Capítulo 5
Eu e Mari passamos o sábado trancadas em casa, assistimos alguns DVDs , trans*mos, almoçamos, trans*mos, jogamos vídeo game, trans*mos, enfim foi um sábado comum, como muitos outros que já tínhamos passado juntas. Ela havia desculpado completamente a minha imbecilidade graças a Deus. Eu tinha decidido tirar Clara dos meus pensamentos e faria de tudo para que isso acontecesse. E estar de bem com a minha Ruiva me ajudaria muito. No final do dia levei Mariana pra casa, pois o domingo ela passaria na casa da mãe, e eu ia aproveitar para arrumar umas coisas.
De manhã empurrei um Boris mal humorado para fora da cama e me levantei preguiçosamente, tinha tanta coisa pra fazer, por roupa na máquina, lavar a louça do dia anterior e ainda dar uma revisada na papelada que tinha trago para casa. Mas antes de tudo precisava colocar cafeína e nicotina em meu corpo para que ele funcionasse. Liguei a cafeteira e fui escovar os dentes e lavar o rosto.
Quando voltei peguei uma xicara de café e sentei-me em frente ao televisor com um cigarro na mão. Desde a primeira vez que tinha visto Clara na TV da sala nunca mais havia mudado o canal, e como por sacanagem do destino me vi assistindo a reprise da mesma reportagem daquele dia. Sinceramente, seria bem difícil de esquecê-la se isso continuasse a acontecer .Parece que alguém lá em cima estava brincando comigo. Como já estava ali dessa vez resolvi prestar atenção. Era sem dúvida uma ótima repórter, a forma com que se falava fazia com que o telespectador ficasse interessado na matéria.
Ela sempre fora bem sagaz e inteligente, além de ser muito comunicativa. De repente a câmera deu um close e uma coisa me chamou a atenção na imagem, no pescoço Clara trazia uma corrente dourada nela havia um anel pendurado como se fosse um pingente e eu conhecia muito bem aquele anel, pois fora o presente de aniversário que dera a ela na festa de 15 anos. Era um anel delicado, quase uma aliança, com uma pequena pedra azul turquesa. Não acreditei que ela ainda tivesse aquele anel depois de tanto tempo.
Mas o que aquilo significava afinal? Será que durante todos aqueles anos Clara também havia pensado em mim? Será que havia se arrependido da separação? Será que tinha me perdoado?
Aproximei-me da tela para ver melhor e sim, sem dúvida nenhuma era o mesmo anel.
Assisti a reportagem até o fim, mas ao invés de fazer tudo o que tinha pretendido fui até meu guarda roupa em busca de uma caixa que mantinha escondida bem no fundo. Quando a encontrei espalhei seu conteúdo na cama e procurei por uma das fotografias que guardava ali. Ela havia me dado essa foto alguns dias após a festa, nela estávamos abraçadas e coradas, olhos brilhantes, os cabelos despenteados e um sorriso enorme estampado nos lábios. Ela com seu belo vestido azul e eu no meu jeans tradicional com uma camisa preta. Duas meninas que guardavam um doce segredo.
Estava muito nervosa, tinha comprado o presente de Clara, mas sinceramente não sabia se ela iria gostar. Assim que vi o anel me lembrei dela, a pedra tinha exatamente a cor dos seus olhos. Eu queria muito que ela ficasse feliz com o presente. Porém o que estava me deixando ansiosa mesmo era saber qual presente Clara iria me pedir. O que será que ela estaria planejando afinal? Não tinha parado de pensar naquilo, e todas as vezes que tentara falar com ela sobre esse assunto, ela apenas desconversava.
Cheguei à festa, quando já havia muitas pessoas, não gostava de ser a primeira a chegar a lugar nenhum, pois quanto mais gente já estivesse no local mais fácil de se misturar e passar despercebida. Comecei a procurar por Clara, e quando a vi fiquei boquiaberta, meu Deus como ela estava linda! Era inacreditável a maneira com que ela mexia comigo, como me encantava. Não conseguia parar de olha-la, ela era charmosa, andava com graça e distribuía sorrisos. Meu coração enlouquecido dava pulinhos dentro de mim. Estava fascinada.
