Capítulo 24 - Empatia
- Vou lá buscar Theo para o café. – Sam disse após bocejar, enquanto Mike ainda se vestia naquela manhã.
- Deixe que o namoradinho dela leve.
Sam apenas suspirou.
- Sam?
Ouviu-se a porta fechando.
Theo abriu a porta de seu quarto para Sam, que inclinou-se para dentro, dando uma boa olhada.
- Bom dia, oficial. – Theo cumprimentou.
Sam ainda olhava sobre o ombro dela, procurando por Theodore.
- Não está sozinha? – Theo perguntou com receio, após o silêncio de Sam.
- Estou. Bom dia. O curativo não está bem feito, levou pontos? – Sam disse olhando de perto o curativo em seu rosto.
- Theodore tinha aquela máquina de suturar sem agulha.
- Que bom, não vai ficar com cicatriz.
- Cicatriz é bom que impõe medo. – Theo sorriu.
- Vem, vamos descer para o café, Mike já vai descer também.
No elevador, Sam parecia apreensiva, à medida que os dias passavam ela parecia cada vez mais perdida e confusa.
- Eu acho que Mike suspeita de algo. – Quebrou o silêncio.
- Por que diz isto? Ele comentou alguma coisa?
- Não, mas ele está me tratando diferente.
- Como?
- Essa noite, foi diferente, entende? Ele usou uma posição que nunca havia feito. E usou as mãos, Mike nunca usa as mãos para fazer sex* comigo.
- Você tem ideia da quantidade de imagens que acabou de enfiar na minha mente?
- Isso me preocupou, por isso estou dividindo com você. E você não tem problemas com esse assunto, é tão desencanada, achei que poderia conversar sobre isso com você.
- Claro que não me importo de ter você me detalhando sua relação sexual com Mike, é uma coisa tão agradável e interessante. – Disse com um semblante de asco.
- Ah bom, achei que você tinha algum problema com isso. Como eu ia falando, ele parecia querer mostrar alguma coisa, ele inclusive ficou por trás, ele nunca havia feito nada parecido nestes cinco anos que temos relações.
- E você faltou as aulas de ironia?? – Theo respondeu, incrédula.
- Você estava sendo irônica?
- É óbvio que sim! – Theo falou com impaciência.
- Ok, desculpe então.
Silêncio.
- Pelo menos chegou lá? – Theo perguntou.
- Não.
- Chegou perto?
- Não.
- Hum, que pena.
Sam olhava timidamente para Theo, de forma discreta. Sentia uma vontade avassaladora de estar com ela, abraçá-la até não sentir mais seus braços.
- Eu sinto sua falta. – Sam falou com uma voz sofrível.
- Você não deveria. – Theo rebateu, de forma séria.
- Eu sei... Eu... Eu queria tanto poder te tocar, dormir com você, ter você em cima de mim enquanto eu desenho lemniscatas na sua pele. – Sam quase sorriu. - Achei que as coisas seriam diferentes depois que Mike chegasse, sabe, mais fáceis...
- Esqueça tudo isso.
- Não consigo... Eu penso em você o tempo todo. Mas não posso cair em tentação, isso não pode acontecer.
Theo ficou em silêncio.
- Me ouviu? Não sei se sou forte o suficiente, não deixe que eu caia em tentação. – Sam insistiu.
- Se você cair, eu direi não. – Theo falou incisivamente.
- Era isso que eu precisava ouvir.
Faziam seu prato no buffet, quando Theodore as cumprimentou com um bom dia sorridente.
- A cabeça ainda dói? – Ele perguntou.
- Quase nada, aquele seu remédio foi tiro e queda.
- Bom, eu estou ali naquele canto, me acompanha?
- Claro, Sam me leva até lá quando eu fizer meu prato.
Theodore voltou para sua mesa sob o olhar gelado de Sam.
- Você passou a noite com Theodore? – Sam perguntou sem rodeios.
- Passei a noite? – Theo franziu a testa. - Você está perguntando se dormi com ele?
- Dormiu?
Theo riu.
- E se tivesse dormido?
- Espero que tenha cobrado um bom valor.
***
Theo passou o dia sem trocar palavra alguma com Sam, o desconforto de ambas estava mais evidente do que nunca, sentia-se o clima pesando, uma nuvem cinza palpável sobre elas, estava quase insustentável aqueles três dividirem o mesmo espaço. Quase.
