Capítulo 25 - Epifania
Capítulo 25 – Epifania
Mais cedo naquela manhã:
Após ouvir a confissão de Sam sobre o caso com Theo, Mike sentou-se na cama, mudo. As peças do quebra-cabeça uniam-se e finalmente faziam sentido.
- Você não pode estar falando sério. – Ele disse, com um sorriso estupefato.
Sam continuava de pé, ao lado da porta de vidro, suas mãos tremiam.
- A culpa não foi dela, ela não me seduziu nem fez nada do tipo, eu apenas... Quis.
- Impossível, eu conheço você bem, Sam. O que você está me escondendo? Ela está te chantageando? Tem algo a ver comigo?
- Não. – Sam franziu as sobrancelhas. – Não, tem chantagem alguma. Eu sei que é difícil acreditar que algo deste tipo tenha partido de mim, nem eu me reconheço, mas aconteceu, e eu não tenho nenhuma explicação racional para isso. Simplesmente aconteceu. – Sam correu os olhos pelo chão.
Mike sentou-se na beira da cama, esfregou a mão pelo rosto.
- Talvez tenham implantado algo em você durante o procedimento Borg, ou tenham danificado seu cérebro, talvez haja alguma forma de consertar isso. – Mike continuava anestesiado com a notícia.
Sam lançou um sorriso torto, entristecido.
- Mike... Não há nada de errado comigo. Eu perdi muito tempo me culpando por querer coisas diferentes, por querer fugir das regras, mas eu não vou mais fazer isso, não há nada de errado no que eu sinto por ela.
- Você gosta dela? Sexualmente? – Mike indagou com um semblante enojado.
- Gosto. – Sam respondeu pacificamente.
- Você me traiu, Sam, você me traiu. – Se dava conta.
- Essa é a parte qual não me orgulho nem um pouco... Eu sei que devo desculpas à você, mas a traição foi a única coisa abominável nisso tudo.
- A única?? – Mike começava a se exaltar, já de pé. – E deitar com uma mulher? Pior, deitar com uma prostituta?
Sam deu um passo para trás, devagar.
- Não me arrependo. – Apesar da aparência cansada e tensa, Sam ostentava agora uma expressão aliviada.
- Sam, você está ficando louca, é a única explicação plausível para esse monte de merd*s que você está me falando!
- Só estou tentando te contar a verdade, porque não aguento mais essa situação, eu não aguento mais guardar tudo isso, como se nada estivesse acontecendo, como se não houvesse uma tonelada de sentimentos explodindo dentro do meu peito.
- Você tem ideia do que fez? Nós vamos nos casar dentro de alguns meses! Você quer colocar tudo a perder? Os oito anos de relacionamento não pesaram em nada na hora de me trair?? – Mike aproximou-se dela, parecia agora irado, Sam o olhava assustada.
- Eu sei, eu peço perdão por ter te traído, você não merecia isto depois de tanto tempo ao meu lado.
- É muito fácil pedir perdão depois de ter feito, não acha? E se eu não te perdoar? Você me desonrou, eu tenho todo direito de enfiar a mão em você agora, e sair por aquela porta sem nunca mais olhar na sua cara, é o que eu deveria fazer, terminar tudo com você, te deixar na merd*!
Sam fechou os olhos com força rapidamente, tomando coragem.
- Mike, eu estou terminando com você. – Sam disse, com firmeza.
Ele apenas a fitou boquiaberto, Mike sofrera mais um revés, e não sabia como retrucar aquilo.
- Eu não te amo mais. – Sam continuou, jogando a pá de cal no semblante mortificado de Mike.
- Que porr* fizeram com você? – Balbuciou, com confusão.
- Talvez a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Saber que irei morrer em breve me libertou de tantas amarras... Eu não quero morrer, mas se meu destino realmente for esse, eu morrerei sabendo que valeu a pena, que finalmente fiz algo que me fez feliz.
Mike andava impaciente pelo quarto, parecia alucinado, pasmo.
- Você não sabe o que está falando... Esta não é você.
- Mike... Removeram minha programação durante o procedimento, o que eu sentia por você até então não era mais algo natural, agora eu sei, agora eu tenho certeza.
