faz jus, parece virada na pindaíba.
E ainda teremos muitas endiabradas murphéticas pela frente, então nem fique com dó dela não, senão você cansa viu. rs.
Vai que pega Kkkkk Ri muito, vamos colocar na dessa protagonista desgracenta uma plaquinha de “jamais chegue perto”. Se for mesmo contagiante está todo mundo lascado.
Faz tempo que escrevi essa história, não sei se ri assim não, mas fico feliz que esteja se divertindo. Teremos mais tragédias pra alegria geral da nação. Murphy não abandona tão cedo essa história insana.
Mais uma vez agradeço pelo carinho e participação, Van. beijoo
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]