Como se percebesse que eu a estava observando voltou seus olhos em minha direção, seu sorriso abriu-se ainda mais. E como que atraídas por um imã invisível caminhamos em direção uma da outra. Ao nos encontramos ela me deu um abraço tão apertado, parecia que não queria me largar mais. Uma sensação inebriante me invadiu. Era tão bom tê-la em meus braços, mesmo que fosse apenas como amiga, sentir seu perfume, a maciez do seu corpo de encontro ao meu. Quisera poder ficar assim a festa inteira, mas infelizmente não era possível.
- Agora sim minha felicidade está completa. – Me disse assim que nos separamos, fixando seus olhos nos meus. – Estava esperando por você. Fiquei com medo que não viesse.
- Eu nunca faria isso com você. – Retruquei.
- Sei que odeia essas festinhas Analu. – Disse com seu jeito meigo
- Realmente não posso mentir, eu odeio esse tipo de coisa. Mas por você, é claro que viria. Sempre que chamar. Gosto muito de você Clara. – Disse com uma ternura que nem sabia que tinha.
- Que bom ouvir isso Ana. Eu também gosto muito de você, muito mesmo. Você não tem ideia do quanto. Saiba que você é muito importante pra mim. – Havia um brilho diferente em seu olhar
Emudeci. Meu Deus! Ela gostava de mim, e muito segundo o que me disse, meu coração começou a dar cambalhotas no lugar dos pulinhos. Uau! O que ela não sabia era que eu sentia uma coisa diferente de apenas gostar, estava apaixonada, plena e perdidamente. Sim eu havia descoberto o nome desse sentimento que estava me enlouquecendo. No começo fiquei bem assustada, não conseguia acreditar, logo eu que nunca pensei em gostar de alguém quanto mais amar, mas tive que me render à realidade e aceitar o fato. Não podia continuar mentindo pra mim mesma.
- Nossa Clarinha, assim me deixa sem graça. – Falei enrubescendo.
- Você fica ainda mais linda quando fica sem graça. – Disse sorrindo.
Nossa, eu tinha mesmo escutado aquilo? Ela disse que me achava linda? Eu? A super sem sal Ana Banana? A menina que o pessoal da escola chamava de “a garça de óculos”? Com dezesseis anos eu já tinha 1,68m, meu corpo de poucas curvas era magro, e isso gerara o apelido ridículo.
- Fala sério né Clara, a beleza passou bem longe de mim. Na verdade estacionou em você. – Retruquei envergonhada
- Ana Lucia, você é cega ou o quê? Por que se menospreza tanto? Será que não é capaz de perceber o quanto é bonita e interessante? – Falou chateada.
- Oras Clara, eu tenho espelho em casa, sei muito bem que não tenho atrativos. E depois não é você que o pessoal fica zoando na escola. - Respondi
- Tem espelho mesmo? Pois não parece. E as pessoas da sua escola são ridículas. Com certeza tem inveja de você, isso sim. Venha comigo até meu quarto que eu quero te mostrar uma coisa.
E sem dizer mais nada, pegou minha mão e me arrastou escada acima, abriu a porta do guarda roupa onde havia o espelho. Posicionou-me em frente a ele e começou a falar:
- Olha bem pra você Ana. Enxergue a verdade.
Parou nas minhas costas e suavemente passou as mãos pelos meus cabelos.
- Seus cabelos são castanhos claros, as mechas brilham ao sol, tão macios, e sua franja que cai toda hora em frente a seus olhos, me fazendo ter vontade de coloca-la no lugar. – Começou a dizer baixinho em meu ouvido.
- Esses lindos olhos castanhos são quentes, confiáveis, envolventes, tão expressivos.
Então ela virou-me em sua direção, tirou meus óculos delicadamente e os colocou na mesa de cabeceira. Em seguida segurou meu rosto com as duas mãos e continuou a dizer mansamente:
- Um clássico nariz romano, reto.
Seu dedo deslizou pelo meu nariz e chegou até minha boca, percorreu as curvas dos meus lábios causando arrepios por meu corpo.
- E uma boca bem desenhada, cheia, que parece tão macia...tão doce.
Eu já não sentia mais meu corpo de tão entorpecida que estava não sabia como ainda estava em pé, pois minhas pernas tremiam, os lábios tão secos que precisei molhar com a ponta da língua.