- Você me ama, Sam, você sempre me amou! Do mesmo jeito que o que sinto por você é amor de verdade!
- Eu te amei, fui apaixonada por você, e isso foi real. Mas agora eu sei que não te amo mais, e mais do que nunca sei que acabou, ficou apenas o apego emocional, nunca esteve tão claro como agora.
- Como você pode ter tanta certeza? – Mike dizia, com desespero.
- Porque eu amo Theo. – Sam disse, com um nó na garganta.
- Você não pode amar uma mulher! Isso é errado, é inconcebível! Percebe a loucura no que me fala?
- Se o que eu sinto por ela é errado, então eu quero continuar errada.
- Não, você está confusa, aquela garota te deixou confusa. Ela fez uma lavagem cerebral em você, só pode ter sido isso, ela está te manipulando, e você caiu. – Mike gesticulava de forma agressiva. - Sam, faça um esforço, acorde, acorde dessa tolice, você não sabe o que está falando!
- Por favor... Tente abrir só um pouquinho a sua mente, eu sei que é difícil, porque eu também sempre achei que isso era impossível, que era algo exclusivo de pessoas doentes, pessoas anormais, mas agora eu sei que apenas nos ensinaram dessa forma, e não é verdade, o amor pode se manifestar de outras formas, e continua sendo amor!
- Eu te perdoo, Sam, eu faço esse sacrifício por você, passo por cima da minha honra de homem, passo por cima da traição, apenas esqueça essa bobagem e vamos embora daqui.
Sam sabia que tinha uma tarefa árdua pela frente, convencer Mike que tudo estava acabado e magoá-lo o menos possível. Juntou as mãos em frente ao rosto, como se pedindo forças para manter sua decisão, e voltou a falar pacificamente.
- Acabou, Mike. – Sam aproximou-se dele. – Não foi uma decisão fácil, mas você não merece permanecer num relacionamento sem ser amado, ao lado de alguém que não quer mais estar ali. Você me fez bem por oito anos, foi meu companheiro, se doou por mim, mas é hora de seguirmos em frente, em caminhos distintos.
- Você está terminando seu noivado por uma aventura de um mês? Essa garota não está nem aí para você, não percebe?? É uma vagabunda miserável, uma aproveitadora, ela te usou, conseguiu o que queria e vai embora hoje, por vontade própria!
- Theo não sabe o que sinto por ela, está magoada, está decepcionada comigo. Eu não quero que ela vá embora, e falarei isso para ela, pedirei para que continue ao meu lado, eu vou contar a verdade, que sempre a amei, mas que estava confusa demais para admitir.
- Ela vai rir na sua cara, vai dizer o quanto você é uma idiota, deslumbrada, o quanto se iludiu, e vai embora mesmo assim.
- Tudo bem. – Sam sorriu. – Pelo menos eu seguirei sabendo que fiz a coisa certa, que tentei.
- Essa não é você! – Mike bradou, a segurando pelo braço com força.
- Me solte! – Sam desvencilhou-se, o encarando de forma dura.
Mike largou seu braço agressivamente, seus olhos estavam encobertos de ira, novamente Sam temia por sua reação.
- Isso não vai terminar assim, você não pode jogar nosso noivado no lixo por causa de uma puta qualquer. – Mike afastou-se, atordoado. – Você está agindo dessa forma por causa dessa coisa com seu coração, eu sei que você irá voltar ao normal, mais cedo ou mais tarde vai se dar conta da loucura que está fazendo, e vai se arrepender de toda esta merd*, vai correr de volta para mim, pedindo sua vida real de volta.
- Mike... Nosso relacionamento já acabou há muito tempo, era apenas rotina.
- Somos felizes, Sam! Estava tudo bem até ontem, estávamos até falando dos preparativos para nosso casamento!
- Estávamos nos iludindo! O casamento não salvará nossa relação, porque não há mais amor, é simples.
Mike se recompôs, diminuiu o transtorno em sua fisionomia e aproximou-se de Sam, colocando carinhosamente suas mãos em seus ombros.
- Vamos refazer a programação bioquímica, é isso, está na hora de refazer. – Ele disse, com calma.