No início da noite, Sam recebeu uma ligação de um perfil sem identificação.
- Você está demorando para trazer minha encomenda, sei que o prazo foi você quem estipulou, mas também tenho urgência. – Uma voz masculina grave disse do outro lado.
- David?
- Sim. Seu novo coração está aqui prontinho, apenas esperando que você traga o combinado.
- Estou na trilha certa, mas você teria mais alguma orientação, alguma nova pista para me dar?
- Não, apenas descobri que o número de matrizes é maior do que eu imaginava, mas saiba que você só terá seu coração se trouxer as matrizes zero.
- Elas devem estar todas no mesmo lugar, levarei para você, prometo.
- É sua vida que está em jogo, gatinha.
A ligação finalizou-se.
- David? David? Droga.
- Quem é David? – Mike perguntou.
- Meu contratante. Ele disse que o número de matrizes é maior do que ele imaginava, não sei como essa informação pode ser importante, mas talvez seja, preciso prestar atenção a este detalhe.
- Não deve ser nada de mais. Vamos jantar aqui, depois procuramos hotel. – Mike informou, parando o carro.
- Que cidade é essa? – Sam perguntou, já colocando a mão de Theo em seu braço, fora do carro.
- Outra dessas cidades miseráveis, Puerto Quijarro. Amanhã de manhã cruzaremos a fronteira com o Brasil, espero que as coisas sejam melhores por lá.
Acomodaram-se numa mesa retangular, era uma grande lanchonete que também servia refeições.
Aguardavam seus pedidos quando Sam percebeu que Mike olhava de tempos em tempos com impaciência para algum canto mais ao fundo, ela estava sentada na frente dele.
- O que foi, amor? – Sam perguntou.
- Se ninguém fizer nada, eu vou tirar esses caras daqui de dentro com minhas próprias mãos.
- Do que você está falando? – Sam olhou para trás novamente, por cima do ombro, e pode ver então do que Mike falava.
Na última mesa da lanchonete um casal de garotos conversava de forma íntima, um deles estava com o braço por cima dos ombros do outro.
- Aquela pouca vergonha lá no canto.
A garçonete trouxe as refeições, e enquanto colocava calmamente sobre a mesa, Mike a interpelou.
- Senhorita, tem um casal gay naquele canto, se vocês não fizerem algo para que eles parem com aquela nojeira, eu mesmo farei algo.
- Ãhn... Eles não estão fazendo nada de errado, senhor.
- Como não? Tem uma família com três crianças aqui, percebeu? – Mike apontou para outra mesa.
- E o que que tem? – A jovem garçonete perguntou ingenuamente.
- Aquilo é uma afronta à moral, à família tradicional. Como o pai dessas crianças vai explicar isso para os filhos?
Era visível o esforço de Theo para não se meter nessa situação.
- Mas é apenas um casal demonstrando carinho, como todos os outros.
- Já percebi que vocês perderam completamente o bom senso por aqui, esse lugar é uma perdição completa... – Mike resmungava, enquanto a garçonete apenas afastou-se.
- Mike, vamos jantar, ainda temos que procurar um hotel, já está ficando tarde. – Sam disse.
Theo mexia com desânimo a refeição à sua frente, enquanto Mike devorava seu prato, mas ele parou o garfo no ar quando olhou na direção dos garotos.
- Agora eles passaram dos limites. – Esbravejou largando os talheres na mesa, levantando-se num rompante.
- Onde você vai?
- Expulsá-los, já que sou o único homem de bem desse lugar.
Mike aproximou-se dos garotos, que aparentavam não mais que vinte anos. Eles olharam assustados na direção do soldado grandalhão que os abordou de forma truculenta.
- Se vocês não saírem por bem, terei que usar a força. – Mike disse.
- Sair? Por que?
- Tem família aqui, tem minha noiva, e vocês estão desrespeitando essas pessoas.
- Cara, volte para o século passado de onde você saiu, nos deixe em paz. – O rapaz que estava do lado de fora do banco respondeu, já pegando seu copo de suco a frente.
- Eu avisei. – Mike derrubou o copo de sua mão, e o ergueu pelo braço, o arrastando até a porta da rua.
- Hey, seu babaca! Me solte! – Ele se debatia, por fim Mike o atirou na calçada, seu namorado o seguiu, assustado e pedindo socorro.
Sam também foi até a porta, tentou convencer Mike a parar com o que estava fazendo, mas ele não deu ouvidos, por fim empurrou violentamente o outro garoto. Theo ouvia tudo da mesa, assombrada.