Fixou seus olhos nos meus e sussurrou:
- Sabe qual o presente de aniversário que quero de você? O que venho querendo há tanto tempo, na verdade desde o dia em que te conheci na casa da Lia?
Meneei a cabeça em sinal de não, já que não conseguiria pronunciar nenhuma palavra.
- É um beijo, Analu. Esse é o presente que mais desejo no mundo, que você me beije. – Ela disse a voz rouquinha – Por favor, Ana, me beija...
Ela levantou o rosto em minha direção e fechou os olhos, oferecendo seus lábios, foi o que bastou para que eu perdesse o controle de vez. Segurei sua cintura e a puxei de encontro a mim, deixando nossos corpos colados. Ela rodeou o meu pescoço com os braços. Eu nunca havia beijado alguém na minha vida, mas não me importei com aquilo, segurei seu rosto e deixei minha boca passear por seus lábios em pequenos beijos, mansinhos, tateantes, minha língua entreabriu sua boca para encontrar a maciez da sua que acariciei timidamente, e depois com mais gula deixei que elas se enroscassem de forma sensual, nesse momento o beijo deixou de ser apenas suave e passou a ser intenso, conforme nossas línguas se entrelaçavam ainda mais nessa dança lenta e provocativa. Eu não respirava. Pra que precisaria de ar, se tudo o que eu queria era morrer beijando aqueles lábios? Que sensação indescritível! O mundo podia acabar a Terra parar de girar, nada me importaria, naquele momento eu morreria completamente feliz. Quando finalmente nos separamos, nossos corações batiam loucamente, eu sentia seu pulsar em meus ouvidos.
- Clara...
- Psiu, não fala nada. – Ela colocou o dedo em meus lábios. - Só me abraça bem forte, eu quero guardar esse momento pra sempre na minha memória.
Eu me abracei a ela que recostou sua cabeça em meu peito.
- Mas eu preciso te falar uma coisa. Uma coisa muito importante. Que venho guardando em segredo...
Ela afastou a cabeça e olhou em meus olhos ternamente.
- Não meu amor, você não precisa me falar nada. Não depois desse beijo, ele já disse tudo por nós, você não acha? – Ela replicou suavemente
- Você sabe o que sinto por você? – Perguntei espantada.
- Claro que sim bobinha. Seus olhos te traíram. – Ela sorriu. – E eu sou apaixonada por você desde o primeiro dia que te vi lá na casa da sua tia. Sabe aquele dia que você não lembra? Eu nunca esqueci. No momento exato em olhei pra você soube que era o amor da minha vida. Aquele dia meu coração quase saiu pela boca. – Ela disse enternecida.
- Como eu sou arrogante. Não dá pra acreditar que não me lembro de ter visto você. – Falei sentida.
- Não fica assim, amor. Você não é arrogante. Só é dispersa. E mesmo que tivesse me notado, não se interessaria por uma pirralha de quatorze anos.
- Você esta errada Clarinha, eu me encantei desde o primeiro momento que te vi naquela janela rindo de mim. E você continuava com os mesmos quatorze anos.
Ela sorriu deliciada, e eu pra variar me derreti com aquele sorriso.
- Quer saber para de falar Analu. Às vezes você fala demais sabia? Não acha que tem coisa melhor pra fazer não? – Piscou.
E continuamos a nos beijar, até que ouvimos sua mãe chamando seu nome. Descemos a escada rindo como duas doidas apaixonadas e passamos o resto da noite trocando piscadelas e sorrisos marotos, esperando uma chance de podermos ficar juntas novamente sem ninguém perceber.
Isso só aconteceu perto do final da festa, fomos para o quintal na parte de trás de sua casa, lá roubei outro beijo e lhe entreguei meu presente.
- Clara, espero que goste. Quando o vi lembrei imediatamente de você. – Falei timidamente
Ela abriu a caixinha e soltou um suspiro extasiado.
- Que lindo meu amor! Eu adorei. É perfeito.
Estendeu sua mão para que eu o colocasse em seu dedo e depois me deu um beijo.
- Nunca mais vou me separar dele. Esteja eu onde estiver, aconteça o que acontecer, ele sempre estará comigo e me fará lembrar de você, dessa noite e desse momento para sempre. – Seus olhos estavam marejados.