- Não, não farei programação, eu nunca mais farei com ninguém, eu não quero mais ter a dúvida se o que sinto é artificial ou não.
Mike afastou-se, ainda a fitava.
- Espero que Deus tenha piedade de você. – Mike balbuciou.
- Eu sei que Ele está do meu lado. – Sam já chorava, de forma contida.
- Talvez Ele saiba o que está fazendo, talvez o que vai acontecer com você daqui duas semanas seja uma resposta ao seu comportamento errante, já pensou nisso? – Mike falava agora com cinismo na voz.
- Que Deus me castigará com a minha morte? Sinceramente? Não acredito nisso, eu aprendi que Deus é amor, não vingança.
- Você está escolhendo o caminho errado por vontade própria, depois não reclame que não te avisei, não venha pedir sua vida correta de volta, porque estarei bem longe do seu triste fim, não quero mais estar ao lado de alguém que se sujou dessa forma. – Mike disse já colocando sua bolsa em cima da cama.
- Mike, eu desejo do fundo do meu coração que você tenha uma vida mais feliz. – Sam enxugou rapidamente o rosto.
- Já imaginou o que vão pensar de você quando souberem? A decepção que você se tornou? Não pensou em seu pai, sua irmã, padre Clive, nossos amigos, não pensou em nada disso?
- Pensei, pensei sim, que estão todos agora no conforto de suas casas, tocando suas vidas, nenhum deles está aqui, num continente estranho, dormindo na rua, lutando para sobreviver, sentindo tudo que estou sentindo. Então acho que não é o momento para me preocupar com o que pensarão de mim.
- Você será vítima das suas escolhas.
- Assumo a responsabilidade.
Mike bufou enfurecido, terminou de arrumar suas coisas em silêncio, Sam aguardava na sacada, com as mãos apoiadas no parapeito metálico, sentindo o ar fresco da manhã e segurando seu ímpeto de correr para o quarto de Theo.
- Você vai se arrepender amargamente disso, se tiver tempo. – Mike disse antes de sair.
A porta foi batida com força, despertando Sam, que olhava para os lados sem saber o que fazer primeiramente. Havia passado a noite em claro, mas não tinha a menor vontade de dormir, resolveu tomar um banho antes de procurar por sua amiga.
Mike bateu no quarto de Theo, mas ninguém atendeu. Desceu até o refeitório, e a encontrou já tomando seu café. Largou a bolsa na entrada e caminhou com trotes raivosos até a garota. Sem dar chance alguma de reação, a tomou pelo braço, a atirando contra a parede.
- Mike?? – Theo perguntou, assustada, se reerguendo.
- Eu vou te ensinar a não mexer com a mulher dos outros. – Mike falou, se aproximando dela.
- Sam? Você está aí? Sam?? – Theo falava aterrorizada.
Mike a golpeou no rosto, um soco que abriu seu supercílio esquerdo e a derrubou no chão. Rapidamente Theo ergueu-se, com semblante enfurecido e ignorando o sangue que descia pela lateral do seu rosto.
- Seu covarde! – Bradou já de pé.
- Baixe o tom quando falar comigo, sua prostituta dos diabos!
- Desgraçado covarde! Resolveu colocar para fora seu ódio por mim?
- Resolvi acertar as contas com você, isso é só um aviso, mas se você não se afastar da minha noiva, eu vou acabar com a sua raça, entendeu?
- Eu estou indo embora hoje, seu... Seu soldado burro! – Theo enxugou o sangue com as costas da mão.
- Ah, agora?? Depois de levar Sam para o caminho do pecado, de corrompê-la com seu sex* sujo? Eu tenho nojo de você, e de tudo que vocês fizeram, mas também tenho pena do ser repugnante que você é, uma pobre alma sem eira nem beira que parasita pessoas boas, pessoas cristãs que não veem a maldade nas suas intenções oportunistas.
Theo assustou-se com o que ouvira, baixando as sobrancelhas.
- Do que você está falando?
- Sam me contou que você a seduziu. Claro, uma puta profissional como você não deve ter tido muito trabalho, você sabe o que as pessoas querem ouvir, principalmente alguém como Sam, que está fragilizada pela situação em que se encontra.