- Bando de bichas! Tomem vergonha na cara e sejam homens! – Mike bradou, virando as costas para eles, que foram embora rapidamente.
Mike voltou à sua mesa, Sam pediu desculpas discretamente para a garçonete atrás do balcão e sentou-se também, agora ao lado de Mike, de frente para Theo, que assimilava o que havia acontecido.
- Você é um animal. – Theo resolveu se manifestar, pasmada com a reação de Mike.
- Animais são esse bando de gente libertina.
- Você machucou os garotos? – Theo perguntou.
- Apenas dei uma lição, coloquei para fora daqui.
- Sam, ele machucou os garotos?
- Não.
- Você se sensibilizou com os veadinhos porque também é dessa laia, não é? – Mike provocou.
- Mesmo se eu não fosse teria achado isso um absurdo irracional sem tamanho, você não pode impor sua homofobia sobre os outros, aqui é um país livre.
Mike sorriu, deu uma garfada, e ainda terminando de mastigar voltou a falar, gesticulando o garfo no ar, com ar prepotente.
- Sabe o que eu acho que resolveria a situação de vocês? Deveria cair uma peste negra, como houve no século XX aquele câncer gay, uma maldição que caísse sobre os homossexuais, que dizimassem todos eles da face da terra, seria uma limpeza. Se todos morressem acabariam as doenças sexualmente transmissíveis, a pedofilia, a inversão de valores, o sex* sujo, e toda imundície que vem com vocês.
- Você está sendo radical, Mike. – Sam se manifestou.
- Sam, não defenda esse pessoal, você é uma mulher direta, não é um deles. – Mike disse.
- Eu sei, eu não estou defendendo, eu só...
Theo a interrompeu.
- Ela não precisa ser um deles para defendê-los, isso se chama empatia, saber se colocar no lugar do outro, compreender os sentimentos e problemas do próximo, pensei que a igreja ainda ensinasse essas coisas.
- Esses devassos abraçam a vida errante porque querem, como eu posso me solidarizar com quem escolhe o caminho errado? Não compreendemos nem queremos compreender os pecadores, Samantha também abomina os homossexuais, ela foi bem criada, não aceita esse comportamento.
- Não, ela é um ser muito mais evoluído que você, e mais humana também.
- Ok, deixemos que ela se manifeste então. Diga Sam, você também não abomina essas aberrações da natureza?
Sam olhou para Theo, cabisbaixa, com um semblante sofrível.
- Mike...
- Abomina ou não abomina? – Mike insistiu, com determinação.
- Sim.
Mike abriu um largo sorriso.
- Viu? Você acha que eu seria noivo de alguém sem valores, com pensamentos diferentes dos meus? Sam sempre pensou como eu, teve os mesmos princípios cristãos e ensinamentos. – Mike colocou sua mão por cima da mão dela, lhe dando um beijo. – Por isso que tenho tanto orgulho de você, meu amor.
- Sam, você concorda que todos os homossexuais deveriam morrer? – Theo a indagou.
Sam ergueu a cabeça, fitando agora Mike.
- Não gosto desses radicalismos, podemos mudar de assunto?
- Responda, Sam, sim ou não? – Mike exigiu. – Não seria melhor um mundo sem essas aberrações?
- Talvez, quem sabe assim o mal se arrancaria pela raiz.
Mike sorriu novamente, enquanto Theo ergueu as sobrancelhas, assombrada com o que ouvira.
- Vamos encerrar esse assunto, por favor. Eles já foram embora, acabou o problema. Theo, coma logo sua comida. – Sam disse, com perturbação.
- Perdi a fome. – Empurrou o prato para a frente.
- Vai desperdiçar comida? – Mike falou. – Que acha de ficar até amanhã à noite sem comer?
- Sou boa nesse jogo. – Theo retrucou.
- Theo, pare com isso, coma logo. – Sam ordenou.
Ela voltou ao silêncio, a decepção com Sam era visível. Minutos depois já haviam encontrado um lugar para passar a noite.
- Mike, esse hotel deve ser caríssimo. – Sam argumentou quando percebeu onde Mike havia entrado.
- Se eu posso te dar conforto, então te darei.
Os três subiam o elevador em silêncio, Mike enlaçou Sam pela cintura, lhe beijando. Sam não o correspondeu por muito tempo, cessando o beijo, desconfortável.