- Sério? Você gostou mesmo?
- Sério bobinha.
- Eu te amo tanto Clara!
- E eu te amo mais, Ana banana! – Provocou ela.
- Meninas onde vocês estão? – Gritou o pai dela.
Subimos correndo as escadas que levavam ao quintal e quando chegamos à sala estávamos esbaforidas, despenteadas, com os olhos brilhando e absurdamente felizes e o pai dela resolveu que queria tirar uma fotografia nossa, pois segundo ele estávamos lindas, então nos abraçamos e olhamos para a câmera sorrindo.
Era exatamente essa fotografia que eu tinha em minhas mãos agora, a foto da nossa primeira declaração de amor, do nosso primeiro beijo, do nosso segredo. Depois desse dia nada mais foi igual em minha vida. Tudo virou de ponta cabeça, vivi momentos tão felizes, tão prazerosos. Fiz tantas descobertas. Amei e fui amada. Por que Meu Deus? Como eu pude ser tão burra? Recostando-me no travesseiro deixei que lágrimas sentidas rolassem dos meus olhos...
Fim do capítulo
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lucy
Em: 21/10/2015
Ana traiu a Clara ? é o que deu a entender....
mas.pode não. ser isso e o.destino separou ambas..
cueiosidade esse é meu sobrenome kkkkkkkkkk
bjs.muito bacana esse conto
Resposta do autor:
Oi Lucy querida
Será mesmo que Ana traiu a Clara?
Eis a questão rs
Vamos ver se descobre o que vem por aí.
Obrigada por suas palavras.
Um bom fim de noite e ótima leitura
Beijos
Ka
Ana_Clara
Em: 03/10/2015
Nossa, esse relato do passado delas foi lindo! Me emocionei com o primeiro beijo, com a descoberta do amor. Parabéns Kpni, vc escreve de uma maneira super doce e delicada.
Resposta do autor:
Oi Ana querida
Tudo bem?
Poxa agora quem se emocionou fui eu...
Obrigada do fundo do coração por suas palavras gentis e meigas.
O primeiro beijo é sempr emágico, ainda mais quando envolve um amor verdadeiro.
Novamente obrigada pelos comentários e espero que continue gostando da estória.
Bom domingo e ótima leitura
Beijos
K.
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Mag Mary
Em: 17/09/2015
Awn como a Clara era fofinha, e ainda tem o anel <3
O que a Ana aprontou eim? Curiosa aqui rrsrs
Bjus
Resposta do autor:
Oi Mag.
A Clara é um docinho... porque será que ela ainda carrega esse anel hein?
O que a Ana aprontou ainda é um mistério....rs
Beijos
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mtereza
Em: 15/09/2015
Gostando muito da historia e curiosa para saber que mal entendido foi esse que conseguiu separar a duas por 20 anos mesmo com elas se amando tanto
Resposta do autor:
Oi Mteresa, fico feliz que esteja gostando da historia, mas esse fato você terá que sperar mais um pouco para saber. Coloquei um novo capituilo. Espero que goste. Abraços
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Van Rodrigues
Em: 15/09/2015
Essa história é muito interessante, eu estou adorando! Parabéns!
Resposta do autor:
Oi Van. Que bom. Fico feliz. Coloquei o novo capitulo. Obrigada pelo comentário. Abraços
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Mille
Em: 14/09/2015
Opa que o passado está aparecendo aos poucos.
Muito lindo a descoberta do primeiro amor.
Será que a separação delas teve dedo dos pais???
Bjus e amando sua história
Resposta do autor:
Oi Mille, bom te encontrar aqui de novo. O passado ainda vai demorar um pouco para aparecer. O primeiro amor é sempre muito marcante em nossas vidas. Quanto a separação é esperar para ver rs. Continue acompanhando e deixando suas impressões. Espero que goste do novo capitulo. Beijos
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Maria Flor
Em: 14/09/2015
Ain, que dó por elas terem se separado :(
Continua, quero saber mais!!!!
Beijo grande!
Resposta do autor:
Realmente muito triste né Maria Flor. Mas vamos esperar pelas reviravoltas do destino, não é mesmo? Beijos e muito obrigada pelos comentários.
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