- Eu não a seduzi, ela sabia o que estava fazendo, ninguém tem culpa de nada. E Sam já está ciente que foi só um caso passageiro, que não foi nada de mais, ela só quer tocar a vida com você.
- É, eu sei que para você apenas fez parte da sua estratégia, conheço esse tipo de gente, mas Sam caiu. Parabéns, você conseguiu. Eu deveria dar uma surra em você agora, quebrar todos os seus ossos, você não vale nada, só consegue a atenção das pessoas vendendo o corpo, eu destruiria seu único ganha pão e você morreria sozinha e doente em algum canto por aí.
- Por que você tem tanto ódio de mim? Aprenda um pouco com sua noiva, Sam se permitiu me conhecer, mesmo com todos os preconceitos, ela me ouviu, ela me deu uma chance, confiou em mim, e eu serei eternamente grata a ela.
- Você agradecerá no inferno, foi o Diabo que mandou você para a vida dela.
- Foda-se quem me mandou, eu sei que dei alento para ela, estou indo embora sabendo que a ajudei em sua busca, e a fiz um pouquinho feliz. – Theo falava encarando onde julgava estar Mike, com determinação.
- Por ter dado seu sex* imundo? Na verdade isso nem pode se chamar de sex*, não é mesmo? Você nem tem um pau. – Mike riu.
- Eu não preciso disso para dar prazer a ela, a propósito, coisa que você nunca conseguiu, não é major? – Foi a vez de Theo abrir um pequeno sorriso sarcástico.
Mike enfureceu-se novamente.
- Como você ousa! Eu nunca faltei na cama!
- Ela me disse que você nunca deu um orgasm* sequer. Nestes poucos dias eu dei muito mais prazer do que você em todos estes anos, seu babaca egoísta!
- Sua filha da puta...
Mike aplicou outro soco em Theo, agora a derrubando por cima das cadeiras. Desta vez ela não conseguiu levantar, estava zonza, com a mão abaixo do nariz que começava a sangrar.
Tentou erguer-se e levou um chute nas costelas, que a arremessou contra a parede. Um funcionário do hotel e Theodore correram e seguraram Mike, que partia para cima de Theo novamente, tomado de ódio.
- Eu vou acabar com essa vagabunda! – Mike esperneava.
Enquanto Mike se debatia, Sam entrou no grande salão e assistiu sem compreender a cena, os dois homens segurando Mike pelos braços.
- O que está acontecendo? – Sam chegou rapidamente até eles.
- Me solte! – Mike bradou.
- Theodore, o que você está fazendo? Solte Mike! – Sam disse com energia.
- Me solte, seu almofadinha filho da mãe!
Finalmente Theodore e o outro homem o soltaram, Mike ajeitou sua camisa.
- Por que vocês estão brigando? – Sam perguntou.
- Eu só estava tentando impedir que ele matasse Theo. – Theodore exclamou, olhando na direção onde Theo ainda se recuperava, ela estava sentada no chão, recostada na parede.
- Theo! – Sam correu em sua direção, ajoelhando-se à sua frente com semblante assombrado. - Meu Deus, o que aconteceu?
Sam colocou a mão em sua cabeça.
- Não encoste em mim. – Theo desvencilhou-se de sua mão.
- Theo, o que...
- Coloque uma focinheira no seu cachorro. – Theo disse com a voz abafada, ainda tentava estancar o sangue que vertia de seu nariz.
- Mike? Mike fez isso com você??
- É isso que homens de bem fazem, não é?
- Sam, não dê ouvidos para essa garota, ela te iludiu! Ela mereceu isso! – Mike disse andando na direção delas, sendo impedido por Theodore, que se colocou em sua frente.
- Saia da minha frente! – Mike empurrou Theodore de forma violenta.
- Afaste-se dela! – Theodore bradou, voltando a ficar à sua frente.
- Cuide você da sua prostituta, que eu vou cuidar da minha noiva, saia da minha frente.
Sam levantou-se, indo até Mike.