- O que foi? Theo não se importa, não é Theo? – Mike perguntou com sarcasmo.
- Nem um pouco, fiquem à vontade.
- Viu? Ela nem enxerga.
Sam levou rapidamente Theo até seu quarto, o hotel era o mais luxuoso até o momento, além de uma grande cama, havia uma confortável poltrona vermelha aveludada ao lado da porta. Na lateral, uma pequena sacada com cortinas finas e brancas encobrindo a porta de vidro.
Theo apenas agradeceu de forma seca. Atirou o boné na cama, com raiva, assim que fechou a porta. Sam voltou ao seu quarto com a mesma sensação ruim que subiu em seu peito durante todo o dia, agora chegava à garganta.
Após manterem relações, Mike saiu do banheiro dando orientações à Sam.
- Eu quero que você vá ao quarto dela.
- Para que? – Sam disse, subindo o lençol.
- Vista-se e vá até lá dar um ultimato.
Mike largou a toalha sobre a poltrona ao canto, parou em frente a cama, a fitando.
- Se ela não parar de me provocar, vai perder a carona. E esse é meu último aviso.
- Você também a provoca.
- Mas quem me deve respeito é ela, então vá até lá, e a coloque em seu lugar.
Sam arrastava-se pelo corredor apertado, de papel de parede cinza e azul. Parecia carregar bolas de chumbo em seus pés, dando sinais de exaustão.
- Boa noite. – Theo disse, séria, ao abrir a porta.
- Boa noite, posso entrar? – Sam era um misto de transtorno e apreensão.
- Está sozinha?
- Sim.
- Espero que Mike saiba desta sua fuga.
- Sabe, ele pediu que eu viesse aqui.
- Entre. Sinta-se em casa, e não repare a bagunça.
- Realmente está bagunçado, como vai se organizar amanhã?
- Eu me viro, tenho me virado bem.
Sam parou de caminhar pelo quarto, e fitou Theo, que estava recostada na mesa.
- Eu vim conversar com você. – Sam disse, de forma sóbria.
- Que bom, porque também preciso conversar com você. – Theo rebateu.
- Sobre o que?
- Você primeiro.
- Ok. – Sam sentou-se na cama, de frente para Theo. – Eu vim pedir para você parar de provocar Mike.
Theo ergueu as sobrancelhas, surpresa.
- Provocar?
- Sim, seja mais tolerante com ele, eu sei que você consegue. Mike está irritado com você, essa convivência está o deixando estressado, e eu sei que se você evitar respondê-lo, evitar esse atrito, o clima vai melhorar. Será melhor para nós três, você também quer uma convivência melhor, não quer?
- Absolutamente.
- Então, promete não revidá-lo mais? Só estou pedindo que segure seu ímpeto de argumentar tudo, que... Fique na sua. É só isso que peço.
Theo balançava a cabeça lentamente, com o olhar baixo, assimilando.
- Ele está se esforçando para que as coisas fiquem bem. – Sam continuou. – Preciso que faça sua parte também, que o respeite.
- Sabe, Sam, fico feliz que você tenha falado primeiro. Porque o que tenho a dizer vai resolver essa situação com maestria.
- O que você quer falar?
- Agora a pouco eu desci na recepção e conversei com o pessoal de lá, e olha só que fantástico! Amanhã de manhã cruzaremos a fronteira, certo? Entraremos no Brasil, em Corumbá.
- Sim, e?
- Em Corumbá tem uma instituição do governo, eles acolhem pessoas e ajudam a voltar para casa, já tenho o nome e endereço. Mas precisarei de um último favor: que vocês me deixem lá amanhã de manhã, mas tem que ser depois das oito, que é o horário que o atendimento externo abre, você pode me deixar lá após as oito? É no caminho de vocês, só quero uma caroninha.
Sam apenas a fitava, estarrecida.
- Mike vai ficar tão feliz. – Theo dizia, com sarcasmo. – E então, posso contar com este último favor?
- Você vai me abandonar? – Sam falava com perturbação, ainda boquiaberta.
- Não, tecnicamente, não. Theodore me arranjou um comunicador, é um daqueles antigos, mas funciona, já testei. Você poderá entrar em contato sempre que precisar. Tem uma dúvida? Me liga. Quer algum conselho? Me liga. Desde que não seja conselho sentimental, é claro. – Theo riu. – Mas qualquer assunto referente à sua busca, que eu puder te ajudar, não hesite em entrar em contato, prometo sempre te atender prontamente.