- Por que você fez isso? Você bateu numa garota cega?? – Sam falava com irritação.
- Ela mereceu! Amor, vamos conversar, venha comigo para um lugar mais tranquilo. – Mike colocou sua mão no braço de Sam, sendo prontamente repelido.
- Não temos mais o que conversar, você ficou louco?? Como que você faz uma coisa dessas?
- Eu só vim dar uma lição nessa garota, já passou, ela vai ficar bem. Venha comigo.
- Vá embora, Mike!
- Sam, você não pode fazer isso comigo, meu lugar é ao seu lado! – Mike aproximou-se, tentando tocar seus ombros.
- Vá embora! Não quero nunca mais ver você na minha frente! Suma daqui! – Sam o empurrou.
Mike balançou a cabeça contrariado e relutante, olhou para Theo, lhe apontando o dedo.
- Isso não terminou, eu vou acabar com a sua raça, sua meretriz! – Gritou.
- Deixe Theo em paz, nunca mais se aproxime dela, nunca mais encoste nela. Saia!
- Sei que ainda vamos conversar, quando a poeira baixar e você estiver em seu estado normal novamente, tudo vai ficar bem entre nós, você é a minha mulher, você voltará para mim.
- Não, não sou mais.
- Espero que esteja preparada para morrer sozinha.
- Desde que seja longe de você.
Mike suspirou com raiva, pegou sua bolsa e saiu do refeitório, Sam voltou a ficar abaixada na frente de Theo.
- Me deixe ver.
- Não, não toque em mim. – Theo empurrou a mão de Sam, com raiva.
- Venha. – Theodore disse, a ajudando a ficar de pé. – Eu ajudo você.
Theo ergueu-se, cambaleou quando ficou de pé, sendo amparada por Theodore.
- Eu cuido disso no meu quarto, você está com um corte feio aqui. – Ele disse a olhando de perto.
- Theodore, isso é assunto nosso, eu vou levá-la para meu quarto e cuido disso. – Sam tirou a mão dele do rosto de Theo.
- Me larguem! Eu vou sozinha para o meu quarto. – Theo disse com impaciência, já caminhando devagar, com a mão abaixo do nariz.
Theo esbarrou numa cadeira, quase caindo por cima dela.
- Você vai acabar quebrando um vidro de novo, me deixe te conduzir.
Sam segurou em seu braço de forma firme, e a conduziu em silêncio até o elevador.
- Vou te levar para meu quarto, você lava o rosto enquanto busco a caixa médica no carro, ok?
Theo não respondeu, parecia injuriada.
- Mas que raios aconteceu com Mike? – Sam indagou, tentava entender o que havia acabado de se passar.
- Não está evidente o suficiente? – Theo respondeu.
- O que você disse a ele?
Theo deu um suspiro pesado, com um leve sorriso incrédulo. O elevador abriu-se e ela seguiu na direção do seu quarto.
- Ok, então vá para seu quarto, eu já volto com a caixa. – Sam disse já retornando para o elevador.
Sam foi até o estacionamento e ficou aliviada por Mike não ter levado seu carro, pegou a caixa e subiu rapidamente para o quarto de Theo.
- Sou eu, abra.
Nada.
- Theo? Abra, sou eu.
Nada.
Sam bateu com força, repetidamente.
- Pare com isso, abra logo.
Nada.
- Abra agora essa porta, Theodora! – Bradou.
E a porta se abriu. Theo estava com uma toalha abaixo do nariz, que juntamente do corte acima do olho, sangravam em profusão. Após abrir a porta virou as costas e voltou ao banheiro, onde a pia já era tomada pela cor vermelha.
Sam tentou colocar sua mão no rosto, sendo novamente impedida.
- Deixe de teimosia, eu só quero cuidar disso.
Theo não respondeu, encarava a pia, cabisbaixa e pensativa.
- Vamos, me deixe ver. – Sam insistiu. Theo permitiu que Sam segurasse seu rosto.
- Como Mike descobriu? – Theo indagou, impaciente.
- Eu contei a ele.
- Contou? Você contou? E esperava que ele te parabenizasse, que passasse a mão na sua cabeça, te perdoasse?
- Não, esperava que ele entendesse porque eu estava terminando com ele.
- Você terminou com ele? Que porr* você acha que estava fazendo?
- A coisa certa, o que eu já deveria ter feito. – Sam se aproximou, ostentava cansaço na voz. – Você não sabe o que eu tenho passado, eu mal tenho dormido... Passei a noite em claro... Eu estava enlouquecendo, Theo, eu não aguentava mais essa situação.
- E eu estava de saída, ia deixar o caminho livre para vocês, e você estragou tudo. – Theo passou a toalha pela boca, tirando o excesso de sangue que havia cuspido ao falar.
- Não estraguei, tentei consertar, tentei fazer o que achei justo com Mike e com você, eu apenas falei a verdade que estava me sufocando por todos esses dias.
- Como se as coisas fossem simples assim... Você não previu que ele partiria para cima de mim? Que ele ficaria agressivo?
- Desculpe, achei que ele se exaltaria apenas comigo. – Sam disse com desconforto.
Theo desfez a testa enrugada, como se percebendo algo.
- Ele bate em você. – Theo se dava conta, horrorizada. - É por isso que você tem medo dele, ele já fez isso com você, não é?
Sam baixou a cabeça, sem jeito.
- Algumas poucas vezes, mas foi culpa minha. Ele não costuma ficar violento dessa forma, ele não explode por nada.
- Nunca, nunca é sua culpa, Sam! – Theo bufou, fechando os olhos. – É claro, como não percebi antes, é óbvio que ele já bateu em você, aquele brutamontes machista...
- Homens perdem o controle, é normal isso.
Theo estendeu a mão, na direção de Sam.
- Ele machucou você agora?
- Não.
- Sam, por favor, seja sincera.
- Não, ele não me bateu, apenas apertou meu braço com força, mas não me machucou.
Theo voltou a baixar a cabeça sobre a pia, o sangue gotejava.
- Como você permitiu... Todo esse tempo... – Theo murmurou.
- Mas acabou, Mike se foi.
- E o que muda? – Theo indagou.
- Ele foi embora, achei que você ficaria feliz com isso. Agora você pode continuar ao meu lado. – Sam disse.
- Continuar?
- Sim, Mike se foi.
- E daí? Você é uma extensão dele, uma cópia submissa de Mike.
- Não sou! Você acha que não consigo pensar com minha própria cabeça? Você esteve ao meu lado nas últimas semanas, e não me condenava como me condena agora.
- Agora eu conheço você.
- Você está dizendo que não vai continuar comigo? É isso? – Sam já estava com os olhos marejados.
- Meus planos não mudaram, assim que eu conseguir estancar esse sangue eu vou para aquele instituto, e lá procurarei ajuda para ir para San Paolo.
- Theo, não me deixe sozinha, por favor.
- Eu vou cumprir o prometido, estarei à disposição pelo comunicador, eu te ajudarei a distância. – Theo permanecia impassível.
- Não quero passar meus últimos dias longe de você. - Sam segurava o choro.
- Ontem você pareceu aceitar muito bem essa ideia.
- Você não percebeu ainda que eu escolhi você?
- Tarde demais, oficial. – Theo segurou a toalha abaixo de seu nariz, que sangrava abundantemente.
- Me deixe cuidar disso. – Sam falou já colocando as mãos na toalha.
- Não. – Theo afastou suas mãos. – Vá para seu quarto, se possível me deixe a caixa médica, eu levo para você antes de sair.
- Você está me culpando por algo que Mike fez!
Theo aguardou alguns instantes antes de respondê-la.
- Estou.
Sam conteve sua angústia, e falou firme.
- Ok, vou arrumar minhas coisas para pegar a estrada, daqui a pouco venho buscar a caixa.
Theo apenas concordou, balançando a cabeça, voltou a lavar o rosto devagar.
Sam voltou atordoada para seu quarto, juntou suas coisas e guardou de qualquer jeito dentro da bolsa, em poucos minutos estava de volta ao quarto de Theo.
- A caixa está ao lado da cama. – Theo disse, de dentro do banheiro.