- Por que? Por que vai me deixar?
- Pelo amor de Deus, Sam, você é cega e surda por acaso?? Mike não me suporta, e eu idem. Não existe a menor possibilidade de continuar ao lado daquele soldadinho de chumbo arrogante e babaca! Ok, desculpe o tom, é seu noivo, em agosto você subirá ao altar com ele, devo mais respeito, eu sei, eu sei...
Ficaram em silêncio por um instante.
- Você disse que iria até o fim. – Sam resmungou.
- Eu vou, só que não fisicamente. Relaxa, vou te visitar em Kent, serei madrinha do seu casamento.
- Por que está fazendo isso? Você tem ciúmes dele? Achei que você tivesse compreendido que nunca teríamos nada, o acordo servia para isso. Ou você acha que ainda teremos algum acordo?
- Acordo? Acordo? Foda-se o acordo, Sam! Eu não quero porr* nenhuma com você, só não quero ter que conviver mais nem um minuto com aquele porco machista egocêntrico misógino e homofóbico! Eu estou pouco me lixando se você está dando o rabo para aquele major do raio que o parta, eu só quero ficar bem longe de vocês! – Theo dizia, gesticulando, de pé em frente à poltrona vermelha.
Sam uniu as mãos em seu colo, ainda sentada na cama.
- Longe de mim também?
- Sim, longe de você também, não quero estar ao lado de alguém que diz que deseja minha morte com a naturalidade de quem fala que precisa comprar pão.
- Eu não desejo sua morte, eu falei aquilo para agradar Mike, para encerrar logo aquela discussão.
- Aquela é você, Sam! No fundo você quer que todo mundo diferente de você exploda, morra, que fiquem apenas os cristãos puros de coração e alma, não é?
- Você acha mesmo que desejo sua morte? Eu nunca sequer desejei seu mal.
- Não, mas sua hipocrisia e sua passividade atingiram níveis estratosféricos. – Theo balançou a cabeça de forma desanimada, cabisbaixa. – Vocês dois se merecem, foram feitos um para o outro.
- Não esperava isso de você...
- Algo mais que queira conversar? Quer perguntar algo antes de nos separarmos? Amanhã não teremos tempo para conversar.
- Talvez nunca mais nos vejamos... – Sam dizia com um forte pesar nas palavras, a cabeça já latej*v*.
Theo passou as mãos pela cabeça, acalmando-se.
- Você vai sobreviver, oficial. Um dia nos reencontraremos.
- É, quem sabe... – Sam murmurou, tentando não chorar.
- Não pense que não sentirei sua falta. Eu sentirei.
Sam ergueu a cabeça, a fitando com um último fio de esperança.
- É decisão tomada, ou...
- É decisão tomada, prometo me despedir de forma respeitosa de vocês amanhã. E te deixar meu contato, posso te ligar todos os dias, se quiser.
- Se é assim que você quer, assim será. Mike me acompanhará até o fim, ele está empenhado e tenho certeza que logo estaremos voltando para a Inglaterra, deixando tudo isso para trás, meus erros e pecados ficarão aqui.
Theo ficou em silêncio por um instante, abriu um pequeno sorriso decepcionado.
- Essa é a verdadeira Sam, não é? Na verdade você nunca foi aquela mulher que esteve ao meu lado nas últimas semanas, aquela que eu admirava. Eu estou finalmente te conhecendo. – Theo se dava conta.
- Isso não importa, quem eu amo está finalmente ao meu lado, só quero tocar minha vida com Mike.
- E eu ficarei imensamente feliz com a felicidade conjugal de vocês. Por falar nisso, como vocês estão? Se entendendo?
- Estamos bem, está tudo ótimo entre nós.
- É mesmo?
- Nunca estivemos tão bem quanto agora. – Sam respondeu com soberba.
- Então ele já está comendo você direito? Ou ainda está bancando o coelho egoísta? – Theo sorriu.
Sam apenas abriu a boca, enfurecida, mas não pronunciou palavra alguma.
- Sugira o fio terra para ele, talvez ele goste. – Theo zombava.
- Esteja de pé as 7:30h. – Sam saiu rapidamente, batendo a porta.
Sam entrou no quarto com ares arrasados e passos arrastados, segurando-se para não chorar. Foi até o banheiro, fechou a porta e chorou copiosamente com a cabeça inclinada sobre a pia. Alguns minutos depois lavou o rosto, e ouviu Mike a chamando.