Sam deu alguns passos lentos pelo quarto, a fina cortina balançava delicadamente, com a brisa fraca que vinha da fresta aberta na sacada. Deixou sua bolsa próxima da porta, não aceitava ter que simplesmente ir embora, a deixando ali, o pranto agora surgia devagar, a consumindo, esmagando seu peito.
- Não vai se despedir? – Falou com a voz falhosa.
Theo baixou a cabeça, de olhos fechados. Deu um longo suspiro antes de responder.
- Não gosto de despedidas.
- Então não se despeça, continue comigo. – Sam tentava.
Theo saiu do banheiro, aproximou-se devagar de Sam, na direção errada.
- Aqui. – Sam tomou sua mão, a trazendo para perto. – Seu curativo ficou péssimo, está sangrando pelos lados.
Theo correu as mãos por suas costas, a abraçando, Sam começou a chorar.
- Você vai conseguir. – Theo sussurrou.
- Eu preciso de você...
- Não, não precisa. – Theo afastou-se.
- Vem comigo, Theo. – Soluçava.
- Não.
- Por favor, me diga o que você quer, eu faço qualquer coisa para que você fique comigo, qualquer coisa. – Sam ajoelhou-se à sua frente, abraçando suas pernas.
- Não faça isso, levante-se, nunca faça isso.
Sam ergueu-se, e segurou seu rosto.
- Eu faço qualquer coisa, Theo.
- Você pode mais. Surpreenda-me.
- Você está brincando comigo?
- Não.
- Então o que você quer? O que você quer! Por favor, Theo, fique comigo. – Sam falava com desespero.
- Boa sorte na sua jornada.
- Não fale assim, não me abandone, eu escolhi você!
- E quem disse que eu escolhi você? – Theo respondeu, com frieza.
Sam soltou suas mãos, a encarou transtornada ainda por alguns segundos, diminuindo as lágrimas.
- Ok. – Passou afoitamente a mão pelo rosto.
Sam deixou algumas notas em cima do criado mudo, pegou sua bolsa e dirigiu-se a porta.
- No criado mudo tem dinheiro para você pegar um táxi até aquela instituição. Peça para cuidarem desse corte e de seu nariz, senão você vai sangrar até amanhã.
- Farei isso. – Theo respondeu, arrancando o curativo torto acima do olho.
- Fique bem. Adeus. – Sam abriu a porta, com desânimo.
- Fique viva. – Theo falou sorrindo de lado.
Finalmente a porta fechou-se, e Sam desceu o elevador enxugando as lágrimas, que voltaram a cair vigorosamente.
Epifania: s.f.. Intuição ou percepção manifestada a partir de algo inesperado; revelação.
Fim do capítulo
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Sem cadastro
Em: 13/09/2015
Cara, li num dia todos os capítulos, muito boa e muito emocionante sua história. Sofri com muita raiva do soldadinho de chumbo misógino, dava vontade de entrar e etourar os miolos dele. Não demora pra posta não kkkkkkkk..
Resposta do autor:
O Mike continuará por perto por muito e muito tempo...
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Pipers
Em: 13/09/2015
Não importa o nome que você use, o local onde você poste, o que importa é poder ler as coisas que você escreve, eu pessoalmente nunca fui muito fã de ficção científica, mas 2121 é simplezmente diferente, a cada capítulo uma nova nuance. E como se não bastasse ser tão talentosa ainda é solidária. Mas em se tratando de um projeto que parece ser amplo e tem tudo para dar certo. E se precisar de ajuda monetária contribuirei com prazer.Então deixo aqui um grande beijo para você
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Sem cadastro
Em: 12/09/2015
Aiii não acrediiito que Théo não quis seguir Sam,eu achei que ela fosse ficar feliz e msmo dps da surra,fazer as pases... Sam nem falou que a ama! Elas precisam seguir juntas...
E aquele idiota do Mike! Que cara idiota...não acredito que ele não levou uns bons tapas... eu creio que qdo Théo recuperar a visão vai dar uma baitaaaaa surra nele!
Estava com saudadee de você...! Volte amanhã por favor rsrs
Beeeijooo
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Sem cadastro
Em: 12/09/2015
volta sam volta para trás pfv
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