Enxugou o rosto e encarou-se por algum tempo no espelho, engoliu o restante de seu pranto e saiu do banheiro.
- Deite aqui. - Mike estava deitado, vendo TV.
Sam aninhou-se em seu peito, em silêncio.
- Conversou com ela? Ela vai começar a me respeitar?
- Conversei. Ela vai embora amanhã.
- Você a mandou embora? – Mike sorriu.
- Não, ela decidiu ficar na próxima cidade.
- Amor, você não poderia me dar melhor notícia, finalmente vamos tirar esse fardo de nossas costas. – Mike afagava seu ombro.
- É... Na verdade acho que você tem razão, ela estava atrapalhando nossa relação, vai ser bom para nós, apenas eu e você, como deve ser. – Sam respondeu, convencendo-se do que falava.
- O que acha de comemorarmos nossa liberdade? – Mike disse com a voz maliciosa, subindo sua mão por baixo da camiseta de Sam.
- Não... Não estou a fim...
- Vamos lá... Faça seu major feliz. – Mike disse já girando para cima de Sam.
- Não quero, Mike, não estou no clima, já fizemos essa noite.
- E daí? Eu sou homem, tenho minhas necessidades.
- Faremos amanhã de manhã, ok?
- Não, eu quero agora, vamos Sam, deixe de frescura. – Mike começou a beijar seu pescoço, baixando sua calça. Sam acabou cedendo, contra sua vontade.
Mike logo em seguida adormeceu, mas Sam não dormiu naquela noite. Varou a madrugada ora deitada fitando o teto, ora olhando pelo vidro da sacada. Com a iminência da partida de Theo, seus pensamentos voltavam a lhe pregar peças, a inundar de inseguranças e incertezas. Nunca imaginou que um coração artificial pudesse doer tanto.
Assim que o sol despontou, pouco depois das seis da manhã, Mike acordou, estranhando a ausência de Sam ao seu lado.
- Já acordada? – Mike perguntou, sonolento, ao ver Sam de pé junto à sacada.
- Eu não consegui dormir.
- Por que?
Sam hesitava em falar, procurando as palavras. Ostentava grande abatimento, um cansaço físico e mental que a deixava quase como um zumbi.
- O que foi? – Mike insistiu, apoiando-se nos cotovelos.
- Mike... Eu tive um caso com Theo.
***
Theo acordou cedo, antes das sete da manhã. Arrumou-se e arrumou suas coisas, metodicamente, deixando tudo pronto para partir. Consultou as horas, ia dar sete e meia, desceu sozinha para o refeitório onde servia-se o café da manhã, tateando e pedindo orientações na recepção.
Serviu-se com o auxílio de uma senhora, que a conduziu até uma mesa próxima à parede. Fazia sua refeição lentamente, como se fosse sua última, sabia que Mike e Sam costumavam fazer o dejejum próximo das oito. Terminava de adoçar seu café quando percebeu uma presença ao seu lado.
- Pois não? – Theo perguntou de forma educada, correndo os olhos para o lado.
- Sua vagabunda... – Mike ergueu Theo pelo braço, a atirando contra a parede.
Empatia: s.f.: Capacidade de se identificar com outra pessoa e compreendê-la emocionalmente. É o princípio do altruísmo.
Fim do capítulo
Meu sincero obrigada à todas que tem visitado o site, o Lettera é nosso!
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Em: 10/09/2015
Nossa,fiquei imensamente triste qdo Theo falou que iria embora :( doeu aqui...que pena...e tudo por conta daquele idiota! Que homem ridículo... Qm sabe agora depois dessa revelação ele vá embora e as deixe seguir viagem... Pq do jeito que vai,Sam vai morrer antes deles chegarem ao seu destino....
Alguém devia dar uma boa surra nesse homofóbico... Tipo o Theodore kkkk mas uma surra msmo... Seria ótimo! Heheheh
Tô preocupada com a Sam... Acho que Mike tá atrasando tudo...
Beeijoo
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Julia Eidrian
Em: 10/09/2015
Ai meu pai , ansiosa para os próximos capítulo . Odeio o Mike ele tem tudo que eu odeio em um homem . Espero que você poste logo os próximo capítulos. Espero que a Sam tome vergonha na cara e defenda a Theo .
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Sem cadastro
Em: 09/09/2015
A história esta em branco...
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